Conectado. A crise no jornalismo cultural. mercado de trabalho Como a economia criativa está criando novas oportunidades p.10

Transcrição

1 Conectado Edição 1 / Novembro 2013 / Uma publicação dos alunos do sexto período de jornalismo da UNINASSAU A crise no jornalismo cultural mercado de trabalho Como a economia criativa está criando novas oportunidades p.10 Salários Quanto vale o trabalho do jornalista? p.8 Profissões Jornalistas que encontraram nichos fora da redacão p.12

2 Editorial A primeira edição do conectado traz para estudantes e profissionais da comunicação alguns temas que veem mudando a forma como jornalistas trabalham e se posicionam no mercado de trabalho. As mídias sociais tem possibilitado a expansão do mercado de trabalho e forçado o jornal impresso a se reconfigurar. Jornalistas já não detêm o poder sobre a produção e veiculação de notícias e, por isso, a profissão exige que profissionais sejam cada vez mais versáteis e que produzam material jornalístico com teor que vai além da notícia. Falando em oportunidades, também discutimos os novos campos que estão surgindo com o surgimento do novo conceito de economia criativa. Profissionais de todos os segmentos estão tornando-se cada vez mais conectados e gerando possibilidades de emprego, criação e renda que menos de cinco anos atrás era impensável. Esta edição também traz uma análise das condições salariais de profissionais de comunicação pelo país. Os números não são muito animadores; o salário mais alto no país continua sendo abaixo da média de outras profissões e demonstra que jornalistas precisam reivindicar por um piso salarial decente que reflita o valor do profissional de comunicação. Há também aqueles que enveredam por caminhos alternativos em busca de uma remuneração melhor; trazemos uma matéria sobre jornalistas que utilizaram suas habilidades em comunicação para investir em caminhos mais satisfatórios e que não necessariamente usam a notícia como matéria-prima. Nossa matéria de capa discute a crise do jornalismo cultural e as perspectivas para o futuro. O fechamento da revista Bravo! indica um ciclo de várias publicações de cultura que fecharam suas portas e a diminuição do espaço reservado a crítica e análise cultural. Muitos acreditam que esta crise chega para modificar a forma como o jornalismo cultural é abordado, outros são mais pessimistas e acreditam que ela é um sinal que temas que não atraem receitas publicitárias deixaram de ser interessantes para os grandes conglomerados de comunicação. Mas nem tudo está perdido, trazemos também algumas iniciativas independentes que mostram que criatividade e persistência podem fazer a diferença em projetos independentes. Expediente UNINASSAU Coordenação de Comunicação Social Prof(a) M.Sc. Silvana Marpoara Prof. M.Sc. Diego Rocha Este Jornal Laboratório é uma atividade prática, acadêmica e interdisciplinar do 6º período do Curso de Jornalismo da UNINASSAU. Orientadores: Prof. Ms. C. Bernardo Cortizo Edição Gráfica II Prof(a) Ms.C. Daniella Alves Redação Jornalística III EQUIPE Editor: Joanna Calazans Editor de Fotografia: Joanna Calazans Repórteres: Jo Calazans, Vinícius Vieira, Vinícius Joab, André Brasileiro,Camila Almeida, Chily Sampietro, Mohana Mendes Fotografia e ilustrações: Carol Melo, Renata Voss, Marcelo Pedroso, Manoel Quitério Recife, Novembro de

3 Sumário Nesta edição 4 Coluna: E o jornal Impresso? Jo Calazans 5 Conteúdo: Produção Jornalística na era digital Vinícius Joab 6 Capa: Jornalismo cultural em crise André Mendonça Brasileiro 8 Salários: Quanto vale o trabalho do jornalista? Camila Almeida Crédito: Manoel Quitério 10 Mercado de trabalho: Novas oportunidades na economia criativa Vinícius Vieira 12 Profissões: Jornalismo é mais Jo Calazans 14 Mídia Independente Iniciativas de baixo custo para divulgacão da cena alternativa 3

