BOAVENTURA NERIS DOS SANTOS

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL BOAVENTURA NERIS DOS SANTOS SEXUALIDADE E VIOLÊNCIA SEXUAL NA ADOLESCÊNCIA: uma discussão a partir da realidade dos socioeducandos da Fundação da Criança e do Adolescente do Pará - FUNCAP. Belém Dezembro 2008

2 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ INSTITUTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS FACULDADE DE SERVIÇO SOCIAL BOAVENTURA NERIS DOS SANTOS SEXUALIDADE E VIOLÊNCIA SEXUAL NA ADOLESCÊNCIA: uma discussão a partir da realidade dos socioeducandos da Fundação da Criança e do Adolescente do Pará - FUNCAP. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Serviço Social do Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Federal do Pará (UFPA), como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social, orientado pela Profª Drª. Silvia Stockinger. Belém Pará 2008

3 BOAVENTURA NERIS DOS SANTOS SEXUALIDADE E VIOLÊNCIA SEXUAL NA ADOLESCÊNCIA: uma discussão a partir da realidade dos socioeducandos da Fundação da Criança e do Adolescente do Pará - FUNCAP. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Serviço Social do Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas da Universidade Federal do Pará (UFPA), como requisito para a obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social, orientado pela Profª Drª. Silvia Stockinger, submetido à Banca constituída pelos seguintes docentes: Data da apresentação: / / Banca examinadora: Profª. Orientadora 1º Avaliador 2º Avaliador Belém Pa, aos dias do mês de Dezembro de 2008.

4 SANTOS, Boaventura Neris dos SEXUALIDADE E VIOLÊNCIA SEXUAL NA ADOLESCÊNCIA: uma discussão a partir da realidade dos socioeducandos da Fundação da Criança e do Adolescente do Pará - FUNCAP. - Belém: Nº 175 f. Orientadora: Profª Drª. Silvia Stockinger Trabalho de Conclusão de Curso. Universidade Federal do Pará, Instituto de Ciências Sociais e Aplicadas, Faculdade de Serviço Social. Bibliografia. 1. Adolescência Sexualidade; 2. Violência Sexual Medida Socioeducativa.

5 Aos meus amados pais Boaventura Soares e Maria Raimunda Neres, e meus queridos irmãos, que sempre me incentivaram e me apoiaram dando forças para que eu conquistasse mais essa vitória. Aos meus grandes amigos, em especial Dirceu Bibiano Duarte, pelo incentivo, apoio e por acreditar em mim, me fazendo acreditar também.

6 AGRADECIMENTOS A Deus Todo Poderoso, que me concedeu a vida e a inspiração necessária para chegar a o final deste trabalho; À minha orientadora, Profª. Drª. Silvia Stockinger, exemplo de luta e conquista, pelos ensinamentos; À Profª. Ms. Sandra Maria Fonseca da Silva da Faculdade de Serviço Social, coordenadora do Programa Infância e Adolescência PIA/GEPIA e à Socióloga, Ms. em Serviço Social, Maria Luiza Lamarão, coordenadora do TID/UFPA, pelas orientações que somaram significativamente para a realização deste; À Universidade Federal do Pará; Ariberto Venturini; À Faculdade de Serviço Social, representada pela pessoa do Prof. A todos os professores e professoras da Faculdade de Serviço Social que no decorrer do curso somaram para a minha formação; Aos meus colegas da graduação, que ao longo desta jornada me acompanharam e me ajudaram a cumprir conjuntamente este trajeto de dificuldades e lutas; Aos técnicos das Casas de Internação da Fundação da Criança e do Adolescente do Pará (FUNCAP), aos Conselheiros Tutelares (Conselho Tutelar I e V), a Delegada Socorro Maciel (DATA) e a Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SEJUDH), que foram imprescindíveis para a concretização deste. deste trabalho. Finalmente, a todos, que de alguma forma contribuíram para a realização

7 Nem toda melhora é sempre virtude; às vezes não passa de obra do tempo. O vigor selvagem do jovem impulsivo com os anos se muda em bom comportamento. E o que o tempo e a natureza fizeram, nosso orgulho considera uma melhora. (Christian Fürchtegott Gellert)

8 RESUMO Este trabalho busca aprofundar o conhecimento acerca da realidade que envolve a ocorrência de violência sexual entre socioeducandos na Fundação da Criança e do Adolescente do Pará - FUNCAP, enfatizando a necessidade de compreensão das situações e circunstâncias que favorecem ou contribuem para tal ocorrência, no interior das Unidades de Internação. Nesse sentido, discutem-se temas norteadores como a adolescência, sexualidade, direitos sexuais, medidas socioeducativas e violência sexual entre adolescentes, buscando, neste último, analisar sua ocorrência e notificação, suas causas e conseqüências, e as questões subjetivas inerentes ao estudo em questão. A metodologia de pesquisa, que assume natureza qualitativa, deu-se em duas frentes: através de uma revisão bibliográfica a fim de fundamentar os conceitos presentes no texto; em outro estágio foi feita uma pesquisa de campo, cujo principal instrumento foi a entrevista semi-estruturada, realizada com técnicos da FUNCAP, atores do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) e um jovem do Sistema Socioeducativo. O resultado da pesquisa está discorrido no texto, com ênfase nas falas que melhor contemplaram o objetivo deste trabalho. No final, procurou-se discutir a importância da identificação da ocorrência de violência sexual entre socioeducandos e sua notificação, bem como compreender essa realidade, buscando desenvolver meios de enfrentamento a essa situação, envolvendo todos FUNCAP, SGD, Sociedade civil - no fortalecimento de estratégias de prevenção aos casos de violação dos Direitos Humanos e dos Direitos Sexuais, ainda muito presente no Estado do Pará e no Brasil como um todo. Palavras-chave: Adolescência, sexualidade, violência sexual, Medida Socioeducativa.

9 ABSTRACT This work search s to deepen the knowledge concerning the reality that involves the occurrence of sexual violence between partner-educating in the Foundation of the Child and the Adolescent of Pará - FUNCAP, emphasizing the necessity of understanding of the situations and circumstances that favor or contribute for such occurrence, in the interior of the Units of Internment. In this direction, subjects are argued guiding as the sexual adolescence, sexuality, rights, partner-educative measures and sexual violence between adolescents, searching, in this last one, to analyze its subjective occurrence and notification, its causes and consequences, and inherent questions to the study in question. The research methodology, that assumes qualitative nature, was given in two fronts: through a bibliographical revision in order to base the concepts gifts on the text; in another period of training a field research was made, whose main instrument was the half-structuralized, carried through interview with technician of the FUNCAP, actors of the System of Guarantee of Right (SGD) and a young of the Partner-educative System. The result of the research is discoursed in the text, with emphasis in says them that better they had contemplated the objective of this work. In the end, it was looked to argue the importance of the identification of the occurrence of sexual violence between partner-educating and its notification, as well as understanding this reality, searching to develop ways of confrontation to this situation, being involved all - FUNCAP, SGD, civil Society - in the fortifying of strategies of prevention to the breaking cases them Right Human beings and Sexual Right them, still very present in the State it Pará and Brazil as a whole. Keywords: Adolescence, sexuality, sexual violence, Sartner-educative Measure.

10 SUMÁRIO RESUMO... 7 ABSTRACT... 8 LISTA DE TABELAS LISTA DE SIGLAS INTRODUÇÃO ADOLESCÊNCIA E SEXUALIDADE A(s) adolescência(s) A adolescência hoje A adolescência no contexto da violência Sexualidade Sexualidade na adolescência VIOLÊNCIA SEXUAL: sem prazer e sem liberdade Violência Sexual e Direitos Sexuais Violência Sexual na Adolescência Violência Sexual contra meninos adolescentes Violência Sexual Institucional A REALIDADE QUE ENVOLVE A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO NA FUNCAP As Medidas Socioeducativas e a FUNCAP O adolescente que cumpre medida socioeducativa de internação na FUNCAP A Violência Sexual entre socioeducandos na FUNCAP Da ocorrência à notificação Das causas e conseqüências

11 3.2.3 Das questões subjetivas aos relatos dos adolescentes Das observações pertinentes CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS ANEXOS Anexo A - Projeto de Pesquisa Anexo B - Ofícios Anexo C - Roteiros de Entrevistas Anexo D Quadros Demonstrativos dos Resultados das Entrevistas

12 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Número de adolescentes segundo medida aplicada, raça/cor e sexo Tabela 2 - Adolescentes com deficiência Tabela 3 - Quanto à idade dos adolescentes Tabela 4 - Quanto à renda familiar per capita dos adolescentes Tabela 5 - Quanto à escolaridade dos adolescentes Tabela 6 - Adolescentes que estavam freqüentando a escola antes da medida socioeducativa Tabela 7 - Quanto à situação ocupacional dos adolescentes antes da medida socioeducativa Tabela 8 - Quanto ao uso de drogas antes da medida socioeducativa Tabela 9 - Quanto ao motivo (atos infracionais) para a aplicação da medida socioeducativa ou internação provisória dos adolescentes internos Tabela 10 - Atos infracionais ocorridos dentro das unidades da funcap nos últimos seis meses Tabela 11 - Adolescentes que sofrem/sofreram ameaça de morte nos últimos seis meses Tabela 12 - Adolescentes que morreram durante o cumprimento da medida socioeducativa nos últimos seis meses Tabela 13 - Adolescentes que hoje estão nas unidades da funcap, estavam cumprindo medida Tabela 14 - Adolescentes que viviam com familiares na época em que praticaram o ato infracional Tabela 15 - Situação incidência dos adolescentes na internação Tabela 16 - Número de adolescentes com filhos (natural ou não)

13 LISTA DE SIGLAS AIDS Síndrome da Imunodeficiência Adquirida. AMS - Associação Mundial de Sexologia. CESEM - Centro Socioeducativo Masculino. CF - Constituição Federal. CIAB - Centro de Internação Almirante Barroso. CIJAM - Centro de Internação Jovem-Adulto Masculino. CJM - Centro Juvenil Masculino. CMOC - Currículo Mínimo Obrigatório para a Cidadania. CSET - Centro Socioeducativo Telegrafo. CT Conselho Tutelar. CVDC - Centro socioeducativo de Val-de-Cans. DATA - Divisão de Atendimento Integrado ao Adolescente. DUDH Declaração Universal dos Direitos Humanos. DH - Direitos Humanos. DST - Doenças Sexualmente Transmissíveis. EAPI - Espaço de Acolhimento Provisório Infantil. ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente. FEBEM - Fundação Estadual do Bem Estar do Menor. FUNCAP Fundação da Criança e do Adolescente do Pará. FUNDAC - Fundação da Criança e do Adolescente. HIV Vírus da Imunodeficiência. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. IML Instituto Médico Legal. LA Liberdade Assistida. MP Ministério Público. MSE - Medida Socioeducativa. NCCAN - Centro Contra o Abuso e a Negligência para com a Criança. OMS - Organização Mundial da Saúde. ONG Organização Não Governamental. PIA Plano Individual de Atendimento. PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.

14 PSC Prestação de Serviço à Comunidade. SEDES - Secretaria de Estado de Assistência e Desenvolvimento Social. SEEPS - Secretaria Especial de Proteção Social. SEJUDH - Secretaria Estadual de Justiça Social e Direitos Humanos. SIECUS - Guia da Organização de Educação Sexual Americano. SINASE Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo. SGD - Sistema de Garantia de Direitos. SSE - Sistema Socioeducativo. UEA - Estados Unidos da América. UMSE - Unidades de Medida Socioeducativa. UNICEF - Fundo das Nações Unidas para a Infância. WAS World Association for sexology.

15 INTRODUÇÃO Este trabalho trata da realidade que envolve a situação de violência sexual entre adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internação na FUNCAP. Para tanto, procurou-se fundamentar de forma consistente as variáveis contidas no tema; investigar a procedência e notificação dos casos de violência sexual entre socioeducandos na Fundação; verificar de que forma a (não) aplicabilidade da Medida Socioeducativa de Internação de forma satisfatória contribui para a ocorrência de violência sexual entre os adolescentes; além de averiguar qual o entendimento dos socioeducandos e socioeducadores, acerca dos direitos sexuais e da violência sexual, na ótica do sistema socioeducativo. O interesse pelo estudo surgiu a partir do desenvolvimento de um projeto de pesquisa, a nível acadêmico, na disciplina pesquisa em Serviço Social II, ministrada pela professora Drª. Silvia Stockinger no ano de 2007, o qual se titulava: A VIOLÊNCIA SEXUAL ENTRE SOCIOEDUCANDOS NA FUNDAÇÃO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE DO PARÁ - FUNCAP: do agravamento a ausência de atenção e a ineficiência institucional. O mesmo fora desenvolvido na Unidade de Medida Socioeducativa de Internação de Val-de-Cans e teve como proposta, verificar de que forma a ausência de atenção e discussão com relação à violência sexual entre socioeducandos na FUNCAP, constituía-se como agravante para essa realidade. Tal experiência proporcionou um leque de conhecimentos e questionamentos que posteriormente trouxeram reflexões sobre o grau de importância de aprofundar e ampliar a discussão sobre alguns conceitos, tais como: violência sexual, sexualidade e direitos sexuais na perspectiva dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa de internação. Entretanto, o que poucas pessoas sabem, é que a violência sexual também se faz presente no interior do Sistema Socioeducativo e precisa ser estudada para que todos - família, sociedade e Estado - possam assumir suas responsabilidades de absoluta prioridade a efetivação da garantia dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, como prevê o próprio Estatuto da Criança e do Adolescente.

16 O estudo aqui apresentado tem como pressuposto metodológico, a pesquisa bibliográfica e a pesquisa empírica, numa abordagem qualitativa envolvendo a obtenção de dados descritivos, coletados no contato direto do pesquisador com a situação estudada, se preocupando em retratar a perspectiva dos participantes, conforme apontam Ludke e André (1986). Nessa perspectiva, a metodologia de pesquisa deu-se em duas frentes: através de uma revisão bibliográfica sobre a adolescência, sexualidade, direitos sexuais, medidas socioeducativas e violência sexual e institucional entre adolescentes, onde, conforme Minayo (1994), essa pesquisa bibliográfica deve ser disciplinada, crítica, e ampla, dando conta do estado do conhecimento atual sobre o problema; em outro estágio fez-se uma pesquisa de campo, cujo principal instrumento foi a entrevista semi-estruturada, que na visão de Ludke e André (1986), assume caráter flexível permitindo que o entrevistador faça as necessárias adaptações, realizada com seis profissionais (técnicas) de Unidades de Internação da FUNCAP, e quatro profissionais do Sistema de Garantia de Direitos (SGD) Conselho Tutelar I e V, DATA e SEJUDH - no período de Setembro a Novembro de 2008, em Belém-Pará, buscando identificar o entendimento dos profissionais em questão, acerca dos Direitos Sexuais e da ocorrência e notificação de violência sexual na FUNCAP; realizou-se, ainda, uma breve entrevista com um jovem do Sistema Socioeducativo, com 18 (dezoito) anos de idade, no mesmo período, em Belém-Pará, a fim de fazer um paralelo entre as questões subjetivas apresentadas pelo mesmo e a realidade relatada pelos profissionais. Após a coleta do material necessário à pesquisa, fez-se a organização e a análise dos dados seguindo a proposta de Minayo (1994), que apresenta três passos para sua organização, que são: ordenação dos dados, classificação dos dados e analise final. O trabalho está dividido em três capítulos, os quais englobam várias questões sobre a Adolescência, Sexualidade, Direitos Sexuais, Violência Sexual e Medida Socioeducativa. O primeiro capítulo trata da conceituação de Adolescência e Sexualidade, no qual se abordam teorias sobre a adolescência hoje, o adolescente e a família, a adolescência no contexto da violência e a sexualidade na adolescência. O segundo capítulo apresenta a conceituação de Violência Sexual e Direitos Sexuais, dando ênfase à violência sexual na adolescência, a violência

17 sexual contra meninos adolescentes e a violência sexual institucional, a qual ocorre no interior de instituições, que neste caso deveriam garantir direitos. O terceiro capítulo aborda a realidade que envolve a Medida Socioeducativa de Internação na FUNCAP, no qual se retrata as medidas socioeducativas, sua aplicação no Estado e as características do adolescente que cumpre Medida Socioeducativa de Internação, assim como, a violência sexual entre socioeducandos, enfatizando sua ocorrência e notificação, suas causas e conseqüências, as questões subjetivas aos relatos dos adolescentes, além de discorrer as observações pertinentes ao estudo. Nesse capítulo registram-se resultados da pesquisa empírica a fim de subsidiar o trabalho. Nas considerações finais, procurou-se discutir a importância da identificação das ocorrências de violência sexual entre socioeducandos e sua notificação, bem como reforçar a necessidade de compreensão dessa realidade, para que se possam desenvolver estratégias de enfrentamento às situações de violação, envolvendo todos FUNCAP, SGD e Sociedade civil - no fortalecimento de estratégias de prevenção aos casos de violação dos Direitos Humanos e dos Direitos Sexuais, presentes nessa instituição.

18 1 ADOLESCÊNCIA E SEXUALIDADE 1.1 A(s) adolescência(s) Dividir a vida humana em várias fases como infância, adolescência, idade adulta e velhice, pode de início, parecer logicamente tudo muito natural. Isso porque, essa divisão deixa a impressão de ser um dado da natureza previamente definido sem influências exteriores, tendo claramente como base, o crescimento, atravessado pela infância até chegar à plena maturidade na idade adulta, que termina ao atingir a velhice, de acordo com um curso que só a natureza estabelece 1. No entanto, em tudo isso quase sempre, cai no esquecimento que os fatores sociais, culturais, políticos e econômicos, desempenham um papel imprescindível na construção e desenvolvimento de cada uma dessas fases da vida. Há cerca de 30 anos atrás, o sociólogo francês Philippe Áries mostrou que, como conceito restritivo e como uma forma de vida real, a infância só passou a existir a partir do Renascimento 2. Também a medicina, só no final do século XIX tomou conhecimento de que a criança não era simplesmente um pequeno homem, mas que apresenta uma fisiologia própria e características peculiares dessa fase da vida. Além do mais, com o aumento da expectativa de vida, as condições de existência se modificaram sensivelmente entre os idosos, mas, as maiores mudanças partiram à medida que a organização da família se modificou, destacando o início da diferenciação entre criança e adolescente. Essa emancipação do adolescente da faze da infância, se aplica de maneira especial ao período em que se desenvolve a maturidade, a puberdade e a 1 Para uma melhor compreensão, entende-se por infância, o período compreendido entre 0 (zero) e 12 (doze) anos de idade; a adolescência, o período entre 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade. (Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA, 2005); sendo a idade adulta, o período de vida relativo, após a adolescência e juventude (12 a 21 anos de idade), período este em que o indivíduo já atingiu o seu completo desenvolvimento. (BUARQUE, 2001); e a velhice, o período de vida a partir dos 60 (sessenta) anos de idade. (Estatuto do Idoso, 2003). 2 Renascimento é o nome que se dá a um grande movimento de mudanças culturais, que atingiu as camadas urbanas da Europa Ocidental entre os séculos XIV e XVI, caracterizado pela retomada dos valores da cultura greco-romana, ou seja, da cultura clássica. Esse momento é considerado como um importante período de transição envolvendo as estruturas feudo capitalistas. (saiba mais em:

19 adolescência propriamente dita 3. Assim sendo, durante muito tempo, procurou-se fundamentar essas novas características da adolescência, antes de tudo nas alterações biológicas, principalmente, as do inicio do desenvolvimento sexual. Nesse sentido, entende-se que a adolescência, é um período da vida que merece especial atenção, pois esta transição entre a infância e a idade adulta pode resultar ou não em problemas futuros para um satisfatório desenvolvimento do individuo. Nesse contexto, faz-se necessário compreender o que vem a ser a adolescência, sua etimologia, origem, evolução e representação no decorrer da historia e das civilizações, para que se possa entender a mesma, enquanto um período de desenvolvimento repleto de transformações biopsicossociais e culturais. Assim, a origem do nome adolescência vem do latim, sendo formado por duas palavras, ad (para) e olescere (crescer) para crescer, dando uma idéia de transitoriedade. A palavra adolescente, também tem sua ascendência no latim adolescere que significa fazer-se homem / mulher ou crescer na maturidade (MUUSS, 1676), a qual só passou a ser vista como uma etapa distinta do desenvolvimento, a partir do final do século XIX. Mais recentemente, entende-se que a adolescência caracteriza-se como uma fase que ocorre entre a infância e a idade adulta, na qual há muitas transformações, tanto físicas como psicológicas, que possibilitam o aparecimento de comportamentos irreverentes, assim como, o questionamento dos modelos e padrões infantis, que são necessários ao próprio crescimento. Contudo, de acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente ECA - a adolescência compreende o período de vida entre os 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade. Até o final do século XIX, a adolescência não era reconhecida socialmente pelos adultos como uma etapa do ciclo de vida. Antes dessa época, entendia-se que o indivíduo em desenvolvimento passava diretamente da infância à idade adulta, sem transitar por um estágio intermediário, ou por uma fase com características tidas como diferenciadoras e significativas no plano desenvolvimental. 3 Para Klosinski (2006), a puberdade está intimamente ligada à maturidade, uma vez que para ele, a puberdade é entendida como o período das modificações físicas da fase do amadurecimento, o qual não tem uma idade limite exata para seu fim, podendo se dizer que ele se situa mais ou menos ao fim dos 16 (dezesseis) ou inicio dos 17 (dezessete) anos.

