CÂMARA DOS DEPUTADOS PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO N.º, DE 2015 (Do Sr. ELI CORRÊA FILHO)
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- Luca Regueira Peralta
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1 CÂMARA DOS DEPUTADOS CÂMARA DOS DEPUTADOS PROJETO DE DECRETO LEGISLATIVO N.º, DE 2015 (Do Sr. ELI CORRÊA FILHO) Susta os efeitos da Decisão da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Saúde Suplementar ANS, que aprovou o índice de reajuste máximo de 13,55%, com vigência de 1º de maio de 2015 a 30 de abril de 2016, para as contraprestações pecuniárias dos planos privados de assistência suplementar à saúde, individuais e familiares, médico-hospitalares. O Congresso Nacional decreta: Art. 1.º Ficam sustados os efeitos da Decisão da Diretoria Colegiada da Agência Nacional de Saúde Suplementar ANS, que, publicada no Diário Oficial da União do dia 5 de junho de 2015 e proferida durante sessão deliberativa da 3ª Reunião Extraordinária daquele colegiado, aprovou por unanimidade, apreciando processo administrativo ANS nº / , índice de reajuste máximo de 13,55%, com vigência de 1º de maio de 2015 a 30 de abril de 2016, para as contraprestações pecuniárias dos planos privados de assistência suplementar à saúde, individuais e familiares, médicohospitalares, com ou sem cobertura odontológica, previsto no artigo 2º da Resolução Normativa - RN nº 171, de 29 de abril de Art. 2.º O Poder Executivo adotará as providências necessárias ao cumprimento deste Decreto Legislativo. Art. 3. Este Decreto Legislativo entra em vigor na data de sua publicação. JUSTIFICATIVA A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) fixou no início deste mês de junho o índice máximo de reajuste a ser aplicado aos planos de saúde médicohospitalares individuais e familiares contratados a partir de janeiro de 1999 ou adaptados à Lei 9.656/98. O percentual de 13,55%, válido para o período de maio de 2015 a abril de 2016, é o maior já autorizado pela ANS desde que a agência foi criada há 15 anos. 1
2 Cerca de 8,6 milhões de consumidores serão diretamente afetados com a medida, universo que representa 17% do total de 50,8 milhões de consumidores de planos de assistência médica no Brasil. Esse aumento é mais do que o dobro da inflação do ano passado, que girou em torno de 6,4%, e mais de uma vez e meia o acumulado dos últimos dozes meses, em torno de 8,17%, se tomarmos como parâmetro o IPC-A - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. O que espanta ainda mais é o fato de agência ter considerado, como parâmetro para o reajuste, a média dos reajustes dos planos de saúde coletivos definidos em negociação entre empresas e operadoras, cujas relações financeiras e econômicas não são reguladas pela agência. Como já é de amplo conhecimento público, as empresas que atuam no setor de saúde suplementar deixaram de comercializar planos individuais de saúde e praticamente obrigaram os consumidores a firmarem planos empresariais, coletivos, ou por adesão, com o objetivo de fugirem das regras mais rigorosas que disciplinam os planos individuais, essas sim, disciplinadas pelo órgão regulador (ANS). Por sua vez, o órgão regulador não tem demonstrado disposição seja por ineficiência ou por submissão gradativa a processo de captura de implementar política específica que estimule uma coexistência sustentável entre as duas modalidades de plano, protegendo assim os usuários de uma espécie de cartel. Nesse sentido, não encontra amparo legal e ainda subverte o propósito do sistema jurídico consumerista, reajuste que utiliza como referência políticas que passam ao largo dos regramentos constitucionais aplicados à espécie. De acordo com o art. 197 da Constituição Federal, as ações e serviços de saúde são de relevância pública, cabendo ao Poder Público dispor, nos termos da lei, sobre sua regulamentação, fiscalização e controle. Ou seja, todos os tipos de planos de saúde deveriam ter políticas de precificação reguladas. Por sua vez, a ANS parece utilizar pesos e medidas distintas em matéria de reajuste. É a conclusão a que se chega quando analisamos o conteúdo da RESOLUÇÃO NORMATIVA - RN Nº 364, DE 11 DE DEZEMBRO DE 2014, da ANS, que dispõe sobre a definição de índice de reajuste, pela agência, a ser aplicado pelas operadoras de planos de assistência à saúde aos seus prestadores de serviços de atenção à saúde. Nos termos do regramento, o índice de reajuste nesses casos está limitado à evolução do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo IPC-A. O que se questiona é o porquê de a ANS não adotar o mesmo critério para os planos de saúde individual, utilizando o IPC-A como balizador. Não se desconhece o fato de que outros aspectos devem ser levados em conta quando o órgão regulador analisa o índice de reajuste a ser adotado. No entanto, 2
