DIMENSÕES PEDAGÓGICAS DAS ATIVIDADES COMPLEMENTARES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR
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- Manuella Salgado Carvalhal
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1 DIMENSÕES PEDAGÓGICAS DAS ATIVIDADES COMPLEMENTARES NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Prof. Ms Alex.Pina de Almeida Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ Professor Dr. Antonio Jorge Gonçalves Soares Faculdade de Educação da UFRJ O objetivo deste trabalho é conhecer as atividades complementares programadas pelos professores de Educação Física (EF) de escolas públicas e privadas da educação básica, que ocorrem fora dos horários regulares das aulas. Os dados foram levantados pelos alunos da disciplina Teoria e Prática da Ginástica Escolar do curso de licenciatura da Escola de Educação de Física e Desportos (EEFD) da UFRJ, por meio de um instrumento misto, no qual os alunos registraram suas observações sobre uma aula de EF, bem como entrevistaram o professor das respectivas escolas visitadas. Cada aluno assistiu a uma aula, em um nível da educação básica pré-determinado, com intuito descrever a aula, ao final dela o professor foi entrevistado sobre o planejamento anual, a utilização de outros ambientes pedagógicos da escola para ministrar aulas e os eventos planejados ao longo do ano letivo. Palavras chave: Educação Física Escolar, Atividades Complementares e Animação. Estudar as dimensões pedagógicas presentes nas diversas ações que se desenvolvem na escola é uma forma de manter o contato permanente e atualizado com os problemas e soluções vividas no cotidiano da educação formal. O foco deste estudo é mapear as atividades complementares programadas pelos professores de EF que ocorrem fora dos horários regulares de aula de EF. Os dados foram levantados pelos alunos da disciplina Teoria e Prática da Ginástica Escolar, do curso de licenciatura da EEFD/UFRJ, através de um instrumento misto, no qual os alunos registraram suas observações sobre a aula, bem como realizaram uma curta entrevista guiada com os professores de EF das respectivas escolas visitadas. Cada aluno em sua visita à escola, assistiu a uma aula de EF, em um nível de ensino prédeterminado e através da observação direta dos conteúdos e da estruturação metodológica da aula. Ao final da aula observada, o professor de EF foi entrevistado sobre os seguintes temas: a) planejamento anual; b) uso de outros ambientes pedagógicos da escola para o desenvolvimento de atividades pedagógicas da disciplina e c) eventos planejados e executados pelos professores de EF da escola ao longo do ano. Analisamos os registros, cerca de 80 observações, em todos os seus quesitos, separando por níveis de ensino. Eles apontaram que a tradição de uma educação física voltada para atividades recreativas até os primeiros ciclos do ensino fundamental, e voltada para a prática esportiva (Bracht 1992 e Vaz 2005) 1, a partir do segundo ciclo deste nível até o ensino médio, impera no campo da educação física escolar com poucas propostas inovadoras. Para realização da observação da aula de EF foi solicitado ao aluno-observador que tomasse notas da progressão da aula, das instalações, do material utilizado e, ao final, descrevesse suas impressões sobre a aula assistida. 1 Os dois trabalhos apontam para a esportivização da EF nestes níveis de ensino.
2 A Educação Infantil, de acordo com os relatos analisados, aparece como eminentemente recreacional, mesmo quando o equipamento é, por exemplo, uma piscina. A aula de EF, nesse caso, se desenvolve com atividades recreativas aquáticas, que os professores entrevistados denominaram de aula livre. Apesar de aparecer no discurso dos professores marcas que indicam a existência de planejamento, este é ambíguo em relação à prática pedagógica. A ênfase sobre a estratégia de trabalho com aulas-livres pode indicar duas coisas: a) a crença que a EF nesse nível deve apenas deixar que a criança se desenvolva livremente, pois qualquer interferência pode limitar a expressividade e a criatividade dos alunos; b) a falta de instrumentos de avaliação para gerar uma intervenção pedagógica sistemática e intencional.assim pode-se concluir, que esse espaço pedagógico, a partir dos dados e impressões dos alunos-observadores, pouco se diferencia das experiências do Play Ground. Essa perspectiva é dominante nas falas dos professores desse nível de ensino. Observe-se que o tema da avaliação, que poderia ser um eficaz mecanismo de controle da aprendizagem, não aparece citada pelos entrevistados em nenhum dos procedimentos de ensino. Esse indício ratifica que as aulas livres talvez reforcem as crenças levantadas anteriormente. No Ensino Fundamental 1ª fase (EF1), que vai da 1ª a 4ª série, há outra perspectiva quando comparado ao nível anterior, mesmo com os dados indicando que os professores trabalham com atividades recreacionais no primeiro ciclo, especialmente na 1ª série. Neste momento, os professores introduzem o conteúdo dos esportes, de forma simplificada, para em seguida, no segundo ciclo do Ensino Fundamental, tais conteúdos dominarem à prática pedagógica. O trabalho, então, passa a ser o aprendizado de esportes, em sua maioria coletivos, 100% dos 