BIOMASSA SECA DE DIFERENTES ESPÉCIES VEGETAIS E O CULTIVO DO ALGODOEIRO EM SPD NO CERRADO 1

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1 BIOMASSA SECA DE DIFERENTES ESPÉCIES VEGETAIS E O CULTIVO DO ALGODOEIRO EM SPD NO CERRADO 1 Fernando Mendes Lamas (Embrapa Agropecuária Oeste / lamas@cpao.embrapa.br), Luiz Alberto Staut (Embrapa Agropecuária Oeste) RESUMO - Com o objetivo de avaliar a produção de biomassa seca de diferentes espécies vegetais cultivadas isoladas ou consorciadas com leguminosas e seus efeitos sobre a produtividade do algodoeiro cv. BRS Cedro, foi realizado um experimento em Primavera do Leste, MT, no ano agrícola de 2005/2006. As espécies avaliadas foram semeadas imediatamente após a colheita da soja, no início de março de Trinta dias antes da semeadura do algodoeiro, foi feita dessecação das plantas com o herbicida glifosato. O algodoeiro foi semeado em dezembro/2005, utilizando-se o espaçamento, entre fileiras, de 0, 90 m. Imediatamente antes da semeadura do algodoeiro, foram feitas amostragens com o objetivo de quantificar a biomassa seca sobre a superfície do solo, as quais foram repetidas nos meses de fevereiro, março, abril e junho de O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso com quatro repetições. Considerando a quantidade de biomassa existente quando da semeadura do algodoeiro e a sua persistência, Brachiaria ruziziensis, B. decumbens, Panicum maximum cv. Mombaça e P. maximum cv. Tanzânia e B. brizanta cv. Xaraés, são adequadas para a produção de palha, quando semeadas, imediatamente, após a colheita da soja. As espécies avaliadas não interferiram no crescimento, no desenvolvimento e na produtividade de fibra do algodoeiro. Palavras chave: sistema plantio direto, algodoeiro, rotação de culturas INTRODUÇÃO A alternativa mais adequada às condições tropicais no que tange ao manejo do solo, é o Sistema Plantio Direto. Este se fundamenta em programas de rotação de culturas e caracteriza-se pelo cultivo em terreno coberto por palha e/ou plantas em crescimento e em ausência de preparo dos solo, por tempo indeterminado (HERNANI e SALTON, 2001). Avaliando diversos sistemas de manejo em solos de textura média e muito argilosa, Medeiros et al. (2001), Carvalho et al. (2004) e Pavinato (2005) concluíram que a produtividade de algodão, quando se compara o Sistema Plantio Direto com os demais sistemas não difere significativamente. De acordo com Corrêa e Sharma (2004), o plantio direto pode diminuir a incidência de plantas daninhas e com isso reduzir o custo de produção da cultura do algodoeiro. Com adequado aporte de palha, o controle de plantas daninhas pode ser superior a 90% (MATEUS et al., 2004). Além de outras vantagens, o Sistema Plantio Direto pode contribuir de maneira significativa para a redução da emissão de CO2 para a atmosfera. Este sistema, proporciona aumento do teor de C orgânico do solo e contribui para o seqüestro de C atmosférico, ao contrário dos sistemas convencionais, com revolvimento sistemático do solo (CORAZZA et al., 1999). Este efeito é ainda maior quando se utiliza um esquema diversificado de rotação culturas (d ANDRÉA et al., 2004), desde que estejam envolvidas espécies com elevada relação C/N, como, por exemplo, a braquiária. 1 Tabalho parcialmente financiado pelo Fundo de Apoio a Cultura do Algodão de Mato Grosso - FACUAL