4 Opinião E o Jornal Impresso? Por Jo Calazans Há muito tempo que se discute o fim do jornal impresso. Desde o surgimento dos primeiros portais de notícias, estudiosos, jornalistas e donos de veículos profetizam o fim do jornalismo impresso e a total migração de leitores para o meio digital. Embora seja evidente o declínio em vendas do jornal impresso e a dificuldade que enfrentam em manterem-se no azul, ainda é incontestável sua importância dentro de nossa sociedade. Estamos em um momento de transição; jornais impressos não geram mais as receitas necessárias para se bancarem, mas os jornais online ainda não geram receita suficiente para substituí-los. Dentro das redações, a ordem do momento é contenção de gastos, equipes reduzidas e jornalistas que são responsáveis por cada vez mais tarefas. Da mesma forma, donos de jornais não podem deixar de produzir a versão impressa, ao mesmo tempo que não podem deixar de investir na versão online, em uma corrida que ninguém sabe onde vai acabar. É difícil prever o que vai acontecer, afinal, quando lançaram o kindle e o tablet, tecnologias que permitiam a leitura de livros digitalmente, muitos disseram que o livro impresso também iriam se extinguir. No entanto, novas livrarias abrem suas portas semanalmente pelo país e seu público não parece ter diminuído. Leitores assíduos falam que não trocam o folhear dos livros e suas paredes revestidas de títulos por um tablet, mesmo que este signifique menos espaço, mais facilidade e conveniência. Esse discurso também surgiu em relação ao rádio quando da invenção da televisão e, ainda hoje, a televisão ainda está aí, firme e forte. Será que podemos deduzir que o futuro do jornal impresso terá o mesmo desfecho que os livros tiveram até agora? Acredito que o jornal impresso não está com os dias contados, embora precise urgentemente passar por modificações drásticas na forma como este se relaciona com seu leitor. Ser simplesmente um meio de notícias já não é mais suficiente; é preciso elaborar um novo conceito de jornal impresso que traga conteúdo crítico e diferenciado perante o mar de notícias que leitores são expostos na internet. O tempo da sociedade atual é outro e a própria mecânica do jornal impresso já não acompanha essa necessidade de tempo real. No futuro, talvez o jornal impresso torne-se um canal para reportagens especiais e análises mais críticas dos acontecimentos. No entanto, a relação que leitores assíduos têm com o jornal impresso vai além da busca por informação; ela é uma relação afetiva, quase ritualística. Afinal, muitos não consegue imaginar o domingo sem o folhear e dobrar do jornal impresso? 4

5 Conteúdo A redatora Jumariana Oliveira reconhece a necessidade de reestruturação dos jornais impressos Foto: Marcelo Pontes / Folha Press Produção Jornalística na Era Digital Por Vinícius Joab A rotina jornalística vem sofrendo muitas modificações com o avanço das novas mídias. O jornalismo vive uma fase em que o poder da informação não é mais só de exclusividade da imprensa. Hoje, os indivíduos além de receptores da informação, passaram a ser produtores de notícias, críticos e também detentores do poder da disseminação da informação. Dentro desse novo cenário favorecido, surgem ferramentas como os celulares, aplicativos, câmeras digitais, tablets, notebook que ampliam ainda mais o acesso e divulgação de conteúdo na internet. Embora muitos profissionais fiquem tentados a utilizar as redes sociais para se pautar e apurar informação, o jornal impresso ainda é uma fonte importante de conteúdo e informação e o trabalho jornalístico ainda é aquele em campo. O veículo impresso ainda goza de mais credibilidade do que aquilo que é publicado na internet, afirma o repórter do Jornal do Comercio Roberval Sobrinho. E por isso, jornalistas têm de estar na rua, colhendo informações e não nas redes sociais, essa informação online nem sempre é confiável, acrescenta. Embora se produza infinitamente mais do que antes, é importante ressaltar que em meio a todo esse conteúdo, há uma grande quantidade de informação irrelevante e que pode acabar refletindo um pouco sobre a veracidade da imprensa tradicional. Para a jornalista Jumariana Oliveira, redatora da Folha de Pernambuco, os meios digitais não diminuem a confiabilidade do imprenso, mas exige que ele se modifique: Hoje é preciso trazer algo novo, trabalhar mais as matérias, fazer reportagens analíticas, comparativas e que possam adicionar ao conteúdo já divulgado na internet, diz ela. A jornalista Izabel Raposo, chefe do Núcleo de Comunicação Virtual e gestora do projeto Portal Corporativo do TJPE, acredita que uma pauta instigante, um repórter perspicaz e uma edição primorosa são ingredientes para uma boa produção jornalística, independente do meio onde ela será veiculada: Tanto no jornalismo impresso quanto no de formato on, temos profissionais competentes e temos aqueles que deixam a desejar. Em qualquer plataforma tecnológica, seja papel, seja pixels, a repercussão do que se lê será determinada pela qualidade da apuração e da edição da pauta, Considera ela. 5

