LIDERANÇA SITUACIONAL: ANÁLISE DE ESTILO DE ENFERMEIROS-LÍDERES
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- Leonor Heloísa Brandt Belém
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1 LOURENÇO, M.R.; TREVIZAN, M.A. Liderança situacional: análise de estilo de enfermeiros-líderes. Acta Paul. Enf., v.15, n.1, p.48-52, LIDERANÇA SITUACIONAL: ANÁLISE DE ESTILO DE ENFERMEIROS-LÍDERES Maria Regina Lourenço 1, Maria Auxiliadora Trevizan 2 RESUMO A liderança é necessária em todas as organizações. DRUKER (1992), assinala que líderes são o recurso básico e também o mais escasso de qualquer organização. O hospital não está à margem deste processo, e também sofre escassez de liderança. O enfermeiro tem sido identificado como um líder na organização hospitalar. Líder, porque trabalha com e através de pessoas, numa relação de influência. Para TREVIZAN (1993), existe o reconhecimento da importância da liderança e da necessidade de desenvolvimento na enfermagem; entretanto, esta temática é bastante inexplorada em nosso meio. Assim, nosso objetivo neste trabalho foi o de analisar o estilo de liderança principal e secundário de enfermeiros líderes de um hospital filantrópico de São José do Rio Preto. Utilizamos como método o LEAD de autopercepção desenvolvido por HERSEY E BLANCHARD - teóricos de liderança situacional. Neste estudo pudemos constatar que o estilo principal utilizado pêlos enfermeiros foi o persuadir (E2) e como estilo secundário o compartilhar (E3). Nestas constatações podemos inferir que os enfermeiros no contexto das organizações hospitalares tem tido uma tendência a estilos mais diretivos, mas com sinais de mudança para estilos mais participativos. PALAVRAS-CHAVE: Liderança, Enfermagem, Auto - imagem. ABSTRACT SITUATIONAL LEADERSHIP: ANALYSIS OF THE STYLE OF NURSES-LEADERS Leadership is a need at all organizations. DRUCKER (1992) emphasizes that leaders are the basic resource and also the most scarce one at any organization. Therefore, the hospital also has a lack of leadership. Nurses are being identified as leaders at the hospital organization. Leaders, because they work with and through people, in a relationship of influence. According to TREVIZAN (1993), there is a recognition about the importance of leadership and the need of its development in nursing; however, this theme is still unexplored in our environment. Thus, the purpose of this study was to analyze the 1 Gerente do Serviço de Enfermagem da Santa Casa de S.J. Rio Preto e Mestranda na Área Enfermagem Fundamental da EERP-USP. 2 Profª Titular da EERP-USP- Centro Colaborador da OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem e Pesquisador 1A CNPq.
2 principal and secondary leadership styles of nurses-leaders from a philanthropic hospital at the city of Sao Jose do Rio Preto. Authors used as a method the LEAD of self-perception developed by HERSEY and BLANCHARD. They found that the principal style used by nurses was to persuade (E2) and the secondary style was to share (E3). Finally, they concluded that nurses at the context of hospital organizations nave a more directive behavior, with signs of changes to a more participant one. KEY WORDS: Leadership, Nursing, Self - concept. LIDERAZGO SITUACIONAL: ANÁLISIS DE ESTILOS DE ENFERMEROS-LÍDERES El liderazgo es necesario en todas Ias organizaciones. DRUCKER (1992) señala que los líderes son el recurso escaso de cualquier organización. El hospital no se queda ai margen de este proceso, y también presenta escasez de liderazgo. El enfermero ha sido identificado como un líder en Ia organización hospitalaria. Líder, porque trabaja con y a través de personas, en una relación de influencia. Para TREVIZAN (1993), hay el reconocimiento de Ia importancia del liderazgo y de Ia necesidad de desarrollo en Ia enfermería, todavía, esta temática es aunque inexplorada en nuestro medio. Así, nuestro objetivo fue analizar el estilo de liderazgo principal y secundario de enfermeros líderes de un hospital filantrópico de Sao José do Rio Preto. Utilizamos como método el LEAD de autopercepción desarrollado por HERSEY e BLANCHARD, teóricos del liderazgo situacional. En este estudio constatamos que el estilo principal utilizado por los enfermeros fue persuadir (E2) y como estilo secundario el compartir (E3). Los autores inferen que los enfermeros en el contexto de Ias organizaciones hospitalarias han tido una tendencia a estilos más directivos, pero con signos de cambios para estilos más participativos. UNITERMINOS: Liderazgo, Enfermería, Auto imagem.
