O Recife que ninguém vê: uma análise do morar no bairro do Pilar no Recife

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1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES ANTONIO MARQUES SILVA LIMA O Recife que ninguém vê: uma análise do morar no bairro do Pilar no Recife Rio Grande do Norte, 2017

2 Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA Lima, Antonio Marques Silva. O Recife que ninguém vê: uma análise do morar no bairro do Pilar no Recife / Antonio Marques Silva Lima f.: il. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-graduação em Ciências Sociais, Natal, RN, Orientadora: Prof.ª Dr.ª Norma Misae Takeuti. 1. Bairros - Recife (Pernambuco). 2. Comunidade Nossa Senhora do Pilar - Recife (Pernambuco). 3. Dinâmica urbana - Recife (Pernambuco). I. Takeuti, Norma Misae. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA CDU (813.4)

3 O Recife que ninguém vê: uma análise do morar no bairro do Pilar no Recife Dissertação de mestrado apresentada ao programa de pósgraduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a orientação da Profa. Dra. Norma Missae Takeuti, para a obtenção do título de mestre em Ciências Sociais. Rio Grande do Norte, 2017

4 O Recife que ninguém vê: uma análise do morar no bairro do Pilar no Recife Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a orientação da Profa. Dra. Norma Missae Takeuti, para a obtenção do título de mestre em Ciências Sociais. BANCA EXAMINADORA Profa. Dra. Norma Missae Takeuti (Orientadora/UFRN) Prof. Dr. Francisco Sá Barreto dos Santos (Examinador titular externo/ UFPE) Profa. Dra. Josimey Costa (Examinadora titular interna/ufrn)

5 Agradecimentos Gostaria primeiramente de agradecer à Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior/ CAPES e ao MEC, por ter me proporcionado o auxílio da bolsa de mestrado ao longo dos dois anos, apoio fundamental na elaboração desse trabalho e na conclusão deste curso. Ao Programa de pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pelas oportunidades e ensinamentos e por acolher tão bem a mim. À secretaria de pós-graduação na pessoa de Jeferson e Otânio, por sempre estarem além dos seus trabalhos, dispostos a esclarecer e ajudar com toda eficiência. À Norma Takeuti por aceitar o desafio de orientar este trabalho e pela imensa contribuição para a sua feitura. A Chico Sá Barreto e Fernando Cruz por compor a banca de qualificação e pelas belas contribuições que alavancaram e nortearam este trabalho. Agradeço a Natalia e a Jorge, moradores do Pilar, pela paciência e compreensão durante minhas idas a campo, sem eles, este trabalho ficaria incompleto. Agradeço a vocês enquanto representantes do Pilar, pela acolhida amorosa. Deixo também a todos os moradores que tem pressa de vencer esta luta, meu muito obrigado. A meus pais que, apesar de ainda não entenderem este trabalho, contribuíam ao seu modo para me ajudar. A Nathielly, pois sem ela não seria possível este trabalho. Obrigado por acreditar em mim mais do que eu mesmo. Minha revisora e musa. Agradeço a meu Jorge por compreender as noites que não podia brincar e a ele dedico este trabalho. Dedico também a Gilberto que ainda não chegou neste mundo, mas que vem para renovar nossas esperanças. A um Recife mais bonito para vocês brincarem.

6 "Ainda vão me matar numa rua. Quando descobrirem, principalmente, que faço parte dessa gente que pensa que a rua é a parte principal da cidade". Paulo Leminski

7 Resumo O trabalho que se apresenta tem como objetivo discutir como a mercantilização dos espaços vem adequando seus arredores não incluídos nos fins de uma lógica mais econômica, parente a uma modernidade adequada aos parâmetros mercantis. Trataremos aqui das estratégias tomadas pelos moradores do bairro do Pilar no Recife, diante do processo de gentrificação dos arredores do lugar, que, atendendo aos anseios consumistas, sofreu todo um processo de modificação de sua lógica estrutural em prol de uma adequação ao turismo e ao consumidor. O trabalho busca compreender a situação de quem reside junto ao polo turístico mais importante da cidade, convivendo com a extrema carência de políticas públicas diversas, separados de todo o luxo próconsumidor, por tapumes. Buscaremos observar possíveis táticas e estratégias adotadas pelos moradores do bairro do Pilar, vizinho ao Recife Antigo, para sobreviver em meio ao capitalismo e especulação imobiliária. Partiremos de uma análise microssociológica, para entender a partir do indivíduo e das suas relações cotidianas, como se dá essa significação do morar em um espaço permeado por desigualdades, buscando verificar se existem estratégias de ressignificação do espaço habitado e se estas estão de certo modo vinculadas ao processo de gentrificação do Recife Antigo. O trabalho encontra em meio a um espaço múltiplo, as relações estabelecidas entre a dinâmica do Pilar e do Recife Antigo. Aqui, verificou-se como os moradores adotam mecanismos a fim de adaptar-se à lógica do lugar, que inclui as constantes transformações do Recife Antigo, a visão que se tem do Pilar, partindo-se do lado de fora da comunidade e o abandono do poder público. Percebeu-se que essas relações são estreitas e frágeis: ao mesmo tempo em que a distância física é mínima, é perceptível que a coexistência dos espaços não existe. Morar no bairro do Pilar é conviver com a constante indiferença do lado de lá. É construir sua pertença no espaço através do trabalho informal e conviver com as poucas iniciativas do poder público, no lugar. Palavras-chave: Pilar, representação, dinâmicas, práticas, comunidade.

8 Abstract In the midst of a market context, and the consequent rates of consumption this causes in cities, the work presented here aims to discuss how the commercialization of spaces comes to adapt itself to surroundings not necessarily included in the objectives of the economic rationalist, but which nevertheless take on a modernity which is suited to capitalistic parameters. Here we will deal with strategies undertaken by those who live in the neighborhood of Pilar, Recife, where the gentrification of surroundings has taken place. To attend to consumer anxiety the area has suffered an entire process of modification, changing its own structural logic, to favor tourism and the consumer. This work seeks to understand the situation of those who live next to the city s main tourist stretch, as they suffer from an extreme lack of public policies; and they live separated, by walls, from pro-consumer advantages. Here we will examine the possible tactics and strategies adopted by residents in Pilar, a neighborhood adjacent to Recife Antigo, in order to survive - their being in the middle of capitalism and real estate speculation. We set out by micro-sociological analysis to gain an understanding from individuals and from their daily relationships of how, in a space permeated by inequalities, the situation can have a meaning. We look to see if strategies of re-signifying the inhabited space exist and in what ways they are linked to the process of gentrification of Recife Antigo. The work finds in the middle of a multiple space, the relations established between the dynamics of Pilar and Recife Antigo. Here, it was verified how the inhabitants adopt mechanisms in order to adapt to the logic of the place, that includes the constant transformations of Recife Antigo, the vision that has of the Pilar, starting from the outside of the community and the abandonment of public power. It has been noticed that these relations are narrow and fragile: at the same time that the physical distance is minimum, it is noticeable that the coexistence of the spaces does not exist. To live in the neighborhood of Pilar is to live with the constant indifference "on the other side". It is building your belonging in space through informal work and living with the few initiatives of the public power, in place

9 Key-words: Pilar, representation, dynamics, practices, community

10 Sumário Introdução Preliminares O lócus do estudo e aspectos teórico-metodológicos CAPÍTULO 1 - Recife: A maior metrópole em linha reta da América Latina? Urubu, Gabiru, Cachorro e Gente: Da favela do rato à comunidade Nossa Senhora do Pilar Eu vi o mundo... ele começava no Recife CAPÍTULO 2- Dos entraves e descobertas: os desafios do trabalho de campo...39 CAPÍTULO 3- O Pilar de hoje e de ontem: notas etnográficas Dinâmicas e distinções do morar: uma análise do Pilar enquanto campo constituidor de relações e práticas O movimento enquanto instrumento de denúncia Zé, Kelly e o Pilar que ninguém vê Capítulo 4 Estigma, tática e direito: a dinâmica Pilar X Recife Antigo CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS: ANEXO I ANEXO II...

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12 Introdução O presente trabalho pretendeu desenvolver uma pesquisa crítica a respeito das formas de ressignificação do morar do bairro do Recife, mais especificamente no setor do Pilar. A relevância do estudo está justamente na situação em que o lugar se encontra: o Pilar fica localizado ao lado de um dos maiores e mais importantes polos turísticos da cidade do Recife, vizinho à Prefeitura e dividindo espaço com uma fábrica. Localizado no centro, o lugar parece não atrair os olhares dos transeuntes e a atenção do poder público, mesmo fazendo fronteira com espaços cotados por turistas. Se de um lado, predominam prédios históricos e espaços de visitação e lazer, do outro, barracos amontoam-se e dividem espaço com dois prédios habitacionais inacabados, enquanto o esgoto corre a céu aberto. Nesse sentido, nossa intenção foi a de verificar quais as estratégias adotadas pelos moradores do Pilar, para sobreviver no lugar, e de que maneira esses moradores organizam-se para ressignificar o espaço onde vivem. Pretendendo observar ainda, como se dá a relação do morar no Pilar com o processo de gentrificação do Recife Antigo. Mais adiante, definiremos esse termo que norteia nossa discussão. Em todo caso, o trabalho apresenta o Pilar de maneira a situar quem não conhece o lugar e de certa forma, aguçar a memória de quem já o conhece. O Bairro do Recife dá lugar à noção ampliada do Recife Antigo. Em todo caso, os jogos de palavras alertam mesmo com graça a condição da cidade, as expressões e as piadas típicas. Vale salientar que o trabalho não tem como objetivo central ser um guia prático do Recife ou um atlas metropolitano, mas como o próprio texto sugere, pretende aguçar os sentidos para que se possa enxergar o Recife além de um bairrismo característico, e entender essa pernambucanidade que permeia quem vive no lugar. O espaço do Recife Antigo, contexto aqui tomado por nós como acessório que apoiará a discussão centrada mais propriamente nos moradores do Pilar, foi alvo de mudanças recentes que tinham como prioridade, adequar o espaço para que esse pudesse ser mercantilizado, atendendo uma demanda crescente de consumo. Milton Santos, nos fala que esse progresso acabou por ser legitimado pela aceitação de uma linha de pensamento racional econômica, além de se apoiar em certa influência do Estado, que se utiliza da força e do poder para criar condições favoráveis ao crescimento e à lógica mercantil (SANTOS, 2014, p.15). 12

13 O termo gentrificação, designa justamente ações que visam à revitalização e enobrecimento de áreas urbanas degradadas 1 e empobrecidas: a palavra se origina do inglês gentrification, que quer dizer enobrecimento ligado a uma clara demanda de agregar valor a áreas pobres, ou melhor, áreas ocupadas por moradores pobres. Esses empreendimentos em sua maioria consistem em modificar a paisagem, no entanto essas modificações deixam em evidencia no plano físico, as assimetrias simbólicas de poder que estão postas num plano político-ideológico e que culminam numa desapropriação do espaço enquanto área habitada e do lugar enquanto espaço apropriado e dotado de significados: A noção de paisagem articula-se, assim, a uma dimensão simbólica do poder: práticas de gentrification não se referem apenas a empreendimentos econômicos que visam otimizar o potencial de investimentos em áreas centrais; referem-se sobretudo à afirmação simbólica do poder, mediante inscrições arquitetônicas e urbanísticas que representam visualmente valores e visões de mundo de uma nova camada social 2 que busca apropriar-se de certos espaços da cidade (LEITE, 2007 p.63). Dentro do contexto por nós estudado, permeiam as noções de direitos políticos e individuais. Diante disso, é também um dos objetivos deste trabalho, observar além das táticas utilizadas nesse empreendimento de resistência, a noção e o conhecimento de direitos políticos desses moradores, que os leva a reivindicar do órgão responsável, ações e medidas para a localidade. (...)a noção de direitos políticos e de direitos individuais teve que ser desrespeitada, pisoteada e anulada. Sem esses pré-requisitos, seria impossível manter como pobres, milhões de brasileiros, cuja pobreza viria de fato a ser criada pelo modelo econômico anunciado como redentor(...) O modelo político e o modelo cívico foram instrumentais ao modelo econômico (SANTOS,2014, p.15). 1 Por degradadas, entendemos áreas que por um período de tempo, não receberam incentivos relacionados à reforma e revitalização. 2 Essa nova camada tem por característica ser um segmento já possuidor de capital econômico e social que, em relação ao Pilar, se mostra muito maior. 13

14 Nesse sentido, trataremos aqui inicialmente da trajetória da Favela do Pilar, ou Favela do Rato, e de como se situa historicamente a questão da resistência dos moradores no local. Todo o processo nos permite ver o desenvolvimento desse sentido de resistência num patamar pós-moderno, de fragmentação de estruturas, de constantes modificações de consumo de tempo e de espaço, de maneira voraz. Toda essa análise será feita levando em conta o processo de gentrificação, pelo qual o Recife Antigo passou e vem passando; por considerarmos ser relevante pensar a situação em que se encontram os moradores do Pilar. Em seguida, traremos a discussão de Harvey (2004) a respeito da modernidade e pós-modernidade, onde discutiremos as possibilidades e entraves de se pensar a partir dessas linhas de pensamento. Importante será, também, nos utilizarmos de Certeau (1994), quando nos propusermos a pensar a respeito das estratégias. A lógica capitalista dita o ritmo das mudanças urbanas e consequentemente os sentidos das transformações são gestados pelo que Certeau assim denominou como: O cálculo (ou manipulação) das relações de forças que se torna possível a partir do momento em que um sujeito do querer e poder, (uma empresa, um exército, uma cidade, uma instituição científica) pode ser isolado(...) A estratégia postula um lugar suscetível de ser circunscrito como algo próprio. (CERTEAU, 2014, p.93). O que queremos pensar, com isso, é que a construção do espaço não se apresentaria como uma simples causalidade, tanto a ingerência quanto a presença de órgãos responsáveis, conferem ao local um sentido à sua formação. Sendo assim, o Pilar é um local que está dentro de uma estratégia maior de consumo dos espaços, nesse caso mais especificamente, o circuito turístico do Recife Antigo. Certeau nos será conveniente, ainda, em relação às questões que tratam dos modos de proceder da criatividade cotidiana. Essas maneiras de fazer constituem as mil práticas pelas quais usuários se reapropriam do espaço organizado pelas técnicas da produção sócio cultural (CERTEAU, 2014, p.41). Com isso, pretendemos observar como os moradores se utilizam dessa criatividade, mais tática, a que Certeau chama de bricoladora. Esses modos de fazer são partes constituintes de uma rede de antidisciplina, pois, vão de encontro ao que é ditado, ao que é imposto (CERTEAU, 2014). O que é popular se origina de combinações, de artimanhas, do pensar 14

