Fotojornalismo na web: atualização de alguns conceitos e usos a partir da análise das imagens fotojornalísticas disponíveis no UOL Notícias

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1 Fotojornalismo na web: atualização de alguns conceitos e usos a partir da análise das imagens fotojornalísticas disponíveis no UOL Notícias Jorge Carlos Felz 1 Resumo: O fotojornalismo sempre foi caracterizado por revoluções tecnológicas e estéticas. A revolução digital a partir da década de 1990 e o desenvolvimento dos webjornais proporcionaram novos caminhos para o fotojornalismo. A internet oferece, com suas possibilidade e características ampliam os usos e aplicações da imagem fotográfica. Este artigo procura analisar como o fotojornalismo de web tem se desenvolvido e como se estabelece nos webjornais e canais de notícias. Palavras-chave: webjornalismo; fotografia digital; fotojornalismo; novas tecnologias digitais A revolução do digital Embora desde a década de 1970 fosse possível a produção de câmeras digitais, o alto custo não viabilizava comercialmente tal produção. As primeiras experiências só apareceram para o mercado a partir de 1983, quando a empresa japonesa Sony anunciou o lançamento comercial da primeira câmera digital, a MAVICA. Entretanto, esta e outras máquinas que apareceram na década de 1980, não passavam de curiosidades tecnológicas. Além do alto custo e da baixa capacidade de armazenagem, as imagens apresentavam resoluções baixas e pouca definição quando visualizadas ou impressas. Nos anos de 1990, com o grande desenvolvimento tecnológico no campo da comunicação e da informação, as câmeras fotográficas digitais passam a fazer parte do cotidiano e promovem uma verdadeira revolução na produção e distribuição de fotografias jornalísticas. As primeiras câmeras digitais para uso profissional surgiram a partir de 1989, caso da Fujix (Fujifilm) que, a um custo de 5 mil dólares era capaz de armazenar algo em torno de 21 imagens em um cartão de memória (Rose, 1998, p.16). Em 1991, a Kodak lançou a Kodak Professional Digital Camera System (DCS100), montada a partir de uma câmera Nikon F3 com um chassi digital, CCD com resolução de 1024 x 1280 pixels, visor de cristal líquido na parte traseira, discos de memória de 200MB e um custo aproximado de 30 mil dólares. Caso o usuário desejasse maior capacidade de 1 Jornalista, Mestre em Comunicação pela Universidade Metodista de S. Paulo (Umesp). Professor desde 1994, leciona atualmente na FES Juiz de Fora (MG) as disciplinas: fotografia, fotojornalismo e webjornalismo. Possui projeto de pesquisa sobre o uso das imagens fotojornalísticas nos webjornais brasileiros.

2 armazenagem, era possível adquirir uma unidade de disco externo para pendurar no ombro, com capacidade para até 600 fotos. A DCS100 foi empregada pela primeira vez nos Jogos Olímpicos de Barcelona (Popsci.com, 2000) 2. No ano seguinte, a Kodak formou um consórcio com a agência de notícias The Associated Press (AP) e com dois dos maiores fabricantes de equipamentos fotográficos: Nikon e Canon para adaptar câmeras fotográficas convencionais para a nova tecnologia. A idéia dessa estratégia era tornar mais fácil a adoção da imagem digital pelos fotojornalistas e vencer eventuais resistências que naturalmente barram a introdução de novas tecnologias. O resultado foi o desenvolvimento da NC2000, totalmente digital, e empregada pelos fotógrafos da Associated Press na decisão do SuperBowl (campeonato de futebol americano) de 1996, no Arizona, EUA. A partir do ano 2000, os avanços tecnológicos são tão expressivos que, aliados ao desenvolvimento de computadores e celulares revolucionam todos os processos de captação, armazenamento e distribuição de imagens. A fotografia digital deixa de ser uma simples curiosidade e passa a ser, definitivamente, o modelo preferencial de produção de imagens fotográficas. A isso tudo ainda se deve agregar a internet, que irá possibilitar, não apenas maior velocidade de transmissão e de armazenamento ilimitado a memória como pensada por Palácios (2003) mas um novo mercado, online, dinâmico e ávido por informação e conteúdo. Ressalta-se porém que, tais avanços no campo da fotografia digital, trazem em si um novo problema para o fotojornalismo: a possibilidade e a facilidade da manipulação produzida em softwares de edição como o Adobe Photoshop, que muitas vezes são quase impossíveis de serem detectadas. É evidente que o retoque, a alteração, supressão ou inclusão de elementos na imagem não é algo recente, ou que só se tornou possível ou corriqueiro com o advento da imagem digital. Ao longo da história, inúmeros foram os casos de manipulação. Os procedimentos laboratoriais para publicação de imagens sempre foram prática comum no dia-a-dia das redações: redução ou aumento de contraste, reenquadramento e semimáscaras. Muitos casos de imagens manipuladas foram descobertos por se tratarem de 2 Cf.: Best of What's New Winner 1991: Kodak introduces the Digital Camera System (DCS) 100, the world's first professional digital camera. The 55-pound system consists of the camera, a 200MB external hard disk drive with batteries, control panel, mono display, and cables. Getting "crisp 1.3-megapixel images" costs you $30,000. Initial buyers are news organizations; 12 are used to cover the 1992 Olympic Games in Barcelona. Disponível em: < Acesso em 25/05/2004.

