Palavras-chave: Docência; cultura; Cultura afro-brasileira e indígena.

Transcrição

1 RELATO DA MINHA PRIMEIRA EXPERIÊNCIA NA DOCÊNCIA: 1º SEMINÁRIO DE CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA: DESCONSTRUINDO CONCEITOS, ROMPENDO PRECONCEITOS. Raquel Chaiane Amaro de Jesus 1 RESUMO Este trabalho trata-se de um relato de uma importante experiência desenvolvida dentre as atividades do Subprojeto (Re) construindo saberes na formação inicial: o Ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena a partir da lei /08, sob a orientação da Professora Simone Ferreira de Souza Wanderley, junto ao Departamento de Educação Campus VII da Universidade do Estado da Bahia, em Senhor do Bonfim BA. A atividade em questão, um seminário, intitulou-se 1º Seminário de Cultura Afrobrasileira e indígena: desconstruindo conceitos, rompendo preconceitos, foi desenvolvido com os alunos do 7º e 8º ano do Colégio Estadual Senhor do Bonfim, escola parceira do subprojeto. A temática da atividade surgiu a partir de uma sondagem inicial com os referidos alunos, sobre os conhecimentos prévios que os mesmos possuíam acerca da história e cultura dos afro-brasileiros e indígenas, a partir das respostas apresentadas, elaboramos o seminário que teve como objetivos: desconstruir preconceitos referentes ao tema, elucidar alguns termos e significados de conceitos como: cultura, diversidade, estereótipos, preconceito, etnocentrismo, e aprofundar o estudo sobre a temática da Lei /2008, buscando superar o quadro de discriminação e preconceito atribuídos a esses representantes do povo brasileiro. A metodologia foi pensada em estimular a participação dos alunos e o estudo do grupo de bolsistas de ID sobre o tema, com as seguintes etapas: estudo em grupo de bolsistas ID sobre os conceitos, com a orientação da coordenadora e supervisora do projeto, elaboração do material para o seminário, sensibilização aos alunos, operacionalização do evento. Dessa forma, o evento aconteceu no auditório do DEDC VII UNEB, com metodologia dinâmica e lúdica, com uso de teatro e música, com a efetiva participação dos alunos. A fundamentação teórica foi feita a partir de Larraia (2001), Munanga e Gomes (2006), Oliveira (2008), Bastide (2001), entre outros. Essa atividade foi bastante significativa para a nossa construção da formação profissional, pois agregou elementos importantes da prática na docência, nos aproximando dos alunos e proporcionando a atuação efetiva da docência. Os resultados superaram as nossas expectativas e os alunos aguardam com expectativa as próximas atividades. Palavras-chave: Docência; cultura; Cultura afro-brasileira e indígena. 1 Licenciando em Pedagogia na UNEB Universidade do Estado da Bahia, Campus VII. Bolsista do Projeto PIBID Programa de Iniciação a Docência, com o tema: Cultura Afro-brasileira e Indígena. E- mail: kelchaianny18@hotmail.com

2 INTRODUÇÃO No contexto acadêmico a discursão sobre a formação de professores prevalece e perpassa em todas as esferas que o futuro profissional da educação irá atuar, esse fato gera alguns questionamentos, um deles é: Afinal, o que vou fazer com toda a teoria discutida quando chegar o momento da prática? Dentro dessa inquietação o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID) surge como uma ferramenta de aproximação do contexto acadêmico e do futuro docente com a educação básica. Essa interação oportuniza ao bolsista de iniciação cientifica vivenciar na prática como se dão os processos educativos e pedagógicos no âmbito da educação básica publica e possibilita a observação, vivência, produção e a execução de atividades. Dar condições para que o futuro docente seja inserido dentro do contexto educacional, antes de concluir a sua formação acadêmica, certamente é contribuir de forma significativa para a formação pessoal e profissional do mesmo. Essa experiência refletirá no posicionamento teórico e na atuação da prática docente. A atuação na docência requer que o profissional tenha uma postura teórica, critica e reflexiva sobre as diversas esferas da sociedade. Dessa forma ao lecionar o professor deve instigar os educandos a refletir sobre a diversidade cultural, racial, social e econômica brasileira, esses quesitos são essenciais para a formação do estudante e contribuem para diminuir os casos de preconceito e intolerância aos povos africanos e indígenas. A inserção de temáticas na educação básica, voltadas para as questões étnicoraciais no Brasil, se deu a partir das lutas dos movimentos sociais e concretizou-se inicialmente com instauração da lei de nº /1996 e posteriormente com a lei /2008 que incluiu a História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena nos currículos da educação básica como tema interdisciplinar. Mesmo com a obrigatoriedade que a lei prevê, ainda existe certa resistência na inclusão da temática no contexto escolar. O presente relato tem como objetivo apresentar as experiências vivenciadas no Subprojeto do PIBID Programa de Iniciação