6 Capa Jornalismo cultural em crise Por André Mendonça Brasileiro Foto: Jo Calazans Nos últimos anos assistimos ao encerramento de publicações culturais importantes a exemplo da SET, Palavra, Bizz e Entrelivros. Além de uma diminuição constante das páginas dos cadernos de cultura, dos jornais impressos e o fim de suplementos especiais como o Sabático, especializado em literatura, do jornal o Estado de São Paulo. O fim da revista Bravo!, editada pelo Grupo Abril, no último mês de agosto, colocou na pauta do dia a crise do Jornalismo Cultural. O editor sênior e redator chefe da Bravo! desde 2005, Armando Antenore usou seu perfil nas redes sociais para levantar questões sobre os motivos que levaram ao fim da revista. O baixo número de anúncios publicitários, a perda de leitores das mídias impressas frente à evolução digital e o relativo baixo número de exemplares vendidos mensalmente (cerca de 28 mil, entre assinantes e compradores na bancas e livrarias), comenta. O também editor, Fábio Gomes, do site Jornalismo Cultural, lamenta em sua matéria opinião, o fechamento do periódico, Preferia que a revista tivesse revisto a tempo alguma dessas posições e seguisse viva, informando, difundindo cultura e gerando empregos. Mas 6

7 Capa não deixa de lançar um olhar crítico sobre a Bravo!. Considerava um foco demasiado no eixo Rio- São Paulo e uma certa visão defasada do que é cultura, analisa. Os cadernos de cultura são quase sempre chamados de Caderno B ou Caderno 2 e não são tratados como prioridade para os interesses publicitários da mídia impressa. Em meio a crise, bons projetos editoriais disputam espaço entre as revistas de celebridades e de fofocas. O jornalista e escritor Daniel Piza, que passou pela Ilustrada da Folha de São Paulo e foi editor-executivo e colunista do Estadão afirma na introdução do seu livro Jornalismo Cultural que não há nada de nostalgia ou negativismo em observar que o Jornalismo Cultural Brasileiro já não é como antes, Um pequeno panorama histórico é suficiente para mostrar que grandes publicações e autores do passado têm hoje pouco equivalentes; há uma perda de consistência e ousadia e, como causa e efeito, uma perda de influência,escreve. Pernambuco - Jornais, revistas e suplementos culturais estão em crise enquanto vivemos um boom virtual. É o que acredita o jornalista, pesquisador e diretor de teatro, Rodrigo Dourado. Nos últimos tempos, os jornais tiveram uma redução drástica de espaço para o segmento cultural, o que é inversamente proporcional à oferta existente, já que os produtos desse mercado cresceram visivelmente nas últimas décadas. Para Dourado, o jornal que lemos hoje é um espaço de pouca reflexão. O comunicólogo afirma que o impresso se tornou o lugar da publicidade, inclusive o conteúdo jornalístico. Para ele, os periódicos desempenham a tarefa de apenas indicar produtos para o público consumidor médio, não configurando o Jornalismo Cultural, e sim o de entretenimento. O estudioso também alerta sobre a importância do profissional da mídia buscar uma formação diferenciada. Precisamos filtrar muito para achar informação/reflexão de qualidade, enfatiza. Em tempos de comunicação online, Dourado aposta nas novas mídias como uma alternativa para a disseminação de informações. As redes sociais desempenham um papel intermediário, abrindo possibilidades para que os artistas divulguem suas ações e alcancem seus públicos, explica