A Novidade em Revisão: Pós modernismo e a Questão da Identidade
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- Geovane Eric de Mendonça Estrela
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1 Sabes realmente quem és? Pode alguém saber? Uma das mais fascinantes estórias na história cultural contemporânea é a forma como as condições sociais do mundo moderno (e pós moderno) e a filosofia pós moderna conspiraram para desestabilizar o nosso sentido do eu. Temos nós, como cristãos, uma solução? Temos nós uma perspectiva que responda às preocupações legítimas destes pensadores pós modernos, enquanto, simultaneamente, desafiamos a sua descrença? Eu creio que os cristãos estão posicionados de uma forma singular para fornecerem os tipos de respostas que os desenraízados pós modernos procuram...se conseguirmos articular estas respostas numa linguagem que possam compreender. Neste workshop faremos 3 coisas: Vou fazer uma revisão da breve história do eu desde o eu moderno estável até ao eu pós- moderno, fragmentado e em mutação. Pelo caminho, prestaremos especial atenção à forma como certos pensadores pós-modernos (como Lacan, Foucault e Ricoeur) vêem o eu como uma construção linguística. Vou apresentar uma resposta apologética a esses pensadores pós-modernos, notando os insights e problemas inerentes às suas perspectivas. Finalmente, vou apresentar um breve entendimento de identidade a partir de uma perspectiva bíblica, a forma como o Cristianismo vê o eu tanto como um dado estável como um projecto em curso. A Novidade em Revisão: Pós modernismo e a Questão da Identidade No mundo de hoje, a identidade não é mais algo que é dado, mas uma questão em aberto. Este sentido de desenraizamento e instabilidade é devido a um número de factores: filosofias pós modernas, e as condições da modernidade tardia e pós modernidade. Temos de ser capazes de dar uma resposta persuasiva à questão da identidade de uma perspectiva cristã. I. Uma Breve, Breve História da Identidade no Ocidente (Pós)Moderno Uma nota relativamente aos termos: -ismo = ideologia/filosofia (e.g. modernismo, Marxismo) -idade = condições sociais (e.g. pós-modernidade) -ização = transições sociais (e.g. secularização)
2 O eu estável do modernismo Cogito Ergo Sum A corrosão da identidade da Modernidade Especialmente associada com a Revolução Industrial. 1. A urbanização minou a comunidade tradicional, na qual a identidade se formou. A comunidade foi substituída por conjuntos fluídos de relacionamentos. 2. Mudanças nos padrões de trabalho resultaram numa mudança da estrutura familiar, uma separação entre o mundo privado (lar) e o público (trabalho). 3. Mudança dos valores públicos: no local de trabalho, a ética tradicional (uma fonte de identidade) foi substituída pelo valor da eficiência e da técnica. 4. O resultado destas mudanças (secularização) foi um esvaziar de sentido da vida pública (privatização). O sentido e a identidade (incluindo a religião) tornam-se agora uma actividade de lazer privada. 5. Actividades anteriormente seculares assumiram um carácter sagrado e formador de identidade. Entram em Cena os Mestres da Suspeição 1. Marx: Identidade (sentido de si mesmo) = quadrante socio económico (classe social) Não é a consciência dos homens que determina o seu ser, mas, pelo contrário, é o seu ser social que determina a sua consciência. (De Prefácio e Introdução a uma Crítica da Economia Política) 2. Freud: a Identidade não é estável ou racional, mas uma tensão sempre em conflito entre o id e o ego, a mente subconsciente e a consciente. 3. Nietzsche: Não existe Verdade, apenas interpretações da verdade. Pode mostrar-se pela genealogia que o eu ético é uma construção histórica. O eu é um desejo de poder Dionísico. 4. Os Mestres da Suspeição: descentraram a identidade e forneceram um fundamento crítico sobre o qual os os pensadores pós modernos construíram e refinaram. A Modernidade evolui para a pós-modernidade Consoante a modernidade evoluía para a pós-modernidade, a noção de identidade tornou-se ainda mais instável, cadavez mais uma pergunta sem uma resposta definida. De acordo com David Lyon, a condição social pós moderna é dominada por duas realidades:
3 1. A ascensão das novas tecnologias dos media. Estas novas mensagens dos media têm dois efeitos: a. Elas questionam e problematizam as autoridades tradicionais (como pode uma única perspectiva reclamar o estatuto de Verdade absoluta?). b. A mensagem proporciona estruturas para organizar, experienciar e dar um sentido de realidade (enquanto se esbate a linha entre o real e a imagem). Estas mensagens moldam a identidade, que não é agora vista como fixa, mas como fragmentada e fluída. 2. O domínio do consumismo na sociedade. Tendemos a definirmo-nos como consumidores mais do que como produtores (e.g. o ênfase na imagem). A nova identidade orientada para o consumidor tem dois aspectos: a. O eu plástico torna a identidade tão flexível quanto possível para experienciar tanto quanto possível, e b. O eu expressivo que busca autenticidade e consumação da narrativa individual. 3. A combinação destas duas dinâmicas resultam em que a identidade aparece como uma pergunta que não possui uma resposta final. Isto é tanto uma fonte de euforia (somos livres para construir o nosso eu) e ansiedade (realmente não sabemos quem somos no nível mais profundo). A Viragem Linguística Pós Moderna O eu torna-se uma construção da linguagem. 1. Estruturalismo (Saussure): a estrutura da linguagem (langue) precede o aquele que fala e media a realidade como um sistema fechado e oposicional. A nossa identidade é dada pela linguagem. 2. Pós-estruturalismo: questiona mesmo a estabilidade do sistema de linguagem, desestabilizando o sentido do eu. a. Foucault: a identidade é uma criatura de poder-conhecimento (a forma como os fluxos de poder criaram campos discursivos que constroem a identidade). O poder produz conhecimento...o poder e o conhecimento implicam-se directamente um ao outro...não há relação de poder sem a constituição correlativa de um campo de conhecimento, nem conhecimento que não
