Universidade e escola: práticas pedagógicas voltadas para as ações sustentáveis

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1 P á g i n a 36 Universidade e escola: práticas pedagógicas voltadas para as ações sustentáveis Silvio Ronney de Paula Costa * Resumo: Este artigo aborda a urgente implementação de um amplo esforço educacional nas redes de ensino, visando uma nova postura quanto ao uso dos recursos naturais, bem como o correto manuseio do óleo de cozinha e outros elementos usados no quotidiano de nossas cozinhas doméstica e industrial. Igualmente, o presente texto apresenta um elenco de iniciativas racionais com objetivo de combater a poluição nos rios da Cidade de Cabo Frio. Palavras-chave: Óleo gestão Cabo Frio poluição desenvolvimento. Introdução Atualmente, o lixo pode ser considerado um dos maiores problemas enfrentados pela população mundial. Assim, medidas para sanar os males do lixo, como por exemplo, as reciclagens de materiais sólidos e orgânicos, têm surgido por meio de diversos projetos e programas na sociedade civil e Universidades. A reciclagem é uma forma muito atrativa de gerenciamento de resíduos, pois transforma o lixo em insumos, com diversas vantagens econômicas, sociais e ambientais. Inúmeras experiências têm mostrado que a reciclagem pode contribuir para a economia dos recursos naturais, além de possibilitar melhoria no bem-estar da comunidade, gerando a Responsabilidade Social e Ambiental dos cidadãos. Segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (ABIOVE), só no Estado de São Paulo são consumidos, anualmente, 242 milhões de litros de óleo de cozinha. O número nacional é ainda muito maior, no país, onde são usados três bilhões de litros de óleo ao ano. Como não é consumido integralmente, o problema de como descartar o óleo que restou das frituras é muito sério. Sabemos que a atitude mais comum dos consumidores e de muitos estabelecimentos comerciais é jogar o óleo de cozinha usado diretamente na pia da cozinha. E quando jogado na rede de esgoto, o óleo pode se solidificar, aglutinar-se a outras partículas e entupir os encanamentos. Para ter uma ideia desta gravidade, 40% dos casos de entupimentos de tubulações são causados pelo óleo solidificado. Conforme disposições da Lei em seu artigo 1º, a Educação Ambiental é um processo em que se busca despertar a preocupação individual e coletiva para a questão ambiental, garantindo o acesso à informação em linguagem adequada, contribuindo para o desenvolvimento de uma consciência crítica e estimulando o enfrentamento das questões ambientais e sociais. E sabendo dessas questões que fazem parte também da nossa região, Cabo Frio, Rio de Janeiro, Brasil, foi elaborado o Projeto

2 P á g i n a 37 Recic-Óleo em conjunto com os alunos do 4º período do Curso de Gestão Ambiental, do 6º período de Engenharia de Petróleo e Gás e os alunos da Empresa Júnior do Curso de Administração de Empresas da UNESA - Campus Cabo Frio, sob nossa coordenação, tendo por estratégia pedagógica a disseminação do conhecimento de práticas responsáveis através de uma comunicação e marketing ambiental com materiais de divulgação física e digital, palestras em escolas, associações, órgão públicos e empresas. Durante as ações de conscientização serão instalados unidades de Eco-Pontos para consolidação do trabalho que está sendo realizado na Região dos Lagos. 1 O objetivo central do projeto é implantar um amplo trabalho de coleta e reciclagem de óleo de cozinha, com o intuito de promover a educação ambiental e pesquisa para geração de energia limpa na Região dos Lagos. Orientar e estimular novos comportamentos e atitudes para uma consciência de consumo responsável que levem à conservação e preservação dos recursos naturais, além de minimizar os impactos do descarte de óleo usado no meio ambiente, contribuindo para o desenvolvimento sustentável do planeta. Para melhor entender a dimensão do Projeto, os objetivos específicos são: 1 - Evitar transtornos às redes de esgotamento sanitário e sobrecarga da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) por meio da redução de lançamentos de óleo de cozinha nas pias de estabelecimentos comerciais, nas residências e escolas da cidade; 2 - Diminuir a ação altamente poluidora do descarte de óleo em locais indevidos, bueiros, pias ou em lixo comum; 3 - Contribuir com a preservação de rios, córregos, nascentes e lagos de nosso município e região, evitando que o óleo de cozinha polua tais lugares; 4 - Envolver e conscientizar a nossa comunidade educacional, professores e funcionários para o descarte correto do óleo de cozinha utilizado. E enfatizar a importância da forma correta do descarte do óleo. 5 Incentivar a publicação de artigos acadêmicos em Congressos; 6 - Sensibilizar a todos para que esta atitude seja multiplicada com seus familiares e amigos; 7 Realizar palestras com os alunos do Curso de Gestão Ambiental que estão envolvidos no projeto, em escolas (estaduais, municipais e particulares), órgãos públicos e empresas, que alertem para a importância do descarte correto de óleo de cozinha utilizado e instalação de Eco-Pontos; 8 Desenvolver pesquisas científicas no Laboratório do Campus para produção de biodiesel, a partir, do óleo de cozinha usado. 1 Nosso intuito é estimular parcerias entre as esferas pública e privada intermediadas pela UNESA-Cabo Fio.

