Política de Nutrição e teoria do capital humano.
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- Bruno Ávila Lagos
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1 Política de Nutrição e teoria do capital humano. Maria do Socorro Quirino Silva Lima Projeto Rio Grande do Norte - CNPQ/FUNPEC. Cadernos FUNPEC, ano II, nº 2 e 3, 05/1983. RESUMO O trabalho faz uma avaliação da condução da política de nutrição discutindo as estratégias e os planos de nutrição do contexto internacional, no continente latino-americano e pontualmente, no Estado brasileiro. De como a questão nutricional perdura ao nível de aliviar as tensões populares e não da intervenção em seus reais determinantes. Aponta a necessidade de se perseguir o desenvolvimento econômico com objetivos de desenvolvimento sociais de saúde/ nutricionais específicos, como priorização da cidadania numa política articulada ao enfrentamento de determinantes sociais para a questão alimentar e nutricional, cujos agravos se materializam, sobremaneira nas diversas formas e graus da desnutrição A desnutrição é mundialmente reconhecida como doença social que por razões históricas, políticas, econômicas e culturais tem se perpetuado como o maior problema de saúde pública dos países considerados subdesenvolvidos.o desinteresse oficial pela situação nutricional da população envolve não somente os aspectos acima delineados, mas o fato de que a desnutrição por si, não representa uma situação dramática e passa desapercebida, por exemplo, em relação a uma crise de produção de alimentos que atrai a atenção internacional e produz respostas entusiastas, Alan Berg (1976). Comparando-se ainda as atenções políticas conferidas à desnutrição como aquelas dadas às doenças transmissíveis (malária, pólio), etc., verifica-se toda uma ação de combate ou que pode ser interpretada como um mecanismo de defesa dos espaços de circulação das classes dominantes e não propriamente de todo o espaço populacional. Outro angulo da questão é que de modo geral os profissionais de nutrição por razões histórico-acadêmicas estão preocupados, mais com os aspectos biológicos do problema e abstraindo-se das relações econômicas da produção. No acesso ao consumo de alimentos e demais determinantes da fome endêmica e das formas de má-nutrição por déficit. Enquanto isto se verifica nesta categorial, os técnicos de planejamento ignoram as características 1
2 nutricionais dessa produção e as necessidades nutricionais da população. Todavia o ponto fundamental da temática da desnutrição está articulado à produção de alimentos que na lógica capitalista é dirigida pela força do mercado internacional e não por essas necessidades. Assim é que no Brasil a lógica é a de priorizar uma política de grandes incentivos dirigidos à produção e exportação de alimentos como a soja, açúcar, cítricos, café, carnes, etc. O marco histórico dos programas de nutrição na América Latina e no Brasil foi à década de 50. Na ideologia desenvolvimentista da época, faziam-se necessários planos que objetivassem a melhoria nutricional da população. De um lado com a proteção específica com a suplementação alimentar e novas fontes de proteína. De outro lado com a reabilitação através dos Serviços de Recuperação Nutricional- SERNS. No nordeste brasileiro estes dois planos tiveram a larga atuação do Instituto de Nutrição da UFPE na zona da mata, conduzida por Nelson Chaves. No início dos anos sessenta, surge no Rio Grande do Norte uma nova linha de programas de nutrição; o Plano Integrado de Alimentação e Nutrição -PINA, o qual, lançou a estrutura da multisetorialidade em planejamento nutricional, posto que tinha componente igual de saúde, educação e produção de alimentos em sua programação. Este programa obteve um largo espaço na tônica do populismo de então e teve como reforço da vertente educacional, o método Paulo Freire, a cargo da Fundação Nacional de Serviços de Saúde Pública - FSESP, em convênio com as secretarias de saúde e agricultura do estado. O êxito desse programa no estado atraiu a atenção da FAO a ponto de proporcionar viagem da nutricionista coordenadora à Colômbia com objetivo de divulgá-lo. Deste intercambio a idéia do PINA foi disseminada por todo o continente latino-americano e posteriormente na Ásia e África. Na América Central, além do apoio da Food and Agriculture Organization -FAO, a idéia do programa foi também fortalecida pelo UNICEF através do Instituto de Nutrición de Centro América y Panamá -INCAP. Outra atividade da década de sessenta foi a ajuda alimentar que a Aliança para o Progresso. Em 1961 foi assinado o tratado desta ALP em Punta del Este. Mantiveram-se os programas de assistência técnica, já existentes no Brasil introduzindo-se o de assistência financeira sob a forma de empréstimo e doações que (Rev. Educ. e Sociedade, 9/80, p. 8) desencadeou-se na América Latina com a distribuição do excedente da produção americana. A lei 480 de 1954 (Agricultural Trade Development and Assistance Act) estabeleceu as 2