15 pausadamente antes de fazer, diz o autor; e é justamente isso que buscamos ver junto aos moradores. É importante destacar que a perspectiva tomada aqui é a do indivíduo, ou seja, priorizaremos as relações entre os moradores, as redes de solidariedade construídas por eles, a dinâmica do lugar e, consequentemente, as noções de luta, pertencimento e resistência dos moradores do bairro. Pretendemos observar essa dinâmica na ótica dessa marginalidade silenciosa, como Certeau denomina. Uma marginalidade de massa, atividade cultural dos não produtores de cultura, uma atividade não assinada, não legível, mas simbolizada (CERTEAU, 2014, p.43). Consideramos importante adotar essa posição, por acreditarmos que é justamente essa marginalidade que produz esse sentimento de pertencimento nos moradores do Pilar e consequentemente, dita seus princípios de luta. Temos, assim, a pretensão de verificar a existência de possíveis táticas de enfrentamento ao processo de invisibilização da comunidade, desenvolvidas pelos moradores do Pilar no Recife; compreender a dinâmica do Pilar com relação ao pólo turístico do Recife Antigo e o bairro do Recife; identificar práticas de resistência dentro do contexto da comunidade, além de observar as táticas e estratégias desenvolvidas pelos moradores para se organizarem enquanto comunidade. A estrutura do trabalho, buscou contemplar de certo modo, alguns pontos que guiam a leitura de modo a se fazer conhecer o Pilar e consequentemente o Recife Antigo. Inicialmente, buscamos traçar alguns aspectos mais direcionados a um contexto metodológico, em que se desenvolvem alguns pontos do lócus em que se desenvolve a pesquisa. O Pilar e o Recife Antigo são apresentados previamente, de modo a situar a quem lê, do lugar de onde se fala e do que se pretende falar. Uma visão mais atenta, em certos aspectos é feita posteriormente. Nesse capítulo Urubu, Gabiru, Cachorro e Gente: Da Favela do Rato à comunidade Nossa Senhora do Pilar, priorizo a trajetória do Pilar, desde a sua constituição enquanto favela, até o que se denomina enquanto comunidade. Nessa parte, pretendemos desenvolver uma visão do Pilar, que ainda não reside muito a que corresponde a dos moradores. Priorizamos ainda, nosso ponto de vista enquanto morador da cidade e das trajetórias que pudemos compartilhar enquanto jovem recifense e apreciador da cultura local. Nesse ponto, trazemos a contextualização do mangue beat, enquanto movimento que de certa forma 15

16 contava a história da cidade, priorizando o ponto de vista dos homens caranguejo, sendo objeto de denúncia e, portanto, muito apreciado pela população que vive Recife. O trabalho de campo aparece mais fortemente no ponto que se segue. O Pilar é apresentado mais diretamente, baseando-se nas incursões realizadas à campo, em que as experiências narradas pelas vozes de quem reside no lugar, vão incorporando ao restante do trabalho mais substância e dando sentido ao que é dito anteriormente. Nesse capítulo, além de priorizar as narrativas, pudemos trazer novamente um pouco mais das nossas impressões no que se refere à postura em campo. Nomeando atores, buscando aspectos relacionados ao que me detive a discutir, fui delineando a partir das falas questões como a visão que se tem do Pilar, a sua relação com o poder público e como o viver na comunidade acontece e se desenvolve em meio a uma gama de diferenças e igualdades. É nessa miríade de trajetórias de vida e na riqueza de informações disponibilizadas, que esse capítulo se constrói. Em seguida, busquei relacionar alguns aspectos a que me pretendi discutir ao longo do trabalho, clareando o campo, à luz de alguns autores utilizados. Nessa parte, as noções de tática e estratégia de Certeau, de estigma de Goffman, e algumas outras contribuições aparecem, pois são percebidas dentro do contexto, claramente. Por fim, situo algumas dificuldades em campo e desafios que pude vivenciar enquanto pesquisador, dentro de um espaço tão dividido, porém diverso e importante. Espero desse modo, poder trazer à tona algumas contribuições e incitar discussões a respeito da comunidade do Pilar, que existe, reexiste e resiste em meio a uma lógica esmagadora e perversa. Finalmente, devo deixar registrado aqui o fato de eu ter recebido o desafio de rever o meu relatório de dissertação, após as importantes críticas da banca examinadora, precedidas pelas da orientadora antes de eu me apresentar à defesa; críticas que diziam respeito à exiguidade dos dados empíricos e à falta de fôlego em relação a uma problematização teórico-conceitual, mais consistente do objeto de pesquisa. Após a defesa, empenhei-me em trazer mais densidade na descrição de tudo o que eu havia colhido em campo, assim como busquei compatibilizar as intenções teóricas propostas com o que os dados de campo informavam. Ao cabo do prazo de reescrita, não posso garantir ter atingido plenamente os objetivos indicados pela banca 16

17 examinadora; porém, creio ter, minimamente, buscado a coerência entre a proposta inicial e a problematização resultante, neste final de escrita. A escassez (teóricoempírico), retratada neste relatório, não condiz com o que vivenciei e trabalhei em campo, tampouco condiz com os esforços analíticos que empreendi. Nesta etapa final, creio ter agregado, finalmente, mais questões/questionamentos quanto ao objeto de estudo e quanto à condição de realização de uma pesquisa científica e creio, ainda, que se eu não consegui atingir plenamente os objetivos apontados pela banca examinadora, esta sinaliza que continua apostando ao autorizar o depósito final deste presente relatório na potencialidade desta pesquisa que seguirá, em outras circunstâncias, acadêmicas ou não, avançando a partir desses traçados iniciais, ora apresentados. Isso dito, a confiança depositada em mim, pela banca examinadora, não a torna responsável pelas minhas omissões e falhas contidas no relatório; antes de tudo, essa confiança encoraja-me seguir adiante, com mais afinco. 17

18 Preliminares O lócus do estudo e aspectos teórico-metodológicos O Pilar é um setor dentro do bairro do Recife. Em seu passado de invasões holandesas, recebeu o nome de Fora-de-portas. Sob as ruínas do Forte de São Jorge, ergueu-se a igreja de Nossa Senhora do Pilar, que acabou por dar nome à futura comunidade. O Pilar encontra-se incrustado no meio do bairro do Recife, abrigando cerca de 400 famílias que dividem o espaço com prédios históricos em ruínas, barracos de madeira e plástico, uma igreja e uma fábrica de massas e biscoitos, a Pilar. O que se pretende problematizar neste trabalho é como se dá a dinâmica desses moradores no espaço em que vivem; e como esse morar é amplamente modificado em função das condições em que se encontram, sendo que, essas famílias precisam dividir esse espaço com o turismo intenso e, ao mesmo tempo, defender seus interesses básicos. O cenário em que se insere a situação do Pilar nos remete a uma conjuntura de paisagens urbanas pós-modernas. Isso nos faz lembrar de Zukin, quando este dissertou a respeito das questões de cultura e poder, imbricadas nas paisagens urbanas. Segundo ele, esse gama de mudanças espaciais e socioculturais reduz-se ao termo paisagem urbana pós-moderna (ZUKIN, 2000). O autor deixa claro que ainda não há um critério que separe os dois modelos de cidade, porém reconhece que há uma mudança na maneira como a cidade é vista agora: há um maior consumo do espaço e do tempo, um consumo modificado, que visa cada vez mais uma aceleração, uma desconstrução das identidades mais tradicionais e uma reconstrução destas sobre novos alicerces, como já observou Hall (2009), em sua obra Identidade cultural na pós-modernidade. O que levaremos em conta, na discussão de Zukin, é a necessidade dessa desconstrução do que já estava estabelecido e os impactos do processo social de construção dessa nova paisagem, que depende da fragmentação econômica das antigas solidariedades urbanas e de uma reintegração que é fortemente matizada pelas novas formas de apropriação cultural (ZUKIN, 2000, p.81). É certo que, quando se refere a essa pós-modernização da cidade, Zukin trata de restauração e da renovação de locais antigos, fundidos agora na lógica do capitalismo industrial. É certo que esse cenário não precisa agregar prédios enormes, feitos de aço e 18

19 concreto. Esses lugares, assim como o Recife Antigo foi, podem ser alvo de modificações, visando à produção de espaços de consumo, por trás do que já estava estabelecido; e tudo deve ser reconstruído dentro de outra lógica, como se as identidades originais fossem agora esmiuçadas em favor de uma nova ordem. O processo de gentrificação se baseia nessa ideia de revitalizar espaços, modificando os perfis e determinados padrões desses lugares. Há, por conseguinte, uma troca dos grupos sociais que frequentam o lugar, um refinamento proposital do espaço. Os impactos da gentrificação, no entanto, não se definem: por um lado, o processo agiria com vistas a reerguer e revitalizar o espaço e, por outro, agiria de modo excludente, tornado o espaço frequentável apenas para os gentry, as classes mais abastadas (ZUKIN, 2000). Quando esse processo se iniciou no Recife Antigo, não foi diferente. Prédios históricos foram revitalizados, ganharam novas cores, foram ressignificados. Deixaram de abrigar apenas escombros para dar lugar a bares, casas de festas, museus. Alguns galpões do Cais, mais próximos ao Marco Zero do Recife foram reformados, funcionam ali agora franquias de restaurantes caríssimos e um museu com peças de artistas locais. Tudo organizado para oferecer mais conforto a quem chega. Uma placa de vidro deixa a vista do mar mais ampla. Esse vidro agora não mais é impessoal, ele permite que haja uma conexão dos espaços. Tudo parece se conectar, num cenário de fragmentação dos significados. O espaço do Recife Antigo foi gentrificado para os de fora. Quem está habituado ao lugar, limita-se a apreciar uma mudança ou outra, pois o espetáculo para nós, os de dentro, apenas se repete. Harvey (2004) pontuou que há um aumento do interesse pela cultura da cidade, escrevendo em um contexto inglês no final da década de 1970, em um momento de crise da social democracia. O autor deixa claro que as cidades sempre tiveram culturas, que produziram seus conjuntos de símbolos e agregaram valor a eles. O que o autor indaga é a origem desse interesse relativamente novo pela cultura da cidade e acentua a importância da mudança de foco do estilo de vida tendo como base as relações de classe (HARVEY, 2004). Dessa maneira, somos levados a pensar o Pilar, dentro desse contexto de gentrificação. O espaço, agora revitalizado, está separado apenas por tapumes do Pilar. Como Zukin (2000, p.82) pontuou: o espaço incita e imita a ambiguidade. Dessa maneira, o mesmo espaço que é vendido a altos preços, por ser imbuído de significados, 19

20 predisposto à capitalização, incorpora de maneira grosseira o Pilar, à sua lógica. Em outras palavras, a dinâmica que se instaurou no Recife Antigo após a gentrificação do espaço, parece não ter incluído o setor e a sua lógica. A ideia de luta que pretendemos utilizar para visualizar a problemática proposta por nós, não está ligada a um sentido figurado de conflito político, a disputa por formas de cidadania e urbanidade; a luta que se trava nesse contexto, passa a ser bilateral: o que acontece agora é a luta da ordem contra a desordem. Parece óbvio que a ordem está do lado modificado e reconstruído para ser vendido e a desordem se instala em meio aos barracos. A competição, se é que assim podemos falar, é desleal. Com a aparente fragilização do poder do Estado, a responsabilidade passa a ser do mercado, o ator hegemônico é de fato, agora o mercado. Há uma supremacia de um modelo de cidade pensado como negócio. Dessa maneira, a desordem é ofuscada para que se venda a ordem. Isso nos remete às ideias de Lefebvre (2008), sobre a produção do espaço, levando-nos a ver a cidade como possuindo valor de troca. O morar no Pilar, está em constante conflito com essa mercantilização; é um manifesto, antes de mais nada, de resistência e de luta por direitos. É importante tratar nesse ponto, esse conflito entre o morador e a lógica excludente que se estabelece. Jessé de Souza aborda essa questão da desigualdade social, que produz subcidadãos, através de uma naturalização das desigualdades, que segundo ele, é (...) um fenômeno de massa em países periféricos de modernização recente como o Brasil, pode ser mais adequadamente percebida como consequência, não de uma suposta herança pré-moderna e personalista, mais precisamente do fato contrário, ou seja, como resultante de um efetivo processo de modernização de grandes proporções que se implanta paulatinamente no país a partir de inícios do século XIX (SOUZA, 2004, p.80). O morador do Pilar, atendo-nos mais propriamente ao nosso caso, os moradores do Pilar, são subcidadãos produtos da lógica que aos poucos foi se instaurando nos arredores do setor. Outro ponto interessante, é a naturalidade com que isso se instaura dentro do contexto, como veremos mais adiante. David Harvey (2009), ao dissertar a respeito do pós-modernismo nas cidades, serve de apoio teórico para o desenvolvimento da nossa análise, no sentido que vai pontuar as diferenças existentes nos conceitos de modernidade e pós-modernidade na cidade. Segundo o autor, a ideia de pós-modernismo pressupõe um cenário 20

21 fragmentado, não acompanhado de uma preocupação política. Não existe uma ruptura com a ideia modernista de que o planejamento e o desenvolvimento devem concentrarse em planos urbanos de larga escala, de alcance metropolitano (HARVEY, 2009, p.69), que o modernismo abarque. Em vez disso, visualiza-se a malha urbana fragmentada, onde não é mais possível controlar o urbano de outra maneira que não seja em pedaços. A tese de Harvey sustenta que o espaço deve ser construído com o propósito de ser dominado e moldável. Faz-se necessário, aqui, justificar nossa insistência quanto ao uso dos conceitos de moderno e pós-moderno. Primeiramente, o fazemos por conseguir visualizar essa transição do moderno ao pós-moderno, no espaço do Recife Antigo, baseando-nos principalmente nas ideias de Harvey (2009). Apesar das intensas discussões a respeito de vivermos ou não em uma pós-modernidade, sem nem saber se vivemos a modernidade em si, as mudanças são claras e perceptíveis nesse espaço. Optamos por designar o movimento dentro do Pilar de uma resistência em um patamar pós-moderno, pois, mesmo em função da falta de visibilidade tanto dos arredores, quanto do poder público, o Pilar continua a existir. Mesmo em um cenário em que os objetivos não estão direcionados ao social, esses moradores, continuam a ocupar o espaço e subvertendo a ordem. Enquanto os modernistas veem o espaço como algo a ser moldado para propósitos sociais, e portanto, sempre subserviente à construção de um projeto social, os pós-modernistas o veem como coisa independente e autônoma a ser moldada segundo objetivos e princípios estéticos, que não tem nenhuma relação com algum objetivo social abrangente, salvo, talvez a consecução da intemporalidade e da beleza desinteressada, como fins em si mesmas (HARVEY,2009, p.69). Sendo assim, percebemos as modificações ocorridas no espaço trabalhado como sendo parte de uma estrutura pós-moderna, em que o social não é o foco e não é levado em conta. Como pontuamos aqui, há uma preocupação estética em modificar os espaços, muito maior, do que a preocupação com os moradores de uma localidade vizinha, que são apenas camuflados. Essa tendência implica uma forte diferenciação do espaço e Harvey pontua que na linha pós-moderna se coloca mais disposição para atender diferentes necessidades e gostos, são levados a obedecer a uma cultura de gosto (HARVEY, 2009). 21

