d e H A B E A S C O R P U S,

Transcrição

1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR MINISTRO PRESIDENTE DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL Origem: Ag Rg no RECURSO ESPECIAL Nº MG (2010/ ) Paciente: AGNALDO MOREIRA DA SILVA A Defensoria Pública da União, no âmbito de sua função institucional insculpida no art. 4º, IX, da Lei Complementar n 80/94, vem perante este Tribunal, e com fulcro no artigo 5º, LXVIII da CRFB/88 e nos artigos 647 e seguintes do CPP, impetrar O R D E M d e H A B E A S C O R P U S, em favor de AGNALDO MOREIRA DA SILVA, contra ato ilegal da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça, Relatora Min. LAURITA VAZ que negou a aplicabilidade do princípio da insignificância no julgamento do agravo regimental no Recurso especial nº MG, em razão dos fatos e fundamentos a seguir aduzidos. I - Dos fatos e fundamentos: Cuida-se de habeas corpus impetrado em favor de AGNALDO MOREIRA DA SILVA, apontando-se como autoridade coatora a Quinta Turma do SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, que negou a aplicação do princípios da insignificância ao fato definido formalmente como crime, em tese praticado pelo paciente. 1

2 2 O paciente foi condenado à pena de 02 anos de reclusão, em regime aberto e pagamento de dez diasmulta. A sentença substituiu a pena privativa de liberdade por duas restritivas de direito consistentes em prestação de serviço à comunidade e multa. Teve apelação criminal parcialmente provida, tão somente para isentar o réu das custas processuais. O Recurso Especial teve seu seguimento obstado pelo relator, razão pela qual foi interposto agravo regimental, o qual foi desprovido sob o fundamento principal de que o fato de o paciente ter se utilizado de uma chave de armador para lograr êxito em seu intento impediria a aplicação do princípio da insignificância. detalhada. No entanto, o caso merece uma análise mais Cediço que a aplicação do princípio da insignificância pressupõe: I) a mínima ofensividade da conduta do agente; (II) a ausência total de periculosidade social da ação; (III) o ínfimo grau de reprovabilidade do comportamento e (IV) a inexpressividade da lesão jurídica ocasionada, consoante já assentado pelo colendo Pretório Excelso (HC /SP, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJU ). Compulsando os autos depreende-se que não houve ofensa ao bem jurídico tutelado, ou em admitindo essa suposta violação, sua lesividade foi tão ínfima, que torna desnecessária a movimentação do aparato estatal na esfera criminal.

3 3 Observe, eminente Relator, que o paciente invadiu o interior de uma construção, local desabitado naquele momento, com o intuito de furtar um carrinho de mão e dois portais de madeira. Assim, embora tenha logrado evadir-se com a res furtiva, instantes após a subtração, o paciente foi apreendido pela polícia, e o objeto do furto devolvido na sua totalidade, de modo que o prejuízo foi zero. Diante desses fatos imperioso se faz o reconhecimento da aplicação do aludido princípio. Primeiro, porque não houve lesão ao bem jurídico protegido, já que os bens foram todos restituídos. Segundo, porque o paciente agiu sozinha, em ambiente vazio, sem oferecer risco a integridade física de ninguém. Terceiro, porque o comportamento da paciente, embora reprovável, seu grau é ínfimo se comparado as demais práticas delituosas cometidas neste país. Ademais, por certo que a provável situação vexatória por qual passou a paciente, à época dos fatos, foi mais do que suficiente para punir e eventualmente corrigir sua conduta desviada. Frise-se que trata-se de cidadão sem qualquer passagem pela polícia, sendo certo que o ato ora analisado demonstra-se isolado de sua conduta normal na sociedade. Em crimes deste jaez, de irrisória repercussão no patrimônio da vítima e na tranquilidade da coletividade, não necessitam ser levados à preocupação da Justiça. É notório nestes casos, quando o bem jurídico não sofre significativa ameaça, em que a dimensão do injusto

4 revela-se tão ínfima, nenhuma razão subsiste que justifique a aplicação de sanção penal tão violenta quanto é a privação da liberdade da pessoa humana. 4 Na moderna abordagem criminalística, é pacífico que os eventuais agressores de um bem jurídico só devem ser submetidos à sanção criminal quando esta tornarse indispensável à adequação da justiça e à segurança dos valores da sociedade A verificação da ocorrência da tipicidade penal deve dar-se de forma ampla, abarcando todos os seus aspectos, somente podendo se concluir pela ocorrência do tipo penal abstratamente considerado, se constatada a presença de todas as características componentes do tipo. Logo é indispensável que o fato tenha acarretado uma ofensa de certa magnitude ao bem jurídico protegido para que se possa concluir por um juízo positivo de tipicidade. Este entendimento pode ser constatado no julgado do Supremo Tribunal Federal, trazido abaixo, no qual o Ilustre Ministro Cezar Peluso, reconhece a atipicidade de uma conduta, inicialmente tipificada como furto, tão só pela inconteste verificação do ínfimo valor do bem afetado. Se no seu aspecto objetivo é juridicamente insignificante uma conduta, é portanto atípico o fato, independente de quaisquer outros fatores de ordem subjetiva. EMENTA: AÇÃO PENAL. Justa causa. Inexistência. Delito de furto. Subtração de roda sobressalente com pneu de automóvel estimados em R$ 160,00 (cento e sessenta reais). Res

5 furtiva de valor insignificante. Crime de bagatela. Aplicação do princípio da insignificância. Irrelevância de considerações de ordem subjetiva. Atipicidade reconhecida. Absolvição. HC concedido para esse fim. Precedentes. Verificada a objetiva insignificância jurídica do ato tido por delituoso, é de ser afastada a condenação do agente, por atipicidade do comportamento. (HC 93393, Relator(a): Min. CEZAR PELUSO, Segunda Turma, julgado em 14/04/2009, DJe-089 DIVULG PUBLIC EMENT VOL PP-00366) (Destacou-se) DO PEDIDO Ante ao exposto, requer: 1) a notificação da autoridade coatora para que preste as informações que entender cabíveis; 2) concessão meritória da Ordem de habeas corpus, por restar configurado à espécie inequívoco constrangimento ilegal, vez que não mais há justa causa que justifique a condenação criminal do paciente, merecendo que seja sanado o decisum impugnado no sentido de trancar a ação penal em razão da atipicidade da conduta da paciente. Outrossim, requer que a Defensoria Pública seja intimada pessoalmente de todos os atos processuais na pessoa do Defensor Público Geral da União, com a prerrogativa do prazo em dobro, conforme estabelece o art. 44, I da Lei Complementar 80/94. Pede deferimento. 5

6 Brasília/DF, 13 de julho de Jaime de Carvalho Leite Filho DEFENSOR PÚBLICO DA UNIÃO 6