3 normas para esses excedentes. Vale salientar que esta atividade não é entendida como programa de nutrição já que caracterizava-se com simples doação de alimentos (leite em pó, açúcar, óleo e farináceo), às populações pobres, sem a observância de critérios nutricionais e/ou educativos. Ocorreu ainda em meados daquela década uma baixa de produção de cereais na Índia e na União Soviética que foi sucedida em pela chamada revolução verde, expressa numa super produção de alimentos. Em seguida, verificou-se outra grande baixa de produção que culminou com a seca mundial de 72 deflagrando-se paralelamente à crise energética do petróleo e mega desvalorização do dólar pelo embargo do petróleo árabe, provocando sérias implicações para os países importadores desse combustível e exportadores de cereais, afetando conseqüentemente a disponibilidade de alimentos no mundo. Essas altas e baixas na produção de alimentos despertou a atenção internacional tendo o Congresso norte americano anunciado uma grande crise de alimentos para a década seguinte, o que provocou a convocação da I Conferencia Mundial de Alimentos, pela FAO (Roma, 1974). Desta conferencia resultou um novo item a compor as políticas de nutrição: a Vigilância Alimentar e Nutricional que deve funcionar como sistema de alarme precoce, detectando e informando a tendência das carências nutricionais a disponibilidade de alimentos, evitando assim a ocorrência de outras crises de excedente e escassez de alimentos. E assim, no contexto internacional, a situação nutricional para os países desenvolvidos é tratada politicamente em cada década, sempre ao nível de atenuação dos danos e não dos seus determinantes econômicos, o que reforça a observação de que as políticas de nutrição no terceiro mundo têm-se caracterizado em estratégias que o Estado utiliza para contornar a questão nutricional. A experiência brasileira em programas oficiais de alimentação e nutrição de caráter nacional anteriores ao PRONAN (Programa Nacional de Alimentação e Nutrição) foram: 1) SAPS (Serviço de Abastecimento da Previdência Social) que surgiu em 1955 no governo Café Filho, promovendo o abastecimento básico de alimentos aos previdenciários a baixo custo e contribuindo na formação de recursos humanos em nutrição com a promoção de cursos de dietistas no Rio de Janeiro. A partir de 26 de setembro de 1962, pela Lei delegada n0 6, o SAPS foi transformado na Companhia Brasileira de Alimentos (COBAL), empresa que exerce atividade de 3
4 abastecimento de baixo custo através de supermercados destinados a população geral. 2) O SNME (Serviço Nacional de Merenda Escolar), criado pelo Dec. Nº de 31/03/1955 ainda no governo Café Filho, fazia a suplementação da alimentação do escolar, inicialmente através da doação de alimentos do FISI e acordo ponto IV com os excedentes da produção americana até O congresso americano neste ano resolveu suspender essas doações com o argumento de que o Brasil já produzia o suficiente a ponto de ter ganhado daquele país uma concorrência de exportação de soja A partir de então os alimentos destinados à merenda escolar são supostamente de origem nacional. Em 1967, o SNME passou a denominar-se CNAE (Campanha Nacional de Alimentação Escolar), a qual continuava a desenvolver em caráter permanente a suplementação alimentar de escolares. Todavia a CNAE transformou-se em dezembro de 1981 com a criação do Instituto Nacional de Assistência ao Educando (INAE), o qual incorporou a mesma atividade de então, através do CNAE que compunha a linha de suplementação alimentar do PRONAN. Com o surgimento do INAN (Instituto Nacional de Alimentação e Nutrição) em 1973, durante o governo Médici, a nova linha de programa de nutrição a se estabelecer em 1976 e que prevaleceu até 82 foi o PRONAN. O surgimento desse órgão guarda relação com o novo interesse mundial pela nutrição, financiado a partir do final dos anos sessenta que se ilustra com a criação da comissão de nutrição da ONU por U Than e a ênfase desenvolvida pelo Banco Mundial através de Robert Mc Namara, estimulando a criação e o fomento de organismos que se destinassem às políticas de nutrição no terceiro mundo. O PRONAN, conforme seu documento base, pretendia contribuir para melhoria nutricional das populações de risco social ou biológico através de intervenções específicas em quatro linhas de ação, a saber: Suplementação alimentar a gestantes, nutrizes e crianças (em caráter emergencial e transitório). Apoio ao pequeno produtor em áreas de baixa renda Programa de atividades de apoio. Ex: adição de soja à farinha de trigo Incentivo à alimentação do trabalhador 4
