COMUNICAÇÃO. 1. Responsabilidade e Conhecimento
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- Maria das Dores Balsemão da Cunha
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1 COMUNICAÇÃO 1. Responsabilidade e Conhecimento Uma reflexão sobre o enquadramento legal, com vista a uma possível solução de seguro colectivo (A responsabilidade civil da profissão de arquitecto) Américo Oliveira (Nº13695) A Oportunidade Actual A Do D 73/73 ao DL 445/91 Desde 1991 que a intenção de estabelecer oficialmente a obrigatoriedade de segurar a Responsabilidade Profissional dos Projectistas está publicada. A regulamentação do licenciamento de obras particulares definido no DL 445/91 de 20 de Novembro trouxe um novo enquadramento vinculativo à responsabilidade profissional do acto de construir, derivada do interesse publico, tal como no preâmbulo do diploma se definia: Por outro lado, é prevista a criação de um certificado de conformidade, que visa a melhoria da qualidade dos projectos e a desburocratização ao nível do processo de licenciamento, sendo igualmente definido um regime de garantias (responsabilidades e seguros), a praticar, designadamente, em relação às consequências do não cumprimento dos planos de ordenamento e restantes disposições legais e regulamentares em vigor. É relevante que no Artº. 67º a qualificação dos técnicos autores de projectos é relegada para Decreto Regulamentar ulterior circunstância que, como é sabido, não impediu que o célebre Decreto 73/73 vigorasse até Entretanto, na redacção do Artº 70º passa a consignar-se o tratamento da responsabilidade civil:
2 o #1 estabelece a imputação da responsabilidade a todos os intervenientes genericamente ao Dono da Obra, Projectistas e Empreiteiros pelos eventuais danos causados a terceiros; o #2 exige que essa obrigação de indemnizar seja garantida, nomeadamente através de seguro mas refere expressamente a responsabilidade civil contratual e extracontratual. Estes dois conceitos remetem para realidades substancialmente distintas: enquanto (1) a RC extracontratual remete para o dever geral de indemnizar por danos a terceiros, tal como decorre da lei geral (código civil), sendo que tais terceiros são por definição independentes e exteriores aos envolvidos no acto de construir, (2) a RC contratual respeita aos próprios intervenientes, face às relações contratuais entre si estabelecidas, de forma expressa ou tácita. No primeiro caso está estabelecido um prazo de prescrição de 5 anos e no segundo 20. A responsabilidade profissional do projectista reveste claramente ambas as características, sendo manifesto que a relação com os seus clientes contratualiza o dever de bem fazer a obra encomendada ou proposta. O objectivo desta regulamentação abrangia todos os intervenientes e, ao estabelecer a obrigatoriedade, tornava-se quase pioneira nesse enquadramento legal: à data, no conjunto da Europa ocidental, só a França tinha evoluído para um modelo deste tipo, tendo já então consignado a designada Responsabilidade Decenal. Em Maio do ano seguinte, o Decreto Regulamentar 11/92 veio definir claramente no seu Artº 2º que são sujeitos da obrigação de segurar as pessoas singulares e colectivas que subscrevam projectos. No seguinte, define-se o âmbito do seguro. Artigo 3º Âmbito do seguro de responsabilidade civil extracontratual 1. O contrato de seguro de responsabilidade civil extracontratual dos autores de projectos tem por objecto garantir o pagamento das indemnizações pelas quais aqueles sejam civilmente responsáveis, para ressarcimento dos danos a que derem causa, em virtude de erros ou omissões
3 do projecto, ou do incumprimento das disposições legais e regulamentares aplicáveis a cada um dos projectos. 2. O contrato de seguro não garante o pagamento de multas e coimas. Quanto à componente da responsabilidade contratual, o Artº 4º tenta resolver a questão remetendo para as disposições de seguros de tipo financeiro. Âmbito do seguro de responsabilidade civil contratual 1. A responsabilidade civil contratual dos autores de projectos deve estar coberta por um segurocaução, a celebrar nos termos do Decreto-Lei nº 183/88, de 24 de Maio. 2. Excluem-se do âmbito do seguro previsto no número anterior: a. Os danos resultantes de uma deficiente estimativa de custos; b. As multas e indemnizações fixadas no contrato. Este diploma dispunha ainda mais detalhes da operação de seguro, remetendo no entanto os valores a garantir para uma portaria subsequente. Este Decreto Regulamentar entrou em vigor em 25 de Fevereiro de 1992, mas a Portaria que faltava só veio a ser publicada em 4 de Março de 1993 mais de um ano depois. Estabeleceu então que os valores a garantir seriam contos (cerca de Euros) para a RC extracontratual e 5% do valor do Projecto para a contratual. Apesar de bem intencionada, esta iniciativa de seguro obrigatório gorou-se absolutamente e Lei não pegou, como diriam os nossos companheiros do Brasil. A actividade seguradora portuguesa, em bloco, recusou-se a proporcionar as soluções que eram requeridas. Várias razões terão estado na origem desta postura. As mais socialmente correctas foram as invocadas publicamente (falta de preparação do mercado, ausência de resseguradores disponíveis para aceitar retrocessões...), mas as mais fundas ficaram caladas: não se duvida da veracidade dos argumentos invocados, mas, apesar de ter constituído um óbice de fundo no que aos projectistas respeitava, nenhum segurador à época quis assumir que não havia suficiente confiança nas prestações de grande parte dos autores dos projectos. Aqui se tocam de novo os conteúdos do 73/73...