30 casos registrados. Aparece, eventualmente, em um dos bimestres, esportes individuais: três citações de natação, uma de atletismo e outra de judô. As ginásticas são utilizadas como parte introdutória das aulas, como aquecimento, e não como unidade de ensino. Apesar de proporem um planejamento baseado nos esportes coletivos, futebol, handebol, voleibol, basquete e no jogo Queimado, não parece existir preocupação de avaliar os avanços obtidos ou dificuldades encontradas pelos alunos. A impressão que se tem é que as atividades esportivas cumprem o papel de ocupar o tempo das crianças na escola, com aquilo que supostamente gostam de fazer, sob a vigilância disciplinar dos professores. O 2º nível do ensino fundamental (EF2), que vai da 5ª a 8ª série, segue a lógica do 1º nível que, por sua vez, é reproduzida no ensino médio. Nestes níveis de ensino, o trabalho é eminentemente esportivo, o planejamento é bimestral e a avaliação, como uma atividade essencial do trabalho pedagógico, foi citada apenas uma vez. Outro tema abordado foi sobre a utilização de outras dependências da escola como espaço para desenvolvimento de atividades pedagógicas da Educação Física. Os espaços mais utilizados pelos professores são: a sala de projeção, com apresentações de vídeo, e a biblioteca, para elaboração de pesquisas. Nos dois casos os assuntos são, informações sobre esportes e, em menor escala, sobre EF, abordando as ginásticas e os benefícios da atividade física. O trabalho com regras, técnicas e lances de jogo, é recorrente nas respostas obtidas. Não percebemos nuances que difiram das abordagens tradicionais de ensino da EF tais como o aprendizado esportivo e seus desdobramentos. Inclusive quando o local escolhido é a sala de aula, o conteúdo das aulas é semelhante.
3 O uso desses espaços, em muitas das falas dos professores de EF, funciona como uma forma de manter os alunos em atividade em dias de chuva. As condições climáticas, assim, são em grande parte responsável por estas mudanças de ambiente, pois em diversos colégios em que elas não interferem na consecução das aulas, estas são integralmente realizadas na quadra. Poder-se-ia pensar que a utilização de outros espaços e recursos tivesse a intenção de desenvolver outras linguagens, ampliando desta forma à visão do alunado em relação ao conhecimento das atividades físicas e esportivas, todavia, os achados indicam que essa não é a intenção explicitada pelos professores. Só percebemos diferenças marcantes em duas situações relatadas: 1) quando o professor afirma que utiliza o auditório, em que as atividades para apresentações danças coreográficas e de trabalhos teóricos, para alunos de qualquer nível de ensino e 2) quando, na Educação Infantil, as aulas não são na quadra, neste caso existem programações para estes dias e ambientes em que são utilizadas atividades envolvendo linguagens próprias para este nível de aprendizado. Assim sendo parece que a argumentação de Lovisolo 2 (1997) é adequada:... o papel do pedagogo é o de um facilitador, um oportunizador, criador de situações educativas... o bom educador seria muito mais um criador de condições para o aprendizado ativo da criança... muito mais um animador que um condutor... Observemos que esta tendência da pedagogia moderna é muito mais forte quando menos idade possui o educando... A supervisão e avaliação do ambiente e, principalmente das interações das crianças entre si e com os educadores, torna-se elemento axial de conferência da proposta pedagógica posta em prática (p ). Na Educação Infantil faz parte dos objetivos utilizar o máximo de experiências corporais por meio de atividades recreativas envolvendo jogos, brinquedos cantados, danças, brincadeiras populares e outras formas de vivências corporais. Na medida em que vão avançando os níveis de ensino, a EF vai se tornando cada vez mais formais e as práticas de dançar, brincar, cantar, jogar, vão sendo substituídas pelo esporte pautado pelas regras oficiais ou seja as diversas formas de linguagem corporal desenvolvidas na Educação Infantil dão lugar a apenas uma. Imaginarmos que o planejamento de atividades complementares, ao longo do ano letivo, possa ampliar as informações sobre a disciplina, no ensino fundamental e médio, é uma possibilidade concreta, já que existe uma programação regular de eventos promovidos pela EF, como veremos a seguir Os últimos temas tratados, pelo instrumento, foram sobre a programação de atividades e eventos, aqui chamados de atividades complementares, sob a responsabilidade e planejamento do profº de EF. Mais uma vez percebemos atividades tradicionais desse campo pedagógico: as olimpíadas, os torneios, as festas juninas e os passeios perpassam todas as séries do ensino básico. Existem nuances que vão sendo modificadas e adequadas aos diversos níveis de ensino. As olimpíadas são em forma de gincanas, muito mais recreativas/lúdicas na Educação Infantil, na medida em que o aluno chega ao Ensino Fundamental o nº de gincanas diminuí e a competição passa a ser dominante incluindo ai a utilização, sempre que possível das regras oficiais dos esportes. Os torneios têm o mesmo espírito, incluindo treinamentos fora do turno de aula, estas atividades complementares são muito citadas pelos professores.
