REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS PROFESSORES DE ALUNOS HIPERATIVOS INCLUÍDOS EM ESCOLA DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DE SANTA MARIA/RS 1
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1 REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS PROFESSORES DE ALUNOS HIPERATIVOS INCLUÍDOS EM ESCOLA DA REDE PÚBLICA ESTADUAL DE SANTA MARIA/RS 1 Sibila Luft 2 Profª Drª Maria Inês Naujorks 3 O interesse por este tema de pesquisa se deu pela prática profissional, em escola localizada na periferia de Santa Maria/RS. Ao iniciar o trabalho nesta escola, percebeu-se a grande demanda de alunos com o diagnóstico médico do Transtorno Déficit Atenção Hiperatividade (TDAH) e fazendo uso de medicação controlada, bem como uma quantidade de alunos encaminhados para avaliação (médica e psicológica). Na maioria dos casos, alunos repetentes, com problemas de desatenção, de indisciplina e comportamentais em sala de aula, sendo estas as principais queixas efetuadas pelos professores. Compreender as Representações Sociais dos professores de alunos hiperativos incluídos em escola pública estadual de Santa Maria/RS. Para alcançar os objetivos propostos, pretendese utilizar uma metodologia de abordagem qualitativa. Serão realizadas observações e entrevistas não-diretivas com os professores de uma escola da rede pública estadual de Santa Maria/RS, sendo estes, os sujeitos desta pesquisa. A escolha da escola será aleatória. As entrevistas, serão gravadas, transcritas para posterior análise de conteúdo. Como aporte teórico, utilizo a teoria das Representações Sociais. Com a pesquisa, pretendemos propiciar uma escuta ao professor, efetuando uma leitura pelo viés da Educação, visando compreender as Representações Sociais destes, em relação aos alunos hiperativos incluídos. Neste sentido, pretende-se desenvolver conhecimento científico, contribuindo para a 1 O presente trabalho vem sendo realizado com o apoio CAPES, entidade do governo brasileiro voltada para a formação de recursos humanos (benefício PROESP/SEESP/CAPES-UFSM). 2 Mestranda PPGE/CE/UFSM. 3 Orientadora PPGE/CE/UFSM.
2 2 formação continuada de professores bem como conhecer como ocorre a inclusão destes alunos. Palavras-Chave: Representações Sociais, Hiperatividade, Inclusão, Professores. INTRODUÇÃO: O interesse por este tema de pesquisa vem sendo construído pelo exercício profissional, atuando em instituição escolar, bem como através de trabalhos desenvolvidos com crianças e adolescentes em conflito com a lei, em município da região central do estado. Ao desenvolver exercício profissional na escola, percebi a grande demanda de alunos com diagnóstico médico do Transtorno de Déficit Atenção Hiperatividade, o TDAH e fazendo uso de substâncias psicotrópicas que tem como princípio ativo o Cloridrato de Metilfenidato 4, bem como uma quantidade de alunos encaminhados para avaliação médica e psicológica. Na maioria dos casos, alunos repetentes, com problemas de desatenção, de indisciplina e comportamentais em sala de aula, sendo as principais queixas efetuadas pelos professores. Segundo Naujorks (2001) esta aponta que: distúrbios de conduta são pouco estudados. Neste sentido, percebeu-se uma lacuna em relação a estas demandas. O SURGIMENTO DA INFÃNCIA E O HISTÓRICODO TDAH: Segundo Áriês (1981) a infância surge na Idade Média. Com o advento da tipografia, as crianças foram separadas dos adultos (Postman,1999) sendo criando um mundo para elas: a infância. Surge então, a necessidade de se adequarem ao novo mundo 4 Estas substâncias são comercializadas com o nome de Ritalina e Concerta.