3 distorções tão aparentes, desproporcionalidade de condutas, levam-nos a crer, como já destaquei, que a ANS é hoje uma autarquia que corre sério risco de captura. Merece realce ainda que a Lei nº Lei nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000, estabelece no inciso XXXVI, art. 4º, que compete à ANS articular-se com os órgãos de defesa do consumidor visando à eficácia da proteção e defesa do consumidor de serviços privados de assistência à saúde, observado o disposto na Lei nº 8.078, de 11 de setembro de A seguir será demonstrado que a referida decisão, a qual autorizou reajuste abusivo dos planos individuais bem acima da inflação, até o limite de 13,55%, extrapolou a competência regulamentar do Poder Executivo, podendo ser sustada via Decreto Legislativo do Congresso Nacional, com fundamento no art. 49, V, da Constituição da República. O que diz o dispositivo: Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional:... V - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa;. Em princípio, se o ato do Poder Executivo limita-se a regulamentar o que a lei disciplina, não há exorbitância e estarão atendidos os princípios da separação dos poderes e da legalidade. Assim, a Decisão em debate, à primeira vista, fundamentada no inciso II do artigo 10, combinado com os incisos XVII e XXI do artigo 4º, da Lei nº 9.961, de 28 de janeiro de 2000, que Cria a Agência Nacional de Saúde Suplementar ANS e dá outras providências, está amparada em Lei, verbis: Art. 4º Compete à ANS:... XVII - autorizar reajustes e revisões das contraprestações pecuniárias dos planos privados de assistência à saúde, ouvido o Ministério da Fazenda;... XXI - monitorar a evolução dos preços de planos de assistência à saúde, seus prestadores de serviços, e respectivos componentes e insumos; Art. 10 Compete à Diretoria Colegiada:... II - editar normas sobre matérias de competência da ANS;. Ocorre que a análise da exorbitância do poder regulamentar, a que se refere o art. 49, V, da Constituição da República, não se resume ao aspecto formal. O Poder Executivo também exorbita quando, embora pratique ato dentro de sua esfera de competência, viola princípios fundamentais e contraria garantias individuais do cidadão. Nesse sentido é o acórdão do Supremo Tribunal Federal na Questão de Ordem nº 1033-DF, relatoria do Ministro CELSO DE MELLO: 3
4 A RESERVA DE LEI EM SENTIDO FORMAL QUALIFICA-SE COMO INSTRUMENTO CONSTITUCIONAL DE PRESERVAÇÃO DA INTEGRIDADE DE DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS. O princípio da reserva de lei atua como expressiva limitação constitucional ao poder do Estado, cuja competência regulamentar, por tal razão, não se reveste de suficiente idoneidade jurídica que lhe permita restringir direitos ou criar obrigações. Nenhum ato regulamentar pode criar obrigações ou restringir direitos, sob pena de incidir em domínio constitucionalmente reservado ao âmbito de atuação material da lei em sentido formal. O abuso de poder regulamentar, especialmente nos casos em que o Estado atua contra legem ou praeter legem, não só expõe o ato transgressor ao controle jurisdicional, mas viabiliza, até mesmo, tal a gravidade desse comportamento governamental, o exercício, pelo Congresso Nacional, da competência extraordinária que lhe confere o art. 49, inciso V, da Constituição da República e que lhe permite sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar (...). Doutrina. Precedentes. (RE AgR/SC, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.). Plausibilidade jurídica da impugnação à validade constitucional da Instrução Normativa STN nº 01/2005. (AC - AgR-QO 1033 / DF DISTRITO FEDERAL - QUESTÃO DE ORDEM NO AG.REG. NA AÇÃO CAUTELAR - Relator(a): Min. CELSO DE MELLO - Julgamento: 25/05/2006 Órgão Julgador: Tribunal Pleno - Publicação - DJ PP EMENT VOL PP-00021) Em seu voto, o Ministro CELSO DE MELLO apresenta minudente análise das limitações à função regulamentar do Poder Executivo, a qual, segundo essa perspectiva, deve ser debatida em contraste com os direitos e garantias fundamentais. Eis trecho do voto que elucida a matéria: Demais disso, cumpre reconhecer que a imposição estatal de restrições de ordem jurídica, quer se concretize na esfera judicial, quer se efetive no âmbito estritamente administrativo, para legitimarse em face do ordenamento constitucional, supõe o efetivo respeito, pelo Poder Público, da garantia indisponível do due process of law, assegurada à generalidade das pessoas pela Constituição da República (art. 5º, LIV), eis que o Estado, em tema de limitação de direitos, não pode exercer a sua autoridade de maneira arbitrária. Cumpre ter presente, bem por isso, que o Estado, em tema de restrição à esfera jurídica de qualquer pessoa, física ou jurídica, não pode exercer a sua autoridade de maneira abusiva ou arbitrária, desconsiderando, no exercício de sua atividade, o postulado da plenitude de defesa, pois o reconhecimento da legitimidade ético-jurídica de qualquer medida imposta pelo Poder Público - de que resultem, como no caso, consequências gravosas no plano dos direitos e garantias (mesmo aqueles titularizados por pessoas estatais) - exige a fiel observância do princípio constitucional do devido processo legal (CF, art. 5º, LV). A jurisprudência dos Tribunais, notadamente a do Supremo Tribunal Federal, tem reafirmado a essencialidade desse princípio, nele reconhecendo uma insuprimível garantia, que, instituída em favor de qualquer pessoa ou entidade (pública ou privada), rege e condiciona o exercício, pelo Poder Público, de sua atividade, ainda que em sede materialmente administrativa, sob pena de nulidade da própria medida restritiva de direitos, revestida, ou não, de caráter punitivo (...). RESTRIÇÃO DE DIREITOS E GARANTIA DO DUE PROCESS OF LAW LAW. (...) A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal tem reafirmado a essencialidade desse princípio, nele reconhecendo uma insuprimível garantia, que, instituída em favor de qualquer pessoa ou entidade, 4
5 rege e condiciona o exercício, pelo Poder Público, de sua atividade, ainda que em sede materialmente administrativa, sob pena de nulidade do próprio ato punitivo ou da medida restritiva de direitos. (...) Esse entendimento que valoriza a perspectiva constitucional que deve orientar o exame do tema em causa tem o beneplácito de autorizado magistério doutrinário (...). Não se pode perder de perspectiva, portanto, considerada a essencialidade da garantia constitucional da plenitude de defesa e do contraditório, que a Constituição da República estabelece, em seu art. 5º, incisos LIV e LV, que ninguém pode ser privado de sua liberdade, de seus bens ou de seus direitos sem o devido processo legal, notadamente naqueles casos em que se viabilize a possibilidade de imposição, a determinada pessoa ou entidade, de sanções ou de medidas gravosas consubstanciadoras de limitação de direitos. (...). O princípio da proporcionalidade, implícito na ordem constitucional em vigor, é visto como faceta do due process of law em sentido material (art. 5º, LIV, da Constituição), como consta do seguinte julgado do STF: No tocante ao "caput" do já referido artigo 33 da mesma Medida Provisória e reedições sucessivas, basta, para considerar relevante a fundamentação jurídica do pedido, a alegação de ofensa ao princípio constitucional do devido processo legal em sentido material (art. 5º, LIV, da Constituição) por violação da razoabilidade e da proporcionalidade em que se traduz esse princípio constitucional (ADI-MC 1922 / DF DISTRITO FEDERAL - MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min. MOREIRA ALVES - Julgamento: 06/10/ Órgão Julgador: Tribunal Pleno Publicação - DJ PP EMENT VOL PP-00032). Portanto, tendo havido, no ato regulamentar questionado, violação ao princípio da proporcionalidade, o devido processo legal objetivo foi desrespeitado e ocorreu, em conclusão, a exorbitância do poder regulamentar. Em outro acórdão, o STF decidiu que o Poder Público não pode agir imoderada e abusivamente mesmo quando edita Lei em sentido estrito, sob pena de inconstitucionalidade. Se nem sequer a