Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO ESPECIAL Nº PR (2002/ ) RELATOR : MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMA RECORRENTE : TÂNIA MARA TEIXEIRA E CÔNJUGE ADVOGADO : MARCO ANTÔNIO BUSTO DE SOUZA E OUTRO RECORRIDO : HELENA BELISSON ADVOGADO : MARIA CRISTINA CONDE ALVES FRASSON E OUTROS EMENTA CIVIL. LOCAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FIANÇA. CONTRATO DE LOCAÇÃO. MAJORAÇÃO DO ALUGUEL SEM A ANUÊNCIA DOS FIADORES. NOVAÇÃO. SÚMULA 214/STJ. APLICABILIDADE. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Tendo a locadora e o locatário do imóvel majorado o valor do aluguel sem a anuência dos fiadores, não respondem estes pelos acréscimos verificados, mas apenas pelo valor originalmente pactuado, devidamente reajustado na forma prevista no contrato de locação. 2. "O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu" (Súmula 214/STJ). 3. Recurso especial conhecido e parcialmente provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, conhecer do recurso e lhe dar parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Felix Fischer e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Gilson Dipp. Brasília (DF), 06 de março de 2007(Data do Julgamento) MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMA Relator Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/03/2007 Página 1 de 8

2 RECURSO ESPECIAL Nº PR (2002/ ) RELATOR : MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMA RECORRENTE : TÂNIA MARA TEIXEIRA E CÔNJUGE ADVOGADO : MARCO ANTÔNIO BUSTO DE SOUZA E OUTRO RECORRIDO : HELENA BELISSON ADVOGADO : MARIA CRISTINA CONDE ALVES FRASSON E OUTROS RELATÓRIO MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMA: Trata-se de recurso especial manifestado por TÂNIA MARA TEIXEIRA e CÔNJUGE, com base no art. 105, III, "a" e "c", da Constituição Federal, contra acórdão do Tribunal de Alçada do Estado do Paraná. O Tribunal de origem, reformando em parte a sentença que, por sua vez, julgara improcedentes os embargos opostos pelos recorrentes à execução em seu desfavor movida por HELENA BELISSON, determinou a exclusão da quantia de R$ 131,69 (cento e trinta e um reais e sessenta e nova centavos), relativa ao valor do IPTU/96. O acórdão recorrido recebeu a seguinte ementa (fls. 182/183): EMBARGOS DO DEVEDOR. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. CONTRATO LOCATÍCIO. FIADORES. LEGITIMIDADE PASSIVA. CONTRATO PRORROGADO POR PRAZO INDETERMINADO. AUSÊNCIA DE CLÁUSULA EXPRESSA DESONERANDO-OS DOS ÔNUS ASSUMIDOS. VALOR DOS ALUGUERES DEVIDAMENTE DEMONSTRADO NOS AUTOS. MULTA CONTRATUAL. VALIDADE DE SUA COBRANÇA. IPTU DO ANO DE INDEMONSTRAÇÃO DE SEU PAGAMENTO. PEDIDO IMPROCEDENTE. RECURSO PROVIDO, EM PARTE. "Salvo disposição contratual em contrário, qualquer das garantias da locação se estende até a efetiva devolução do imóvel" (Art. 39, da Lei 8.245/91). Demonstrado nos autos a majoração havida no aluguel, com pagamento pelo locatário, do valor pretendido pela locadora, deve tal valor prevalecer na execução. Equivoca-se aquele que imagina que a limitação do valor da cláusula penal estabelecida na Lei de Usura e no Código do Consumidor, vigore para o contrato de locação. Aquele diploma disciplina apenas o contrato de mútuo, e o outro não se aplica à locação de imóveis, campo em que incide a regra do art. 920 do CC, inexistindo ilegalidade na fixação da multa moratória livremente pactuada. Indemonstrado, pela exeqüente, o pagamento do IPTU incidente sobre o imóvel locado, relativo ao ano de 1996, inviável se torna sua cobrança executiva, devendo a locadora buscá-la em processo de conhecimento. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/03/2007 Página 2 de 8

3 Opostos embargos declaratórios, foram eles rejeitados pelo Tribunal a quo. Sustentam os recorrentes ofensa ao art. 535, II, do CPC, ao argumento de que a Turma Julgadora, malgrado a oposição dos embargos de declaração, não teria sanado as omissões apontadas no acórdão recorrido. No mérito, além de dissídio jurisprudencial, apontam ofensa aos arts. 583, 585, IV, do CPC, e 115 do Código Civil de 1916, uma vez que a ação de execução não teria sido fundada em contrato escrito, mas tão-somente em recibos de pagamento de aluguéis da lavra da própria exeqüente, ora recorrida, estando, portanto, "eivados de nulidade por atribuírem arbítrio exacerbado ao credor, em prejuízo do devedor" (fl. 231). Afirmam que o acórdão recorrido teria afrontado também os arts e do Código Civil, tendo em vista que não teriam, na condição de fiadores, assumido a obrigação de "arcar com majorações locatícias às quais não anuíram expressamente". Seguem afirmando que "a prova da existência da obrigação de pagamento de aluguel superior ao previsto pelo contrato reside unicamente em recibos nos quais não há sequer um 'visto' ou assinatura dos fiadores, ora recorrentes, e dos locatários" (fl. 232). A parte recorrida apresentou contra-razões (fls. 260/270). Provido o agravo de instrumento interposto contra decisão que havia negado seguimento ao recurso especial, subiram os autos a esta Corte (fl. 286). É o relatório. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/03/2007 Página 3 de 8