2 Uma característica das áreas tropicais é o elevado índice metabólico que atinge os principais microrganismos decompositores de matéria orgânica, o que acelera a taxa de decomposição da matéria orgânica. O estabelecimento de cobertura do solo oriunda de diferentes espécies vegetais não apresenta efeitos ao longo do ciclo da cultura, pelo fato de ser rapidamente degradada pelos microrganismos, deixando, assim, o solo desprotegido. A existência de camada de palha sobre o solo é essencial para o sucesso do Sistema Plantio Direto. O sistema de rotação e sucessão de culturas deve permitir a manutenção de uma cobertura mínima de palha no solo. Para auxiliar na escolha destas espécies, é fundamental conhecer a adaptação à região e a habilidade em crescer num ambiente menos favorável, uma vez que as culturas comerciais são estabelecidas nas épocas mais propícias (ALAVARENGA et al., 2001). Com o objetivo de avaliar a produção de biomassa seca de diferentes espécies vegetais e seus efeitos sobre a produtividade do algodoeiro, foi desenvolvido este trabalho. MATERIAL E MÉTODOS As espécies avaliadas foram semeadas no outono de 2005, logo após a colheita da soja (março/2005), em Primavera do Leste, MT. Na Tabela 1 estão listadas as espécies avaliadas, assim como os consórcios. Tabela 1. Espécies estudadas para produção de palha, semeadas no outono de 2005, em Primavera do Leste, MT. Espécies 1 Milheto 2 Sorgo 3 Crotalária spectabilis 4 Guandu 5 Panicum maximum cv Mombaça 6 Panicum maximum cv Tanzânia 7 Panicum spp. 8 Brachiaria ruziziensis + Crotalária 9 Brachiaria ruziziensis + Guandu 10 Brachiaria decumbens 11 Brachiaria humidicula 12 Brachiaria ruziziensis 13 Brachiaria brizanta c.v. Marandu 14 Brachiaria brizanta c.v. Xaraés A área das parcelas experimentais foi de 100,00 m 2 (10,0 x 10,0 m). Sendo o delineamento experimental utilizado o de blocos casualizados com quatro repetições. As avaliações da produção de biomassa seca foram realizadas em dezembro de 2005, imediatamente antes das semeadura do algodoeiro e em fevereiro, março, abril e junho/2006. Para a determinação da biomassa seca, em cada parcela experimental foram coletadas três amostras em 0,25 m 2, que depois de secas em estufa de circulação forçada a 70º C, foram pesadas em balança de precisão e os dados transformados em kg ha -1, (utilizando-se a seguinte expressão: kg ha -1 = (g parcela - 1 x 10 * )/0,25). Em dezembro/2005, após a dessecação das diferentes espécies com o herbicidas glifosate, foi realizada a semeadura do algodoeiro cultivar BRS Cedro, no espaçamento de 0,90 m com 7 a 8 plantas m -1. A colheita do algodão foi realizada em julho/2006, considerando-se como área útil as duas

3 fileiras centrais de cada parcela (1,80 x 10 m = 18,0 m 2 ). Antes da primeira colheita, em cada parcela, dentro da área útil foram coletados vinte capulhos que constituiu amostra para a obtenção da porcentagem de fibra. Após a colheita, foram medidas a altura de dez plantas dentro da área útil de cada unidade experimental. Os dados obtidos foram submetidos à análise de variância e posteriormente ao teste de Scott Knott, a 5%, para comparação das médias dos tratamentos. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados de biomassa seca produzida pelas diversas espécies nas avaliações realizadas em dezembro/2005, fevereiro, março e abril de 2006, estão na Tabela 2. Na avaliação realizada em dezembro, imediatamente antes da semeadura do algodoeiro, todas as espécies produziram mais de 5 t de biomassa seca por hectare. De acordo com Alvarenga et al. (2001), acima de 6 t ha -1 de resíduos sobre a superfície do solo, é uma quantidade adequada ao Sistema Plantio Direto, com a qual consegue-se boa cobertura do solo. Em termos de produção de biomassa seca a espécie Panicum maximum cv. Mombaça se destacou das demais. Entretanto, a dessecação desta espécie é mais difícil, o que pode ser considerado como ponto negativo para a referida espécie. Enquanto que para a B. ruziziensis e B. decumbens, a utilização de 1440 g ha -1 de glifosato foram suficientes para a completa dessecação, para o P. maximum cv. Mombaça e cv. Tanzânia foram necessárias 2880 g ha -1. Além da maior dificuldade para o manejo químico, a utilização destas espécies deve ser feita com bastante critério. Pastagens do gênero Panicum quando não manejadas adequadamente proporcionam condições para a formação de touceiras o que dificulta sobremaneira a realização da semeadura com máquinas tratorizadas. Além da produção de