3 trucagens grosseiras, porque se conhecia o original ou mesmo o contexto da realização. Entretanto, com o emprego dos computadores e dos softwares de edição digital de imagens, as possibilidades de se mentir no registro visual crescem assustadoramente. (Felz, 2005, p 118) A tecnologia digital permite, a partir da imagem original, fazer modificações de toda sorte e a qualquer tempo, bem como retornar, se necessário ao original ou mesmo obter várias versões da imagem primária. No Brasil vários casos de manipulação foram evidenciados nos últimos anos. A maioria foi feita, segundo os editores dos jornais envolvidos, por questões estéticas. É o caso por exemplo, de uma fotografia do jogador Ronaldo durante a Copa de 1998, na França. A foto foi publicada duas vezes pelo jornal carioca O Dia. Na segunda publicação, no dia 25 de maio de 1998, os editores limparam a imagem, retirando um G que aparecia no fundo para, nas palavras deles, permitir melhor leitura da fotografia 3. Outros casos, como o que ocorreu em 2003, com o fotógrafo Brian Walski, do jornal Los Angeles Times, demitido por manipular imagens obtidas no Iraque, além de produzir desconfiança no público leitor em relação à autenticidade das imagens, acabou por levar a NPPA - National Press Photographers Association (EUA), em conjunto com várias associações profissionais e empresas de comunicação 4 do mundo inteiro, a propor uma série de regras para a edição de imagens de caráter fotojornalístico. Entretanto, as maiores alterações decorrentes da utilização da nova tecnologia digital iram, necessariamente, afetar as estruturas físicas dos jornais e, em especial, das editorias de fotografia. Além disso, os próprios conceitos e técnicas fotojornalísticas acabam, necessariamente, sofrendo revisões para se adaptarem à nova forma de fotografar. O editor de fotografia de O Globo, Alexandre Sassaki (2004), acha que a câmera digital também trouxe uma mudança radical no dia-a-dia dos profissionais. Por incrível que pareça, os fotógrafos são unânimes ao declarar que, hoje, gastam mais tempo trabalhando numa imagem, já que ela sai da câmera digital e, na maior parte das vezes, passa por uma maquiagem no Adobe Photoshop, ou em algum outro programa de tratamento de imagens. Hoje, para trabalhar com foto, um bom conhecimento de Photoshop é fundamental. Para ele, deve-se pensar a 3 As imagens podem ser vistas em: < Acesso em 04/08/ As regras de edição de imagens fotojornalísticas podem ser acessadas em: ou no site da própria NPPA: < Acesso em 04/08/2004.