20 Ao analisar a história, observa-se que apesar da adolescência não ser reconhecida como etapa do ciclo vital para alguns povos, tais como, os povos civilizatórios 4, ao contrario destes, os povos primitivos 5, empregavam grande significado ao advento da adolescência. Para as civilizações primitivas, a iniciação da puberdade era o acontecimento mais relevante da educação, revestindo-se quase sempre de um sentido religioso e de um caráter de formação intelectual e moral. A iniciação representava a recepção solene dos adolescentes na comunidade dos adultos. (SANTOS, 1966). Na antiga Pérsia, o advento da adolescência era assinalado com uma cerimônia, em que os jovens recebiam o cinto de virilidade e faziam um juramento de seguir a lei de Zoroastro 6 e servir ao Estado com fidelidade e heroísmo. Em Atenas, na antiga Grécia, ao completarem 18 (dezoito) anos, os adolescentes eram recebidos entre Efebos, mediante a sua inscrição no registro da comunidade. Dessa forma, torvam-se maiores de idade e aptos para o serviço militar, o qual durava dois anos. Prestavam então o juramento dos Efebos, este apresentava um caráter religioso, cívico e militar. Após o juramento eram apresentados ao povo no teatro, durante as festas Dionisíacas. Na Roma antiga, os jovens ao atingirem a adolescência, trocavam sua túnica que tinha uma franja colorida (túnica Toga Pretexta) por outra completamente branca (túnica Toga Virilis). Estudos demonstram que durante a Idade Média, também se empregou grande significação ao seguimento da adolescência. Em Roma, ao alcançar 14 (catorze) anos de idade, o jovem que, até então, havia servido a uma dama, como Projem ou Valete, na corte ou no castelo, tornava-se escudeiro. Depois, ao atingir 17 (dezessete) anos, partia para longe, a fim de realizar proezas brilhantes que o tornassem digno de receber a ordem da cavalaria. Aos 21 (vinte e um) anos, era ordenado cavaleiro se tivesse dado provas de seu brio, coragem e bravura. (SANTOS, 1966). 4 Situava-se em um período em que o homem continuava aprendendo a elaborar os produtos naturais, fazendo uso de novas técnicas; período da industrialização propriamente dita e da arte. (ENGELS, 1995). 5 Situava-se em um período em que surgiam as criações de animais e a agricultura; onde, ainda aprendia-se a incrementar a produção da natureza por meio do trabalho humano. (Idem). 6 Zoroastro, foi um profeta nascido na Pérsia (atual Irã), provavelmente em meados do século VII a.c. Ele foi o fundador do Masdeísmo ou Zoroastrismo, religião adotada oficialmente pelos Aquemênidas ( a.c). A denominação grega Ζωροάστρης significa contemplador de astros. Disponível em:

21 Nessa perspectiva, observa-se que a partir do Renascimento, a adolescência perde progressivamente, o seu prestígio social. Pelo menos, nenhuma sociedade assinalou o seu aparecimento; o que se leva a presumir, que a importância psicossocial e cultural da adolescência não seria reconhecida pelo mundo moderno. (Idem). A partir de investigações das sociedades primitivas, constata-se que a adolescência não é um fenômeno universal determinado biologicamente, já que o jovem, absorve as influências das instituições sociais e dos fatores culturais do seu meio, no processo de seu desenvolvimento. [...] É importante ressaltar que não existe adolescência e sim adolescências diferentes em contextos sócio-político-culturais distintos. [...] o próprio conceito de que a adolescência é um fenômeno universal é muito duvidoso, [...] isso porque, assim como [...] existem sociedades, por exemplo, que estipulam rituais de passagem que depois de cumpridos fornecem à pessoa todos os direitos e deveres de um indivíduo adulto; [...] em outras não. (HAZEU, 2004, p.17). Observa-se, portanto, que as primeiras teorias referentes ao estudo científico da adolescência, datam de 1904, com o trabalho pioneiro de Granvelle Stanley Hall, considerado o pai da psicologia da adolescência. Ele foi o primeiro psicólogo a destacar o período evolutivo da adolescência. Alguns autores como Muuss (1976) e Sprinthal e Collins (1994), referem que Hall, postulava que na adolescência o indivíduo passava por um novo nascimento, marcado por mudanças significativas, que culminavam numa nova personalidade, diferente da personalidade da infância. Segundo os autores, para Hall, essas mudanças eram conseqüências da maturação sexual, sendo, portando de origem biológica. Foi Hall quem identificou esse período de tempestade e tensão, caracterizado por anomalias de comportamento que se modificavam à medida que o indivíduo alcançava a maturidade sexual. Segundo Cabié e Gammer (1999), foi no século XIX, com as grandes transformações sócio-culturais, associados à Revolução Industrial que, começaram a surgir grandes alterações na definição das etapas da vida, em que a adolescência começa a ser considerada como um período importante no processo de

22 desenvolvimento do indivíduo, aonde o controle familiar sobre os adolescentes vai se prolongando até a idade do casamento. Posteriormente, entretanto, a adolescência passa a ser entendida, mas não valorizada. A adolescência é então um meio caminho (PEREIRA, 1991, p.147), podendo dizer-se que: durante séculos é a infância que é valorizada pala ordem mítico ritual [...] enquanto a adolescência é vista como não presente, ou como, simples momento de passagem. (Idem). A definição de adolescência é um pouco consensual e complexa, uma vez que, se é complexo precisar homogeneamente o seu inicio, mais difícil ainda, é identificar o seu final. Assim, pode-se dizer que seu início ronda os 11 (onze) para 12 (doze) anos de idade (ECA, 2005), e seu final estará concluído quando o adolescente tiver conseguido concretizar uma série de tarefas, que se expressam no plano intelectual, na socialização, na afetividade e na sexualidade. Dessa forma, pressupõe-se que quando o adolescente se sente suficientemente autônomo (num plano interno), face às figuras parentais, ele já terá elaborado o seu próprio espaço de identidade, adquirido um sistema de valores próprios e capacidade para manter relações estáveis e maduras com o outro. No entanto, o que outrora era tão complexo, na visão de alguns autores, passou a ser tão compreensível. Isso porque, Costa (1998), refere com freqüência, que a adolescência é iniciada com as transformações fisiológicas da puberdade, não deixando de ser condicionada por fatores de ordem social e cultural em interação com o seu desenvolvimento biológico, intelectual e emocional, permitindo ao indivíduo sua interação no mundo adulto. Por outro lado, a mesma termina, quando o adolescente atinge a maturidade social e emocional, e adquire a experiência, a habilidade, a vontade e as características necessárias para assumir o papel de adulto, de acordo com os padrões culturais do meio em que vive. Entretanto, enquanto que nas sociedades antigas estes dois fenômenos ocorriam mais ou menos simultaneamente, marcados por ritos de transição no limiar da puberdade; hoje em dia, a puberdade começa cada vez mais cedo e a idade adulta vai-se atingindo cada vez mais tarde, assistindo-se a um prolongamento da situação de dependência, em relação aos pais, devido a fatores de ordem social, educativa, pessoal e econômica. (SAMPAIO, 1997). Nesse contexto, não se pode deixar de entender a transitoriedade da adolescência como sendo:

23 [...] um período de tempo que envolve perdas e ganhos, que envolve a flutuação e o estabelecimento de novas maneiras de pertencer, e que envolve a aceitação de uma imagem do corpo em mudança, como resultado do início da puberdade. (ROBERTS, 1988, p.22). Assim, é geralmente aceito que a adolescência seja entendida, preferencialmente, como um processo e não como um período, que se caracteriza por muitas mudanças pessoais que são frequentemente intensas, quais sejam, as mudanças físicas, sociais, psicológicas e cognitivas. No entanto, apesar dessas várias modificações, a adolescência nem sempre foi vivida e sentida como um período da vida particularmente difícil. (ROBERTS, 1988). Outros autores como Amaral Dias e Nunes Vicente (1981), consideram a adolescência como sendo um período de espera (moratória) concedido ao adolescente, enquanto não se encontra com aptidão para satisfazer os compromissos de adulto. De igual modo, para Leal (2000, p.23): a adolescência é um período como tantos outros que, vistos ao longe com o distanciamento que os anos e os acontecimentos de vida posteriores permitem, não tem grandes histórias. Em uma perspectiva mais fisiológica, a Organização Mundial da Saúde OMS entende que a adolescência é definida como um período biopsicossocial, em que ocorrem modificações corporais e de adaptação a novas estruturas psicológicas e ambientais, que conduzem o individuo da infância a idade adulta. É um período em que ocorrem grandes modificações físicas, psicológicas e sociais que afetam o individuo. Para a OMS, é na adolescência que o individuo toma consciência das alterações que ocorrem no seu corpo, gerando um ciclo de desorganização e reorganização do sistema psicológico, diferente em cada sexo, com iguais complicações conflituosas inerentes a dificuldade de compreender a crise de identidade típica desse segmento etário. Compreender a adolescência, seu conceito e suas metamorfoses, não é uma tarefa muito simples, tendo em vista que a mesma, é um período do ciclo da vida que tem sofrido algumas alterações ao longo da história, quer relativamente à localização dos indivíduos no seio dos grupos, quer em relação as suas normas de conduta. Por sua vez, os fenômenos demográficos têm exercido algumas influências sobre o comportamento dos jovens, assim como, o processo de

24 conhecimento de algumas ciências como, a antropologia, a sociologia, a biologia e a psicologia, que têm contribuído para o estudo do adolescente integrado no seu meio sócio-cultural. Assim, a adolescência apresenta características especiais em função das épocas em que vive, do ambiente cultural, social e econômico; onde cada geração é sempre confrontada com os problemas sociais de sua época. (BRACONNIER e MARCELLI, 2000). Atualmente, alguns autores vêem o adolescente moderno como um ser de paradoxos, repleto de influências da mídia e dos grupos dos quais fazem parte, onde ele quer ser totalmente autônomo, mas ao mesmo tempo solicita os pais para todos os atos banais do quotidiano, enuncia verdades absolutas e ao mesmo tempo dúvida de si próprio; ele é extraordinariamente altruísta e, simultaneamente fantasticamente egoísta. Sendo a adolescência hoje, um período em que o indivíduo faz a experiência das contradições, do paradoxo e do sofrimento. (Idem) A adolescência hoje A adolescência é hoje conceituada, como o período situado entre a infância e a vida adulta, iniciada com os primeiros indícios físicos da maturidade sexual, e encerrada, com a realização social da situação de adulto independente. No mundo ocidental, a mesma corresponde, ao período compreendido entre os 12 (doze) e 18 (dezoito) anos de idade (Art. 2º do ECA); contudo, no que diz respeito às transformações fisiológicas, existem oscilações desse período etário, imposta palas diferenças entre os sexos, etnias, meios geográficos, condições socioeconômicas e culturais. O que leva a deduzir-se, que em um mesmo meio, encontram-se grandes variações de indivíduo para indivíduo, havendo puberdades muito precoces e outras muito tardias, onde, uma mesma pessoa em diferentes momentos tem diferentes ritmos de maturação. Hoje, para alguns autores, a adolescência é considerada um período em que os jovens, após momentos de maturação diversificados, constroem a sua identidade, os seus pontos de referência, escolhem o seu caminho profissional e o seu projeto de vida.

25 É importante observar que até o momento, as discussões aqui discorridas acerca da adolescência, fazem referência a um adolescente inserido em um contexto social, o qual caminha em direção da construção de um projeto de vida, a partir de seus pontos de referências. Assim, faz-se indubitavelmente necessário, o estabelecimento de uma breve discussão acerca da família e sua relação com a adolescência. Dessa forma, em linhas gerais, deve-se salientar que assim como o conceito de adolescência, o conceito de família também veio ao longo da história das civilizações, passando por diversas transformações decorrentes das influências sociais, políticas e principalmente econômicas. Na busca dessa compreensão, é importante mencionar como marco referencial, a Revolução Industrial 7 do século XIX, que modificou a estrutura familiar daquela época, deixando como herança para as estruturas familiares atuais, um novo modelo de família, ainda ancorado em referências européias. Esse marco referencial, também, deve-se ao fato de ser a partir da Revolução Industrial que se desenvolveram, um conjunto de mudanças econômico-sociais que refletiram diretamente na configuração da família atual. (SINGLY, 2007). Atualmente, a família pode ser percebida como um aspecto de maior destaque na vida de qualquer indivíduo, seja pela sua ausência ou pela sua presença. Autores de diversos ramos da ciência escrevem sobre a família, pois partem de uma visão em comum, de que a família é uma instituição provedora de forças que se manifestam no desenvolvimento do sujeito, através de controles proibitivos e ético-político. (OTTALAGANO, 1971 apud CIAMPONE). Portanto, pode-se apreender que a família é um conjunto de pessoas unidas por laços de consangüinidade, de afetividade ou de solidariedade, como núcleo de apoio primeiro das pessoas, e a convivência familiar como direito. (FÁVARO, 2004). Contudo, a família pode ser entendida, como um importante agente socializador da criança e do adolescente; entendendo-se assim, que as características das famílias têm influência direta nas características apresentadas pelas crianças e adolescentes. Nessa perspectiva, a mesma se situa em uma posição privilegiada na relação com os adolescentes: no contato, no afeto e no 7 A Revolução Industrial teve início na Grã-bretanha em meados do século XVIII e se expandiu para outras nações a partir do século XIX. (SINGLY, 2007).

26 respeito; aspectos estes que os adolescentes precisam desenvolver para a construção da perspectiva de valorização do outro, assim como, do fortalecimento da personalidade. Nesse contexto, para melhor apresentar a relação adolescente / família, Fávero (2004), expõe que a convivência familiar deve ser pensada como direito, num norte que implique na não individualização das expressões da questão social, evitando o risco de reedição de conceitos e ações que sacralizam a família modelo e moralizam aquelas que vivem em situação de pobreza; requerendo dentre outros, a recuperação do disposto no ECA e o seu confronto com dados da realidade social, os quais revelam as imensas e históricas desigualdades sociais presentes neste país. Para Carvalho (2000), a família é o primeiro sujeito que referencia e totaliza a proteção e a socialização dos indivíduos. Nessa perspectiva, conclui-se que os adolescentes vêm ao longo do tempo, acompanhando e ao mesmo tempo sendo influenciados, pelo dinâmico processo de construção e reconstrução da estrutura familiar. Partindo desse pressuposto, percebe-se que nem sempre a adolescência teve importância nas discussões sociais, no entanto, veio se destacando diante de transformações de características especificas. As mudanças partiram à medida que a organização da família se modificou, destacando o inicio da diferenciação entre criança e adolescente. Mais recentemente, por volta do século XIX e XX, o preparo para a vida adulta passou a ser constituído na adolescência, isso porque, a adolescência passou a ser entendida como: Idade de transição, onde o adolescente passa a ter consciência social objetiva, uma vez que nesse momento se desenvolve o pensamento em conceitos, pensamento que permite compreender as relações que se estabelecem entre os diferentes fenômenos e a realidade em geral. (VIGOTSK, 1996 apud ASSIS, 2002). Entretanto, observa-se que nas ultimas décadas, tornou-se uma praxe ou necessidade ao discutir-se a adolescência, discuta-se também a puberdade; a qual refere-se às modificações físicas da fase do amadurecimento, das mudanças que ocorrem no corpo e do amadurecimento sexual. (KLOSINSKI, 2006).

27 Klosinski (2006) revela haver uma distinção entre a pré-puberdade (primeira fase) e a puberdade propriamente dita (segunda fase). Onde a primeira, é entendida como sendo o período que decorre do primeiro aparecimento dos caracteres sexuais secundários 8 e o primeiro funcionamento dos órgãos sexuais, ou seja, a primeira menstruação (menarca) e a primeira polução, em outras palavras, a primeira ejaculação, e; a segunda é analisada como o período compreendido entre a primeira polução e/ou a primeira menstruação, e o momento em que é abandonada a tendência bissexual. Assim sendo, não existe uma idade limite exata para o fim da puberdade, podendo dizer-se que ela se situa mais ou menos no fim dos 16 (dezesseis) e inicio dos 17 (dezessete) anos de idade. Contemporaneamente, a adolescência caracteriza-se por uma crise de identidade, na qual se debatem entre questionamentos relativos ao seu corpo, aos valores existentes, as escolhas que devem ser feitas, as exigências feitas e o seu lugar na sociedade. No entanto, independentemente de classe social, os adolescentes apresentam características diferentes nas formas de verem o mundo, de reagirem e de expressarem sentimentos; mas não propriamente na sua essência ou na sua natureza pessoal. Esse segmento etário apresenta alguns aspectos de maior destaque, no que diz respeito a sua caracterização e a sua condição peculiar de desenvolvimento, tais como: a auto-estima fragilizada, os preconceitos, a dificuldade em expressar-se e de demonstrar sentimentos, o ataque como forma de defesa e a falta de perspectiva. Dessa forma, além das características típicas da adolescência, esta fase peculiar de transitoriedade, também se expressa por algumas necessidades básicas que segundo Garrison e Garrison (1975), são em número de seis:» as necessidades fisiológicas em que se destaca a atividade corporal e sexual;» as necessidades de segurança que se destaca pela procura cada vez menor pelo grupo familiar, em função de uma maior procura por outros grupos; 8 Nos meninos: mudança na voz; desenvolvimento corporal por aumento da massa muscular; aumento do tamanho do pênis e dos testículos; poluções noturnas; aparecimento da acne; aparecimento de pêlos nos órgãos genitais, axilas, etc. e maior secreção do hormônio testosterona. Nas meninas: maior produção do hormônio estrogênio e progesterona; alargamento dos quadris; maior acumulação de gordura no tecido adiposo; desenvolvimento dos seios e; menstruação. Disponível em:

28 » as necessidades de independência que se caracteriza pelo processo de amadurecimento e pelo grande desejo de independência;» as necessidades de pertença (de amor) que se destaca pelo isolamento e pela mobilidade da necessidade de amor e de carinho;» as necessidades de rendimento (motivação do rendimento) que se caracteriza pela tentativa de impressionar o outro sexo pelo que realiza e;» as necessidades de auto-realização e autodesenvolvimento as quais se caracterizam pelo desenvolvimento de um bom autoconceito. Nessa perspectiva, é importante ressaltar, que a adolescência também apresenta relações emocionais típicas dessa fase da vida, como por exemplo, a impulsividade e a instabilidade emocional, condicionadas pela percepção de novos sentimentos, mas que não manifestam ainda formas de expressão, nem pontos de referência adequados. (KLOSINSKI, 1979). Para Klosinski (1979), os adolescentes têm inclinação pelas novas experiências, pela experimentação e pelos riscos; querem passar por experiênciaslimites e por experiências em profundidade, as chamadas peak-experiences. Nisso, eles se deixam facilmente influenciar por membros do seu grupo, o que demonstra de certa forma o elevado consumo de drogas pelos jovens. Assim, a tendência à experimentação, ao vivenciar o que não é comum, o que nunca foi feito antes, equivale por vezes a uma auto-iniciação, como pode ocorrer, por exemplo, nos ferimentos auto-infligidos (como prova de coragem para adentrar ao grupo) ou nas tentativas de suicídio. Atualmente, os adolescentes vivem um período de organização pessoal e social que reflete em atitudes, geralmente de contestação e inquietação, durante o processo psicossocial de seu desenvolvimento. Assim, a adolescência segundo Becker (2003), diante da visão dos adultos (sistema ideológico dominante 9 ), é uma fase repleta de conflitos; uma vez que, o adolescente atravessa uma crise que se origina nas mudanças físicas, pessoais e familiares. Desse modo, se existe uma ciência da crise, uma crisologia. Ela tem que se ocupar, sobretudo, com a crise da puberdade e da adolescência. (FERNANDES, 1986 apud KLOSINSKI, 2006). Contudo, esse pensamento poderia deixar a impressão de ser um exagero, no entanto, nenhuma outra fase do desenvolvimento 9 Este representa um modelo de comportamento de visão de mundo que quando inserido no modelo de identificação escolhido demonstra que o adolescente alcançou a maturidade. (BECKER, 2003).

29 do individuo representa tão bem um ponto conflituoso no difícil caminho para o amadurecimento pessoal, quanto a adolescência e a puberdade, ou seja, a fase da provocação ou da teimosia. Partindo desse pressuposto, entende-se que a adolescência não deve ser vista apenas como uma fase transitória rica em conflitos, mas também, como um período repleto de potencialidades e criatividade; uma vez que, ao considerar-se o período que se estende do inicio da puberdade até a adolescência tardia (compreendida entre os 12 e 18 anos de idade), no que diz respeito ao potencial criativo dos jovens, pode-se verificar, que nessa fase da vida a criatividade artística mostra-se de diferentes maneiras, muitas vezes se manifestando passageiramente para em seguida voltar a desaparecer. (KLOSINSKI, 2006). [...] os adolescentes, sem duvida alguma vivem uma fase muito tempestuosa, criativa e rica de transformações [...] uma pessoa criativa é capaz de suportar por muito tempo a ausência de solução de um problema, sem que por isso desista de trabalhar afincadamente. (KLOSINSKI, 2006). Segundo Erik Ericson (1968), os adolescentes têm como principal tarefa a aquisição de uma identidade. Este processo se dá através de vários meios, sendo que, o mais importante deles é a escolha de um modelo de identificação. Nessa fase, há uma necessidade acrescente do adolescente de pertencer a um grupo, onde poderá encontrar certa uniformidade. Assim, a idéia principal está nas transformações dos valores dominantes (do grupo) em valores próprios (do indivíduo), adquiridos através de ideologias que indicam modos de viver, onde a apreensão deste entendimento o concede um lugar no meio social adulto, lugar este, de maturidade ideologicamente pensada; uma vez que, segundo Chauí (1984), a ideologia formula um único modo de vida socialmente possível estabelecido pelo poder. Essa necessidade de pertencimento a um grupo é expressa na maioria das vezes pela formação ou inserção do adolescente em grupos, os quais irão gradativamente, segundo Klosinski (2006), substituindo o papel da família. Esses grupos constituídos na adolescência são denominados de Grupos Coetâneos. Dessa forma:

30 O grupo de coetâneo pode ser visto como um terreno que favorece o desenvolvimento, e que passa a ser necessário para que o jovem possa se libertar das relações com as primeiras pessoas de referência, isto é, com o pai e a mãe. (KLOSINSKI, 2006, p.30). Nesse contexto, entende-se, portanto, que a adolescência é um período de contradição e de escolhas, entre um padrão posto pelo sistema dominante e a escolha consciente de sua vivência social. Assim, estes adolescentes definidos pelo ECA, concebidos como pessoas em desenvolvimento, sujeitos de direitos e deveres e destinatários de proteção integral (VOLPI, 2005), nem sempre fazem a escolha correta, ou pelo menos, não lhes são proporcionado os meios pelos quais, os mesmos possam fazer tal escolha, caindo na maioria das vezes na criminalidade e na infração, como forma de dar respostas a uma sociedade injusta e desigual, moldada em estruturas ideologicamente dominantes em função dos interesses do capital A adolescência no contexto da violência A inclinação para a violência e a criminalidade como expressão de comportamento agressivo, podem ser entendidos, como um estágio final do processo de transformação na adolescência. Essas modificações tratam-se, portanto, de um entrelaçado de causas, para o qual concorrem muitos pressupostos das mais diferentes espécies e ao qual se acrescentam fatores situacionais e contextuais. Assim, a sociedade hoje, se coloca diante de uma completa interação entre disposição para a violência condicionada pelo corpo e as influências tanto psíquicas, quanto sociais, que se condicionam mutuamente. (KLOSINSKI, 2006). No entanto, sabe-se que a criminalidade acompanha o homem desde sua origem, contudo, o crime vem tomando proporções, envolvendo diversas áreas e aspectos da vida social, ultrapassando a dimensão de um problema isolado, configurando-se e agregando-se a outros problemas, tornando o que se denomina de Questão Social; entendida por Iamamoto (2007), como a expressão do processo de produção e reprodução da vida social na sociedade burguesa, da totalidade

31 histórica e concreta que altera as relações cotidianas, deixando seqüelas na sociedade. De tal modo, segundo Yazbek (2001), a pobreza e exclusão social, são aspectos resultantes da Questão Social que permeia a vida das classes subalternas em nossa sociedade, e com as quais muitos profissionais defrontam-se cotidianamente em sua prática profissional. Nessa perspectiva entende-se que: A questão social diz respeito ao conjunto de expressões das desigualdades sociais engendradas na sociedade capitalista madura, impensáveis sem a intermediação do Estado, tendo sua gênese no caráter coletivo da produção, contraposto à produção privada da própria atividade humana (o trabalho), das condições necessárias a sua realização, assim como de seus frutos. [...] A questão social expressa, portanto, disparidades econômicas, políticas e culturais das classes sociais, mediatizadas por relações de gênero, características étnico-raciais e formações regionais. (IAMAMOTO, 2001). Partindo-se do pressuposto de que a violência não tem causa e fim, em si mesma, sendo influenciada por fatores situacionais e contextuais, torna-se fundamental a compreensão do que a vem ser a violência, para que posteriormente se possa entender, como ela influi no comportamento dos adolescentes, e quais suas formas de expressão na vivência dos mesmos. A violência existe na sociedade e vem impactando e transformando os rumos da infância e da adolescência, podendo se manifestar em diversos aspectos: cultural, sexual, religioso e social. Nesse primeiro momento destacar-se-á a violência social; sendo importante frisar que, em um segundo momento, a violência sexual também será pauta de discussão. Assim, destaca-se, portanto, a violência social que de acordo com Assis (2002), tem impacto nas instituições, como pro exemplo, na família e na escola. Desse modo, a violência está enraizada nas estruturas sociais, envolvendo assim, fatores políticos, culturais e econômicos. Estando também presente na consciência dos indivíduos, fazendo uma correlação entre as condições dadas e a subjetividade, sendo que esta subjetividade é quem determina a forma que se dará à compreensão de situações de violência, isso porque, a forma pelas quais os adolescentes apreendem, dão significado e elaboram suas vivências e experiências, influi diretamente na sua construção enquanto sujeito - cidadão na sociedade.