22 É importante salientar que o modernismo, além de priorizar planos urbanos de larga escala e preocupar-se com o social, é populista. Harvey (2009) mostra que há uma contradição nisso, pois os mesmos modernos que propõem uma democracia e uma liberdade, não estão dispostos a discutir isso em direção à lei. No entanto, como diz o autor, essa colisão é necessária. Render-se à categoria povo, implica estar disposto a participar desse embate e entender que essa categoria é na verdade uma multiplicidade. Os problemas das minorias e dos desprivilegiados ou dos diversos elementos contraculturais que tanto intrigam Jane Jacobs foram jogados para debaixo do tapete, até que se pudesse conceber algum sistema bem democrático e igualitário de planejamento baseado na comunidade que atenda as necessidades dos ricos e dos pobres (HARVEY,2009, p78). Entender a categoria povo, enquanto múltipla, pressupõe que necessidades diversas devem ser atendidas. Porém, há uma extrema dificuldade em livrar-se da lógica de um mercado direcionador de grande parte dos gostos e olhares de diferentes estratos sociais. O que acontece, como diz Harvey (2009), é que a classe média foi colocada pelo populismo em espaços fechados, tais como os shoppings e, segundo uma discussão mais atual, em enclaves fortificados. São propriedade privada, para uso coletivo, e enfatizam o valor do que é privado e restrito, ao mesmo tempo em que desvalorizam o que é aberto e público na cidade (CALDEIRA, 2000, p.258). Como pontuamos aqui, inicialmente, o objetivo maior do nosso trabalho, é perceber formas de estratégias e astúcias relacionadas ao morar, empreendidas pelos moradores do Pilar, no Recife. O desafio a que nos pretendemos se insere justamente na configuração do setor em si, visto que se situa em meio a um centro turístico, ocupando uma pequena parte do bairro do Recife Antigo, em meio a escombros. A área total, que o Pilar ocupa, tem no total três pequenos quarteirões e uma rua mais central a rua São Jorge. A nossa escolha, em estudar determinadas configurações do Pilar, se justifica por essa minúcia: o espaço é muito restrito, carente de iniciativas públicas, um permanente canteiro de obras e de escavações arqueológicas. O que chamou mais a nossa atenção, é que mesmo em face de todos os empecilhos encontrados para que a população que reside no local possa sobreviver. Ela encontra, o tempo todo, maneiras de sobreviver que se reproduzem e criam, assim, noções de resistência e de ressignificação dos espaços. 22

23 É importante ressaltar que entendemos o Pilar num contexto estrutural que sofreu intervenções em prol de um projeto de produções de espaço, o que fez com que o lugar não ficasse isento de transformações, de maneira que não seria possível remetermos a mudanças que ocorrem pela presença do modo de produção capitalista, sem atentar para maneira como o espaço é modificado, apropriado e ressignificado (FERREIRA, 2011, p.45). O Pilar parece um recorte colado dentro do bairro do Recife Antigo, que parece excluí-lo de sua lógica turística e tirá-lo da vista dos transeuntes. Intrigante é perceber que mesmo que pareça deslocado dentro do polo turístico, as fronteiras, para nós, parecem ser quebradiças e frágeis: menos de 300 metros separam os dois espaços, de modo que assim conseguimos adentrar sem grandes problemas no lugar. Apenas alguns passos separam quem vem do Recife Antigo da localidade. Como indicamos, acima, temos como objetivo, observar como se dá a dinâmica do morar, entre os moradores, dentro do contexto do Pilar, no Recife. Para isso, priorizaremos o indivíduo, na nossa análise, buscando através das suas narrativas, construir o cotidiano local, e identificar suas noções de morar, suas interpretações do coletivo e alinhar suas histórias de vida com a da comunidade, para assim verificar a existência de pautas de luta e de resistência, dentro desse setor, tendo em vista a carência de ofertas de serviços públicos, como citamos anteriormente. Para tal, faremos uso da sociologia à escala individual, de Bernard Lahire (2002), além de utilizarmos a entrevista narrativa, como método de coleta de dados. Esse autor problematizou acerca de como e onde apreendemos o social, questão essa que, segundo ele, trouxe uma diversidade grande de respostas, em várias das tradições sociológicas. Um desafio, ainda maior, segundo o autor, é o de apreender esse social individualizado, pois há dois riscos permanentes, o de se estudar o novo reciclando o antigo, e o de se pensar ter atingindo os fins científicos (LAHIRE, 2005). Empreitar o desafio de abandonar o viés de uma análise macrossociológica, em que se analisam as instituições, os grupos, priorizando o todo, para empreender o estudo das partes que formam o coletivo, não é um desafio fácil; porém, Lahire pontua que essa transição não foi algo que produziu traumas e interrogações significativas entre os pesquisadores, foi sem se dar conta, e sem medir as consequências, que a sociologia se interessou tanto pelos indivíduos socializados. (LAHIRE, 2005, p.12). O que nos chama mais atenção e que de certa forma justifica o uso da sociologia à escala 23

24 individual, neste trabalho, é observar cada morador do Pilar como sendo um mundo individualizado, pequenas máquinas produtoras de práticas, matrizes plurais de realidade, esquemas de pensamento individualizados. Fazendo uso de um roteiro 3, que será usado para guiar a incursão em campo, na entrevista narrativa, faz-se o uso de uma questão gerativa, que dá o impulso primeiro para que a história comece a ser contada, tomando-se os devidos cuidados, para que cada questão que indique a existência de outras, seja retomada, e esgotada. Este, segundo Flick, seria o segundo estágio do processo de aplicação desse método, sendo seguida do que ele chama de fase de equilíbrio, onde o entrevistador, após entender que todos os pontos da narrativa foram contemplados, pode fazer perguntas. Um dos pontos mais interessantes desse método de pesquisa, e que foi um dos pressupostos para a sua utilização nesse trabalho, é o fato do pesquisado conhecer melhor de si mesmo e da situação do que qualquer outro, mesmo que outra narrativa seja realizada no mesmo lugar. Como já foi dito anteriormente, pretendemos aqui verificar a noção do morar para os moradores do Pilar, suas técnicas de sobrevivência e como se dá esse processo de luta dentro de um contexto problemático. Há uma severa disputa pelo espaço entre quem mora no local e quem o visualiza como fonte empreendedora. Sendo assim, exploramos pontos sobre a chegada do morador no lugar, as redes de sociabilidade construídas e principalmente, sua relação com o Pilar. Buscando abordar também, que significado isso tem para suas vidas. Um roteiro simples para guiar a narrativa, apenas como artifício de condução da mesma, encontra-se ao final deste relatório. É importante destacar que buscamos realizar as narrativas com pessoas que consideramos lideranças locais, moradores mais antigos, donos de estabelecimentos comerciais dentro do local, pessoas que trabalhassem fora do contexto e que, de certa forma, podiam reconhecer as diferenças instauradas pelo processo de gentrificação. Não fizemos, portanto, uma delimitação no número de pessoas com quem esse instrumento deveria ser aplicado, pois essa seleção ocorreu durante as estratégias criadas em campo, quando se determinava quantas e que pessoas deveriam ser escutadas. Por fim, após a realização dessas entrevistas narrativas, partimos para a análise dos dados, tendo em vista as 3 O roteiro está em anexo. 24

25 hipóteses aqui colocadas, a explanação dos pontos explorados pelo roteiro elaborado previamente e os que surgiram ao longo das narrativas. Durante o processo de coleta dessas narrativas, foram escutadas quatro pessoas, com as quais, utilizei o roteiro mais diretamente. Duas dessas pessoas integravam movimentos sociais que realizavam atividades dentro do Pilar. Outras duas moravam na comunidade e durante as incursões feitas, aceitaram conversar a respeito da sua realidade a partir do roteiro. É importante ressaltar que por mais que o universo de pesquisa pareça se delimitar entre esses quatro atores, durante as minhas incursões em campo, outras vozes e realidades puderam compor o corpus do trabalho de campo. Essas pessoas serão devidamente apresentadas nos capítulos que se seguem. 25

26 CAPÍTULO 1 - Recife: A maior metrópole em linha reta da América Latina? Este capítulo tem a intenção de introduzir sumariamente o Recife enquanto espaço geográfico e social (e por que não espaço afetivo?). O tema desse capítulo, traduz um pouco a recifense da mania de grandeza, que venera sua cidade, que vive Recife intensamente. Serão explorados os aspectos que caracterizam essa cidade enquanto uma metrópole regional, incompleta e periférica. Essa explanação será dividida em três partes: na primeira, faremos uma apresentação geral do Recife enquanto cidade; em outra, faremos um recorte do bairro do Recife, em especial, o setor do Pilar; e, por último, enfatizaremos a ligação que o Recife Antigo tem com a cidade no geral e com as pessoas. A noção de Recife que será aqui introduzida não é uma noção rígida, mas uma noção permeada de sentimentos e de memória próprios. De certa forma, queremos apresentar, antes de tudo, a maneira como vemos e sentimos essa província, de modo que esta dissertação se coloque, aqui, como uma apresentação de um Recife que ninguém vê, sobretudo, para quem é de fora. É importante salientar que a construção desse trabalho visa à exploração da cidade do Recife, a partir da visão de quem pertence ao lugar. No presente capítulo, tentarei fazer uma explanação mais histórica da cidade, para situar o leitor acerca daquilo que se está falando. O diferencial significativo, deste trabalho, será o de permitir a qualquer pessoa enxergar o Recife através dos pontos de vista dos problemas existentes e, consequentemente, fazê-la perceber o que está por trás de todo esse saudosismo. A crítica vai ao encontro de temas em debates, na atualidade, como: o direito à cidade, as desigualdades existentes nas entranhas do que denominaremos aqui de Bairro do Recife. Muito mais, detalhadamente, como dissemos mais acima, no que diz respeito à comunidade do Pilar. A comunidade do Pilar está incrustrada no meio do Bairro do Recife. Pouco mais de 400 famílias dividem o espaço que faz fronteira com o Recife Antigo e grande parte do polo turístico da cidade. Essas pessoas têm que lidar diariamente com uma série de problemas básicos como saneamento e moradia, por exemplo. A pertinência desta análise reside exatamente no fato de tentar compreender as dinâmicas e práticas desenvolvidas no local para que a comunidade, vizinha a empreendimentos de luxo, e 26

27 que se encontra por trás da prefeitura do Recife, continue a se estabelecer no local. Será tratada, aqui também, a invisibilidade da mesma, por parte da população que ocupa seletivamente alguns espaços e negligencia outros. A cidade 4 surge primeiramente como uma vila de pescadores à sombra das ladeiras de Olinda, cidade esta, que servia de capital para a capitania de Pernambuco. Em todo caso, a vila à beira-mar servia de entreposto comercial por conter arrecifes que formavam um porto quase que natural para as embarcações, sendo alçado à condição de posto imediato para escoar a produção açucareira e receber produtos. Mais tarde após a expulsão dos holandeses, Recife tomou ares citadinos contrastantes com a posição subalterna anterior a ocupação neerlandesa. Nesse meio tempo, uma guerra entre os moradores de Recife acontece. A cidade, nesse momento, notadamente povoada por comerciantes burgueses, entra em conflito com a elite oligárquica açucareira que residia em Olinda. Foi a partir dessa revolta que os mascates 5 recifenses acabaram por ganhar direitos políticos perante a coroa portuguesa. Recife estava agora equiparada à Olinda, o que constituía um marco para a economia de Pernambuco, pois se tratava da vitória do capital mercantil sobre a economia açucareira em crise. Neste ponto, vemos que desde as primeiras fases da vida do Recife, as desigualdades aportam junto com o ar de grandeza que a burguesia lusitana impôs. O nascimento do Recife marca o predomínio burguês sobre o antigo regime: novas formas de empreender e de organizar as mesmas disparidades que, assim como toda cidade colonial brasileira, nasce com a instalação do seu pelourinho. Já passando pelo século XIX, Recife manteve sua influência regional e contando já com um porto principal, caracterizando-se de uma centralidade para o escoamento da produção da região Nordeste. O porto proporcionou a integração a várias cidades do Nordeste e, consequentemente, trazendo avanços para o cenário local. Na década de 1970, mais precisamente em 1973, o Recife é institucionalizado como região metropolitana. Neste caso, é importante salientar a instalação da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE) no Recife que, durante o regime militar, combinava e financiava iniciativas econômicas para desenvolver 4 Disponível em: Acesso em 22 mar de Mascates eram os comerciantes recifenses de origem portuguesa que participaram do conflito e deram nome ao mesmo. 27

28 industrialmente a região; vemos, mais uma vez, a centralização do Recife na região Nordeste, como principal condutor de políticas públicas, nesse período de tempo. Aqui, utilizamos, mais exatamente, a noção de Milton Santos (1982) de metrópole incompleta, para classificar o Recife que, apesar de ter tido uma forte expansão, não acompanhou a dinâmica da oferta de serviços que uma metrópole regional abarcaria, mas que se valeu da sua hierarquia construída desde os primeiros anos de exploração colonial: As metrópoles incompletas resultam de uma transformação quantitativa e qualitativa das grandes cidades já existentes sob o impacto das modernizações, que são direta ou indiretamente responsáveis pelas transformações da demografia, do consumo e da produção, na cidade e na região. Em que pese à sua incapacidade de proceder à macro-organização do território, as metrópoles incompletas não dispõem da totalidade dos meios necessários a essa dominação, sendo então obrigadas a completar-se alhures. (SANTOS, 1982, apud BITOUN, 2015, p. 21) Temos, nesse caso, uma metrópole desigual que depende de outras regiões para concretizar a dominação regional e, também, um território onde a opulência se contrapõe com o arcaico, ao mesmo tempo em que a esse se alia. Vemos um tipo diferente de incompletude, em especial aquela que é originada por políticas de perpetuação das desigualdades. No Recife, a desigualdade na organização territorial é nítida: domicílios autoconstruídos ao lado de luxuosos empreendimentos, em simbiose com a imensa desigualdade social, à brasileira. No caso específico da relação Pilar versus Recife Antigo, a questão da gentrificação se torna mais forte e central por se tratar de uma Recife enquanto cidade contemporânea e estar relacionada ao deslocamento das camadas mais pobres. Após um forte crescimento, na década de 1980, aliado a investimentos no setor açucareiro, o final do regime militar trouxe à tona a incapacidade de promover uma diversificação na economia da região, que apostava na modernização das mesmas usinas de açúcar que herdaram o poderio dos engenhos. Em todo caso, Recife continuou com sua hierarquia sobre outras cidades, mesmo diante da crise econômica e administrativa que se iniciou no fim da ditadura militar, o que acertou em cheio a capital pernambucana: 28