ele. A Companhia Editora de Pernambuco-CEPE, empresa do Governo do Estado, publica mensalmente o Suplemento Cultural Pernambuco e no mês de outubro divulgou matéria de capa sobre o Jornalismo Cultural. Segundo o editor chefe da publicação, Scheneider Carpeggiani, a proposta de investir nessa capa é uma forma de alertar para a crise que vive hoje o Jornalismo Cultural. O jornal como nós o conhecemos é um cadáver à nossa frente, que ninguém tem coragem de dizer que não faz mais sentido. Um dos grandes erros do nosso jornalismo é competir com a internet e não aceitar que seu papel não é mais o de noticiar, e sim trazer imagens e pensamentos mais elaborados, diz ele. A CEPE edita a revista Continente Cultural com tiragem de exemplares e por conta com apoio estatal vive uma situação aparentemente estável e por hora não corre o risco de descontinuidade. Scheneider atualmente está desenvolvendo o projeto de uma revista de literatura para ipad chamada Cesárea, em homenagem a um personagem do livro Os Detetives Selvagens, do escritor chileno Roberto Bolãno. A iniciativa é uma forma de encontrar uma possível linha de frente para o Jornalismo Cultural em tempos que o impresso está em meio a um impasse. Estamos vivendo no meio do caminho, ainda não dá para tirar um raio X completo da crise, mas é preciso fazer o tratamento antes que ela se alastre. Adverte. 7

8 Salários Quanto vale o traba Por Camila Almeida Ilustração: João Américo O salário nunca foi um dos fatores principais de escolha da profissão. No entanto, com o mercado saturado e a oferta de jornalistas cada vez maior, os salários encontram-se em queda livre. O salário inicial de um jornalista pode variar muito dependendo de sua formação, área de atuação, localização, experiência prévia e tipo de empresa. O primeiro emprego de um jornalista pode ser como repórter de um jornal ou revista, redator de uma agência de publicidade ou assistente de editor em uma estação de rádio ou de televisão. Um foca, como é chamado um jornalista recém-ingressado, pode ganhar entre R$ 900 e R$ 2,5 mil por mês. Com alguns anos de carreira, esta remuneração sobe entre R$ 4 mil e R$ 7 mil e pode chegar de R$15 a R$20 mil para profissionais de trajetória notória dentro da profissão. 8 Uma pesquisa realizada pelo site Comunique-se e aponta que a maioria dos jornalistas com até 6 anos de profissão não consegue ganhar nem mil reais por mês. Os dados indicam também que poucos profissionais em meio de carreira atingem um ganho mensal de R$3 mil reais e que as mulheres recebem em média 28% a menos do que os homens. Este estudo também analisou o nível de formação dos profissionais e assinala que quase 90% dos profissionais brasileiros não falam uma segunda língua. Outra pesquisa realizada pela Casa da Pauta, blog criado em outubro de 2013 pelo jornalista Álvaro Guimarães, montou um ranking dos salários dos jornalistas de norte a sul do Brasil. O objetivo é possibilitar que jornalistas e futuros jornalistas possam ter uma noção de como o mercado de trabalho brasileiro tem tratado a categoria. Para fazer isso, a pesquisa se baseou em respostas de jornalistas do Brasil e do exterior. A pesquisa, elaborada por 18 pesquisadores, revela que 2/3 dos jornalistas brasileiros recebem até cinco salários mínimos e quase a metade (40,3%) trabalha mais de oito horas por dia. Esses dados de jornada são realmente preocupantes. A legislação dos jorna-