4 pressuponha e constitua ao mesmo tempo relações de poder. Disciplina e punição, p.27. A Verdade não está fora do poder, ou em falta dele: contrariamente a um mito, cuja história e funções justificariam um estudo mais aprofundado, a verdade não é a recompensa de espíritos livres, a filha de uma solidão prolongada, nem o provilégio daqueles que foram bem sucedidos em se libertarem a si próprios. A verdade é algo deste mundo: é produzida apenas por virtude de múltiplas formas de constrangimento. E induz efeitos regulares de poder. Cada sociedade tem o seu regime de verdade, as suas políticas gerais de verdade: isto é, os tipos de discurso que aceita e faz funcionar como verdade; os mecanismos e instâncias que tornam alguém capaz de distinguir declarações verdadeiras e falsas, os meios pelos quais cada uma delas é sancionada; o valor reconhecido das técnicas e procedimentos empregues na aquisição da verdade; o estatuto dos que estão encarregados de dizer o que conta como verdade. Poder/Verdade, p.131 b. Lacan: o eu, vulnerável de nascimento, forma a identidade ao identificar-se com imagens, numa busca condenada à partida por um sentido de eu unificado e estável. c. Ricoeur: o eu é essencialmente uma ficção através da qual entendemos as nossas vidas como estórias coerentes ( identidade narrativa ). Nós somos as estórias dentro das quais habitamos e que contamos a nós mesmos. II. Uma Resposta Apologética A. É insuficiente simplesmente condenar devemos envolver-nos com as posições acima, notando os insights e os erros: 1. Insight: a identidade não é estática. Eles temem uma falsa autonomia (modernista). 2. Erro: a. De onde escolhemos ou resistimos ao que a cultura nos dá? b. A identidade é uma criatividade monológica e substitui a autonomia modernista com uma bem mais radical
5 III. Um Entendimento Bíblico do Eu como Dado e como um Projecto em Curso A. Identidade de criatura: ser criado à imagem de Deus é uma dinâmica relacional. Como criaturas singularmente responsivas ao outro, a nossa identidade é simultaneamente dada na imagem e um projecto relacional em curso B. Identidade caída: sob o pecado, essas relações fragmentam e distorcem o nosso projecto. C. Identidade redimida/redentora: mas Deus cura substancialmente essa fragmentação e dá-nos uma nova identidade que é tanto: 1. Estável/dada, à luz dos factos imutáveis da cruz e ressurreição, e da nossa adopção por Deus. 2. Um projecto em anadamento consoante eu tento trazer a presença restauradora do Reino à vida dos que me rodeiam. Conclusão Desta forma, o entendimento cristão da identidade está singularmente equipado para oferecer uma resposta que desafia os que se encontram envolvidos pelo pósmodernismo e viciados no seu fluxo. A identidade que apresenta não é nem ingénua nem soberana, mas uma contribuição restauradora e realista para o desenraizamento e isolamento da pós-modernidade. Fontes Dreyfus, Herbert L. and Paul Rabinow. Michel Foucault: Beyond Structuralism and Hermeneutics, 2nd ed. With an Afterword and an Interview with Michel Foucault. Chicago: University of Chicago Press, Foucault, Michel. Power/Knowledge: Selected Interviews and Other Writings Ed. Colin Gordon. Trans. Colin Gordon, Leo Marshall, John Mepham, Kate Soper. New York: Pantheon Books, The History of Sexuality, vol. 1. New York: Vintage, Freud, Sigmund. The Basic Writings of Sigmund Freud. Ed. and trans. A. A. Brill. New York: Modern Library, Lacan, Jacques. Ecrits: A Selection. Trans. Alan Sheridan. London: Tavistock, 1977.
6 Lyon, David. The Steeple s Shadow: On the Myths and Realities of Secularization. Grand Rapids, MI: Eerdmans, Jesus in Disneyland: Religion in Postmodern Times.Cambridge, Polity Press, Marx, Karl. Early Writings. Trans. Rodney Livingstone and Gregor Benton. New York: Vintage, Nietzsche, Friedrich. The Philosophy of Nietzsche. New York: Modern Library, n.d. Ricoeur, Paul. A Ricoeur Reader: Reflection and Imagination. Ed. Mario J. Valdés. Toronto: University of Toronto Press, Oneself as Another. Trans. Kathleen Blamey. Chicago: University of Chicago Press, Rosenau, Pauline Marie. Post-Modernism and the Social Sciences: Insights, Inroads, and Intrusions. Princeton, NJ: Princeton University Press, Storey, John. An Introduction to Cultural Theory and Popular Culture,2d ed. Athens, GA: University of Georgia Press, Some good discussions of Lacan, Foucault and poststructuralism. European Leadership Forum used by kind permissionwww.euroleadership.org
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