4 imagem digital como uma revolução do software. Mais do que nunca, devemos nos aproximar da informática e entender a câmera digital como hardware. Daqui para a frente o que vai definir a fotografia digital não será mais a quantidade de megapixels de uma câmera (SASSAKI, 2004) 5. Apesar de todas as facilidades e vantagens no emprego da imagem digital, especialmente com relação a rapidez com que as fotos ficam prontas e podem ser enviadas para a redação ou serem armazenadas em discos para posterior tratamento, isso não se traduz de imediato numa imagem pronta para uso. Após a captura das imagens, e a transferência dos arquivos para o notebook ou o PDA, o fotógrafo precisa manipula-la minimamente, clareando ou escurecendo e reduzindo o ruído na imagem como uso de um filtro (a imagem digital tem um padrão de ruído, que parece grão de filme). Depois dessas correções, é que as fotografias são disponibilizadas via sistema de arquivos de imagens. Outra alteração importante é a forma correta de identificação de cada imagem produzida. Cada imagem precisa receber uma identificação de acordo com os padrões estabelecidos pelo IPTC International Press Telecommunication Council 6. Além das legendas, dados técnicos do equipamento, local e sujeitos presentes na imagem, o fotógrafo deve criar corretamente palavras-chave para facilitar posteriormente o trabalho de arquivamento e de pesquisa. Em alguns casos isso é facilitado, não apenas pelos softwares de aquisição e arquivamento de imagens, mas também pelas próprias câmeras digitais que gravam, nos arquivos originais, dados que não podem ser alterados, como o número de série da máquina que capturou a imagem, data e tipo de objetiva utilizada. Para questões legais relativas ao direito autoral, essas informações são muito importantes. 5 SASSAKI, Alexandre. Mudança de atitude. In: Caderno Especial Fotografia Digital. O Globo. Rio de Janeiro: 30 de abril de O IPTC é um organismo criado em 1965 e encarregado de promover centrais de troca de dados destinados à imprensa. As informações IPTC são metadados que permitem descrever e documentar arquivos. Encapsulados no interior da própria imagem, essas informações são por exemplo : nome da imagem; titulo da imagem; palavras-chave que podem descrever a imagem; autor da imagem, a data da criação, etc. A integração dessas informações permite conservar os dados da fotografia mesmo se esta já se encontra indexada numa base de dados. Certas aplicações permitem deste modo gerar uma coleção de fotos no computador e efetuar uma pesquisa sobre estas por meio de palavras-chave, evitando assim um trabalho maior. O endereço eletrônico do IPTC é:

5 Mas não são apenas procedimentos ou rotinas de trabalho que são alterados, a própria linguagem fotográfica sofreu alterações a partir do digital. Em um filme de 35mm, as dimensões do negativo são de 24 x 36mm e a relação entre largura e altura é de 1:1,5. Essa proporção é uma proporção áurea e, apesar de não ser fundamental para a fotografia, que possui uma força ótica muito determinante, conforme lembra Lima (1988) 7, ela dá as bases para a composição do espaço, uma vez que, ao posicionarmos os objetos fotografados pela imagem, fugindo do centro, é preciso criar simetria (a um objeto de um lado deve haver um correspondente do outro) e essa é facilitada pela proporção áurea do retângulo fotográfico. Em algumas câmeras digitais, essa relação é alterada para 3:4. Isto é, o enquadramento passa de um retângulo áureo, para uma forma quase quadrada. Segundo Lima (1988), o quadrado representa a forma geométrica do equilíbrio absoluto, onde a relação perfeita dos lados exige uma definição precisa do espaço e poucos assuntos se adaptam a esse formato. Essa transformação do formato parece ter relação direta com o fato da imagem digital ter surgido para ser vista na tela de TV, e no monitor do micro, já que os primeiros CCDs equipavam câmeras de vídeo 8. Em função desse formato mais quadrado, é comum a necessidade de cortes nas imagens obtidas de forma a torna-las mais retangulares. Além disso, em virtude de problemas decorrentes do sistema de visualização das imagens da web monitores os fotógrafos precisam cuidar para não capturar imagens com excessos tonais, contrastes fortes ou um grande número de linhas. A fotografia na web A fotografia é empregada na web como um recurso de narrativa jornalística. Segundo Canavilhas (1999), a imagem colhida no local do acontecimento (...) a verdade da imagem recolhida no local empresta à notícia uma veracidade e 7 LIMA, Ivan. A fotografia é a sua linguagem. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, Apesar de termos grandes avanços em relação à dimensão dos sensores de imagens, estes ainda não possuem dimensões comparáveis ao retângulo áureo do negativo 35mm (24mm X36mm). Os maiores sensores possuem dimensões em torno de 18X23mm, como é o caso dos sensores CMOS da CANON 3Dmark II, de 20megapixels.

