Londrina, 29 a 31 de outubro de 2007 ISBN
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- Sebastiana Bayer Salazar
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1 CORRELAÇÃO ENTRE RESPIRAÇÃO ORAL E DISTÚRBIO DE LEITURA ESCRITA EM CRIANÇAS DE SEGUNDA E TERCEIRA SÉRIE Maquielli Salanti Universidade Estadual do Centro-Oeste Patrícia Aspilicueta - Universidade Estadual do Centro-Oeste INTRODUÇÃO Um padrão correto de face depende da boa relação entre os órgãos fonoarticulatórios (lábios, língua, bochechas, dentes, oclusão) e do desempenho correto das funções estomatognáticas (respiração, sucção, deglutição, mastigação e fonação). A respiração nasal é dos fatores que contribui para a saúde e o bem estar de uma pessoa. Segundo Gurfinkel (2004) ela fornece energia ao organismo, favorece na purificação do sangue, auxilia na comunicação verbal (fonação) e permite a nossa sobrevivência. Marchesan (1998) afirma que deixar de respirar pelo nariz para respirar pela boca provoca diversos prejuízos ao ser humano. Para Felício (1999), a respiração nasal auxilia no desenvolvimento das estruturas faciais, assessorando no vedamento labial e posição correta da mandíbula em repouso, assim como no correto posicionamento da língua dentro da cavidade oral. Na presença de uma obstrução ou inadequação em alguma das funções do nariz, o indivíduo pode ter sua respiração e seu estilo de vida prejudicados. Isso se deve a causas do tipo: obstruções nasais, faríngeas, desvio de septo, dificuldade de vedamento labial, entre outros. A respiração oral pode ser apenas um mau-hábito do indivíduo, entretanto pode ter uma causa orgânica. A respiração oral ainda traz consigo diversas características associadas aos indivíduos que a portam, as quais podem acabar por prejudicar o desenvolvimento facial, assim como provocar até alterações estéticas. Autores como Freitas e Matsumoto (2002/2003) e Marchesan (1994; 1998) descreveram tais características, destacando as principais como: sorriso gengival, lábio superior hipertônico e inferior flácido, mandíbula caída e língua anteriorizada, entre outros. Diversas conseqüências também podem aparecer em indivíduos com respiração oral, dentre elas estão as descritas por Marchesan (1998), que cita cansaço rápido em atividades de esforço físico, noites mal dormidas, boca seca, má-oclusão dentária, entre outros. Além disso, estes aspectos podem vir a levar o indivíduo a apresentar sonolência durante o dia, ou mesmo, hiperatividade, prejudicando sua vida diária. No caso de crianças, este hábito poderá prejudicar seu desempenho escolar como conseqüência da sonolência, hiperatividade ou até mesmo dificuldade em prestar atenção. Junqueira (2004) coloca que tudo isso pode ocorrer dependendo do indivíduo e da genética de cada um, assim como da etiologia causadora da obstrução nasal. A respiração oral pode prejudicar o bem estar físico do indivíduo, como também seu estado de saúde geral. Zorzi (1996) afirma que alterações de saúde podem prejudicar qualquer tipo de aprendizado, dentre os quais abarcam o da leitura e o da escrita, que são fundamentais para que a criança, nos dias de hoje, tenha um futuro melhor. A respiração oral pode ser considerada um problema de saúde, o qual é capaz de comprometer a vida escolar de uma criança, é possível suspeitar que uma criança respiradora oral possa apresentar uma maior dificuldade na escola, pois a sonolência causada por noites mal dormidas, a hiperatividade, a irritação, o cansaço fácil em atividades físicas, a falta de apetite ou a obesidade e a respiração ruidosa prejudicarão a vida social e acadêmica da criança.