9 Salários lho do jornalista? listas é de cinco horas com, no máximo, duas horas-extras. Esse excesso do trabalho afeta muito a qualidade de vida dos jornalistas e a precariedade das redações no Brasil, afirma Wanderlei Pozzebom, vice-presidente do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, que esteve presente no lançamento do estudo. As informações apuradas mostram que o maior piso salarial pago hoje a jornalistas no Brasil está na cidade do Rio de Janeiro. Na capital fluminense, o salário mínimo proposto à categoria é de R$ O resto do estado, no entanto, não apresenta piso salarial definido. Outro perfil de mercado identificado pela pesquisa foi o alto número de estagiários desempenhando atividades de jornalistas profissionais sem o devido acompanhamento e supervisão. Por este motivo, estagiários e focas recebendo uma remuneração cada vez menor e com menos capacidade de reinvindicação, seja por falta de organização da classe, seja por falta de experiência ou oportunidade. Os dados ainda mostram que 98% dos profissionais têm formação superior, sendo que 40,4% destes graduados possuem pós. Quando o assunto é desemprego, a taxa nacional fechou 2012 em 5,5%. No total, 55% atuam em mídia, 40% fazem atividades de assessoria de imprensa e os outros 5% dedicam-se predominantemente a área acadêmica. Onde estão os melhores salários Cidades salário médio 1º) RJ (capital) R$ º) AL R$ º) PR R$ º) SP (Capital) R$ º) DF R$ º) SP (interior) R$ º) AC R$ º) MG R$ Fonte:FENAJ 9

10 mercado de trabalho Novas oportunidades na economia criativa Por Vinícius Vieira Muito antes da vocalista da Banda Magníficos, Sâmya Maia, entrar no palco, o show já começou. Uma verdadeira maratona midiática faz com que a Preferida do Brasil vire notícia em rádio, televisão, jornais, blogs e sites. Por traz de um dos grandes ícones do forró eletrônico da atualidade, existe um especialista que trata do relacionamento dos artistas com a mídia. Estamos falando do assessor de imprensa. Uma pesquisa realizada pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) entre setembro e novembro de 2012, mostrou que dos 145 mil jornalistas registrados, 40% trabalham nas assessorias de comunicação. O crescimento no setor fez com que as universidades reconfigurassem a estrutura curricular para atender a necessidade do mercado A assessora de imprensa e professora Nice Lima também percebe essa transformação na capital pernambucana. Foi em 2006, ainda durante a graduação de Rádio e TV 10 Ilustração: Manoel Quitério na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), que ela enveredou para o outro lado do balcão e abriu a própria empresa, a Ritmo Comunicação. Eu havia passado por alguns veículos e, até então, não havia feito assessoria de imprensa, mas tinha muita vontade. Como na época eu já tinha apresentado um programa de rádio sobre a cena cultural de Pernambuco e tinha alguns contatos nessa área, achei que deveria trabalhar em algo que eu minimamente tivesse conhecimento, relembra. Hoje, Nice Lima trabalha no modelo home office, solução mais econômica onde o profissional desenvolve as atividades da empresa na própria residência, e também leciona em cursos de comunicação social em duas faculdades do Recife. Embora a Ritmo realize todas as atividades comuns a qualquer assessoria de imprensa, como a elaboração de releases, marcação de entrevistas, cobertura de eventos, palestras e media training, ela acredita que o assessor que deseja atuar