6 objectividade maior do que a simples descrição do acontecimento (CANAVILHAS, 1999) 9. Palácios e Mielniczuk (2001) destacam que, fotografia é destacadamente o recurso mais empregado, permitindo constatar que as potencialidades multimidiáticas oferecidas pelo suporte digital para a construção da narrativa jornalística segundo um formato convergente - com o áudio e o vídeo - são usadas ainda de maneira muito limitada (PALÁCIOS e MIELNICZUK, 2001, p.10) 10. A princípio, não podemos afirmar que existam diferenças marcantes entre a imagem fotográfica empregada na web e a usada no jornalismo impresso. A imagem jornalística, deve prescindir de uma legenda ou um texto escrito cuja função é contextualizadora. É regra no fotojornalismo, indiferentemente do suporte, que a imagem produzida seja legível e compreensível. No caso da imagem informativa, é evidente que esta desperta curiosidade e incerteza e, por isso, o espectador/leitor recorre ao comentário verbal.(...) Toda a representação da imagem informativa se constrói em torno de um discurso retórico com as suas próprias regras de funcionamento (mostrar a causa a partir do efeito, mostrar a parte pelo todo, produzir redundância em detrimento da quantidade de informação semântica) (VILCHES, 1985, p. 175) 11. Talvez a grande diferença seja mesmo o suporte técnico destas imagens. No jornalismo online, as imagens fotográficas se aproximam dos frames da televisão / vídeo, resultado de milhões de pixels numa tela. No impresso, a imagem é resultado da ação físico-química da luz sobre milhões de grãos de prata (pontos). Se no impresso, o leitor tem em mãos a imagem, na web o usuário pode perder parte da emoção transmitida, mas não perde o papel legitimador da imagem. No entanto, apesar da imagem fotográfica, empregada como recurso nos webjornais, ter em si a possibilidade de uma maior interatividade, de personalização e memória, decorrentes diretas das características da própria internet 12, e de poder 9 CANAVILHAS, João Messias. Considerações gerais sobre jornalismo na Web. Comunicação apresentada no I Congresso Ibérico de Comunicação: Disponível em Acessado em 12 de janeiro de PALACIOS, Marcos; MIELNICZUK, Luciana. Narrativa Jornalística e Escrita Hipertextual: considerações para um estudo sobre o formato da notícia na Web. Trabalho apresentado no GT de Jornalismo do X Encontro Nacional da COMPÓS Brasília, VILCHES, Lorenzo. La lectura de la imagen. Prensa, cine, televisión. Barcelona:. Ed. Paidós, Acerca das características ver: PALÁCIOS, Marcos. Jornalismo Online, informação e memória. Comunicação apresentada nas jornadas de Jornalismo Online. Porto: Universidade da Beira Interior, 2002.

