PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA 1 o TRIMESTRE 2011
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- Maria Laura Vilarinho Tuschinski
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1 PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA 1 o TRIMESTRE 2011 PROF. MARCUS NOME N o 9º ANO Caro aluno, ou cara aluna. Nunca se esqueça: Sua letra deve ser artesanal, e sempre, sempre a caneta... Suas respostas devem estar completas, claras, coerentes, impecáveis... Muito cuidado com deslizes ortográficos... Siga direitinho as instruções, e... Esta prova é composta de DEZ questões dissertativas dispostas em CINCO páginas. Leia os poemas abaixo e, a seguir, responda às questões: BOA PROVA!! TEXTO 1 Soneto do maior amor Maior amor nem mais estranho existe Que o meu, que não sossega a coisa amada E quando a sente alegre, fica triste E se a vê descontente, dá risada. E que só fica em paz se lhe resiste O amado coração, e que se agrada Mais da eterna aventura em que persiste Que de uma vida malaventurada 1. Louco amor meu, que quando toca, fere E quando fere vibra, mas prefere Ferir a fenecer 2 e vive a esmo 3 Fiel à sua lei de cada instante Desassombrado 4, doido, delirante Numa paixão de tudo e de si mesmo. TEXTO 2 Tanto de meu estado me acho incerto que, em vivo ardor, tremendo estou de frio; sem causa, juntamente choro e rio; o mundo todo abarco e nada aperto 5. É tudo quanto sinto um desconcerto 6 ; da alma um fogo me sai, da vista um rio; agora espero, agora desconfio, agora desvario, agora acerto 7. Estando em terra, chego ao Céu voando 8 ; num'hora acho mil anos, e é de jeito que em mil anos não posso achar um'hora. Se me pergunta alguém porque assim ando, respondo que não sei; porém suspeito que só porque vos vi, minha Senhora. (In Sonetos de Camões: Sonetos, Redondilhas e Gêneros Maiores. Cotia SP: Ateliê Editorial, 2001, p. 42.) (In Vinícius de Moraes. São Paulo: Abril, p. 34. Literatura Comentada.) 1 Malaventurado: que ou aquele que é infeliz; infortunado, malsorteado, malventuroso. 2 Fenecer: tornar-se extinto; acabar, terminar. 3 A esmo: ao acaso. 4 Desassombrado: corajoso, ousado, valente. 5 Abarco e nada aperto: tento abraçar e nada alcanço. 6 Desconcerto: desarmonia. 7 Agora desvario, agora acerto: ora enlouqueço... ora sou sensato. 8 Note que este verso, que contém uma antítese, refere-se à tradicional dualidade entre o corpo ("estando em terra") e a alma/pensamento ("chego ao Céu voando"). 1
2 TEXTO 3 - AMOR EM TEMPO DE GRIPE A gripe tem alguns momentos bons: aquele em que se sente uma febre leve e um pouco de frio, e se toma um chá quente, e se abandona o corpo na cama e a alma no ar, à toa. Então a gente se desliga de todos os aborrecimentos e problemas do dia e volta à infância e seu aconchego maternal. O doente é outra vez um menino, e um menino importante porque está doente e, portanto, tem mais direitos; tem direito a uma dourada canja de galinha, com o coração, a moela e o fígado e até uma pequenina gema que não chegou a ser ovo; tem direito a pedir melado de cana com aipim quente... Não importa que não peça esses tesouros; nem sequer fica triste por não tê-los, nem mesmo o deseja; é um adulto, e está sólido em sua solidão de adulto já ido e vivido; mas se compraz nessa renascença do menino e se deixa embalar, na doçura da febre leve, por essas remotas lembranças. Mas a gripe é principalmente, e quase sempre, má. Não tem aquele elemento salutar de outras doenças, que é a ideia da morte, e seu medo. O doente teve outras gripes iguais, sabe que ela passa, não chega a ser uma doença, é um aborrecimento. O que tem a fazer é comportar-se bem, ter paciência; mas sente a cabeça confusa, ao mesmo tempo vaga e pesada; pensa mal e sonha mal; tem uma série de pesadelos mornos onde o horror é substituído pelo desconforto, e a angústia por uma aflição mesquinha; não são verdadeiros pesadelos, mas sonhos ruins, que nem sequer trazem, no momento de despertar, aquele grande alívio da gente sentir que era tudo mentira, e está vivo e salvo. Não ouso aconselhar uma gripe às pessoas que estão sofrendo alguma crise sentimental. Pode agravar. Uma combinação de vírus de gripe e de amor pode conduzir à paixão ou à pneumonia. Assim como há alguns remédios para a gripe que só valem quando tomados no começo, assim também a gripe é um remédio para o amor, mas só no fim; nesses casos de amor encruado 9, que está custando a acabar, embora não tenha mais os delírios dos primeiros tempos, mas ainda sujeito a recidivas 10 intermitentes. Em casos desses, é preciso aproveitar a