ECLI:PT:TRE:2014: YREVR
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- Olívia Brandt Paranhos
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1 ECLI:PT:TRE:2014: YREVR Relator Nº do Documento António M. Ribeiro Cardoso Apenso Data do Acordão 28/04/2014 Data de decisão sumária Votação decisão do vice-presidente Tribunal de recurso Processo de recurso Data Recurso Referência de processo de recurso Nivel de acesso Público Meio Processual Decisão Conflito Negativo De Competência Indicações eventuais Área Temática Referencias Internacionais Jurisprudência Nacional Legislação Comunitária Legislação Estrangeira Descritores liquidação em execução de sentença; tribunal competente; sentença penal; Página 1 / 5
2 Sumário: O tribunal criminal que condenou no pagamento da indemnização cível a liquidar posteriormente, é o competente para processar e conhecer do incidente de liquidação, renovando-se a instância no enxerto cível Decisão Integral: No processo comum (tribunal singular) nº 469/10.5GTABF do 2º juízo criminal da comarca de Portimão, foi deduzido pedido de indemnização cível, tendo a demandada Companhia de Seguros, S. A. sido condenada a pagar à demandante E a quantia que se vier a liquidar em execução de sentença, a título de danos patrimoniais sofridos até à consolidação das lesões. Após trânsito, deduziu a demandante, no processo e tribunal referidos, o incidente de liquidação de sentença. A demandada deduziu oposição. Proferiu então a Mmª Juíza despacho indeferindo liminarmente a petição, nos seguintes termos: Vem a demandante E deduzir incidente de liquidação de sentença, ao abrigo do disposto nos artigos 47, n.ºs, 661, n.º 2, 378, nº. 2 do Código de Processo Civil contra a Companhia de Seguros. Ora, segundo o disposto no artigo 82, n.º 1, do Código de Processo Penal Se não dispuser de elementos bastantes para fixar a indemnização, o tribunal condena no que se liquidar em execução de sentença. Neste caso, a execução corre perante o Tribunal civil, servindo de título executivo a sentença penal. Daqui se retira, que a competência para tramitar tal incidente pertence aos Tribunais civis. Destarte, declinando a competência deste tribunal para conhecer da matéria versada nos autos, porquanto consideramos que o presente incidente deve ser dirimido pela 1ª instancia dos Tribunais de competência civil, ao abrigo do artigo 66, 96, 101º, 102, 103 e 105, todos do Código de Processo Civil, indefiro liminarmente a petição inicial. Notifique. Notificada deste despacho, e invocando os arts. 105º, nº 2 e 33º do CPC, requereu a demandante a remessa dos autos ao tribunal competente no sentido de aproveitar os articulados. Notificada, a demanda não se opôs. Remetidos os autos aos juízos cíveis de Portimão e após a distribuição, proferiu a Mmª Juíza do 1º juízo cível despacho declarando igualmente a incompetência material do tribunal cível, entendendo caber a competência para a liquidação ao juízo criminal que proferiu a sentença liquidanda, e absolvendo a demandada da instância. Transitadas em julgado ambas as decisões, requereu a demandante que fosse suscitada oficiosamente a resolução do conflito. Recebidos os autos neste tribunal foi cumprido o estabelecido no art. 112º, nº 1 do CPC, tendo apenas a Ex.mª Srª Procuradora-Geral Adjunta junto deste tribunal se pronunciado e no sentido da competência caber ao juízo criminal que proferiu a sentença em liquidação. Decidindo. Antes das alterações ao Código de Processo Civil introduzidas pelo DL 38/2003 de 8/03, a liquidação podia ser feita de duas formas ou, mais propriamente, em dois momentos. O primeiro, nos termos do art. 378º a 380º (antes de começar a discussão da causa, sendo discutida e julgada Página 2 / 5
3 com a causa principal) e o segundo, no processo executivo, iniciando-o, nos termos dos arts. 805º a 810º, observando-se, no caso de contestação ou revelia inoperante, os termos do processo sumário de declaração. Com o DL 38/2003 a liquidação continuou a fazer-se de duas formas, mas não já em função do momento, mas do título executivo. Assim, tratando-se de acção declarativa com pedido genérico, quando este se referia a uma universalidade ou às consequências de um facto ilícito [art. 471º, nº 1, als. a) e b)], a liquidação continuou a ter lugar antes de começar a discussão da causa, como até então [art. 378º, nº 1], mas permitiu-se que pudesse ser ainda deduzida depois de proferida a sentença de condenação genérica, caso em que, sendo admitida, a instância extinta [com o julgamento art. 287º, al. a)] se consideraria renovada [art. 378º, nº 2] e, sendo contestada a liquidação ou sendo a revelia inoperante, seguir-se-iam os termos do processo sumário de declaração [art. 380º, nº 3], tudo se processando, obviamente, no próprio processo de declaração, cuja instância, como se referiu e nos termos legais, se consideraria renovada. Tratando-se de título executivo diverso da sentença e não dependendo a liquidação de mero cálculo aritmético, a liquidação continuou sendo feita, como até então, no processo executivo, iniciando-o, e, sendo deduzida contestação ou sendo a revelia inoperante, observando-se o disposto nos nºs 3 e 4 do art. 380º, mas no próprio processo executivo [art. 805º, nºs 4 e segs.]. Este regime foi mantido no actual CPC (aprovado pela Lei 41/2013 de 26/6), nos arts. 358º e 716º, nºs 3 e 4 (com excepção da referência ao processo sumário de declaração que passou a ser do processo comum declarativo art. 360º, nº 3 do CPC). Acresce que o art. 704º, nº 6 do CPC ora em vigor, estabelece que tendo havido condenação genérica, nos termos do n.º 2 do artigo 609.