biomassa da parte aérea, espécies do gênero Brachiaria possuem sistema radicular bastante volumoso, o que contribui para a melhoria da estrutura do solo (BROCH, 2000). Outro aspecto importante relacionado com a quantidade de biomassa seca sobre a superfície do solo, é o efeito desta sobre o controle de plantas daninhas. Com um adequado aporte de palha, o controle de plantas daninhas pela palha, pode ser superior a 90% (MATEUS et al., 2004). Tabela 2. Biomassa seca (kg ha -1 ) em avaliações realizadas em dezembro de 2005, fevereiro, março, abril e junho de 2006 de espécies vegetais semeadas em março de 2005, imediatamente após a colheita da soja. Primavera do Leste, MT, Épocas das avaliações dez/05 Fev/06 mar/06 Abr/06 jun/06 1-Milheto cv. BRS b 4.302c 1.938b 1.624b 1.451b 2-Sorgo Santa Elisa b 5.001b 3.969a 2.106b 2.144b 3-Crotalaria spectabilis 8.226b 3.517c 1.932b 1.739b 1.384b 4-Guandu 9.035b 3.486c 2.783b 1.923b 1.937b 5-P. maximum cv. Mombaça a 6.631a 4.354a 3.505a 3.376a 6-P.maximum cv. Tanzânia b 6.801a 4.163a 3.296a 1.907b 7-P. maximium cv. Massai 9.349b 3.846c 3.257a 2.272b 2.368a 8-B. ruziziensis + C. spectabilis 9.459b 5.968a 3.213a 2.959a 2.707a 9-B. ruziziensis + Guandu b 5.234b 2.983b 2.636a 2.019b 10-B. decumbens b 6.565a 3.705a 3.356a 2.741a 11-B. humidicula 5.009b 2.739c 2.348b 1.585b 1.548b 12-B. ruziziensis 8.908b 3.991c 2.722b 2.320b 2.287a 13-B. brizanta cv. Marandu b 5.236b 3.508a 2.842a 1.575b 14-B. brizanta cv. Xaraés b 6.224a 3.900a 3.068a 1.921b C.V (%) 36,55 29,26 34,45 38,32 23,69 Obs. Médias de tratamentos seguidas pela mesma letra, não diferem entre si pelo teste de Scott Knott, a 5%, para a mesma época de avaliação.

4 A utilização de braquiárias além de viabilizar o Sistema Plantio Direto, é uma alternativa para o sistema de produção onde se integra agricultura com a pecuária. O consórcio de leguminosas com gramíneas, pode proporcionar ganhos de nitrogênio para o sistema (PORTES et al., 2003). As variáveis altura de plantas, porcentagem de fibra e produtividade de fibra do algodoeiro, não foram significativamente influenciadas pela espécie utilizada como cobertura do solo (Tab. 3). Tabela 3. Altura de plantas na colheita, porcentagem de fibra obtida em máquina de rolo e produtividade de fibra da cultivar BRS Cedro, em função das diferentes espécies vegetais. Primavera do Leste, MT, Altura de plantas (m) % de fibra Produtividade de fibra (kg ha -1 ) 1- Milheto 1,21 a 44,86 a 1410,19ª 2- Sorgo 1,21 a 45,35a 1308,81ª 3- Crotalária 1,23 a 44,82a 1425,12ª 4- Guandu 1,24 a 44,56a 1509,39a 5- Mombaça 1,22 a 45,56a 1449,28a 6- Tanzânia 1,25a 45,68a 1578,48a 7- Massai 1,22a 45,13a 1412,48a 8- Brachiaria ruziziensis + crotalária 1,22a 42,67a 1358,81a 9- Brachiaria ruziziensis + guandu 1,23a 44,75a 1556,76a 10- Brachiaria decumbens 1,23a 44,31a 1367,01a 11-Brachiaria humidicula 1,19a 45,02a 1411,68a 12- Brachiaria ruziziensis 1,23a 45,54a 1233,92a 13- Brachiaria brizanta c.v. Marandu 1,20a 45,76a 1341,99a 14- Brachiaria brizanta c.v. Xaraés 1,21a 45,31a 1341,73a C.V. (%) 4,20 3,37 10,21 Obs. Médias de tratamentos seguidas pela mesma letra não diferem entre si pelo teste de Scott Knott, a 5%. CONCLUSÕES As espécies avaliadas não tiveram efeitos sobre a altura de plantas, porcentagem e produtividade de fibra do algodoeiro. A exceção do milheto cv. BRS 1501 e da B. humidicula, as demais espécies atenderam de maneira adequada a produção de massa para cobertura de solo no Sistema Plantio Direto. CONTRIBUIÇÃO PRÁTICA E CIENTÍFICA DO TRABALHO Com as informações obtidas neste trabalhos é possível definir sobre as espécies vegetais mais adequadas para a produção de biomassa seca nas condições do cerrado de Mato Grosso REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALVARENGA, C.R. ; CABEZAS, W.A.L.; CRUZ, J.C; SANTAN, D.P. Plantas de cobertura de solo para Sistema Plantio Direto. Informe Agropecuário, Belo Horizonte, v.22, n.208, p , 2001.