depressão e a irritação causadas pela gripe, utilizando-as contra a pessoa amada que se quer desamar. O paciente deve cercar-se de fotografias da pessoa amada, sempre que possível em atitudes alegres, sorrindo; com um pouco de boa vontade se convencerá de que ela está se rindo é dele, de seu amor e de sua gripe. Irá associando a pessoa a todos os seus momentos de aborrecimento e mal-estar, vendo-a sob um prisma desagradável, fácil de adotar quando se tem os olhos doloridos à luz, e o nariz entupido: imaginá-la nas atitudes mais prosaicas, perfumar seus cabelos, na imaginação, com allium sativum 11. Enfim, ir incorporando a imagem da amada à sensação de gripe, e cultivando o desejo de se ver quanto antes livre dessas duas servidões, sentir-se liberto, andando ao sol, respirando bem. Um amigo meu fez essa experiência, depois me contou: Eu pensei que estava apaixonado por ela, não era nada, era falta de vitamina C... Agosto, 1989 (BRAGA, Rubem. Amor em tempo de gripe. In Um cartão de Paris. Rio de Janeiro: Record, 1997, p ) 9 Encruado: Estagnado, parado. 10 Recidiva: Recaída na doença, de que já se entrava em convalescença, e, por vezes, após muito tempo da suposta cura. 11 Allium Sativum: Nome científico de ALHO. SOBRE OS TEXTOS 01. (0,75) De acordo com o que vimos em sala de aula, qual é o nome da forma poética em que estão escritos nos textos 1 e 2? Justifique. 2
3 NOME N o 9º ANO 02. (1,0) Leia atentamente os textos e depois explique como cada um dos três autores entendem o amor. 03. Releia o último parágrafo do texto 3: a) (0,75) Em um exercício de intertextualidade, compare o sentimento descrito no texto 2 com a forma como o narrador entende o amor no texto 3. b) (0,75) Explique a cura para a doença do amor, proposta no texto (1,0) Escolha um dos poemas e faça a escansão da sua primeira estrofe: (0,75) Aponte o esquema de rimas de cada um dos poemas, e comente as diferenças entre cada um deles. 3
4 GRAMÁTICA 06. (1,0) Examine os períodos a seguir, procedendo deste modo: o Grife os verbos ou locuções verbais; o Separe as orações com colchetes; o Determine o número de orações. o Classifique o período como simples ou composto a) A gripe tem alguns momentos bons: aquele em que se sente uma febre leve e um pouco de frio, e se toma um chá quente, e se abandona o corpo na cama e a alma no ar, à toa. b) Uma combinação de vírus de gripe e de amor pode conduzir à paixão ou à pneumonia. c) Assim como há alguns remédios para a gripe que só valem quando tomados no começo, assim também a gripe é um remédio para o amor, mas só no fim; nesses casos de amor encruado, que está custando a acabar, embora não tenha mais os delírios dos primeiros tempos, mas ainda sujeito a recidivas intermitentes. d) Um Eu pensei que estava apaixonado por ela, não era nada, era falta de vitamina C (1,5) No texto 2 há um vocativo: a) Identifique-o, e determine a quem ele se dirige. b) Explique a importância do vocativo no poema de Camões. c) Apresente ao menos três características do vocativo. 4
5 NOME N o 9º ANO 08. (1,0) Releia a estrofe abaixo, retirada do texto 1: E que só fica em paz se lhe resiste O amado coração, e que se agrada Mais da eterna aventura em que persiste Que de uma vida malaventurada. a) Identifique o sujeito dos verbos ficar e resistir respectivamente. b) Explique a função sintática do pronome lhe, e identifique a quem ele se refere. 09. (1,5) O arranjo de orações em períodos não pode ser aleatório, caso contrário compromete a eficácia da comunicação. Em cada item a seguir, use conjunções ou vírgulas para juntar as orações em um só período (composto), colocando-as em sequência coerente e fazendo os ajustes necessários. a) Deve-se amar egoisticamente. Acima de tudo, o amor maior é um ato de amor próprio. A coisa amada é torturada. b) Todas as sensações descritas foram provocadas pela visão da pessoa amada. O amor é um estado de incerteza inexplicável. O amor é definido por uma série de imagens paradoxais. Somente há uma certeza. c) Um grande remédio para o amor é a gripe. O amor é uma espécie de enfermidade. O doente associa as sensações de gripe à imagem da pessoa amada. DESAFIO (0,5) Releia o trecho abaixo, retirado do texto 3: O doente é outra vez um menino, e um menino importante porque está doente e, portanto, tem mais direitos;... Conforme discutido em sala de aula, a conjunção pois pode funcionar também para concluir alguma idéia. Reescreva o trecho acima substituindo a conjunção conclusiva pela conjunção pois, de forma a manter o mesmo sentido. 5
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