11 mercado de trabalho nesse segmento precisa ter um olhar apurado. É essencial ter sensibilidade, saber se relacionar e entender as particularidades de cada linguagem artística para não cometer grandes equívocos, alerta. Para o ex secretário de cultura de Recife, jornalista e Dj, Renato L, essa economia está em crescimento não só no país inteiro, mas em termos globais, gerando cada vez mais postos de trabalho e contribuindo para o aumento do PIB. No mundo, os setores criativos são responsáveis por 10% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Em terras brasileiras, a relação está entre 7% e 8% do PIB. A cantora Sâmya Maia, que atualmente divide os palcos com a graduação de jornalismo no Centro Universitário Maurício de Nassau (UNINASSAU), afirma que o assessor de imprensa cultural trata de demandas específicas. Trabalhar com artista é bem mais complicado porque ele acaba tendo que lidar diretamente com fã-clubes. Essa atividade às vezes pode ser laboriosa. Porém, quando a banda passa a ser bem assessorada, mais divulgada, isso ajuda na venda de shows. A assessoria é de extrema importância, garante. Outro desafio para o assessor é divulgar os projetos culturais para a grande massa, que nem sempre tem conhecimento estético sobre determinada linguagem artística. Para que isso aconteça de maneira eficaz, é preciso usar ganchos e uma comunicação clara que possa ressaltar as qualidades do produto e atingir o público em geral. Além disso, os que escolhem essa carreira também sentem na pele o preconceito de se trabalhar com o universo da cultura. Alguns clientes não compreendem a dinâmica de uma assessoria de comunicação especializada na promoção de trabalhos de arte e julgam tal atividade como um hobbie. É essencial ter sensibilidade, saber se relacionar e entender as particularidades de cada linguagem artística para não cometer grandes equívocos -Nice Lima, assessora de imprensa Com a variedade de produções culturais em Pernambuco, que versam entre o popular e a vanguarda, a expectativa é que esse espaço seja ainda mais explorado. O respeito vem crescendo, mas ainda recebemos algumas propostas de pessoas que não têm muito conhecimento acerca do grande trabalho que é propor pautas, marcar horários, fazer textos, telefonar para vários veículos, investir tempo, dinheiro e conhecimento. Não é simples o trabalho de convencimento junto aos jornalistas, defende Nice Lima. Economia Criativa são atividades que envolvem criação, produção e distribuição de produtos e serviços usando o conhecimento e a criatividade como principais recursos produtivos. Embora o Recife tenha um grande potencial no desenvolvimento da Economia Criativa, assessorias voltadas a esse segmento ainda são feitas por profissionais liberais e não por grandes empresas do Estado. A Economia Criativa nos desafia a recriar formatos de cadeias produtivas já obsoletas para dar lugar ao cidadão. PATRÍCIA REIS, Coordenadora de Economia Criativa da Secretaria de Cultura de Pernambuco. Um dos pontos fortes que se pode destacar é a pesquisa que pode diversificar os produtos da Economia Criativa e, também, da Academia. MÁRCIO ANDRADE, Roteirista e Mestre em Educação Tecnológica. 11

12 Profissões Jornalista Ana Lira promove oficinas e workshops com público de comunidades. Fotos: Renata Voss Jornalismo é mais M Por Jo Calazans uitos estudantes e recém formados olham o mercado de jornalismo atual com preocupação e questionam se, de fato, terão um espaço dentro de um cenário cada vez mais competitivo e pequeno. O que muitos não sabem é que existem outros caminhos que jornalistas podem seguir que não seja necessariamente ligados a notícia. Para muitos, as habilidades adquiridas durante sua formação permite que encontrem oportunidades em outras atividades, que embora ainda tenham uma ligação forte com a comunicação, não tem a notícia como matéria-prima principal. lismo na América Latina, 348 somente no Brasil. Esse alto número de cursos significa que anualmente são mais de dez mil novos profissionais que tentam entrar no mercado brasileiro. Embora o web jornalismo tenha aberto novos caminhos, muitos ainda têm dificuldade em conseguir emprego e acabam migrando para áreas não relacionadas como vendas, administração ou serviço público. Alguns indivíduos, no entanto, encontram oportunidades em áreas correlatas que proporcionam rotinas menos estressantes e que permitem uma produção fora dos meios de comunicação tradicionais. De acordo com o Mapa dos Centros e Pro- Ana Lira é um exemplo de um profissional que conseguiu trilhar com caminho paralelo. Formada em jornalismo pela Universidade Católica de PE, nunca se interessou em seguir carreira dentro de jornais ou assessorias. Desde a faculdade já questionava as gramas de Formação de Comunicadores e Jornalistas na América Latina e Caribe, produzido em 2009 pela UNESCO, são aproximadamente escolas de jorna12