4 As festas juninas, outro evento recorrente nas respostas são de responsabilidade exclusiva do professor de EF em inúmeras escolas, em outras são organizadas por um grupo de professores de diferentes disciplinas e em poucas o professor de EF não toma parte na organização. Nesta atividade, com exceção da educação infantil e do 1º ciclo do ensino fundamental, em que os alunos estão experimentando e aprendendo a dança, se mantém a mesma forma, com a mesma organização, muitas vezes com os mesmos passos e a mesma seleção musical através dos diversos níveis de ensino posteriores. Uma atividade folclórica e seus conteúdos simbólicos, com roupas próprias, ritmo singular, coreografias e histórias/memórias riquíssimas, que falam de sua funcionalidade no passado, parecem não fazer parte dos temas de ensino na escola. Tal tema pode ser expresso pedagogicamente de diferentes formas, de modo que nos revele um universo de possibilidades multidisciplinares no interior da escola. As festas do dia das mães, dos pais, da primavera, os aniversários, entre diversas outras, só são citadas na Educação Infantil. Os passeios variando enormemente de ambiente, são uma constante em todos os níveis do ensino básico. Temos desde passeios a clubes recreativos, com a justificativa da interação entre os alunos até projetos de cunho pedagógico, que são desenvolvidos pelos professores de acordo com a disciplina. Os passeios organizados pelo profº de EF, quando não são meramente recreativos, têm a ver com a especificidade da EF como caminhadas para conhecer pontos aprazíveis da cidade, visitas a clubes com programação de torneios e gincanas e a organização de passeios temáticos, como por exemplo, para assistir uma apresentação esportiva. Quando a programação envolve a visita a um museu ou a exposições, normalmente são organizadas pela coordenação pedagógica, com a participação do professor de EF apenas na parte operacional, isto é, como um supervisor disciplinar. Enfim, embora a escola hoje se paute pela idéia de que o currículo se constrói a partir do leque de experiências que a escola fornece ao aluno (Resende,H.G. e Soares, A.J.G. 3 ), nos parece que as diferentes atividades destacadas já se tornaram integradas as agendas escolares e carecem, fundamentalmente, de explicitar a intencionalidade pedagógica delas na formação do aluno. Estes, em muitas dessas atividades, parecem se tornar clientes e/ou consumidores de eventos, na medida em que não participam da construção dessas atividades. Os alunos deveriam, ao invés de meros consumidores, serem transformados em co-participantes do planejamento, da execução e da avaliação de tais eventos. Interessante é que o professor trabalha com um conjunto de atividades que se forem planejadas com intencionalidade, aproveitando o aluno como co-participe, trabalhando as diferentes possibilidades culturais, os diversos olhares e explorando os inúmeros significados do evento, teremos um excelente instrumento de ensino. Poderse-ia pensar que o professor de EF trabalha com animação cultural, com a conotação proposta por Victor Mello e Alves jr. Assim entre as possibilidades que contribuem no processo de intervenção educacional estão: a busca de novas formas de encarar a realidade social, direta ou indiretamente, oferecidas pelo acesso a novas linguagens culturais; a percepção da necessidade de consumo e participação direta nos momentos de lazer; a recuperação dos bens culturais destruídos ou em processo de degradação em resultado da ação da industria cultural; e a própria humanização do indivíduo, que
5 passa a se entender como agente e não apenas como paciente do processo social (p.52) Mas, quando observamos a natureza e a quantidade de atividades complementares que são implementadas sob sua responsabilidade, os dados apontam que essas atividades tornaram-se rotineiras no ambiente escolar, sem que se explore as possibilidades pedagógicas e políticas que esses eventos poderiam proporcionar. A agenda de festas e passeios poderia ser mais explorada e se tornar um instrumento de ensino mais conseqüente com a EF. Parece-nos que a responsabilidade por esta situação não deve ser imputada somente ao professor, pois a escola avaliza tal procedimento e os cursos de formação não vêm oferecendo conhecimentos que abarquem as possibilidades da Animação Cultural, como tecnologia educacional importante, para a aplicação no cotidiano escolar. Referências Bibliográficas BRACHT, V. Educação Física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister, VAZ, A.F. Educação do corpo, esporte e educação física escolar. Revista Virtual EF Artigos. Natal, RN. V.2, n. 24, LOVISOLO, H. Estética, Esporte e Educação Física. Rio de Janeiro: Sprint Editora RESENDE, H.G. SOARES, A.J.G. Elementos constitutivos de uma proposta curricular para o ensino- aprendizagem da educação física na escola: um estudo de caso. Revista Perspectivas em Educação Física Escolar. Niterói: EDUFF, 1(1): p MELO, V.A. E ALVES JUNIOR, E.D. Introdução ao Lazer. Barueri, SP: Manole, 2003
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