Acordam no Tribunal da Relação do Porto

Transcrição

1 PN ; Ap: TC VN Gaia; Ape2: Apo3: Acordam no Tribunal da Relação do Porto 1. A Ape não se conforma com a decisão de 1ª instância pela qual foi apenas concedido parcialmente o pedido baseado em responsabilidade contratual que apresentou contra o Apo, o qual, na tese da p.i., não satisfez o preço de Pte $00, devido desde , montante a que acresce de juros de mora Pte $00, ou seja, débito final de Pte $ Concluiu: (a) A A. pediu a condenação do R. no pagamento do montante de Pte $00, incluindo juros vencidos desde , sobre Pte $00; (b) A sentença recorrida entendeu contudo que não se encontrava alegada a data de interpelação do R. para o cumprimento, e nem ter sido fixado prazo contratual, absolvendo por conseguinte dos juros; 1 Vistos: Des. Ferreira (330), Des. (1130). 2 Adv. Dr. 3 Adv. Dr. 1

2 (c) No entanto o R., regularmente citado, não contestou nem constituiu mandatário; logo, os factos articulados pela A. devem ter-se por confessados (art. 484/1 CPC); (d) Mas foi expressamente alegado pela A. a data de vencimento da factura a 60 dias, datada, ; (e) Ao R. revel são opostos portanto não só os factos das datas sobreditas como da quantificação da dívida pedida; (f) Mas o contrato celebrado entre a A. e o R. é um contrato público, sob o regime do DL 405/93, 10.12, que no art. 193/2 estipula: na ausência de cláusula contratual, os prazos para o pagamento dos trabalhos efectuados, serão de 44 dias, suspensos nos Sábados Domingos e Feriados; logo, 60 dias seguidos (em regra); (g) Assim, o R. ao celebrar o contrato em causa, assumiu o cumprimento das suas obrigações no prazo de 60 dias após a emissão das facturas; (h) Entretanto, a factura junta aos autos tem data de , pagável por conseguinte a ; (i) A sentença deveria ter por conseguinte condenado o R. no pagamento dos juros, afinal devidos desde a data de vencimento da factura; (j) Não tendo seguido este critério, violou o disposto nos arts. 352, 798, 805/2a., 806 CC, e nos arts. 484/1 CPC, 193/2, 238b, DL 405/93, 10.12; (k) Deve ser revogada e substituída por acórdão que condene no pedido inteiro. 3. Nas contra-alegações disse o Apo: (a) O vencimento da factura não corresponde a qualquer interpelação para pagamento, nem é em si um facto que deva ser considerado para a prova; 2

3 (b) Ora, o devedor só fica constituído em mora depois de ter sido judicial ou extra-judicialmente interpelado para cumprir, o que, no caso dos autos, nem sequer vem alegado, muito menos se comprova; (c) A sentença recorrida não merece, por conseguinte, qualquer crítica; (d) Como segundo e último argumento: o contrato sub judice é um contrato administrativo, regido pelo DL 405/93, determinando a competência dos tribunais administrativos para conhecer do conflito, art. 51g. ETAF; (e) Acontece porém que o Apo pagou já, , a totalidade da dívida no montante de Pte $00, conforme documento agora junto; (f) Portanto, a Ape está a fazer uso ilegítimo dos meios processuais, sabendo que o Apo liquidou a dívida muito antes até de ter sido proferida a sentença recorrida; (g) Com efeito tinha obrigação de ter vindo ao processo dar conta da superveniência; (h) Deve ser negado provimento ao recurso, decidida a extinção da instância por inutilidade superveniente da lide, e condenado o Ape como litigante de má fé, arbitrando-se indemnização não inferior a Pte $ Fez juntar fotocópia de um recibo de BCP Factoring, referente a créditos cedidos por, no montante de Pte $00, datado de A Ape não impugnou. 4. Ficou provado: (a) A A. é uma Sociedade comercial que se dedica à indústria da construção civil e comércio imobiliário; (b) No exercício da sua actividade comercial celebrou com o R., , um contrato de empreitada para execução de obras de adaptação e ampliação do 3

4 Serviço de Psiquiatria do Centro Hospitalar VN Gaia, na sequência do concurso público nº 07-72/98, autorizado por despacho ministerial de , cujo preço foi de Pte $00, incluindo IVA (17%); (b.1) Consta do dito contrato, na cláusula 7ª: as questões que se suscitem sobre a execução do contrato, que não sejam dirimidas por meios graciosos, deverão ser submetidas ao TC. VN Gaia; e na cláusula 9ª.: os pagamentos serão efectuados através das verbas orçamentais respectivas, inscritas no orçamento, na rubrica , e efectuar-se-ão mensalmente com base na medição dos trabalhos executados; na cláusula 10ª: o prazo de execução de todos os trabalhos que constituem a empreitada é de 120 dias, incluindo Sábados, Domingos e Feriados Nacionais; na cláusula 11ª. no caso de o empreiteiro não cumprir com o plano de trabalhos, ser-lhe-ão aplicadas as multas preconizadas no art. 181, DL 405/93, 10.12; (c) A obra foi executada pela A. dentro do prazo previsto no contrato e aceite pelo R. sem qualquer reserva ou reclamação; (d) Uma vez concluídos os trabalhos previstos no contrato houve necessidade de corrigir os erros e omissões; concluído, foi elaborado auto de medição, aceite e assinado por representantes do R.; (e) A A. emitiu, , a factura nº 102, correspondente ao valor dos trabalhos realizados em consequência dos erros e omissões referidos; (e.1) Uma vez apresentada ao R., a A. solicitou o seu pagamento. 5. A decisão recorrida condenou no pagamento de Pte $00, montante acrescido de juros à taxa anual de 12%, contados de (data da citação), louvando-se em que se não encontrava alegada a data de interpelação ao cumprimento, nem foi fixado prazo contratual. 6. O recurso está pronto para julgamento. 4

5 7. Não obstante constar do contrato ajuizado uma cláusula referida à competência do tribunal comum para dirimir eventuais litígios a que desse origem, certo é estarmos perante acto do Estado - Administração submetido ao Direito Público, apenas sindicável nas consequências dele derivadas, nomeadamente litigiosas, através da ordem jurisdicional encabeçada pelo STA. Na verdade, o contrato foi celebrado no âmbito de Concurso Público autorizado por entidade ministerial e foram alocadas às correspectivas despesas da Administração Hospitalar verbas para o efeito consignadas no Orçamento, segundo o Plano Oficial de Contabilidade. Tanto basta para a caracterização de contrato administrativo e empreitada de obras públicas. Em consequência teremos de admitir ser estranha ao conflito a ordem jurisdicional comum. Caracteriza-se portanto uma incompetência absoluta em razão da matéria. A excepção, oponível livremente ou do conhecimento oficioso, pode ser conhecida em qualquer estado da causa antes do trânsito, e importa a absolvição da instância4. Não pode pois manter-se a sentença recorrida, e não porque faça vencimento a tese da Ape, mas antes em conformidade com a directiva legal anotada, trazida ao debate pelo Apo. 8. Atento o exposto, vistos os arts. 66, 101, 102/1, 103, 105/1 CPC e art. 51g. ETAF, decidem revogar a sentença recorrida, para absolverem o R. da instância. 9. Custas pela Ape, sucumbente. 4 Vd. arts. 66, 101, 102/1, 103, 105/1 CPC e art. 51g. ETAF. 5