A FORMAÇÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE 1

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1 A FORMAÇÃO DOCENTE NA EDUCAÇÃO PARA A SAÚDE 1 Tatiane Cristina Possel Greter 2, Maria Cristina Pansera De Araújo 3. 1 Pesquisa desenvolvida no Curso de Mestrado em Educação nas Ciências da Unijuí 2 Tatiane Cristina Possel Greter, Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências, bolsista CAPES, tati.cris2010@gmail.com 3 Maria Cristina Pansera de Araújo, Professora Titular do Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências - DCVida - Unijuí, pansera@unijui.edu.br 1. Introdução Existem muitos desafios quando se pensa em maneiras de construir ações que visem a melhoria da vida humana. Um destes diz respeito à condição básica da qualidade de vida das pessoas, que é a saúde. Tal desafio nos leva à educação para a saúde (EA); visto que esta temática busca contribuir nas discussões pertinentes às problemáticas advindas do contexto social atual. A problematização e a reflexão sobre as consequências de um ensino carente de atividades que pensem a saúde, pode demonstrar, as dimensões restritas que tal ensino constrói. A discussão dos impasses relativos à saúde tem cada vez mais espaço, uma vez que proporciona pensar esta saúde tanto na dimensão coletiva, quanto na individual. Neste sentido, com a educação tão associada às discussões de saúde, vê-se a importância do papel da escola ao proporcionar momentos de estudos a respeito, e principalmente o papel da figura do professor em abordar tais questões em sala de aula. Este último precisa realizar seu trabalho associando o tema da saúde à sua realidade de ensino, ao seu programa curricular e ao seu fazer docente, conforme Saboga coloca o contributo da Literacia para a Saúde é hoje considerado incontornável perante os determinantes de contexto, pessoais, ambientais e sociais. (p.97) No entanto, esta não é uma tarefa simples, uma vez que demanda planejamento, organização, ação, prática e um conjunto de saberes que são inerentes e constitutivos da profissão professor. Assim, a escola precisa oferecer condições mínimas de trabalho e de autonomia para gestar a educação para a saúde. Também os cursos de formação inicial e a prática da formação contínua e continuada, precisam dar conta de preparar estes profissionais para que possam trabalhar com o tema da saúde de forma crítica, reflexiva e construtiva. Porém não é pressuposto da educação para a Saúde a existência do professor especialista ; o que se pretende é um trabalho pedagógico cujo enfoque principal esteja na saúde e não na doença. (PCNs, p. 69) Ou seja, tratar da ES na escola não é uma escolha, mas sim uma obrigação para que a escola como um todo cumpra com o seu papel máximo de contribuir com as necessidades do contexto social da qual faz parte. E esta perspectiva ganha força com o que diz os PCNs de Ciências Naturais a respeito da educação para a saúde, na medida em que