5 BROCH, D.L. Integração agricultura-pecuária no Centro-Oeste do Brasil. In: ENCONTRO NACIONAL DE PLANTIO DIRETO NO CERRADO, 4., 1999, Uberlândia, MG. Plantio direto na integração lavoura-pecuária. Uberlândia:UFU, p CARVALHO, M.A.C. de; ATHAYDE, M.L.F.; SORATTO, R.P.; ALVES, M.C.; SÁ, M.E. de. Adubação verde e sistemas de manejo do solo na produtividade do algodoeiro. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.39, n.12, p , dez CORAZZA, E.J.; SILVA, J.E; RESCK, D.VS.; GOMES, A.C. Comportamento de diferentes sistemas de manejo como fonte ou depósito de carbono em relação à vegetação de cerrado. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v.23, n., p , CORRÊA, J. C.; SHARMA, R. D. Produtividade do algodoeiro herbáceo em plantio direto no Cerrado com rotação de culturas. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, DF, v. 39, n. 1, p , jan D ANDRÉA, A.F.; SILVA, M.L.N.; CURI, N.; GUILHERME, L.R.G. Estoque de carbono e nitrogênio e formas de nitrogênio mineral em solo submetido a diferentes sistemas de manejo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.39, n.2, p , fev HERNANI, L.C.; SALTON, J.C. Manejo e conservação do solo. In: ALGODÃO:tecnologia de produção. Dourados:Embrapa Agropecuária Oeste: Campina Grande:Embrapa Algodão, p MATEUS, G.P.; CRUSCIOL, C.A.C.; NEGRESLOI, E. Palhada de sorgo guiné gigante no estabelecimento de plantas daninhas em áreas de plantio direto. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.39, n.6, p , MEDEIROS, B. G. de; COSTA, A.; ALMEIDA, W. P. de; JORGE, W.; RODRIGUES, B.N. Produtividade do algodoeiro sob cultivo mínimo, convencional e Sistema Plantio Direto em sucessão e monocultura. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE ALGODÃO, 3, 2001, Campo Grande. Anais... Campina Grande:Embrapa Algodão; Campo Grande:UFMS; Dourados:Embrapa Agropecuária, v.1. (Embrapa Algodão. Documentos, 82; Embrapa Agropecuária Oeste. Documentos, 32). PAVINATO, A. Entraves para a cultura do algodoeiro em sistema plantio direto. In: ENCONTRO DE PLANTIO DIRETO NO CERRADO, 8., 2005, Tangará da Serra. Anais... Tangará da Serra: Gráfica e Editora Sanches, p PORTES, T. de A.; CARVALHO, S.I.C. de; KLUTHCOUSKI, J. Aspectos fisiológicos da plantas cultivadas e análise de crescimento da braquiaria consorciada com cereais. In: KLUTHCOUSKI, J.; STONE, L.F.; AIDAR, H. (Ed.). Integração lavoura-pecuária. Santo Antönio de Goias: Embrapa Arroz e Feijão,, p