13 Profissões relações de trabalho quase escravo das redações e a baixa remuneração, desabafa ela. Gostava de escrever, mas tinha mais interesse pela pesquisa. Foi então que uma oportunidade surgiu para ser instrutora no Projeto Oi Kabum, iniciativa patrocinada pela operadora telefônica que forma jovens de baixa renda em áreas relacionadas ao audiovisual. Os dois anos que passei no projeto me ajudaram a me descobrir como professora de fotografia e imagem crítica. mas sabia que um dia teria que escolher. Na época de filmar meu primeiro longa, KFZ- 1348, percebi que não dava mais pra conciliar e pedi demissão do jornal. Para ele, o jornalismo teve uma importância fundamental em sua formação, A questão ética, a forma como conduzir uma entrevista, a necessidade de sensibilizar, de conseguir se deixar extasiar pelo cotidiano; isso é muito difícil e aprendemos no fazer jornalístico. Durante o período, aprendeu a sistematizar seu conhecimento em formato de oficinas e workshops. Em março de 2013, Ana decidiu deixar o emprego e seguir ensinando fotografia e análise através de oficinas comunitárias. Hoje, ela busca apoio financeiro junto a instituições culturais, de ensino e de apoio a produções artísticas. O mercado de jornalismo é muito amplo e se o recém formado não quer trabalhar dentro de redação de jornal, ele pode trilhar outros caminhos; é só questão de pensar fora da caixa, diz ela. Já Marcelo Pedroso encontrou no cinema sua grande paixão. Formado em Comunicação Social/ Jornalismo pela UFPE, ele iniciou a carreira dentro do Jornal do Commercio, onde foi editor assistente do caderno de Brasil/Internacional. Eu acreditava no jornalismo como um ofício político independente e também como uma profissão sem muita rotina, em que todo dia haveria uma descoberta, um novo contato com realidade, com o mundo em nossa volta. Evidentemente, quase nada disso se concretizou, conta ele. A questão ética, a forma como conduzir uma entrevista, a necessidade de sensibilizar, de conseguir se deixar extasiar pelo cotidiano; isso é muito difícil e aprendemos no fazer jornalístico. -Marcelo Pedroso, cineasta Desde 2007, Marcelo já produziu diversos documentários como os longa-metragem KFZ 1348 (2008), prêmio do Júri da 32a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e melhor filme - Mostra Pernambuco 13º CinePE) e Pacific (2009), considerado melhor filme nos festivais 13º CineEsquemaNovo, 12a Mostra do Filme Livre (RJ), 4º Panorama Coisa de Cinema (BA), I CachoeiraDoc). Seus documentários de curta e média metragem Balsa (2009), Corpo Presente (2011), Camera Escura (2012) também têm se destacado nacionalmente, este último se destacando como melhor filme no Festival de curtas do Rio. A criatividade pode ser bastante útil para profissionais e estudantes trilharem um caminho diferente no jornalismo. A persistência e o empreendedorismo são fundamentais na busca por realização pessoal e sucesso dentro da profissão., afirma o jornalista e consultor do SEBRAE em Pernambuco Leo Salazar. Para ele, é necessário compreender que não só de notícia vive o jornalista. Desde a faculdade ele havia fundado um coletivo com amigos que após um tempo tornou-se sua empresa: a Símio Filmes. Eu mantinha as duas atividades em paralelo, 13

