Formação Profissional em Comunicação Social nas Regiões Norte e Nordeste
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- Alexandre Carvalho Monteiro
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1 Formação Profissional em Comunicação Social nas Regiões Norte e Nordeste Maria Luiza Nóbrega de Morais 1 O Núcleo de Pesquisa do Mercado de Trabalho de Comunicações e Artes (ECA- USP) coordenou recentemente uma pesquisa nacional sobre Campo Profissional e Mercados de Trabalho em Comunicação no Brasil. Nas regiões Norte e Nordeste participaram deste trabalho a Universidade Federal de Pernambuco, que centralizou a Coordenação Regional, Universidade Federal do Amazonas, Universidade Federal do Piauí, Universidade Federal do Ceará, Universidade Católica de Pernambuco e Universidade Salvador (BA). O objetivo da pesquisa é avaliar as relações entre o mercado e a formação profissional oferecida pelas instituições. Entre os vários aspectos abordados, selecionamos para este trabalho o módulo que trata da formação profissional, pela semelhança nas apreciações das várias habilitações na avaliação deste segmento. O Núcleo de Pesquisa do Mercado de Trabalho de Comunicações e Artes (Nupem) da ECA/USP coordenou recentemente uma pesquisa nacional sobre Campo Profissional e Mercados de Trabalho em Comunicação no Brasil. Nas regiões Norte e Nordeste, participaram deste trabalho a Universidade Federal de Pernambuco, que centralizou a Coordenação Regional, Universidade Federal do Amazonas, Universidade Federal do Piauí, Universidade Federal do Ceará, Universidade Católica de Pernambuco e Universidade Salvador (BA). Outras instituições iniciaram as atividades, mas por falta de recursos e/ou interesse foram desistindo ao longo do percurso.
2 O objetivo da pesquisa é avaliar as relações entre as demandas do mercado e a formação profissional oferecida pelas instituições. A amostra da região Norte-Nordeste é composta por 309 profissionais graduados nas habilitações de Jornalismo, Relações Públicas, Publicidade e Propaganda e ainda Radialismo, no período compreendido entre 1. Mestre em Comunicação Rural, professora da Universidade Federal de Pernambuco/ Departamento de Comunicação Social. Coordenadora Regional Norte-Nordeste da pesquisa Campo Profissional e Mercados de Trabalho em Comunicação no Brasil e Os entrevistados estão classificados em duas categorias: egressos e desvios. São considerados egressos, os profissionais que trabalham na área de Comunicação e ainda os que no momento estavam desempregados e à procura de emprego. Os desvios são os profissionais que saíram da área de Comunicação e exercem suas atividades em outras áreas. Entre os vários aspectos abordados, selecionamos para este trabalho o módulo que trata da formação profissional, pela semelhança nas apreciações das várias habilitações na avaliação deste segmento. Os alunos que ingressam nos cursos de Comunicação Social são oriundos basicamente de escolas particulares e escolhem o curso principalmente pelas suas preferências e/ou habilidades e ainda pelas características da área. Razões da escolha do curso Região Norte e Nordeste Comunicação Egresso Desvio % % Personalidade 51% 36% Características da área 21% 29% Necessidade Profissional 4% 4% Influência de Amigos 1% 0%
3 Falta de Informações 7% 15% Outros 8% 14% Não Respondeu 17% 7% Total 109% 105% Fonte: Campo Profissional e Mercados de Trabalho em Comunicação: Região Norte- Nordeste. USP/ECA-Nupem/UFPE, Recife, A média de duração do curso são 5,0 anos para Publicidade, 4,5 para Radialismo, 5,5 para Jornalismo e 4,5 para Relações Públicas. Avaliação dos conteúdos Analisando os conteúdos curriculares em função do exercício profissional, a maioria dos profissionais, egressos e/ou desvios, atribuem igual importância tanto aos conteúdos teóricos quanto aos conteúdos técnicos porque acreditam que uma prática qualificada só é possível a partir de uma boa formação teórica. Os 25% de entrevistados que privilegiam os conteúdos técnicos ponderam que o domínio da técnica oferece mais instrumentos para disputar o mercado de trabalho. Apenas 5% da amostra privilegiam os conteúdos teóricos. Na apreciação do currículo, as avaliações não apontam para uma reforma radical. As observações sugerem ajustes, incorporação de algumas matérias em função da atualização, o reforço de alguns conteúdos e um novo tratamento em algumas disciplinas. As principais indicações apontam para uma reformulação profunda no conteúdo e no tratamento das disciplinas técnicas. A seguir, as disciplinas teóricas das habilitações e as disciplinas humanísticas são consideradas importantes porém precisam ser mais aprofundadas e mais valorizadas. A análise do conjunto das disciplinas que constituem o tronco comum sugere uma organização em torno de mais concentração e aprofundamento e menos pulverização de disciplinas. Embora não centralizem indicações expressivas, cobra-se maior exigência, inclusão do ensino de idiomas e um investimento mais efetivo no uso de
