Anais do Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto - GEONORDESTE 2014 Aracaju, Brasil, novembro 2014
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- Carolina Santarém Bugalho
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1 CARACTERIZAÇÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NA ÁREA DE INFLUENCIA DIRETA DO PARQUE ESTADUAL DAS ÁGUAS DO CUIABÁ, MUNICÍPOS DE NOBRES E ROSÁRIO OESTE, MATO GROSSO Edson Viana Massoli Junior 1, 2, Jean Fábio Paelo Silva 1, Patrícia Regina da Silva Gonçalves 1, Raimundo Fagundes 1, Tatyane de Lima Mendes 1 Vanderley Severino dos Santos 1 1 Instituto Federal de Educação, IFMT, Campus Cuiabá Tecnólogo em Geoprocessamento; massolijr@hotmail.com 2 UNIVAG Centro Universitário, GPA Ciências Agrárias, Biológicas e Engenharias RESUMO: O objetivo desse estudo foi caracterizar o uso e ocupação do solo na área de influencia direta do Parque Estadual Águas do Cuiabá. Para a classificação da paisagem nós consideramos as seguintes classes: 1. Mata; 2. Cerrado; 3. Áreas degradadas; 4. Pastagens; 5. Agricultura; 6. Encostas. Utilizamos imagens do sensor Landsat TM para vetorizar polígonos referentes a cada uma das classes no software QUANTUM GIS Os principais critérios para delimitação das classes foram cor, textura e forma. O Parque Estadual Águas do Cuiabá possui 76984,98 há de área, sua paisagem é dominada por áreas antrópicas (61,53%), especificamente áreas degradadas (30,94%), agricultura (17,11%) e pastagem (13,48%). Já as áreas naturais totalizaram (38,47%), incluindo mata (15, 58%), cerrado (12, 03%) e vegetação de encosta (10,83%). O uso do solo na área de influencia do Parque Estadual Águas do Cuiabá apresenta incompatibilidades com conceitos e objetivos de uma Zona de Amortecimento. Para que os objetivos da criação do Parque Estadual Águas do Cuiabá se cumpram é necessária à elaboração do seu plano de manejo que delimite uma zona de amortecimento com normas para o uso restrinjam os usos inadequados, além de recuperação das áreas degradadas e implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade. PALAVRAS-CHAVE: sensoriamento remoto, unidade de conservação, zona de amortecimento INTRODUÇÃO: O processo de ocupação no Estado de Mato Grosso caracterizou-se pela falta de planejamento e uma exploração inadequada dos recursos naturais, particularmente dos solos e florestas (SILVA, 2008). Tal exploração leva a um conjunto de problemas ambientais, como mudanças climáticas locais, erosão dos solos, assoreamento dos cursos d água, redução da qualidade da água e perda da conectividade da paisagem (MARTINS, 2001). As unidades de conservação (UC) são áreas legalmente instituídas pelo poder público (Lei Federal nº 9.985, de 18 de julho de 2000), com o objetivo de proteger os recursos naturais e a biodiversidade. Apesar da importância das UCs, elas sofrem grandes pressões das áreas de entorno, predominantemente ocupadas por atividades agrícolas e agroflorestais (SHIDA; PIVELLO 2002). Em função disso foi criado o Decreto nº , de 06 de junho de 1990 e a resolução CONAMA n 13, de 06 de dezembro de 1990, tornando obrigatória a definição de uma Zona de Amortecimento ou Zona Tampão. Esta deve compreender um raio de 10 km, a partir dos limites da UC, com a finalidade de filtrar os impactos negativos de atividades externas, tais como: ruídos, poluição, espécies invasoras e o avanço da ocupação humana (MILLER, 1997). Considerando isso, estudos que caracterizem as formas de uso e ocupação do solo em zonas de amortecimentos podem contribuir para a implementação de planos de manejo em UCs, garantindo que estas exerçam as funções para as quais foram criadas. Desta forma, o objetivo desse estudo foi caracterizar o uso e ocupação do solo na área de influencia direta (raio de 10 km) do Parque Estadual Águas do Cuiabá (PEAC) e discutir aspectos relacionados à delimitação de sua zona de amortecimento. MATERIAL E MÉTODOS Área de estudo: O Parque Estadual Águas do Cuiabá (PEAC) é uma UC de proteção integral, tem por objetivo garantir a proteção dos recursos hídricos e a viabilidade da movimentação das espécies da fauna nativa. Com uma área de ,00 ha, localiza-se na região centro sul do Estado de Mato Grosso, entre os municípios de Rosário Oeste e Nobres. Esta inserida no domínio do bioma Cerrado e é banhada pelos rios Cuiabá do Bonito e Cuiabá da Larga, que juntos formam o rio Cuiabá (ZEILHOFER et al., 2006). Os solos apresentam características de Neossolos, Latossolos e 215