14 Mídia Independente Nesta sessão divulgamos iniciativas que utilizam alternativas que requerem poucos recursos a fim de viabilizar suas atividades. Abaixo apresentamos dois projetos que utilizam a internet como principal forma de comunicação com seu público e a sociedade. Para saber mais sobre A PULSO Facebook: com/apuulso Foto: Carol Melo Canal no youtube: E a pulso, pulsa Por Mohana Mendes Quando se fala em mercado da comunicação, frequentemente deixam de fora o espaço ainda pouco explorado das mídias independentes. Ela tornou-se matéria de debate após os protestos de rua que aconteceram no meio deste ano, depois que o grupo de Mídia NINJA (sigla para Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação) documentou todos os acontecimentos de rua de forma descentralizada, através das mídias sociais, principalmente o youtube. Para aqueles que frequentam a cena underground, A Pulso Produções chega como uma oportunidade dentro do novo cenário de mídias independentes. O empreendimento é uma mistura de produtora e projeto e traz como proposta dar voz e vez a cena cultural independente do estado. A cena pernambucana sempre foi reconhecida nacionalmente, mas esteve em segundo plano nas mídias locais, afirma Jonnathan Bogea, editor da Pulso. Com um canal no Yotube e uma Fanpage no Facebook, o projeto utiliza o mesmo formato do mídia NINJA para alcançar o público interessado nas manifestações artísticas urbanas que não encontram espaço dentro dos meios de comunicação. O programa de web A Pulso! traz como âncora a repórter Chily Sampietro que aborda temas com uma linguagem descontraída que mistura charme e informação. Chily sempre foi envolvida com o movimento Rip Rop de Recife e fala se surpreender com a recepção do publico na rua. É engraçado pedirem pra fazer uma foto comigo. Alguns artistas me perguntam quando vão ser entrevistados para nosso programa e tentamos explicar que é só ter calma, que na A Pulso tem espaço pra todo mundo, fala ela. O projeto não conta com muitos aportes financeiros e é bastante seletivo em relação aos patrocínios que recebe, a fim de garantir seu caráter independente. A equipe tem frequentado os eventos da cena cultural pernambucana em busca do que ela tem de melhor a oferecer. Para profissionais da comunicação, esse novo formato de mídia pode ser uma proposta interessante e um novo mercado que chega cheio de possibilidades. 14

15 Mídia Independente Choque Cultural e as redes sociais Por Chily Sampietro O projeto independente Choque Cultural-PE é um exemplo de como pequenas iniciativas podem fortalecer um cenário emergente. Na cena hip-hop, profissionais vem utilizando as redes sociais e o boca a boca para fazer assessoria quando a divulgação dos eventos quando recursos são limitador. Idealizador e organizador da festa Choque Cultural, Filipe Massa vem promovendo o evento desde 2009 no Recife Antigo e na orla de Olinda. O Choque se destaca por fortalecer o movimento hip hop, carente de investimentos culturais, mas que vem ganhando força nos últimos anos. Desde o inicio, ele utiliza as redes sociais e o boca a boca para divulgar a festa. Filipe acredita na força que as ruas e a internet têm. As redes sociais ajudam muito nas divulgações. Fazer o convite pessoalmente também dá um caráter mais intimista para o evento., afirma Filipe. Foto: Carol Melo Peneira Pra Suco Sujo, o Anemico, diz quea divulgação por redes sociais ajuda bastante, Um evento desses na cena independente pernambucana é muito importante e forma de divulgação funciona muito bem com o público que frequenta,diz ele. A produtora Ana Garcia, organiza o Coquetel Molotov, festival de música reconhecido nacionalmente. Embora hoje o evento pernambucano seja grande e estruturado, ela lembra que fazer a assessoria no início era difícil. Admiro quem consegue manter eventos independentes como o Choque Cultural. Realmente é muito difícil quando não se tem recursos e precisamos contar com a criatividade, comenta ela. O choque cultural tem demonstrado que uma iniciativa dentro da cena independente pode dar certo utilizando ferramentas de baixo custo e grande alcance como as redes sociais. No choque, muitas bandas de rap se apresentam e além da música, acontecem exposições de grafite, fotografia e apresentações de dança de rua.mensalmente, O Choque convida um artista pernambucano para apresentar seus trabalhos. O MC do grupo Sem 15

16