Seminário Inverno demográfico - o problema. Que respostas?, Associação Portuguesa de Famílias Numerosas
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- Sandra Mirandela Pereira
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1 Seminário Inverno demográfico - o problema. Que respostas?, Associação Portuguesa de Famílias Numerosas Painel: Desafio Demográfico na Europa (11h45-13h00) Auditório da Assembleia da República, Lisboa, 27 de Setembro de 2008 José A. Silva Peneda, Deputado no Parlamento Europeu Senhor Vice-Presidente da Assembleia da República, Senhora Secretária de Estado Adjunta e da Reabilitação, Caros Colegas, Senhores e Senhoras Queria antes de mais agradecer o amável convite da Associação Portuguesa de Famílias Numerosas para estar aqui hoje. Vou, de forma muito breve, partilhar convosco as minhas preocupações e propostas no contexto actual da demografia europeia. 1. Como sabemos, a demografia é o resultado combinado de três factores: natalidade, esperança de vida e fluxos migratórios. Ora, em 2050, são esperadas mudanças demográficas de enorme escala em Portugal e na Europa. 1/12
2 Estas mudanças terão origem numa conjuntura que já hoje é visível: O envelhecimento da população europeia: a idade média na Europa poderá subir de 39 anos em 2004 para 49 anos em O declínio e a mudança da composição da população em idade activa. O aumento do índice de dependência: o rácio entre as pessoas com mais de 65 anos e as pessoas entre 14 e 65 anos passará de 25% em 2004 para 53% em A taxa de natalidade média na União Europeia é de 1,5 filhos por mulher. Este valor está muito abaixo do necessário para a renovação das gerações (2,1 filhos por mulher). Por outro lado, o envelhecimento da população desafia a sustentabilidade financeira dos sistemas de segurança social devido ao aumento das despesas em pensões, serviços de saúde e de cuidados. Uma população mais idosa terá impacto na concepção de políticas públicas, sobretudo da política fiscal, imigração, segurança, planeamento do território, habitação, transportes, ambiente, educação, cultura, relações industriais, família e lazer. 2/12
3 2. Como pode a Europa responder a estes desafios demográficos? De um modo geral queria destacar dois tipos de políticas de prevenção e de resposta à baixa natalidade: As políticas preventivas que visam alterar comportamentos demográficos Estas políticas podem ser indirectas através de políticas económicas, de género e de educação ou directas caso se tratem de politicas de imigração, de apoio à família, de saúde reprodutiva ou de conciliação do trabalho com a família. Temos ainda as políticas acomodatícias que tentam gerir as consequências da baixa fecundidade e do declínio e envelhecimento da população. Tratam-se sobretudo de políticas de reforma da segurança social, políticas de emprego, de serviços de saúde e de assistência social. Quando falamos de uma estratégia demográfica há que sublinhar a importância da perspectiva de longo prazo que tem de lhe estar subjacente. 3/12
4 Podemos, a esse respeito elencar toda uma panóplia de medidas e acções em vários domínios que vão das finanças públicas, ao crescimento económico, emprego, educação, formação ao longo da vida e serviços de saúde. Se esse conjunto de medidas e acções formarem um todo coerente poder-se-á esperar alguns resultados positivos. Todavia o problema depende em larga medida, da percepção social sentida pelo conjunto dos cidadãos. Quero com isto dizer que o optimismo e a confiança no futuro são a condição fundamental para a criação de um ambiente que venha a favorecer o aumento da taxa de natalidade. Mas a confiança depende da possibilidade do pleno exercício da cidadania e liberdade. E a liberdade, entendida essa como parte integral de uma série de valores que tem como ponto central a dignidade humana, é, de todos os valores, o mais importante, porque a dignidade humana não pode existir sem liberdade e esta só é realizável em ambiente de paz. A paz está assim associada à percepção da confiança no futuro. Essa confiança no futuro depende por isso da existência de dois factores. 4/12
5 Um, a liberdade do individuo e outro, a existência de um sistema de justiça eficaz. Um dos grandes obstáculos para que os níveis de confiança no futuro aumentem tem a ver com a possibilidade de haver mais e melhor emprego e com a conciliação entre a vida profissional e a vida pessoal. As comparações internacionais demonstram a eficácia das políticas que certos Estados-Membros seguem desde há várias décadas com o objectivo de criar condições favoráveis para a concretização dos projectos de paternidade. As políticas que promovem o crescimento económico e a segurança no mercado laboral, bem como a conciliação do trabalho com a família, têm provado contribuir simultaneamente para o aumento da participação no mercado laboral e para o aumento da fecundidade. Exemplos disso são os países do Norte da Europa. Estes países que têm vindo a adoptar medidas para uma organização mais flexível do trabalho permitindo a conciliação entre a vida profissional e o acompanhamento dos filhos registam níveis elevados tanto de fecundidade como de emprego, sobretudo entre as mulheres. Claro que estas medidas têm vindo a ser acompanhadas por outras com vista à promoção da igualdade entre mulheres e 5/12
6 homens, de licenças parentais para ambos os sexos e de creches a preços comportáveis. A convergência de salários entre homens e mulheres também contribui para uma partilha mais equilibrada das responsabilidades familiares e domésticas entre ambos. Outro aspecto importante é o da facilitação da transição para a vida adulta através de uma inserção laboral dos jovens com um melhor equilíbrio entre flexibilidade e segurança. Isto permitir-lhes-á adiantar as suas decisões de formação de família. 3. Ultimamente tem-se falado muito de imigração e de facto em vários países da União Europeia, a imigração tem sido vista como uma forma de assegurar o crescimento da população. No entanto, parece-me que o impacto da imigração no envelhecimento da população a longo-prazo é incerto, já que depende do comportamento dos fluxos migratórios, do reagrupamento familiar e da taxa de fecundidade das pessoas migrantes. Por outro lado, para que a imigração ajude a um melhor equilíbrio dos sistemas de segurança social, os imigrantes têm de estar legalmente empregados. A imigração traz muitas complexidades e para que seja bem sucedida é necessária uma gestão eficiente da admissão de 6/12