2 Assim, uma criança que não apresenta estas características tem maiores chances de desenvolver com melhor condição o seu aprendizado, levando em consideração a não existência de outra causa de distúrbio de leitura escrita associada. Em contraponto, Azcoaga apud Sacaloski, Alavarsi e Guerra (2000) afirma que mesmo que a criança tenha um padrão correto de respiração, ela poderá apresentar um distúrbio de aprendizagem de origem genética, lesão cerebral e/ou alterações do desenvolvimento. Existem vários outros contextos que são causas fundamentais para desencadear um distúrbio de leitura escrita. McCarthy apud Fonseca (1995) afirma que a etiologia mais freqüente dos distúrbios de aprendizagem são: hiperatividade; problemas psicomotores; labilidade emocional; problemas gerais de orientação; desordens de atenção; impulsividade; desordens na memória e raciocínio; dificuldades específicas de aprendizagem (dislexia, disgrafia, disortografia e discalculia); problemas de audição e de fala; sinais neurológicos ligeiros e equívocos e irregularidades no eletroencéfalograma. Algumas alterações de aprendizagem podem ser devidas às diferenças entre ideologias e valores do indivíduo com o meio escolar que provocam a não identificação do aluno com o meio e com as metodologias utilizadas no processo de ensino (TEDESCO apud SACALOSKI, ALAVARSI e GUERRA, 2000 ). Tedesco (2005) relata que somente a identificação das manifestações de alterações de leitura e escrita não são suficientes para um suposto distúrbio. Para a autora, a avaliação da linguagem é imprescindível. Pode-se utilizar na avaliação conversa espontânea, jogos e atividades gráficas promovendo maior descontração e possibilitando melhor execução de provas formais, quando necessárias. Mousinho (2003) afirma que é através de um processo lingüístico complexo que se dá a aquisição da leitura e da escrita, logo, uma dificuldade pode fazer parte de uma deficiência na composição e organização da linguagem em geral. Levando em consideração o que foi relatado no decorrer do texto, o distúrbio de leitura escrita pode, ou não, ser conseqüência da respiração oral. Portanto, o trabalho foi realizado para verificar os índices e a relação existente entre ambas as patologias. Assim, puderam ser comparadas as avaliações e os resultados obtidos, verificando-se a quantidade de erros apresentados por criança e por grupo respiratório, assim como analisar se existe uma relação evidente que mostre uma ligação entre a dificuldade em leitura e escrita e a respiração oral. Nesse sentido, a presente pesquisa teve como objetivo correlacionar a presença de respiração oral e distúrbio de leitura escrita em escolares de 2ª e 3ª série de uma escola do interior do Paraná. MÉTODO Participantes Crianças de uma turma de 2ª e de uma turma de 3ª série do ensino fundamental de uma escola de Irati. O número total de crianças nessas turmas é de aproximadamente 40 (quarenta), sendo cada turma composta por cerca de 20 (vinte) alunos. Dentre as 40 crianças, estas foram divididas em 2 (dois) grupos respiratórios: as respiradoras orais e as respiradoras nasais. Destas foram sorteadas, através de sorteio simples, apenas 12 (doze) crianças, sendo 6 respiradoras orais e 6 respiradoras nasais. Cada grupo foi composto por 3 meninas e 3 meninos, com faixa etária entre 7 e 10 anos, sendo que a média de idade dos respiradores orais foi de 8,5 anos, e a média de idade dos respiradores nasais foi de 8,3 anos. Com relação às séries dos participantes, dos respiradores orais 5 (cinco) encontravam-se na segunda série e
3 1 (um) na terceira série, já dos respiradores nasais 4 (quatro) encontravam-se na segunda série e 2 (dois) na terceira série. Local Escola Municipal Pequeno Duque, localizada na região central da cidade de Irati, a qual contém cerca de habitantes e está localizada no interior do Paraná, na região central do estado, cercada de florestas de araucárias. A escola tem cerca de 700 alunos no total e abarca o ensino fundamental e médio, sendo que o primeiro segmento do ensino fundamental é municipal e o restante é estadual. O período de realização da pesquisa foi entre os meses de junho à agosto de Procedimentos Primeiramente foram obtidas as