Serviço de Controle de Infecção Hospitalar
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- Filipe Braga Melgaço
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1 Serviço de Controle de Infecção Hospitalar
2 2 AUTORES Márcia Arias Wingeter, Silvia Maria dos Santos Saalfeld, Celso Luiz Cardoso, César Helbel. MEMBROS DO SERVIÇO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR César Helbel Márcia Arias Wingeter Silvia Maria dos Santos Saalfeld MEMBROS DA COMISSÃO DE CONTROLE DE INFECÇÃO HOSPITALAR César Helbel Presidente da Comissão Almir Germano Cecília Saori Mitsugui Celso Luiz Cardoso Cleverson Antonio Poças Écio Alves do Nascimento Edilaine Aparecida Freitas Gisleine Elisa Cavalcanti da Silva Gustavo Jacobussi Farah Hilton Vize Martinez Márcia Arias Wingeter Marcia Maria Marino Rúbia Andréia Falleiros de Padua Sandra Regina Corbello Pereira Silvia Maria dos Santos Saalfeld Sonia de Oliveira Alves Vera Lúcia Dias Siqueira
3 3 HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS A higienização das mãos é considerada o procedimento isolado mais importante na prevenção das infecções hospitalares, porque muitas destas infecções são causadas por microrganismos transmitidos pelas mãos contaminadas do pessoal hospitalar. Entretanto, a baixa taxa de adesão dos profissionais da saúde à prática da higienização das mãos, geralmente inferior a 50% na maioria dos hospitais, constitui um desafio para o controle das infecções hospitalares em todo o mundo. Os principais fatores que contribuem para esta baixa adesão são representados por: falta de tempo, irritação da pele devido a freqüente lavagem das mãos com produtos inadequados, sobrecarga de trabalho e falta de pessoal, excessivo uso de luvas, difícil acesso às pias e conhecimento inadequado das indicações para a higienização das mãos. Na tentativa de mudar essa situação, as novas recomendações para a higienização das mãos, preconizadas nos Estados Unidos pelo Centers for Disease Control and Prevention e pela Organização Mundial da Saúde, propõem o uso de preparações alcoólicas como procedimento padrão para a antissepsia das mãos dos profissionais de saúde em substituição a tradicional lavagem das mãos com água e sabão. Segundo estas recomendações, os produtos a base de álcool são os agentes preferidos para a anti-sepsia das mãos porque eles reduzem a contagem bacteriana das mãos de forma mais eficaz do que o sabão comum e as soluções anti-sépticas degermantes. Apresentam maior facilidade de uso, requerem menos tempo de ação e causam menos irritação e ressecamento da pele do que a lavagem com água e sabão. Entretanto, quando as mãos estiverem visivelmente sujas ou contaminadas com proteínas ou fluidos orgânicos, elas obrigatoriamente devem ser lavadas com água e sabão ou com preparação antisséptica degermante, porque o álcool não tem efeito na remoção de sujeira ou matéria orgânica. O profissional da saúde deve estar consciente de que a lavagem das mãos é a medida individual mais simples e menos dispendiosa para prevenir a propagação das infecções relacionadas à assistência à saúde. Recentemente o termo lavagem das mãos foi substituído por higienização das mãos devido à maior abrangência deste procedimento. O termo higienização das mãos engloba a higienização simples, a higienização antisséptica, a fricção antisséptica e a anti-sepsia cirúrgica das mãos. A eficácia da higienização depende da duração e da técnica empregada.