32 Segundo Minayo (1990), existem três tipos de violência, que podem ser classificadas como:» violência Estrutural que se origina no próprio sistema social, composto por desigualdades que refletem na vivência das pessoas através da fome, desemprego, discriminação, e entre outras características da sociedade de mercado;» violência Revolucionária a qual é expressa, por classes e grupos que vivem discriminados buscando efetivações de direitos; essa reação é vista como ato de insubordinação, no entanto, ela cria resistência a ideologias postas pela classe dominante, construindo assim, uma consciência crítica que almeja a transformação da estrutura social vigente e;» delinqüência que é considerada a maior representação da violência em contato com o senso comum. É aquela que se expressa por atos de transgressão da lei formal; ela geralmente é relacionada à condição de pobreza ou a questão de raça. Observa-se que a violência está intimamente atrelada à agressividade, a prontidão e a disposição do adolescente para cometer agressões. Assim, Elhardt (1974) apud Klosinski (2006), acredita na existência de três formas de agressão, que podem ser engendradas por adolescentes, como por exemplo: a agressão ativoespontânea, sem hostilidade subjetiva ( agressão boa ); a agressão reativodefensiva, com elementos de hostilidade (defesa contra o medo) e; a agressão ativodestrutiva, com hostilidade intencional e tendência a destruição. Contudo, o conceito de agressão é um tanto vago, isso porque sua denominação depende de interpretações subjetivas e de normas sociais. O conceito de violência, também passou por uma superação de limites, não existindo um conceito unificado de violência no direito penal, como também, não existem critérios que permitam estabelecer distinção entre ações sociais e violência que reuni poder, prepotência, opressão e abuso (KLOSINSKI, 2006). Entende-se, portanto, que a criminalidade está relacionada a diversos fatores, tais como, às desigualdades sociais e as altas concentrações de renda nas mãos de uma minoria privilegiada, que transforma a vivência das pessoas, alterando valores e percepções da vida social. (MINAYO, 1990). Nessa perspectiva, as definições de Minayo (1990) são ratificadas por Assis (2002), quando afirma, que os atos que provém de uma estrutura social capitalista baseada no mercado que configura uma vivência própria deste sistema,

33 podem ser denominados de violência social, e que esta, tem impacto nas diversas instituições sociais. Diversos estudos feitos, acerca das conseqüências da violência sobre os adolescentes de áreas urbanas demonstram que quanto maior for o envolvimento do adolescente em situações de risco e atos violentos, maior será a sua possibilidade de vir a desenvolver distúrbios psíquicos, físicos e sociais; ou seja, fica evidente, que as conseqüências da violência interferem no processo de sociabilidade da criança e do adolescente. Sendo importante frisar que: Um estudo realizado na Espanha mostrou, que os jovens que em maior ou menor grau aceitam ou justificam a violência, apresentam como argumento básico que eles também sofreram ou foram vitimas de violência. [...] Não se trata só da violência direta experimentada pessoalmente, mas também da violência estrutural, isto é, ligada às condições sociais. Observou-se que [...] 46% dos jovens interrogados, justificaram a sua inclinação à violência com o argumento de que na sociedade e na estrutura social, existe uma violência sistemática e generalizada voltada também contra os jovens. (KLOSINSKI, 2006). De forma sucinta, para Klosinski (2006), é possível constatar que a reação a situações externas de estímulo ou a sentimento corporal desagradável depende de três condições: de um habito individual (seja ele adquirido ou inato); da ausência ou presença de barreiras para o comportamento agressivo (que depende do estado de amadurecimento do cérebro e do amadurecimento psicossocial da pessoa), bem como; da capacidade de avaliar corretamente as possíveis conseqüências do comportamento intencionado. Além dos fatores subjetivos, também existem outros fatores determinantes para a agressividade dos adolescentes. Um deles é o relacionamento com os pais. De acordo com Assis (2002), quando há falhas nesses laços de afetividade, elas podem acarretar comportamentos diversos para o adolescente, dentre eles: ausência de culpa, desconfiança, dificuldade para criar vínculos, ausência de demonstração de afetividade, etc. Isso por que: Um contexto familiar agressivo aumenta a disposição para os comportamentos agressivos. Crianças que foram duramente castigadas ou maltratadas apresentam intensas fantasias de agressão. Por outro lado,

34 crianças criadas em regime não-autoritário (non frustration - chldren) têmse mostrado fortemente angustiadas, inseguras, irritáveis e reativamente agressivas. (MUSSEN et al., 1976). Outro fator determinante é a influência situacional, como por exemplo, a grande falta de espaço, a inexistência de possibilidades adequadas de jogos e de ocupações, as situações frustrantes que impossibilitam a cooperação, ou condições de competição excessiva sem criação de laços que levam com freqüência a raiva e a agressão. (KLOSINSKI, 2006). Um quarto elemento determinante são os fatores típicos de influência sociocultural, tais como: a violência familiar, o abuso e abandono de crianças, o alcoolismo dos pais e o comportamento violento dos adultos, que muitas vezes, levam os que foram vítimas na infância, a serem os culpados mais tarde na adolescência. (Idem). Contudo, quanto à importância dos fatores biológicos que influem sobre o comportamento violento dos adolescentes, não existe dúvida de que entre eles se encontre o hormônio sexual masculino (andrógeno). Para Klosinski (2006), existe uma correlação entre a agressividade e a concentração de andrógeno no sangue; isso poderia explicar por que no início da puberdade, e, sobretudo entre os meninos, o comportamento agressivo sofre um claro aumento. Assim, além do efeito do andrógeno, é preciso que se leve em conta, a função anti-agressiva dos estrógenos (hormônios femininos); tendo em vista que a redução dos estrógenos e o conseqüente aumento relativo dos andrógenos antes da menstruação se atribuem hoje, por exemplo, a uma elevada irritabilidade e hostilidade das meninas durante a menstruação. É importante ressaltar que tais fatores determinantes, podem se intensificar com a entrada precoce do adolescente na vida adulta, com uma conseqüente interrupção no seu processo de formação de identidade. Desse modo, a partir dessas bruscas alterações, pode-se perceber que o adolescente passa a desenvolver características afins de grupos, como dificuldade de concentração, ansiedade excessiva, jogos agressivos, ações violentas, restrição de atividades e ausência de exploração de pensamentos. Dessa forma, considera-se necessário reforçar a importância do papel da família no processo de desenvolvimento, construção de personalidade e inclinação à

35 criminalidade do adolescente. Uma vez que, assim como Klosinski (2006), Mussen (1976), também considera que a maioria dos casos de violência e delinqüência juvenil, inicia-se em casa, em famílias violentas, agressivas ou ausentes. Por isso: A família, e, sobretudo os pais, como aquele contexto que promove e que exige, têm que estabelecer o jogo dos equilíbrios relacionais, como entre igualdade e diferença; satisfação e recusa; estimulação e estabilidade; proximidade e distância. (KLOSINSKI, 2006, p.71). Segundo Stierlin (1969), é nessa dialética 10 dos equilíbrios relacionais que se tece o instrumental para superar a agressão. Nesse contexto, pode considerar-se que assim como a instituição família influi diretamente no comportamento agressivo ou não dos adolescentes, as demais instituições de certa forma, acabam por disseminarem suas parcelas de contribuição, principalmente no que diz respeito, as Instituições Totais 11 ; tais quais, as instituições de privação de liberdade, como por exemplo, as Unidades de Medida Socioeducativa UMSE - nas quais, apesar dos adolescentes e/ou jovens já estarem inseridos em um cenário de infrações e criminalidade, os mesmos acabam, de certa forma, a tornarem-se mais agressivos, como resposta as estruturas de poder existente e as desajustadas práticas pedagógicas desenvolvidas nessas instituições. No entanto, ao se observar a estrutura de poder existente nessas repartições, partindo de uma concepção de Foucault (1979), pode-se presumir que os adolescentes têm o dever de submeterem-se as normas de execução da Medida Socioeducativa - MSE - e as sanções disciplinares que lhe forem impostas, mantendo comportamento disciplinado e cumprindo fielmente a decisão ou sentença, ajustando sua conduta as normas da internação. Todavia, estabelecem 10 Etimologicamente, dialética vem do grego dia, que expressa a idéia de dualidade, troca, lektikós, apto a falar, capaz de falar. É a mesma raiz de logos (palavra, razão) e, portanto, se assemelha ao conceito de diálogo. No diálogo, há mais de uma opinião, há dualidade de razões. (ARANHA, Maria Lúcia A; MARTINS, Maria Helena P. Filosofando: introdução à filosofia São Paulo: Moderna, 1986). 11 As instituições totais se caracterizam por serem mais fechadas que outras instituições. Seu fechamento ou seu caráter total é simbolizado pela barreira à relação social com o mundo externo e por proibições à saída que muitas vezes estão incluídas no esquema físico por exemplo, portas fechadas, paredes altas, arame farpado, fossos, água, florestas ou pântanos. (GOFFMAN, Erving. Manicômios, prisões e conventos São Paulo: Perspectiva, 2005).

36 também outras relações de poder, manifestadas por meio de ameaças dirigidas a funcionários pelos adolescentes, tais como: um dia a gente se esbarra lá fora... ; além das ameaças infligidas entre eles mesmos, isso porque, na maioria das vezes dentro dos quartos-cela, surgem líderes que exercem poder sobre os demais, fazendo uso do porte físico, da força e da persuasão, para submeter o outro a constantes situações de violência física e sexual. Assim, diante dos diversos fatores apresentados, pôde-se concluir que a maior conseqüência à formação dos adolescentes, está na observância da dificuldade de adquirir valores éticos que são básicos na valorização humana; por outro lado, os valores da sociedade de consumo foram absorvidos com eficiência pelos jovens, ocasionando atitudes que justificam qualquer ação violenta, desde que resultem em vantagens ou prestigio social à estrutura dominante. Portanto, a criminalidade não pode ser sintetizada apenas, como um produto do mau funcionamento da sociedade (saúde, segurança, educação, família, etc.), mas sim, como o produto inevitável de uma sociedade de consumidores. Pois sabe-se que quanto mais elevada for à busca dos consumidores, mais eficaz será a sedução do mercado e mais segura e próspera será a sociedade de consumidores. Com base neste cenário de violência e delinqüência juvenil, que se expressa de diferentes formas na sociedade, não se pode refutar a crucial contribuição da mídia, como vetor e catalisador, desse processo de violência. Assim: Pode-se entender que grandes e numerosos estudos representativos, demonstraram nos últimos anos que exibições de violência na mídia podem levar a uma indução de violência no consumidor. [...] Isso porque [...] existe um grupo de crianças e jovens de risco, que principalmente através da aprendizagem por imitação está exposto ao risco, sobretudo aqueles que em seus pensamentos consideram a violência como um meio eficaz para levar ao sucesso, para alcançar poder sobre os outros. (KLOSINSKI, 2002 APUD KLOSINSKI, 2006). Nesse sentido, um fator que merece atenção, é a adolescência considerada como fatia de consumo de roupas, equipamentos eletrônicos e alimentação diferenciada. Dessa forma, a propaganda vem cada vez mais investindo nesse consumidor e criando demandas difíceis de serem atingidas pelos pais, estimulando os adolescentes, alienados pelo consumismo, a desenvolverem outros

37 meios de satisfazerem seus desejos de consumo, levando-os até mesmo, a fazerem uso da violência. (Adolescência e Mídia, ). Assim, a mídia através dos personagens das novelas, fornece idéias, ou concretiza fantasias que fogem ao que habitualmente o jovem tem como ideal proposto pela família. Apresentando freqüentemente imagens irreais do que significa ser homem ou mulher, do que significa estar apaixonado, das relações amorosas, e do que é ser pai e mãe. Considerando-se, portanto, que assim como a mídia, a família e o próprio grupo de adolescentes, cada um, a sua maneira, funcionam na maioria das vezes como agente estimulador da violência, e repressor da sexualidade. 1.2 Sexualidade Tradicionalmente, a vida familiar e a educação sexual ocorriam num contexto das relações familiares, oferecendo, estas, iniciação e proteção. Hoje em dia, as crianças e adolescentes recebem suas informações sobre sexo de muitos lados: dos pais, irmãos, colegas da mesma idade, do rádio, da TV, das revistas, das conversas ou observando os outros. Estas informações, porém, freqüentemente, são incompletas, enganadoras ou até falsas, podendo acarretar sérias complicações para o desenvolvimento da sexualidade em suas diversas fases na vida humana. Dessa forma, deve-se compreender minimamente a sexualidade, para poder entender o seu significado na adolescência, e poder elaborar estratégias para o seu perfeito desenvolvimento. Segundo Pocovi (2002), a sexualidade é um termo que surgiu no século XIX e trouxe uma ampliação para o conceito de sexo, já que incorporou à relação sexual a reflexão e o discurso sobre seu sentido e intencionalidade. Nesse sentido, é impossível falar em sexualidade sem citar a psicanálise e em especial Freud; já que ele abriu novas reflexões e discussões sobre o tema, causando profundas reflexões, na sua época, possibilitando que muitos autores 12 Saiba mais em: Prevenir é sempre melhor / Coordenação Nacional de DST e AIDS Brasília: Ministério da Saúde, Coordenação Nacional de DST e AIDS, 1998.

38 importantes viessem a concordar, discordar, aprofundar estudos e construir novas teorias acerca da sexualidade humana. Assim sendo, Freud entende que: A sexualidade não é apenas a atividade e o prazer que depende do funcionamento do aparelho genital: é, sim, toda série de excitação e de atividades presentes, desde a infância, que proporcionem um prazer irredutível à satisfação de uma necessidade fisiológica fundamental (respiração, fome, função de excitação, etc.) e que se encontram a titulo de componentes na chamada forma normal do amor sexual. (LAPLANCHE E PONTALIS, 1976 apud AZEREDO, 2006). Dessa forma, a sexualidade para Freud é também e, sobretudo, o conjunto de processos psiquicamente interiorizados, através dos quais um indivíduo se constitui na sua relação com os outros. (MEZAN, 2003 apud AZEREDO, 2006). Outro autor importante, que dedicou boa parte de seus estudos a manifestação da sexualidade, foi Reich. Para ele (apud COSTA, 1984), a sexualidade é a expressão do movimento bioenergético do organismo na direção do prazer e da gratificação. É a entrega naturalmente ativa e espontânea para o amor, para o trabalho, para a atividade prazerosa de uma forma geral (p.21). Para o autor, a sexualidade é o movimento expressivo do prazer do organismo e por isso, quando retirada, acarreta graves conseqüências à integridade do ser total. Portanto, ambos os autores entendem que a sexualidade não pode ser separada do prazer e do desejo, sendo a genitalidade apenas uma das possibilidades de expressão. Essa descoberta da sexualidade e da genitalidade como uma das formas de sua expressão, foi realizada por Freud, e se deu quando o autor descobriu a sexualidade existente na infância e as zonas eróticas, com seus estágios de predominância durante o desenvolvimento biológico, ampliando assim o conceito de sexualidade. Esta deixou de ter o caráter especifico de genital, para assumir, um significado mais amplo de movimento expressivo de prazer e do organismo como um todo. Porém, Costa (1984), nos alerta, que mesmo com a ampliação do significado e do conceito de sexualidade, a genitalidade continuou sendo seu aspecto mais significativo. Costa (1984) acredita que isto se deve ao fato de ser a genitalidade a grande responsável pela função de auto-regulação da vida emocional, através da

39 função do organismo, e também por ser esta, a fase do desenvolvimento proibida, distorcida e censurada. No entanto, Foucault (1980, p.67) entende que: A sexualidade não é um dado da natureza, mas o nome de um dispositivo histórico, datado da metade do século XVIII: o dispositivo da sexualidade. Trata-se de uma rede traçada por um conjunto de práticas, discursos e técnicas de estimulação dos corpos, intensificação dos prazeres e formação de conhecimentos. Assim, a sexualidade é polimorfa e polivalente, ultrapassa a necessidade fisiológica e tem a ver com a simbolização do desejo (CHAUÍ, 1984, p.67). Em contra partida, Chauí (1984) acentua a idéia de que a sexualidade não se reduz aos órgãos sexuais, já que qualquer região do corpo, desde que tenha sido estimulada de erotismo, é susceptível de prazer sexual e porque, em sua opinião, a satisfação sexual pode ser alcançada sem a relação genital. Nessa perspectiva, Caridade (1997), entende que a sexualidade é uma energia que nos impulsiona à busca do prazer, mas um prazer plural, que jamais se esgota na genitalidade (p.122). Demonstrando que a sexualidade humana se forma em meio ás instituições, aonde o corpo vai armazenando desde o nascimento: palavras, atitudes, sensações, emoções, etc. Assim, entende-se que A sexualidade é o mais significativo discurso do corpo, pois é a expressão da totalidade do ser. (BRUNS & GRASSI, 1993, p.91). Pocovi (2002), também compartilha da idéia de que a sexualidade envolve a pessoa na sua globalidade e dimensão humana; seus sentimentos, relacionamentos, prazer, direitos e deveres, não podendo desse modo ser compreendida de forma apenas genitalizada e fragmentada. Da mesma forma, Heilborn apud Aben (2000), entende que a sexualidade representa um conjunto de valores e práticas corporais culturalmente legitimados na historia da humanidade. Contudo, mais do que pertinente à atividade sexual e a sua dimensão biológica, ela diz respeito a uma dimensão íntima e relacional que compõe a subjetividade das pessoas e suas relações com seus pares e com o mundo. Entretanto, para Mandu apud Aben (2000), a sexualidade aborda aspectos físicos, psicoemocionais e socioculturais relativos à percepção e controle do corpo,

40 ao exercício do prazer / desprazer, valores e comportamentos em processos afetivos e sexuais, enquanto que a reprodução humana é tida como uma dimensão referente ao processo biológico e psicossocial de geração de novos seres, regulação da fecundidade, valorização dessas experiências. Já para Bueno et al (1995), a sexualidade é um processo complexo e intrínseco do ser, que extrapola o conceito de ser apenas um fenômeno biológico, com a finalidade de diferenciar o macho da fêmea. É, portanto, muito mais do que o ato sexual em si, pois sexo conota um ato fisiológico, e sexualidade conota a totalidade do ser humano. No seu sentido mais amplo, para o autor, a sexualidade acaba sendo definida como um aspecto profundo e penetrante da personalidade total, a soma geral, de ser homem ou mulher. Sendo que Ribeiro (1993) coloca a sexualidade como um conceito complexo que pressupõe dimensões biológicas fundamentais nas diferenças anatômicas entre homens e mulheres, dimensões fisiológicas relativas ao funcionamento físico-químico do aparelho reprodutor, dimensões psicológicas que se traduzem por manifestações do inconsciente (desejos, sonhos e fantasias) e dimensões sociais correspondentes ao desempenho de papeis sexuais socialmente definidos. O Guia de Organização Sexual Diretrizes e metodologias (2004), que se trata de uma adaptação à realidade brasileira do Guia da Organização de Educação Sexual Americano (SIECUS) que hoje é utilizado como referência nacional para trabalhos sobre sexualidade, traz a definição de que sexualidade é parte da vida de todas as pessoas e inclui dimensões biológicas, éticas, espirituais, psicológicas e culturais e por isso, sua expressão pode se dá de várias formas. Também enfatiza que o exercício da sexualidade compreende aprender o respeito ao corpo, aos próprios sentimentos e aos dos outros. Assim, a OMS entende que: A sexualidade humana forma parte integral da personalidade de cada um. É uma necessidade básica e um aspecto do ser humano que não pode ser separado de outros aspectos da vida. A sexualidade não é sinônimo de coito e não se limita à presença ou não do orgasmo. Sexualidade é muito mais do que isso. É energia que motiva encontrar o amor, contato e intimidade, e se expressa na forma de sentir, nos movimentos das pessoas e como estas tocam e são tocadas.

41 Assim, entende-se, portanto que a sexualidade humana nasce com o individuo e transforma-se constantemente ao longo de toda a sua evolução, só desaparecendo com a morte. Isso porque, mesmo antes do bebê nascer, já se tem início a formação de uma importante parte da sexualidade do indivíduo, que é a formação do sexo biológico, que vai determinar a designação sexual do bebê ao nascer (menino ou menina). A partir daí a sexualidade vai se desenvolvendo com características específicas para cada sexo, em cada uma das fazes da vida, como por exemplo, na adolescência, transformando-se e ampliando-se até o fim da vida, não acabando jamais. Portanto, a questão da sexualidade compreende a genitalidade, porém a supera e transcende, chegando a um contexto muito mais rico de valores. Ela é ao mesmo tempo expressão fisiológica e simbólica. É comunicação com o outro. É também, uma forma de manifestação social e histórica. É individual, porém, com diversas inscrições coletivas. É corpo, toque, orgasmo, sentimentos, excitação, intimidade, sensações e representações. Contudo, resta-se saber, se esta sexualidade é vivida e em que condições, quando se fala em adolescentes privados de liberdade. Tendo em vista que, uma pesquisa feita na Fundação Estadual do Bem Estar do Menor (FEBEM) paulista 13, revela a sexualidade precoce dos adolescentes infratores entre 13 (treze) e 19 (dezenove) anos de idade, ao mostrar que do total dos adolescentes pesquisados: 98% já haviam iniciado a vida sexual; 38% tiveram sintomas de Doenças Sexualmente Transmissíveis DST; 5% já foram forçados a fazer sexo dentro da instituição; 23% já eram pais e; 80% gostariam de se submeter ao teste de HIV. Tais dados demonstram que os jovens, em especial os mais pobres e marginalizados, estão entrando cada vez mais cedo em uma vida sexual ativa, sendo o mais agravante, que os mesmos, estão iniciando sua vida sexual sem nenhum conhecimento do que vem a ser sexualidade, direitos sexuais e DSTs, 13 Sexualidade em jogo levantamento realizado em três Unidades de FEBEM de São Paulo, com jovens entre 13 e 19 anos de idade. Disponível em: LIBERADO+PARA+MENORES.html

42 pondo em risco sua vida, assim como, a integridade dos demais adolescentes sobre os quais exercem seu poder e sua opressão Sexualidade na adolescência As literaturas referentes à sexualidade mencionam muitas vezes que a mesma, é construída de acordo com os interesses socais, religiosos e econômicos vigentes. Sendo que muitos desses interesses sociais e econômicos transformaramse nos últimos séculos e, com a evolução cientifica, desmistificaram crenças e quebraram tabus. Assim, antes mesmo de entrar mais diretamente nos desejos de ligação sexual e nos receios e medos dos adolescentes, faz-se necessário desenvolver um breve esboço do processo de evolução da sexualidade na adolescência. A partir de estudos ao longo da história, sobre a temática de infância e adolescência, fica bastante claro que até o século XVI, nas famílias européias, não havia a existência de intimidade e privacidade; isso porque, todos os membros de uma mesma família (adultos, crianças, adolescentes, camponês, criados e criadas) conviviam sobre o mesmo teto. Considerando que nesse período, as crianças eram vistas como adultos em miniaturas, assim, elas podiam servir ao comércio sexual dos adultos, onde a masturbação e os jogos de sexo com outras crianças, jovens ou adultos, eram tidos como normais. Assim, os abusos sexuais ocorriam e seus reflexos no desenvolvimento da sexualidade não eram vistos como problema. (JACKSON, 1993). Entre os séculos XVI e XIX, as famílias começaram a viver separadas do seu local de trabalho, onde o grande espaço único existente até então, foi dividido, surgindo assim, vários cômodos, inclusive os quartos, permitindo que as relações sexuais passassem a ser cada vez mais secretas. Contudo, com o surgimento do puritanismo, a sexualidade passou a ser considerada como pecado e como coisa suja, exceto quando, ocorresse para fins reprodutivos. Nesse período, falava-se sobre sexo predominantemente na esfera privada, os pais tentavam criar os filhos acomodados e assexuados; e aos filhos, era imposto que cobrissem as partes

43 sexuais, que não as olhassem e que não as tocassem sexualmente, muito menos, a dos outros. No século XIX, particularmente no período vitoriano, surgiu a idéia de que a masturbação representava um abuso que poderia provocar tuberculose, impotência e, até mesmo, epilepsia. Muitos pais, nesse período, chegavam ao ponto de amarrar as mãos de seus filhos adolescentes, para que eles não pudessem se masturbar. Nessa mesma época, a circuncisão do clitóris era um método aprovado, destinado a ajudar as moças jovens que se tornavam relapsas na masturbação. (SCHWARTZ, 1973 apud KLOSINSKI, 2006). Entre os anos de 1930 e 1950, chegou-se a uma considerável redução das sanções contra jogos sexuais e masturbação de crianças e adolescentes. (WALFENSTEIN, 1953 apud KLOSINSKI, 2006). Assim, por volta de 1950, se impôs a idéia de que o interesse infanto-juvenil pela sexualidade não era anormal, passando a partir de 1970, a ser assunto de interesse público, acreditando-se que o desenvolvimento das crianças e adolescentes poderia sofrer riscos com os abusos dos pais, parentes e, sobretudo, do pai. Hoje, já se entende que a sexualidade no ser humano, possui um longo desenvolvimento e tem seu inicio desde o nascimento, trata-se de uma organização que vai se estruturando a partir de fases, desde os pré-genitais, até a genital propriamente dita, que é atingida com a maturidade. Nessa perspectiva, Elide Camargo Signorelli, em seu artigo, Sexualidade na Adolescência 14, demonstra a existência de dois acontecimentos especiais que marcam o início da puberdade e do desenvolvimento da sexualidade na adolescência. Nos meninos, a primeira ejaculação ou polução; nas meninas, a primeira menstruação ou menarca, e, com as transformações que começam a ocorrer no corpo, tornam-se experiências que provocam intensas emoções, muitas vezes carregada de angustias e culpa. Mas ao mesmo tempo, tudo isso é muito desejado e motivado de orgulho, porque são marcos que indicam a saída da infância. Para a referida autora, a sexualidade na adolescência dota-se de duas fazes: a erótica e a homossexual. Desse modo, no início da adolescência, na puberdade, por volta dos 11 (onze), 12 (doze) anos de idade, a sexualidade é auto- 14 Disponível em:

44 erótica, ou seja, o jovem está mais voltado para si mesmo, para o seu corpo; onde o que prevalece é a masturbação, a qual não vem acompanhada, necessariamente, de fantasias com um objeto sexual. Sendo considerada uma atividade importante, porque proporciona um conhecimento do próprio corpo e das sensações que provêm dele; é também um ensaio para a futura sexualidade heterossexual. Além disso, pode ser usada como descarga de impulsos agressivos e válvula e escape para situações de tensão, frustração e conflito, possibilitando, assim, uma compensação ao sofrimento. Da mesma forma que Signorelli, Klosinski (2006), entende que: Uma possibilidade de tentar de certa forma, superar os receios e cultivar os desejos de relação, é representada pelas fantasias de pré-pubescentes e pubescentes, bem como pelas fantasias de masturbação. Nisso as pessoas servem-se frequentemente de dados tirados dos livros e filmes de aventura, em que as lutas e aventuras se transformam em histórias de amor [...] (p.123). No entanto, a fase auto-erótica vai gradativamente cedendo lugar a fase homossexual, antes de partir para uma sexualidade heterossexual; onde a relação de amizade com amigos do mesmo sexo, é uma forma de proteger-se do contato com o sexo oposto, o qual é muito desejado, mas muito temido também. É um momento em que vemos as amizades idealizadas, onde a escolha do amigo, pode se basear naquela qualidade que o outro tem e que é muito admirada; sendo que, nas meninas, é freqüente uma paixão por uma amiga ou por uma pessoa reconhecida como especial. (SIGNORELLI, Elide Camargo). Isso por que: Sentimentos e tendências gays e lésbicas na fase da puberdade pode ser um estágio de transição rumo a uma identidade heterossexual. Mas em muitos jovens [...] já se manifesta o desenvolvimento de uma identidade sexual precocemente fixada e estabelecida, não podendo mais, como acontecia antigamente, ser vista apenas como um desvio, uma falha, e uma doença do desenvolvimento sexual normal. (KLOSINSKI, 2006, p.119). Para Signorelli, com o avanço da adolescência, por volta dos 15 (quinze) anos de idade, o adolescente vai começando a definir, lentamente, sua inclinação

