COM CRIANÇAS INGRESSANTES NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA EXPERIÊNCIA POSSÍVEL NOS DIFERENTES MODOS DE ENSINAR
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- Oswaldo Ronaldo Barros Camelo
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1 O USO DO BLOG COM CRIANÇAS INGRESSANTES NO ENSINO FUNDAMENTAL: UMA EXPERIÊNCIA POSSÍVEL NOS DIFERENTES MODOS DE ENSINAR Isnary Aparecida Araujo da Silva 1 Introdução A sociedade atual vive um boom da tecnologia, e suas possibilidades. Não despertamos mais ao som do galo, ou de um simples relógio à pilha. Na mesa do café da manhã as notícias chegam quase que instantaneamente através de nossos notebooks e TVs conectadas à Internet. Estacionar um carro ficou mais fácil ao se ter uma ajudinha da câmera de ré. Uma situação rara, mas que está começando a se popularizar nos restaurantes são crianças mexendo não mais em celulares e sim em tablets, onde o mundo está ali em suas mãos. E a escola como está nesse processo de tecnologização do homem? Como ficou a relação professor aluno? O professor vai além da informação da internet, transformando essa em conhecimento com seus alunos? Como? A escola, por ser um espaço microssocial, que se relaciona com a sociedade, sofre com os avanços tecnológicos, e com os processos adotados nos modelo de economia capitalista que marcam a cultura do homem atual. Hoje, encontramos empresas que desenvolvem softwares educativos e elaboram projetos pensando desde a criança, passando pelos que possuem necessidade especial até os jovens. O poder público também não fica atrás disso ao destinar verba para equipar as escolas com computadores e Internet. O ProInfo 2 é um exemplo de programa do Governo Federal que tem esse propósito. 1 Professora da Rede Municipal de Educação de Campinas/ EMEF Ângela Cury Zakia 2 Programa Nacional de Tecnologia Educacional, que tem por objetivo promover o uso pedagógico da informática na Educação Básica. 168
2 Com isso, os modos de ensinar vão sendo reelaborados pelo e para o professor. Aquele professor que trazia o conceito que pretendia trabalhar com seus alunos somente de um livro didático, ou de planejamento de anos anteriores, já não o consegue ensinar fazendo uso dessas ferramentas; já que a informação está em toda parte. A construção de uma prática pedagógica ao longo dos anos Comecei a trabalhar na Rede Municipal de Campinas através de concurso no ano de 2000, paralelamente fazia a graduação em Pedagogia na Unicamp. Sempre atuei em salas de alfabetização, no ano de 2008 quando estava com uma turma de 1º ano em uma escola da localizada na região periférica da cidade, tive a oportunidade de ingressar no Programa FAPESP para a Melhoria do Ensino Público 3, sob a coordenação da Profa. Dra. Ana Luiza Bustamante Smolka. O projeto teve a duração de três anos e um dos seus objetivos foi investigar as relações de ensino. Além de abrir a sala para investigação de outros pesquisadores, eu também assumi esse papel, meu objeto de estudo foi analisar a relação família-escola. Ao longo da pesquisa, fizemos uso de diferentes equipamentos tecnológicos como as câmeras fotográficas, filmadoras, notebooks, data show. Estes em um primeiro momento foram pensados para serem usados como um apoio na realização do registro da pesquisa, mas passaram também a ser incorporados às práticas pedagógicas realizadas em sala de aula. Exemplos desses usos foram: O jornal da classe onde a câmera fotográfica e o notebook fizeram parte do trabalho pedagógico e a realização de uma peça teatral em que a técnica de rever o ensaio realizado foi empregada. Durante a pesquisa, foram realizadas diferentes tipos de atividades, uma delas envolveu uma proposta para que as crianças contassem suas histórias desde o nascimento. Isso possibilitou uma aproximação com as famílias; fazendo com que essas assumissem outro lugar na relação pela busca de qualidade da educação. Elas passaram a ser 3 Projeto de Pesquisa intitulado: Condições de desenvolvimento humano e as práticas contemporâneas: As relações de ensino em foco. 169
3 um dos atores do processo educacional, e não mais um mero expectador do meu trabalho. Cercada pelo aprendizado dos anos anteriores e pela tecnologia é que em 2012 mudo de escola. Chegando à EMEF Ângela Cury Zakia, assumi o 1º ano e meu planejamento, feito no mês de março já apontava caminhos para o uso da tecnologia durante o processo de alfabetização: Os avanços tecnológicos frutos da produção humana, e que estão presentes no dia-a-dia, trazem a necessidade de pensarmos na importância que as ferramentas tecnológicas e seus usos podem assumir na vida de nossos alunos. Por isso eles devem estar presentes também na vivência escolar, para que eles possam se apropriar das mesmas, bem como fazer uso das mesmas para auxiliar o processo de aquisição da leitura e da escrita. É preciso salientar esse ponto, pois os avanços e mudanças que esses instrumentos trazem são significantes. Atualmente somos bombardeados pela tecnologia: ligando a televisão, nos conectando a rede mundial de computadores, onde as notícias são atualizadas em tempo real; ou mesmo quando vamos ao banco ou ao supermercado, ou seja, somos afetados a todo instante. É por isso que planejo, no trabalho com a turma de 1º ano, a introdução e uso sistemático em sala de aula desses instrumentos: computador, data show, Internet, câmeras fotográficas digitais. Está previsto, portanto, que os elementos tecnológico-midiáticos integrarão o planejamento como parte dos materiais que serão utilizados no decorrer do trabalho com a turma. (Trecho extraído do planejamento para a turma do 1ºano/Março de 2012). Apesar da proposta, eu não encontrava meios para concretizar o trabalho. Foi quando visitei um blog de educação infantil, e pensei que esse poderia ser um modo das produções realizadas serem divulgadas. Ali nascia o blog não só do 1º ano, mas sim da Turma do Brasil. O objetivo inicial do blog foi o de compartilhar, principalmente com as famílias e a comunidade escolar, o trabalho desenvolvido em sala de aula. Uma forma de aproximar, de trazer as famílias para dentro da escola. Nesse caminho encontrei dois colaboradores. O guarda da escola, que por ser mais antigo conhecia tanto os meus alunos quanto os seus familiares, e através da rede social Facebook foi divulgando os meus posts para a comunidade, com isso o número de acessos ao blog aumentou e meus amigos na rede social também. 170