4 novas tecnologias. O ponto mais crítico refere-se às práticas laboratoriais que são objeto de avaliações bastante severas em toda a pesquisa. Analisando a influência de estágio na formação profissional 34% consideram-na muito alta, 23% alta e 15% média. Vale registrar que na análise do perfil ocupacional, 75% dos entrevistados começam a trabalhar durante a faculdade. O estágio é um meio importante para obtenção do emprego em todas as habilitações: 51% de Jornalismo, 48% de Relações Públicas, 67% de Publicidade e 33% de Radialismo conseguiram emprego através do estágio. Além de ser um meio importante na integração do estudante no mercado de trabalho, o estágio preenche o espaço que deveria ser ocupado pelas práticas laboratoriais. Não há sugestões, entretanto, para o estágio obrigatório. A influência dos laboratórios é considerada nos níveis médio a muito baixo, por todas as habilitações. A avaliação é mais negativa entre os egressos de Publicidade e menos crítica em Jornalismo. Avaliação dos cursos Analisando isoladamente os pontos positivos do curso, os profissionais privilegiam a qualidade do ensino, a qualidade dos professores, o currículo e o ambiente. Na avaliação da qualidade de ensino, os itens mais indicados estão relacionados com a formação teórica e a formação técnica. As práticas laboratoriais recebem as maiores críticas. Na qualidade dos professores, o desempenho e o esforço do docente foram os pontos mais ressaltados. Em relação ao currículo, as indicações concentram-se no conteúdo e nos projetos experimentais. Na avaliação isolada dos pontos negativos, a qualidade dos professores é bastante criticada principalmente pela falta de atualização e qualificação. A qualidade do ensino é mais criticada pela formação técnica e pela formação teórica. A formação humanística é o item menos criticado. No currículo, as observações negativas apontam principalmente para o conteúdo e integração. Na infra-estrutura, as observações recaem sobre o problema dos laboratórios (insuficientes, deficientes ou desatualizados). Na relação positivo X negativo, os pontos mais positivos que negativos são: ambiente e qualidade de ensino. Os mais negativos que positivos foram: infra-estrutura,
5 qualidade dos professores e currículo. Registra-se um equilíbrio na avaliação da estrutura e organização do curso e ainda da integração com o mercado. Considerando a discussão sobre a vivência profissional simultânea do professor, as observações estão resumidas na tabela abaixo: Vivência profissional simultânea do professor Região Norte e Nordeste Comunicação Egresso Desvio % % Essencial 62% 61% Importante 33% 37% Indiferente 0% 1% Irrelevante 0% 1% Não sabe/não respondeu 5% 1% Total 100% 100% Fonte: Campo Profissional e Mercados de Trabalho em Comunicação: Região Norte- Nordeste. USP/ECA-Nupem/UFPE, Recife, Essa vivência profissional é mais valorizada entre os egressos de Radialismo e de Publicidade e Propaganda. Para avaliação da adequação entre o curso e o currículo, foi aplicada uma escala de 1 a 5. A média de adequação foi equilibrada entre egressos e desvios. Os pesos mais altos foram aplicados aos Projetos Experimentais e Conteúdos Humanísticos. As práticas laboratoriais foram as mais criticadas.
6 Adequação entre curso e currículo Região Norte e Nordeste Comunicação Egresso Desvio Conteúdos humanísticos 2,9 3,1 Conteúdos específicos 2,7 2,9 Práticas laboratoriais 1,8 2,1 Projeto experimental / TCC 3,4 3,3 Média de adequação 2,7 2.8 Fonte: Campo Profissional e Mercados de Trabalho em Comunicação: Região Norte- Nordeste. USP/ECA-Nupem/UFPE, Recife, Considerando as pontuações por habilitação, Publicidade e Propaganda é a que mais valoriza Projetos Experimentais e é mais severa com as Práticas Laboratoriais. Relações Públicas e Jornalismo fazem a melhor avaliação dos Conteúdos Humanísticos e dos Conteúdos Específicos e são os menos críticos em relação às Práticas Laboratoriais. Radialismo avalia de igual maneira os Conteúdos Humanísticos e Específicos e aplica o peso mais alto aos Projetos Experimentais. A média de adequação entre o currículo e o exercício profissional está relativamente equilibrada em relação à média entre o curso e o currículo. Ambas situam-se na média da escala. Os maiores pesos recaem sobre Projetos Experimentais e está equilibrada entre Conteúdos Específicos e Conteúdos Humanísticos.