4 RECURSO ESPECIAL Nº PR (2002/ ) EMENTA CIVIL. LOCAÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FIANÇA. CONTRATO DE LOCAÇÃO. MAJORAÇÃO DO ALUGUEL SEM A ANUÊNCIA DOS FIADORES. NOVAÇÃO. SÚMULA 214/STJ. APLICABILIDADE. RECURSO ESPECIAL CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Tendo a locadora e o locatário do imóvel majorado o valor do aluguel sem a anuência dos fiadores, não respondem estes pelos acréscimos verificados, mas apenas pelo valor originalmente pactuado, devidamente reajustado na forma prevista no contrato de locação. 2. "O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu" (Súmula 214/STJ). 3. Recurso especial conhecido e parcialmente provido. VOTO MINISTRO ARNALDO ESTEVES LIMA (Relator): Versam os autos acerca de embargos opostos por TÂNIA MARA TEIXEIRA e CÔNJUGE à execução em seu desfavor movida por HELENA BELISSON. Da sentença que julgou parcialmente procedentes os embargos à execução, tão-somente para a excluir a quantia de R$ 131,69 (cento e trinta e um reais e sessenta e nova centavos), relativa ao valor do IPTU/96, foi interposto recurso de apelação, ao qual foi negado provimento pelo Tribunal de origem. Sustentam os recorrentes, em seu recurso especial, ofensa aos arts. 535, II, 583, 585, IV, do CPC, 115, e do Código Civil de 1916, além de dissídio jurisprudencial. A teor da pacífica e numerosa jurisprudência, para a abertura da via especial, requer-se o prequestionamento da matéria infraconstitucional. A exigência tem como desiderato principal impedir a condução ao Superior Tribunal de Justiça de questões federais não debatidas no Tribunal de origem. Verifica-se, na espécie, que Tribunal de origem não proferiu nenhum juízo de valor a respeito do art. 115 do Código Civil de 1916, restando ausente seu necessário prequestionamento, o que atrai o óbice das Súmulas 282/STF e 211/STJ. Conforme previsto no art. 535 do CPC, os embargos de declaração têm como objetivo sanar eventual obscuridade, contradição ou omissão existentes na decisão recorrida. Na Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/03/2007 Página 4 de 8

5 hipótese, o Tribunal de origem pronunciou-se de forma clara e precisa sobre a questão posta nos autos, assentando-se em fundamentos suficientes para embasar a decisão, não havendo falar, por conseguinte, em ofensa ao referido dispositivo legal. Quanto ao alegado dissídio jurisprudencial, não foi ele comprovado nos moldes previstos pelos arts. 541, parágrafo único, do CPC e 544, 1º e 2º, do RISTJ. Isso porque o acórdão recorrido não guarda a necessária similitude fática com o acórdão paradigma (REsp /SP), tendo em vista que este, ao contrário do ocorrido na hipótese dos autos, concluiu que o Tribunal de origem não teria suprimido a omissão apontada. Também não se verifica a alegada violação aos arts. 583, 585, IV, do CPC, porquanto a ação de execução ajuizada contra os recorrentes baseou-se no contrato de locação em que anuíram na condição de fiadores, conforme se observa da leitura da respectiva petição inicial e dos documentos acostados aos autos (fls. 25/27 e 38/39). No que concerne à aduzida afronta aos arts e 1.483, entendo assistir razão aos recorridos, em parte. Com efeito, é firme a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça no sentido de que, devendo ser o contrato de fiança interpretado restritivamente, não se pode admitir a responsabilização do fiador por encargos locatícios acrescidos ao pactuado originalmente sem sua anuência. Tal entendimento encontra-se, inclusive, consubstanciado no Enunciado Sumular 214/STJ: "O fiador na locação não responde por obrigações resultantes de aditamento ao qual não anuiu". Nesse mesmo sentido: LOCAÇÃO. FIADOR. ACORDO PARA REAJUSTE DE ALUGUEL. - Não tendo o fiador participado de acordo para majoração do encargo locatício, não pode ser responsabilizado pelos acréscimos verificados no aluguel. - Recurso provido. (REsp /SP, Rel. Min. FELIX FISCHER, Quinta Turma, DJ 19/5/1997, p ) A Corte de origem, in casu, com base nos recibos de pagamento de fl. 69, firmou a compreensão de que o valor do aluguel teria sido majorado e, ainda, que os recorrentes-fiadores teriam prévio conhecimento desse fato. Verbis (fl. 188): Quanto ao valor locatício, que dizem os recorrentes não haver sido majorado, os recibos de fls. 53 dos autos de execução demonstram Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/03/2007 Página 5 de 8