º, e não dependendo a liquidação da obrigação de simples cálculo aritmético, a sentença só constitui título executivo após a liquidação no processo declarativo, sem prejuízo da imediata exequibilidade da parte que seja líquida e do disposto no n.º 7 do artigo 716.º. É clara a referência neste preceito ao facto da liquidação dever ser feita no processo declarativo, liquidação da qual depende, inclusive, a sua exequibilidade, rectius, a sua qualidade e classificação como título executivo. É certo que o art. 716º, nº 5 do CPC ora vigente, dispõe, diferentemente do que estabelecia o diploma precedente, que o disposto no número anterior (nº 4) é aplicável às execuções de decisões judiciais ou equiparadas, quando não vigore o ónus de proceder à liquidação no âmbito do processo de declaração, bem como às execuções de decisões arbitrais, ou seja, a liquidação constitui o início e um incidente da execução. Porém, tal só é assim, nos casos em que, como expressamente ressalvado no preceito, quando não vigore o ónus de proceder à liquidação no âmbito do processo de declaração. E, no caso, como, penso, ter demonstrado, esse ónus de liquidação na acção declarativa existe. Do referido uma conclusão sobressai de imediato. A liquidação é um incidente processual da acção declarativa (ou da execução, consoante os casos). E processando-se a liquidação nos termos dos art. 358º e sgs., quaisquer dúvidas que pudessem existir seriam arredadas com a simples observação da sistemática do Código de Processo Civil. Os arts. 358º a 361º constituem o capítulo V do título III com a epígrafe Dos incidentes da instância. E o próprio art. 360º é epigrafado de termos posteriores do incidente. Por outro lado, sendo a liquidação feita na acção declarativa antes do início da discussão da causa, parece não merecer a menor dúvida o seu carácter meramente incidental (a própria discussão e o Página 3 / 5
4 julgamento são feitos com a causa principal). Mas mesmo quando tem lugar depois da sentença de condenação genérica, o seu cunho incidental é patente, uma vez que é a própria instância da acção declarativa que se renova, não se iniciando uma nova instância. Finalmente, é o próprio legislador que classifica a liquidação na acção declarativa, anterior ou posterior à sentença, como incidente [art. 358º, nº 1 o autor deduzirá, sendo possível, o incidente de liquidação ; art. 358º, nº 2 o incidente de liquidação pode ser deduzido depois de proferida sentença de condenação genérica ]. E não oferece a menor dúvida que, apesar da sentença condenatória cuja liquidação está em causa, ter sido proferida no enxerto cível e julgado na acção penal, ainda assim valem os considerandos atrás consignados, equivalendo o enxerto cível à acção declarativa cível. É certo que o art. 82º, nº 1 do CPP estabelece que se não dispuser de elementos bastantes para fixar a indemnização, o tribunal condena no que se liquidar em execução de sentença. Neste caso, a execução corre perante o tribunal civil, servindo de título executivo a sentença penal, sendo este o preceito ao abrigo do qual o juízo criminal declinou a sua competência para a liquidação. Porém, importa ter em devida conta que a redacção deste preceito continua a ser a inicial (dada pelo DL n.º 78/87, de 17/02), quando ainda a execução de sentença não liquidada se iniciava, precisamente, com a liquidação do julgado, constituindo a execução (como continua a constituir) um novo processo e a liquidação um seu incidente. Porém, como atrás referi, o processo civil e o processamento da liquidação da sentença sofreu grandes alterações, não sendo hoje processualmente possível deduzir o incidente de liquidação da sentença na acção executiva, tendo sempre que ocorrer como incidente da acção declarativa, excepto quando não vigore o ónus de proceder à liquidação [da decisão] no âmbito do processo de declaração. Estabelece o art. 7º do Código Civil: 1. Quando se não destine a ter vigência temporária, a lei só deixa de vigorar se for revogada por outra lei. 2. A revogação pode resultar de declaração expressa, da incompatibilidade entre as novas disposições e as regras precedentes ou da circunstância de a nova lei regular toda a matéria da lei anterior. 3. A lei geral não revoga a lei especial, excepto se outra for a intenção inequívoca do legislador. 4. A revogação da lei revogatória não importa o renascimento da lei que esta revogara. Como vimos, mercê das alterações legislativas introduzidas ao CPC e, concretamente, ao processamento do incidente de liquidação de sentença, é manifesta a incompatibilidade entre o disposto no art. 82º, nº 1 do CPP e o estabelecido no CPC relativamente ao referido processamento, já que não é hoje possível liquidar a sentença como incidente da acção executiva, pressuposto subjacente ao art. 82º, nº 1. Por conseguinte, a conclusão que se impõe é a de que, nos termos do art. 7º, nº 2 do CC, o art. 82º, nº 1 do CPP, na parte em que estabelece que tendo a liquidação da indemnização sido relegada para execução da sentença, a execução corre perante o tribunal civil, servindo de título executivo a sentença penal, está tacitamente revogado. E, assim sendo, não se oferecem dúvidas de que cabe ao tribunal que proferiu a sentença condenatória liquidanda, o processamento e conhecimento do incidente de liquidação. Pelo exposto e sem necessidade de outros considerandos, dirimindo o conflito, atribuo a competência ao 2º Juízo Criminal da comarca de Portimão. Página 4 / 5
5 Powered by TCPDF ( Sem custas. Notifique. Évora, (António Manuel Ribeiro Cardoso) (Vice-Presidente) Página 5 / 5
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