45 sexual. A busca das relações adquire novos aspectos. A masturbação ainda está presente, mas possui características um pouco diferente, pois já é acompanhada de fantasias com outras pessoas. E se existe uma atividade sexual, esta é acompanhada, muitas vezes, de ejaculação precoce e uma confusão na forma de lidar com as relações. Em geral, os meninos, assim que conseguem realizar um ato sexual, tendem a espalhar a noticia, numa necessidade exibicionista, seguida de desprezo à parceira. Isso também é próprio de uma cultura que valoriza o machismo e fecha as possibilidades para uma imagem mais integrada e menos consumista do ser humano. Às meninas restam, muitas vezes, renderem-se a essa situação por falta de condições diferentes das estruturas ideologicamente implantadas na sociedade. Foram nos Estados Unidos da América (UEA), que se desenvolveram as mais numerosas pesquisas acerca dessa temática. Sendo que em 1990 pode ser constatado que os adolescentes, do sexo masculino, passavam pela primeira experiência sexual aos 15 (quinze) anos e a meninas, aos 16 (dezesseis) anos de idade. Assim sendo, tanto nas publicações americanas quanto nas européias, fica claro que as atividades sexuais precoces dos adolescentes, caminham lado a lado, com uma baixa escolaridade, com a delinqüência, o fumo, o alcoolismo e o consumo de drogas. Para Signorelli, a pornografia, o alcoolismo, as drogas e as gangues, também passam a ser alvo de interesse dos adolescentes. Isso porque, as relações em grupo acontecem, em meio a sentimentos intensos de ódio, inveja, competição e traição, o que os leva em algumas situações, a cometerem infrações. No entanto, no que se refere aos desejos e fantasias dos jovens de ambos os sexos, as diferenças sexuais são interessantes. As fantasias dos jovens do sexo masculino são marcadas pelo desejo do contato genital, enquanto que as moças, desse segmento etário, dão muito menos valor à genitália. E isso ocorre por que: As fantasias de masturbação dos jovens acentuam os aspectos românticos e relacionais e relacionais. Dessa forma, torna-se compreensível que 60% das moças informem ser nas suas fantasias uma pessoa diferente do que na vida real, comparadas com apenas 1/3 (um terço) dos jovens do sexo masculino. Em suas fantasias as jovens também imaginam que parecem

46 mais bonitas do que na sua realidade. (KIRKENDOLL & MC BRID, 1990 apud KLOSINSKI, 2006). Entende-se, portanto, que ao contrario das gerações anteriores, em geral, a juventude atual, está bem esclarecida do ponto de vista sexual, estando teoricamente, muito bem informada sobre a sexualidade. Dessa forma, ao contrário do entendimento que se tinha sobre a sexualidade entre os séculos XVI e XIX: Hoje para a juventude: a sexualidade faz parte do homem, ela é uma coisa que deixou e que tinha que deixar de ser tabu, a sexualidade é boa, deixou o fingimento de lado. [...] Para os jovens não existe passos obrigatórios para ingressar na vida sexual, passos universalmente aceitos e aprovados pela sociedade. (KLOSINSKI, 2006, p ). Tendo em vista que: Percepção e vivência sexual, curiosidade sexual, prazer e ações sexuais, tanto auto-eróticas quanto recíprocas, fazem parte do homem, caracterizam o desenvolvimento normal e sadio. Porém [...] perturbações da função e da experiência sexual podem surgir isoladamente, ou então em conexão com diversas doenças do corpo e da alma. (Idem). Klosinski (2006) entende que a sexualidade deve ser vivida de maneira crescentemente prazerosa, mais descontraída e menos conflituosa, em que a atitude em relação à auto-satisfação e à homossexualidade passe a ser mais tolerante, tendo em vista que, as relações sexuais estão sendo assumidas mais cedo, sendo mais raramente associados a sentimentos de medo e de culpa; da mesma forma, as relações sexuais antes do casamento, ou fora do casamento, estão sendo consideradas como naturais. Compreende-se assim, que a sexualidade juvenil, orienta-se pelo amor, pela fidelidade, e pela parceria. Podendo-se assim, serem cada vez mais equiparados os comportamentos dos dois sexos, das várias faixas sociais, bem como dos jovens da cidade e do campo, onde os dois sexos assumem o mútuo

47 envolvimento sexual mais cedo e com mais freqüência, mudando com mais assiduidade de parceiro sexual. (KLOSINSKI, 2006). Sendo importante frisar que hoje, o adolescente procura integrar o despertar do sexo a sua personalidade, que amadurece. Mas com freqüência, este processo de desenvolvimento é perturbado, e está suscetível a elevados riscos. Muitas vezes, o jovem é forçado a ocupar-se com problemas da sexualidade adulta, que com freqüência apresentam para ele exigências excessivas, levando-o a desenvolver sua sexualidade como instrumento de dominação, às vezes por ter preferências sexuais por crianças ou adolescentes, ou por uma distorcida e compulsiva realização da sua vivência de sexualidade, por meio da violência. (HAZEU, 2004).

48 2 VIOLÊNCIA SEXUAL: sem prazer e liberdade. 2.1 Violência sexual e direitos sexuais Em meados do século XIX, a violência contra a infância e a adolescência tornou-se algo preocupante, pois a partir desse período, o crescente número de casos de violência tornou-se mais significativo na sociedade. A partir desse momento, a infância começava a conquistar novos olhares, no qual a criança passava a ser compreendida como um ser autônomo dotado de direitos. No entanto, somente no século XX, o fenômeno de violência (física, sexual e psicológica) praticada contra crianças e adolescentes foi amplamente estudado, debatido e publitizado para as diversas áreas do conhecimento. A violência sexual pode ser considerada um fenômeno antigo, que só se tornou um problema social evidente a partir do século XX, quando foi inserido no contexto dos Direitos Humanos e considerado como violência bárbara que trás sérias conseqüências, como o comprometimento do desenvolvimento físico, psíquico e social de suas vítimas. Sendo importante frisar, que a violência sexual não pode ser conceituada como um fim em si mesma (de forma isolada), podendo a mesma, ser entendida sob vários aspectos. Nesse contexto, pode-se salientar que a questão da violência sexual somente foi especificada como crime, a partir da promulgação da Constituição Federal (CF) de 1988 e mais adequadamente em 1990 com a formulação do ECA, na qual, foi contemplada a doutrina da Proteção Integral, que se baseia na garantia dos direitos sociais básicos da criança e do adolescente, tais como: vida, saúde e educação, os quais são defendidos quando violados e que sinaliza a compreensão de crianças e adolescentes como sujeito de direitos. Entretanto, a pesar do ECA estabelecer a idéia de proteção integral, este não reza um artigo especifico para crianças e adolescentes vítimas de abuso e exploração sexual, mas prevê tratamento às vítimas e punição aos agressores. Assim, tratar da violência sexual pressupõe uma discussão sobre violência. Faleiros (1998) compreende que:

49 A violência não pode ser entendida apenas como um ato isolado, psicologisado pelo descontrole e pela doença, mas expressa o desencadear de relações que envolvem a cultura, o imaginário, as normas e o processo civilizatório de um povo. Contudo, Chauí (apud LEAL, 2002) define a violência como: [...] a realização determinada das relações de força, tanto em termos de classes sociais, quanto em termos interpessoais; a força é a conversão de uma diferença e de uma simetria numa relação de desigualdade com fins de dominação e opressão. Assim, antes mesmo de conceituar o tema proposto, torna-se indispensável ressaltar como se constitui e se categoriza a violência contra crianças e adolescentes. Dessa forma, pode-se salientar que são elementos constitutivos, explicativos e conceituais da violência contra crianças e adolescentes: a violação dos Direitos Humanos Universais (DHU) e de direitos peculiares à pessoa em desenvolvimento; a transgressão (crime); relação de poder explorador, perversa e desestruturante e; a atuação em rede. (HAZEU, 2004) Nessa perspectiva, a partir dos elementos constitutivos do conceito de violência, entende-se que a mesma, categoriza-se em: violência física, psicológica e sexual. Classificando-se a violência sexual em abuso sexual e exploração sexual comercial; sendo o primeiro, intra ou extra-familiar, e o segundo, prostituição, pornografia, turismo sexual e tráfico de pessoas para fins sexuais; sendo que essas classificações são denominadas, em geral, como formas de violência. (Idem). Atualmente pode-se acompanhar pelos meios de comunicação o crescente número de casos de violência (física, sexual e psicológica), contra a infância e a adolescência no Brasil, as quais são encontradas com mais freqüência no seio familiar, sendo o agressor uma pessoa próxima à vítima. Segundo Guerra, apud Silva (1999): A violência doméstica é um tipo de violência que permeia todas as classes sociais, como violência de natureza interpessoal, intersubjetiva e estrutural. A violência sexual, de maneira geral, é muito antiga em todo o mundo, e no Brasil, ainda é possível de se rebuscar na época do colonialismo, onde as escrevas teriam que servir aos senhores como maneira de prestar serviços a eles tornando-se objetos sexuais.

50 Atualmente, entende-se que a violência sexual é a categoria explicativa da vitimização sexual, pois se refere ao processo histórico de dominação da sexualidade, através do abuso do poder assimétrico dos mecanismos exploradores da sociedade capitalista e da violação dos direitos sexuais de crianças maltratadas sexualmente. Assim: Entende-se por criança maltratada sexualmente: (1) toda criança cujas lesões sofridas tenham sido principalmente na área genital; (2) toda criança que tenha tido relação sexual ou outros contatos sexuais genitais com uma pessoa adulta; (3) toda criança que tenha se envolvido inadequadamente em ações sexuais com adultos, que não estejam classificadas nos pontos (1) e (2). (KEMPE; KEMPE, 1984 apud FELIZARDO, 2003, p 38). A violência sexual contra crianças e adolescentes se apresenta em diferentes formas e com características próprias, pois a agressão à sexualidade infanto-juvenil é motivada por vários objetivos e ocorre dentro de contextos específicos que fazem com que seja preciso diferenciá-la. Trata-se de uma violência estrutural, pois é inerente à organização da sociedade, na qual o ser dominante exerce seu poder através da imposição da força e da dominação da sexualidade de crianças e adolescentes. Hazeu (2004, p13), entende que: A violência sexual contra crianças e adolescentes tem que ser entendida em suas determinações históricas. A formação econômica, social e cultural da América Latina, assentada na colonização e escravidão, produziu uma sociedade escravagista, elites oligárquicas dominantes e dominadores de categorias sociais inferiorizadas pela raça, cor, gênero e idade. O que deu origem a uma sexualidade machista, sexista e adultocêntrica, ainda vigente. Nessa perspectiva, o enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes significa garantir seus direitos sociais e sexuais. Segundo Faleiros e Faleiros (2001), a violência sexual é também a violação à integridade física e psicológica, ao respeito, à dignidade, à sexualidade responsável e protegida. Nesse sentido, a violência sexual é acima de tudo uma violação dos DHU, que assim constitui-se como um crime, previsto na lei e que requer punição ao agressor.

51 A violência sexual constitui-se ainda, como a violação dos direitos particulares de pessoa em desenvolvimento, ou seja, está atrelada a violação do processo de desenvolvimento físico, psicológico, moral e sexual de maneira sadia; e, se ocorre no núcleo familiar, é também violado o direito a convivência familiar protetora, uma vez que, quando esse tipo de violência se dá na família, os próprios pais são os violadores de direitos, sendo também responsáveis, pela quebra dos laços afetivos e de uma convivência familiar protetora. Contudo, o abuso sexual se refere a situações em que normas sociais e culturais são quebradas, no que tange ao desenvolvimento e a violação da sexualidade, especificamente da criança e do adolescente, violando a sua dignidade sexual. Portanto, entender o abuso sexual, está para além da sexualidade da infância e adolescência, é entender a construção social. Assim sendo: O Abuso Sexual define-se como sendo, qualquer conduta sexual com uma criança e/ou adolescente levada a cabo por um adulto ou por outra criança e/ou adolescente mais velha que de alguma forma exerça poder ou força física sobre a vítima. Isto pode significar, além da penetração vaginal ou anal na criança e/ou adolescente, mais também o tocar de seus genitais ou o fazer com que a criança e/ou adolescente toque os genitais do adulto ou de outra criança ou adolescente mais velha, assim como o contato oral - genital ou, ainda, o roçar dos genitais do adulto com a criança. (FALEIROS, 1998) Esse tipo de violência pode ser observado quando mudanças bruscas se fazem presente no comportamento de crianças e adolescentes vitimizados, em que a falta de apetite ou perda de sono, podem ser indícios de que alguma coisa errada está acontecendo, principalmente se a criança ou adolescente se mostrar curiosamente isolado, muito perturbado quando deixado só, ou próximo de seu abusador. Dessa forma, estudos evidenciam que crianças e adolescentes que são vítimas de abuso sexual prolongado, usualmente desenvolvem uma perda violenta da auto-estima, tendo a sensação de que não valem nada, adquirindo uma representação anormal da sexualidade. A criança ou adolescente pode tornar-se muito retraído, perdendo a confiança em todas as pessoas próximas, podendo até mesmo chegar a considerar o suicídio a única saída, principalmente quando existe a possibilidade do abusador ameaçá-lo de violência física ou morte, se a mesma

52 negar-se aos seus desejos. Sendo de fundamental importância ressaltar que este fator pode ser considerado um dos motivos que impede os adolescentes do Sistema Socioeducativo - SSE, relatar os casos de violência sexual, para que sejam notificados 15. Algumas crianças e/ou adolescentes abusadas sexualmente podem ter dificuldades para estabelecer relações harmônicas com outras pessoas, podendo se transformarem em abusadores, se inclinarem para a prostituição ou terem outros problemas sérios quando adultos, (HAZEU, 2004). Comumente as crianças e/ou adolescentes abusados estão aterrorizadas, confusas e muito temerosas de contar sobre o incidente. Com freqüência elas permanecem silenciosas por não desejarem prejudicar o abusador ou se prejudicarem mais ainda, devido às relações de poder existentes entre os mesmos. Entende-se, portanto, de certa forma, que essas estruturas de poder se fazem presente em nossa sociedade, assim como, no interior das instituições de MSE, em que adolescentes privados de liberdade, afeto e relações sexuais 16, fazem uso da força e da violência física para submeter o outro aos seus desejos sexuais, violando assim não somente o corpo, o direito sobre o próprio corpo e sim os direitos sexuais de suas vítimas. Durante o XV Congresso Mundial de Sexologia, ocorrido em Hong Kong (China), a Assembléia Geral da WAS World Association for sexology, aprovou as emendas para a Declaração de Direitos Sexuais, decidida em Valência, no XIII Congresso Mundial de Sexologia, em 1997; na qual se definiu que: [...] os direitos sexuais são direitos humanos universais baseados na liberdade inerente, dignidade e igualdade para todos os seres humanos; assim como a saúde sexual é um direito fundamental, então saúde sexual deve ser um direito humano básico. Para [...] que os seres humanos e a 15 Pesquisa realizada por discentes da Faculdade de Serviço Social da Universidade Federal do Pará, com técnicos e socioeducadores da Unidade de Internação de Val-de-Cans da Fundação da Criança e do Adolescente do Pará - FUNCAP, no ano de 2007; com o objetivo de verificar de que forma a ausência de atuação e discussão, com relação à violência sexual entre socioeducandos da FUNCAP, constitui-se como agravante para essa realidade. 16 O ato sexual ou relação sexual é a denominação geral dada à fase em que dois animais com reprodução sexuada (mais especificamente o ser humano) realizam a ação física de junção dos seus gametas. Contudo, nem sempre tem uma função reprodutiva. Em contra partida, a vida sexual na adolescência se diferencia, principalmente, pela maneira como cada um é criado. Os meninos são incentivados à sexualidade; as maninas, à afetividade. Saiba mais em: Prevenir é sempre melhor / Coordenação Nacional de DSTe AIDS Brasília: Ministério da Seúde, Coordenação Nacional de DST e AIDS, 1998.

53 sociedade desenvolvam uma sexualidade saudável, os direitos sexuais devem ser reconhecidos, promovidos, respeitados, defendidos por todas as sociedades de todas as maneiras. Saúde sexual é o resultado de um ambiente que reconhece, respeita e exercita estes direitos sexuais. Assim sendo, enfrentar a violência sexual pressupõe a garantia dos direitos sexuais da criança e do adolescente. Nessa perspectiva, segundo Hazeu (2004, p3): Os direitos sexuais são um elemento fundamental dos Direitos Humanos. Eles englobam o direito a uma sexualidade prazerosa, que é essencial em si mesma e, ao mesmo tempo, um veículo fundamental de comunicação e amor entre as pessoas. Os direitos sexuais incluem o direito a liberdade e autonomia e o exercício responsável da sexualidade. Porém, ao observar-se a estrutura social, fica evidente que a sociedade de certa forma, tem ditado à maneira de como os adolescentes devem atuar e se comportar, e os valores que devem ter sobre o que é correto ou incorreto, "bom" ou "mau" dentro da sociedade. Assim, aos jovens tem se negado e reprimido seus sentimentos e seus direitos a informação sobre o seu corpo, seu prazer e seu desenvolvimento; em contra partida, lhes tem sido dado desinformação, proibições e tabus que provocam neles dúvidas e temores sobre sua própria sexualidade. Esse processo perverso não os permite reconhecer e desfrutar de suas sensações e desejos, criando obstáculos ao seu amadurecimento e impedindo sua autonomia em direção ao exercício dos seus direitos sexuais. Em outras palavras, o que a sociedade tem feito, é ter esquecido constante que os direitos sexuais são direitos humanos universais baseados na liberdade inerente, dignidade e igualdade para todos os seres humanos, expressos na "Declaração dos Direitos Sexuais. Dessa forma, garantir os direitos sexuais implica, segundo a Associação Mundial de Sexologia - AMS, conhecer, promover, respeitar e defender: O Direito à Liberdade Sexual que diz respeito à possibilidade dos indivíduos em expressar seu potencial sexual. No entanto, aqui se excluem todas as formas de coerção, exploração e abuso em qualquer época ou situações de vida;

54 O Direito à Autonomia Sexual, Integridade Sexual e à Segurança do Corpo Sexual que envolve a habilidade de uma pessoa em tomar decisões autônomas sobre a própria vida sexual num contexto de ética pessoal e social. Também inclui o controle e prazer de nossos corpos livres de tortura, mutilação e violência de qualquer tipo; O Direito à Privacidade Sexual que expressa o direito às decisões individuais e aos comportamentos sobre intimidade desde que não interfiram nos direitos sexuais dos outros; O Direito à Igualdade Sexual é a liberdade de todas as formas de discriminação, independentemente do sexo, gênero, orientação sexual, idade, raça, classe social, religião deficiências mentais ou físicas; O Direito ao Prazer Sexual diz respeito ao prazer sexual, incluindo auto-erotismo; é uma fonte de bem estar físico, psicológico, intelectual e espiritual; O Direito à Expressão Sexual que entende que a expressão é mais que um prazer erótico ou atos sexuais. Cada indivíduo tem o direito de expressar a sexualidade através da comunicação, toques, expressão emocional e amor; O Direito à Livre associação Sexual que significa a possibilidade de casamento ou não, ao divórcio, e ao estabelecimento de outros tipos de associações sexuais responsáveis; O Direito as Escolhas Reprodutivas livres e responsáveis é o direito em decidir ter ou não ter filhos, o número e tempo entre cada um, e o direito total aos métodos de regulação de fertilidade. O Direito à Informação Baseada no Conhecimento Científico que demonstra que a informação sexual deve ser gerada através de um processo científico e ético, disseminado em formas apropriadas e a todos os níveis sociais; O Direito à Educação Sexual Compreensiva expressa que este é um processo que dura à vida toda, desde o nascimento, pela vida a fora e deveria envolver todas as instituições sociais e; O Direito à Saúde Sexual que demonstra que o cuidado com a saúde sexual deveria estar disponível para a prevenção e tratamento de todos os problemas sexuais, precauções e desordens. No entanto, sabe-se que não obstante à realidade dos adolescentes em liberdade, a tarefa de garantir os direitos sexuais aos adolescentes em cumprimento de MSE, é bastante árdua e difícil, porém, não impossível, desde que sejam

55 respeitados os Direitos Humanos e os direitos constitucionais específicos à sua condição peculiar de desenvolvimento, além de garantir a promoção e a efetivação da Declaração dos Direitos Sexuais. Nessa perspectiva, como forma de garantia e efetivação do desenvolvimento de uma sexualidade sadia, específica à infância e à adolescência, a AMS, define os Direitos Sexuais da Criança e do Adolescente. Partindo desse pressuposto, os Direitos Sexuais da Criança e do Adolescente, determinam que: crianças e adolescentes têm o direito de serem ouvidos, respeitados e atendidos em suas legitimas reivindicações; crianças e adolescentes têm o direito a uma educação que promova sua condição de ser em formação, garantindo um desenvolvimento pleno e saudável; uma criança tem o direito de conhecer seu corpo; uma criança tem o direito de descobrir sua masculinidade e feminilidade; um adolescente tem o direito à descoberta e ao exercício de sua sexualidade junto a seus pares; um adolescente tem o direito à livre expressão de sua orientação afetivo-sexual; um adolescente tem o direito à relação consensual amorosa; crianças e adolescentes têm o direito a dizer não a toda forma de abuso e exploração sexual seja incesto, pornografia ou prostituição e; crianças e adolescentes têm o direito a dizer não a toda forma de violência e maus tratos seja verbal, físico ou psicológico. Dessa forma, torna-se imprescindível, tendo por base as propostas de enfrentamento da violência sexual contra crianças e adolescentes, que se tenha por parte de toda a equipe ou quadro profissional que se propõe e/ou tenha como objetivo a garantia dos direitos da criança e do adolescente, principalmente os profissionais que lidam com a difícil realidade do SSE, um adequado referencial teórico-bibliográfico e eficientes instrumentais que possam subsidiar suas práticas profissionais, auxiliando na identificação e prevenção de casos relacionados à violação dos direitos sexuais e a violência sexual. Ou seja, faz-se necessário que tais profissionais tenham um conhecimento prévio sobre temas relacionados ao contexto da globalização, em que se manifesta a violência sexual contra crianças e adolescentes; uma noção básica e aprofundada sobre infância e adolescência; a sexualidade infanto-juvenil e; violência sexual e suas manifestações como abuso e como exploração; para que os mesmo possam atuar de forma mais efetiva no enfrentamento de tal realidade. (HAZEU, 2004).