4 O DL 250/94 veio alterar substancialmente o licenciamento das obras particulares, e repassou a outro enquadramento a obrigatoriedade de segurar: o novo Artº. 70º veio manter a imputação da responsabilidade no #1, mas o #2 passou apenas a dizer que as responsabilidades podem ser garantidas através de seguro. Caiu assim a obrigatoriedade, passando a faculdade. Em Maio de 1995 o assunto ainda se revolvia numa comissão interministerial, mas de novo as seguradoras se escusaram a dar andamento ao anterior quadro de intenções. O outro lado do D.73/73 Passada uma década sobre os antecedentes descritos, pode questionar-se qual é o sentido de oportunidade para reintroduzir este tema no nosso 11º Congresso. A resposta deriva do interesse em repensar o futuro da profissão, em termos qualificados e responsáveis, afirmando o papel incontornável do arquitecto na sociedade moderna. Sobretudo agora, depois do paradigma que a OA, os arquitectos e milhares de outros cidadãos, estabeleceram em relação ao 73/73. Desde sempre que o binómio a estabelecer é o de actos próprios do profissional de arquitectura habilitado versus responsabilidade profissional. De facto, não é claro que a prática profissional de quem não esteja adequadamente habilitado para os actos que realiza possa ser assumida com responsabilidade e não pode, de todo, ser garantida por instrumento segurador. É indiscutível que a arquitectura só pode ser praticada por arquitectos. Os não habilitados para a prática da arquitectura, que enviesadamente gozam do reconhecimento das autoridades municipais à luz do 73/73, não são aceites pelas seguradoras como Segurados em apólices de RC Profissional. Essa uma das razões que bloqueou a iniciativa legislativa do seguro obrigatório de RC para projectistas, como se já se referiu.
5 Ao longo do tempo foi tomando corpo por parte de muitos arquitectos e atelieres a subscrição de seguros de Responsabilidade Civil Profissional. De resto, como sabemos, é hoje já frequente que muitos promotores o exijam expressamente na contratação de projectistas. No entanto, ainda que relevante, este movimento não nos permite concluir que seja expressiva a parte dos cerca de membros da nossa Ordem que se apresenta ao mercado exibindo esta garantia. É neste ponto que os conceitos de habilitação própria e responsabilidade se completam: faz todo o sentido que o profissional devidamente habilitado se apresente ao mercado de forma responsável e, como tal, prestando adequada garantia. Julgo que muitos de nós terão já conhecimento da forma como nesta matéria se posicionou a Ordem dos Advogados - desde Janeiro de 2004 que todos os advogados portadores de cédula profissional válida estão protegidos por um seguro de RC profissional contratado pela própria Ordem. Citando a introdução do tema, retirada do próprio site O seguro de Responsabilidade Civil Profissional oferecido pela Ordem disponibiliza, pela simples definição da competência profissional testemunhada pela "cédula", uma garantia da responsabilidade civil profissional por erros e omissões em que o Advogado possa incorrer perante terceiros [e Clientes] (...) O limite de indemnização foi de Euros durante o ano de 2004, e passou a ser de Euros por sinistro e anuidade a partir de 1 de Janeiro de Este seguro providencia cobertura retroactiva a 1 de Janeiro de isto é, dá cobertura a reclamações surgidas pela primeira vez durante a vigência da apólice, que possam ser consequência de actos ou omissões praticadas a partir de 1 de Janeiro de Com estes pressupostos, esta protecção só podia ser viabilizada por decisão e patrocínio da Ordem, enquanto entidade representativa de toda a classe - tal como, de resto, o actual Estatuto estabelece. Assim se define o contexto perfeitamente institucional da medida. Como é evidente, esta protecção não colide nem compete com quaisquer outras protecções de seguros contratados pelos próprios advogados ou sociedades de advogados; pelo contrário, posiciona-se para funcionar complementarmente. Não se justificará aqui detalhar esta protecção. Mas importa referir que é muito ampla e abrangente, ao ponto de dar cobertura aos danos causados por falha de cumprimento de prazos pelos advogados, nomeadamente nas contestações uma falha suficientemente elementar...
6 É relevante para todo o público, e em particular para os Clientes dos Advogados, que pelo simples facto de serem profissionais habilitados com o reconhecimento da sua Ordem profissional, são responsáveis pelos erros, omissões ou negligências em que possam incorrer no exercício da profissão, e estão garantidos por um seguro de RC Profissional que indemnizará os danos que possa causar. Seria da maior conveniência que também os arquitectos assim se pudessem apresentar ao mercado. Actos próprios de arquitectura reservados ao exercício dos profissionais habilitados e credenciados pela Ordem, e com a respectiva Responsabilidade Profissional garantida por seguro global - Que melhor resposta se poderia dar ao reenquadramento das definições do 73/73??? Concluindo/Propondo? Destas notas permitimo-nos extrair as seguintes questões - chave: 1. É incontornável a meta prioritária de obter o reconhecimento legal da profissão de arquitecto para a prática exclusiva dos actos próprios de arquitecto. 2. É adequado que o Estado tenha definido claramente a responsabilidade profissional dos projectistas (aqui incluindo os profissionais de arquitectura). 3. O estabelecimento legal da obrigatoriedade de segurar a Responsabilidade Civil Profissional dos projectistas fracassou na implementação, em grande parte por falta de clarificação na habilitação profissional dos projectistas. 4. A habilitação profissional implica a responsabilidade profissional. A responsabilidade profissional deve ser garantida por entidade seguradora, como prova definitiva da habilitação responsável. 5. Seria desejável que a nossa Ordem estudasse a viabilidade de uma solução semelhante à implementada pela Ordem dos Advogados, já que a afirmação pública da habilitação dos arquitectos, da sua responsabilidade e da respectiva garantia contribuiria de modo definitivo para a dignificação e respeito dos poderes públicos pela profissão de arquitecto!
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