AO MAGNÍFICO REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ.

Transcrição

1 AO MAGNÍFICO REITOR DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ. ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ - ADUFPI, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ/MF sob o n / , com sede na Avenida Universitária, 661, Bairro Ininga, na cidade de Teresina/PI, neste ato representado por seu Presidente MÁRIO ÂNGELO DE MENESES SOUSA, brasileiro, casado, portador do RG de número SSP-PI, inscrito no CPF/MF sob o número , residente e domiciliado à Rua Tancredo Serra e Silva, 2049, Horto Florestal, CEP: , Teresina/PI, vem, perante Vossa Magnificência, expor e, ao final, requerer o que segue: A Constituição Federal garantiu como direito dos trabalhadores o adicional de remuneração para quem realiza as atividades penosas, insalubres ou perigosas, no seu art. 7º, inciso XXII, in verbis: Art. 7º. São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: XXII redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;

2 No âmbito do serviço público federal, a normatização se operou especialmente com a Lei 8.112/1990, que trouxe as regras básicas para a orientação da Administração Pública quanto à questão. Veja-se: Art. 68. Os servidores que trabalhem com habitualidade em locais insalubres ou em contato permanente com substâncias tóxicas, radioativas ou com risco de vida, fazem jus a um adicional sobre o vencimento do cargo efetivo. Assim, os docentes da Universidade Federal do Piauí ao realizar atividade insalubre percebem o respectivo adicional. A atividade nociva à saúde dos servidores públicos federais ainda requer a conversão do tempo de serviço pelo fator diferenciado no qual passaremos a demonstrar. Até dezembro de 1990, data do início da vigência da Lei 8.112/90, eram os docentes da UFPI regidos pela Consolidação das Leis Trabalhistas, e, portanto, vinculavam-se ao Regime Geral da Previdência Social (INSS). Ao traçar um histórico da contagem de tempo especial no ordenamento brasileiro, percebese que a aposentadoria especial foi instituída pelo artigo 31 da Lei 3.807/60. Posteriormente, a Lei 5.890/73, em seu artigo nono estatuiu: Artigo 9. A aposentadoria especial será concedida ao segurado que, contando no mínimo 5 (cinco) anos de contribuição, tenha

3 trabalhado durante 15 (quinze), 20 (vinte) ou 25 (vinte e cinco) anos pelo menos, conforme a atividade profissional, em serviços que, para esse efeito, forem considerados penosos, insalubres ou perigosos, por decreto do Poder Executivo. A Lei 8.213/1991 manteve o benefício em seu artigo 57 caput e parágrafos. A seguir, a Lei 9.032/1995 alterou parte do caput e acrescentou o parágrafo quinto ao referido artigo: Parágrafo 5º. O tempo de trabalho exercido sob condições especiais que sejam ou venham a ser consideradas prejudiciais à saúde ou à integridade física será somado, após a respectiva conversão ao tempo de trabalho exercido em atividade comum, segundo critérios estabelecidos pelo Ministério da Previdência e Assistência Social, para efeito de concessão de qualquer benefício. neste sentido: Cumpre sobrelevar que a própria jurisprudência pátria é unânime "RECURSO ESPECIAL. ADMINISTRATIVO. AVERBAÇÃO DE TEMPO DE SERVIÇO PRESTADO SOB CONDIÇÕES ESPECIAIS. REGIME CELETISTA. CONVERSÃO DO TEMPO DE SERVIÇO PARA FINS DE APOSENTADORIA NO

4 SERVIÇO PÚBLICO. PRECEDENTES.1."1.A jurisprudência desta Corte Superior de Justiça firmou já entendimento no sentido de que o servidor público ex-celetista faz jus à contagem do tempo de serviço celetista prestado em condições perigosas, penosas e insalubres na forma da legislação vigente à época da prestação de serviço, ou seja, com o acréscimo previsto na legislação previdenciária de regência. 2. Precedentes das 5ª e 6ª Turmas." (REsp nº /PB, da minha Relatoria, in DJ 19/12/2002). 2. Recurso provido." (REsp n /SC, Sexta Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJ de ). De acordo com o artigo segundo da Orientação Normativa de número 03, de 18 de Maio de 2007, do Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão: Art. 2º. O servidor público que exerceu, como celetista, no serviço público, atividades insalubres, penosas e perigosas, no período anterior à vigência da Lei nº 8.112, de 11 de dezembro de 1990, tem direito à contagem especial de tempo de serviço para efeito de aposentadoria. Percebe-se, portanto, a orientação jurisprudencial brasileira no sentido de assegurar ao trabalhador as garantias impostas pela Constituição Federal, que, ao dispor como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil os valores sociais do trabalho (art. 1º, IV), impõe a redução aos riscos