2 Cambissolo. A região é constituída por várias serras, geradas por desdobramentos antigos, formados por rochas sedimentares. Antes da criação do PEAC, a região era utilizada para a atividade de pecuária extensiva. As terras ainda não foram desapropriadas e o plano de manejo foi elaborado porém não publicado. A área de estudo está sobreposta à área que deveria ser a Zona de Amortecimento do PEAC e a outras áreas protegidas como a APA Cabeceiras do Cuiabá e também a Terra Indígena Santana, Etnia Bakairi, área ,78ha (Figura 1). Figura 1 Localização do Parque Estadual Águas do Cuiabá (PEAC) indicando os limites municipais e outras unidades de conservação. Procedimentos metodológicos: Consideramos como área de influencia Parque Estadual Águas do Cuiabá (PEAC) um raio de 10 km a partir dos limites do parque, que de acordo com a legislação, é a Zona de Amortecimento. Utilizamos a base cartográfica oficial (1: ), disponível no site da Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Estado de Mato Grosso (SEMA), incluindo hidrografia, memorial descritivo do PEAC. O sistema de referência utilizado foi o WGS84 fuso 21S e a projeção UTM. O processo de identificação das principais formas de uso e ocupação do solo foi realizada a partir da interpretação visual de imagem do sensor TM/ Lantsat 8, cena 226, ponto 70, data de passagem 16/07/2013. Essa imagem foi composta utilizando as bandas 3, 4 e 5 no modelo RGB. Considerando a escala adotada e a resolução espacial das imagens utilizadas, foi possível reconhecer as seguintes classes da paisagem: 1. Mata - Composta basicamente por vegetação ripária e outras formações florestais que margeiam corpos d água. 2. Cerrado - Compreende diferentes fitofisionomias savânicas, desde campos sujos até cerrado sentido restrito. 3. Áreas degradadas - Inclui desmatamento em diferentes graus de regeneração, pastagens degradadas e abandonadas (Juquiras) e outras formações abertas que apresentaram comportamento espectral semelhante. 4. Pastagens manejadas - Áreas destinadas a atividade pecuária com uso de espécies exóticas como Braquiária (Brachiaria sp), Brizantão (Brachiaria brizanta) e derruba- velho (Cynodon sp.). 5. Agricultura - Áreas destinadas à plantação de milho, soja e girassol. 6. Encostas - Áreas de relevo acidentado com declividade acentuada e cobertura vegetal diversa. Para validação das classes da paisagem utilizamos magens de melhor resolução (Plataforma Google Earth) e visitas a campo. Após a definição das classes de uso do solo, começamos o processo de vetorização de polígonos utilizando o software QUANTUM GIS Os principais critérios para delimitação das 216
3 classes foram cor, textura e forma. A mensuração da área referente a cada categoria de uso do solo foi realizada através da ferramenta geometria de colunas, do mesmo software. RESULTADOS E DISCUSSÕES: A área estudada no entorno do Parque Estadual Águas do Cuiabá (PEAC) possui uma área de , 98 ha. A análise da estrutura da paisagem mostrou que a área é dominada por classes de origem antrópica (61,53%), entre estas estão as áreas degradadas (30,94%), agricultura (17,11%) e pastagem (13,48%) (Tabela 1). Estudos com a mesma abordagem, como Nora, et al (2009) e Tambosi (2008), ambos estudando o uso do solo em ZA de UCs no Estado de São Paulo, encontraram uma estrutura da paisagem semelhante a do presente estudo, com predominância de áreas agrícolas em relação às áreas naturais. O padrão de uso e ocupação do solo encontrado nesse estudo, com predominância de áreas degradadas, pode ser atribuído ao histórico de ocupação dessa região, onde as áreas originalmente cobertas por vegetação típica do Cerrado foram substituídas por pastagens. Estas pastagens foram intensamente utilizadas por décadas e abandonadas depois da criação do PEAC. O conjunto de áreas degradadas do PEAC é heterogênea, pois