7 Adequação entre exercício profissional e currículo Região Norte e Nordeste Comunicação Egresso Desvio Conteúdos humanísticos 2,4 2,7 Conteúdos específicos 2,5 2,6 Práticas laboratoriais 2,1 1,8 Projeto experimental / TCC 2,9 3,1 Média 2,5 2,5 Fonte: Campo Profissional e Mercados de Trabalho em Comunicação: Região Norte- Nordeste. USP/ECA-Nupem/UFPE, Recife, Analisando isoladamente, por habilitação, Relações Públicas valoriza principalmente Projeto Experimental e os Conteúdos Específicos. Jornalismo avalia equilibradamente Projetos Experimentais e Conteúdos Humanísticos. Publicidade e Propaganda prioriza Projetos Experimentais seguido dos Conteúdos Humanísticos. Radialismo valoriza as Práticas Laboratoriais e de igual maneira os Conteúdos Específicos e os Projetos Experimentais, sendo esta habilitação a que menos valoriza os Conteúdos Humanísticos. Formação complementar Visando um aperfeiçoamento da formação em função do bom desempenho profissional e uma melhor preparação para competir no mercado de trabalho, cerca de 50%
8 de todos os entrevistados realizaram cursos complementares em diferentes níveis. A iniciativa parte basicamente do próprio profissional e não se observa o incentivo das empresas, principalmente nos cursos de duração mais prolongada. Cerca de 13% dos egressos e 18% dos desvios fizeram outros cursos de graduação. A área escolhida é prioritariamente Ciências Sociais/Humanas seguidas da complementação de outras habilitações na área de Comunicação. É inexpressivo o percentual dos que realizaram pós-graduação, apenas 2% do total de entrevistados. Os cursos de atualização são apontados por 34% dos egressos e 43% dos desvios. Os cursos de extensão foram indicados por 23% dos egressos e 13% dos desvios. Os cursos de especialização receberam 8% dos egressos e 6% dos desvios. Os cursos de idiomas foram freqüentados pela maioria, cerca de 60%. A preferência recai sobre inglês, com indicações superiores a 80%, seguida de francês e espanhol, cada um destes com 15% das indicações. Embora se registre um interesse e uma demanda na análise do currículo sobre a necessidade de aprimorar-se no uso de novas tecnologias, apenas cerca da metade dos entrevistados realizaram este tipo de curso. Outras observações Preocupados com o profissional que não atua na área de Comunicação desvios e em busca de coletar observações que colaborem na avaliação do curso, procurou-se identificar o grau de contribuição deste curso para o seu desempenho profissional ainda que fora da área. Mais da metade dos desvios acha que houve uma influência mediana sobre o seu desempenho, principalmente pela oportunidade de aplicar conhecimentos adquiridos e pelo treinamento no uso da Comunicação. Os 18% que consideram esta influência alta, citam o aumento da capacidade intelectual, o senso crítico mais desenvolvido, a ampliação da visão de mundo e ainda porque cultura e nível superior são importantes na disputa pelo mercado de trabalho.
9 Os principais aspectos falhos apontados referem-se ao ensino, criticado pelos professores e pelos conteúdos, e ao problema dos laboratórios. Para este grupo de profissionais, as principais aptidões para as quais o curso contribui estão relacionadas principalmente com a consciência social, o senso crítico, a capacidade de iniciativa e o comportamento ético. A despeito de todas as observações apontadas, a maioria considera obrigatória a necessidade do curso de graduação na área. Necessidade do curso de graduação Região Norte e Nordeste Comunicação Egresso Desvio % % Obrigatório 63% 67% Não Obrigatório 25% 27% Indiferente 5% 3% Desnecessário 0% 1% Não sabe 1% 1% Não respondeu 5% 1% Total 100% 100% Fonte: Campo Profissional e Mercados de Trabalho em Comunicação: Região Norte- Nordeste. USP/ECA-Nupem/UFPE, Recife, Entre as principais sugestões para o melhoramento dos cursos, a maioria propõe investir na qualificação e atualização dos professores, ampliar as relações com a sociedade e
10 o mercado de trabalho (currículo mais atualizado e mais trabalhos de extensão), melhorar a infra-estrutura, a qualidade dos laboratórios e realizar práticas laboratoriais mais freqüentes e mais eficientes. A avaliação final é mais positiva que negativa. Numa escala de 1 a 5, a avaliação fica acima da média. Avaliação dos Cursos Região Norte e Nordeste Jornalismo Relações Públicas Propaganda Radialismo Egressos 3,1 3,0 3,0 3,1 Desvios 3,0 3,2 2,7 3,0 Fonte: Campo Profissional e Mercados de Trabalho em Comunicação: Região Norte- Nordeste. USP/ECA-Nupem/UFPE, Recife, Considerações finais Diante dos resultados deste trabalho, é oportuno refletir sobre alguns aspectos que permearam as observações dos entrevistados. Essas questões não são necessariamente as que receberam críticas mais severas mas sobretudo as que foram bastante valorizadas na apreciação e análise dos profissionais, ex-alunos destes cursos. A análise do currículo é um dos aspectos principais porque envolve não apenas o problema dos conteúdos mas atenta para o conjunto da formação profissional valorizando a interdisciplinaridade. A partir de um eixo ou suporte teórico, os conteúdos seriam distribuídos de forma harmônica ao longo do curso.