6 exatamente o contrário, pois consta ali que o fiador durante o decorrer do ano de 1995, efetuou diversos pagamentos de alugueres relativos ao imóvel versado nos autos, no valor de R$ 300,00 (trezentos reais), o que demonstra ter havido, sim, majoração, com anuência do locatário, do valor locatício para essa importância, o que demonstra também aqui, ter agido com acerto o julgador singular, ao estabelecer esse valor para o aluguel que se pretende cobrar. E ainda (fl. 215): Consta também da decisão guerreada, que os recibos servem para demonstrar a majoração do valor locativo, anteriormente ajustado entre os contratantes em R$ 100,00, sendo que os recibos demonstram ter havido vários pagamentos do aluguel no valor mensal de R$ 300,00. Portanto, os recibos não embasam a execução, apenas demonstram a elevação do valor locativo, por acordo entre locadora e locatário. Todavia, a simples leitura dos referidos recibos é suficiente para se constatar que os pagamentos não foram realizados pelos recorrentes-fiadores, mas sim pelo próprio locatário-afiançado, Sr. Pedro Rodrigues Froes, de sorte que a conclusão esposada pela Turma Julgadora não encontra nenhum suporte fático capaz de corroborá-la. Vale ressaltar que o deslinde da presente controvérsia não esbarra no óbice da Súmula 7/STJ, tendo em vista que, malgrado a lesão a direito federal deva ser analisada partindo-se do suporte fático fornecido pelo Tribunal de segunda instância, versa a presente hipótese acerca da mera revaloração das provas trazidas aos autos. A propósito, confiram-se os seguintes precedentes: AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. AUXÍLIO ACIDENTE. LESÕES POR ESFORÇO REPETITIVO. L.E.R. COMPROVAÇÃO DA REDUÇÃO DA CAPACIDADE FUNCIONAL COM REPERCUSSÃO NA CAPACIDADE LABORATIVA. EXAME DE PROVA. SÚMULA Nº 7/STJ. INAPLICABILIDADE. A verificação da existência de prova material não importa em ofensa ao enunciado da Súmula nº 7/STJ, eis que o reexame do conjunto fático-probatório é diverso da mera valoração da prova constituída e carreada aos autos; Agravo Regimental a que se nega provimento. (AgRg no REsp /SP, Rel. Min. PAULO MEDINA, Sexta Turma, DJ 10/11/2003, p. 218) EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA. PREVIDENCIÁRIO. DISACUSIA. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/03/2007 Página 6 de 8

7 SÚMULA 44/STJ. VALORAÇÃO DA PROVA. INAPLICABILIDADE DA SÚMULA 7/STJ. RECURSO REJEITADO Em se tratando de mera valoração de prova produzida na instância ordinária, não se aplica o enunciado da Súmula nº 7 desta Corte. Precedentes da Corte Especial. 4. Embargos de divergência rejeitados. (EREsp /SP, Rel. Min. HAMILTON CARVALHIDO, Terceira Seção, DJ 26/3/2001, p. 365) Destarte, resta comprovada a violação aos arts e do Código Civil, bem como o dissídio jurisprudencial. Ante o exposto, conheço do recurso especial e dou-lhe parcial provimento, para limitar a responsabilidade dos recorrentes-fiadores aos valores originalmente pactuados no contrato de locação, devidamente atualizados na forma nele prevista, devendo ser excluída da execução os valores decorrentes da majoração pactuada entre a recorrida e o locatário, sem sua anuência. Condeno a parte recorrida ao pagamento das custas e despesas processuais, bem como dos honorários advocatícios, fixados em 10% sobre o valor a ser excluído da execução. É o voto. Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/03/2007 Página 7 de 8

8 CERTIDÃO DE JULGAMENTO QUINTA TURMA Número Registro: 2002/ REsp / PR Números Origem: PAUTA: 06/03/2007 JULGADO: 06/03/2007 Relator Exmo. Sr. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA Subprocuradora-Geral da República Exma. Sra. Dra. LINDÔRA MARIA ARAÚJO Secretário Bel. LAURO ROCHA REIS AUTUAÇÃO RECORRENTE : TÂNIA MARA TEIXEIRA E CÔNJUGE ADVOGADO : MARCO ANTÔNIO BUSTO DE SOUZA E OUTRO RECORRIDO : HELENA BELISSON ADVOGADO : MARIA CRISTINA CONDE ALVES FRASSON E OUTROS ASSUNTO: Civil - Locação - Predial Urbana - Execução CERTIDÃO Certifico que a egrégia QUINTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: "A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso e lhe deu parcial provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator." Os Srs. Ministros Felix Fischer e Laurita Vaz votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Gilson Dipp. Brasília, 06 de março de 2007 LAURO ROCHA REIS Secretário Documento: Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 19/03/2007 Página 8 de 8