autorizações da escola e dos pais para a participação das crianças no projeto. Dentre as crianças que foram autorizadas, foi realizada, na própria escola, uma triagem para identificar quais crianças possuiam respiração oral. Para isso o material utilizado foi o espelho milimetrado de Altmann e observação da pesquisadora dentro de sala de aula. A prova foi realizada dentro de sala de aula com a presença de todos os alunos. Cada criança que realizou a avaliação foi orientada pela pesquisadora sobre como teria que permanecer. A criança ficou sentada em uma cadeira com a coluna ereta, observando um clip de algumas figuras expostas em um notebook. Foi solicitado à criança para que prestasse atenção nas figuras e contasse quantas vezes aparecia uma certa figura no clip. Enquanto isso, a pesquisadora colocou o espelho milimitrado de Altmann em algumas partes do corpo da criança, dentre estas partes, o nariz, pois se o espelho fosse colocado diretamente no nariz a criança poderia ser induzida a respirar pelo nariz, mascarando os resultados, já que as crianças que respiram pela boca apenas por hábito e não por obstrução nasal poderiam acabar por serem desconsideradas. Os resultados foram marcados em um protocolo. Foram consideradas crianças portadoras de respiração oral aquelas que embaraçaram muito pouco e aquelas que não embaçaram o espelho, confirmando-se tal dado a partir de observações em sala de aula. Depois de realizada a triagem de respiração, as crianças foram divididas em 2 grupos, as respiradoras orais (GI) e as respiradoras nasais (GII). Desses grupos, foram selecionadas todas as respiradoras orais e o mesmo número de respiradoras nasais, sorteadas através de sorteio simples, para que estas realizassem avaliação de leitura-escrita. Para avaliação de leitura-escrita foram utilizados também os protocolos nos quais as crianças realizaram as atividades propostas. Dentre as atividades que cada criança teve que realizar estavam leitura de um texto (Coellho Cambalhota), o qual foi lido em voz alta e em seguida contado à pesquisadora o que entendeu sobre o texto, e outro (As travessuras de Afonsinho) que a criança leu silenciosamente e respondeu à questões relacionadas. Os textos escolhidos foram selecionados por apresentarem linguagem acessível e serem de interesse para as crianças. Quanto à escrita, o protocolo era composto de escrita semi-espontânea, ditado de palavras isoladas e frases (proposto por Zorzi, 1998), cópia de letras, palavras, frases e parte de um texto. As letras, palavras, frases e textos escolhidos para que a criança realizasse a cópia foram escolhidos de acordo com o balancemento dos fonemas, tentando colocar nestas palavras todos ou a maior parte dos fonemas presentes em nossa língua. A digitação das palavras em minúsculas e maiúsculas foi proposital para poder analisar o tipo de letra que a criança iria utilizar, assim como também foi proposital a ausência de linhas em parte das
4 atividades para se poder avaliar a disposição das palavras no papel. Além das atividades propostas foram considerados os cadernos das crianças, os quais a pesquisadora examinou. Para análise dos dados, foram utilizadas as propostas de Capellini (2000) e Condemarim e Blonquist (1989) para as provas de leitura e de Oliveira (2002) para a análise da escrita. Depois de colhidos os resultados, foi realizada uma comparação entre os grupos para verificar se as crianças respiradoras orais apresentavam índice maior, menor ou igual de dístúrbio de leitura-escrita do que as crianças respiradoras nasais. Além disso, realizou-se a comparação das crianças em cada tipo de erro através de gráficos. Após a conclusão da pesquisa, foi proposta à escola uma reunião convidando os pais das crianças diagnosticadas com respiração oral e/ou com distúrbio de leitura-escrita, para que possam ser discutidas possíveis causas e conseqüências, além das relações entre respiração oral e aprendizagem e serem feitos os encaminhamentos pertinentes. A presente pesquisa norteia-se pelas diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos, em conformidade à Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. O projeto de pesquisa foi analisado e considerado aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Estadual do Centro Oeste RESULTADO Os erros apresentados em todos os aspectos da leitura mostram que, de uma forma geral, as crianças respiradoras orais demonstraram maior dificuldade em leitura (em média, cometeram 34% dos erros) do que as crianças respiradoras nasais (em média, cometeram 30% dos erros). Os erros que foram na maior parte cometidos pelas crianças respiradoras orais, são: Substituição de grafemas; Omissão de vogal; Leitura de palavras inventadas; Tipo de leitura, sendo a maior parte leitura silabada; Velocidade lentificada de leitura silenciosa; Maior tempo para leitura oral; Tipo de leitura, sendo a maior parte a alfabética. No entanto, cabe destacar que mesmo quando o grupo de respiradores orais cometia, em média, maior quantidade de erros, sempre havia uma ou mais alunos que cometeram poucos ou nenhum erro daquele tipo. Já as crianças respiradoras nasais, que num parâmetro geral tiveram um percentual menor de erros na leitura quando considerados todos os tipos de erros juntos, erraram mais nos seguintes tipos de erros: Omissão de consoantes; Transposição de grafemas; Ausência de entonação; Ausência de fluência na leitura; Nenhuma compreensão da leitura silenciosa. O erro do tipo adição de grafemas teve valor igual em ambos os grupos. Fazendo uma síntese dos erros cometidos pelos alunos em relação à escrita, é possível notar que o maior percentual de erros, independente de quantidade, deu-se entre os respiradores nasais, entretanto, a maior quantidade de erros foi cometida pelas crianças respiradoras orais, assim como a maior variedade de erros também foi cometida pelos respiradores orais, pois
5 dos 19 tipos de erros analisados, estes cometeram, na maioria, 9 tipos de erros. Comparandose então ambos os grupos, os erros na escrita que apareceram na maioria das vezes pelos respiradores orais (variedade) foram: Falta de sinais de pontuação; Troca de letras surda/sonora; Troca de letras por representações múltiplas; Troca de letras por apoio na oralidade; Omissão de sílabas; Aglutinação de palavras; Troca de am por ão; Confusão de letras de formas parecidas; Ausência de letras maiúsculas. Quanto a variedade de erros que tiveram maior incidência entre as crianças respiradoras nasais encontraram-se: Falta de acentuação nas palavras; Substituições de sílabas; Inversão de letras; Omissão de letras; Acréscimo de letras ou sílabas; Generalização de regras; Outros; Ausência de palavras. O erro do tipo repetição de sílabas foi cometido por igual entre os grupos e o erro 12, substituição de palavras por outras, não foi cometido por nenhum aluno. DISCUSSÃO Com base nas avaliações e apresentação dos resultados a respiração oral parece ser um fator que pode contribuir para acentuar o fracasso escolar, demonstrando as dificuldades encontradas. Evidencia-se, no entanto, outros processos que estão envolvidos na aprendizagem, não se estabelecendo uma relação direta entre a respiração oral e as dificuldades escolares. Na pesquisa notou-se que as crianças respiradoras orais obtiveram maior quantidade (números) e variedade de erros tanto na leitura quanto na escrita. Quanto aos percentuais de erros, ou seja, se a criança cometeu ou não cometeu determinado tipo de erro, independente de quantidade, na leitura foi maior nos respiradores orais, entretanto na escrita o maior percentual se deu entre os respiradores nasais. Quando a criança deixa de respirar pelo nariz e começa a respirar pela boca, há uma diminuição da quantidade de oxigênio que entra pelo nariz, pois se o mesmo entrar pela boca, este vai estar deixando de passar pela tuba auditiva, o que vai diminuir a pressão dentro da mesma, prejudicando o aproveitamento dos sons que por ali vão passar. Santos et al (2005) relatam que a tuba auditiva é um canal que estabelece a ligação entre a cavidade timpânica e a nasofaringe, com comprimento de 35 a 38 mm numa pessoa adulta. A tuba auditiva é formada por tecido ósseo (1/3) e em parte por tecido cartilaginoso (2/3) e tem como função manter o equilíbrio das pressões de ar entre a orelha média e a orelha externa propiciando a renovação de ar da cavidade timpânica, todas as vezes que ocorre a deglutição.