7 assumir, assim como no jornalismo impresso, o papel de texto autônomo, a fotografia na web muitas vezes funciona como mera ilustração. O Jornalismo na web Os jornais foram o primeiro setor industrial a adotar em massa a Internet. Em apenas quatro ou cinco anos, já era quase impossível encontrar um jornal que não tivesse uma presença, ao menos modesta, na web. No entanto, é importante destacar que as primeiras gerações de páginas web reproduziam conteúdos e design das versões impressas, aproveitando os dados armazenados nos computadores da redação tradicional. Os primeiros jornais online não passavam de cópias de conteúdos disponíveis também nas versões impressas. Inventar o jornal na Web foi tarefa essencialmente fácil. Primeiro, já havia divisões ou departamentos de novos meios na maioria dos grandes jornais, que mesmo antes da Web vinham experimentando outras tecnologias como alternativas para a distribuição de notícias. Já era popular entre executivos desses jornais o conceito de que o negócio de um jornal não é botar tinta em papel, mas sim distribuir informação. Ao inventar o jornal na Internet, os jornais acharam de início que era possível simplesmente transferir seu modelo de negócio e seu conteúdo para o novo meio. Ignoravam, assim, as características e as limitações da comunicação mediada por computadores. Nenhuma surpresa, portanto, que essa simples transferência de produto de um formato a outro não tenha dado certo (ALVES, 2001) 13. De acordo com Fidler (1994) "a tecnologia somente facilita a mudança e cria oportunidades. Sem o correspondente esforço dos jornalistas e dos empresários dos meios de comunicação em melhorar a qualidade da informação e oferecer o que o público necessita e deseja, a metamorfose não será mais que uma crisálida oca" (FIDLER, 1994) 14. Para Negroponte (1994), o jornal na web deveria ser concebido como um diário capaz de oferecer serviços dirigidos a um indivíduo. Ser digital supõe o surgimento de um conteúdo totalmente novo, de novos profissionais"(negroponte, 1994) 15. Isto é, além de permitir a criação de uma nova forma de fazer jornalismo, a web demonstrava a necessidade de jornalistas se especializarem para o trabalho na internet. 13 ALVES, Rosental Calmon. Reinventando o jornal na internet. Sala de Prensa N.º 32 - Junio Año III, Vol. 2.Disponível em: 14 FIDLER, Roger. El diario que viene, Cuadernos de Información, número 9, Universidade Católica do Chile, 1994, página 25. Disponível em:< >. 15 NEGROPONTE, Nicholas. Vida digital. São Paulo: Cia das Letras, 1995.

8 Pavlik (1997) 16, tendo como foco principal a produção de conteúdos, classificou os jornais digitais em três estágios: - Jornais que se caracterizam apenas pela transposição da versão impressa para a internet; - Além da simples transposição, a versão online traz alguns produtos diferenciados do jornal de papel ; - Jornal digital de terceira geração, é um produto totalmente exclusivo para a internet. Já Silva Jr (2002) 17, ao se preocupar com a disseminação de informações jornalísticas nas redes digitais, vai estabelecer três categorias de desenvolvimento: - Modelo transpositivo: eminentemente presente nos primeiros jornais online onde a formatação e organização seguia diretamente o modelo do impresso. Trata-se de um uso mais hermético e fiel da idéia da metáfora, seguindo-se muito de perto o referente pré-existente como forma de manancial simbólico disponível; - Modelo perceptivo: num segundo nível de desenvolvimento, há uma maior agregação de recursos possibilitados pelas tecnologias da rede em relação ao jornalismo online. Nesse estágio, permanece o caráter transpositivo, posto que, por rotinas de automação da produção interna do conteúdo do jornal, há uma potencialização em relação aos textos produzidos para o impresso, gerando o reaproveitamento para versão online. No entanto, há a percepção por parte desses veículos, de elementos pertinentes à uma organização da notícia na rede; - Modelo hipermidiático: o uso intensificado de recursos hipertextuais, a convergência entre suportes diferentes (multimodalidade) e a disseminação de um mesmo produto em várias plataformas e/ou serviços informativos. Esses modelos porém não podem ser vistos como sucessórios, mas que coexistem de forma clara no ambiente web. Apesar de alguns autores pensarem o 16 PAVLIK, John. The Future of Online Journalism - A guide to who's doing what. Columbia Journalism Review. Jul./august, Disponível em: < 17 SILVA JR. José Afonso. A relação das interfaces enquanto mediadoras de conteúdo do jornalismo contemporâneo: agências de notícias como estudo de caso. GT Jornalismo, CD-Rom do XI Encontro Anual da Compós. Rio de Janeiro: UFRJ, 2002.