29 Nos anos de 1990, foi latente a precarização das condições socioeconômicas em todo o país, em função da abrupta abertura comercial e financeira da economia brasileira. No caso das regiões metropolitanas, entre as quais a do Recife, sempre houve duvidoso destaque; pode-se fazer menção ao aumento do desemprego, do subemprego e da informalidade, decorrências imediatas da opção de política macroeconômica do governo de ocasião. A falta de correspondência entre a dinâmica demográfica e a colocação no mercado de trabalho foi determinante: a demanda deste último, rarefeita em função do recrudescimento da concorrência intercapitalista e, principalmente, da reestruturação produtiva pela qual passaram as principais unidades produtivas em todo o país, não comportava a crescente oferta de mão de obra presente nas principais cidades (ROSA, 2015, p.111). Recife que absolvia um contingente enorme de mão de obra, vinda de cidades dentro do centro, tanto do interior de Pernambuco como de outros estados próximos, não conseguia mais absolver o adensamento populacional, o que concorreu, em parte, nessa época, para a ocupação periférica da cidade e, também, na integração da região metropolitana, concretizando um movimento que transformou algumas das cidades próximas em cidades dormitórios e contribuiu para o movimento pendular. Recife agora necessitava de integrar seus meios de transportes. Apesar desse crescimento, no entorno da Região Metropolitana do Recife (RMR), a cidade não conseguiu atender a demanda de investimentos em infraestrutura que necessitava. Sendo assim, algumas ocupações começaram a ocorrer mais ao centro da cidade, debaixo das pontes, na beira dos rios e mangues e em sobrados abandonados. Apesar de não ser uma estratégia nova, caracterizou-se por justificar a proximidade de grandes centros de empreendimentos imobiliários de alto padrão, que necessitavam de mão de obra barata para serviços variados. Em função das marcantes desigualdades que se desenvolviam com passar dos anos, as moradias tidas como irregulares foram marcando a cidade: empreendimentos luxuosos faziam fronteiras com favelas. A situação dos domicílios, entre os anos de 1991 até 2010, que pode ser vista na tabela abaixo, demonstra o salto na quantidade de domicílios não contemplados pelos serviços de esgotamento sanitário e abastecimento de água, itens básicos na manutenção da infraestrutura de qualquer cidade. 29

30 Tabela 1 Fonte: Atlas do Brasil (2010) editado pelo autor. O fato é que, durante a reabertura política e econômica que ocorreu nos anos 1990, houve uma retração dos grandes investimentos, que só viriam na década seguinte; assim, a década de 1990 foi marcada pela forte precarização do trabalho e da condição das habitações, como um todo no Brasil. Recife segue esse fluxo peculiarmente, fazendo brotar uma série de domicílios subnormais ao estilo recifense, as palafitas 6. Outro fator, que explica a migração populacional para o centro de Recife, foi o declínio da indústria açucareira, o que fez com que um grande contigente populacional migrasse das cidades do interior para a Região metropolitana. Essas famílias foram buscar nos bairros mais populares, moradia e oportunidades e foram se instalando. A grande massa populacional aumentou, consequentemente, o número de domicílios; e a fraca política de habitação não conseguia dar conta da oferta de políticas públicas habitacionais suficientes. Tanto é que, sem um olhar detalhado do Recife, os números passam despercebidos, pois nas mesmas regiões convivem extremos sociais que em números 6 Palafita é um tipo de construção muito comum em Recife construída com madeira que se erguem em regiões alagadiças, geralmente na beira de rios ou mangues 30

31 oficiais são suavizados, portanto, em uma média geral Recife não destoa sua extrema desigualdade, isso porque, os assentamentos mais precários geralmente servem de apoio para as residências mais bem equipadas da cidade; sendo assim, existe tanto periferias no centro quanto no extremos da cidade; sendo o Recife uma peneira com picos e decréscimos extremos de níveis sociais, a poucos metros um dos outros. De fato, os anos 2000 trouxeram uma piora para alguns números no Recife, principalmente, quando se trata de pobreza absoluta; em resumo, o número de pessoas abaixo da linha da pobreza tinha números alarmantes. Tabela 2 : Atlas do Brasil (2010) editado pelo autor. Fonte Como vemos na tabela acima, a porcentagem de pessoas na extrema pobreza, durante a década de 1990, atingiu uma porcentagem um pouco menor que a média nacional. Mas, mesmo assim, tem a quarta maior porcentagem entre as capitais da região Nordeste. Nos anos 2000, diminui e decresce para a quinta posição na região e, finalmente, em 2010, apesar da redução permanece em segundo. A renda per capita média de Recife cresceu 92,44% nas últimas duas décadas, passando de R$ 594,62, em 1991, para R$ 778,39, em 2000, e para R$ 1.144,26, em Isso equivale a uma taxa média anual de crescimento nesse período de 3,51%. A taxa média anual de crescimento foi de 3,04%, entre 1991 e 2000, e 3,93%, entre 2000 e A proporção de pessoas pobres, ou seja, com renda domiciliar per capita inferior a R$ 140,00 (a preços de agosto de 2010), passou de 35,70%, em 1991, para 25,67%, em 2000, e para 13,20%, em 2010 (Atlas do brasil 2010) 31

32 Apesar de o Recife ter a maior renda per capita da região, as desigualdades que influenciam na composição da cidade, leva-o também a ter o maior índice de Gini 7 da região Nordeste; o que significa que é comprovadamente a capital mais desigual do NE. Ao passo que houve uma reviravolta em termos de renda média, o crescimento não significou, nesse caso, o aumento da distribuição de renda. O que houve foi que quem ganhava mais continuou ganhando ainda mais, ao mesmo tempo em que quem ganhava menos percentualmente teve um menor acréscimo. Mais uma vez, o crescimento econômico beneficiou mais quem já tinha algum capital, em detrimento da parcela que não teve alterada suas configurações de renda. É importante destacar que optamos por desenhar esse patamar do Recife, com o intuito de situar o leitor a respeito da cidade que estamos falando. Todos esses índices apresentados são ferramentas necessárias para que possamos entender a cidade, numa configuração atual. Como foi dito, mais acima, a cidade Maurícia apresenta um dos maiores índices de desigualdade do Nordeste. Coexistem, em um mesmo espaço, shoppings centers e palafitas, bem como, grandes centros empresariais que fazem fronteira com favelas. Amontoados de casas disputam espaço no alto das barreiras; o risco e a necessidade correm lado a lado em uma metrópole famosa e turisticamente conhecida. As barreiras são as mais porosas possíveis; mas, ao mesmo tempo em que parecem fronteiras abertas, são na verdade mecanismos de exclusão e segregação. Muito embora essa característica deva se apresentar em várias outras cidades do Nordeste, é importante ressaltar que em Recife isso é, minimamente, mais comum. Antes de adentrar mais propriamente no exemplo, no qual todo esse trabalho está baseado, é importante que possamos visualizar outras situações em que isso ocorre. Um grande exemplo que podemos tomar é o do Shopping Tacaruna. Ao lado do empreendimento, encontra-se a favela de Santo Amaro, no centro do Recife. A solução do shopping para, de certa maneira, higienizar a vista de quem frequentasse o local, foi a colocação de um muro ao redor de toda a comunidade. As lideranças comunitárias intervieram, argumentando que o vento deixaria de circular nas casas com a presença do muro. A solução dos empresários foi a de fornecer ventiladores para os moradores. 7 É um instrumento usado para medir o grau de concentração de renda. Ele aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos. Numericamente, varia de 0 a 1, sendo que 0 representa a situação de total igualdade, ou seja, todos têm a mesma renda, e o valor 1 significa completa desigualdade de renda, ou seja, se uma só pessoa detém toda a renda do lugar. (Atlas do Brasil, 2010). 32

33 Estava resolvido o problema. Esses e outros exemplos servem para que possamos situar nosso objeto de estudo, mais apropriadamente. Como foi dito, mais acima, pretendemos observar o conjunto de dinâmicas e práticas, dentro de um setor no bairro do Recife, o Pilar. É necessário dizer que tomamos como base o Pilar, justamente por se encontrar dentro de um contexto mercadológico no que diz respeito à cidade. O Pilar, situado vizinho ao Recife Antigo, grande centro empreendedor no ramo turístico, que concentra grande parte da história da cidade, parece invisível. A invisibilidade, como veremos adiante, é seletiva: apesar do Pilar, em termos de tamanho e densidade demográfica, ser uma localidade pequena, há dentro do espaço da comunidade uma igreja histórica, bem como dois prédios residenciais; há famílias que tiram seu sustento do comércio informal no Recife Antigo. Tudo isso paralelamente ao glamour que toda cidade empreendedora turisticamente possui. A pertinência deste estudo está justamente em perceber esse conjunto de dinâmicas e práticas dentro de um contexto de desigualdade social e de não direito à cidade por parte dos moradores do lugar. Diante da situação que temos, é importante ressaltar a condição de quem mora no Pilar, isto é, de que pessoas estamos falando? É extensa a tipologia das formas de vida não cidadãs, desde a retirada, direta ou indireta, dos direitos civis à maioria da população (...) ao abandono de cada um à sua própria sorte (SANTOS, 2014, p.31). Entendemos aqui o morador do Pilar como sendo o cidadão mutilado, assim denominado por Milton Santos. Essa mutilação vem, em todos os sentidos, desestabilizar a trajetória de quem é levado a viver à margem. Essa massa mantenedora das margens, no entanto, não é um agrupado homogêneo. Há um gama de identidades, de particularidades e de diferentes formas de conceber seus conceitos de cidadãos. Tudo é muito mais complexo em um espaço dinâmico, em especial ao que se encontra em situações que demanda mais atenção, ou seja, em que a mutilação limita os seus movimentos. Esse é exatamente o patamar em que o Pilar se encontra: disposto a um conjunto de regras e olhares que desejam mantê-lo em seu lugar de mutilado. 33

34 1.1 Urubu, Gabiru, Cachorro e Gente: Da favela do rato à comunidade Nossa Senhora do Pilar O Pilar é um setor dentro do bairro do Recife. Em seu passado de invasões holandesas, recebeu o nome de Fora-de-Portas. Sob as ruínas do Forte de São Jorge, ergueu-se a Igreja de Nossa Senhora do Pilar, que acabou por dar nome à futura comunidade. O Pilar encontra-se incrustado no meio do bairro do Recife, abrigando cerca de 400 famílias que dividem o espaço com prédios históricos em ruínas, barracos de madeira e plástico, uma igreja e uma fábrica de massas e biscoitos. O que se pretende problematizar, no presente trabalho, é como se dá a dinâmica desses moradores no espaço em que vivem e como esse morar é amplamente modificado em função das condições em que se encontram; sendo que essas famílias precisam dividir esse espaço com o turismo intenso e, ao mesmo tempo, defender seus interesses básicos. Após a saída dos holandeses, o Forte ficou em desuso e o terreno foi concedido ao capitão-mor João do Rego Barros, em Em 1680, foi inaugurada, tornando-se uma das mais veneradas igrejas, daquele tempo. Em 1899, passou por uma grande reforma, conduzida pelos próprios moradores da região, um aglomerado denominado Fora-de-Portas. Esse nome é devido ao território em questão estar fora das portas das duas cidades irmãs, Recife e Olinda; e também, por haver uma ponte com portas que se fechavam à noite, trancando os moradores próximos do porto, deixando-os fora do centro da cidade. Basicamente, era formado por judeus comerciantes que vieram com flamencos e que eram relegados pelos luso-católicos e trabalhadores do porto: estivadores, carregadores e despachantes. O fato é que esse povoado, que data desde a invasão holandesa, abrigava todos os tipos sociais, mal falados da época: desde os boêmios malandros das zonas portuárias que aplicavam pequenos golpes, às prostitutas amantes de marinheiros e aos hereges enganadores e mercadores judeus. Esses se fixaram, após idas e vindas, até a década de 1970, quando uma suposta reforma do porto tomaria o lugar. A reforma da PORTOBRÁS nunca aconteceu e novamente os remanescentes dessa gente deflagraram um processo de favelização que resiste até hoje. No final da década de 1980, o Pilar ganha a alcunha de Favela do Rato, por 34

35 costumeiramente dividir o local com ratos vindos do Porto do Recife e dos resíduos da Fábrica Pilar de massas e biscoitos. Nos anos 1990, segundo dados do IBGE, a população da cidade tinha R$ 805,86 como renda per capita, enquanto os moradores do Pilar ficavam com a média de R$301,42 (metade da média de bairros populares). Além de extremamente pobre, o Pilar era mal assistido quando se falava em saneamento e coleta de lixo, tinha a pior situação sanitária do Recife: 68,18% dos moradores não tinham nenhuma instalação sanitária e 70,59% não tinham qualquer tipo de coleta de lixo, bem como, quase 70% não tinha acesso à água encanada. Por volta de 1986, a partir da criação do Escritório Técnico de Revitalização do bairro do Recife (LEITE, 2007) começava-se a descentralização do setor administrativo do bairro, que vinha seguido de um plano de reabilitação do lugar: O Plano de Reabilitação do Bairro do Recife, elaborado por uma equipe de urbanistas e arquitetos [...] continha duas características básicas: reconhecia a deterioração do lugar, as péssimas condições sociais em que estavam submetidos os moradores, e defendia que a reabilitação fosse um instrumento de ação política para recuperação das suas funções habitacionais. (LEITE,2005, p. 162.) Nesse caso, o projeto também visava que outros modelos de moradia fora do Pilar fossem apoiados, trazendo outros tipos de moradores para agregar ao bairro, modelo esse que fosse um espaço de lazer e residencial, voltado para a classe média, que trouxesse o consumo sem que ele perdesse a identidade visual e arquitetônica dessa parte da cidade. Já nos anos 2000, após mais uma fase de revitalização do Recife Antigo, a mudança de nome foi encarada como uma guinada de um novo começo. Junto com a promessa do plano de revitalização da área, agora batizada de Pilar, assim como a igreja que resiste no local. A restauração começou em 2009, e terminou quatro anos depois; no ano seguinte em que começaria a construção dos habitacionais, obra que vem se arrastando até o momento, sendo que foram parcialmente entregues alguns prédios, entretanto a obra se encontra nos dias de hoje totalmente parada 8. Dois habitacionais foram construídos para realocar os moradores dos barracos. O plano de habitação da Prefeitura do Recife para o Pilar, previa a construção de vários 8 Disponível em: Acesso em 23 março