Lei propriamente dita pode ofender o princípio da razoabilidade, muito menos o ato regulamentar ou infralegal pode fazê-lo. A seguir, parte da ementa do acórdão cujos fundamentos são inteiramente aplicáveis à espécie em análise: TRIBUTAÇÃO E OFENSA AO PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE. O Poder Público, especialmente emsede de tributação, não pode agir imoderadamente, pois a atividade estatal acha-se essencialmente condicionada pelo princípio da razoabilidade, que traduz limitação material à ação normativa do Poder Legislativo. - O Estado não pode legislar abusivamente. A atividade legislativa está necessariamente sujeita à rígida observância de diretriz fundamental, que, encontrando suporte teórico no princípio da proporcionalidade, veda os excessos normativos e as prescrições irrazoáveis do Poder Público. O princípio da proporcionalidade, nesse contexto, acha-se vocacionado a inibir e a neutralizar os abusos do Poder Público no exercício de suas funções, qualificando-se como parâmetro de aferição da própria constitucionalidade material dos atos estatais. - A prerrogativa institucional de tributar, que o ordenamento positivo reconhece ao Estado, não lhe outorga o poder de suprimir (ou de inviabilizar) direitos de caráter fundamental constitucionalmente assegurados ao contribuinte. É que este dispõe, nos termos da própria Carta Política, de um sistema de proteção destinado a ampará-lo contra eventuais excessos cometidos pelo poder tributante ou, ainda, contra 5
6 exigências irrazoáveis veiculadas em diplomas normativos editados pelo Estado. (ADI-MC-QO 2551 / MG - MINAS GERAIS - QUESTÃO DE ORDEM NA MEDIDA CAUTELAR NA AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE - Relator(a): Min. CELSO DE MELLO - Julgamento: 02/04/ Órgão Julgador: Tribunal Pleno - Publicação DJ PP EMENT VOL PP ). É facilmente verificável que o reajuste autorizado pela ANS, a ser aplicado ao planos de saúde individuais e familiares, no período de 1º de maio de 2015 a 30 de abril de 2016, ofende o princípio da proporcionalidade, vez que o aumento projetado está muito acima da inflação. Como já mencionado, o aumento autorizado é mais do que o dobro da inflação do ano passado, que girou em torno de 6,4%, e mais de uma vez o acumulado dos últimos dozes meses, em torno de 8,17%, se tomarmos como parâmetro o IPC-A - Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo. A ofensa ao princípio da proporcionalidade resta caracterizada. Mas é de se dizer ainda que outro princípio fundamental da ordem econômica acha-se também violado. Trata-se do princípio da defesa do consumidor, ao mesmo tempo direito e garantia individual e princípio da ordem econômica, nos termos dos arts. 5.º, XXXII, e 170, V, da Constituição Federal: Art. 5.º... XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor;... Art A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios:... V - defesa do consumidor;. Ou seja, além de ofender o princípio da proporcionalidade, o ato regulamentar ora questionado contraria também o princípio constitucional da defesa do consumidor. Assim, é forçoso concluir que exorbita o poder regulamentar que o inciso II. do art. 10, da Lei nº 9.961/2000 confere à ANS, a Decisão da Diretoria Colegiada daquela Agência que autorizou o índice de reajuste máximo de 13,55%, com vigência de 1º de maio de 2015 a 30 de abril de 2016, para as contraprestações pecuniárias dos planos privados de assistência suplementar à saúde, individuais e familiares, médicohospitalares, com ou sem cobertura odontológica, previsto no artigo 2º da Resolução Normativa - RN nº 171, de 29 de abril de 2008, na medida que impôs percentual de reajuste abusivo, muito superior ao índice inflacionário, configurando ofensa aos princípios da proporcionalidade consectário do princípio do devido processo legal objetivo (CF, art. 5.º, LIV) e da defesa do consumidor, razão por que deve ser sustado por Decreto Legislativo do Congresso Nacional, com fulcro no art. 49, V, da Constituição da República. 6
7 São essas as razões que me levam à propor este Projeto de Decreto Legislativo visando à sustação dos efeitos da decisão mencionada, para o qual solicito o apoio de meus pares. Sala das Sessões, em de junho de Deputado Eli Corrêa Filho DEM/SP 7
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