6 A diminuição do aproveitamento do oxigênio promove maior necessidade de esforço respiratório, principalmente durante os exercícios físicos. Levando isto em consideração, pode ocorrer interferência no raciocínio, no humor, na saúde geral, podendo levar a criança a uma dificuldade maior na escola (FREITAS e MATSUMOTO, 2002/2003). Pois se para que aconteça o processo perceptual auditivo é necessária a detecção do som, torna-se fundamental que as estruturas responsáveis pela transmissão e recepção destes estímulos auditivos estejam em plena integridade, ou seja, orelha externa, média e interna encontrem-se em integridade morfofisiológica. Qualquer alteração orgânica em algumas destas estruturas poderá implicar em informações incorretas, distorcidas ou alteradas sobre os fonemas recebidos (RUSSO e SANTOS, 1994). Portanto a grande diferença de erros apresentada pelos respiradores orais no desempenho em substituição de grafemas na leitura, apresentada no gráfico 4, pode ser advinda ao relatado acima. Tedesco (2005) afirma que as trocas, omissões ou inversões grafêmicas podem ocorrer por natureza auditiva, visual ou mesmo de fala. Portanto, as dificuldades maiores, na escola, dos indivíduos respiradores orais podem ser causadas pela dificuldade de atenção, pela dificuldade em diferenciar os fonemas (via auditiva), causando assim, um tempo maior para a leitura, além de omissão de letras e falta de sinais de pontuação, entre outros, podendo estes serem causados também por problema de via auditiva. No entanto, tanto crianças respiradoras orais, quanto respiradoras nasais obtiveram erros em grande quantidade na leitura e na escrita, podendo caracterizar um distúrbio de leitura escrita com outras causas diferentes da respiração oral, e como já foi citado no decorrer do trabalho mesmo que a criança tenha um padrão correto de respiração, ela poderá apresentar um distúrbio de aprendizagem de origem genética, lesão cerebral e/ou alterações do desenvolvimento (AZCOAGA apud SACALOSKI, ALAVARSI e GUERRA, 2000). Portanto, a respiração oral pode não ser um fator determinante para provocar um distúrbio ou dificuldade de aprendizagem, já que o segundo pode ter muitos outros fatores que o influenciam, haja vista que não foi determinante para todos os alunos, pois houve alunos respiradores orais que não apresentaram muitos erros (aluno F) e alunos respiradores nasais que apresentaram muitos erros (aluno G). Assim, parte da dificuldade apresentada pelas crianças pode ser originada por problemas pedagógicos da escola, assim como dependentes do processo de aquisição da leitura e da escrita, que pode ter variações de criança para criança. Segundo Zorzi (1998) o processo de construção do conhecimento leva-nos a crer que os erros fazem parte de um processo de aprendizagem, não tendo, a princípio, um caráter patológico, como muitas vezes se faz pensar. Os erros fazem parte da aquisição e são produzidos por todas as crianças. A diferenciação do normal para o patológico deve ser observada pela quantidade e pela freqüência de aparecimento dos erros. Tanto as respiradoras orais, quanto as nasais, poderão apresentar um problema patológico de leitura escrita, entretanto é importante observar se não está ocorrendo apenas um processo mais lento de aprendizado e no caso de respiradores orais, verificar se a respiração oral não está interferindo neste processo, observando o sono da criança, sua alimentação, atenção na escola, assim como, o comportamento da criança. É importante ainda, verificar as causas da respiração oral, encaminhar as crianças para avaliação e conduta otorrinolaringológica, tratá-las e então reestabelecer a respiração nasal, para assim verificar se as dificuldades das crianças vão estar sendo sanadas ou diminuídas.