4 4 TÉCNICAS DE HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS Importante: antes de iniciar qualquer uma das técnicas, é necessário retirar jóias (i.e., anéis, pulseiras, relógio), pois sob tais objetos podem acumular-se microrganismos. Destacando ainda a importância de manter as unhas curtas, não sendo aceitável o uso de unhas postiças ou com esmalte craquelado ou rugoso na superfície da unha. HIGIENIZAÇÃO SIMPLES DAS MÃOS. É a lavagem das mãos pela fricção com água e sabão líquido comum (i.e., sabão não medicamentoso) durante 40 a 60 segundos. Tem como objetivo remover os microrganismos que colonizam as camadas superficiais da pele, assim como o suor, a oleosidade e as células mortas, retirando sujidade propícia à permanência e à proliferação de microrganismos. Importante: No caso de torneiras com contato manual para fechamento, sempre utilize papel-toalha. O uso coletivo de toalhas de tecido é contraindicado, pois estas permanecem úmidas, favorecendo a multiplicação bacteriana. Deve-se evitar água muito quente ou muito fria na higienização das mãos, para prevenir o ressecamento da pele. A técnica de higienização simples das mãos é realizada de forma adequada quando as mãos são friccionadas em todas as suas faces, espaços interdigitais, articulações, unhas, extremidades dos dedos e punhos, conforme demonstrado no cartaz ilustrativo no Anexo 1. Para isso, utilizar os seguintes passos: (i) fricção das palmas das mãos entre si; (ii) fricção da palma da mão direita contra o dorso da mãos esquerda (e vice-versa), entrelaçando os dedos; (iii) fricção das palmas das mãos entre si com os dedos entrelaçados; (iv) fricção do dorso dos dedos de uma mão com a palma da mão oposta (e vice-versa), segurando os dedos; (v) fricção do polegar direito, com o auxílio da palma da mão esquerda (e vice-versa), utilizando movimento circular; (vi) fricção das polpas digitais e unhas da mão esquerda contra a palma da mãos direita (e vice-versa), fazendo um movimento circular; (vii) fricção do punho esquerdo com auxílio dos dedos e palma da mão direita (e vice-versa), com movimentos circulares. A higienização simples das mãos é indicada nos seguintes casos: (i) quando as mãos estiverem visivelmente sujas ou contaminadas com sangue e outros fluidos corporais; (ii) ao iniciar o turno de trabalho; (iii) após ir ao banheiro; (iv) antes e depois das refeições; (v) antes do preparo de alimentos; (vi) antes do preparo e manipulação de medicamentos; (vii) nas situações descritas a seguir para preparação alcoólica.
5 5 FRICÇÃO ANTISSÉPTICA DAS MÃOS COM PREPARAÇÕES ALCOÓLICAS. É feita com preparação alcoólica na forma líquida ou de gel, contendo geralmente álcool etílico a 70% (concentração em peso), com objetivo de reduzir a carga microbiana das mãos (não há remoção de sujidades). O procedimento deve ser realizado por 20 a 30 segundos, conforme a técnica demonstrada no cartaz ilustrativo no Anexo 2. Importante: para evitar ressecamento e dermatites, não higienize as mãos com água e sabão imediatamente antes ou depois de usar uma preparação alcoólica. Depois de higienizar as mãos com preparação alcoólica, deixe que elas sequem espontaneamente ao ar (i.e., sem secar as mãos com papel toalha). A higienização das mãos com preparações alcoólicas é indicada quando as mãos não estiverem visivelmente sujas, em todas as situações a seguir: Antes de contato com o paciente: tem como objetivo a proteção do paciente, evitando a transmissão de microrganismos oriundos das mãos do profissional de saúde. Exemplos: exames físicos (determinação do pulso, da pressão arterial, da temperatura corporal); contato físico direto (aplicação de massagem, realização de higiene corporal); e gestos de cortesia e conforto. Após contato com o paciente: tem como objetivo a proteção do profissional e das superfícies e objetos imediatamente próximos ao paciente, evitando a transmissão de microrganismos do próprio paciente. Antes de realizar procedimentos assistenciais e manipular dispositivos invasivos: tem como objetivo a proteção do paciente, evitando a transmissão de microrganismos oriundos das mãos do profissional de saúde. Exemplos: contato com membranas mucosas (administração de medicamentos pelas vias oftálmica e nasal); com pele não intacta (realização de curativos, aplicação de injeções); e com dispositivos invasivos (cateteres intravasculares e urinários, tubo endotraqueal). Antes de calçar luvas para a inserção de dispositivos invasivos que não requeiram preparo cirúrgico: tem como objetivo a proteção do paciente, evitando a transmissão de microrganismos oriundos das mãos do profissional de saúde. Exemplo: inserção de cateteres vasculares periféricos. Após risco de exposição a fluidos corporais: tem como objetivo a proteção do profissional e das superfícies e objetos imediatamente próximos ao paciente, evitando a transmissão de microrganismos do paciente a outros profissionais ou pacientes.