5 inerentes ao trabalho e remuneração privilegiada para as atividades insalubres, penosas e perigosas (art. 7º, XXII e XXIII). Com base nessas premissas, ao pleitearem a aposentadoria, os professores federais devem solicitar certidão ao INSS a fim de que reconheça o período laborado sob a égide do regime celetista, qual seja, até dezembro de A posteriori, quando de posse desse documento, exige da UFPI a averbação de tal período ao seu regime. Assim, após 1990, o próprio setor de Recursos Humanos da UFPI é quem calcula e averba o tempo de serviço, face a vigência do Regime Jurídico Único dos servidores públicos. No que se refere à contagem diferenciada neste período, a Constituição Federal vedou e, ato contínuo, deixou uma lacuna: Art. 40. Aos servidores titulares de cargos efetivos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, incluídas suas autarquias e fundações, é assegurado regime de previdência de caráter contributivo e solidário, mediante contribuição do respectivo ente público, dos servidores ativos e inativos e dos pensionistas, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro e atuarial e o disposto neste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, ) 4º É vedada a adoção de requisitos e critérios

6 diferenciados para a concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis complementares, os casos de servidores: (...) III cujas atividades sejam exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física. Sob o manto da ausência de edição desta Lei Complementar, a Universidade Federal do Piauí tem preterido os docentes do direito à conversão pelo fator diferenciado (1,4 se homem e 12, se mulher). Ora, a omissão do Poder Legislativo não poderia segregar direito constitucionalmente garantido dos docentes do serviço público federal. Neste toar, cabe-nos ressaltar que diante da falta de norma regulamentadora prevista na Constituição Federal, o SINDICATO NACIONAL DOS DOCENTES DAS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR ANDES-SN interpôs, conjuntamente com outras instituições nacionais, o Mandado de Injunção de número 880 no STF contra o Congresso Nacional. Tal ação, de relatoria do Ministro Eros Grau, transitou em julgado em , consoante se depreende pelo extrato do STF e D.J.E. número 86/2009 anexos. (Doc. 01). Cabe-nos transcrever o trecho final do decisium:

7 Julgo parcialmente procedente o pedido deste mandado de injunção, para, reconhecendo a falta de norma regulamentadora do direito à aposentadoria especial dos servidores públicos, remover o obstáculo criado por essa omissão e, supletivamente, tornar viável o exercício, pelos substituídos neste mandado de injunção, do direito consagrado no artigo 40, 4º, da Constituição do Brasil, nos termos do artigo 57 da Lei nº 8.213/91 Ressalte-se que os docentes filiados à ASSOCIAÇÃO DOS DOCENTES DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ ADUFPI, seção sindical da ANDESSN no Piauí. Comprova-se a filiação da ADUFPI à ANDESSN pelo documento abrigado no sítio virtual do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior ANDESSN, ora acostado (Doc.02). Neste sentido, percebe-se claramente o direito dos professores à contagem de tempo de serviço especial mesmo após a edição da Lei 8.112/1990, em virtude da sua conquista como substituído processual no MI 880 do STF. Tal cálculo deve ser feito nos moldes do artigo 57 da Lei 8.213/1991, de acordo com a Orientação Normativa de número 10, de 05 de novembro de 2010 da SRH/MPOG, a seguir: Art. 1º Esta Orientação Normativa uniformiza, no âmbito do Sistema de Pessoal Civil da União - SIPEC, os procedimentos relacionados à concessão de aposentadoria especial prevista

8 no art. 57 da Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, de que trata o Regime Geral de Previdência Social - RGPS, ao servidor público federal amparado por decisão em Mandado de Injunção julgado pelo Supremo Tribunal Federal. 1º Farão jus à aposentadoria especial de que trata o caput deste artigo os servidores públicos federais alcançados por decisões em Mandados de Injunção, individualmente, ou substituídos em ações coletivas, enquanto houver omissão legislativa. 2º As decisões a que se referem o parágrafo anterior, exaradas pelo Supremo Tribunal Federal nos autos de Mandados de Injunção, tratam da concessão de aposentadoria especial e da conversão de tempo de serviço aos servidores públicos federais com base na legislação previdenciária. Ora, uma vez que a ANDESSN ingressou e ganhou o MI 880-STF e os associados foram por ela substituído processualmente, não há como negar o reconhecimento do seu direito à aposentadoria especial também a partir de Frente à negativa administrativa da UFPI outra alternativa não resta aos docentes que recorrer ao Poder Judiciário a fim de garantir a conversão pelos fatores de conversão, 1,2 e 1,4. Salientamos a Vossa Magnificência que todos os Mandados de Seguranças impetrados têm sido julgados PROCEDENTES. No que comprovamos

9 esta alegativa ao acostar sentenças de todas as varas da Justiça Federal da Seção Judiciária da Capital (Doc.03). Assim, a atitude da UFPI em negar direito comprovadamente líquido e certo está a assoberbar o Judiciário Piauiense. Isto posto, requer se digne Vossa Magnificência a assegurar ADMINISTRATIVAMENTE a todos os docentes que exercem atividade insalubre contagem diferenciada do tempo de serviço prestado sob condições especiais computando o fator de correção 1,4 (um inteiro e quatro décimos) para homem e 1,2 (um inteiro e dois décimos) para mulher, a teor da legislação vigente e da decisão proferida no Mandado de Injunção 1554 do STF. Teresina, 18 de abril de MÁRIO ÂNGELO DE MENESES SOUSA Presidente da Associação dos Docentes da Universidade Federal do Piauí IGOR MOURA MACIEL Assessoria Jurídica ADUFPI

10 ARIANNE BEATRIZ FERNANDES FERREIRA Assessoria Jurídica ADUFPI