3 3 letrado que então advinha. As crianças deveriam aprender a ler e escrever, sendo que a idéia de infância para Postman (1999) era uma idéia de classe média, visto esta poder sustentá-la. Assim, percebemos que a diferenciação da massa escolar, surge com os bancos escolares, atitude suspeita segundo Áriês (1981). Anterior aos bancos, crianças e adultos dividiam os mesmos espaços. Com a incorporação dos bancos, gradativamente uma disciplina rígida vem a ser adotada nas escolas no século XV, bem com a prática da delação e a utilização dos castigos corporais, tudo a critério do mestre, no sentido de controle e disciplina. Com o aumento do contingente populacional, surge a noção da criança bem educada, que seriam: o pequeno burguês (França), e o gentleman (Inglaterra). Estes novos hábitos, os das crianças bem-educadas, que surgem no século XVII, como aponta Áries (1981), seriam inicialmente os das crianças, depois das elites, até ser incorporado pelo homem moderno. Uma nova concepção de infância vem sendo discutida na sociedade francesa com a convenção de 1763, que pregava o fim dos castigos corporais. Foucault (1997) aponta que a família dos anormais surge no século XIX com a organização de uma rede institucional complexa entre a Medicina e o Direito. Em relação aos transtornos hipercinéticos (Kaplan, 2002) estes passam a ser reconhecidos pela medicina também ao final do século XIX e início do século XX. Mas, os desordeiros, os indisciplinados, os vagabundos, estes já eram percebidos no ambiente escolar de longa data. (ARIÉS, 1981; POSTMAN, 1999; CORAZZA, 2000; FOUCAULT, 1987/1997; PATTO, 1996). Na década de 40, os transtornos eram conhecidos como lesão cerebral mínima. Para Strauss e Lehtinen, em 1947 (in GORODSCY, 1991), estes autores utilizam a denominação Síndrome de Lesão Cerebral Mínima para classificar crianças com hiperatividade, distrabilidade, distúrbios cognitivos e problemas de adaptação social. Para Kaplan (2002), no início deste século, crianças impulsivas, desinibidas e hiperativas eram agrupadas sob o rótulo de Síndrome Hiperativa. Em 1962, são denominados de Disfunção Cerebral Mínima (DCM). Na década de 70, como Transtorno do Déficit de Atenção (TDA com ou sem hiperatividade). Já em 1980 a Associação Psiquiátrica Americana (APA) redefine para Síndrome de Déficit de
4 4 Atenção com ou sem Hiperatividade, e a CID-10 para Transtorno Hipercinéticos. Sendo suas principais características: [...] falta de persistência em atividades que requeiram envolvimento cognitivo e uma tendência a mudar de uma atividade para outra sem completar nenhuma, junto com uma atividade excessiva, desorganizada e mal-controlada...são assiduamente imprudentes e impulsivas, propensão a acidentes e incorrem em problemas disciplinares por infrações não premeditadas de regras socialmente desinibidas. Comprometimento cognitivo é comum e atrasos específicos do desenvolvimento motor e da linguagem são desproporcionalmente freqüentes...atenção comprometida e hiperatividade são necessárias para o diagnóstico e devem ser evidentes em mais de uma situação (CID-10, 1993, p.256/7). No ano de 1994 (DSM-IV) redefine para: Transtorno de Déficit de Atenção Hiperatividade (TDAH), com os subtipos: tipo desatento, o tipo hiperativo/impulsivo e o tipo combinado. Segundo Kaplan (2002) o TDAH: é caracterizado por um alcance inapropriadamente fraco da atenção, em termos evolutivos ou aspectos de hiperatividade e impulsividade ou ambos, inapropriados à idade, e apresenta as co-morbidades associadas, sendo as mais comuns (Rodhe, 2004): Transtorno Desafiador de Oposição (TDO); Problemas de Aprendizado, Transtorno de Conduta (TC); Ansiedade; Transtorno Bipolar. Neste sentido, um dos aspectos importantes em relação às crianças com o diagnóstico do TDAH, importante se faz questionar como deve ser a educação destas crianças? Segundo Carvalho (2004), no passado ocorria o extermínio dos deficientes, contemporaneamente, o discurso diz respeito à inclusão, que vem de encontro aos acordos assinados por diversos paises, inclusive o Brasil. Na década de 80, o tema deficiência apresenta-se em evidência com o discurso da integração. Já nos anos 90, com os movimentos para a inclusão, entre eles, a Conferência Mundial de Educação para Todos (Jomtien, Tailândia) e a Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais: Acesso e Qualidade (Salamanca,
5 5 Espanha), destacam-se como marcos internacionais para a inclusão de pessoas com Necessidades Educacionais Especiais. No Brasil, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei Nº 9394/96 assegura que a Educação Especial será oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais, neste sentido percebemos um grande avanço no que se refere às políticas para a Educação Especial, no que tange a aspectos da legislação. Quanto ao que diz respeito aos alunos que devem ser apoiados com política de Educação Especial ou, Educandos com Necessidades Especiais, as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica esta refere: [...] são aqueles que, durante o processo educacional, demonstram dificuldades acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos: aqueles não vinculados a uma causa orgânica específica e aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências. Dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando adaptações de acesso ao currículo, com utilização de linguagens e códigos aplicáveis, altas habilidades/superdotação, grande facilidade de aprendizagem[...] (Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na educação Básica, 2001, p. 39). Nas Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica não aponta a terminologia hiperativos, mas, fica implícito à situação destes alunos. Desse modo, Sassaki (1997) aponta que as Necessidades Educacionais Especiais são mais amplas, entende que:...as necessidades especiais, estas podem resultar de condições atípicas, tais como...dificuldades de aprendizado...problemas de conduta, distúrbio de déficit de atenção com hiperatividade.... Para o autor, condições atípicas são:...situações sociais marginalizantes ou excludentes. (SASSAKI, 1997 p.16).