36 prédios que abrigassem todas as 400 famílias. No entanto, com as obras paralisadas, apenas dois estão ocupados; o restante do pessoal, ainda vive em barracos. Interessante notar é que não há barracos do lado da rua em que se encontram os habitacionais. O Pilar parece estar dividido entre quem possui moradia fixa e quem ainda usa o muro da fábrica como parede na construção dos casebres de madeira.. Numa primeira intervenção de campo, pudemos observar que não existe uma liderança mais estabelecida e formalizada na comunidade. Alguns moradores indicam uma possível síndica dos prédios e dois vigilantes de uma obra próxima, que residem nos barracos. Do lado novo, assim como optamos por designar o lado onde se encontram os habitacionais, há um casarão de estilo neocolonial em ruínas. Do lado oposto, a recém reformada igreja de Nossa Senhora do Pilar tem suas portas para o muro da fábrica. A igreja é o grande destaque dentro da favela, as suas torres contrastam com os barracos. Atualmente, mesmo depois da reforma, permanece fechada. Percebemos que com a retirada gradual dos barracos, há a introdução de um elemento novo de distinção na localidade: o valor agregado das moradias de um lado é diferente do outro. Com apenas uma pequena parte dos conjuntos entregues, há um sentimento de desconfiança no plano de revitalização para o Pilar, que entregou poucos apartamentos (cerca de 40) e deixou outros tantos com obras paradas e sem perspectivas. Ao observar as táticas que os moradores lançam mão, para adaptar e ressignificar seu morar, pudemos verificar que há uma divisão entre os moradores que possuem apartamentos nos habitacionais e quem ainda reside nos barracos. O Pilar, até há poucos anos atrás, era quase invisível, se alimentando do circuito turístico do seu vizinho Marco Zero para sobreviver. Mais uma vez, por trás da fábrica onde dividiam o espaço com os ratos, hoje dividem o espaço em meio aos turistas da Praça do Arsenal e arredores do polo turístico. Durante as primeiras incursões em campo, pudemos perceber as diferentes nuances pelas quais nosso objeto de estudo estava sendo colocado: de um lado, o gosto refinado da intelectualidade recifense que tenta unir o tradicional e o moderno, em um só lugar; de outro, a quase autogestão que uma ocupação relegada traz, há quase 60 anos de invisibilidade. O Recife Antigo é o lugar que hoje abriga as principais atividades de lazer e atividades culturais da cidade, sendo também um dos principais pontos turísticos do Recife; a concentração de bares e de casas noturnas atrai, para ali, um grande público. 36

37 Localizada na parte de trás de alguns dos armazéns do Porto, uma das entradas do Pilar, parece abrir as portas do lugar no meio do nada; de repente, a rua deixa de ser asfaltada e os barracos começam a aparecer; o Pilar parece um recorte colado dentro do bairro do Recife Antigo, que parece excluí-lo de sua lógica turística e tirá-lo da vista dos transeuntes. Intrigante é perceber que mesmo que pareça deslocado dentro do polo turístico, as fronteiras parecem ser quebradiças e frágeis: menos de 300 metros separam os dois espaços e, assim, se consegue adentrar sem grandes problemas, apenas atravessando a rua e já se está dentro do Pilar, tal como se visualiza na figura abaixo pela cor laranja. Figura 1: Fonte: Google Maps Uma das entradas do Pilar é rodeada de carros por todos os lados; aliás, os escritórios que rodeiam a favela no bairro do Recife Antigo tornaram-se uma oportunidade para os moradores desempregados (cuidarem dos carros e assim levantarem algum dinheiro). No espaço de tempo de três anos, o Pilar teve seus quarteirões alargados com a retirada de alguns barracos de modo a permitir que carros transitem. O que se observa, no entanto, é que esse fluxo não existe; por ali, passam apenas pessoas. O sol agora ilumina a rua que antes era sombreada pelas telhas dos 37

38 barracos. Agora, o esgoto corre mais livre e se empoça na rua. O som das falas, os gritos e risadas rompem o silêncio tedioso de um dia de semana no Recife Antigo; algo entre as dez e onze horas da manhã, em um dia de extremo calor, muitas pessoas conversam na frente de casa; um grupo de jovens se reúne na frente de três barracos em linha reta, tão iguais que poderíamos dizer que foram planejados; escutam som alto, parecem não se incomodar com a minha chegada; talvez me vejam como um deles, embora existam enormes diferenças, somos tão parecidos, idades e rostos; talvez se confundam, mas com certeza sabem que não sou dali. O Pilar se abre e fecha metaforicamente ao primeiro passo em direção à fábrica. 1.2 Eu vi o mundo... ele começava no Recife A frase acima que intitula esta pequena parte do trabalho, intitula, também, um grande painel de 15 metros do pintor pernambucano Cícero Dias, que em 1999 projetou uma mudança na praça e confeccionou com cerâmica, a famosa e colorida rosa dos ventos, no centro do Marco Zero do Recife. Inspirado exatamente nessa gigantesca tela sobre o Recife, bem no Marco Zero onde está escrito: Partem as distâncias para todas as terras de Pernambuco. Nesta parte da escrita, ateremos a falar sobre o Recife Antigo como espaço de afetividade e de memória; nesse caso, o ponto de partida terá como fundamento as memórias próprias, que construímos, em um olhar que se divide entre o cidadão e o pesquisador. O plano de revitalização do Recife é concebido, após idas e vindas de consultas técnicas, em 1992, durante a gestão de Jarbas Vasconcelos na Prefeitura da cidade. As obras começam, em 1993, ainda em caráter de requalificação dos casarões da Rua do Bom Jesus. No mesmo ano, no outro lado da ilha, a agitação cultural toma conta do Cais da Alfandega com o projeto Rec-beat, que colocava em cena as novas bandas que se projetavam no mangue beat, movimento musical que tomava a cidade e expunha todas as mazelas, bem ao modo recifense; aqui tentamos traçar uma linha que insinua que este trabalho, bem como toda uma geração, é fruto de uma época, um sentimento que estrutura nossas ações e, em certa medida, guia uma percepção sobre a nossa própria 38

39 cidade. Nessa época, temos em confluência uma série de pensamentos, sons, estilos e formas de fazer que marcaram o tempo e que reverberam, até aos dias de hoje. Tudo começa com esse sentimento de pernambucanidade do passado de glória pernambucano onde éramos a principal capitania do Brasil e rivalizávamos com a capital Salvador. Aprendemos na escola que somos a principal cidade do Nordeste e que recebemos os holandeses que conceberiam mais tarde Manhattan. Segundo nos contam, éramos uma das principais cidades coloniais, este orgulho que é passado, assim como num mito da formação nacional, embala este sentimento de grandeza pernambucana e mais especifico de Recife. Na TV aberta costumava passar um programa chamado Pernambucanidade que trazia matérias sobre a cena cultural de Pernambuco. Achávamos engraçado o toque do maracatu na vinheta e as cores alusivas à bandeira de Pernambuco na sombrinha de frevo. O programa era apresentado por Marcilio Lisboa, um cantor e compositor que, desde 1991, tinha esse projeto chamado pernambucanidade. Isso tudo dizia muito do Recife que estava sendo construído na época, uma cidade que buscava fazer com que seus nativos e transeuntes se apaixonassem por ela. Recife tinha e, ainda, tem um pouco do lirismo e da boemia dos bares, do frequentador assíduo, grande conhecedor da cidade, do cidadão que sabe de cor os nomes das ruas e pontes que cortam o Capibaribe. A cena cultural da década de 1990 se projetava fortemente e se impunha como uma nova onda pernambucana, depois do forró/baião de Luiz Gonzaga dos anos 1950 e de Alceu Valença e Geraldo Azevedo, na década de Tínhamos uma miríade de bandas que tentavam fluir a sonoridade do rock pós-punk, e junto com a Nação Zumbi vinha à tona diversas matizes musicais nas músicas engajadas com protestos sociais. Um dos palcos mais saudados era justamente o Rec-beat que levava todas essas bandas para o Recife Antigo, às margens do rio Capibaribe. A cena alternativa do Recife se amontoava no antigo pátio do Cais da Alfandega do Porto do Recife para ver os mangueboys que saiam de todas as partes da grande cidade. A figura da próxima página retrata um pouco esse movimento que ganhou repercussão não só aqui em Pernambuco, mas em todo o Brasil. 39

40 Figura 2: Chico Science e Nação Zumbi no Recife O fato é que o uso do espaço era uma ideia não dita, mas praticada no (e) pelo movimento. Ocupar o centro morto e dar vida ao que parecia inanimado. Assim como na alusão ao cheiro putrefato do mangue que pulsaria a vida. O Recife Antigo é um espaço de uso intenso para atividades culturais alternativas, em contraposição à Orla da Boa Viagem, por exemplo, onde os usos evocam o consumo de alto padrão. Esse uso é, em certa medida, uma resposta aos sucessivos anos de abandonos da zona portuária e o esvaziamento da função de entretenimento. Vale ressaltar que a área era conhecida por possuir cabarés e abrigar prostíbulos, o que afastava em parte a população e seu uso como área de lazer. Diferente de antes, o Recife Antigo, hoje, é um espaço espetacularizado. O palco principal para a realização de shows na festa mais esperada do ano, que é o carnaval, fica situado lá. Há um quê de cidade espetáculo em cada canto do centro turístico. A minha crítica reside justamente nessa espetacularização e no lirismo, seletivos, por parte de quem ocupa o Bairro do Recife, em dias mais festivos: enquanto os shows acontecem, os verdadeiros urubus e mangueboys catam as latas e 40

41 recolhem o lixo que servirá como meio de sobrevivência para suas famílias, no setor vizinho, o Pilar. O Recife Antigo é como um ponto de inflexão na cidade; e o movimento Mangue Beat contribuiu para impulsionar essa crítica à cidade e na ocupação dos espaços. Vale ressaltar que este trabalho além de acadêmico é uma obra que fala diretamente para uma geração do pós Mangue Beat, se assim podemos denominar. Muitas vezes, quando essa estrutura de sentimento tiver sido absorvida, são as conexões, as correspondências, e até mesmo as semelhanças de época, que mais saltam à vista. O que era então uma estrutura vivida é agora uma estrutura registrada, que pode ser examinada, identificada e até generalizada. [...] O que isso significa na prática é a criação de novas convenções e de novas formas (WILLIAMS 1979, p. 18). Além desse processo anterior de uma determinada pernambucanidade, a geração, após década de 1990, é baseada em um sentimento de um misto de desesperança e crítica, que veio logo após o falecimento de Chico Science, além de um natural luto que tomou toda a cena artística. Nesse sentido, o Recife Antigo figura como um lugar de vínculo com esse passado, de modo que a utilização desse espaço se torna quase um ato cívico de marcar presença nos espaços da cidade, mesmo que sem o mesmo esmero de antes. Figura 4: Chico Science durante apresentação 41

42 O pós-mangue beat traz à cena o consumo do espaço e do entretenimento como estilo de vida, sendo o Marco Zero, hoje, o espaço privilegiado de entretenimento e consumo na cidade. Recentemente, a Prefeitura da cidade vem investindo no projeto Recife Antigo de Coração. Nessa articulação, a cada último domingo do mês, são ofertadas atividades gratuitas para a população: shows diurnos, atividades infantis e etc. É interessante notar e não pude deixar de perceber que até no nome, esse amor e essa devoção pelo centro da cidade são inculcados no cidadão recifense. Desde cedo, se aprende, por exemplo, que os museus do centro, como a Caixa Cultural, a Torre Malakoff, o Centro Cultural dos Correios e a Rua do Bom Jesus devem ser conhecidos por qualquer recifense nato, quando não, parada obrigatória para turistas. A crítica deste estudo versa, por vezes, com o objetivo a que ele se pretende. Como citamos anteriormente, buscamos ver o setor do Pilar como espaço de dinâmicas e práticas, dentro de um contexto cultural-turístico-mercadológico. Já situamos, aqui, o patamar atual em que se encontra o Pilar, fazendo uso de dados mais demográficos, para que ficasse claro de que lugar está se falando e de como ocorre esse conflito que, ao senso comum, é mais visual. Estamos tratando, portanto, de um espaço invisibilizado que pertence ao bairro do Recife, onde, ao mesmo tempo em que se cultua uma devoção pela cidade, esquecese a situação da comunidade vizinha. Para que melhor possamos enxergar a situação do Pilar hoje, buscamos nas linhas que se seguem, descrever os caminhos que nos levam até o Pilar. Partimos do ponto de vista de que a ocupação dos espaços pelo cidadão não pode ser seletiva e que deve contemplar todos os extratos, todos os dias. Não apenas aos domingos, nem nos carnavais. 42

43 Capítulo 2 Dos entraves e das descobertas: os desafios do trabalho de campo É importante reiterar que, embora tenhamos traçado uma linha histórica do bairro do Recife e tenhamos colocado a questão urbana em um viés mais teórico, nossa pretensão foi a de priorizar a voz dos sujeitos em suas relações cotidianas, no espaço analisado. Para isso, fizemos uso não só do método etnográfico, mas também da observação participante, que inclui idas ao campo, conversas com os moradores, e até mesmo, visitas informais aos arredores2do Pilar, com o intuito de observar como se dão essas dinâmicas, sua ligação com as fronteiras construídas e com a discussão da relação favela-bairro. Essa relação vê-se, aqui, de forma mais aparente, na medida em que o Pilar está espacialmente localizado ao lado do Recife Antigo e malgrado a proximidade física existente, na qual haveria uma fronteira real entre esses dois espaços. Ao longo deste capítulo, há uma reflexão sobre essas incursões no Pilar. O olhar debruçado não sobre, mas bem diante do lugar que será aqui pensado, como forma de situar no tempo e espaço o campo de análise. A etnografia, portanto, veio a compor para o entendimento dessa dinâmica urbana tão peculiar que é o Pilar. O propósito é explorar as possibilidades que esta última, como método de trabalho característico da antropologia, abre para a compreensão do fenômeno urbano, mais especificamente para a pesquisa da dinâmica cultural e das formas de sociabilidade nas grandes cidades contemporâneas. (MAGNANI, 2002, p.11). Assim, estarão em pauta da reflexão os desafios da prática etnográfica e algumas das discussões que cercam a temática. Para isso, traremos alguns autores que dissertam a respeito da mesma, colocando os percalços e ressaltando as características de um método originalmente antropológico, mas do qual me apropriei (dos seus princípios básicos) de modo a poder atingir o objetivo de maior aproximação possível com as pessoas e o lugar de interesse da pesquisa. Isso leva a tomar certo distanciamento em relação à ideia da prática do afastamento, como coloca Velho (1980), também serve como parte para explicar o porquê dessa exigência epistemológica nas ciências sociais para que se atinja uma maior 43