56 2.1.1 Violência Sexual na Adolescência A preocupação com a violência sexual contra a criança e o adolescente, suas várias formas de apresentação e as estratégias para combatê-la, tem sido mais claramente identificadas neste século e no final do século passado, especialmente a partir dos anos 60 quando o tema dos Direitos Humanos (DH) e dos Direitos da Criança e do Adolescente passou a integrar a agenda internacional. Porém, embora seja um fenômeno muito estudado, é ainda pouco conhecido, já que se trata de um tema complexo devido á sua múltipla determinação. Em um primeiro momento, é importante salientar a ausência de referencial consistente que possa subsidiar este estudo, no que diz respeito à dificuldade em abordar a violência sexual entre meninos, principalmente quando se fala em uma fase peculiar do desenvolvimento como a adolescência, pois ainda há pouca experiência na abordagem e leitura sobre esta temática, uma vez que, sabese que a vitimização sexual recai principalmente sobre as meninas, porém, percebese cada vez mais a presença de meninos (adolescentes) entre as vítimas deste tipo de violência. De modo geral, a precarização de dados e referências é fato, em virtude dos crimes sexuais cometidos contra adolescentes estarem de certa forma, cercados por preconceitos, tabus e pelo silêncio, e, por esse motivo muitas vezes sequer são denunciados, motivo este, que dificulta a obtenção de números reais consolidados e detalhados sobre esse fenômeno, tanto no Brasil, quanto no mundo. No Brasil, a violência sexual contra crianças e adolescentes é uma prática presente em 937 municípios. De acordo com os dados da UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) no ano de 2005, a região Nordeste foi à região que mais concentrou casos identificados de crianças e adolescentes vítimas de abuso e exploração sexual, seguida da região Sudeste. Sendo que a região Norte foi à região que concentrou o menor número, chegando a 109 casos. Tais dados revelam a gravidade da problemática de violência sexual contra crianças e adolescentes, mais especificamente contra adolescentes. No Brasil, constata-se que essa prática está disseminada em todo o país, manifestandose tanto em cidades grandes, quanto em pequenos e médios municípios. Tendo em vista que se trata de um fenômeno complexo, que não está ligado somente à

57 pobreza e à miséria, mas também às questões culturais como o machismo, o preconceito racial e o uso do poder e da coerção. No Pará, segundo dados do PRÓ-PAZ Integrado, no ano de 2005 foram atendidos 811 casos de violência sexual contra crianças e adolescentes, sendo que 699 destes eram vítimas do sexo feminino e 112 do sexo masculino. Desse total, 520 casos, eram oriundos de Belém, 137 do município de Ananindeua, 22 de Barcarena, e os demais, 132 casos, eram oriundos de outros municípios do Estado, tais como, Santa Izabel do Pará, Abaetetuba, Acará e Breves. Sendo também importante salientar, que do total dos atendimentos, o perfil etário dos mais atendidos, segundo o PRÓ-PAZ Integrado, encontra-se nas idades de 12 (doze) a 17 (dezessete) anos, concentrando-se em 31% dos casos atendidos. Assim, os crimes de natureza sexual, cuja maioria é praticada contra crianças e adolescentes, vêm se multiplicando na esteira de banalização da violência. Muitos dos casos de abuso e violência contra menores, sequer são levados ao conhecimento da Polícia. Sendo em sua maioria, restrito ao ambiente familiar, assim, esses dramas encobertos pelo medo e pela vergonha podem esconder um quadro ainda mais assustador. Porém observa-se, que em uma mesma sociedade onde os adolescentes são vítimas da violência sexual, eles também podem ser identificados como agressores; lavando em consideração o fato deles já poderem ter sido vitimizados, bem como, as influências dos fatores situacionais ou patológicos. (KLOSINSKI, 2006). Assim, segundo Groth (1979, p1): O grupo de vítimas masculinas de abuso sexual pode ter um maior potencial de se tornar abusador quando adulto. Estudos recentes apóiam o argumento que traumas sexuais na infância sofridos por meninos podem influenciar negativamente mais tarde seu comportamento adulto. Nesse contexto, a pesquisa o Circuito e os Curtos-Circuitos do Enfrentamento do Abuso Sexual, financiada pelo convênio UNIFEM/MJ/SEDH/DCA, intitulada A promoção de Direitos de Mulheres jovens no Brasil Vulneráveis ao

58 Abuso Sexual e à Exploração Sexual Comercial, iniciada em Abril de 2001 e finalizada em Setembro de 2002, aponta os resultados das situações de abuso sexual cometidos por adolescentes. Nesta se pôde observar que a idade dos acusados nas situações pesquisadas corresponde à faixa etária de 13 (treze) a 17 (dezessete) anos, com maior freqüência aos 15 (quinze) anos (com um total de 50% de abusadores); sendo que, a faixa etária de suas vítimas é de 2 (dois) a 10 (dez) anos; porém um dado impressionante é a baixa idade da grande maioria das vítimas, ou seja, cinco em cada sete vítimas encontram-se na faixa etária de 2 (dois) a 6 (seis) anos de idade (com 71,4% dos casos). A relação entre os abusadores e as vítimas indica que se trata de abusos incestuosos 17 ; são, portanto, abusos sexuais cometidos na intimidade familiar e doméstica e não por desconhecidos das vítimas e de seus familiares. Ainda em relação à pesquisa, é importante destacar que em algumas situações, os abusos são múltiplos; em Goiânia, por exemplo, um tio adolescente cometeu tentativa de estupro, conjuntamente com o avô, contra uma criança de apenas 2 anos; e em Porto Alegre, um sobrinho adolescente e seu tio abusaram de duas crianças de 5 e 6 anos. Outro dado impressionante, se não preocupante, refere-se aos tipos de crime dos quais foram acusados os adolescentes abusadores, como por exemplo: estupros, que em alguns casos são praticados por irmão, e a tentativa de estupro (em 66,6% dos casos), o que revela casos de abusadores adolescentes muito violentos. Em síntese, a pesquisa vem demonstrar que nas situações pesquisadas, os abusos sexuais cometidos por adolescentes são, em sua maioria, extremamente abusivos, violentos e graves, pela baixa idade das vítimas, por serem incestuosos, alguns múltiplos, e por implicarem crimes muito graves, como estupros e tentativas de estupros. Contudo, independente dos adolescentes serem vítimas ou agressores, no Brasil, ainda se percebe a idéia de que os crimes de abuso sexual contra crianças e adolescentes não são punidos em sua maioria, ou seja, a sociedade brasileira ainda compreende esta questão sob conceitos velados, fato que contribui 17 Desse modo, é classificado como incesto, por exemplo, todo tipo de abuso sexual de uma criança do sexo feminino / uma adolescente por pai, pai adotivo, padrasto, irmão, avô, namorado. (FELIZARDO, Dilma. De medo e sombra: abuso sexual / Dilma Felizardo, Eliane Silva, Keilla Melo Natal: A.S. Editores, 2003).

59 para o aumento da resistência a denúncia dessas situações, e paralelamente o aumento da tolerância em relação a sua problemática. Este sentimento generalizado de impunidade na sociedade brasileira explica, em parte, a concepção corrente de que a resolubilidade das situações de abuso sexual se confunde e se esgota com a prisão dos acusados, ou seja, que é importante, acima de tudo, responder com a repressão à impunidade existente no Brasil. (FALEIROS e FALEIROS, 2001, P23). Entretanto, como forma de enfrentamento à resistência e a tolerância às denúncias de violência sexual contra adolescentes, deve-se entender que as práticas sexuais podem aparentemente ter semelhanças, contudo, o contexto é quem determina a intencionalidade e as conseqüências para os envolvidos, a exemplo, um beijo entre uma adolescente e um homem pode ser um ato de amor entre namorados ou uma violência sexual entre um tio e sua sobrinha; a gravidez de uma adolescente pode ser a conseqüência de uma relação e/ou falta de informação ou resultado de um estupro. (HAZEU, 2004). Dessa forma, sabe-se que as marcas psíquicas do abuso sexual são profundas e a imagem corporal torna-se dilacerada. Porém, visões alarmistas e fatalistas que tendem a exagerar as conseqüências do abuso sexual não ajudam as crianças e/ou adolescentes a superarem essa experiência negativa. Para tanto, foi-se desenvolvido alguns indicadores com o objetivo de auxiliar na identificação de situações de violência sexual contra crianças e adolescentes, conforme apresentados no Guia Escolar. (IPPOLITA, 2003 apud HAZEU, 2004). O mesmo apresenta alguns sinais-manifestos por crianças e/ou adolescentes em decorrência da violência sexual, que devem ser atentamente observados pelos pais, responsáveis, familiares, educadores e todos demais profissionais que lidam com a temática da infância e adolescência. Dentre tais sinais que devem ser minuciosamente observados destacam-se:

60 Os Sinais Físicos tais como: enfermidades psicossomáticas, as quais são uma série de problemas de saúde sem aparente causa clínica, tais como, dor de cabeça, erupções na pele, vômitos e outras dificuldades digestivas, que têm, na realidade, fundo psicológico e emocional; doenças sexualmente transmissíveis (DSTs, incluindo AIDS) diagnosticadas através de coceira na área genital, infecções urinárias, ou odor vaginal, corrimentos ou outras secreções vaginais e penianas e cólicas intestinais; dificuldade de engolir devido à inflamação causada por gonorréia na garganta (amídalas) ou reflexo de engasgo hiperativo e vômitos (por sexo oral); dor, inchaço, lesão ou sangramento nas áreas da vagina ou ânus a ponto de causar, inclusive, dificuldade de caminhar e sentar; canal vaginal alargado, hímen rompido e pênis ou reto edemaciado ou hiperemaciados; baixo controle dos esfíncteres, constipação ou incontinência fecal; sêmen na boca, nos genitais ou na roupa; roupas íntimas rasgadas ou manchadas de sangue; gravidez precoce ou aborto; ganho ou perda de peso, visando evitar provocar atratividade para o agressor e; trauma físico ou lesão corporal, decorrente da violência física. Sinais Comportamentais como: medo ou mesmo pânico ou sentimento generalizado de desagrado quando a vítima é deixada sozinha em algum lugar com alguém; medo do escuro ou de lugares fechados; mudanças extremas, súbitas e inexplicáveis no comportamento, tais como, oscilações de humor entre retraída e extrovertida; mal-estar pela sensação de modificação do corpo e confusão de idade; regressão a comportamentos infantis, tais como, choro excessivo sem causa aparente, enurese, chupar dedos; tristeza, abatimento profundo ou depressão crônica; fraco controle de impulsos e comportamento autodestrutivo ou suicida; baixo nível de estima própria e excessiva preocupação em agradar os outros; vergonha excessiva, inclusive de mudar a roupa na frente de outras pessoas; culpa e autoflagelação; ansiedade generalizada, comportamento tenso, sempre em estado de alerta, fadiga; comportamento destrutivo, agressivo, raivoso, principalmente dirigido contra irmãos e um dos pais não incestuosos; alguns podem ter transtornos dissociativos na forma de personalidade múltipla. Sinais no Comportamento Sexual como: interesse ou conhecimento súbito e não usuais sobre questões sexuais; expressão de afeto sensualizado ou mesmo certo grau de promoções eróticas, inapropriado para uma criança; desenvolvimento de brincadeiras sexuais persistentes com amigos, animais e brinquedos; masturbarse compulsivamente; relato de avanços sexuais por parentes, responsáveis ou

61 outros adultos e; desenhar órgãos genitais com detalhes e características, além de sua capacidade etária. Mudanças nos Hábitos, Cuidados Corporais e Higiênicos como: abandono de comportamento infantil, dos laços afetivos, dos antigos hábitos lúdicos, das fantasias, ainda que temporariamente; mudanças de habito alimentar, perda de apetite (anorexia) ou excesso de alimentação (obesidade); padrão de sono perturbado por pesadelos freqüentes, agitação noturna, gritos, suores, provocado pelo terror de adormecer e sofrer abuso; aparência descuidada e suja pela relutância em trocar de roupa; resistência em participar de atividades físicas; freqüentes fugas de casa; prática de delitos; envolvimento em prostituição infanto-juvenil e; o uso e abuso de substância como álcool, drogas lícitas e ilícitas. Mudanças na Freqüência e Desempenho Escolar como: assiduidade e pontualidade exageradas, quando ainda freqüenta a escola (chegando cedo e saindo tarde da escola, demonstrando pouco interesse ou mesmo resistência em voltar para casa após a aula); queda injustificada na freqüência escolar; dificuldade em concentração e aprendizagem resultando em baixo rendimento escolar e; a não participação ou pouca participação nas atividades escolares. Mudanças no relacionamento social: tendência ao isolamento social com poucas relações com colegas e companheiros; relacionamento entre crianças e/ou adolescentes e adultos com ares de segredo e exclusão dos demais; dificuldade em confiar nas pessoas em sua volta e; a fuga de contato físico. Contudo, conclui-se que todas as situações que violam a integridade sexual de crianças e adolescentes devem ser observadas, como a gravidez precoce, doenças sexualmente transmissíveis, abortos ilegais, e contaminação por HIV/AIDS, pois se deve considerar a (co) responsabilidade dos pais, da sociedade e dos governos, uma vez que, a ocorrência dessas situações muitas vezes tem sua origem na falta de informação, proteção, orientação; além de configurarem-se como conseqüências do abuso ou da exploração sexual, o que vulnerabiliza crianças e adolescentes ao exercício de sua sexualidade de forma altamente arriscada e irresponsável.

62 2.1.2 Violência sexual contra meninos adolescentes Nos últimos anos, as questões de abuso sexual de crianças e adolescentes têm sido focalizadas com mais atenção. A maioria dos profissionais tem concentrado seu esforço no tratamento de meninas, em espacial, as vítimas do incesto pai-filha. Sob vários aspectos esta abordagem parece lógica, pois a maioria dos casos de abuso sexual de criança e adolescentes envolvem um adulto ou adolescente do sexo masculino que abusa de uma menina ou de uma adolescente. No entanto, esforços similares devem ser feitos para identificar, da mesma forma, menores do sexo masculino que também são vítimas de abuso sexual. Portanto, a necessidade de desenvolver meios, além dos já apresentados, para identificar as vítimas de abuso sexual do sexo masculino, baseia-se também na suspeita bem fundamentada, de que muito mais crianças e adolescentes são abusadas sexualmente do que revelam os relatórios e documentos apresentados pelos veículos de comunicação. Finkelhor (1984), ao comparar cinco estudos que incluem dados sobre a prevalência de abuso sexual entre rapazes, demonstrou que, entre crianças e préadolescentes masculinos menores de treze anos ou que ainda não atingiram a puberdade, a taxa de abuso sexual deve ser em torno de 3,5 % e 5 %, isto é, aproximadamente a vitimizações podem ocorrer a cada ano. Assim, o Centro Contra o Abuso e a Negligência Para com a Criança (NCCAN) estimava que em 1979 aproximadamente casos de rapazes sexualmente abusados eram do conhecimento de profissionais. Dessa forma, fica evidente que o abuso sexual cometido contra meninos é menos relatado do que o cometido contra meninas. Isso por que, os levantamentos gerais tendem a mostrar taxas menores de abuso sexual masculino do que os estudos clínicos, o que aponta para o fato de que o abuso sexual contra meninos não está recebendo a mesma atenção pública, na mesma amplitude, que o abuso sexual contra meninas. Nessa perspectiva, entende-se que a identificação e o tratamento precoce dos meninos vitimizados pelo abuso sexual pode ser uma esperança para as potenciais vítimas femininas, assim como, para as vítimas masculinas. Dessa forma, partindo do pressuposto de que as vítimas masculinas de abuso sexual podem ter um maior potencial de se tornar abusador quando adulto. Para Nicholas

63 Groth e Ann Burgess (1979) apud Sebold (1987), 32 % de 106 agressores sexuais de crianças, declararam ter experienciado algum tipo de trauma sexual na infância. Todavia, parece, à primeira vista, que o abuso sexual na infância é um fator que pode levar as vítimas a se tornarem abusadores quando adolescentes ou adultos. Estudos demonstram que as vítimas de abuso sexual do sexo masculino poderão beneficiar-se com um tratamento precoce, particularmente se o tratamento antecede a formação do ciclo vítima - vítima/abusador. Quando a vítima se converte em vítima/repetidor o processo de tratamento se torna muito mais complicado e prolongado, provavelmente com menos resultados positivos. De certa forma, todo esse contexto contribui com que as razões para a subnotificação, talvez, nunca sejam completamente entendidas. Autores como, Blair e Rita Justice (1979), Finkelhor (1984), Faye Knopp (1982) e, Deisher (1982), apud, Sebold (1987); percebem que a vergonha e o estigma social associados à homossexualidade 18, incesto e abuso da criança, contribuem para os problemas de não notificação dos abusos. Acrescentam que os rapazes crescem com o valor masculino de autoconfiança e que os mesmos receiam mais do que as meninas a perda de liberdade e independência caso o abuso se torne público. Também ressaltam que as vítimas receiam prejudicar sua reputação entre os companheiros, além de temerem a represália por parte do abusador, tornando evidente que tais fatores possuem papel importante na problemática de subnotificação dos casos de abuso sexual. Sebold (1987), com a preocupação de definir indicadores significativos de abuso sexual contra indivíduos menores de idade do sexo masculino, entrevistou vinte e dois terapeutas, que já haviam avaliado ou tratado numerosas vítimas deste tipo de abuso; como forma de subsidiar seus estudos sobre os indicadores. Assim, a identificação de adolescentes vítimas de abuso sexual deve ser encarada como uma prioridade, caso contrário, pode-se perder a oportunidade de ajudar os adolescentes que se encontram nessas condições de violação de direitos. Nessa perspectiva, como forma de auxiliar a identificação de meninos adolescentes vítimas de violência sexual, Sebold (1987), desenvolveu nove indicadores, os quais foram idealizados e dispostos em categorias aleatórias. 18 A Homossexualidade é o atributo, a característica ou a qualidade de um ser humano ou não que é homossexual (grego homos = igual + latim sexus = sexo) e, lato sensu, define-se por atração física, emocional, estética e espiritual entre seres do mesmo sexo. Disponível em:

64 Nesse contexto, torna-se pertinente um breve estudo sobre tais indicadores, como forma de instrumentalização dos atores que lidam com a questão da infância e adolescência, e principalmente os profissionais que dedicam suas atividades laborais a meninos adolescentes, especialmente, aos adolescentes em cumprimento de MSE de Internação, os quais, direta ou indiretamente são mais propícios a situações de violência sexual. Assim, dos nove indicadores apresentados por Sebold (1987), todos merecem total atenção, podendo ser mais bem observados a seguir: 1 - As preocupações homossexuais. Talvez o indicador mais dramático da possível ocorrência de um abuso em um adolescente masculino esteja na presença de preocupações de ordem homofóbicas 19. Para o autor, estas preocupações são mais freqüentemente evidentes, na interação entre pares, nas quais o adolescente masculino se vê repetidamente envolvido em alterações verbais, e algumas vezes físicas, girando em torno da questão das preferências sexuais dos meninos que sofreram abuso sexual ou da preferência sexual dos colegas. Assim, um menino sexualmente abusado gasta muito tempo tentando ansiosamente convencer seus colegas de que não é gay; em muitos casos ele tenta ridicularizar outros para alcançar este fim. Ele chateia as mulheres e não pode tolerar o afeminado ou o comportamento diferenciado de outros. Ironicamente, este comportamento serve para chamar atenção e para que os outros o investiguem, o que geralmente leva a uma falsa atração e a dificuldades com os colegas. Nesse contexto, preocupações homofóbicas aparecem com freqüência nas conversas com adultos, nas quais os adolescentes que sofreram abuso sexual falam abertamente sobre seu desejo de se envolver com mulheres. E se os adultos não impõem cortes e limites, os adolescentes muitas vezes expressam graficamente o ato sexual desejado. Para tanto, os adolescentes sexualmente abusados afastam-se e dissociam sua imagem da de qualquer um que ele perceba como estranho ou com inclinações homossexuais. Assim sendo, a masturbação é muitas vezes vista como um ato homossexual e sua discussão é considerada repulsiva. Apesar de que a criança 19 A homofobia (homo = igual, fobia = do Grego φόβος "medo"), é um termo utilizado para identificar o ódio, aversão ou a discriminação de uma pessoa contra homossexuais ou homossexualidade, ou genericamente de modo pejorativo, qualquer expressão de crítica ou questionamento ao comportamento homossexual. Disponivel em:

65 e/ou adolescente possa se masturbar, ele (a) negará enfaticamente tal comportamento e continuará a demonstrar repulsa até mesmo ante o pensamento desta prática. Contudo, quando a questão do abuso sexual é tratada com estes adolescentes eles muitas vezes se colocam de maneira fria e rígida. Sua respiração torna-se alterada e seus membros rígidos. Geralmente este indicador é mais evidente em adolescentes que ouviram comentários negativos sobre relações homossexuais. Se o adolescente que sofreu abuso está na idade em que a aceitação dos colegas é muito importante para ele, e seus colegas fazem comentários marcadamente negativos sobre homossexualismo, sua homofobia pode ser mais pronunciada. 2 - O comportamento agressivo e controlador. Para o autor, os comportamentos agressivos e controlador podem resultar do conflito gerado por preocupações homofóbicas ou podem ser independentes destas. Em um ou outro caso, questões de controle e poder são freqüentemente significativas. As vítimas masculinas de abuso sexual podem ter comportamentos violentos a fim de se assegurarem de que podem se prevenir contra possíveis investidas sexuais, no futuro, em seu meio. Ironicamente, muitas vítimas masculinas do abuso sexual percebem-se como fisicamente pequenas e virtualmente desprotegidas, embora elas possam ser maiores que as pessoas do seu meio. Elas tendem a se ver como vulneráveis para atacar e tornam-se ansiosas quando se encontram em ambientes pequenos e fechados. Muitos terapeutas observam que estes adolescentes necessitam de mais espaço físico durante as conversas ocasionais e que o toque tende a lhes provocar uma rígida e inconfortável resposta física. Infelizmente, a habilidade do adolescente que sofre abuso sexual para intimidar ou dominar outra pessoa (adolescente), usualmente mulheres e crianças pequenas, pode lhe dar um sentimento temporário de poder e de controle. O sentimento de poder e controle podem, em contrapartida, fortalecer este comportamento e levá-lo mais tarde a agressões mais graves, incluindo o assédio e o abuso sexual. Alguns terapeutas percebem este ciclo de agressão semelhante a um processo de dependência compulsiva no qual a vítima masculina "dispara uma carga" de poder e controle somente para tornar-se mais depressivo, necessitando eventualmente de uma dose de agressão a fim de sentir-se capaz e com controle.

66 3 - O comportamento infantil. Embora a vítima masculina do abuso sexual possa apresentar-se como desafiadora e capaz de agressão, contraditoriamente a maioria dos terapeutas observou sua tendência a demonstrar numerosos comportamentos infantis. As pesquisas demonstram fala infantil e padrões de brincadeiras infantis e descrevem com insistência que os adolescentes mais velhos que sofreram abuso sexual se relacionam com crianças mais novas e que só interagem com companheiros de idade adequada quando são dirigidos a fazê-lo. As interações com colegas da mesma idade são marcadas por ansiedade crescente e um comportamento de evitação (avoidance behavior), o que contrasta com as vítimas mulheres que tendem a manter interações com colegas mais velhas. 4 - O comportamento fóbico/paranóide. Para Sebold (1987), estas preocupações paranóicas estão algumas vezes associadas a preocupações homossexuais e envolvem especificamente os aborrecimentos relacionados ao abuso que foi descoberto e à repetição do abuso. A vítima masculina de abuso sexual torna-se hipersensível aos sinais do ambiente que ela percebe como indicação de que existe uma ameaça. Por esta razão manifesta medo em muitas das interações do dia-a-dia. Estes medos são normalmente evidenciados em situações, nas quais, um adulto fala em voz ligeiramente elevada e, contrafobicamente, a criança e/ou adolescente assume a posição de "você não pode me fazer" ou "você não pode me forçar". A reação a "forçar" é, às vezes, intensificada, quando o adulto tenta tocar a criança e/ou adolescente ou eleva sua voz. Uma seqüência similar de medo intenso e paranóia pode seguir-se quando a criança e/ou adolescente vitimizada for flagrada no que se considera uma simples desobediência. Por exemplo, ao ser pego conversando em classe ela pode negar enfaticamente este comportamento, ao mesmo tempo em que demonstra temer as piores conseqüências. Nestas ocasiões parece que a criança e/ou adolescente simplesmente não pode tolerar a culpa associada ao fato de ter sido flagrada. 5 - A Linguagem e os comportamentos sexuais. Segundo o autor, preocupações com pensamentos sexuais, linguagem sexual e comportamentos sexuais podem ser os mais fortes indicadores da ocorrência de abuso sexual. Tendo em vista que, especialmente os adolescentes do

67 sexo masculino masturbam-se publicamente ou expressam excessiva preocupação com a masturbação. Outros possíveis indicadores são: a dificuldade de concentração, a ansiedade que se torna mais intensa no decorrer do dia e problemas com o sono. Em razão da obsessão que têm as crianças e/ou adolescentes sexualmente abusadas, por questões de segurança e de agressões sexuais, elas usam muitas vezes, ansiosamente, uma linguagem sexualmente carregada. A vítima masculina de abuso sexual enfatizará em dados momentos certas palavras, ou seja, a partir de uma afirmação, usá-la para sugerir um conteúdo sexual. Por exemplo, uma vítima masculina pode perguntar: "Você vem a minha festa?" sublinhando a palavra vem, ou, à mesma poderá dizer: "Por favor, passe o creme" destacando a palavra creme e sorrindo ansiosamente. 6 - Os sonhos. Alguns terapeutas chamam atenção para o conteúdo dos sonhos das crianças e/ou adolescentes vitimizadas, nos quais há tendência a estarem presentes em situações em que são caçadas, punidas ou isoladas. A maioria dos temas desses sonhos são amplamente relacionados aos medos de serem controladas por uma pessoa maior, mais rápida e poderosa. As crianças e/ou adolescentes mais jovens, sexualmente abusadas, têm freqüentemente sonhos que são concretos e subliminares, fixados em objetos e eventos particulares, tais como serpentes ou abelhas entrando e saindo de buracos. 7 - As modificações no corpo e na imagem. Para Sebold (1987), é também observada em vítimas masculinas de abuso sexual, a ansiedade com o corpo e com as modificações das funções corporais; isso porque, o abuso sexual afeta enormemente a auto-percepção da vítima. A maioria dos terapeutas relata que os adolescentes abusados tendem tanto a se manterem bem cuidados e limpos, quanto a se mostrarem despreocupados com sua aparência. A experiência deste autor ressalta a tendência dos vitimizados a se tornarem depressivos, e uma vez tendo escapado da situação abusiva se tornar compulsivos com sua aparência. Os adolescentes vítimas do abuso sexual que permanecem depressivos por um longo período, mesmo depois do afastamento dos riscos imediatos de futuros abusos, constituem exceção. Estes parecem adotar uma