2 sua inclusão no currículo responde a uma forte demanda social, num contexto em que a tradução da proposta constitucional em prática requer o desenvolvimento da consciência sanitária da população e dos governantes para que o direito à saúde seja encarado como prioridade. (p. 65) Frente a isso, o objeto desta pesquisa é observar como a ES está sendo constituída na formação de professores de Ciências Naturais e refletir sobre os impasses e as possibilidades que perpassam pela temática no ensino. 2. Metodologia Para o desenvolvimento desta pesquisa foram analisadas as diretrizes curriculares que norteiam a educação de Ciências Naturais: Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN/9394/96) e Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs). A análise ocorreu de forma a identificar as dimensões da educação para a saúde nos documentos citados anteriormente, de forma a pensar a formação inicial e continuada no que diz respeito à preparação dos profissionais de Ciências Naturais para tratar desta temática no contexto da sala de aula. Assim, a pesquisa qualitativa do tipo documental (LUDKE; ANDRÉ, 1986), com revisão da literatura permeia a temática da educação para a saúde na educação básica. 3. Resultados e Discussão Com a revisão da literatura feita para esta pesquisa, foi possível reunir um conjunto de informações e reflexões sobre a educação para a saúde e como ela está constituída na formação dos professores. A perspectiva da ES é um tema significativo e que vem provocando reflexões acentuadamente na educação em Ciências Naturais. Pesquisas e estudos demonstram a importância que esta assume no ensino, como forma de significar a saúde na educação. Percebe-se seu papel fundamental na escola, quando olhamos para as diretrizes curriculares nacionais e as leis que regem a educação, ao dizerem que é dever do Estado o atendimento ao educando, no ensino fundamental público, por meio de programas suplementares de material didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (LDBEN, art 4º VIII, p.2) Também identificamos a preocupação com a temática da saúde no ensino, através dos PCNs do tema transversal da saúde que demonstra que as experiências mostram que transmitir informações a respeito do funcionamento do corpo e das características das doenças, bem como de um elenco de hábitos de higiene, não é suficiente para que os alunos desenvolvam atitudes de vida saudável. É preciso educar para a saúde levando em conta todos os aspectos envolvidos na formação de hábitos e atitudes que acontecem no dia-a-dia da escola. Por esta razão, a educação para a Saúde será tratada como tema transversal, permeando todas as áreas que compõem o currículo escolar. (PCN temas transversais saúde, p. 245) A literacia para a saúde (LP) (o saber em saúde) é vista hoje como estratégia para o desenvolvimento da promoção da saúde dos indivíduos. Sua validação no contexto escolar se justifica pelo fato dela ser definida como a conscientização da pessoa aprendente e atuante no desenvolvimento das suas capacidades de compreensão, gestão e investimento, favoráveis à promoção da saúde. (SABOGA, p.95)

3 Deste modo, esta educação para a saúde auxilia o aprendiz a estabelecer relações com as aprendizagens em saúde e sua vida cotidiana; aplicando-as para o desenvolvimento de uma melhor saúde individual e coletiva. O que vemos a maior parte das escolas é que a educação para a saúde aparece somente quando se fala em biologia, carecendo discussões em termos de uma cidadania mais consciente. Porém, todas as áreas precisam oferecer reflexões em saúde, em que problemáticas relativas possuam relação com os conceitos trabalhados em aula, conforme o disposto pelos PCNs a educação para a Saúde será tratada como tema transversal, permeando todas as áreas que compõem o currículo escolar (p.61), visto que o tratamento transversal do tema deve-se exatamente ao fato de sua abordagem dar-se no cotidiano da experiência escolar e não no estudo de uma matéria. (PCNs, p. 70) O objetivo maior das instituições de ensino a respeito da ES precisa perpassar pela compreensão dos fatores determinantes para uma melhoria na qualidade de vida, de forma a propor mudanças conscientes de hábitos e estilos de vida não saudáveis dos aprendizes. Assim, promover a Literacia em Saúde envolve permitir que os alunos desenvolvam a sua capacidade de pensamento crítico, de escolher, de agir e de decidir autonomamente e com responsabilidade. (Carvalho e Jourdan, p. 103) O professor, enquanto agente principal neste processo educativo e de formação de uma consciência voltada à saúde, tem uma tarefa complexa e desafiadora, em que em sua atividade é necessária a adoção de abordagens metodológicas que permitam ao aluno identificar problemas, levantar hipóteses, reunir dados, refletir sobre situações, descobrir e desenvolver soluções comprometidas com a promoção e a proteção da saúde pessoal e coletiva e, principalmente, aplicar os conhecimentos adquiridos. (PCNs, p. 84) Neste sentido, podemos nos perguntar qual o papel dos cursos de licenciatura com a formação dos professores no que diz respeito à educação para a saúde? Responder esta questão não é tão simples, pois quando se pensa a formação do professor, seja ela a inicial ou a continuada, muitas são as interfaces que dimensionam este processo formativo. E esta problemática se aplica para qualquer que seja a temática em destaque, uma vez que é difícil abordar todas as ramificações que o ensino comporta. Podemos inferir que assim como ocorre na escola o tratamento da educação para a saúde, de forma superficial ou até mesmo fugindo do foco essencial, que é provocar a reflexão e tomada de consciência sobre o tema; o mesmo acaba por ocorrer na educação superior, especificamente nos cursos de formação de professores. A pouca abordagem da ES na formação inicial acaba, por conseguinte reproduzir o mesmo nas escolas. Ora, se não há preparação suficiente para tal, até que ponto se pode exigir dos docentes? Uma das possíveis respostas, para o porquê dos cursos de formação de professores não dar conta de formar profissionais de todas as áreas do conhecimento preparados para trabalhar com a ES; é a questão relativa à grande quantidade de conceitos e saberes específicos da formação que são essenciais para o trabalho docente. Isto porque o tempo de formação é relativamente curto se comparado com o currículo dos cursos. Esta é uma questão problemática, visto a importância que a temática assume no ensino de Ciências.