6 6 Ao mudar de um sítio corporal contaminado para outro, limpo, durante o cuidado ao paciente: tem como objetivo a proteção do paciente, evitando a transmissão de microrganismos de uma determinada área para outras áreas de seu corpo. Exemplo: troca de fraldas e subseqüente manipulação de cateter intravascular. É importante ressaltar que esta situação não deve ocorrer com freqüência na rotina do profissional. Os cuidados ao paciente devem ser planejados iniciando-se a assistência na seqüência do sítio menos contaminado para o mais contaminado. Após contato com objetos inanimados e superfícies imediatamente próximas ao paciente: tem como objetivo a proteção do profissional e das superfícies e objetos imediatamente próximos ao paciente, evitando a transmissão de microrganismos do paciente a outros profissionais e pacientes. Exemplos: manipulação de respiradores, monitores cardíacos, troca de roupas de cama, ajuste da velocidade de infusão de solução endovenosa. Após a remoção de luvas: tem como objetivo a proteção do profissional e das superfícies e objetos imediatamente próximos ao paciente, evitando a transmissão de microrganismos do paciente a outros profissionais ou pacientes. As luvas previnem a contaminação das mãos dos profissionais de saúde e ajudam a reduzir a transmissão de patógenos. Entretanto, elas podem ter microfuros ou perder sua integridade sem que o profissional perceba, possibilitando assim a contaminação das mãos. Outros Procedimentos: como por exemplo, a manipulação de invólucros de material estéril. Importante: em relação ao uso de luvas os seguintes cuidados devem ser observados: (i) use luvas somente quando indicado; (ii) utilize-as antes de entrar em contato com sangue, líquidos corporais, membrana mucosa, pele não intacta e outros materiais potencialmente infecciosos; (iii) troque as luvas sempre que entrar em contato com outro paciente; (iv) troque também durante o contato com o paciente se for mudar de um sítio corporal para outro, limpo, ou quando estiver danificada; (v) nunca toque desnecessariamente superfícies e materiais, como por exemplo, telefones, maçanetas e portas, quando estiver com luvas; (vi) observar a técnica correta de remoção de luvas para evitar a contaminação das mãos; (vii) lembre-se: o uso de luvas não substitui a higienização das mãos!
7 7 HIGIENIZAÇÃO ANTISSÉPTICA DAS MÃOS. Esta técnica é realizada de forma idêntica à higienização simples das mãos, substituindo-se o sabão líquido por preparações antissépticas degermantes a base de digluconato de clorexidina a 2% ou 4% ou de polivinilpirrolidona-iodo a 10%, com 1% de iodo ativo. A duração do procedimento deve ser de 40 a 60 segundos. As formulações antissépticas degermantes associam a propriedade de limpeza dos detergentes (remoção de sujidades) com a ação antimicrobiana dos antissépticos (redução da carga microbiana). São utilizadas para a higienização antisséptica das mãos e degermação da pele de pacientes que serão submetidos a procedimentos invasivos. A higienização antisséptica das mãos é indicada nas seguintes situações: (i) nos casos de precaução de contato recomendados para pacientes portadores de microrganismos multiresistentes e nos casos de surtos (ii) antes da realização de procedimentos invasivos (e.g., inserção de cateter intravascular central, instalação de diálise, pequenas suturas, endoscopias e outros procedimentos). ANTISSEPSIA CIRÚRGICA OU PREPARO PRÉ-OPERATÓRIO DAS MÃOS. Consiste na escovação das mãos e antebraços com preparações antissépticas degermantes, conforme ilustração do Anexo 3. A finalidade é eliminar a microbiota transitória da pele e reduzir a microbiota residente, além de proporcionar efeito residual na pele do profissional. As escovas utilizadas no preparo cirúrgico das mãos devem ser de cerdas macias e descartáveis, impregnadas ou não com antisséptico e de uso exclusivo em leito ungueal e subungueal. A duração do procedimento deve ser de 3 a 5 minutos para a primeira cirurgia e de 2 a 3 minutos para as cirurgias subseqüentes. A degermação da pele das mãos e antebraços é indicada no pré-operatório, antes de qualquer procedimento cirúrgico (indicado para toda a equipe cirúrgica).