7 cidadãos e medidas de inserção que procurem o equilíbrio entre os seus direitos e deveres nos países receptores. Sinceramente, parece-me um fenómeno que dificilmente poderá inverter por si só a tendência de envelhecimento e a baixa natalidade do nosso país e da Europa. 4. Um aspecto que me parece de facto fundamental é a solidariedade entre gerações A diminuição da população activa terá um impacto negativo no crescimento económico. Por outro lado, tal como referi, levará ao aumento das despesas públicas sobretudo em reformas, serviços de saúde e de cuidados. Não resta assim outra alternativa aos Estados-Membros senão fomentar o aumento da produtividade e da participação no mercado de trabalho. Em resumo, os Estados-Membros terão não só que atingir como ultrapassar o objectivo da Estratégia de Lisboa de uma taxa de emprego de 70%. Para além da já mencionada conciliação do trabalho com a vida familiar será também necessária a possibilidade da continuidade 7/12
8 dos trabalhadores no mercado de trabalho após a idade de reforma habitual, se estes assim o desejarem. O financiamento do sistema de reformas deverá ser repensado no sentido de não ser apenas baseado no regime de reformas providenciado pelo Estado e na tributação dos salários. Com base no diálogo social, novas formas de financiamento da segurança social devem ser estudadas. Estas poderiam incluir nomeadamente a tributação de riqueza ou das transacções financeiras, tal como está a ser feito agora em França pelo Governo de Sarkozy. Há que promover instrumentos alternativos para o financiamento das pensões e estes recaem sobre os planos de pensões disponibilizados pelos empregadores ou por outras entidades e associações colectivas bem como sobre a poupança individual ao longo da vida activa. 5. Não queria terminar a minha contribuição sem apresentar algumas propostas concretas que julgo serem úteis na definição de uma estratégia para o aumento da fertilidade tanto a nível Europeu como a nível nacional. Contudo, mais uma vez advirto que estas propostas só fazem sentido se incluídas numa estratégia abrangente cuja preparação envolva agentes económicos, culturais e sociais. 8/12
9 As medidas mais populares entre os cidadãos europeus com vista ao aumento da natalidade incluem ajudas financeiras às famílias complementadas com esquemas bem concebidos de conciliação da vida laboral e familiar. Desta forma, no que diz respeito a incentivos financeiros, podiam ser pensadas... - prestações regulares às pessoas com filhos dependendo do número dos filhos. - prestações únicas como o "baby bonus" ou o "subsídio de maternidade". - créditos para pessoas com filhos pequenos e/ou com algum tipo de dependência. - provisão de bens e serviços subsidiados como creches mas também no campo da educação, saúde, desporto e transportes. - por último também me parece muito importante uma melhoria a nível do acesso ao mercado de habitação. Claro que, o rácio dos benefícios sociais versus salário mínimo não pode ser desfasado já que se mantém imprescindível que as pessoas se incorporem no mercado de trabalho. 9/12
10 A este respeito chamo novamente à atenção para o RSA que está a ser implementado em França. Trata-se do Rendimento Social Activo que substituirá uma panóplia de antigas ajudas sociais monetárias para os mais carenciados mas que motiva financeiramente os seus beneficiários a procurarem um emprego. A nível de propostas no âmbito do trabalho e da família gostaria de destacar que... - as licenças de maternidade e de paternidade têm que salvaguardar o regresso ao posto de trabalho, independentemente do tipo de contrato laboral. - deve ser garantido o acesso à licença de maternidade por parte de mulheres com contratos temporários e a tempo parcial bem como de trabalhadoras independentes. - é essencial a promoção da entrada dos jovens no mercado de trabalho e a reorganização do trabalho tirando partido das novas tecnologias com vista à conciliação com as responsabilidades familiares. - as políticas de igualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho devem ser mantidas e reforçadas. 10/12
11 De facto, a preocupação da igualdade de género deve ser transversal a todas as políticas públicas desde a educação ao mercado de trabalho. Por um lado estas contribuem para um maior reconhecimento e apoio à incorporação feminina no mercado de trabalho e, por outro, para um maior reconhecimento e apoio aos homens como pais. 6. Outra ideia que me parece fundamental, é a aplicação do princípio da subsidiariedade em toda esta estratégia demográfica. Deve ser atribuído às autarquias um papel de liderança através de mais recursos dada a sua proximidade aos problemas reais dos cidadãos e das famílias. Isto permitirá optimizar meios financeiros, humanos e infraestruturas e evitar a duplicação de intervenções na implementação e gestão das políticas de família a nível local. Só desta forma se poderá agir de forma preventiva e, simultaneamente, contribuir para que Portugal e a Europa possam tirar partido das oportunidades que também se detectam numa política de fomento da natalidade. 11/12
12 Espero que esta minha intervenção tenha sido útil para a promoção do debate com vista a uma estratégia demográfica a longo prazo. Muito obrigado. José Silva Peneda. 12/12
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