3 à Docência, que traz como tema central: (Re) construindo saberes na formação inicial: o Ensino da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena a partir da lei /08. A proposta é desenvolvida no curso de Pedagogia, no Departamento de Educação, Campus VII, da Universidade do Estado da Bahia, de autoria e sob a coordenação da professora Simone Ferreira de Souza Wanderley. O subprojeto é desenvolvido no Colégio Estadual Senhor do Bonfim, na cidade de Senhor do Bonfim, Bahia, com as turmas do 7º e 8º anos do Ensino Fundamental. Fazem parte da equipe do subprojeto dez bolsistas ID, alunos do curso de Pedagogia, uma professora supervisora, pertencente ao quadro da escola onde o subprojeto é desenvolvido e a coordenadora, docente do curso de pedagogia. Das muitas atividades desenvolvidas optamos por apresentar neste relato o seminário intitulado Desconstruindo Conceitos; Rompendo Preconceitos. A importância do seminário está além da temática de relevância impar, no fato de se constituir na nossa primeira experiência de planejamento, organização e operacionalização de uma atividade de docência. O seu desenvolvimento e resultados junto aos alunos nos possibilitou vislumbrar novas possibilidades de abordagens sobre a temática da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena. O planejamento do seminário começou a partir de uma sondagem inicial com os alunos sobre os conhecimentos prévios e suas impressões a cerca dos afro-brasileiros e índios, percebemos que esses careciam de reflexões sobre alguns conceitos como: cultura, diversidade, estereótipos, preconceito e etnocentrismo. Então, montamos um seminário bem dinâmico, retiramos os alunos do espaço escolar, pois o mesmo foi realizado no Departamento de Educação, campus VII, da Universidade da Bahia, na cidade de Senhor do Bonfim. Estimulamos a participação, usamos metodologia lúdica, tudo isso com o intuito de esclarecer as dúvidas existentes, no que diz respeito ao nosso tema, e proporcionar uma aprendizagem significativa aos alunos. Os resultados ultrapassaram as nossas expectativas DESENVOLVIMENTO

4 A minha primeira atividade como bolsista do projeto PIBID Programa de Iniciação a Docência, cujo tema é: Cultura Afro-brasileira e Indígena, foi constituída na estruturação, organização e desenvolvimento de um seminário com o título: Desmistificando Conceitos; Rompendo Preconceitos, para as turmas de 7 e 8 série de nível médio, do Colégio Estadual de Senhor do Bonfim. Toda a produção do seminário, desde os conteúdos a serem trabalhados até os métodos utilizados, foram pensados a partir do resultado de uma pergunta inicial que foi feita aos alunos, em nosso primeiro contato para a apresentação do projeto aos mesmos, nessa ocasião, perguntamos o que eles entendiam por cultura afro-brasileira e indígena, e pedimos para que anotassem qualquer ideia ou pensamento a respeito do tema. Através das respostas dos alunos, percebemos a necessidade de abordar outras questões, antes de adentrar efetivamente na questão central do nosso projeto, pois surgiram dúvidas no significado de alguns termos e conceitos que até então eram desconhecidos por eles. Para responder essas e outras dúvidas, estruturamos um seminário em que os alunos pudessem nesse primeiro momento, conhecer alguns conceitos, o significado de algumas palavras e a origem. Nossa intenção foi abranger alguns conteúdos que serviriam de base, antes de iniciar nos aspectos referentes à cultura afro-brasileira e indígena. Assim, o seminário foi dividido em sete momentos e a base teórica foi feita a partir dos estudos de Laraia (2001), concentrados nos estudos de Cultura. No primeiro momento, abordamos a definição de cultura, explorando o conceito de Tylor, apud Laraia (2001), o autor afirma que a cultura é um complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábito adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade. Para a maior exploração do conceito de Tylor, foram utilizados exemplos de imagens que faziam menção a cultura, retratavam ações do ser humano no seu cotidiano e fatores agregados no decorrer da sua vida. Chamando atenção também para a importância de valorizar a sua cultura de cada povo. Iniciar o seminário com o

5 aprofundamento do conceito de cultura, foi imprescindível para que os alunos pudessem compreender os demais conceitos no decorrer da apresentação do seminário. No segundo momento, veio a explicação sobre qual era a origem da cultura e como surgiu, dessa forma, discursou-se sobre o surgimento da cultura através dos primeiros símbolos, instrumentos, vestimentas e alimentos do homem primitivo, assim foram utilizados os autores, Tylor (1871) e Locke (1978). O terceiro momento enfatizamos a compreensão do fator biológico, utilizado o significado para explicar que o fator biológico, não determina que o indivíduo seja melhor ou pior que alguém. Para exemplificar melhor essa relação foram utilizadas imagens referentes ao tema e um vídeo, que apresentava a história de uma menina que foi criada com cachorros, e assim adquiriu os mesmos hábitos e costumes dos animais. O quarto momento, baseou-se em estimular a percepção dos alunos, sobre as diferenças de cultura que podem existir no mesmo lugar, para fazer com que eles percebessem essa relação, foram utilizados exemplos de tribo índios que habitavam a mesma floresta, no entanto possuíam costumes distintos. Apresentamos também, uma cena do filme: Minha mãe é uma peça do autor Paulo Gustavo, que possui um roteiro cômico, onde era retratada uma reunião de condomínio, com diferentes tipos de pessoas em relação a sua opção de vida, costumes, hábitos e crenças. Já o quinto momento, exploramos o conceito de Etnocentrismo, para dar significado a palavra, antes foi apresentado alguns elementos oriundos de outras culturas que estão um pouco mais distantes da nossa realidade e que surpreendem pelos aspectos chocantes. No sexto momento, apresentamos alguns elementos referentes à cultura afrobrasileira e indígena, que se fazem presentes em várias esferas da sociedade. No entanto, são ainda muito discriminados e marginalizados, dessa forma, entramos no significado de preconceito e esse momento foi finalizado a partir de algumas provocações como: Porque não aceitamos certas práticas? Porque achamos errado? Porque acreditamos ser do mal? E para finalizar o sétimo momento, explicamos o que é diversidade e estereótipos. Focando na influência que a mídia tem de uma forma geral, quando retrata e traz para o imaginário das pessoas, estereótipos do homem negro, da mulher negra e