9 desenvolvimento dos modelos de webjornais como fases numa linha de tempo, não se pode afirmar que o desenvolvimento de um modelo mais novo ou avançado eliminou da web o anterior. Podemos verificar, ainda hoje, diversos exemplos de webjornais que podem ser facilmente classificados como exemplos dos modelos mais básicos. Quanto ao emprego da fotografia, podemos observar que no modelo transpositivo, as imagens quase são utilizadas. A transposição privilegia o texto, mais leve e fácil de ser transposto para a meio web, sem opções de links sobre um mesmo assunto ou quando este aparece, serve apenas para saltar entre diferentes editorias. Podemos afirmar que, por questões técnicas e financeiras, os jornais que se encaixam neste modelo acabam por abrir mão de uma série de recursos já conquistados no desenvolvimento da linguagem fotojornalística voltada para o impresso. Os webjornais do modelo transpositivo acabam por assegurar mais um nicho midiático disponibilizar do que informação. Na medida em que optam por transpor os conteúdos impressos para o online, acabam por deixar a fotografia jornalística em segundo plano. Os webjornais do modelo perceptivo, ou webjornais de metáfora buscam novas possibilidades, explorando as características específicas oferecidas pela web. Já não se contentam mais em simples transposições do material impresso, mas começam a produzir conteúdos exclusivos para a rede,ainda que de forma limitada e incipiente. As imagens fotográficas, de caráter jornalístico, são utilizadas por estes webjornais de forma precária. Ainda possuem função de ilustração, normalmente em matérias mais importantes. As imagens empregadas possuem dimensões e resoluções reduzidas, no formato thumbnail (miniatura). Embora de formato reduzido, as fotografias utilizadas podem trazer links que permitem uma melhor visualização ou que remetem, às vezes, para galerias de imagens ou para janelas (pop-ups) com ampliações das imagens utilizadas. Tais limitações ainda são decorrentes das limitações tecnológicas da web. Como nem todos os usuários possuem sistemas de conexão de alta velocidade ou máquinas modernas para acesso, os webjornais do modelo perceptivo preferem organizar e oferecer imagens mais leves, rapidamente carregadas ainda que isso se traduza em material de baixa qualidade. Já os webjornais de terceira geração, baseados em estruturas hipermidiáticas, rompem com estes dois modelos anteriores, na medida em que apostam no aumento da velocidade de transmissão de dados, na capacidade de processamento das novas

10 máquinas, desvinculando o jornalismo de web dos modelos e técnicas produtivas baseadas no jornalismo impresso. A fotografia jornalística passa a ter maior destaque, com imagens maiores ocupando a primeira página, galerias e bancos de imagens sendo utilizados com maior frequência e alguns jornais passam a trabalhar com Slideshow (sequências de imagens) para narrar fatos, traçar linhas de tempo, agregando sons e comentários. O UOL Notícias em duas fases: 2004 e 2008 Já havíamos analisado a utilização de fotografias de caráter jornalístico pelo UOL Notícias anteriormente chamado de UOL Últimas Notícias em No estudo realizado, consideramos que os sítios, usados como amostra, representavam uma parcela considerável e importante do webjornalismo praticado no Brasil. A amostra foi formada por três webjornais que possuem versões impressas, além de serem alguns dos mais antigos webjornais brasileiros: JB Online, Folha Online e Globo Online. As primeiras páginas de dois portais brasileiros (UOL e Terra), que se baseiam fortemente no conteúdo noticioso para atrair seus usuários, e ainda os canais (ou editorias) de notícias (UOL Últimas Notícias e Terra Notícias) ancorados nestes dois portais, também foram observados. Após a coleta e organização das páginas capturadas e dos dados coletados, passou-se ao trabalho de categorização e interpretação dos dados, que contou com o suporte metodológico da Análise de Conteúdo 18 (AC) entendida aqui como um método de tratamento e análise de informações existentes em um documento, e colhidas por meio de técnicas de coleta de dados. Deve-se ressaltar que a análise de conteúdo não é um método uniforme, mas um conjunto de análises bastante amplo e aplicável ao vasto campo da comunicação. O procedimento específico da análise de conteúdo aqui adotado foi a análise categorial, pois trata-se de um método taxionômico muito bem estruturado e capaz de organizar, segundo critérios pré-estabelecidos, todos os elementos (dados) coletados. As categorias de análise estabelecidas, a partir da coleta dos dados nos sítios analisados, foram as seguintes: (1) número de imagens fotográficas por página; 18 Sobre a metodologia de análise de conteúdo ver BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1995.