4 Também os cursos a distância corroboram da mesma limitação de forma ainda mais acentuada, uma vez que neste tipo de formação os professores ficam ainda mais privados do tempo para se dedicar a discutir tais questões. Porém, é claro que nunca será possível em curso de licenciatura algum, e em lugar algum contemplar de forma estupidamente perfeita e cabível, as temáticas relativas ao ensino de Ciências Naturais. Em contrapartida, é imprescindível que se busquem meios e alternativas de tratar das questões relativas à saúde da forma mais clara e contextualizada possível. Outra dimensão para pensar esta problemática, diz respeito à própria concepção de ES que o professor tem, pois a forma como o professor entende o tema e a importância que ele dá ao mesmo são decisivas para delinear a metodologia em sala de aula que será desenvolvida em sala de aula. Ainda, há profissionais que mesmo tendo consciência da relevância do tema da ES, acaba por se eximir de sua função e deixa a desejar no empenho que dá para trabalhar com o tema no processo de construção do conhecimento em saúde dos alunos. Olhando para o contexto educacional da educação básica e especialmente das Ciências Naturais, percebemos mais um limitante para a ação do professor no que tange à ES: os empasses colocados pela escola, como os condicionantes de espaço, de tempo e de recursos materiais e humanos, ou seja, a escola mesmo sem uma intenção acaba por criar dificuldades para que o professor possa trabalhar. Mas não basta pensar a ES somente na perspectiva do professor e da escola, pois por mais que se possa fazer, é preciso que o aluno esteja desarmado e receptivo para o novo trazido pelo ensino. É muito importante que para isso a escola possa contar com a família, e que esses ensinamentos e esta conscientização não perpasse somente dentro da instituição escolar, mas sim atrevesse os muros da escola e chegue a cada esfera familiar da sociedade, pois o contexto no qual o aluno se insere, interfere muito em suas ações e práticas cotidianas relacionadas a sua saúde e ao seu bem estar. Muitas são as questões que surgem quando se pensa a perspectiva formativa do professor em relação à ES, mas é importante que estas problemáticas não caiam o esquecimento e virem rotineiras do ensino, e sim que possam ser discutidas, repensadas na intenção maior de promover a real educação para a saúde na escola e para a vida. 4. Conclusões Com o desenvolvimento desta pesquisa identificamos a educação para a saúde como peça essencial para a constituição do ensino de Ciências Naturais, enquanto uma área ampla, complexa e significativa das vivências advindas do processo de ensino e aprendizagem. A formação docente precisa caminhar juntamente como esta perspectiva, a fim de tornar o ensino em Ciências de fato produtivo e contributivo para a qualidade de vida dos educandos. Os cursos de formação inicial e continuada precisam estar atentos a esta dimensão que o ensino de Ciências exige, repensando e reformulando seus currículos de forma a auxiliar os profissionais da educação neste processo de fazer educação para a saúde na escola. 5. Palavras-chave Ensino de Ciências Naturais; Diretrizes Nacionais; Educação para a saúde.

5 6. Referências bibliográficas BRASIL. Lei nº 9394/96. Lei de Diretrizes e Bases Nacionais da educação, BRASIL. Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais, Ética / Meio Ambiente / Saúde. Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, CARVALHO, G.S. & JOURDAN, D. Literacia em Saúde: A Importância dos Contextos Sociais. In: C.A.O.M. Júnior, A.L. Júnior & M.J. Corazza (Org.). Ensino de Ciências: múltiplas perspectivas, diferentes olhares. Curitiba: Editora CRV, LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, SABOGA-NUNES, Luís. Literacia para a saúde e a conscientização da cidadania positiva. III Série- Suplemento, 2014.