inclui pastagens abandonadas em diferentes graus de regeneração. Segundo Guariguata e Dupuy (1997), a velocidade de regeneração florestal depende da intensidade da perturbação sofrida, da presença do banco de sementes (Araujo et al., 2004) e da qualidade do solo (Ferreira et al., 2007). Devido a sua intensa atividade de pastoreio, a maioria das áreas da área de influencia da PEAC não possui capacidade de auto- regeneração, necessitando de um programa de recuperação ambiental. Figura 2 Mapa de uso do solo da área de influencia direta do Parque Estadual Águas do Cuiabá. O fato da PEAC estar inserida nos limites de outras UC, a APA Cabeceiras do Cuiabá, uma UC de uso sustentável, pode se tornar um fator complicador para o manejo do PEAC devido a possibilidade da presença de pequenas propriedades, que podem utilizar de técnicas de manejo incompatíveis com uma área de proteção, como uso de biocidas, fertilizantes e pastagens exóticas. Considerando isso, o plano de manejo da APA Cabeceiras do Cuiabá deve dar um tratamento diferenciado para a área de sobreposição com o PEAC, uma vez que esta é uma UC de proteção integral e não admite a presença de pequenas propriedades rurais. As áreas agrícolas de soja e milho 217
4 ficam praticamente restritas a porção norte da área de influencia do PEAC (Figura 1). Esse uso do solo é totalmente incompatível com uma área de Zona de Amortecimento porque esse tipo de cultura utiliza grande quantidade de insumos e defensivos que podem afetar a qualidade da água e a biodiversidade no interior do PEAC. As áreas de pastagem representam 13,48% e estas estão localizadas em sua maior parte na porção sul do PEAC (Figura 2). Essas áreas utilizam basicamente pastagens exóticas como Braquiária (Brachiaria sp), Brizantão (Brachiaria brizanta) e derruba- velho (Cynodon sp.) localizadas próximas a unidade de conservação. Isso pode ocasionar problemas ambientais como a invasão de plantas exóticas mediante o carreamento de sementes por agentes ativos ou passivos (BEGON, 2006). Esse processo é reconhecido como invasão biológica, fato que pode também levar a consideráveis perdas de biodiversidade nativa (PETENON, 2006). O entorno do PEAC apresentou (38,47%) de sua área compostas por unidades de paisagem naturais, incluindo mata (15, 58%), cerrado (12, 03%) e vegetação de encosta (10,83%). As áreas de mata estiveram homogeneamente distribuídas ao longo da paisagem, recobrindo principalmente os rios Cuiabá, Cuiabá do Bonito, Cuiabá da Larga e os seus principais afluentes. As áreas de encosta ocorreram em duas faixas contínuas que cruzam toda área de estudo. A maior ao norte, limita a distribuição das áreas agrícolas, com outra menor, no extremo sul. De acordo com Metzger (2010), faixas contínuas de vegetação, também conhecidos como corredores ripários, são elementos que facilitam o fluxo de organismos ao longo da paisagem e, em áreas intensamente desmatadas, podem ter papel capital, pois interligam espacialmente os remanescentes de vegetação nativa promovendo a conectividade da paisagem. Nesse estudo consideramos que a vegetação ripária e as encostas são os principais elementos de conexão da paisagem, uma vez que são os únicos remanescentes nativos que cruzam o entorno do PEAC. As áreas de cerrado ficaram concentradas na porção norte da área de estudo, localizados no interior da Terra Indígena Santana, uma vez que na porção sul tais áreas foram quase que totalmente convertidas em pastagens. Desta forma, consideramos que a sobreposição entre da área de influencia direta do PEAC e a Terra Indígena é de fundamental importância para a manutenção dos remanescentes de cerrado na área, pois apresenta uso controlado, evitando assim a conversão dos remanescentes florestais em outras formas de uso do solo como agricultura e pecuária. Tabela 1 Estrutura da paisagem da área de influencia direta do Parque Estadual Águas do Cuiabá. CONCLUSÕES Classes Km 2 Hectares % Áreas degradadas , ,66 30,95 Agricultura , ,31 17,12 Mata , ,64 15,58 Pastagem , ,88 13,48 Cerrado 92673, ,34 12,04 Encosta 83391, ,15 10,83 Total , , O uso do solo no entorno do PEAC apresenta incompatibilidades com conceito e objetivos de uma zona de amortecimento. 2 - A sobreposição do PEAC com a APA Cabeceiras do Cuiabá pode ser considerada um risco a conservação da PEAC, caso o zoneamento do plano de manejo da APA não restrinja o uso do solo 218