68 aparência desleixada como forma de tentar diminuir sua atração a seus possíveis abusadores. Alguns terapeutas também se reportam às modificações concretas nas funções corporais. Estas modificações tendem a ser mais comuns entre as crianças e/ou adolescentes, mais novas, incluindo problemas tais como a incontinência urinária (enurese) e a incontinência fecal (encoprese). A enurese em si mesma não é o melhor indicador de abuso sexual, visto que a mesma ocorre em muitas crianças e/ou adolescentes por uma variedade de razões. Entretanto, quando a incontinência urinária está associada à intensa ansiedade e ocorre associada a outros indicadores aqui mencionados, pode ser considerado um indício de abuso sexual. Muitos terapeutas percebem que a incontinência fecal pode ser um adequado e forte indicador de abuso sexual e poderá indicar especialmente a ocorrência de intercurso anal com menino adolescente. Estudos também demonstram que as vítimas de abuso sexual do sexo masculino tendem a ter numerosas queixas físicas. Estas queixas tendem a ser não específicas e relacionadas aos membros, muitas vezes ao peito, cabeça e abdome. Mesmo depois que as vítimas de abuso sexual são identificadas e o tratamento iniciado, elas continuam a apresentar queixas de ordem física. Com a continuidade do tratamento a diminuição de queixas físicas pode indicar o progresso do funcionamento psicológico da grande maioria dos vitimizados. 8 - Os indicadores sociais e familiares. As contribuições deste autor revelam que um dos mais evidentes indicadores familiares de meninos haver sofrido abuso sexual, está no fato de outras crianças e/ou adolescentes da casa também terem sido violadas. Portanto, os meninos não deveriam ser excluídos das investigações de abuso sexual, seja por serem considerados como alvo secundário de abusos sexuais ou porque a investigação inicial não acusa que os meninos sofreram abuso. Tal fato merece mais atenção, tendo em vista, que o abusador pode achar inicialmente mais fácil revelar que abusou de uma menina do que de um menino. Por outro lado, o vitimizado pode também sentir-se inseguro para revelar o abuso, por causa do seu próprio constrangimento ou por julgar que o abusador poderia ser altamente ameaçador face à sua revelação. Contudo, na condução de grupos de abusadores, eles estão freqüentemente querendo revelar e falar sobre seus envolvimentos com as meninas. Assim, os responsáveis pela apuração do

69 fato, deveriam considerar cuidadosamente a possibilidade de que os meninos também foram abusados quando as meninas da casa foram vitimizadas. Outro forte indicador familiar de que um menino possa ter sido abusado sexualmente é, com freqüência, quando um de seus pais ou parentes sofreu abuso sexual. Esta informação só é muitas vezes obtida quando as pessoas são diretamente interrogadas a este respeito. Revelações desta natureza permitem ao abusador falar mais facilmente sobre seu papel de abusador sexual. Visto que o abuso sexual afeta enormemente a habilidade de uma criança e/ou adolescente para desenvolver a confiança e a intimidade, o insucesso de uma criança e/ou adolescente em alcançá-las, em si própria e por si mesma, é um indicador de abuso sexual. Nas crianças e/ou adolescentes afastadas do lar e de sua família, este indicador evidencia a repetição do insucesso no lar adotivo, grupo ou locais de internamento para tratamento. Talvez este indicador não seja observado com freqüência porque a criança parece estar continuamente infeliz e o profissional de ajuda se envolve com comportamentos imediatos mais do que em suas possíveis implicações. Um indicador, um tanto obscuro, de que um abuso sexual possa ter acontecido está na ocorrência de suicídios inexplicável ou tentativa de suicídio em membros da família. Um suicídio ou a tentativa de suicídio inexplicado, indica que a vítima ou um membro da família não podem suportar que a pessoa com a qual estão intimamente envolvidos é um abusador. Ou, um abusador pode tentar suicídio como uma forma de expressar seu sentimento de impotência, isso porque, possibilita ao mesmo exprimir seu arrependimento e angústia de modo convincente. 9 - O Comportamento incendiário. Um último e de certo modo dramático indicador de um possível abuso sexual, é o comportamento incendiário. Alguns terapeutas acreditam que este comportamento é mais prevalente quando o abusador é uma mulher; sendo importante destacar que poucas são as vítimas femininas que manifestam esse tipo de comportamento. Entretanto, existem muitas explicações possíveis pelas quais, tocar fogo, estaria associado ao abuso sexual. Porque talvez este comportamento seja uma maneira dramática do menino pedir ajuda sem ter que mostrar diretamente a existência do problema.

70 Nessa perspectiva, torna-se imprescindível a utilização de tais indicadores, como forma de apoderamento de instrumentais, dos quais muitos profissionais deveriam estar atentos ou fazendo uso, como forma de identificação, notificação e encaminhamento dos casos de abusos sexuais contra meninos adolescentes. Contudo, faz-se igualmente necessário ressaltar, que casos como esses de violência sexual contra adolescentes, não são restritos apenas ao ambiente familiar, fazendo-se também presente, em instituições as quais, deveriam velar pela integridade e pela garantia dos direitos sexuais dos mesmos, enquanto pessoa dotada de direitos (Proteção Integral), em condição peculiar de desenvolvimento. 2.2 Violência sexual institucional A violência sexual contra crianças e adolescentes, mais especificamente contra adolescentes, é uma questão que vem assolando a sociedade brasileira como um todo, no entanto, só surpreendem-se e aterrorizam-se, quando este tipo de violência ocorre dentro do vínculo familiar, esquecendo-se muitas vezes, das demais categorias de violência sexual, tal qual a violência expressa pelo Poder Público, a violência institucional e a violência sexual institucional, a qual vem intensificando-se assustadoramente e muita das vezes fora do alcance da visão da sociedade civil. Estudos demonstram a existência de várias formas de violência cometidas pelo Poder Público. Destaca-se a violência policial, dos serviços públicos e especialmente a violência institucional 20. Considera-se para todos os efeitos que o termo institucional, refere-se às instituições gerenciadas pelo Poder Público (municipal, estadual e federal) e aquelas que foram delegadas pelo mesmo as organizações da sociedade civil e os estabelecimentos sociais. Em outras palavras, as instituições referem-se, [...] no sentido diário do termo, - a locais tais 20 A violência institucional é aquela praticada, por ação e/ou omissão, nas instituições prestadoras de serviços públicos tais como hospitais, postos de saúde, escolas, delegacias, judiciário, dentre outras. É perpetrada por agentes que deveriam garantir uma atenção humanizada, preventiva e reparadora de danos. A eliminação da violência institucional requer um grande esforço de todos nós, em sua grande maioria, acontece em nossas práticas cotidianas com a população usuária dos serviços. (TAQUETTE, 2007).

71 como salas, conjunto de salas, edifícios e fabricas em que ocorrem atividades de determinado tipo. (GOFFMAN, 2005, p15). Contudo, antes mesmo de estabelecer uma discussão acerca da violência sexual institucional (ocorridas no interior de instituições), faz-se necessário compreender, breve e sucintamente, as perenes e peculiares características das referidas instituições totais. Para Goffman (2005), as instituições totais de nossa sociedade podem ser de grosso modo, enumeradas em cinco agrupamentos. Em primeiro lugar, há instituições criadas para cuidar de pessoas que, segundo se pensa, são incapazes e inofensivas; nesse caso estão as casas para cegos, velhos, órfãos e indigentes. Em segundo lugar, há locais estabelecidos para cuidar de pessoas consideradas incapazes de cuidar de si mesmas e que são também uma ameaça à comunidade, embora de maneira não-intencional; como por exemplo: sanatórios para tuberculosos, hospitais para doentes mentais e leprosários. Em terceiro lugar, existe outro tipo de instituição total a qual é organizada para proteger a comunidade contra perigos intencionais, e o bem-estar das pessoas assim isoladas não constitui o problema imediato: cadeias, penitenciárias, campos de prisioneiros de guerra, campos de concentração. Em quarto lugar, há instituições estabelecidas com a intenção de realizar de modo mais adequado alguma tarefa de trabalho, e que se justificam apenas através de tais fundamentos instrumentais: quartéis, navios, escolas internas, campos de trabalho, colônias e grandes mansões (do ponto de vista dos que vivem nas moradias como empregados). Finalmente, há os estabelecimentos destinados a servir de refúgio do mundo, embora muitas vezes sirvam também como locais de instrução para os religiosos; entre exemplos de tais instituições, é possível citar abadias, mosteiros, conventos e outros claustros. Nessa perspectiva, a partir da discussão estabelecida sobre as características das instituições totais, torna-se mais acessível o entendimento da realidade de algumas instituições que se fazem presentes em nossa sociedade, que lidam com a questão da infância e adolescência, tais como, as instituições de MSE. Na área da infância e da juventude, há instituições voltadas para a questão do abrigamento e do internamento sendo que, este último, trata dos adolescentes que transgridem a lei, como por exemplo, as UMSE de internação e semiliberdade, havendo também, outras instituições onde são aplicadas MSE

72 diferenciadas, tais como, a liberdade assistida e prestação de serviços à comunidade. Já os abrigos são as organizações que recebem o maior número de crianças e adolescentes precedentes de processos de destituição de pátrio poder ou de suspensão da guarda dos pais e/ou responsáveis. Grande parte dessas crianças e adolescentes é órfã ou sofreu negligência, abandono, violência física, psicológica e sexual. A tutela das crianças e/ou adolescentes fica provisoriamente vinculada ao Poder Judiciário, que por sua vez, conta com os abrigos para salvaguardá-los. Nesse contexto, é comum a reprodução das relações de poder e dominação existente na sociedade nessas instituições, havendo casos de violência física, psíquica, moral e sexual. O sistema de silêncio era obrigatório. Era proibido falar fora das celas, nas refeições ou no trabalho. Na cela eram proibidas as figuras. Os olhares durante as refeições eram proibidos. As cascas de pão só podiam ser deixadas no lado esquerdo do prato. Os internados eram obrigados a ficar em posição de sentido com o gorro na mão, até que o oficial, o visitante ou o guarda se afastassem. (GADDIS, 1958 apud GOFFMAN, 2005). Assim, entende-se que o alto índice de violência decorre dessas práticas já instituídas através de normas, regras e valores que se repetem sistematicamente no interior dessas organizações, através do uso do poder como forma de controle. A violência sexual aparece não como uma atividade de prazer, mas como uma atividade do poder instituído, que submete a vítima aos caprichos daqueles que detém o poder. Isso ocorre nas relações entre as próprias crianças e/ou adolescentes, ou nas relações entre crianças/adolescentes e monitores ou entre outros profissionais do abrigo. Assim sendo, apesar da fuga ser um indicador de abuso sexual contra meninos adolescentes institucionalizados, os mesmos na maioria das vezes não fogem. Isso porque, segundo Sebold (1987), uma das possíveis razões pelas quais os adolescentes não infligem fuga, é o fato dos meninos terem tendência a permanecer em situações abusivas; uma vez que, são socializados para serem leais dignos de confiança, bravos, corajosos e independentes. Resumidamente, o sexo masculino é ensinado a tolerar situações de dor e não pedir ou procurar ajuda externa. Além disso, se o menino foge, para onde vai? As adolescentes são

73 convidadas, por várias pessoas, inclusive cafetões e pessoas abusadoras, para serem protegidas e alojadas. Elas são também mais prontamente ajudadas por outras pessoas. Já os meninos devem esperar muito até que alguém queira ajudálos. Eles são vistos como mais ameaçadores para as pessoas que podem ajudá-los e menos atraentes para muitos daqueles que poderiam usá-los. Estes fatores podem desencorajá-los a fugir, inibindo este comportamento uma vez iniciado. Nas grandes cidades onde existe prostituição organizada de homens jovens, a fuga pode ser um comportamento comum associado ao abuso sexual. Dessa forma, pesquisas recentes, desenvolvidas no SSE, revelam que o principal fator da relação de abuso sexual é a abstinência sexual, pois a maioria dos adolescentes já possui uma vida sexual ativa antes mesmo de chegarem à instituição. Somando-se a esse fator, a ausência de atividade sexual que também é um desencadeador de vários fatores. Sendo importante salientar que se tratando de adolescentes privados de liberdade, a visita íntima é um dos aspectos mais críticos das Unidades de Internação. Segundo dados da pesquisa 21 que mostra a realidade dos adolescentes e jovens brasileiros que cumprem MSE de internação realizada pelo Governo Federal em 2002, apenas 3,4% das instituições contam com espaço para encontros íntimos e o número de centros que distribuem preservativos é de apenas 22,6%. Mesmo adolescentes que têm filhos e mantêm uma relação considerada estável, iniciada antes da internação, não vêem reconhecido o direito de receber a parceira ou parceiro para encontros íntimos. A negação da vida sexual e o desrespeito à dignidade dos adolescentes ficam evidentes em relatórios e documentos que fazem parte do acervo oficial dos próprios governos. A grande maioria desses adolescentes foram privados não só da liberdade, mas de políticas eficazes de reinserção social, ao contrário do que define o Estatuto da Criança e do Adolescente. "Os jovens internos estão privados do 21 O levantamento foi realizado por um Grupo de Trabalho composto por representantes dos ministérios da Saúde e da Justiça (ao qual estava então ligada a Secretaria de Direitos Humanos), CONANDA (Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente) e FONACRIAD (Fórum Nacional de Dirigentes Governamentais de Entidades Executoras da Política de Promoção e Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente). O documento objetivava subsidiar a elaboração de uma política púbica de atenção à saúde desses adolescentes com alcance nacional.

74 direito de ir e vir, mas não do direito à integridade. A maioria dos centros de internação não é capaz de garanti-la. (COSTA, ). Assim sendo, é importante salientar, no que se refere à questão da relação de poder e a formação de lideranças, nessas referidas instituições, deve-se trabalhar de forma a redirecionar essa liderança para alguma atividade benéfica (como por exemplo: quando perceber-se algum adolescente com essas características de liderança, deve-se trabalha-lo para ser líder de alguma atividade de capacitação dos demais adolescentes, tais como, artesanato e pintura). Neste contexto, existem vários fatores que podem ser referenciados para a modificação ou amenização dessa realidade. Dessa forma, um dos fatores de importância a ser mencionado, é a abordagem de temas referentes à problemática, tais como: educação sexual; direitos humanos, sexuais e reprodutivos; e saúde sexual, como forma de prevenção da violência sexual. Onde ações são orientadas para estimular e promover mudanças de atitudes. Estas mudanças devem se refletir na adoção de práticas de prevenção e auto-cuidado frente à violência sexual, na identificação das situações de risco, assistência adequada e proteção judicial, que garantam atenção integral e proteção dos direitos humanos das vítimas. Contudo, para abordar essa temática com os adolescentes, é necessário utilizar metodologias participativas com intuito de conhecer e compartilhar conhecimentos, crenças, valores e conceitos, que tanto favorecem quanto obstacularizam a vivência da sexualidade e da reprodução de forma livre e responsável, saudável e sem riscos; propiciando a construção coletiva de novos conhecimentos e novas significações sócio-culturais; promovendo o compromisso das pessoas para transformar a realidade social e institucional, no que diz respeito à convivência sexual e à atenção de qualidade às vítimas. As atividades devem contribuir para a reflexão e transformação da vida pessoal e social, com base em comportamentos, sentimentos e valores humanos como a autonomia e a dignidade. Porém, apesar da existência de toda uma equipe de profissionais nessas instituições que lidam com a temática da infância e adolescência, a atuação dos 22 Nos dias 25 e 26 de Fevereiro de 2008, foi realizado no auditório da Computer Holl que se localiza na Rua Antônio Barreto, nº entre Alcindo Cancela e Nove de Janeiro; o Seminário Parâmetros Teórico-Metodológocos para a Ação Socioeducativa, que fora idealizado como marco inicial para o desenvolvimento do Projeto de Formação Continuada dos profissionais da Fundação da Criança e do Adolescente do Pará FUNCAP. Projeto este que visa à implantação de uma nova cultura técnica e política de gestar as ações do atendimento socioeducativo a partir de princípios éticos, democráticos e de respeito aos Direitos Humanos, fundamentados nos parâmetros do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo SINASE.

75 mesmos acontece com muitas dificuldades, devida á falta de alguns instrumentais, recursos metodológicos e estruturais que possam melhorar a qualidade dos atendimentos. Infelizmente essa é a dura realidade de muitas instituições públicas, como a FUNCAP, que é composta por uma equipe multiprofissional, na qual o assistente social assume importante função na implementação das MSE e de proteção especial aos custodiados; assim como os monitores (socioeducadores), que são os verdadeiros conhecedores da realidade desses adolescentes, uma vez que, eles acompanham os mesmos no desenvolvimento de suas atividades diárias, desempenhando imprescindível função de educador. No entanto, a equipe técnica e a monitoria (socioeducadores) ao desenvolverem suas atividades pedagógicas estão agindo, ou pelo menos deveriam agir, de forma tecnicamente correta em suas profissões. Entretanto apenas isso não é suficiente. É preciso que os mesmos façam pra além das suas obrigações; que desenvolvam atividades que ao serem descobertas e prestigiadas, não se saiba quem as fez; e sim, que há uma equipe de profissionais comprometidos e preocupados, não somente com seus deveres profissionais e sim com os objetivos da instituição, com um comprometimento ético e com os interesses de seus usuários (socioeducandos).

76 3 A REALIDADE QUE ENVOLVE A MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO NA FUNCAP 3.1 As Medidas Socioeducativas e a FUNCAP As MSEs propostas pela legislação podem ser entendidas como instrumentos a serem aplicados a adolescentes, aos quais fora atribuído a autoria de ato infracional, de acordo com o Art. 112 da Lei 8.069/90 que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA. Podendo ser aplicadas e operadas de acordo com as características da infração, circunstâncias sociofamiliar e disponibilidade de programas e serviços em nível municipal, regional e estadual. Para Volpi (2006), as MSEs comportam aspectos de natureza coercitiva, uma vez que são punitivas aos infratores, além de aspectos educativos no sentido da proteção integral, da oportunização e do acesso à formação e informação. Sendo que em cada medida, esses elementos apresentam graduação de acordo com a gravidade do delito cometido e/ou sua reiteração. Assim, os regimes socioeducativos devem constituir-se em condições que garantam o acesso do adolescente ás oportunidades de superação de sua condição de exclusão, bem como de acesso à formação de valores positivos de participação na vida social. Para tanto, a sua operacionalização deve prever, obrigatoriamente, o envolvimento familiar e comunitário, mesmo no caso de privação de liberdade. Sendo que, sempre que possível deverão ser avaliadas condições favoráveis que possibilitem ao adolescente infrator 23 a realização de atividades externas. (VOLPI, 2006). Entende-se, portanto, que a estrutura de funcionamento dos programas deve contemplar a participação de grupos da comunidade (religiosos, culturais, artísticos, etc.) que deverão contribuir para a realização das atividades pedagógicas, deliberação do planejamento e controle das ações desenvolvidas nas Unidades de trabalho, oportunizando a relação entre o interno e a comunidade. 23 Entende-se por adolescente infrator, o adolescente que pratica uma conduta descrita como crime ou contravenção penal. (ECA, 2005).

77 Volpi (2006) entende que os programas socioeducativos deverão utilizarse do princípio da incompletude institucional, caracterizado pela utilização do máximo possível de serviços, como: saúde, educação, defesa jurídica, trabalho, profissionalização, etc., na comunidade socioeducativa, responsabilizando as políticas setoriais no atendimento ao adolescente. Assim como, deverão prever aspectos de segurança, na perspectiva de proteção à vida dos jovens e dos trabalhadores, atentando-se para os aspectos arquitetônicos das instalações e formas de contenção sem violência; além de prever, obrigatoriamente, a formação permanente dos trabalhadores, tanto funcionários quanto voluntários. Contudo, vele ressaltar que as denominações ou nomenclaturas das Unidades de aplicação das medidas, dos adolescentes envolvidos e das demais formas de identificação das atividades a eles relacionadas, devem respeitar o princípio da não-discriminação e não-estigmatização, evitando-se os rótulos que marcam os adolescentes e os expõem á situações vexatórias, impedindo-o de superar suas dificuldades de inclusão social. Assim, ainda que se opte pela aplicação de medidas socioeducativas esporadicamente, alguns princípios de orientação e de aplicação precisam ser respeitados, tais como: a Brevidade, pois não existirão penas perpétuas e a medida extrema da internação não deverá exceder a três anos; a Excepcionalidade, quando a medida de internação somente será aplicada nos casos em que outras formas, tais como advertência e repreensão, já tiverem sido esgotadas; o Respeito, no sentido de zelar pela integridade física e mental dos internos, com reavaliação da medida a cada seis meses (internação) e cumprimento em estabelecimento próprio. Estes princípios devem ser respeitados por todas as instituições que atendem adolescentes, independente da medida socioeducativa estabelecida pelo juiz. A seguir, observa-se, portanto, quais as medidas socioeducativas e a sua execução de acordo com o ECA. A Advertência (Art. 115 do ECA), constitui uma medida admoestatória, informativa, formativa e imediata, sendo executada pelo Juiz da Infância e da Juventude. A coerção manifesta-se no seu caráter intimidatório, devendo envolver os responsáveis num procedimento ritualístico. A advertência deverá ser reduzida a termo e assinada pelas partes. A Obrigação de reparar o dano (Art.116 do ECA), se faz a partir da restituição do bem, do ressarcimento e/ou compensação da vítima. Caracteriza-se

78 como uma medida coercitiva e educativa, levando o adolescente a reconhecer o erro e repará-lo. A responsabilidade pela reparação do dano é do adolescente, sendo intransferível e personalíssima. Para os casos em que houver necessidade, recomenda-se a aplicação conjunta de medidas de proteção (Art.101 do ECA). A Prestação de serviço a comunidade (Art.117 do ECA), constitui uma medida com forte apelo comunitário e educativo, tanto para o jovem infrator quanto para a comunidade, que por sua vez poderá responsabilizar-se pelo desenvolvimento integral desses adolescentes. Para o jovem é oportunizada a experiência da vida comunitária, de valores sociais e compromisso social. A aplicação dessa medida depende exclusivamente da Justiça da Infância e da Juventude, mas na sua operacionalização recomenda-se o uso de um programa que estabeleça parcerias com órgãos públicos e organizações não-governamentais. A Liberdade assistida (Art.118 do ECA), constitui-se numa medida coercitiva quando se verifica a necessidade de acompanhamento da vida social do adolescente (escola, trabalho e família). Sua intervenção educativa manifesta-se no acompanhamento personalizado, garantindo-se os aspectos de: proteção, inserção comunitária, cotidiano, manutenção de vínculos familiares, freqüência à escola, e inserção no mercado de trabalho e/ou cursos profissionalizantes e formativos. A liberdade assistida poderá ser desenvolvida por grupos comunitários com orientadores voluntários, desde que os mesmos sejam capacitados, supervisionados e integrados à rede de atendimento ao adolescente. A Semiliberdade (Art.120 do ECA), caracteriza-se pela contemplação dos aspectos coercitivos, desde o momento em que se afasta o adolescente do convívio familiar e da comunidade de origem; contudo, ao restringir sua liberdade, não o priva totalmente do seu direito de ir e vir. Assim como na internação, os aspectos educativos baseiam-se na oportunidade de acesso a serviços, organização da vida cotidiana etc. Deste modo, os programas de semiliberdade devem obrigatoriamente, manter uma ampla relação com os serviços e programas sociais e/ou formativo no âmbito externo à Unidade de moradia. Num entendimento mais amplo da natureza e finalidade da semiliberdade, entende-se que ela é capaz de substituir em grande parte a medida de internação, podendo atender os adolescentes como primeira medida, ou como processo de transição entre a internação e o retorno do adolescente à comunidade.

79 A Internação (Art.121 do ECA), é a última das medidas na hierarquia que vai da menos grave para a mais grave; somente deve ser destinada aos adolescentes que cometeram atos infracionais graves. Embora o ECA tenha enfatizado os aspectos pedagógicos e não os punitivos ou repressivos, a medida de internação guarda em si condições coercitivas e educativas. Contudo, é preciso relembrar sempre que o ECA estabelece o princípio de que todo adolescente a quem for atribuída uma medida socioeducativa não deve ser privado de liberdade se houver outra medida adequada (ECA, Art.122, 2º) e nos casos previstos no Art.122. Portanto, falar de internação significa referir-se a um programa de privação de liberdade, o qual por definição implica contenção do adolescente autor de ato infracional, num sistema de segurança eficaz para o adolescente e para a sociedade. Nessa perspectiva, as MSEs, cujas disposições gerais encontram-se previstas nos Arts. 112 a 130 do ECA (Lei nº /90), reservado a doutrina de proteção integral das medidas aplicadas a adolescentes infratores, possuem como principal fundamento, demonstrar que a conduta do adolescente está errada, em que o seu afastamento da sociedade é utilizado como forma profilática (preventiva) e retributiva, buscando possibilitar a reavaliação da sua conduta e sua preparação para a vida livre em sociedade. O Levantamento estatístico da Subsecretaria de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente da Secretaria Especial dos Direitos Humanos, identificou no Brasil no ano de 2004, cerca de adolescentes no sistema socioeducativo 24. Este quantitativo representava 0,2% (zero vírgula dois por cento) do total de adolescentes na idade de 12 (doze) a 18 (dezoito) anos, existentes no país. Ainda em relação ao levantamento estatístico, observou-se que 70% (setenta por cento), ou seja, do total de adolescentes presentes no SSE se encontravam em cumprimento de MSE em meio aberto (liberdade assistida e prestação de serviço à comunidade). (MURAD, 2004). Nesse contexto, segundo Rocha (2002), havia no país adolescentes em cumprimento de MSE de internação e internação provisória, e adolescentes, em cumprimento de MSE de semiliberdade. 24 O termo Sistema Socioeducativo refere-se ao conjunto de todas as medidas privativas de liberdade (internação e semiliberdade), as não privativas de liberdade (liberdade assistida e prestação de serviço à comunidade) e a internação provisória. (SINASE - Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo / Secretaria Especial dos Direitos Humanos Brasília DF: CONANDA, 2006).

