ACIDENTE OCUPACIONAL COM EXPOSIÇÃO À MATERIAL BIOLÓGICO EM PROFISSIONAIS DE SAÚDE

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1 ACIDENTE OCUPACIONAL COM EXPOSIÇÃO À MATERIAL BIOLÓGICO EM PROFISSIONAIS DE SAÚDE Amanda Engers de Oliveira 1 ; Andréa de Siqueira Campos Lindenberg Estudante do Curso de Medicina da Universidade Anhanguera-Uniderp; mandinhaengers@hotmail.com 2 Professora mestre do Curso de Medicina Medicina da Universidade Anhanguera-Uniderp; andrealindenberg@gmail.com RESUMO A articulação entre o trabalho, a saúde e a doença dos trabalhadores tem sido objeto de observação e reflexão dos homens, há séculos. Os acidentes com materiais biológicos pelos profissionais da área da saúde são considerados uma vertente devido à possibilidade de transmissão ocupacional de patógenos veiculados pelo sangue e outros fluidos corpóreos. Como no Brasil é clara a limitação de estudos epidemiológicos sobre o referido assunto, este estudo descritivo e de abordagem quantitativa teve como objetivo investigar a ocorrência de acidentes de trabalho (AT) com exposição a material biológico entre trabalhadores da saúde que buscaram para atendimento o Centro de Doenças Infecto Parasitárias (CEDIP), em Campo Grande MS durante o período de março a outubro de Para a coleta dos dados, foi elaborado um formulário e realizada entrevista. Os resultados mostraram que a categoria de auxiliares e técnicos de enfermagem foi a mais vitimada, com 18 acidentes (56,25%). As agulhas foram responsáveis por 96,87% das injúrias e o sangue foi o material biológico envolvido na maioria das exposições ocupacionais. Este estudo forneceu ferramentas importantes para a revisão e elaboração de estratégias de prevenção, educação e proteção para minimização de riscos inerentes às atividades ocupacionais. Palavras-chave: Riscos Ocupacionais; Biossegurança; Acidentes de Trabalho. INTRODUÇÃO O trabalho, uma das atividades mais antigas que apareceu juntamente com o homem, permaneceu ignorado até aproximadamente 250 anos atrás. Toda atividade humana predispõe as pessoas a alguma forma de risco, interferindo em suas condições de vida e atividade laboral (PINHEIRO, 2008). Antes dos anos 80 os profissionais da área de saúde não eram considerados como profissionais de alto risco para acidentes de trabalho. Após a epidemia de HIV/AIDS nessa época, o risco biológico começou a preocupar os profissionais da área de saúde e este fato exigiu a adoção de condutas mais seguras no exercício de suas atividades diárias (GIR et al., 2005). No Brasil, o primeiro caso de contaminação foi notificado em 1997, referindo-se a uma auxiliar de enfermagem contaminada pelo vírus HIV, com confirmação de AIDS, devido a um acidente de trabalho com material pérfuro-cortante ocorrido em 1994, em São Paulo (SAILER; MARZIALE, 2007). Os ferimentos com agulhas e material pérfuro-cortante são responsáveis por 80 a 90% das transmissões de doenças infecciosas nos trabalhadores da saúde, sendo considerados extremamente perigosos por serem potencialmente capazes de transmitir o vírus da imunodeficiência humana (HIV), o da hepatite B e hepatite C, entre outros (BALSAMO; FELLI, 2006; SIEGEL et al., 2007). A hepatite B é a de maior risco de incidência de transmissão entre trabalhadores expostos a este vírus com percentual de 6% a 30%, podendo chegar até a 60%, dependendo da situação do paciente-fonte (MEDEIROS et al., 2007). Por isso, para se evitar o risco de exposição a material biológico, todo profissional deve ter à sua disposição Equipamentos de Proteção Individual (EPI), instrumentos de uso pessoal, cuja finalidade é neutralizar a ação de certos acidentes possíveis de causar lesões ao trabalhador e protegê-lo contra prováveis danos à saúde, causados pelas condições de trabalho (TIPPLE et al., 2007).