5 nessa área. A Terra Indígena Santana é de fundamental importância para a proteção da PEAC uma vez que contem o maior fragmento de Cerrado da região. 3 - A presença de pastagem exóticas na área de influencia direta do PEAC representa um risco a biodiversidade de plantas da UC e não é um uso apropriado para uma zona de amortecimento. 4 - Para que os objetivos da criação do PEAC se cumpram é necessária à elaboração do um plano de manejo que delimite a zona de amortecimento com normas para o uso restrinjam os usos inadequados, além de recuperação das áreas degradadas e implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade. REFERÊNCIAS ARAUJO, M. M.; LONGHI, S. J.; BARROS, P. L. C. D.; BRENA, D. A. Caracterização da chuva de sementes do solo e banco de plântulas em floresta estacional decidual ripária Cachoeira do Sul, RS, Brasil. Scientia Forestalis, Piracicaba, n. 66, p , BEGON, M.; TOWNSEND, C. R.; HARPER, J. L.; Ecology: from individuals to ecosystems. Oxford. Blackwell Blishing, BRASIL. RESOLUÇÃO CONAMA nº 13, de 6 de dezembro de Dispõe sobre normas referentes às atividades desenvolvidas no entorno das Unidades de Conservação. Diário Oficial, DF, 06 Jun Seção 1, p.4. BRASIL. Decreto nº , de 06 de junho de Regulamenta a Lei nº 6.902, de 27 de abril de 1981, e a Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que dispõem, respectivamente sobre a criação de Estações Ecológicas e Áreas de Proteção Ambiental e sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, e dá outras providências. Diário Oficial, DF, 06 Jun Seção 1, p.8. FERREIRA, O. G. L.; SIEWERDT, L.; MEDEIROS, R. B. D.; LEVIEN, R.; FAVRETOS, R.; PEDROSOS, C. E. S. Atributos químicos do solo e regeneração de espécies espontâneas originárias do banco de sementes em campo nativo sob diferentes sistemas de cultivo. R. Bras. Agrociência, Pelotas, v. 13, n. 1, p , GUARIGUATA, M. R.; DUPUY, J. M. Forest regeneration in abandoned logging roads in lowland Costa Rica. Biotropica, Washington, v. 29, n. 1, p , MARTINS, S. V. Recuperação de matas ciliares. 2. ed. Viçosa: Aprenda Fácil, p. METZGER, J. P. Código Florestal tem base científica? Conservação e Natureza, São Paulo, v. 8, n. 1, p , MILLER, K.R. Evolução do Conceito de Αreas de Proteção Oportunidades para o século XXI. In: I Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação, Curitiba, Anais... UNILIVRE v. 1, p NORA,E. L. D. N; SANTOS, J. E; MOREIRA, A. M.; SANTOS, C. A. (2009). Caracterização ambiental dos usos e ocupação da terra em zonas de amortecimento de uma área natural legalmente protegida. Estudo de caso: Estação Ecológica de Itirapina. Anais do XIV Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Natal, Brasil, INPE, PETENON, D. 1. sementes em um fragmento Plantas invasoras nos trópicos: esperando a atenção mundial?2. Abundância de sementes da palmeira Arconthophelix cf. cumminghamiana na chuva de florestal em São Paulo, SP. São Paulo. 118 f. Dissertação de mestrado. USP Mestrado em Ciências Ecologia de ecossistemas terrestres e aquáticos, São Paulo SILVA, D. E. Formação territorial, urbanização e modernização agrária, num panorama sobre Mato Grosso. In: Encontro Nacional De Grupos De Pesquisa Engrup, 4., São Paulo, Resumos...São Paulo: editora, p SHIDA, C. N. & PIVELLO, V. R. (2002). Caracterização fisiográfica e de uso das terras na região de Luiz Antônio e Santa Rita do Passa Quatro, SP, com uso de sensoriamento remoto e SIG. Investigações Geográficas, Boletim del Instituto de Geografia 49: TOMBOSI, L. R. Análise da paisagem no entorno de três unidades de conservação: subsídios para a criação da zona de amortecimento. 86 f. Dissertação de mestrado. USP- Mestrado em Ciências Ecologia de ecossistemas terrestres e aquáticos, São Paulo ZEILHOFER, P., LIMA, E. R., LIMA, G. A. 2006: Spatial patterns of water quality in the Cuiabá River Basin, Central Brazil. Environ. Monit. Assess. 123,
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