3 P á g i n a 38 Desenvolvimento O presente estudo inicialmente compreende adequar o Projeto de Extensão às metodologias de pesquisas científicas tendo como princípio as principais bibliografias dos autores nas áreas da Educação, Tecnologia da Informação e Comunicação, Gestão Ambiental e Sustentabilidade para ratificar a necessidade da inserção da Universidade em pesquisas de campo, estudos científicos, debates e ações dentro e fora das Escolas e Universidades. E seguindo este princípio, o Prof. Mário Freitas nos revela que a educação: Para o Desenvolvimento Sustentável se constitui uma rede coordenada de interações linguísticas e culturais e de ações concretas, promotoras de aprendizagens ontogénicas, que gerem novas consciências individuais (e comportamentos concretos com elas condizentes) e contribuam para a progressiva estabilização cultural dessas consciências, tendo em vista a construção de modelos de vida humana e social pacíficos, solidários e justos, respeitadores dos direitos humanos e da diversidade cultural, reintegrados no equilíbrio global da natureza (2004, p. 555). Esta rede coordenada de construção de diversos saberes faz parte da metodologia na perspectiva dialética e reafirma a necessidade de uma relação ativa entre os agentes no processo educacional. E diante deste processo dialógico entre a Coordenação do Curso de Gestão Ambiental, do Curso de Engenharia de Petróleo e Gás, do Curso de Administração de Empresas, professor da disciplina Gestão da Comunicação e Marketing em Projetos Ambientais, os alunos do Ensino Superior e as escolas municipais, mesmo sendo um grupo complexo com distinções em suas áreas de atuação, agregam muito valor ao Projeto com os seus conhecimentos específicos e, de forma integrada, estimulam o Desenvolvimento Sustentável da região. Neste processo de inter-relação e transdisciplinaridade os agentes envolvidos visam: Estabelecer uma comunicação mais intensa, mais viva, no processo educativo, é um dos objetivos primordiais da pedagogia da linguagem total. É fundamental que nós, como educadores, proporcionemos ao homem novo uma capacidade para que emerja de seu mutismo. A educação deve proporcionar técnicas de aprendizagem, autoexpressão e participação (PÉREZ, 1978, p.31). Com comunicação transversal entre os cursos e alunos e uma relação mais intensa e viva, a sala de aula passou a ser um grande laboratório prático para a elaboração de ações programadas e integradas dentro de um Projeto Ambiental que envolve além da Universidade Estácio de Sá Campus Cabo Frio, a empresa SOS Óleo Vegetal, Óleo Liza

4 P á g i n a 39 e o CEAMA (Centro Educacional Amigos do Meio Ambiente). O projeto utiliza como estratégia de comunicação a divulgação por meio de palestras, cartazes físicos, digitais e um blog com informações do projeto e das ações que são realizadas. A distribuição de tarefas entre os alunos são definidas após as reuniões semanais realizadas na sala de aula (com discussões e análise das ações) e definição de novas estratégias para atuação dentro e fora do Campus. Sem perder o foco no objetivo do Projeto que visa esclarecer e divulgar a importância da reciclagem do óleo de cozinha usado e a responsabilidade socioambiental. Todo material de comunicação é construído em sala de aula e já foram produzidos; folhetos, banner, cartazes, mensagens de texto para celulares e um blog. Algumas imagens das ações realizadas no projeto estão no anexo deste artigo. Conclusão Resultados e Impactos esperados nas áreas, a saber: a Institucional: Estimular o desenvolvimento de Projetos de Extensão como forma de colocar em prática todos os conceitos acadêmicos que os alunos aprendem em suas disciplinas na sala de aula; b - Ambiental: Analisando o projeto em sua concepção geral, destacamos um ponto fundamental, o respeito pelo meio ambiente, envolvendo a comunidade acadêmica em uma ação prática, feita com simplicidade e poucos recursos. Destacamos abaixo as coletas já realizadas nos Eco-Pontos instalados e a quantidade recolhida do óleo de cozinha usado: 1 - UNESA Campus Cabo Frio - Coleta de 260; 2 - Escola Municipal Prof. Zélio Jotha - Coleta de 97; 3 - Escola Municipal Prof. Edilson Duarte - Coleta de 80 litros; 4 - Escola Municipal Luiz Lindemberg Coleta 40 litros; 5 - Escola Estadual Prof. Renato Azevedo - Coleta de 60 litros; 6 - Centro de Recurso Integrado de Atendimento ao Adolescente (CRIAAD) Unidade Cabo Frio - Coleta de 20 litros; c Social: A relação entre a UNESA, as Escolas, a Comunidade Empresarial e Comunidade Civil para uma parceria Sustentável envolve diretamente neste período 02 professores do Ensino Superior, 15 alunos do Ensino Superior, 43 professores da escola, aproximadamente alunos do Ensino Superior e alunos do Ensino Médio e Fundamental, 02 empresas com 45 funcionários; d Acadêmico: Relacionar teoria e prática com um Projeto de Extensão in loco nas escolas, empresas e associações, reflete postura acadêmica e profissional nos alunos do Ensino Superior que estão ligados diretamente nas ações do Projeto. A