4 A segunda pessoa que espalhou esse trabalho foi o professor de artes. Ele desenvolve um projeto oferecido pela escola formando alunos monitores em informática. Além do trabalho de divulgação esse professor, tem sido parceiro, colaborando com as atividades que desenvolvo com as crianças na sala de informática. Mas nem tudo são flores... Como foi uma primeira experiência com o uso propriamente da Internet como ferramenta educativa tenho tido algumas dificuldades: - A construção do blog, a apropriação pelas crianças de diferentes modos de leitura e escrita presentes nesse meio midiático pode ser considerado como um trabalho pedagógico? Ancoro-me no que Vigotski (2001) denomina conceito científico, O curso do desenvolvimento do conceito científico nas ciências sociais transcorre sob as condições do processo educacional, que constitui uma forma original de colaboração sistemática entre o pedagogo e a criança, colaboração essa em cujo processo ocorre o amadurecimento das funções psicológicas mentais superiores da criança com o auxílio e participação do adulto (VIGOTSKI, 2001, p.244). Se esses saberes são aprendidos pelas crianças no processo educacional, como articular os saberes científicos e cotidianos, também discutidos como desafios à prática? Como fazer as famílias compreenderem essa perspectiva, ainda mais quando se trata de crianças ingressantes do Ensino Fundamental, cujos pais têm a imagem da famosa cartilha BA-BE-BI-BO-BU? Acredito que o trabalho com as famílias não seja o de convencimento, mas sim o da construção articulada (família e escola) do conhecimento sobre as possibilidades e limites das tecnologias que adentram não só os muros da escola, mas também as casas dos nossos alunos. Outra dificuldade diz respeito ao tempo, o tempo da sala de aula, a quantidade de produções. Isso traz a incompatibilidade do tempo para postar tudo isso na Internet. Como administrar o tempo? Como selecionar o conteúdo que vai para a internet? Faço isso sozinha, ou as crianças podem me ajudar? 171
5 Para além do que foi proposto... O aprendizado humano pressupõe uma natureza social específica e um processo através do qual as crianças penetram na vida intelectual daquelas que as cercam. (VIGOTSKI, 2003p.115) Considerando o apontamento feito por Vigotski (2003), em que o aprendizado humano se diferencia pela/na relação social, onde é com o outro e através dele que se aprende e se desenvolve as funções mentais superiores; o presente trabalho está propiciando as crianças outros aprendizados. São eles: Com um maior domínio da leitura e escrita, e também do uso computador, as crianças além de acessarem ao blog e ler os posts, têm a oportunidade de comentar as matérias que foram colocadas e indicarem aos colegas. Há um trabalho de formação com as crianças para que elas aprendam a usar a internet e suas possibilidades com responsabilidade. Partindo da premissa adotada por Vigotski (2003) de que o homem é um ser social e cultural, o trabalho que vem sendo desenvolvido colabora para a formação social, cultural e de identidade individual e coletiva dos sujeitos envolvidos. Podendo, no futuro, ser utilizado até mesmo como um documento histórico do aluno. Possibilidade de a escola pensar ações ao longo dos nove anos de escolarização servindo como um portfólio para todos os membros da escola; tanto para a consulta sobre o realizado quanto sobre o não realizado. Considerações Finais Esse trabalho, como dito no início, visa trazer discussões não só sobre tecnologia, mas também problematizar o ser professor nos dias de hoje. Partindo do pressuposto de que essa profissão sofre transformações ao longo da história, perguntamos então: o sujeito professor é sempre o mesmo? Tem o mesmo método, 172
6 mesmo livro? Como fica o conhecimento com a Internet? Como fica a função social da escola, na era da sociedade da internet, e da informação através dessa? Essas indagações permanecem para a reflexão de todos os profissionais envolvidos com a educação na atualidade, sejam os que trabalham com os pequenos, ou aqueles que formam os futuros professores, já que a todo dia a tecnologia apresenta uma novidade. Ou seria o homem que apresenta uma novidade da sua produção cultural? Referências CAMPINAS/SME. Diretrizes Curriculares da Educação Básica para o Ensino Fundamental e Educação de Jovens e Adultos. Campinas: SME, FREITAS, C. LUIZ Ciclos, seriação e avaliação: Confronto de lógicas. São Paulo: Moderna, NOGUEIRA A. M. Relação família-escola: novo objeto na sociologia da educação. FFCL RP USP R. Preto fevereiro/agosto de NOGUEIRA A. M.; ROMANELLI G.; ZAGO N. (org.) Família e escola- Trajetórias de escolarização em camadas médias e populares. Rio de Janeiro: Ed Vozes, SMOLKA Ana Luiza Bustamante. Condições de desenvolvimento humano e práticas contemporâneas: as relações de ensino em foco. FAPESP, PROCESSO 2009/ Campinas/SP, VIGOTSKI, L. S. A construção do pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, VIGOTSKI, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes,
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