3 INTRODUÇÃO No mundo globalizado, competitivo, o sistema de trabalho mudou. Fábricas se organizam em células, escritórios estão divididos por processos. Neste contexto, é necessário que surjam líderes. DRUCKER (1992) assinala que lideres são o recurso básico e também o mais escasso de qualquer empresa. Na atualidade, apesar de falarmos em administração participativa, modelos descentralizados de gestão, as organizações ainda têm poucos líderes. KOUZES, POSNER (1997) afirmam que quase tudo o que nos foi ensinado sobre administração tradicional nos impede de ser líderes eficazes. Neste modelo, a empresa é disciplinada e estável focalizando o curto prazo. Os líderes eficazes, afirmam os autores, têm uma orientação a longo prazo e uma visão de futuro. O hospital, não está à margem do cenário de tendências e mudanças mundiais, e qualidade, competitividade são palavras de ordem.assim, como as organizações, o hospital também sofre de escassez de liderança. Sua estrutura organizacional foi influenciada fortemente pela administração científica que hierarquizada e burocratizada, desenvolveu chefes com grande enfoque nos processos internos e não em pessoas. A enfermagem tem um papel importante neste movimento de mudanças organizacionais no âmbito hospitalar. Para KRON (1978) liderar é influenciar pessoas a mudar, não importa quão insignificante essa mudança possa ser. e trabalhar com e através de pessoas compreende parte integral da liderança em enfermagem. BERGAMINI (1994) coloca que dois aspectos parecem ser comuns a maioria das definições de liderança existentes na atualidade. Em primeiro lugar que a liderança esteja ligada a um processo grupai e que segundo fica evidente tratar-se de um processo de influência exercido de forma intencional por parte dos lideres sobre seus seguidores. Segundo GALVÂO (1995), a liderança constitui uma temática de suma importância para o desenvolvimento do trabalho do enfermeiro, nas suas diferentes áreas de atuação: hospitalar, saúde pública e outras nas dimensões do ensino, da prática e da pesquisa. Para TREVIZAN (1993) existe o reconhecimento da importância da liderança e da necessidade de seu desenvolvimento na profissão; entretanto, esta temática ainda é bastante inexplorada cm nosso meio. O enfermeiro, ao ser inserido no mercado de trabalho, sente grande dificuldade em exercer liderança, e não possui em geral, um referencial teórico norteador neste processo. O trabalho do enfermeiro se caracteriza por uma série de atividades em diversas situações e abrange a coordenação da assistência prestada pêlos colaboradores que apresentam diferenças individuais. Entendemos que se o enfermeiro tiver uma flexibilidade de estilos de liderança, adaptando seu comportamento à situação e à maturidade de sua equipe poderá exercer uma liderança eficaz. Assim sendo, escolhemos como referencial teórico a Liderança Situacional de HERSEY, BLANCHARD (1986) para fundamentar esta investigação. TREVIZAN (1993) discorrendo sobre liderança situacional, enfatiza que ^.liderança é entendida como um processo dinâmico, alterável de uma situação para outra, em decorrência de modificações na conduta do líder, dos liderados e na situação.