80 De acordo com os dados do PNUD de 2006, o Pará possui uma população jovem que supera um milhão de pessoas. São (Um milhão, quatrocentos e dezesseis mil, quatrocentos e vinte e três) meninos e meninas com idade entre 15 (quinze) e 24 (Vinte e quatro anos). Alguns desses jovens envolveram-se com a prática de ato infracional e estão cumprindo MSE. São jovens cujos familiares são de baixa renda e apresentam baixíssima escolaridade. Cerca de 55% destes jovens estudaram apenas até 4ª série do ensino fundamental; apenas 12,8% completaram o antigo 1º grau (Ensino fundamental), enquanto 8,4% são analfabetos e somente 1% tem o ensino médio completo. Os 16,5% restantes se dividem entre semi-analfabetos e outros casos. Nos últimos quatro anos, (Treze mil, duzentos e oitenta) jovens, a maioria na faixa etária entre 16 (dezesseis) e 17 (dezessete) anos, cometeram algum delito. Dos tipos de delitos, cerca de 50% são roubos, principal ato infracional praticados por eles; a violência contra a pessoa ou grave ameaça, é a segunda prática mais freqüente (16%), seguida por homicídio (14,70%), furto (11,10%) e outros (6%). (relatório FUNCAP, 2006). Segundo o Ministério da Justiça, o Brasil registra hoje 15,4 mil meninas e meninos internos em instituições de recuperação. O Pará é considerado um local de baixo registro de violência praticada por adolescentes. Os internos paraenses representam pouco mais de 2% do total nacional, o que coloca o Estado em 10º lugar no ranking nacional. (MATOS, 2008). Nessa perspectiva, a nível local, as MSEs são executadas pela Fundação da Criança e do Adolescente do Pará FUNCAP, criada em 22 de Dezembro de 1993, pela Lei 5.789, sendo considerada uma instituição do Governo do Estado, vinculada a Secretaria Especial de Proteção Social (SEEPS). Atualmente, a FUNCAP está vinculada a Secretaria de Estado de Assistência e Desenvolvimento Social (SEDES) e tem como missão, promover a inclusão social de crianças e adolescentes em situação de risco pessoal e social, seja na execução de Medidas Protetivas (Espaço de Acolhimento Provisório Infantil - EAPI) ou na execução de MSEs (Internação, Internação provisória e Semiliberdade), respeitando os princípios e valores do ECA. A FUNCAP tem como filosofia de trabalho, a Doutrina de Proteção Integral, preconizada no ECA, na qual a mesma entende que a responsabilidade

81 pela garantia dos direitos e deveres do segmento infanto-juvenil é do Estado, da família e da sociedade (Art. 4º do ECA), e estes devem agir conjuntamente visando à inclusão social e o exercício da cidadania. Contudo, a Fundação faz uso de uma Proposta Pedagógica pautada na Pedagogia da Presença, cuja concepção é baseada na presença significativa do educador na vida do educando e no compromisso de proporcionar à criança, ao adolescente e sua família, uma socialização que possibilite um caminho mais humano e digno para suas vidas. Para tanto, a FUNCAP utiliza vários instrumentais, a fim de efetivar sua proposta pedagógica, onde se destaca o Currículo Mínimo Obrigatório para a Cidadania (CMOC), realizado em parceria com a família, a sociedade, a comunidade socioeducativa e demais órgãos governamentais. Onde o CMOC abrange oito áreas de atuação, preceituadas na CF e no ECA. São elas: saúde; educação; educação profissional; documentação civil e militar; cultura, esporte e lazer; assistência à religiosidade; atenção à família e; informações processuais. Existem hoje no Estado, 13 UMSEs de Internação, Internação provisória e semiliberdade, localizadas em Belém, Santarém e Marabá, atendendo um público estimado de 351 adolescentes na faixa etária de 13 (treze) a 20 (vinte) anos de idade. Porém, vem crescendo também o atendimento as MSEs em meio aberto, como PSC Prestação de Serviço à Comunidade e LA Liberdade Assistida, que já foram implantados em 57 municípios do Estado. (MATOS, 2008). No entanto, com a municipalização do atendimento socioeducativo (art. 88, inciso I do ECA), cabe a FUNCAP hoje, a execução de programas de atendimento em semiliberdade e internação, inclusive de internação provisória, de acordo com os parâmetros do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE. O SINASE é o orientador da política de atendimento a adolescentes em conflito com a lei no Brasil. Fruto de um intenso processo de construção e discussão coletiva desde 1999 e que contou com a participação de representantes governamentais e não governamentais, especialistas na área e centenas de atores sociais do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente em todas as regiões do país. Seu texto foi aprovado em 13 de Julho de 2006 e entregue ao Presidente da República em 09 de Agosto do mesmo ano. Em outras palavras, o SINASE pode ser entendido como um guia na implementação das MSEs.

82 O princípio norteador de todo o Sistema, é a integração da política socioeducativa com os demais sistemas, como a Saúde, Educação, Assistência Social, Justiça e Segurança Pública. Por isso o SINASE pode ser concebido como um conjunto ordenado de princípios, regras e critérios, de caráter, jurídico, político, pedagógico, financeiro e administrativo, que envolve desde o processo de apuração de ato infracional até a execução da MSE, incluindo os sistemas estaduais, distrital e municipal, bem como todas as políticas, os planos e programas específicos de atenção ao adolescente em conflito com a lei. Sua formulação atende a normativas nacionais (Constituição Federal e Estatuto da Criança e do adolescente) e internacionais das quais o Brasil é signatário: Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança, Sistema Global e Sistema Interamericano dos Direitos Humanos, Regras Mínimas das Nações Unidas para a Administração da Justiça Juvenil, Regras de Beijing, Regras Mínimas das Nações Unidas para a Proteção dos Jovens Privados de Liberdade. O SINASE preconiza um conjunto de princípios próprios, dentre eles: O reconhecimento do adolescente como pessoa em situação peculiar de desenvolvimento e sujeito de direitos e responsabilidades (art. 227 da CF e 3º, 4º, 6º e 15º do ECA); a prioridade absoluta para a criança e o adolescente (art. 227 CF e 4º do ECA); o respeito à capacidade do adolescente de cumprir a medida, às circunstâncias, à gravidade da infração e as necessidades pedagógicas do adolescente na escolha da medida, com preferência pelas que visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários (art. 100, 112 1º e 112 3º do ECA); a incompletude institucional, caracterizada pela utilização do máximo possível de serviços na comunidade, responsabilizando as políticas setoriais no atendimento aos adolescentes (art. 86 do ECA); a garantia de atendimento especializado para adolescentes com deficiências (art. 227, parágrafo único, inciso II da CF); a municipalização do atendimento (art. 88, inciso I do ECA); a descentralização político-administrativa por meio da criação e da manutenção de programas específicos (art. 204, inciso I da CF e art. 88, inciso II do ECA); a gestão democrática e participativa na formulação das políticas e no controle das ações em todos os níveis;

83 a co-responsabilidade no financiamento do atendimento às medidas socioeducativas e; a mobilização de opinião pública no sentido da indispensável participação dos diversos segmentos da sociedade. Dessa forma, tendo em vista os parâmetros do SINASE, a FUNCAP entende que este compromisso com os adolescentes em situação de rico social e pessoal, deve ser compartilhado com toda a sociedade. Isso porque, somente quando a juventude deixar de ser problema e passar a ser vista como solução, é que se dará um passo para uma sociedade mais digna O adolescente que cumpre medida socioeducativa de internação na FUNCAP Sabe-se que a internação, é uma medida adotada em casos mais graves de crimes ou contravenção, sendo de natureza pedagógica, que possui aspectos coercitivos, assim como, educativos. Contudo, Volpi (2006) entende que as garantias constitucionais e os requisitos fixados pelo Estatuto, são parâmetros dentro dos qual o infrator deverá ser contido e submetido a um sistema de segurança assegurando-lhe: a sujeição aos princípios da brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento; manutenção condicionada à avaliação em períodos máximos de seis meses; tempo máximo de internação de três anos, limite após o qual o adolescente deve ser liberado e colocado em regime de semiliberdade ou de liberdade assistida; liberação compulsória aos 21 (vinte e um) anos de idade; permissão para a realização de atividades externas, a critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa determinação judicial em contrário (Art. 121, 1º do ECA); que a internação seja em entidade exclusiva para adolescentes, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração. Durante esse período (inclusive na internação provisória), são obrigatórias atividades pedagógicas (Art.123 do ECA) e; o direito de entrevistar-se com o representante do Ministério Público, e de possuir informações sobre sua situação judicial. Para Volpi (2006), são esses os parâmetros que devem, ou pelo menos deveriam estar presentes na subsidiação do atendimento socioeducativo, servindo

84 como elementos norteadores para uma integral garantia de direitos, propiciando um cumprimento de medida de forma mais humana e eficiente. Segundo Rocha (2002), havia no país adolescentes em cumprimento de MSE de internação e internação provisória. Destes, 90% (noventa por cento) eram do sexo masculino; 76% (setenta e seis por cento) tinham idade entre 16 e 18 anos; 63% (sessenta e três por cento) não eram brancos e destes 97% (noventa e sete por cento) eram afrodescendentes; 51% (cinqüenta e um por cento) não freqüentavam a escola; 90% (noventa por cento) não concluíram o Ensino Fundamental; 49% (quarenta e nove por cento) não trabalhavam; 81% (oitenta e um por cento) viviam com a família quando praticaram o ato infracional; 12,7% (doze vírgula sete por cento) viviam em famílias que não possuíam renda mensal; 66% (sessenta e seis por cento) em famílias com renda mensal de até dois salários mínimos, e 85,6% (oitenta e cinco vírgula seis por cento) eram usuários de drogas. Assim sendo, no ano de 2002, existiam no Brasil 190 (cento e noventa) Unidades de atendimento socioeducativo que executavam a medida de internação, sendo que 21 (vinte e uma) destas encontravam-se na Região Norte. (ROCHA, 2002). Segundo pesquisas recentes desenvolvidas a nível local, referentes à Situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará, na qual fora pesquisado 13 (treze) UMSEs de internação, internação provisória e semiliberdade da FUNCAP, durante o primeiro semestre de Constatou-se que no Pará, há 351 adolescentes no sistema socioeducativo (internação, internação provisória e semiliberdade), sendo que 239 destes cumprem medida socioeducativa de internação. Segundo dados da pesquisa, os adolescentes em cumprimento de MSE de internação no Estado do Pará caracterizam-se da seguinte forma: - Quanto a Raça/ Cor/ Sexo: A partir dos dados da pesquisa, pôde-se constatar que dos 239 adolescentes que se encontrava em cumprimento de MSE de internação; 98,33% destes eram do sexo masculino e apenas 1,67% eram do sexo feminino. Sendo que 16,32% intitulavam-se de cor branca; 13,81% de cor preta; 66,11% de cor parda e 3,76 de cor amarela. (Tabela 1).

85 Gênero/ Medida Homem - internação Raça/Cor Branca Preta Parda Amarela Indígena Total % ,33 Mulher - internação ,67 Total ,0 % 16,32 13,81 66,11 3,76 0,0 100,0 Tabela 1 - Número de adolescentes segundo medida aplicada, raça/cor e sexo. Fonte: A situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará (2008). (in lócus) - Quanto à deficiência: Do total dos adolescentes da internação, os portadores de necessidades especiais, representam apenas 1,68%; detectando-se que 3 (três) destes, apresentam algum tipo de deficiência visual e 1 (uma) física, sendo que ambos os portadores de deficiência são do sexo masculino. (Tabela 2). Sexo Deficiência Homem Mulher Total % internação. internação. Auditiva ,0 Visual ,0 Física ,0 Intelectual ,0 Sem informação ,0 Total ,0 % 1,71 0,0 1,68 Tabela 2 - Adolescentes com deficiência. Fonte: A situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará (2008). (in lócus) - Quanto a Faixa etária: Quanto à idade, observa-se que há certa concentração de adolescentes com idades entre 16 (dezesseis) e 19 (dezoito) anos, somando um total de 81,16%. Sendo que 17,57% possuem 16 (dezesseis) anos; 33,05% 17 (dezessete) anos e 30,54% 18 (dezoito) anos de idade. Vele ressaltar que dos 6,27% restante; 2,93% possuem idade entre 13 (treze) e 15 (quinze) anos; e 3,34% possuem idade entre 19 (dezenove) e 20 (vinte) anos. (Tabela 3).

86 Idade (anos) Homem internação. Sexo Mulher internação. Total % Menor que , , , , , , , , , ,25 Mais que ,0 Sem informação ,0 Total Tabela 3 - Quanto à idade dos adolescentes. Fonte: A situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará (2008). (in lócus) - Quanto a Renda Familiar: Em relação à renda, constata-se que há uma zona de concentração entre meio e dois salários mínimos, somando 76,15%. Sendo que 14,23% possuem uma renda familiar de meio salário mínimo; 26,36% possuem renda de meio a um salário; e 35,56% possuem renda de um a dois salários. Contudo, dos 23,85% restantes; 10,88% possuíam renda entre dois e cinco salários; 0,83% possuem de cinco a dez salários; 0,42% possuem renda superior a dez salários mínimos e 11,72 não souberam informar. (Tabela 4). Renda (em R$ - salário mínimo - SM) Nº. de adolescentes Homem internação. Mulher internação. Total % até 1/2 SM ,23 de 1/2 a 1 SM ,36 de 1 a 2 SM ,56 de 2 a 5 SM ,88 de 5 a 10 SM ,83 maior que 10 SM ,42 Sem informação ,72 Total ,0 Tabela 4 - Quanto à renda familiar per capita dos adolescentes. Fonte: A situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará (2008). (in lócus)

87 - Quanto a Educação Escolar: No que diz respeito à escolaridade, observa-se uma considerável concentração de adolescentes analfabetos ou que ainda não concluíram o ensino fundamental, somando um montante de 94,97% do total de internos. Sendo que destes 5,02% eram analfabetos; 36,82% tinham até a quarta série e 53,13% tinham entre a quinta e a oitava série. Entretanto, dos 5,03% restantes; 2,09% tinham o primeiro grau completo; 2,52 tinham o segundo grau incompleto e apenas 0,42% tinha o segundo grau completo. Tais dados revelam as dificuldades das famílias em acessar a educação, de apoiar e incentivar os estudos, assim como, de custear a educação de seus filhos. (Tabela 5). Nessa perspectiva, também fica subentendido que o desinteresse e o abandono das salas de aula, por parte dos alunos, também se faz presente no Sistema Socioeducativo, devido, talvez, a utilização de práticas pedagógicas obsoletas que não fazem parte da realidade dos internos. Grau de Nº. de adolescentes instrução Homem Mulher Total % (Série) internação. internação. Analfabeto ,02 até a 4 a ,82 5 a a 8 a ,13 1 o grau completo ,09 2 o grau incompleto ,52 2º grau completo ,42 3 o grau incompleto ,0 Sem informação ,0 Total ,0 Tabela 5 - Quanto à escolaridade dos adolescentes. Fonte: A situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará (2008). (in lócus) Portanto, essa defasagem escolar deve-se em sua maioria ao elevado número de adolescentes fora da escola. Nesse sentido, constata-se que do total dos adolescentes da internação 51,89% destes, não freqüentavam mais a escola antes

88 de sua inserção na Medida, sendo que apenas 46,44% dos mesmos freqüentavam a escola, entretanto, estes já apresentavam baixíssimo rendimento escolar. (Tabela 6). Situação Freqüentando ,44 Não freqüentando ,89 Sem informação ,67 Total ,0 Tabela 6: Adolescentes que estavam freqüentando a escola antes da Medida socioeducativa. Fonte: A situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará (2008). (in lócus) - Quanto à situação ocupacional: No que diz respeito à situação ocupacional, pôde-se verificar que dos adolescentes na internação, 46,03% destes trabalhavam, sendo imprescindível ressaltar que essa totalidade encontrava-se no trabalho informal; assim sendo, dos demais internos que informaram, 53,14% não trabalhavam ou desenvolviam atividade de estágio, onde 52,72% não desenvolviam nenhuma atividade e apenas 0,42% eram estagiários. (Tabela 7). Tais dados deixam evidente que a ausência de mercado de trabalho ou políticas de incentivo a capacitação e ao primeiro emprego desses adolescentes, juntamente com a grande necessidade de possuírem uma renda para satisfazerem as suas necessidades (básicas ou supérfluas), contribuem para os elevados índices de infração entre os adolescentes. Nº. de adolescentes Homem internação. Mulher internação. Total % Situação Ocupacional Nº. de adolescentes Homem internação. Mulher internação. Total % Carteira assinada ,0 Trabalho informal ,03 Estágio ,42 Não trabalhava ,72 Sem informação ,83 Total ,0 Tabela 7: Quanto à situação ocupacional dos adolescentes antes da Medida socioeducativa. Fonte: A situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará (2008). (in lócus)

89 - Quanto ao uso de drogas: Dos adolescentes que usavam drogas antes da sua inserção na FUNCAP, apenas 0,72% (quatro) não souberam informar que tipos de drogas utilizavam, em contra partida, os demais adolescentes 99,28% informaram ser usuários de drogas, inclusive de fazerem uso de mais de dois tipos simultaneamente, sendo que destas, as mais usadas foram o álcool com 28,12%; a maconha com 21,05% e a pasta de cocaína com 9,62% de usuários. (Tabela 8). É importante frisar que o uso de drogas entre os adolescentes, também é considerado um dos principais fatores que contribuem para o aumento das infrações, somando-se é claro, a precária renda familiar e a ausência de trabalho, ocasionando fortes reflexos negativos na educação dos adolescentes. Situação Álcool ,12 Inalantes ,16 Maconha ,05 Cocaína ,90 Crack ,53 Drogas sintéticas ,71 Heroína ,0 Pasta de coca ,62 Usuário ,17 Não usuário ,82 Sem informação ,72 Total 547* ,0 Tabela 8: Quanto ao uso de drogas antes da Medida socioeducativa. Fonte: A situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará (2008). (in lócus) * Os internos em sua maioria apresentavam uso simultâneo de vários tipos de drogas, fato este que possibilitou um aumento significativo dos números. - Quanto às infrações: Em relação ao motivo para a aplicação da MSE de internação aos adolescentes que se encontram na FUNCAP, registrou-se 257 (duzentos e cinqüenta e sete) infrações, dentre as quais, o roubo (art. 57) destaca-se com 45,22%; o Homicídio Qualificado (art º I, II, III, IV e V) e quando praticado em ato típico de grupo de extermínio, com 13,42%; Homicídio Simples (art. 121, caput), com 13,42% e; Latrocínio (art. 157, 3º in fine) com 9,96% das infrações cometidas pelos adolescentes. (Tabela 9). N o de adolescentes Homem internação. Mulher internação. Total %

90 Sendo importante reforçar que há adolescentes que respondem por mais de uma infração, por tê-los cometido simultaneamente (em conjunto) ou pelo fato do mesmo ser reincidente (nos casos em que pratica uma nova infração, quando está em descumprimento de medida). Ato infracional Homicídio Qualificado (art º I, II, III, IV e V) e quando praticado em ato típico de grupo de extermínio. Nº. de adolescentes Homem internação. Mulher internação. Total % ,42 Latrocínio (art. 157, 3º in fine) ,96 Homicídio Simples (art. 121, caput) ,17 Estupro (artigo 213) e sua combinação com art. 223, caput e parágrafo único. Atentado Violento ao Pudor (art. 214) e sua combinação com art. 223, caput e parágrafo único , ,53 Tráfico de Entorpecentes (Lei 6378/76) ,0 Roubo (art. 157) ,22 Crimes previstos na lei de armas (Est. Do Desarmamento, art. 12 a 18) ,38 Agressão/Lesão Corporal ,76 Furto (art. 155) ,52 Demais crimes ,74 Sem informação ,0 Total 257* ,0 Tabela 9: Quanto ao motivo (atos infracionais) para a aplicação da medida socioeducativa ou internação provisória dos adolescentes internos. Fonte: A situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará (2008). (in lócus) * Os internos estudados cometeram mais de uma infração, fato este que explica o aumento dos números. Contudo, com relação aos atos infracionais cometidos dentro das Unidades de internação da FUNCAP, foram registrados 66 (sessenta e seis) ocorrências, dentre as quais, o Dano ao Patrimônio, que se enquadra na categoria demais crimes destaca-se com 71,21% das ocorrências; em segundo lugar encontra-se a Agressão/Lesão Corporal com 19,70% e; em terceiro o Atentado Violento ao Pudor (art. 214) e sua combinação com art. 223, caput e parágrafo único; com 4,54% das ocorrências. (Tabela 10).