44 objetividade. Ao pesquisador é, por vezes, exigido que o seu olhar sobre o objeto seja desprovido de qualquer sentimento seu. Nesse trabalho, nos propusemos a realizar uma etnografia de um setor dentro do bairro do Recife, e aqui enfatizamos o pesquisador que, reside no Recife e está em constante contato diário. Realizar essa pesquisa no Pilar, coloca em debate essa posição de extrema proximidade por afinidade, porém, mais ainda, por esta familiaridade com o lugar. Procuramos então, discorrer também sobre quando se pesquisa o que está próximo e o que de certa maneira não nos é estranho. A utilização de um método de pesquisa como tal não nos isentou, ao longo do trabalho, de ter que lançar mão a dados documentais e quantitativos, tais como os dados da Prefeitura do Recife e do Censo, além de matérias jornalísticas. Essas, muito embora não tenham sido abundantes, serviram, no estudo, para a apreensão da visão que a sociedade local geralmente tem do Pilar e, também, do discurso midiático o qual repassa a visão social do espaço estigmatizado para os próprios moradores. O Pilar apareceu durante o ano de 2011 quando por meio de um grupo de pesquisa e extensão.fomos incumbidos de mapear pontos de cultura nas comunidades do centro do Recife. Quando foi posto na mesa o nome do Pilar, ninguém do grupo de 12 pessoas queria ir espontaneamente para o Pilar, temendo a fama do local. Sendo assim, ficamos com o Pilar e arredores, por ter mais contato com a periferia e por ter mais coragem de adentrar esses locais. Durante o ano, fizemos parceria com a Prefeitura, no Instituto de Assistência Social e Cidadania (IASC) oferecendo oficinas de arte e rodas de diálogos para as crianças residentes do Pilar, em um prédio próximo do Arsenal da Marinha, a uns 300 metros do Pilar. Acompanhávamos esporadicamente as assistentes sociais nas entrevistas que elas faziam. No segundo semestre de 2012, terminamos essa parceria com o IASC e voltei minhas atenções para a questão da habitação popular. Após um breve estágio na Prefeitura, fomos a muitas residências da cidade do Recife e o que sempre emergia, nos corredores, era o tema relativo ao plano de revitalização do Pilar e como ele era, ao menos no papel, inovador no sentido de integrar. Da convivência com os arquitetos da Secretaria de Habitação veio a inquietação se o Pilar seria mesmo diferente de tudo que se tinha, antes, visto. Os outros habitacionais não correspondiam ao esperado pelos planejadores; então, por que o Pilar, 44

45 considerado um caso diferente, não teria o mesmo destino? No trabalho de conclusão de curso na graduação, decidimos que o Pilar seria complicado demais para se estudar em pouco tempo, devido à complexidade e falta de tempo. Optamos por conhecer o conjunto Habitacional Via Mangue e como sua construção reforçava a política de higienização da cidade; também, optamos em analisar como a construção da Via Mangue, as desapropriações no Pina e o Cais José Estelita estavam interligadas e funcionavam como um diagnóstico da construção da paisagem e da dinâmica do capital turístico da cidade do Recife. É assim que o Pilar foi postergado e retorna na dissertação, agora. No início desta empreitada no Mestrado, tivemos o esforço de fazer uma pesquisa densa, de modo a extrair a vida cotidiana dos moradores em suas minudências; entretanto, de imediato, tivemos que lidar com a baixa receptividade dos moradores com relação à pesquisa. Como era possível rastrear e seguir os diversos moradores de modo a estudar cada ato de seu cotidiano? Nisso, um trabalho, realizado pelo diretor Eduardo Coutinho (2002) serviu de inspiração, junto aos moradores do Edifício Máster, onde, de maneira maestral, ao longo do documentário ele ia destrinchando a vida dos personagens junto com a vida do edifício. Tal inspiração não encontrou recursos para seguir adiante: esbarramos nas limitações materiais do campo. Além do pouco tempo para isso, ainda havia que repensar em um estudo mais circunscrito que evidenciasse a qualidade dos dados, pensada em termos da narrativa dos próprios moradores. Como dizemos: o campo não foi muito receptivo. Adentrar no Pilar sem conhecer ninguém foi o ponto mais desafiador. Embora tenhamos tentado fazer algumas incursões, passar pela comunidade e conversar com alguém no meio da rua, o trabalho de campo foi árduo e trabalhoso. Imaginamos que o trabalho em comunidade seria mais facilitado frente às experiências que possuíamos; mas um Pilar marcado por uma série de privações, da falta da atenção dispensada pelo poder público e carente de iniciativas que o contemplassem, tornou o campo de pesquisa mais difícil. Após algumas tentativas frustradas, começamos uma busca pelas redes sociais digitais e encontramos o Grupo Guerreiros do Pilar. O grupo de capoeira, que desenvolve atividades há mais de 15 anos na comunidade: ele foi a porta de entrada para 45

46 as atividades de campo. Embora tomamos como referência os participantes do Guerreiros do Pilar, retratamos as idas à campo, como forma de ilustrar a comunidade para o leitor e como parte integrante do método escolhido para aportar a pesquisa: a etnografia. O exercício etnográfico contempla esse trabalho, contraditoriamente pelas dificuldades achadas em campo. Adentrar em uma comunidade da qual tínhamos a convicção de conhecer para em seguida não ter a recepção esperada, fez-nos ver muito mais o quanto a etnografia seria basilar na construção do que pretendíamos. Antes de debruçar mais diretamente na questão etnográfica urbana, passamos a refletir acerca dos exercícios aos quais Roberto Cardoso de Oliveira (1996) se refere em sua obra O trabalho do Antropólogo: o ouvir, o olhar e o escrever. O autor contempla esses três exercícios, por acreditar que eles estão na base da produção do conhecimento e devem ser discutidos para que, em sendo feitos da maneira correta, possam sempre agregar qualidade ao exercício etnográfico. O olhar foi a ferramenta mais utilizada; pois, em determinados momentos, ele era tudo o que tínhamos para a construção do que viria a ser a escrita da dissertação. Mesmo em função das dificuldades, fomos contemplados pelo poder olhar. O olhar é o primeiro exercício que Oliveira (1996) se propõe a discutir, considerando-o como o que inicia o trabalho etnográfico; chama a atenção para a questão da domesticação do olhar. Dentre essas três faculdades do exercício epistemológico, o olhar seria, segundo o autor, o que mais sofre daquilo que ele denomina de domesticação teórica. Significa que, independente do objeto que estamos estudando, tendemos sempre a olhá-lo de modo a colocar o exercício teórico em prática. Essa disciplina já estaria presente na concepção teórica que temos do campo e do objeto. Existe uma refração do olhar. Oliveira (1996) atenta para esse fenômeno e justifica que o mesmo é inevitável: esse acondicionamento do olhar, demonstra o quanto devemos ser cuidadosos nessa prática. O ouvir caminha junto com o olhar e partilha das mesmas características dele. Os dois contribuirão conjuntamente para o desenvolvimento do escrever. Sendo aporte, para o desenvolvimento desse processo: os dois atuam no sentido de fazer com que o escrever reflita o campo da melhor maneira possível. Foi tomando como base as 46

47 assertivas de Oliveira (1996) que buscamos empreender a caminhada no contexto do Pilar. Magnani (2002) entende que o etnografar, em um contexto urbano, não exige tantas artimanhas e artifícios. Segundo ele, artimanhas e artifícios vêm sendo desenvolvidos, cada vez mais, para contemplar trabalhos que os coloquem enquanto método de pesquisa. Em De perto e de dentro, o autor contempla algumas questões bastante pertinentes para este estudo em questão. A primeira delas é uma crítica ao fato de que muitas etnografias urbanas ou trabalhos que, assim se intitulem, pecam por não sinalizar devidamente os atores sociais. A bem da verdade, não é propriamente a ausência de atores sociais que chama a atenção, mas a ausência de certo tipo de autor social, e o papel determinante de outros. Em algumas análises, a dinâmica da cidade é creditada de forma direta e imediata ao sistema capitalista; mudanças na paisagem urbana, propostas na intervenção(...) (MAGNANI, 2002, p.14). Atentando para o que Magnani observa, busquei destacar os atores que estão invisibilizidos na lógica vigente do turismo metropolitano e do capital. Os que representam o mercado, que estão por trás das transformações mais intensas e que atingem, quase sempre negativamente, os atores não privilegiados, estão contemplados nos papeis que lhes cabem: a partir da ótica de quem sofre com as consequências. A importância de se fazer uma etnografia urbana, privilegiando os moradores do Pilar, reside justamente no fato de que incorporar esses atores e suas práticas, privilegia outros pontos de vista, nos fazem descobrir novas dinâmicas, novos pontos de vista e olhares sobre a cidade. Essa vizinhança, a qual Jane Jacobs apontou como sendo um conceito sentimental, ataque aos grandes planejamentos urbanos, reside no ponto de vista que não é dado pelos trabalhos que não são atentos aos verdadeiros atores, das reais dinâmicas sociais, que realmente importam. Como citamos inicialmente, nosso contato mais direto com a comunidade, foi junto ao grupo de capoeira Guerreiros do Pilar. O grupo tem suas atividades realizadas nas quintas e sábados dentro da comunidade. Há pelo menos 15 anos oferece essas atividades de maneira gratuita e acolhe grande parte das crianças em atividades que vão além da capoeira, como a percussão, oficinas circenses, além de buscar outras iniciativas para o lugar. Quem nos guiou em campo foram seus dois coordenadores, que assumiram um papel importante nessa jornada, verdadeiros abre-portas. Um dos 47

48 coordenadores reside no Pilar e havia sido contemplado recentemente com a entrega de um apartamento, em um dos habitacionais construídos como parte do plano de revitalização do espaço. Ter alguém que guiasse o reconhecimento de campo, foi o grande diferencial. Reiteramos, aqui, o quanto as dificuldades encontradas em campo nos fizeram avançar nos meus passos de pesquisador que aprende a partir mesmo do desconhecimento (ignorância); isso porque o Recife se mostra como ninguém vê. Os desafios que encontramos em campo, se situam em algumas resistências que encontramos durante a pesquisa. Muito embora, o grupo que nos guiou durante as incursões tenha se mostrado muito solícito e tenha sido fundamental nesse trabalho, o contato inicial foi marcado por certo tipo de desconfiança sobre questões diversas (a respeito do que se tratava o trabalho, os objetivos da pesquisa, etc.). Outra questão desafiadora, foi tratar a questão a respeito das narrativas das histórias de vida. Chamamos as de narrativas, pois não houve uma exploração a fundo da vida de cada pessoa com quem tivemos a oportunidade de conversar. No entanto, foi bastante interessante tratar essas falas em um contexto corrido, em que meu tempo se limitava ao tempo de quem me conduzia. Essas questões nos fizeram crescer em campo e perceber as limitações enquanto provações, para que esse trabalho possa determinar outras discussões a respeito do tema. 48

49 Capítulo 3 O Pilar de hoje e de ontem: notas etnográficas Nossa primeira ida ao Pilar não foi nada animadora. Buscamos o contato com algumas lideranças antigas, do tempo em que desenvolvíamos atividades enquanto estudantes de graduação, mas não obtivemos sucesso. As gestões mudaram ao longo do tempo e as pessoas que nos conheciam não estavam mais lá. O trabalho de campo nos impõe alguns desafios e novamente estávamos diante da missão de reconstruir os laços com o lugar, que até então, apresentava-se com outras nuances e particularidades. Voltar ao lugar, depois de tanto tempo, provoca certo receio daquilo que podemos encontrar por lá. À primeira vista, tudo estava igual: a disposição das ruas sem asfalto, alguns animais pastando, o esgoto a céu aberto correndo intensamente e muitos olhares curiosos, diante da expectativa que se cria quando chega pessoas novas no lugar. Optamos pelas estratégias do bom dia e recebemos algumas fracas e desanimadas respostas. Pouca disposição dos atores, diante das expectativas em campo. Para que se possa visualizar melhor o Pilar, diríamos que vista de cima, suas ruas formam um H, com três ruas principais: a São Jorge, a Bernardo Vieira e a Rua Oriente. De frente para a entrada, o lado esquerdo abriga os habitacionais e uma série de prédios antigos abandonados: muitos moradores se utilizam das paredes de tijolo cru, para montar seus barracos, enquanto esperam ser contemplados pelos habitacionais. O lado direito possui mais barracos, que dividem lugar com cavalos e jumentos, cheio de árvores, que parece um mini sítio dentro do Pilar. Era uma manhã de sol, uma quarta-feira. Os carros estacionados por toda a rua circundavam as entradas do Pilar. Havia quatro anos, desde a última vez, que tínhamos ido ao local. Naquela época, apesar da construção dos residenciais estar parada, já se via os andares dos prédios destoando dos barracos. Entramos na Rua São Jorge e lá estava o Bar de Maria, onde naquela época tomávamos café. - O mais barato daqui!, dizia ela. Pergunto se ela se encontra e um homem que agora toma conta do estabelecimento, diz que ela se mudou, provavelmente para o bairro dos Coelhos (uma comunidade também na área do centro do Recife) e que ele estava gerindo o bar. O Pilar parecia agitado, enquanto entrávamos na mercearia para comprar um suco, escuto uma conversa que esclarece a situação: - Tão atrás do menino que assaltou a gringa ali no porto... 49

50 - E foi?! Foi quem hein? - Sei não, conheço esse não. Alguns dias antes, uma dupla havia tentado assaltar uma turista sérvia que estava em um navio que atracou no porto. Ela reagiu ao assalto e foi ferida por uma facada na cabeça e a polícia identificou um dos assaltantes como morador do Pilar. Diante disso, tentamos não dar uma de policial apesar dos estereótipos e ser confundido com alguém que dedura as atividades criminosas da favela. Seguimos pela Rua São Jorge procurando nosso primeiro interlocutor, Jorge, que mantinha um grupo de capoeira no Pilar e era uma das crias da comunidade. O Pilar parecia acordar aos poucos; algumas pessoas tomavam café na frente de casa e aos poucos as águas do banho e afazeres domésticos tomavam a rua e deixavam seu cheio de sabonete pelas canaletas improvisadas. Ao passo que ia avançando, os olhares iam me seguindo; como sempre um elemento estranho em uma área fechada que não costuma receber visitantes, afora os servidores municipais e os trabalhadores do porto. Nós, visualmente, não parecíamos com nenhum dos dois. De imediato, quando se fala do Pilar vem à mente certo desconhecimento, seguido de uma repulsa pelo local onde ele é situado: no final da zona portuária e vizinho de antigos bordéis. O Pilar é um espaço onde o Recife se contradiz, onde convergem o desconhecimento e o medo. Quando no início deste trabalho, pretendemos estudar a dinâmica do Pilar em relação ao Recife Antigo, a partir da ótica dos moradores, já imaginávamos que encontraria certos entraves. Na pesquisa de campo, no entanto, as dificuldades nos levaram a apreender informações sobre o lugar que talvez não tivéssemos acesso se a postura de quem nos recebesse fosse somente a de facilitar. O Pilar de hoje é o mesmo de 10 anos atrás. A aparência física e estrutural foi modificada apenas pela presença de seis conjuntos habitacionais. Do plano de revitalização do lugar, proposto pela Prefeitura do Recife, a única coisa nova são dois painéis grafitados nos muros de dois dos habitacionais. Tudo permanece do mesmo jeito. Nosso olhar se intrigava sempre diante da mesma questão, em todas as vezes que fomos a campo: como é que um lugar, vizinho a um polo turístico, localizado de frente para a Prefeitura da cidade, rodeado por diversas obras de revitalização do Porto, com vistas a receber turistas, pode ser tão mal administrado e esquecido pelo poder público? Os moradores não tinham resposta. 50