11 No conjunto das matérias, não se observa preferências ou supremacia de conteúdos técnicos ou teóricos mas uma preocupação com o conjunto da formação. A ampliação da visão do mundo, o aumento da capacidade intelectual, o domínio das tecnologias, entre outros aspectos, não são questões isoladas mas integram o mesmo processo. Uma boa formação humanística é apontada como um diferencial no mercado de trabalho. Associada às disciplinas teóricas da habilitação, elas funcionam como o núcleo da formação profissional. A formação humanística foi a mais preservada pelos entrevistados. As disciplinas teóricas da habilitação são criticadas pela falta de aprofundamento, atualização e ainda pela distribuição dos conteúdos. A pulverização do tronco comum numa diversidade de disciplinas sem conexão, entre si, favorece o desencontro dos conteúdos. Faz-se necessário portanto aprofundar a discussão em torno de uma interligação mais efetiva e menos desagregadora na distribuição das matérias. A despeito da rigidez curricular, seria interessante recriar espaços para arejar o curso com novas idéias, novas teorias, novos contatos. A temática desses encontros pode ser identificada a partir dos próprios cursos de atualização e extensão realizados pelos entrevistados. Esta temática está relacionada com as carências do curso e com as inclusões sugeridas na análise do currículo. A avaliação do estágio privilegia o extra-curricular onde o próprio aluno tem mais chance de situar-se e aprofundar-se nas áreas específicas do seu interesse. Os projetos experimentais são bem aceitos e valorizados por todos os entrevistados. Representam o maior peso nas avaliações de adequação do curso. As observações sobre os docentes criticam a qualificação e a desatualização mas reconhecem o desempenho e o esforço para superar limitações. A valorização da qualidade do ensino representa de forma explícita esse reconhecimento. Sem investir no professor não há alterações qualitativas possíveis mas concentrar a discussão apenas na qualificação do docente não soluciona o problema das bibliotecas desatualizadas nem dos laboratórios antiquados.
12 A discussão é ampla. O ponto de partida é a definição do perfil do profissional que se quer formar. O horizonte é a qualidade. O processo é complexo e precisa ser avaliado em conjunto. Do contrário, permanecerão as improvisações, as substituições, as falhas... Bibliografia AUGUSTO, Cinara. O ensino e a linguagem publicitária no processo de profissionalização da publicidade.são Bernardo do Campo, SP, IMS, p. Dissertação (mestrado) Instituto Metodista de Ensino Superior AVALIAÇÃO DO ENSINO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Superior, Comissão de Especialistas de Comunicação Social. AZEVEDO, Marta A. Alves de. Relações públicas, função da sociedade moderna. Tentativa de uma definição da função e do estabelecimento de uma carreira profissional de relações públicas. São Paulo, ECA/USP, s.d.p. 14p. BITTAR, José Augusto Mor. O ensino da publicidade no Brasil e seus reflexos no posicionamento do setor. São Paulo: ECA/USP, p. Tese (mestrado) Escola de Comunicação e Artes. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Superior. Comissão de Especialistas de Comunicação Social Avaliação do ensino de Comunicação Social Brasília, CAPARELLI, Sérgio. Avaliação e Perspectivas- 89: área comunicação. Brasília: CNPq, 1989.
13 ESCOLAS aproximam-se do mercado. Jornal ANJ, Brasília, n.46, p.19, jul FEDERACIÓN LATINOAMERICANA DE ASOCIACIONES DE FACULTADES DE COMUNICACION SOCIAL. La formación de comunicadores sociales en América Latina. Bogotá: FELAFACS, LOPES, Maria Immacolata V. et al. O mercado de trabalho em Comunicações e Artes e os profissionais formados pela ECA nas décadas de 70 e 80. São Paulo: ECA-USP. VI, 1992, 416p MELO, José Marques de. Avaliação do ensino de Comunicação Social Brasília: Ministério da Educação, p
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