4 Abordagem sobre liderança situacional Liderança situacional é um referencial teórico, desenvolvido por HERSEY e BLANCHARD (1986), que pode ser aplicado em qualquer tipo de contexto organizacional. Para estes autores, liderança é um processo de influenciar as atividades de um indivíduo ou grupo para a consecução de um objetivo numa dada situação. Desta definição, conclui - se que o processo de liderança é uma função de líder, do liderado ou subordinado e de variáveis situacionais. Nesta abordagem os líderes eficazes são capazes de adaptar seu estilo de comportamento às necessidades dos liderados e à situação. O líder irá variar seu estilo de comportamento em quatro tipos, onde são associados as variáveis: comportamento para a tarefa e comportamento de relacionamento. Estes tipos recebem as denominações: E1- determinar - a ênfase na tarefa é a alta e o relacionamento é baixo. E2 - persuadir - a ênfase na tarefa e relacionamento são altos. E3 - compartilhar - ênfase baixa na tarefa e alta no relacionamento. E4 - delegar - ênfase na tarefa e relacionamento baixos. Os dois tipos de comportamento, tarefa e relacionamento, podem ser definidos: Comportamento de tarefa: é aquele que os lideres adotam para organizar e definir funções, explicar atividades, estabelecer padrões. Comportamento de relacionamento: é aquele que os líderes adotam para manter relações pessoais, abrindo canais de comunicação c dando reforços positivos aos colaboradores. O estilo de liderança de uma pessoa é definido por estes autores, como sendo o padrão comportamental que ele manifesta quando procura influenciar as atitudes de outras pessoas ou de grupos, ou seja, em outros termos indica como é visto por estas pessoas. Outro conceito importante é o de maturidade dos liderados, apresentado por HERSEY, BLANCHARD (1986) em duas dimensões: maturidade para o trabalho, relacionada com o conhecimento e capacidade técnica. maturidade psicológica, relacionada à disposição ou motivação para realizar alguma coisa. Estas dimensões de maturidade devem sempre ser consideradas em relação a uma dada situação. Na Figura 1 encontra-se esquematizado o modelo de liderança situacional. Para uma liderança eficaz ó necessário que o líder tenha clareza da situação que quer influenciar, que avalie a maturidade do subordinado na situação em questão e escolha corretamente o estilo que utilizará.
5 Fonte: HERSEY; BLANCHARD, K.H. Psicologia para administradores: a teoria e as técnicas da liderança situacional. Trad. Edwino A. Royer. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1986 p.189. OBJETIVO Analisar o estilo de liderança principal ou primário e secundário de enfermeiros líderes. METODOLOGIA O trabalho foi realizado em um hospital filantrópico. O projeto de pesquisa foi encaminhado às Comissões de Ética Médica e de Enfermagem da Instituição, onde foi aprovado. Dos 25 enfermeiros que compõem o quadro da categoria, 20 participaram deste estudo. Cinco enfermeiros não participaram por estarem: 1 licença gestante; 2 de ferias e 2 não responderam. Previamente a coleta dos dados, explicamos o objetivo proposto e solicitamos que assinassem o termo de consentimento de participação no estudo. A coleta de dados foi realizada através da aplicação do instrumento LEAD (Descrição da Eficácia e de Adaptabilidade do Líder) de autopercepção desenvolvido no Center for Leadership Studies - Califórnia American University. O instrumento LEAD desenvolvido por HERSEY, BLANCHARD (1986) destina - se a medir três aspectos do comportamento do líder: 1- estilo; 2- faixa de estilo e 3- adaptabilidade do estilo. Nosso propósito neste estudo foi analisar o 1 aspecto, ou seja, o estilo de liderança. O estilo de liderança ó o padrão comportamental que um indivíduo apresenta ao tentar influenciar as atitudes de outras pessoas. Define - se estilo primário, aquele que ó líder utiliza mais freqüentemente, ou seja o seu estilo favorito de liderança. O estilo secundário de um líder ó aquele que o líder utiliza em certas ocasiões. É importante salientar que todos os líderes tem um estilo primário, mas pode não ter nenhum ou até três estilos secundários de liderança.
6 RESULTADO E DISCUSSÃO Dos 20 enfermeiros que participaram da pesquisa, dezoito (90%) eram do sexo feminino e dois (10%) do sexo masculino. Em relação ao tempo de atuação na instituição o maior percentual foi de 55%, ou seja, 11 enfermeiros trabalham na instituição no período de O a 5 anos (quadro 1). Quadro 1 - Tempo de atuação dos enfermeiros na instituição. Tempo de atuação N % 0 a 5 anos a 10 anos a 15 anos 3 15 Mais de 15 anos 1 5 Quanto ao horário de trabalho 6 enfermeiros (30%) trabalham no período noturno e 14 (70%) no diurno, ressaltamos que os sujeitos do estudo exercem a função de supervisores de unidades. Dos 20 enfermeiros que responderam as 12 situações apresentadas no instrumento de pesquisa, 19 (95%) apresentaram como estilo principal o E2 (persuadir) e 1 (5%) apresentou como estilo principal o estilo E1 (determinar). O estilo de liderança E2 - persuadir dá alta ênfase na tarefa e no relacionamento, apropriado para ser utilizado com liderados com nível de maturidade baixo e moderado (M2). GALVÂO (1995) coloca que o enfermeiro neste estilo utiliza comunicação bidirecional, pois proporciona explicações ao liderado em relação a determinada tarefa, traça um plano de orientação e supervisão e esclarece dúvidas do liderado em relação a determinado tarefa. O estilo E1 (determinar) dá alta ênfase na tarefa e baixa no relacionamento, apropriado para liderados com maturidade baixa (M1). Neste estilo a comunicação ó unilateral, pois o enfermeiro expõe o que, quando e onde fazer a tarefa. Como estilo secundário 11 enfermeiros (55%) apresentaram o estilo E3 (compartilhar), que dá baixa ênfase no cumprimento da tarefa e alta ênfase no relacionamento, apropriado para ser utilizado com liderados com maturidade moderada e alta (M3). Neste estilo o enfermeiro adota segundo GALVÂO (1995) uma comunicação bidirecional no sentido de apoiar os esforços do liderado. Dois enfermeiros (10%) apresentaram o estilo E1 (determinar); 1 (5%) o estilo E2 (persuadir); 3 (15%) apresentaram estilo E4 (delegar), estilo apropriado para liderados com maturidade alta (M4); 2 enfermeiros (10%) apresentaram estilos secundários El e E3 com a mesma pontuação e 1 (5%) apresentou estilos E1, E3, E4 também com a mesma pontuação(quadro 2).