51 Um pouco frustrados por constatar na primeira impressão de que não haviam tido mudanças esses anos todos, decidimos observar as particularidades da comunidade, os seus significados construídos e perpetuados e como esses elementos construíam uma rotina no lugar. Nesse sentido, interessava observar os verdadeiros atores, tal qual Magnani (2002) propõe: a presença de um conjunto de símbolos partilhado por quem morava ali e um conjunto de identidades que funcionasse como representativo. Dessa maneira, descrevemos através das idas e vindas ao campo, o retrato do que seja o Pilar hoje; com o intuito de fazer com que ele seja percebido através de outro foco de lentes, que não o de um amontoado de barracas, apenas estigmatizado; mas, de um lugar no qual os moradores têm direito à voz, destacam-se e, por mais que não pareça, existem. É importante reiterar que o campo da pesquisa foi composto por incursões despretensiosas e com narrativas construídas pelos moradores e lideranças. As incursões tiveram como objetivo descrever o espaço do Pilar, através de uma perspectiva própria, como parte de um complemento à fala dos sujeitos, por mim estudados. Denomino essas incursões como sendo despretensiosas, mas de maneira intencional. Elas se inserem justamente no olhar, com parte constituinte do método etnográfico. Isso justifica que, por vezes, ao longo do trabalho, apareçam descrições mais particulares, que vão desenhando o espaço. O primeiro contato que fizemos para adentrar no campo foi fundamental para que tivéssemos acesso mais direto ao lugar. Como citado, mais acima, foi através do grupo Guerreiros do Pilar que conhecemos Jorge, um músico que desenvolve trabalhos com as crianças da comunidade. Jorge também residia no Pilar e estava por dentro da situação na qual se encontravam as pessoas, bem como da dinâmica do espaço. Muito conhecido pelos moradores, Jorge se intitulava uma liderança, dentre as poucas existentes. Síndico de um dos habitacionais, ele era muito respeitado. O nosso primeiro encontro com ele foi em uma praça, que fica em frente à Prefeitura. Nosso entrevistadomorador se mostrou animado com a possibilidade de mais um estudo que contemplasse o Pilar, mas fez ressalvas quanto a outros que já havia guiado. Toda vez vem pesquisador pra cá e tira o que quer. Eu ajudo, levo nos cantos corro atrás dos documentos e no final ele publica o trabalho todo errado. Já fui muito atrás de pesquisador e peguei eles pela gola. Se não vai contribuir nem pra levar a comunidade pra uma palestra na faculdade, melhor nem vir (Jorge) 51

52 Era fatídico o cansaço dele. Muito atarefado com as atividades que desenvolvia, tinha ainda que se preocupar com as atividades de motorista Uber e buscar insumos para que o projeto que desenvolvia continuasse a funcionar: É tudo feito de coração pela comunidade. Às vezes, até dinheiro do meu bolso eu coloco. A possibilidade de visibilidade da comunidade, que esta pesquisa oferecia, animava Jorge e os integrantes do grupo do qual ele participava. Procuramos deixá-lo bem ciente de que muito possivelmente nosso trabalho levaria o Pilar para dentro de uma discussão acadêmica, que poderia instigar outros trabalhos e pesquisas nos colocamos à sua disposição no que pudesse contribuir com o seu trabalho. A favela, bairro ou comunidade do Pilar, abriga hoje mais de 400 famílias. Optamos por designar o espaço sem defini-lo, nessa parte, pois não há um consenso entre os moradores de como chamar o lugar. É o Pilar e pronto! Essas 400 famílias dividem-se entre as que moram nos habitacionais e as que ainda aguardam na fila para serem contempladas. Enquanto conversava com Jorge, entramos pela rua principal e ele foi cumprimentado por todos que estavam na rua. Os olhares atentos sobre a minha pessoa eram disfarçados pela presença dele. Duas casas depois da entrada da rua principal, fica a sede do espaço onde os instrumentos das oficinas são guardados. Uma parte da casa é a parede de um casarão em ruínas que parece estar na iminência de cair. Jorge garante que não e continuamos a caminhada. Mais à frente, avistamos um grupo de crianças que brincavam sentadas no chão, algumas mulheres estendendo roupas em varais compartilhados e funcionários de uma companhia de energia instalando contadores de energia. Jorge vai contando que a situação do lugar não muda há bastante tempo. Sempre em época de eleições, os candidatos aparecem, fazem promessas e somem. Relata a chegada de um candidato a prefeito que, certa vez, visitou a comunidade: Ele veio, fez o palanque, prometeu tudo que tinha direito. O povo ficou animado, mas ninguém se ilude mais não. Foi a comitiva dele sair e a polícia entrar atrás dando cacete em todo mundo. O esquecimento reside em várias instâncias. As mais imediatas dizem respeito, por exemplo, à falta de um posto de saúde, o grande alvo das reclamações dos moradores. O terreno, que deveria ser ocupado pelo posto e pela escola, foi cercado por muros, pela Prefeitura; pois, se fossem tapumes, estes serviriam para que os moradores pudessem usar como material 52

53 para fazer novos barracos, assim como fala um morador: eles botam aí, cercam tudo, tiram o povo e não fazem nada, aí a gente vai pega mesmo e faz o barraco, vai fazer o que? Ficar esperando a gente pega tudo e faz de novo enquanto fica na demora. (Zé). Jorge apareceu, para nós, como primeiro contato de campo, após algumas incursões iniciais, como as que chamamos de despretensiosas. O movimento que ele coordena dentro do Pilar lhe coloca em uma posição de liderança e reconhecimento dentro do lugar. Jorge reside no Pilar, desde muito antes do plano de revitalização do Recife Antigo, de maneira que acompanhou todo o processo de reinvindicações e de luta dos moradores. Objetivamos por tomar certo cuidado com a escolha dos que viriam a compor o corpus da pesquisa, para que não houvesse um viés que priorizasse determinados sujeitos. No entanto, por mais que tentássemos, a escolha pela narrativa livre, fez com que as pessoas entrevistadas, aparecessem voluntariamente e obviamente optamos por não dispensar nenhuma delas. Desde o primeiro contato por telefone, Jorge sempre se mostrou muito disposto a conversar sobre o local que, para ele, se constituía em uma moradia e um espaço de trabalho. Ao nosso primeiro encontro, ele chegou no horário marcado. Muito simpático, ofereceu praticamente sua manhã toda para que pudéssemos conversar sobre o que quiséssemos. Como mostra o roteiro, tentamos seguir algumas questões, mas a conversa, por vezes, toma outro rumo, o que em certa medida, contemplou a construção do enredo. Nossa presença dentro de campo não era algo novo para quem estava ali, no sentido de que outros pesquisadores já haviam passado por ali, para concluírem suas pesquisas. Havia certo receio de que estivéssemos ali apenas para coletar dados e depois ir embora. Jorge deixou isso muito claro na nossa conversa inicial. Sem que mencionasse diretamente o nosso caso, sinalizou um conjunto de pesquisadores que chegam aqui, se fazem de amigos, levo eles no pessoal e depois somem. Quebrar essa barreira, já de antemão existente, não foi tão difícil. Na conversa, pudemos mencionar onde morava e o fato de residir também em uma comunidade, ajudou-nos no sentido de fazer parecer como se fôssemos de casa. A partir dali os diálogos já fluíam mais tranquilamente, não havia mais um aparente receio de que nosso interesse era meramente acadêmico. Procuramos deixar claro que estávamos ali para fins de pesquisa e que estávamos disponíveis, caso pudéssemos ajudar em algo para a comunidade. Jorge também não deu grande importância a isso. Parecia animado com a 53

54 nossa presença ali, estava preocupado em nos apresentar o local. Diante disso, o roteiro elaborado, aparecia e desaparecia entre as conversas, de modo que buscamos explorar ao máximo cada minuto das incursões de campo que tivemos. Fazer pesquisa de campo, dentro de uma comunidade periférica, nunca nos trouxe grandes receios. A partir de certa experiência adquirida anteriormente, em outras ocasiões, os manejos de campo foram sendo construídos e aprimorados. O receio que sentíamos, ao empreender essa nova pesquisa, residia muito mais na reação de quem encontraríamos como sujeitos de pesquisa. No mais, como já sinalizamos anteriormente, as observações feitas são fruto das narrativas, do olhar que repousa sobre o Pilar e de como o lugar se revela a cada rua, a cada beco de onde surgem diversos barracos e da realidade presente. 3.1 Dinâmicas e distinções do morar: uma análise do Pilar enquanto campo constituidor de relações e práticas Jorge: a mente fechada e o corpo aberto Tendo iniciado o trabalho de campo, foi recorrente pensar o que Jane Jacobs (2014) denominou da Maldição das zonas de fronteira desertas. Na ocasião, a autora, atendo-se claramente a uma realidade norte-americana, diz que ao passo que grandes partes de determinadas cidades são utilizadas de maneira única, há uma tendência que se criem fronteiras, que culminam em bairros decadentes (JACOBS, 2014). O exemplo utilizado, por ela, é o das linhas férreas, constantemente abandonadas e que acabam por criar espaços de segregação dentro de cidades aparentemente únicas. Embora a realidade analisada, por ela, não fosse semelhante ao que tratamos nesta pesquisa, não pudemos deixar de fazer a reflexão a partir da noção de maldição de determinadas zonas de fronteiras desertas para equipará-la ao Pilar. Certas fronteiras tem a interação de usos em ambos os lados, mas boa parte dela se restringe ao período do dia e diminui drasticamente em certas épocas do ano (JACOBS, 2014, p.290). A existência de uma possível fronteira entre o Pilar e o Recife Antigo, a ideia de uma zona de fronteira deserta nos parece mais clara. Ao atravessar esse espaço 54

55 constantemente sempre vinha à mente, também, a solução proposta pela autora de aproveitamento desses perímetros, para reformá-los e dar nova vida, para que ambos os lados fossem beneficiados. Muito embora a reflexão seja válida, o caráter aparentemente emergencial das condições em que o Pilar se encontra, fazem o problema da fronteira parecer menor. Em uma das idas ao Pilar, a primeira pessoa com quem tivemos contato, começou a colocar em perspectiva a sua trajetória de vida com o lugar de sua narrativa, antes mesmo que pudéssemos lançar mão do roteiro que havia preparado. Sua relação com a comunidade era muito íntima e cerceada de respeito e cumplicidade entre os moradores. Eu moro aqui faz tempo. Comecei vindo quando passei a desenvolver um projeto com as crianças da comunidade. Aí a coisa foi crescendo e me instalei de vez (risos). Peguei um barraco pra mim e fui ficando. Me inscrevi na lista pra ganhar o apartamento dos habitacionais que a Prefeitura estava construindo e ganhei faz pouco tempo. (Jorge) Assim, Jorge era figura central dentro da comunidade. Sua relação íntima com o lugar, que versava entre liderança próxima aos moradores e aos aparelhos públicos, dava ao seu discurso um tom de indignação. Entre as conversas que tivemos, Jorge apertava as mãos enquanto falava. Fez menção de enxugar o rosto e começou a contar episódios que marcaram a sua vida dentro desse espaço social. Desde que chegou à comunidade sua posição foi de liderança. Muito conhecido, considera que o Pilar avançou muito e pouco, ao mesmo tempo. Em seu relato, ele conta que antes (em um marco de 20 anos atrás) era muito pior. Se hoje existe pouca ou nenhuma ação da Prefeitura, por exemplo, antes era muito pior. Era tudo barraco, muito lixo, muito rato. Era abandonado demais. Tá vendo essa praça onde a gente tá hoje? Era muito pior. Revitalizaram agora, mas era pior mesmo. Quando eu cheguei, isso de Pilar nem existia. Referindo-se ao nome que a comunidade carrega hoje. O corte feito por ele de antes e depois coloca o Pilar na situação de Favela do Rato, há alguns anos atrás. Jorge, por vezes, deixava muita certeza quanto às datas em sua fala, mas às vezes se perdia. O fato era que o Pilar não era o mesmo, na visão dele. Desprovido de iniciativas do poder público, o lugar antes era apenas um dos lados da fronteira, do lado de cá. Não havia os habitacionais recentemente construídos; apenas 55

56 existiam os barracos feitos de zinco e de madeira, a Igreja do Pilar em ruínas, antes da reforma, e um casarão no interior do espaço da comunidade. Apenas isso. A parede desse casarão serve, até hoje, de encosto para uma das casas. Asfalto aqui nem pensar. O esgoto corre a céu aberto até hoje, tu não viu? Às vezes, alguém joga os restos de construção nos buracos e ameniza. Hoje é ruim, mas já foi muito pior. Apesar do grupo, por ele coordenado, executar trabalhos de grande importância para a população local, Jorge relata entre sorrisos que a presença de igrejas protestantes dentro da comunidade vem crescendo e querendo, de certo modo, competir com seu trabalho. Durante nossas conversas, ele relatou que já é conhecido por grande parte dos líderes que executam algumas ações ligadas à Igreja Universal, por exemplo: Eles chegam, montam um palanque e falam um monte de besteira aí. Já tentaram me prejudicar dizendo que eu ensino coisa do diabo pras crianças por causa da capoeira. Tudo invenção. Já não bastam as dificuldades que a gente tem aqui, ainda me vem uma dessas. (Jorge) Nesse momento, há uma ressalva quanto ao anonimato dele na entrevista. Ele questiona e, em seguida, diz que não há problema em ser identificado. Enquanto conversamos, passam por nós um grupo de crianças que o cumprimentam. Nesse momento, ele retoma o assunto e começa a falar da relação da comunidade com a fábrica do Pilar. As paredes da fábrica dão as costas para os barracos. Figurativamente ou não, essa é a relação que segundo nosso entrevistado existe. Não há uma relação de cooperação da empresa com o lugar. Perguntamos sobre como se dá a relação e ele cai na gargalhada. A fábrica é uma das paredes que constituem a fronteira que separa o Pilar do resto do contexto local. Essa relação não existe, nunca existiu. Houve um tempo que a gente tentou uma parceria com eles da Pilar (a fábrica). Era coisa pouca, sabe? A gente tentou conseguir uma caixa de biscoito pra dar lanche aos meninos da oficina que a gente dá. Eles não deram, é uma burocracia enorme e apesar da gente tentar de todo modo, isso não rolou. Não veio nem uma bolacha. (Jorge) Em resposta a isso, ele nos conta que alguns grupos da comunidade passaram a saquear a fábrica. Pulavam o muro e roubavam mercadorias e distribuíam entre os moradores. Antes que ele pudesse fazer alguma coisa, a polícia já estava lá, revistando moradores, em busca de informações sobre os roubos que estavam sendo constantes: 56