6 dos povos indígenas, de um modo negativo. Geralmente, as qualidades, as contribuições desses povos são negligenciadas pela mídia, que cria um padrão de beleza, de vestimentas, de corpo, cabelo e de estética, colocando em baixo do tapete tudo que for diferente. Em todos os momentos o diálogo sempre esteve presente, por nossa parte, quando questionávamos os alunos sobre algo relacionado nos momentos, tentando a todo momento, trazê-los para a discussão. Todo o seminário, contou com as intervenções da professora coordenadora do subprojeto, buscando analisar com os participantes as questões mais relevantes. Finalizamos a apresentação dos momentos, com uma música do cantor Saulo Fernandes Raiz de Todo Bem, em que a letra em si, expressa uma ideia de valorização cultural e territorial. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Essa atividade foi de grande relevância, para a nossa formação profissional e pessoal, porque através de todo o processo de planejar, pensar e executar o seminário, percebemos a importância do planejamento prévio que o professor precisa ter no cotidiano das suas práticas, para garantir coerência e louvor no que se pretende fazer, visando sempre, alcançar os objetivos educacionais. Sobre a abordagem da temática que estuda a história e cultura afro-brasileira e indígena, percebemos que a mesma atenta para uma grande diversidade de repertórios, trata de várias questões que cercam o nosso mundo, mas que muitas vezes nós mesmos não percebemos, ou não desenvolvemos uma visão crítica reflexiva. Foi possível conhecer novas coisas, sair um pouco do conforto das nossas práticas rotineiras, para abordar um tema de fundamental importância para a formação dos educandos e que certamente irá contribuir para a construção de uma aprendizagem significativa para os alunos. O presente relato mostra à importância do projeto PIBID nas escolas, pois o mesmo traz uma troca de benefícios mútuos a escolas que participa do programa e

7 também aos bolsistas que recebem um incentivo financeiro e ainda adquirem experiências pedagógicas no contexto educacional público. O que se planeja a partir dessa primeira atividade é o surgimento de outras propostas voltadas para o tema do projeto, com o intuito de provocar debates para ampliar os conhecimentos sobre as causas sociais voltadas para os negros e índios, entre todos os envolvidos no projeto. Finalmente, entendemos que o percurso do licenciando deve extrapolar as atividades desenvolvidas na academia e adentrar os muros da escola conhecendo os seus sujeitos, seus pensamentos e visões de mundo. Acreditamos que somente nos colocando também como sujeitos da nossa prática pedagógica, poderemos no percurso acadêmico, nos construindo e constituindo docentes. REFERÊNCIAS BASTIDE, Roger. As religiões africanas no Brasil. Tradução Maria Eloísa Capellato e Olívia Krähenbühl. 2. ed. São Paulo: Pioneira, LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed LOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. Coleção Os Pensadores, Pensadores São Paulo, Abril Cultural MACHADO, Cristina Gomes. Multiculturalismo: muito além da riqueza e da diferença, Rio de Janeiro: DP&A, MUNANGA, Kabengele & GOMES Nilma Lino. O negro no Brasil de hoje. Coleção para entender, São Paulo: Global, OLIVEIRA, Maria Anória de Jesus. Literatura afro-brasileira infantojuvenil:enredando inovação em face à tessitura dos personagens negros. São Paulo: ABRALIC, SILVA, Ana Célia da. A Desconstrução da Discriminação no Livro Didático. In: Superando o Racismo na escola. 2ª edição revisada / Kabengele Munanga, organizador. [Brasília]: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, SILVA, Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva. Aprendizagem e Ensino das Africanidades Brasileiras. In: Superando o Racismo na escola. 2ª edição revisada / Kabengele Munanga, organizador. [Brasília]: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, 2005.

8 TEODORO, Helena. Buscando Caminhos nas Tradições. In: Superando o Racismo na escola. 2ª edição revisada / Kabengele Munanga, organizador. [Brasília]: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade, WANDERLEY, Simone Ferreira de Souza. Projeto PIBID - (Re) construindo saberes na formação inicial: o ensino da história e cultura afro-brasileira e indígena a partir da lei /08. UNEB- FAPESB, 2013.