11 (2) códigos utilizados para identificação das imagens fotográficas; (3) padrão dos arquivos digitais das imagens; (4) formato ou resolução (em pixels) das imagens; (5) tamanho dos arquivos digitais; (6) atualização das imagens digitais; (7) origem das imagens exibidas. A partir destas categorias de análise, foi possível observar que o UOL Notícias, apesar de estar ancorado no portal UOL tinha no texto a ancoragem das notícias veiculadas/ distribuídas. O UOL Últimas Notícias veiculava apenas uma imagem em sua página inicial, normalmente relacionada com a matéria principal da edição (atualização) no ar. Assim como no portal, a imagem funcionava como link para uma galeria de imagens, além de abrir a matéria onde a imagem se inseria. Figura reprodução UOL Últimas Notícias (julho de 2004) Esta imagem única, com dimensão e resolução baixa, o que se traduz em um arquivo pequeno, facilmente carregado pelos computadores utilizados pelos usuários. Tal característica corresponde a um modelo de webjornal planejado para ser facilmente acessado por todo e qualquer usuário, independente do tipo de conexão usada. Por outro lado, demonstra a pouca importância dada à fotografia jornalística. Esta não é utilizada como recurso narrativo, mas mera ilustração. Mesmo quando a imagem funcionava como link, esta teve uma função próxima ao do botão ou ícone de acesso. Com as alterações de formato realizadas no princípio deste ano no UOL Notícias, realizamos uma revisão das análises feitas anteriormente deste canal de notícias. As análises foram feitas com base em dados capturados no decorrer de uma semana, no período compreendido entre os dias 01 e 07 de julho de 2008.

12 O canal de notícia apresenta hoje um modelo que rompe com os modelos anteriores, e aponta para o que era apenas potencialidade da web quando da primeira análise. Página principal do UOL Notícias Página UOL Notícias - Fotos O UOL Notícias ( pode ser acessado diretamente, via digitação da URL n barra de endereços ou por meio do link localizado na barra lateral da página principal do portal, ou ainda por um pequeno link no alto do bloco de chamadas de notícias principais. As matérias e reportagens, cujas chamadas se encontram no portal, também podem levar o usuário para a área do canal de notícias. Se antes as fotografias se restringiam a miniaturas, funcionando quase como botões, ícones ou marcas dentro das reportagens ou matérias veiculadas, com o novo modelo adotado, as imagens ganham maior destaque, funcionando efetivamente como elemento narrativo.

13 Detalhe da primeira página do UOL Notícias 07/07/2008 Logo na página inicial é possível perceber o que a fotografia representa agora dentro do projeto visual adotado. Existem sempre três imagens de destaque no topo da tela. Algumas podem levar o usuário para o álbum (galeria) de imagens do dia e daí também acessar a todos os álbuns armazenados (memória) do canal, ou leva-lo a navegar pela notícia ou reportagem disponível. Esta reportagem pode ser somente texto ou ser mais completa, com fotografias, ilustrações e mapas complementando a informação. Além disso, o canal de notícias passou a adotar o uso de recursos multimidiáticos para narrar fatos, repetindo modelos já consagrados adotados há pelo menos 5 anos por jornais como The New York Times (EUA) e El País (Espanha) ou sites de notícias como o MSNBC.com (EUA). Assim, vemos o uso de Slideshow (sequências de imagens), acompanhados ou não por áudio como uma forma nova de apresentar as imagens disponíveis diariamente pelo canal. As fotografias ainda surgem como elemento narrativo quando empregadas em infografias digitais, onde aparecem aliadas a textos, áudio e vídeo, ilustrações mapas,...