91 Ato infracional Homicídio Qualificado (art º I, II, III, IV e V) e quando praticado em ato típico de grupo de extermínio. Nº. de adolescentes Homem internação. Mulher internação. Total % ,0 Latrocínio (art. 157, 3º in fine) ,0 Homicídio Simples (art. 121, caput) ,0 Estupro (artigo 213) e sua combinação com art. 223, caput e parágrafo único. Atentado Violento ao Pudor (art. 214) e sua combinação com art. 223, caput e parágrafo único , ,54 Tráfico de Entorpecentes (Lei 6378/76) ,0 Roubo (art. 157) ,0 Crimes previstos na lei de armas (Est ,0 Do Desarmamento, art. 12 a 18). Agressão/Lesão Corporal ,70 Furto (art. 155) ,51 Demais crimes ,21 Sem informação ,04 Total ,0 Tabela 10: Atos infracionais ocorridos dentro das Unidades da FUNCAP nos últimos seis meses. Fonte: A situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará (2008). (in lócus) - Quanto à violação de direitos: Quanto aos adolescentes que sofreram ou sofrem ameaças de morte nas Unidades de internação da FUNACAP, registrou-se 19 (dezenove) casos, sendo que 21,05% destes eram oriundas de dentro da própria Unidade; 57,90% eram provenientes de fora da Unidade; porém, 21,05% destes não souberam informar a proveniência das ameaças. (Tabela 11). Situação de ameaça de morte Nº de adolescentes Homem internação. Mulher internação. Total % Ameaça vem de dentro da Unidade ,05 Ameaça vem de fora da Unidade ,90 Sem informação ,05 Total ,0 Tabela 11: Adolescentes que sofrem/sofreram ameaça de morte nos últimos seis meses. Fonte: A situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará (2008). (in lócus)

92 Contudo, só foram registrados três casos de adolescentes que morreram durante o cumprimento da MSE, sendo importante informar que todas as mortes ocorreram fora das Unidades de Internação. (Tabela 12). Morte Nº. de adolescentes Homem internação. Mulher internação. Total % Dentro da Unidade ,0 Fora da Unidade ,0 Sem informação ,0 Total ,0 Tabela 12: Adolescentes que morreram durante o cumprimento da medida socioeducativa nos últimos seis meses. Fonte: A situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará (2008). (in lócus) Ao se observar quantos dos adolescentes, que se encontram na FUCAP, estavam cumprindo MSE em delegacias, cadeias e presídios; constatou-se que 68 (sessenta e oito) adolescentes encontravam-se nessa situação irregular, sendo que todos os casos eram oriundos de delegacias. (Tabela 13). Local Nº. de adolescentes Homem internação. Mulher internação. Total % Delegacias ,0 Cadeias ,0 Presídios ,0 Total ,0 Tabela 13: Adolescentes que hoje estão nas unidades da FUNCAP, estavam cumprindo medida socioeducativa em delegacias, cadeias ou presídios antes de entrarem nas unidades da Fundação. Fonte: A situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará (2008). (in lócus) - Quanto ao vínculo familiar: Dos adolescentes internos que possuíam algum tipo de vínculo familiar antes da MSE; 85,35% destes viviam com seus familiares (pais, avós, tios, irmãos

93 ou cônjuge); apenas 12,97% não viviam com seus familiares e os demais não souberam informar. (Tabela 14). Tais dados revelam que os vínculos familiares ainda se fazem presentes em um significativo número de adolescentes do SSE, vínculos estes que já se encontram fragilizados e precisam ser trabalhados de forma multe e interdisciplinar, pelos profissionais que lidam com tal realidade. Situação Nº. de adolescentes Homem internação. Mulher internação. Total % Viviam com a família ,35 Não viviam com a família ,97 Sem informação ,68 Total ,0 Tabela 14: Adolescentes que viviam com familiares na época em que praticaram o ato infracional. Fonte: A situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará (2008). (in lócus) Contudo, constatou-se também que um significativo número de adolescentes já possuía vida sexual ativa; sendo que dos internos 15,06% possuem filhos e 77,82% não possuíam filhos. (Tabela 15). Esses dados abrem um pressuposto de discussão acerca da visita íntima para os adolescentes do SSE. Apesar da não existência de nenhuma legislação que a garanta, está temática arregimenta um considerável número de debatedores contra ou a favor da sua implantação. Situação Nº. de adolescentes Homem internação. Mulher internação. Total % Com filhos ,06 Sem filhos ,82 Sem inform ,12 Total ,0 Tabela 15: Numero de adolescentes com filhos (natural ou não). Fonte: A situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará (2008). (in lócus)

94 - Quanto à reincidência: Em relação à incidência dos adolescentes que se encontra em internação, constatou-se que 35,14% destes são reincidentes, sendo que 15,90% apresentam apenas uma reincidência e 19,24% já apresentaram mais de uma reincidência. (Tabela 16). Situação Nº. de adolescentes Homem internação. Mulher internação. Total % Primeira privação de liberdade ,60 Segunda ,90 Mais que duas ,24 Sem informação ,26 Total ,0 Tabela 16: Situação incidência dos adolescentes na internação. Fonte: A situação do atendimento socioeducativo no Estado do Pará (2008). (in lócus) Sendo imprescindível ressaltar que tais reincidências, são reflexos não apenas das ineficientes atividades pedagógicas e infra-estruras apresentadas pela FUNCAP, mas também, é resultado de um conjunto de conseqüências que podem ser observadas a partir das características apresentadas pelos adolescentes que hoje se encontram no Sistema socioeducativo do Estado do Pará. 3.2 A violência sexual entre socioeducandos na FUNCAP Ao considerar-se que a Violência Sexual pode ser entendida, como uma ação que obriga uma pessoa a manter contato sexual, físico ou verbal, ou participar de outras relações sexuais com uso da força, intimidação, coerção, chantagem, suborno, manipulação, ameaça ou qualquer outro mecanismo que anule o limite da vontade pessoal do outro (TAQUETTE, 2007); considerando-se também, que ao longo dos anos, esse tipo de violência rompeu com o tabu do gênero, demonstrando que meninos adolescentes também podem e estão sendo violentados; torna-se pertinente a reflexão de que havendo interesse em pesquisar o

95 abuso sexual cometido e sofrido por adolescentes, serão encontrados sem duvida alguma, casos (ocorrências) desta natureza, ficando claro que este tipo de violência existe embora ainda pouco pesquisado e estudado no Brasil, espacialmente no Pará. Dessa forma, levando-se em consideração que poucas pessoas sabem que a violência sexual também se faz presente no interior do SSE, e que a mesma, precisa ser estudada para que todos - família, sociedade e Estado - possam assumir suas responsabilidades de absoluta prioridade a efetivação da garantia dos direitos da criança e do adolescente, como prevê o próprio Estatuto; é que se fez necessário o desenvolvimento da pesquisa que investigou a realidade que envolve a ocorrência de violência sexual entre socioeducandos na FUNCAP. A referida pesquisa foi desenvolvida por meio de entrevistas semiestruturadas, realizadas com 10 (dez) profissionais do Sistema Socioeducativo e do Sistema de Garantia de Direitos, tais como técnicos da FUNCAP (Unidades de Internação: Centro socioeducativo de Val-de-Cans - CVDC; Centro Socioeducativo Telegrafo CSET; Centro de Internação Almirante Barroso - CIAB; Centro de Internação Jovem-Adulto Masculino - CIJAM; Centro Socioeducativo Masculino - CESEM; Centro Juvenil Masculino - CJM), da Divisão de Atendimento Integrado ao Adolescente (DATA), da Secretaria Estadual de Justiça Social e Direitos Humanos. (SEJUDH), Conselheiros Tutelares, além da escuta de um adolescente do Sistema Socioeducativo. Dos 10 (dez) profissionais entrevistados, 80% (oito) eram do sexo feminino e 20% (dois) do sexo masculino; 70% (sete) eram Assistentes Sociais, 20% (dois) Conselheiros Tutelares e apenas 10% (um) era Pedagoga; sendo que apenas 20% (dois) dos profissionais atuavam a menos de um ano ou a mais de três anos, e os demais 60% (seis) já atuavam de um a três anos, nas instituições em que estavam lotados e; 80% (oito) apresentavam com carga horária semanal de 35 (trinta e cinco) horas e os demais 20% (dois) apresentavam carga horária de 45 (quarenta e cinco) horas semanais. Nessa perspectiva, levando-se em consideração a negação da vida sexual ativa e o desrespeito à dignidade dos adolescentes infratores em regime socioeducativo, por parte dos profissionais que lidam com a problemática da MSE, assim como, pelo próprio poder público, expressa através de fatos, que ficam evidentes nos relatos e/ou raros documentos que fazem parte do acervo oficial das

96 próprias instituições; ficando evidente para a sociedade apenas uma visão restrita de que os casos de violência sexual só são comuns no seio familiar ou na própria comunidade, em que a mesma, é sempre praticada por um adulto geralmente conhecido da vítima que é uma criança. Assim sendo, das 6 (seis) técnicas da FUNCAP que desenvolvem suas atividades em UMSE de internação, as quais foram entrevistadas, todas, ou seja, 100% destas afirmaram não ser fato, a prática da violência sexual em seus respectivos campos de trabalho. Alegando basicamente, que durante o tempo em que as entrevistadas atuam em suas respectivas casas de internação, as mesmas não tiveram conhecimento, ou seja, não havia chegado até elas nenhum caso de violência sexual que possa ter ocorrido entre adolescentes nessas Unidades, algumas ainda argumentam que tal fato não ocorre pelo motivo de seu local de trabalho (casa de internação) ser pequeno, inviabilizando a ocorrência. [...] dentro da internação, não; graças a Deus nós não temos esse momento de... não vivenciamos nenhum momento, eu pelo menos não vivenciei nenhum momento dentro da nossa internação que é do Telégrafo, nunca houve nenhum indício de violência sexual...! Eu posso falar pela Unidade em que eu me encontro; na Unidade em que eu me encontro não existe nenhum caso específico...! (Técnicas da FUNCAP, 2008). Entretanto, apesar das entrevistadas considerarem que não há a ocorrência de violência sexual em seus locais de trabalho, as mesmas contradizemse quando 83,33% (cinco) destas, afirmam que a Fundação não dispõe de condições que possibilitem o cumprimento da medida socioeducativa de forma satisfatória, alegando que a FUNCAP ainda precisa rever questões relacionadas ao espaço físico e a infra-estrutura, tais como: salas mais equipadas, salas recreativas, espaço de escolarização e salas para atendimento técnico; ao fortalecimento das parcerias e da qualificação profissional; a falta de mão-de-obra técnica e a dificuldade de identificação profissional (relatam haver certa carência de psicólogos); além da necessidade de um planejamento e da falta de um maior tempo dedicados aos atendimentos, como forma de reduzir a sobrecarga dos profissionais.

97 Eu penso que nós temos hoje, uma condição que ainda precisa ser revista; por exemplo, na questão da jornada pedagógica, ainda precisamos rever o espaço e a infra-estrutura, pos ainda não temos um espaço adequado... a gente precisa de mais salas, uma sala recreativa e um espaço de escolarização, porque hoje na internação ainda há a necessidade de mais espaço e de salas mais equipadas, que é uma realidade; e salas para atendimento técnico que nós temos dificuldades ainda...! (Técnica da FUNCAP, 2008). Fato este constatado, quando dos quatro profissionais entrevistados do Sistema de Garantia de Direitos (Conselhos Tutelares, DATA e SEJUDH), todos, ou seja, 100% destes, também considerarem que a Fundação não dispõe de condições que possam subsidiar um satisfatório cumprimento da MSE. Considerando que: Os adolescentes preferem ficar perambulando pelas ruas, ao sair da medida socioeducativa, pois não existe um programa de reintegração (inclusão) deste jovem, sendo difícil que este adolescente cumpra as medidas! [...] Hoje no Brasil, as medidas de tentativa do resgate deste indivíduo está aquém desta possibilidade, às autoridades não tem compromisso com a recuperação deste indivíduo, faltam programas assistenciais que venham cuidar desses indivíduos! (Conselho Tutelar, 2008). É essa estrutura que está faltando... porque se fosse cumprido, volto a dizer, o que está no ECA, com certeza seria efetivo... porque faltam medidas na área da educação dos adolescentes, até infra-estrutura para as atividades dos mesmos. (DATA, 2008). Tais contradições também se fazem presentes, quando 83,33% (cinco) das entrevistadas relatam que os direitos sexuais não são garantidos aos socioeducandos, alegando que a Fundação não garante a visita íntima. Tal contradição revela não apenas, a não garantia dos direitos sexuais aos socioeducandos, mas, também, o elevado grau de desconhecimento dos profissionais em questão, acerca dos direitos sexuais enquanto direitos humanos universais baseados na liberdade inerente, dignidade e igualdade para todos os seres humanos, incluindo os direitos de todas as pessoas, livres de coerção, discriminação e violência, de alcançar o mais alto padrão de saúde sexual, incluindo: acesso a cuidados e serviços de saúde sexual; receber informação relacionada à sexualidade, reprodução e educação sexual; respeito pela integridade corporal e por decidir se quer ser ou não sexualmente ativo. (TAQUETTE, 2007). Profissionais estes, que segundo Hazeu (2004), deveriam ter uma noção básica dos conceitos

98 que norteiam os sujeitos de sua atuação, que nesse caso específico, deveriam ser noções básicas dos conceitos de infância, adolescência, sexualidade, diretos sexuais, etc. Tais controvérsias ficam mais evidentes, quando observar-se que 50% (três) das entrevistadas, relatam não desenvolver nenhuma atividade pedagógica como forma de prevenção à violência sexual entre socioeducandos, afirmando que ainda não há um projeto especifico nessa área de prevenção a violência, e sim, apenas algumas palestras sobre DST, AIDS e higiene corporal. Não há essa abordagem de prevenção sobre a violência sexual, existe sobre a violência doméstica e intra-familiar... já aconteceu palestra, mas no momento sobre este tema na unidade não é discutido, não tem esse debate sobre a questão da violência sexual, não há no momento... Existem algumas palestras, mas ainda nós não temos um projeto específico nessa área... até porque a gente está reestruturando o projeto político pedagógico...! (Técnica da FUNCAP, 2008). Essa ausência de práticas preventivas, também é ratificada pela ausência de conhecimento dos profissionais do Sistema de Garantia de Direitos, quando 100% (quatro) dos entrevistados afirmam não ter conhecimento do desenvolvimento de nenhuma atividade preventiva à situação de violência sexual. Entretanto, a mais grave das contradições encontra-se no fato de que apesar de 100% (seis) das profissionais entrevistadas da FUNCAP afirmarem que a ocorrência de violência sexual não é fato nas Unidades em que as mesmas atuam, 50% (três) destas relatam ter conhecimento de casos de violência sexual ocorridos em outras Unidades de internação. [...] Existem casos em que a gente tem conhecimento que há violação de direitos... em outras Unidades em que há a questão de superlotação, a violência sexual ela existe, assim como dentro da casa também, então é um espaço sucinto a isso, propenso, quando não se tem um entendimento da questão [...]! [...] Na Unidade em que eu me encontro não existe nenhum caso específico; nós recebemos meninos que vem de outras Unidades que passaram por essa situação [...] então não existe nenhum caso específico dentro da unidade; nós recebemos sim, que vem de outras unidades, que sofreram situações assim, e que nós estamos hoje trabalhando com o menino! (Técnica da FUNCAP, 2008).

99 Ficando evidente que as profissionais sentem-se tolhidas em falar dos casos de violação ocorridos no interior de seus locais de trabalho, talvez por temerem os desdobramentos e proporções que podem atingir tais casos, ou por temerem a evidência de que a violência sexual também ocorre em suas Unidades de trabalho, em decorrência ou não, de uma insuficiente ou inadequada prática profissional desenvolvida pelas mesmas. Sendo importante salientar, que tal silêncio reforça cada vez mais a persistência do tabu do segredo e da visão estigmatizante 25 acerca das vítimas, as quais se sentem temerosas pela própria relação de poder existente entre vitimizante e vitimizado, impedindo-os de compartilharem seus segredos dos quais todos já sabem, como forma de resistência aos esteriótipos estabelecidos no interior dessas instituições, em que a vítima mesmo não sendo, passa a ser vista como homossexual, ou seja, a menininha e/ou o brinde 26 dos demais adolescentes; gerando um processo de mortificação do eu da vítima, podendo atribuir-lhe a condição de ser sempre vítima, ou tornando-o um abusador em potencial. (GOFFMAN, 1488). Contudo, em função de tais contradições, entende-se que a violência sexual também se faz presente no Sistema Socioeducativo, porém com um agravante, tendo em vista que suas vítimas são em particular meninos adolescentes, fato este, que exige uma olhar mais cauteloso sobre tal problemática. Sendo importante ressaltar, que este tipo de violação está para além das dificuldades físicas e estruturais apresentadas pelas profissionais entrevistadas, estando intimamente atrelada à ineficiência de identificar e enfrentar a situação posta; de compreender que é inviável assegurar direitos, garantindo o que está proposto no ECA, na Constituição Federal, na Declaração Universal dos Direitos Humanos e no próprio SINASE, sem conceber que os adolescentes infratores também são sujeitos em condição peculiar de desenvolvimento dotado de direitos e deveres, os quais também merecem especial atenção no que diz respeito à garantia 25 Para os gregos que tinham bastante conhecimento de recursos visuais, criaram o termo estigma para se referirem a sinais corporais com os quais se procurava evidenciar alguma coisa de extraordinário ou mau sobre o status moral de quem os apresentava. Os sinais eram feitos com cortes ou fogo no corpo e avisavam que o portador era um escrevo, um criminoso ou traidor; uma pessoa marcada, ritualmente poluída, que devia ser evitada; especialmente em lugares públicos. (GOFFMAN, Erving. Estigma. Rio de Janeiro: Guanabara, 1488). 26 Expressões usadas pelos socioeducandos para os adolescentes que tiveram relação sexual com outros adolescentes, forçados ou não, taxados de homossexuais.

100 dos direitos sexuais, do desenvolvimento de uma sexualidade saudável e da inviolabilidade da integridade física, psicológica e sexual; que devem ser desenvolvidas, através de práticas pedagógicas que venham não somente discutir as DTS e a AIDS, mas que possam subsidiar um mecanismo de enfrentamento e prevenção contra a violência sexual, rompendo com o tabu do silêncio, dos estigmas e estereótipos. Nessa perspectiva, segundo Faleiros (2003), romper com os pactos de silêncio nas situações de abuso sexual é o primeiro e decisivo passo para o enfrentamento da violência sexual, e um dos maiores desafios a serem enfrentados pelas vítimas, por quem dele tem conhecimento, pela sociedade e pelos estudiosos, profissionais e militantes dos direitos das crianças e adolescentes vitimizados; passo sem o qual nada pode ser feito perpetuando-se a prática e a impunidade, impedindose a notificação e o atendimento Da ocorrência à notificação Em um contexto de violência sexual, a denúncia é uma das questões cruciais para o enfrentamento das situações de abuso sexual, bem como para a elucidação de todo e qualquer crime. O que implica pessoas disponíveis a correr riscos e a romper com o pacto do silêncio que alimenta a impunidade, propícia a ocorrência e desprotege suas vítimas. (FALEIROS, 2003). A partir das contradições observadas nas falas das profissionais da FUNCAP participantes da pesquisa, pôde-se evidenciar a presença de práticas de violência sexual entre adolescentes nas Unidades de medida socioeducativa (internação, internação provisória e semiliberdade) do Estado do Pará (região metropolitana de Belém). Essas contradições e ambigüidades podem ser observadas a partir de algumas falas, tais como: [...] Na nossa Unidade, a gente não vê muito essa ocorrência porque nós temos a prática de convivência familiar e comunitária, onde eles saem para essas atividades externas, então eles têm a possibilidade da prática sexual fora, por isso que a gente não tem essa ocorrência, e aí quando há, a gente percebe assim que são meninos já de muito tempo que ficaram privados da

101 liberdade, de suas atividades, e os que são vitimados, geralmente eles já trazem isso desde antes da internação eles já tem essa prática, eles não passam a conhecer somente na Unidade, eles já trazem isso da sua infância, do seu contexto de rua, na rua agente percebe muito isso [...]. (Técnica FUNCAP, 2008). Tais evidências tornam-se mais pertinentes quando 50%, das seis entrevistadas da FUNCAP, relatam ter conhecimento de casos de violência sexual ocorridos em outras Unidades de internação. Sendo que tais práticas, também foram ratificas pelo conselheiro tutelar do Conselho Tutelar V, quando afirmou ter conhecimento da ocorrência desse tipo de violação, afirmando que, muitos adolescentes com vivência de rua acabam abusando sexualmente de outros adolescentes. Tendo conhecimento, por volta de 20 casos por ano em média. Sendo importante ressaltar que tais números, são referentes a ocorrências, ou seja, que não necessariamente tenham sido notificados pela Fundação, mas que de certa forma chegaram ao conhecimento dos conselheiros. Nesse sentido, é comum ouvir relatos de que a violência sexual é fato na Fundação: [...] Eu já trabalhei em outras Unidades que já houve denúncias, antes de eu ir para essa Unidade que eu estou hoje. Eu sei de relatos que já aconteceram inclusive flagrantes, dessa violência sexual; e aí foram tomadas todas as providências em relação a encaminhar pro IML, encaminhar pro juizado... então ocorreu sim... eu não sei se ocorre nas Unidades maiores porque eu não estou lá... mas que já houve denúncias sim que o próprio educador já presenciou o fato dessa questão da violação, da violência sexual, já ocorreu sim... não sei se ainda ocorre, mas já ocorreu sim. (Técnicas FUNCAP, 2008) Porém, quase sempre, se não sempre, tais casos de violação não são notificados; tal afirmação pode ser comprovada pela falta de registros na própria Fundação, assim como, no Conselho Tutelar, na DATA e na SEJUDH, de dados referentes a esse tipo de violência. Isso porque na maioria das vezes em que se suspeita ou identifica-se uma situação de violência sexual dentro da Fundação, são desenvolvidas apenas práticas imediatas, tais como, atendimento psicológico, permuta de quarto-cela ou transferência de Unidade; práticas estas, que já não conseguem mais amenizar a situação gerada; isso se levar-se em consideração, que o vitimizador, sempre será o Jack (aquele que violenta) e o vitimizado, sempre

102 será o Jackado (o que é violentado), independente do quarto-cela ou Unidade em que eles se encontrem 27. A constatação das ocorrências e a identificação de práticas focalizadas (imediatas), desenvolvidas pelas profissionais da Fundação sobre a vítima, no que diz respeito à ocorrência de violência sexual, podem ser constatas a partir da seguinte fala: [...] Eu tomei conhecimento que já ocorreu... agora existe também todo um acompanhamento psicológico, porque assim, o adolescente que ta sofrendo qualquer tipo de violência sexual, ele muda o comportamento dele... e não é o mesmo adolescente; e existe psicólogo na Unidade para está fazendo esse tipo de observação, porque por mais que tenha um acompanhamento sistemático de um educador, podem ocorrer situações em que não tomou conhecimento, e que aí, o adolescente fica sofrendo sem poder falar, então por isso a presença, dentre outros motivos, de um psicólogo na Unidade pra estar atento pra esse comportamento desse adolescente... se em algum momento ele vem sinalizando alguma mudança de comportamento, a gente vai, faz a intervenção e procura saber o porquê dessa mudança... e a gente não descarta a possibilidade dele está sendo violentado [...]. (Técnica FUNCAP, 2008). Nessa perspectiva, observou-se que dos profissionais entrevistados da FUNCAP, 66,66% destes acreditam que todas as vezes que há a ocorrência de violência sexual, há a sua notificação; alegando basicamente que tudo o que diz respeito à violência sexual entre os adolescentes e entre terceiros, e de terceiros para com eles, tudo é feito a ocorrência policial e é feito à notificação, porque consideram ter a obrigação de estarem sempre notificando. No entanto, apenas 33,34% dos entrevistados acreditam que nem todas às vezes, os casos de violência sexual são notificados; alegando que eles sempre se baseiam nos atendimentos, ou seja, se ninguém chega para colocar uma situação de violência, não tem como eles realmente ficarem sabendo. Contudo, ao comparar as informações cedidas pelos profissionais da FUNCAP, com a dos Atores do Sistema de Garantia de Direitos (Conselho Tutelar, DATA e SEJUDH), constatou-se uma contradição; tendo em vista o número significativo de profissionais da FUNCAP, que afirmam que as ocorrências de violência sexual são notificadas; porém, não é o que revela as informações cedidas 27 Jack e Jackado são as denominações utilizadas pelos adolescentes do Sistema socioeducativo, quando os mesmos referem-se a uma adolescente que violentou alguém ou que fora violentado, respectivamente.

103 pelos profissionais do Sistema de Garantia, nas quais constatou-se que dos quatro profissionais entrevistados, 75% destes, afirmam que as notificações de violência sexual não são realizadas, considerando que: às vezes não é de interesse de educadores e dirigentes, que tais fatos sejam transformados em estatísticas. (Conselho Tutelar V, 2008); no entanto, [...] qualquer caso de violação deveria ser observado, justamente para encaminhar aos órgãos competentes. (SEJUDH, 2008). Segundo Faleiros (2003), a notificação é um dos atos e momentos cruciais no enfrentamento da violência sexual. Quando não ocorre a notificação, a queixa não se inscreve no circuito e nem na rede de atendimento, defesa de direitos e responsabilização, ou seja, sem notificação a queixa torna-se praticamente inútil e a responsabilização não pode acontecer. Dessa forma, a notificação implica obrigatoriamente a formalização da queixa em uma Delegacia de Polícia (neste caso, especializada), na qual é registrado o Boletim de Ocorrência e é aberto o Inquérito Policial. Sabe-se que hoje, a principal dificuldade de entendimento e enfrentamento da violência sexual no sistema socioeducativo é a própria notificação. Os estudos demonstram o conhecimento acerca das ocorrências de violência sexual, todavia, também revelam um grande desconhecimento sobre sua notificação; notificação está ausente nas próprias Unidades de Internação. Para Faleiros (2003), não basta apenas que se tenha o conhecimento sobre as ocorrências, é preciso quebrar a barreira do silêncio, notificando os casos para que os mesmos possam ser encaminhados aos órgãos competentes. No caso da FUNCAP, deve-se atentar inicialmente para as situações de suspeita de violência, identificando-as, notificando-as e encaminhando-as para procedimento junto a DATA, Instituto Médico Legal (IML) e Ministério Público (MP). (Gráfico 1)

104 Gráfico 1: Circuito percorrido pela notificação. FUNCAP DATA 24ª VARA IML M. PÚBLICO Fluxo de Atendimento. Fluxo de Responsabilização. Fluxo de Defesa de Direitos e Para Faleiros (2003) o Circuito da notificação deve ser constituído pelo Fluxo de Defesa de Direitos, de Atendimento e de Responsabilização; em que: O Fluxo de Defesa de Direitos é composto pelos Conselhos Tutelares, Varas da Infância e da Juventude, Ministério Público, Defensoria Pública e Centros de Defesa. Suas funções são: defender e garantir os direitos de todos os implicados na situação de abuso sexual notificada, protegendo-os de violações e seus direitos. Para tal, têm o poder de determinar, com força da lei, ações de atendimento e de responsabilização. O fluxo de Atendimento é composto pelas instituições executoras de políticas sociais (de saúde, educação, assistência, trabalho, cultura, lazer, profissionalização) e de serviços e programas de proteção especial, bem como por ONGs que atuam nestas áreas. Suas funções são: dar acesso a políticas sociais e a direitos de proteção, prestar serviços, cuidar e proteger. Deve dar cumprimento a determinações oriundas do fluxo de defesa de direitos e do fluxo de responsabilização, bem como prestar-lhes informações. Por fim, o Fluxo de responsabilização é composto pelas Delegacias de Policia, Delegacias Especializadas (de Proteção à Criança e ao Adolescente, e da Mulher), Instituto Médico Legal, Varas Criminais, Varas de Crimes contra a Criança e ao Adolescente, Delegacia da Criança e do Adolescente e Vara da Infância e da Juventude (quando o abusador é menor de idade) e Ministério Público. Suas funções são: responsabilizar judicialmente os autores de violações de direitos,

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