7 Tendo em vista que o número de crianças foi pequeno em cada grupo, torna-se difícil uma comparação entre ambos, entretanto a comparação foi realizada buscando explorar o máximo possível. Cada gráfico e tabela apresentado mostrou e comparou os grupos de respiradores orais e nasais. Em certos itens houve diferenças grandes entre os grupos, em outros a diferença foi pequena. Tiveram mais itens que se destacaram os erros apresentados pelos respiradores orais, assim como tiveram itens que os respiradores nasais tiveram um maior destaque. Conclui-se, portanto que a respiração oral não é determinante para causar uma maior dificuldade escolar, visto que a criança que apresentou o menor índice de erros, tanto na leitura quanto na escrita, é respiradora oral. E, embora, a criança que apresentou maior índice de erros na leitura também seja respiradora oral, a que apresentou maior índice de erros na escrita é respiradora nasal. Portanto é incorreto afirmar que todas as crianças respiradoras orais apresentam dificuldade escolar. Embora haja crianças respiradoras orais que apresentam dificuldades na escola, também há crianças respiradoras nasais que apresentam dificuldades na escola. Entretanto a comparação realizada entre os grupos foi de grande valia, mostrando assim características de cada um dos grupos analisados, e provando que não se pode afirmar que toda criança respiradora oral terá dificuldades de aprendizagem, assim como, foi possível observar que entre as crianças respiradoras nasais há crianças com e sem indicativo de dificuldades. E ainda o fato de ter se constatado a presença de erros na leitura e na escrita em ambos os grupos, colabora no conceito de que os erros fazem parte da aquisição normal da linguagem escrita. Ficam as perguntas: será que se as crianças que tiveram dificuldades de leitura e escrita e são respiradoras orais, depois de tratarem as causas da respiração oral e voltarem a estabelecer a respiração nasal, vão ter suas dificuldades escolares amenizadas? E será que as dificuldades apresentadas pelos respiradores orais podem ser advindas de problemas por via auditiva? Estes são temas que podem ser discutidos em futuras pesquisas. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CAPELLINI, S. A. Avaliação do nível de leitura em crianças leitoras proficientes. In: CAPELLINI, S. A. (org) Livro da VI jornada de fonoaudiologia Dra. Célia Maria Giacheti. Marília: UNESP, p CONDEMARÍN, M.; BLONQUIST, M. Dislexia: manual de leitura corretiva. 3 ed. Porto Alegre: Artes médicas, FELÍCIO, C. M. Fonoaudiologia aplicada a casos odontológicos: motricidade oral e audiologia. São Paulo: Pancast, FREITAS, M. V.; MATSUMOTO, M. A. N. Incidência de más oclusões dentárias em pacientes respiradores bucais In: MARCHESAN, I.; ZORZI, J. L. Tópicos em fonoaudiologia. Rio de Janeiro: Revinter, 2002/2003. p FONSECA, V. Introdução às dificuldades de aprendizagem. 2 ed. Rio de Janeiro: Artmed, GURFINKEL, V. K. Respiração oral: propostas de terapia In: COMITÊ DE MOTRICIDADE OROFACIAL SBFA. Motricidade orofacial: como atuam os especialistas. Comitê de Motricidade Orofacial SBFA. São José dos Campos: Pulso, p JUNQUEIRA, P. Respiração oral: fonoterapia para adultos e crianças In: COMITÊ DE MOTRICIDADE OROFACIAL SBFA. Motricidade orofacial: como atuam os especialistas. São José dos Campos: Pulso, 2004.p
8 MARCHESAN, I. Q. O trabalho fonoaudiológico nas alterações do sistema estomatognático In: MARCHESAN, I. Q.; BALAFFI, C.; GOMES, I. C. D.; ZORZI, J.L. Tópicos em fonoaudiologia. São Paulo: Lovise, p MARCHESAN, I. Q. Fundamentos em fonoaudiologia: aspectos clínicos da motricidade oral. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, MOUSINHO, R. Desenvolvimento da leitura e escrita e seus transtornos In: GOLDFELD, M. Fundamentos em fonoaudiologia: linguagem. 2ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, p OLIVEIRA, G. C. Psicomotricidade: educação e reeducação num enfoque psicopedagógico. 6 ed. Rio de Janeiro: Vozes, RUSSO, I. C. P.; SANTOS, T. M. M. Audiologia infantil. 4 ed. São Paulo: Cortez, SACALOSKI, M.; ALAVARSI, E.; GUERRA, G.R. Distúrbio do aprendizado da leitura e da escrita. In:. Fonoaudiologia na escola. São Paulo: Lovise, p TEDESCO, M. R. M. Diagnóstico e terapia dos distúrbios do aprendizado da leitura e da escrita In: FILHO, O. L. Tratado de fonoaudiologia. 2ed. São Paulo: Tecmedd, p ZORZI, J. L. Dislexia, distúrbios da leitura-escrita...de que estamos falando? In: MARCHESAN, I.Q.; ZORZI, J. L.; GOMES, I. C. D. Tópicos em fonoaudiologia. v III. São Paulo: Lovise, p ZORZI, J. L. Aprender a escrever: a apropriação do sistema ortográfico. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
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