8 8 OS CINCO MOMENTOS PARA A HIGIENIZAÇÃO DAS MÃOS NA PRÁTICA HOSPITALAR Para facilitar a memorização das indicações para a higienização das mãos considerando o risco de transmissão de microrganismos durante o cuidado com o paciente, a Organização Mundial da Saúde recomenda que os profissionais da saúde devem obrigatoriamente higienizar as mãos em cinco momentos: 1. Antes do contato com o paciente; 2. Antes da realização de procedimento asséptico; 3. Após risco de exposição a fluidos corporais; 4. Após contato com o paciente; 5. Após contato com áreas próximas ao paciente. O profissional de saúde deve estar conscientizado de que o cumprimento destas cinco etapas é de fundamental importância na prevenção e controle de infecções nos serviços de saúde, principalmente aquelas decorrentes da infecção cruzada de microrganismos multirresistentes (i.e., o microrganismo que está causando a doença em um paciente é transmitido para outro paciente através das mãos contaminadas do profissional da saúde). A Figura 1, na próxima pagina, mostra os cinco momentos (indicações) para a higienização das mãos na prática hospitalar preconizados pela Organização Mundial da Saúde.
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10 10 BIBLIOGRAFIA BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Ministério da Saúde. Higienização das mãos em serviços de saúde. Brasília: ANVISA, 52p., BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Ministério da Saúde. Orientações para Prevenção de Infecção Primaria da Corrente Sanguínea. Brasília, 50p BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Ministério da Saúde. Segurança do paciente Higienização das mãos. Brasília: ANVISA, 100p., CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Guideline for hand hygiene in healthcare settings: recommendations of the healthcare infection control practices advisory committee and the HICPAC/SHEA/APIC/IDSA hand hygiene task force. Atlanta, MMWR 2002; 51(No. RR 16):1-45. KAMPF, G.; KRAMER, A. Epidemiologic background of hand hygiene and evaluation of the most important agents for scrubs and rubs. Clin. Microbiol. Rev.,. Washington, v. 17, n. 4, outubro, p , LARSON, E. APIC guidelines for handwashing and hand antisepsis in health care settings. Am. J. Infect. Control., St. Louis, v. 23, n. 4, agosto, p , PITTET, D. Hand hygiene: It s all about when and how. Infect. Control Hosp. Epidemiol., Chicago, v. 29, n. 10, outubro, p , WORLD HEALTH ORGANIZATION. WHO Guidelines on Hand Hygiene in Health Care. First Global Patient Safety Challenge Clean Care is Safe Care. Geneva: WHO Press, 270p., 2009.
11 11 ANEXO 1 HIGIENIZAÇÃO SIMPLES DAS MÃOS.
12 12 ANEXO 2 FRICÇÃO ANTISSÉPTICA DAS MÃOS COM PREPARAÇÕES ALCOÓLICAS.
13 13 ANEXO 3 ANTISSEPSIA CIRÚRGICA OU PREPARO PRÉ-OPERATÓRIO DAS MÃOS.
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