5 P á g i n a 40 comunidade acadêmica pôde colocar em prática conceitos sócio-sustentáveis expressados no Projeto Pedagógico do Curso no tópico de Finalidades e Objetivos, o texto diz: busca-se que o aluno seja capaz de usar as ferramentas da Gestão Ambiental para auxiliar na busca da eficiência técnica e econômica nas empresas, aperfeiçoando a produção, otimizando a utilização dos recursos ambientais e contribuindo para elevar o conceito social das organizações no sentido da preservação e do cuidado com os recursos naturais (Resolução 465 / CONSUNI / 2002 de 5 de dezembro de 2002); e Científico: O processo de produção do biodiesel no laboratório e as oficinas realizadas nas escolas promovem o fazer ciência e contribui para gerar atitudes sustentáveis no ambiente educacional. Ao mesmo tempo o aluno do Ensino Superior une teoria e prática para o desenvolvimento de um Projeto, Artigo ou Ensaio, envolvendo a nova Gestão Administrativa e Sustentável. Fazer ciência demonstra abertura de portas, fronteiras, quebra de paradigmas e ações que gerem cidadãos críticos e reflexivos. O aprofundamento de uma visão crítica da sociedade capitalista implica nos debruçarmos sobre a realidade contemporânea e empreendermos uma vigorosa crítica à ideologia do progresso, do desenvolvimento e do paradigma científico-tecnológico, próprios da civilização industrial moderna. O pensamento crítico, neste sentido, tem um papel relevante na formação de sujeitos capazes de criticar o atual modelo de sociedade e, para além da crítica, sempre necessária, também se integrarem na luta coletiva pela construção de um outro projeto societário, em que as relações de exploração sejam superadas (TREIN, 2008, p.43). Diante desta integração entre o universo acadêmico e a sociedade organizada em prol do desenvolvimento sustentável da Região dos Lagos, ratifica-se a necessidade do desenvolvimento de projetos e pesquisas acadêmicas alinhadas às necessidades e problemas da sociedade, ou seja, extensão das pesquisas científicas ao campo prático e próximo da sociedade. Referências Bibliográficas: Brasil. Lei nº 9795, de 27 de abril de 1999 que institui a Política Nacional de Educação Ambiental. Disponível em: < Acesso em 18 dez BOASD, S. (ORG) Formação e Informação Ambiental. São Paulo: Editora Summus, CANDAU, Vera Maria (Org.). Reinventar a Escola. 4ª ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.

6 P á g i n a 41 CARVALHO, Maria Cecilia Maringoni de (Org.). Construindo o saber: metodologia científica fundamentos e técnicas. 17.ed. Campinas: Papirus, DONAIRE, Denis. Gestão Ambiental na Empresa. 2. Ed. São Paulo: Editora Atlas, FREIRE, Paulo. Educaçao como prática da liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra, Pedagogia da Autonomia. 25ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, FREITAS, Mario. A educação para o desenvolvimento sustentável e a formação de educadores/professores. Florianópolis: Ed. Perspectiva, v. 22, n. 02, p , jul./dez Disponível em <: Acesso em 15 janeiro GOUVEA, Guaracira. Imagem e Formação de Professores. Revista Teias, ano 7, nº 13-14, jan/dez, Rio de Janeiro: Disponível em: < > Acesso em 05 novembro IEB & WWF. Manual de Comunicação e Meio Ambiente. São Paulo: Ed. Petrópolis, TREIN, Eunice S. Educação Ambiental no Brasil: A Perspectiva Crítica e Emancipatória da Educação Ambiental. Salto para o Futuro. Ano XVIII boletim 01 - Março de Disponível em < Acesso em 16 setembro de * O autor é bacharel em Comunicação Social pela UNESA, Especialista em Gestão do Conhecimento e Inteligência Empresarial COPPE UFRJ; Mestrando em Educação pelo PPGE Unirio. Atualmente leciona as disciplinas Gestão da Comunicação e Marketing em Projetos Ambientais no Curso de Gestão Ambiental, e Criatividade e Inovação Organizacional no MBA em Gestão de Pessoas da UNESA Campus Cabo Frio. É membro do Núcleo de Pesquisa de Ciências Jurídicas e Sociais UNESA-Cabo Frio. sronney@ig.com.br