5 Com estas ações o PRONAN é a tentativa inovadora no Brasil de um programa de alimentação e nutrição, de caráter multisetorial. A lógica desse programa é a de que a suplementação alimentar, deve ser transitória, uma proteção específica aos grupos populacionais mais vulneráveis cujo suporte é a linha de apoio à produção ao pequeno produtor. Esta, a grande atuação do programa posto que 70% da produção de alimentos básicos no Brasil são produzidos por essa categoria com garantia dos incentivos da compra e da comercialização antecipada dos seus produtos pela COBAL, a qual repassaria os excedentes para a linha de suplementação. Outra linha cria mecanismos de incentivo à alimentação do trabalhador nas indústrias e posteriormente aos bóia-fria do campo. Numa quarta linha desenvolve atividades no campo da tecnologia para o enriquecimento de alimentos básicos. Tais como medidas de proteção específicas no combate às carências nutricionais de grande prevalência e incentivos à pesquisa nutricional na investigação das características do problema nutricional brasileiro e suas alternativas. Na formação de recursos humanos, o objetivo mais amplo da educação nutricional da população que fomentou a grande escalada de cursos de nutrição no país após, 1975, quando haviam apenas sete cursos e em 1983 já somavam trinta. A política de nutrição a nível internacional tem sido objeto de vários estudos., A partir de Alan Berg In: (The Nutrition Factor, 1973) e Marcelo Selansky (Malnutrition and Porverty, 1976), em análises sob diferentes enfoques, abordam a natureza dessa política e as alternativas necessárias para a compreensão e o combate à má-nutrição. Com quase uma década, os programas de alimentação e nutrição estão pouco avaliados em suas distintas dimensões. Yony Sampaio em seu estudo Políticas de Alimentação e Nutrição: uma revisão de tópicos, 1980 assinala que Ressente-se no Brasil de uma avaliação das políticas implementadas. Os demais trabalhos dizem respeito a avaliações isoladas de sub-programas como o PNS e o PAT. Projeto de pesquisa da autora deste trabalho analisa as pretensões e as práticas desse programa e a relação dessas práticas com a problemática nutricional, na população do Rio Grande do Norte. Até que ponto o PRONAN ao se propor a dar uma resposta de dimensão proporcional à extensão social do problema da desnutrição, destina ações que transformem a estrutura que a determina. O I PRONAN teve sua vigência programada para o período de 1976 até O programa continua em atuação, embora não se tenha conhecimento de uma 5
6 avaliação geral do mesmo nem de documento oficial instituindo um II Programa. Informalmente, o atual programa conduz a problemática nutricional ao nível de proteção especifica, através de suplementação a escolares e a famílias de baixa renda através do PNS e PROAB. Em nível de diagnostico, com o incentivo à pesquisa e a tecnologia nutricional e ao nível de reabilitação com tratamento de desnutridos graves a domicilio. Diante desta perspectiva a política de nutrição no Brasil se caracteriza por uma condução explicita de estratégias para atenuar os danos da desnutrição, aliviar as tensões da população com a suplementação alimentar e o tratamento das formas graves, sem enfrentar seus reais determinantes: 1) a má distribuição de renda 2) o não acesso aos alimentos básicos 3) precariedade da educação nutricional da população 4) desarticulação da política de crédito e preço dos alimentos básicos com a política renda, tendo ainda como causas associadas, as Políticas Habitacional, de Saúde e de Educação. Considera-se que a situação nutricional da população deve ser objeto do planejamento econômico. Com metas nutricionais específicas do seu desenvolvimento populacional, menos à lógica da produção capitalista imbuída pela teoria de investimento no capital humano. O que implica em decisão política de intervenções multisetoriais ao enfrentamento desses deteminantes à questão nutricional do país como um todo. 6
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