7 Quadro 2 - Pontuação dos estilos de liderança apresentados pelo grupo de enfermeiros. Enfermeiro E1 determinar E2 persuadir E3 compartilhar E4 delegar CONSIDERAÇÕES FINAIS A análise dos estilos de liderança dos enfermeiros investigados, identifica-os como um grupo de perfil E2 E3. Desta forma podemos inferir que estes profissionais apresentam facilidade para trabalhar com liderados com níveis médios de maturidade, mas podem apresentar dificuldade cm trabalhar com grupos imaturos, bem como com grupos competentes de alta maturidade, pois apresentam dificuldade em delegar. HERSEY, BLANCHARD (1986) consideram que líderes que apresentam estes estilos (E2 E3) na maioria das vezes são eficazes, uma vez que a maior parte das pessoas no trabalho se enquadram nos níveis M2 e M3 de maturidade. Apontam também, que estes estilos têm sido os mais identificados nos Estados Unidos. Porém, para maximizar o potencial de liderança é importante aprender a utilizar os estilos E1 (determinar) e E4 (delegar) quando necessário. Na atualidade integrar as capacidades de liderança com as capacidades de executar as funções administrativas é um desafio. MARQUIS, HUSTON (1999) colocam que problemas aparentemente intransponíveis, como falta de recursos, desmotivação, têm sido c continuarão sendo questões enfrentadas pelos enfermeiros-líderes. O enfermeiro na instituição hospitalar, de modo geral, por falta de referenciais sobre liderança, acaba utilizando seu "jeito próprio" de coordenar a equipe de trabalho, muitas vezes desconsiderando o ambiente, a situação e o papel ativo do liderado
8 neste processo. Para transformar-se em líder eficaz é necessário uma compreensão do que seja liderança, da autopercepção do seu estilo e de como poderá desenvolver esta capacidade. Acreditamos que o enfermeiro deve buscar este desenvolvimento através de um referencial teórico, e neste aspecto a Liderança Situacional poderá contribuir, tornando-o um líder eficaz e um agente de mudanças organizacionais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BERGAMINl, CW. Liderança: administração do sentido. Rev Adm Emp. São Paulo, v.34.n.3, p , Maio-junho DRUCKER, PF. Administração para o futuro: os anos 90 e a virada do século. São Paulo: Pioneira, GALVÀO, CM. Liderança situacional: uma contribuição ao trabalho do enfermeiro- líder no contexto hospitalar. Ribeirão Preto, Tese (Doutorado) - Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo. HERSEY, P; BLANCHARD, KH. Psicologia para administradores: a teoria e as técnicas da liderança situacional. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, KOUZES, JM; POSNER, BZ. O desafio da liderança. 2.ed. Rio de Janeiro: Campus, KRON, T. Manual de Enfermagem. 4a ed. Rio de Janeiro: Interamericana, MARQUIS, B; HUSTON, C. Administração e liderança em enfermagem: teoria e aplicação. Porto Alegre: Artmed, TREVIZAN, MA. Liderança do enfermeiro: o ideal e o real no contexto hospitalar. São Paulo: Savier, 1993.
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