14 criando um novo formato noticioso, mais coerente e interativo. Mielniczuk (2003) 19 assinala que os processos multimidiáticos, explorando a hipertextualidade e a narrativa multisequencial do fato jornalístico é também um processo interativo, onde o usuário acaba se envolvendo com a própria publicação, com os produtores da notícia e com outros leitores/ usuários. Esse novo modelo, que provoca o usuário a participar, a comentar a notícia e complementar as informações (enviando fotografias e vídeos) acaba por criar novos caminhos, ampliando a disseminação da informação e transformando a produção de notícias, gerando novos formatos noticiosos. Por fim, considerando o emprego de sequências de imagens como narrativa de fatos ou como ensaio fotográfico (uso de slideshow), o emprego de áudio e vídeo como recurso complementar e de outros elementos multimidiáticos, podemos classificar o UOL Notícias atual como um webjornal de terceira geração. É interessante ressaltar que o uso de todos estes recursos por parte do canal de notícias, característicos do modelo de webjornalismo de terceira geração, só e possível pela grande expansão nos últimos anos da tecnologia de transmissão de dados em alta velocidade, a chamada banda larga. A isso se deve somar o aumento do número de usuários, a disponibilidade e a facilidade de aquisição de máquinas (computadores) mais modernas. Entretanto, com relação ao uso específico da fotografia e ao desenvolvimento do fotojornalismo na web, podemos ampliar as discussões e reflexões feitas em Percebe-se que, há uma clara defasagem em relação às três fases de desenvolvimento do webjornalismo, como descritas pelos diversos autores. Constata-se que, apesar de diferenças observáveis ao longo das fases descritas, a utilização da fotografia está diretamente relacionada ao desenvolvimento tecnológico da rede, especialmente no que diz respeito às conexões e à velocidade de transmissão de dados. A ampliação da rede de banda larga surge como um fator tecnológico decisivo para as recentes transformações ocorridas em relação à fotografia distribuída pela internet coloca o fotojornalismo de web numa posição especial, que necessita de um estudo mais profundo, com a construção de uma tipologia específica e mais exata no que se refere ao seu desenvolvimento particular. 19 MIENICZUK, Luciana. Jornalismo na web: um estudo sobre o formato da notícia na escrita hipertextual. Tese de doutorado. Salvador: Facom/Ufba, 2003.

15 A história do fotojornalismo é caracterizada por grandes revoluções, sejam tecnológicas e estéticas que permitiram formas cada vez mais práticas de produzir e distribuir imagens. O atual fotojornalismo praticado na web, que ainda briga pelo seu espaço, marca a possibilidade de construção de novas formas de abordagem e de utilização da imagem, capazes de transformar os atuais modelos narrativos das notícias. Referências: ALVES, Rosental Calmon. Reinventando o jornal na internet. Sala de Prensa N.º 32 - Junio Año III, Vol. 2.Disponível em: ARFOC - Associação Profissional dos Repórteres Fotográficos e Cinematográficos do Rio de Janeiro. Disponível em: < Acesso em 04/08/2004. BARDIN, Laurence. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, CANAVILHAS, João Messias. Considerações gerais sobre jornalismo na Web. Comunicação apresentada no I Congresso Ibérico de Comunicação: Disponível em Acessado em 12 de janeiro de FELZ, Jorge Carlos. O fotojornalismo na web. Dissertação de Mestrado. S. B. do Campo: Umesp, FIDLER, Roger. El diario que viene, Cuadernos de Información, número 9, Universidade Católica do Chile, 1994, página 25. Disponível em:< LIMA, Ivan. A fotografia é a sua linguagem. Rio de Janeiro: Espaço e Tempo, MIENICZUK, Luciana. Jornalismo na web: um estudo sobre o formato da notícia na escrita hipertextual. Tese de doutorado. Salvador: Facom/Ufba, NEGROPONTE, Nicholas. Vida digital. São Paulo: Cia das Letras, NPPA - National Press Photographers Association. Disponível em Acesso em 04/08/2004. PALÁCIOS, Marcos. Jornalismo Online, informação e memória. Comunicação apresentada nas jornadas de Jornalismo Online. Porto: Universidade da Beira Interior, ; MIELNICZUK, Luciana. Narrativa Jornalística e Escrita Hipertextual: considerações para um estudo sobre o formato da notícia na Web. Trabalho apresentado no GT de Jornalismo do X Encontro Nacional da COMPÓS Brasília, PAVLIK, John. The Future of Online Journalism - A guide to who's doing what. Columbia Journalism Review. Jul./august, Disponível em: < POPULAR SCIENCE. Disponível em: < Acesso em 25/05/2004.VILCHES, Lorenzo. La lectura de la imagen. Prensa, cine, televisión. Barcelona:. Ed. Paidós, SASSAKI, Alexandre. Mudança de atitude. In: Caderno Especial Fotografia Digital. O Globo. Rio de Janeiro: 30 de abril de SILVA JR. José Afonso. A relação das interfaces enquanto mediadoras de conteúdo do jornalismo contemporâneo: agências de notícias como estudo de caso. GT Jornalismo, CD-Rom do XI Encontro Anual da Compós. Rio de Janeiro: UFRJ, 2002.