2 Um dos fatores que dificultam o conhecimento da realidade brasileira é a falta de cultura para a notificação do acidente do trabalho. Grandes índices de subnotificação podem ser encontrados na literatura, Pereira et al., (2004), observaram que de 64 acidentados, 39 (60,9%) não notificaram o acidente por julgarem desnecessário ou por desconhecimento, também Nishide et al., (2004), encontraram uma porcentagem de 83% de subnotificações, tendo como principal causa o acidente sem risco. Logo, esses índices prejudicam a proposição e implementação de estratégias preventivas específicas, pois é a fundamentação em dados reais que permite estimular e sustentar políticas de segurança e, assim, tornar o profissional de saúde menos vulnerável à aquisição de patógenos transmitidos pelo sangue e outros fluidos corporais. (BRASIL, 2006). Diante do exposto, o presente trabalho teve como objetivo determinar a prevalência de acidentes com material biológico em profissionais da área da saúde atendidos no Centro de Doenças Infecto Parasitárias (CEDIP) bem como identificar as áreas ocupacionais da saúde mais envolvidas em acidentes com material biológico, identificar a frequência do uso de equipamentos de proteção individual (EPI) e verificar a prevalência dos tipos de materiais biológicos envolvidos nos acidente de trabalho. MATERIAL E MÉTODOS Estudo epidemiológico, transversal realizado no Centro de Doenças Infecto Parasitárias de Campo Grande MS (CEDIP), entre março e outubro de A população foi constituída por todos os funcionários da equipe de saúde (médicos, enfermeiros, auxiliares e técnicos de enfermagem, técnicos especializados e serviços gerais) que procuraram o CEDIP após acidente biológico independente de sexo, idade e nível sócio-econômico-cultural e aceitaram participar do estudo após esclarecimento dos objetivos e do desenvolvimento do mesmo, assinando um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido no qual constava a sua participação voluntária. Os entrevistados também foram informados quanto à possibilidade de recusar-se a participar do estudo ou retirar seu consentimento, sem nenhuma penalização, sendo garantido sigilo e assegurando a privacidade dos sujeitos quanto aos dados confidenciais Os dados foram coletados utilizando um questionário como instrumento para obtenção das informações sobre os acidentes. O questionário continha perguntas abertas e fechadas divididas em cinco partes: informações sobre o profissional acidentado, informações sobre a exposição, dados sobre o tipo de exposição, situação sorológica do paciente-fonte e dados sobre profilaxia. Após a coleta, os dados foram tabulados e analisados através do programa Epi Info 6. A pesquisa foi realizada após aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa sendo consideradas todas as exigências contidas na resolução 196, que normatiza as pesquisas que envolvem seres humanos em nosso país. RESULTADOS E DISCUSSÃO Até o presente momento, foram estudados 32 funcionários da equipe de saúde, incluídos neste estudo após terem lido e assinado um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. A distribuição dos indivíduos demonstrou o predomínio de acidentes com material biológico entre profissionais do sexo feminino (78,12% - n=25). Oliveira et al (2008) e Balsamo et al (2006) demonstraram achados semelhantes em um hospital universitário do estado do Paraná e do estado de São Paulo, respectivamente. Não se sabe a causa da maior frequência de acidentes entre profissionais do sexo feminino, mas o fato de a mulher se inserir no mercado de trabalho como forma de contribuir para o aumento da renda familiar, submetendo-se a duplas jornadas de trabalho seria uma hipótese. Do total de profissionais, 56,25% (n=18) faziam parte do grupo Enfermagem, o que já era esperado, pois representam um grupo particularmente vulnerável aos riscos biológicos devido às características peculiares de suas atividades laborais, que envolvem o cuidado direto e permanente aos pacientes. O restante, 34,37% (n=11), representa o grupo de

3 assistentes e serviços gerais e, 9,37% (n=3), representa o grupo de técnicos especializados, sendo nesse estudo todos pertencentes ao laboratório. Quatorze (43,75%) não fazia uso de nenhum Equipamento de Proteção Individual (EPI) na hora do acidente e 50% (n=16) dos profissionais alegaram usar apenas luvas como equipamento de proteção. Apenas 6,25% (n=2) fazia o uso de luvas e botas. Percentual elevado de não uso de EPI também foi encontrado em outros estudos, Oliveira et al (2008) e Nishide et al (2004), sobre acidentes de trabalho em profissionais da saúde. Sabendo-se que a utilização das precauções-padrão como barreira ajuda no controle de transmissão de patógenos, torna-se prioritário a realização de atividades de educação em saúde enfatizando a utilização correta de EPI s para a prevenção da ocorrência de perfurações e cortes com o uso de materiais existentes em ambiente hospitalar. Sabe-se que as formas de exposição são várias e englobam: ferimentos perfurantes por agulha ou objetos cortantes contaminados, exposição de mucosa ou contato com sangue e/ou outros fluidos e secreções potencialmente contaminadas em lesões cutâneas prévias. Os ferimentos pérfuro-cortantes são um grave problema nas instituições de saúde, tanto pela frequência quanto pela repercussão na saúde desses trabalhadores. A grande maioria dos profissionais, 96,87% (n=31), sofreu acidente com material pérfuro-cortante. Puro et al (2001), também encontraram dados em seus estudos que corroboram com esse achado. Apenas 3,12% (n=1) profissional relatou acidente com exposição mucosa, havendo sangue como o material biológico. Do total de acidentes ocupacionais, 11 profissionais (34,37%) não souberam referir se havia sangue ou outro material biológico presente. Outros 16 (50%) relataram a presença de sangue do paciente fonte no agente causador do acidente e o restante de profissionais, 15,62% (n=5), relataram fluido com sangue como material orgânico. Maior frequência de acidentes envolvendo o sangue foi também encontrada em outras pesquisas, como em Almeida et al (2007). CONCLUSÃO Este estudo possibilitou identificar os acidentes de trabalho com exposição à material biológico em funcionários da equipe de saúde, correlacionando-os com as áreas ocupacionais envolvidas, a frequência de utilização de equipamento de proteção individual e o tipo de material biológico mais envolvido. Em relação ao acidente de trabalho, foi constatado, no período de março a outubro de 2011, índice de 56,25% de acidentes entre os trabalhadores de enfermagem, sendo 78,12% em profissionais do sexo feminino. Quanto ao acidente, 43,75% dos acidentados não faziam uso de nenhum equipamento de proteção individual e 50% relataram a presença de sangue do paciente fonte no agente causador do acidente. A principal causa dos acidentes de trabalho foram os materiais pérfuro-cortantes, apresentando um índice de 96,87%. Estudos dessa natureza servem como fonte de informações para que profissionais da saúde, empregadores e administradores busquem estratégias de intervenção capazes de modificar o ambiente de trabalho, implementando programas de prevenção e conscientização de práticas seguras e realizando o fornecimento de maneira contínua e uniforme dos dispositivos de segurança. AGRADECIMENTOS À instituição Anhanguera-Uniderp pelo apoio financeiro e científico.