6 6 Para vencer estas situações referidas pelo autor, um árduo trabalho vem sendo realizado diminuindo as barreiras entre exclusão e inclusão, mas não basta diminuí-las e sim eliminá-las. Neste sentido, para Spink (1993): O ato de representação transfere o que é estranho, perturbador do universo exterior para o interior, coloca-o em uma categoria e contexto conhecidos, então, com esta pesquisa pretendemos buscar compreender, as Representações Sociais dos professores de alunos hiperativos incluídos em escola da rede pública de Santa Maria/RS, como ocorre este processo, propiciar assim uma escuta com relação ao exercício profissional deste professor. Reporto a Jodelet (2001) que define Representações Sociais como formas de conhecimento que orientam e organizam as condutas e as comunicações sociais, sendo estes conhecimentos, de fundamental relevância para a compreensão deste fenômeno. Sendo os alunos hiperativos diagnosticados, estes passam a ser reconhecidos pelas especialidades médicas e como nos esclarece Spink (1993, p.48): tudo que permanece inclassificável e não rotulável parece não existente, estranho e, assim, ameaçador.... Logo, diagnosticar, medicar, tratar, apresenta-se como a proposta pelas especialidades médicas aos alunos hiperativos. E a educação, o que tem a ver com tudo isto? Este é um dos questionamentos que buscamos elucidar através desta proposta. Buscamos efetuar uma leitura investigativa através da pesquisa qualitativa descritiva e, como método pretendemos utilizar a análise de conteúdo, visando compreender as Representações Sociais dos professores de escola da rede pública de Santa Maria frente aos alunos hiperativos. Como aporte teórico, utilizo a teoria das Representações Sociais. Para atingir os objetivos propostos neste estudo, serão sujeitos, os professores da rede pública estadual interessados em participar desta pesquisa, e que trabalhem com crianças de 7 a 10 anos de idade. Neste contexto, reporto a Spink (1993) referindo-se que: Dar voz ao entrevistado, evitando impor as pré-concepções e categorias do pesquisador, permite eliciar um rico material, especialmente quando este é referido às práticas sociais relevantes ao objeto da investigação e às condições de produção das representações em pauta. (SPINK, 1993, p.100).
7 7 Pretendemos então propiciar uma escuta ao professor, que exerce atividade profissional no dia-a-dia com estes alunos. a sua REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARIÉS, Philippe. História Social da Criança e da Família. RJ.LTC, 2. ed, BARKLEY, A. Russel. Transtorno de Déficit de Atenção Hiperatividade (TDAH). POA/RS: ARTMED, BRASIL, Congresso Nacional. Plano Nacional de Educação. Brasília-Lei Nº , de 09 /01/2001. Diário Oficial da União. BRASIL, Ministério da Educação. Diretrizes Nacionais p/ a Educação Especial na Educação Básica. Secretária de Educação Especial MEC; SEESP, BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). LEI Nº 8069 de 13 de julho de 1990: ed Pallotti, CARVALHO, R.E. Educação Inclusiva com os pingos nos is. Ed. Mediação, POA, CARVALHO, R.E. A nova LDB e a Educação Especial. WVA, Rio de Janeiro, CORAZZA, S.M. História da Infância Sem Fim. Ed. UNIJUÍ, Ijuí/RS, FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo. Paz e terra, FREIRE, P. Educação e mudança. Paz e Terra. RJ
8 8 FREITAS, S. N. (org.). Educação Inclusiva e Necessidades Educacionais Especiais. Ed. UFSM, Santa Maria, FOUCAULT, M. Resumo dos Cursos do Collège de France. RJ. Zahar editor, GADOTTI, M. Educação e Ordem Classista. In: FREIRE, P. Educação e Mudança. São Paulo: Paz e Terra, JODELET, Denise (Org.). Janeiro:Ed. UERJ, As representações sociais. Trad. Lilian Ulup. Rio de KAPLAN, HAROLD I. Compêndio de Psiquiatria. POA, ARTMED, 7ª ed, MOSCOVICI, Serge. Representações Sociais: investigações em psicologia socail. Rio de Janeiro: Vozes, MOSCOVICI, Serge. A Representação Social da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar editores, NAUJORKS, Mª Inês. Pesquisa em Educação Especial: o desafio da qualificação. Bauru/SP. EDUSC, O.M.S. (Organização Mundial de Saúde).Classificação de transtornos mentais e de comportamento da C.I.D. 10 (descrições clínicas e diretrizes diagnósticas). Porto Alegre, ARTMED, PATTO, Mª H.S. A Produção do Fracasso Escolar. São Paulo/SP, Ed. Queiroz, POSTMANN, N. O desaparecimento da infância ROHDE, L.A.P, MATTOS, P. & Cols. Princípio e Práticas em Transtorno Déficit Atenção Hiperatividade. POA. ARTMED, 2003.
9 9 ROHDE, L.A.P. & BENCZIK, E.B.P. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade: o que é? Como ajudar? ARTMED, POA, SÁ, C. P. Núcleo central das Representações Sociais. Petrópolis, Vozes, SÁ, C.P. A Construção do Objeto de Pesquisa em Representações Sociais. Ed. UERJ. Rio de Janeiro, SASSAKI, R. K. Inclusão Construindo uma Sociedade para Todos. WVA, Rio de Janeiro, SHIROMA, E. O. & et alii. Política Educacional. 2ª ed. Rio de Janeiro: DP & A, SPINK, M.J. (Org). O conhecimento no cotidiano: as representações sociais na perspectiva da psicologia social. ed. Brasiliense, SP, SPINK, M.J. (Org). A cidadania em construção: uma reflexão transdisciplinar. Ed. Cortez, SP, 1994.
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