57 Foi interessante que ninguém dava atenção à comunidade, mas depois que os meninos pularam o muro pra pegar uns biscoitos, eles começaram a vir direto. A solução encontrada, por ele, foi conversar com essas pessoas, e fazer um trato para que isso não acontecesse mais: Eles aceitaram de boa e as pessoas da comunidade mesmo apoiaram a decisão. A gente tava sofrendo muito com a intervenção da polícia, era baculejo todo dia. Encerradas as ações na fábrica, a rotina voltou ao normal. Nosso entrevistado estava empolgado com a conversa. Levantava-se e gesticulava bastante: Ah, mas deixa eu te falar do ano passado. Após a reforma da igreja, que demandou um orçamento significativo, um padre retomou as missas semanais. Segundo nosso entrevistado, a igreja é pouco frequentada pela comunidade, com cerimônias que chegam a agregar cerca de 5 a 6 membros. No natal do ano anterior, o padre a que ele se referia resolveu fazer a ceia em uma igreja mais longe, o que impossibilitava a ida dos membros até lá. Não tem um trabalho de integrar os membros da comunidade, é cada vez mais pra sair daqui. A exclusão já começa por aí. Nessa mesma ocasião, Jorge nos convidou para ir até a frente da igreja que estava fechada e que apesar de reformada, já apresentava sinais de desgaste. Hoje é Pilar, por que tem a fábrica do Pilar ali. Agora ela tem uma função, mas a igreja tá muito distante da comunidade, No final do Ano as pessoas da comunidade lavaram a igreja e o padre levou a cerimônia pra longe. Mas o que eu percebo, essa movimentação, em vez deles agregarem valor(..) isso já é um reflexo desse contexto de exclusão. (Jorge) A relação do Pilar com o Recife Antigo foi também motivo de gargalhadas do nosso entrevistado: Nenhuma. Arrumaram o Antigo todinho, mas aqui a gente não viu nada não. A relação que ele pontuou é a de quem trabalha com o comércio informal, vendendo água mineral e pipoca no Recife Antigo. Não existe nada mais direto que ligue os dois estratos, segundo ele. O morador do Pilar é estigmatizado ainda, e a relação mais direta que ele possui está pautada nas relações informais de trabalho. O enredo não se aprofunda nesse tópico, pois parece ser algo que o incomoda profundamente. Ele responde abruptamente com um não, quando perguntado a respeito da dependência do Pilar com relação ao polo turístico. Não. Não tem relação não. Se você pensar que o poder público nem chega aqui, com a Prefeitura sendo do 57

58 lado, você já tira. Essa conversa não existe. Eu, na minha opinião, não vejo relação nenhuma não. O sol começava a esquentar, quando Jorge nos convidou a sair caminhando pelos arredores. Sentimos que houve um profundo incômodo dele com a pergunta que mencionava a relação do Pilar com o Recife Antigo. Decidimos por começar a pontuar as questões mais gerais, e parti para saber como ele via o Pilar hoje. Contou sobre a sua namorada, que também é acadêmica, e deixa claro que conhece os trâmites dentro dos processos de pesquisa. Entendemos isso como mais uma maneira de alertar a respeito de saber realmente tudo que está por trás do que parece ser uma simples conversa. Jorge começa a relatar que, em 2002, quando começou os trabalhos dentro da comunidade, ouviu de um amigo que, à época, trabalhava com o prefeito de que era louco. Você é louco, vai trabalhar com uma comunidade de risco? A gente sempre tentou entrar lá e nunca conseguiu, você tenha cuidado! Foi quando eu respondi que eu venho de favela, eu tenho esse sentimento de favela, eu nasci no Morro da Conceição 9. E é aquela frase de Pedro Luís e a parede: coração aberto, corpo fechado. E assim fiz e assim, e assim já se vão 15 anos (Jorge). Jorge foi considerado um louco, quando decidiu começar as atividades dentro do Pilar, pelo estigma que o lugar carrega. Constantemente esquecido, o lugar passou a ser visto como um espaço para fora dos padrões que estavam sendo construídos no Recife Antigo. Segundo ele, o Pilar tem essa configuração de favela, que consiste nesse não planejamento, no amontoado de barracos, na fuga de criminosos para lá após o cometimento de crimes e ironicamente, por não ser atendido por nenhuma instância pública. Inicialmente, Jorge construiu seu barraco na Rua São Jorge, a principal da comunidade. Segundo ele, essa foi uma das primeiras ruas a serem desapropriadas para a construção dos habitacionais. Esperou, pelo menos, sete anos para ser contemplado pelo programa habitacional; e, continua acompanhando a luta daqueles moradores que ainda não foram contemplados, isto é, isso nunca deixou de ser o seu foco. Sempre acompanhei a comitiva do prefeito aqui dentro, mas era tudo mentira. A gente abria as portas da comunidade e dava o espaço pra ele. Quando ele saía, a polícia tomava conta, entrava e fazia baculejo. 9 O Morro da Conceição é localizado na Zona Norte do Recife. 58

59 Outro ponto por ele abordado foi a questão da liderança. Ele relatou que apesar de existirem muitas lideranças mais informais dentro do espaço, não há uma que seja formalizada. Uma delas é ele. Nosso entrevistado culpa a desorganização das lideranças pela falta de atenção que o Pilar recebe. A reclamação maior de Jorge é com relação à carência de aparelhos públicos que atendam a comunidade. Enquanto caminhávamos, ele nos mostrava um muro erguido recentemente: trata-se da escola que funcionava dentro da comunidade, mas que precisou ser fechada, por falta de recursos. Menciona um posto de saúde, que estava na promessa e do qual há apenas o começo das fundações. De longe, avisto um terreno com bastante mato e algumas colunas erguidas. Na ocasião, ele me conta que as construções foram encerradas, pois uma equipe descobriu que no lugar existiria um cemitério arqueológico. Pararam a obra pra olhar esse cemitério aí. Acabou tudo e eles não vieram nem interditar o lugar e nem continuar a obra. Agora a comunidade tá sem escola e sem postinho, por causa de burocracia. Qualquer coisa aqui você tem que correr pro hospital ou pra um posto provisório ali do lado da Prefeitura (Jorge). Quando questionado a respeito do que seria o Recife Antigo, ele diz vê-lo como um espaço de segregação e de diferenciação. Tudo muito bonito, mas nada atrativo para mim. O processo de gentrificação do espaço, segundo ele, não contemplou em nada o Pilar e só serviu para aumentar a distância entre os espaços. Não há uma conexão entre os lugares O movimento enquanto instrumento de denúncia Das idas e vindas que fazíamos no Pilar, encontramos com Júnior, outro integrante do grupo que oferecia atividades na comunidade. Nosso segundo entrevistado tinha ares de pessoa mais enérgica e que via, na pesquisa, uma oportunidade de denúncia do que estava acontecendo. Como já fomos enfáticos em dizer que mesmo que optasse por seguir o roteiro, muitas vezes, ele ficava em segundo plano; e isso se acentuou muito mais nessa narrativa. Essa pessoa exercia junto ao Jorge um papel de 59

60 liderança e o auxiliava nas atividades oferecidas pelo grupo. O tempo todo interrompia sua fala para pedir desculpas pela maneira como se posicionava. Nosso encontro aconteceu no mesmo lugar onde conversamos com Jorge, nos entornos do Pilar. Júnior, diferente dele, não morava ali. Era proveniente de uma comunidade próxima e agora morava em Olinda. Nesse dia, deslocou-se até lá para que pudéssemos ter essa conversa. Sem colocar muita ordem nos assuntos que abordava, optou por começar a contar a respeito da sua trajetória de vida. Eu sempre morei em comunidade, já morei em palafita e tudo. Agora eu posso dizer que eu sou rico, moro numa casa, vivo bem. Diante disso, nosso entrevistado começa a falar da questão dos conjuntos habitacionais construídos dentro do Pilar. Tu imagina o que é a pessoa morar num lugar que nem tem banheiro e de repente ela ganha um apartamento, com dois quartos, cozinha e tudo mais? Ela não sabe lidar com isso se não tiver orientação. Aqui acontece mais ou menos isso. Tem um problema sério de som alto por exemplo. De vez em quando tem briga aí por causa disso. As pessoas não sabem o que é isso, entendesse? É muito complicado. (Júnior) Para ele, o problema da moradia era o mais preocupante dentro do Pilar. Era claro que, por exemplo, não existia distinção entre quem residia nos habitacionais e quem ainda aguardava a sua vez. O que havia, apesar dos vários entraves, era um sentimento de cooperação. As pessoas procuravam apoiar umas às outras dentro de um difícil contexto de vida. É muito difícil. Imagina tu conviver com rato no meio das tuas crianças? Roubando a tua comida de cima da mesa? Agora imagina viver num primeiro andar que não chega nem barata? Difícil demais, né? Agora eles tentam se apoiar, não tem diferença não, tá todo mundo dentro do mesmo barco aqui. (Júnior) Quando indagamos a respeito de como era o Pilar, assim que ele passou a frequentar o espaço, ele diz que não mudou muita coisa. Muito embora sua participação rendesse em torno de seis anos, dentro da comunidade, ele diz que não percebe muita coisa nova, em todo esse período de tempo. Não havia mudança, nem iniciativa do poder público. A comunidade estava em uma situação real de abandono; e o que mais lhe revoltava era a questão da proximidade (física) com o polo turístico e com a Prefeitura, pois, havia negligência do mesmo modo que em relação aos bairros longínquos desse centro. 60

61 Júnior, no entanto, não deixa de pontuar algumas iniciativas de empresas privadas. Ele relata que, certa vez, um empresário levou as crianças da comunidade e os responsáveis pelo grupo Guerreiros do Pilar para almoçar em seu restaurante, em um bairro nobre de Recife. Ele não quis saber se era tudo pobre não, entendesse? Mandou foi um ônibus nesse dia, lotou de menino e a gente foi. Comi tanto camarão no dia que enjoei. Porém, na sua visão, iniciativas como essa são muito pequenas em vista do que a comunidade precisa. Colocou, assim como Jorge, a questão do posto de saúde e da escola como sendo problemáticos e mais urgentes. Júnior se exaltava bastante na sua fala; e, de modo recorrente, a questão da relação do Pilar com o Recife Antigo foi motivo de gargalhadas. Fica claro, mais uma vez, que há uma relação muito distante que ele não consegue mensurar. Não consegue, por exemplo, apontar ninguém que trabalhe no Marco Zero, em algumas das lojas; o que demonstra que as atividades desenvolvidas pelos moradores sempre estão na ordem do trabalho informal. O tráfico de drogas é apontado, por ele, como algo corriqueiro e comum dentro do lugar, também; um meio de subsistência para algumas pessoas e algo atrativo para os jovens que lá residem. Jorge comenta que esse tema é trazido pelo grupo (no qual atua) como algo preocupante e do qual se tenta ir de encontro. É difícil, sabe? Mas a gente tenta. Um que a gente conseguir tirar já é lucro. Todos os dias tem muita luta da gente contra isso, mas na verdade, a luta é contra a fome, contra o descaso do que a gente vê aqui dentro. A luta é todo dia. Se a gente consegue mudar um, pra gente já é lucro. (Júnior) A conversa, que tivemos com ele, foi breve. Como tinha se deslocado de Olinda para o Pilar, tinha que voltar logo para pegar os filhos na escola. No entanto, a sua narrativa foi muito significativa na medida em que ele apresentava uma realidade nua e crua do Pilar, muito embora não tivesse obtido maior elaboração, em sua fala, sobre uma possível ligação do Pilar com o Recife Antigo. Ficava, cada mais evidente, que não havia uma ligação importante entre esses dois espaços contíguos; nada que os impactasse de maneira positiva. O Recife Antigo era apenas o lado de lá da fronteira. Tão frágil e tão denso, ao mesmo tempo. 61

62 3.3. Zé, Kelly 10 e o Pilar que ninguém vê. Conhecemos Zé em uma das nossas passadas pela comunidade. Sentado no chão, sem camisa, em frente a um bar improvisado, Zé alisava os cabelos brancos presos por uma presilha minúscula. Fomos a ele apresentado por Jorge e o mesmo acenou com a mão. Enquanto Jorge conversava com as pessoas que o paravam, o tempo todo, para pedir alguma ajuda ou falar de algum acontecimento. Zé era homem de pouca conversa. Morava ali, há muito tempo, mas uma pergunta fez com que ele enrugasse a testa. Tentou mensurar que desde criança, mas não sabia exatamente quanto tempo. Sua casa situava-se muito perto do cemitério arqueológico recém descoberto. O sol castigava já perto do meio-dia. Zé nos convida para adentrar o alambrado, construído por ele com o material proveniente das construções iniciadas pela Prefeitura. Não tem isso não. Eu pego mesmo. Fica aí só juntando rato e a gente aproveita. Já fiz minha coberta aqui, outro fez o portão, a gente tem que se virar mesmo. De pronto, podemos pensar nas táticas e estratégias de Certeau. A pouca paciência de Zé diante das questões, refletia muito bem o quanto o morador do Pilar estava exausto da precariedade da realidade. Para Zé, não havia relação com o Recife Antigo, não havia nenhuma iniciativa do poder público, não havia atenção, nada. Aqui não tem nada, meu filho, nada, entendeu? Não chega nada, a escola tá fechada, não tem posto, água só a misericórdia, a segurança quem faz é a gente mesmo. E você já viu segurança em favela? Não tem. Eu tô cansado, mas não tem o que fazer não. É ir vivendo. Tá vendo lá (apontando para os habitacionais) tudo conversa. Cadê os outros? Não têm. Já me acostumei. As pessoas que estavam próximas balançavam a cabeça em sinal assertivo, como se concordassem com o que Zé falava. A indignação era comum, os problemas eram sempre os mesmos; eles estavam nas falas, nos olhares, nos gestos e nos silêncios das pessoas dali. Ainda que estivéssemos priorizando a narrativa do entrevistado, decidimos por não aguçar o momento, pois muitas pessoas começaram a se juntar para ver o que estava acontecendo e escutar ou, então, falar. 10 Nomes fictícios dados aos entrevistados para preservar suas identidades. 62

63 Vista da casa de Zé/ Foto do autor/recife (2016) É nesse momento de efervescência da discussão que Kelly abre o portão do seu barraco para ver o que está acontecendo e acena para Jorge que está mais à frente. Despedimo-nos do grupo que se formou ao nosso entorno e Jorge me levou até ela. Kelly, que deveria ter seus 20 anos, participa do Guerreiros do Pilar e é musicista. Toca violino e já viajou pela Europa com o grupo. Desde pequena, reside no mesmo barraco junto com a mãe e alguns gatos. Jorge menciona um problema no portão do barraco que abriga o grupo e ela diz que vai resolver sozinha. Essa aqui é barra pesada, visse? Abre pra ninguém não. Ela ri e diz que não é bem assim. Kelly começa a contar que está à espera dos habitacionais, desde há muito tempo. Diz que sua mãe se cansou de esperar e, por enquanto, elas resistem ali no barraco, esperando. Desde pequena que eu ouço que vai sair o apartamento, e cadê? Tem esse aí, mas a gente não ganhou. Aí vamos ficando aqui por que a gente não tem pra onde ir não. É isso ou a rua. Minha mãe morre de desgosto disso (aponta o esgoto escorrendo na porta de casa) mas não tem o que fazer não (Kelly). A gente aqui acorda dentro do esgoto. É muriçoca, rato, barata, escorpião. Vamos arrumando o barraco como dá. Banheiro a gente não sabe o que é. Tá vendo isso aqui? (enquanto puxa um pedaço da parede do barraco) é madeira. Eu peguei da construção do posto que nunca acabou (Kelly) 63

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