4 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, C. A. F.; BENATTI, M. C. C. Exposições ocupacionais por fluidos corpóreos entre trabalhadores de saúde e sua adesão à quimuiprofilaxia. Revista de Escola de Enfermagem da USP, vol. 41, n. 1, p , BALSAMO, A. C.; FELLI, V. E. A. Estudo sobre os acidentes de trabalho com exposição aos líquidos corporais humanos em trabalhadores da saúde de um hospital universitário. Revista Latino-Americana de Enfermagem, vol. 14, n. 3, p , Mai-Jun, BRASIL. Serviços Odontológicos: prevenção e controle de risco. Ministério da Saúde, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Brasília, GIR, Elucir et al. O impacto da AIDS na prática de enfermagem: um problema de saúde pública. Jornal Brasileiro de Doenças Sexualmente Transmissíveis, vol. 17, n. 1, p , MEDEIROS, Eduardo Alexandrino Servolo et al. Eventos Adversos relacionados a profilaxia anti-retroviral em acidentes ocupacionais. Revista de Saúde Pública, vol. 41, n. 2, p , NISHIDE, V. M.; BENATTI, M. C. C.; ALEXANDRE, N. M. C. Ocorrência de acidente do trabalho em uma unidade de terapia intensiva. Revista Latino-Americana de Enfermagem, vol. 12, n. 2, p , Mar-Abr, OLIVEIRA, B. A. C.; KLUTHCOVSKY, F. A.; KLUTHCOVSKY A. C. G. C. Estudo sobre a ocorrência de acidentes de trabalho com material biológico em profissionais de enfermagem de um hospital. Cogitare Enfermagem, vol. 13, n. 2, p , PEREIRA, A. C. M., et al. Acidentes de trabalho com material perfurocortante em profissionais da equipe de enfermagem da rede hospitalar pública de Rio Branco - Acre Brasil. Brazilian Journal of Nursing, vol. 03, n. 03, Dez, PINHEIRO, Francisco Alves. Higiene e Segurança do Trabalho. Universidade Federal do Vale do São Francisco Colegiado de Engenharia de Produção. Juazeiro, Bahia PURO, V.; CARLI, G. D.; PETROSILLO, N.; IPPOLITO, G. Risk of healthcare exposure to bloodborne infection of italian workers, by job category and work área. Infection control and Hospital Epidemiology, v. 22, n. 4, p , SAILER, G. C.; MARZIALE, M. H. P. Vivência dos trabalhadores de enfermagem frente ao uso de antiretrovirais após exposição ocupacional a material biológico. Revista Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis, vol. 16, n.1, p , Jan-Mar, SIEGEL, J. D.; RHINEHART, E.; JACKSON, M.; CHIARELLO, L. Guideline for Isolation Precautions: Preventing Transmission of Infectious Agents in Healthcare Setting, Disponível em< Acesso em 25 set TIPPLE, A. C. F. V., et al. Equipamentos de proteção em centros de material e esterilização: disponibilidade, uso e fatores intervenientes à adesão. Revista Ciência, Cuidado e Saúde, vol. 6, n. 4, p , Out-Dez, 2007.

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