Faces espaciais do Trabalho na Cidade de Tefé 1- INTRODUÇÃO

Transcrição

1 Leonardo de Oliveira Mendes (Docente) Universidade do Estado do Amazonas Viviane Pimentel Moscardini Sussumo Faces espaciais do Trabalho na Cidade de Tefé 1- INTRODUÇÃO Nesta oportunidade viemos socializar pesquisas por nós orientadas em nível de conclusão de curso de graduação com o objetivo de debater as faces do trabalho no interior do Amazonas, na cidade de Tefé. FIGURA1: Localização do município de Tefé-Am. Fonte: NETO, A Geografia, o trabalho e a ação de pesquisa.

2 Acreditamos que compreender a realidade do ponto de vista geográfico, significa ter como referência suas categorias de base, paisagem, território e espaço na busca do desvendamento da ordem espacial dos fenômenos. Temos ainda como fundamento de nossa análise a categoria trabalho. Por meio do trabalho o homem se relaciona com os outros homens e estes com a natureza num ininterrupto movimento consciente de criação/transformação, hominização e naturalização. Juntando trabalho e geografia em nossas pesquisas podemos dizer que buscamos a compreensão da geografia do trabalho na cidade de Tefé-AM. Como vivemos em uma sociedade capitalista, levamos em consideração em nossas pesquisas a teoria da luta de classes e como recurso da análise a dialética escalar, singularidade, universalidade e particularidade. Isso porque as contradições capitaltrabalho que emanam no capitalismo exigem uma teoria que nos dê possibilidade de desvendar, numa relação local-global, os processos de dominação na cidade de Tefé. Do ponto de vista metodológico temos atuado através de estratégias que nos permitam aproximar ao máximo da realidade do fenômeno, como por exemplo, trabalhos de campo como entrevistas semiestruturadas, rodas de discussão, observação direta, entre outros, experimentando a vivência com os sujeitos pesquisados e até mesmo técnicas quantitativas, como questionários, para colher dados mais gerais abrangendo um número maior de sujeitos. 3- FACES DO TABALHO A partir do método, ou seja, a ordem teórica que nos sustenta, e da metodologia descrita, tivemos a oportunidade de descobrir alguns aspectos do que estamos denominando de faces espaciais do trabalho nessa cidade. Analisando o trabalho no lixo na cidade de Tefé, descobrimos que a maioria dos trabalhadores da limpeza urbana tem baixos níveis de escolarização, apesar de termos encontrado trabalhadores com ensino médio completo, fator que os forçam a este tipo de trabalho, a maioria são mulheres (60%), muitas delas solteiras e com filhos, o que pode

3 indicar por um lado a atração de mulheres aos postos mais precários de trabalho e por outro uma necessidade de sobrevivência diante da falta empregos na cidade. Trabalham seis horas diárias e recebem um salário mínimo, grande parte deles realizam outras atividades (pesca, agricultura, mototaxi, entre outros) para conseguirem sobreviver. Esses trabalhadores têm em média 20 a 40 anos, atuam sem equipamentos de segurança, desorganizados enquanto, classe, profundamente submetidos politicamente Ao poder das elites locais. Há também que se destacar que houve um processo de terceirização do serviço de limpeza urbana trazendo alguns aspectos negativos aos trabalhadores, como: Substituição de trabalhadores antigos por mais novos, salários baixos, condições de trabalho insalubres e equipamentos inadequados. Estes estão sujeitos diariamente a ocorrência de acidentes e vulneráveis a doenças que são advindas do lixo (SITUBA E MENDES, 2014). Pesquisando o território do trabalho dos trabalhadores das lojas de confecção do mercado municipal de Tefé descobrimos que são em sua maioria mulheres, de dezoito a vinte e seis anos, suas condições de trabalho precárias, diversos vendedores trabalhando o dia todo em pé, em lojas amontoadas umas as outras, onde há desconforto térmico, a falta de banheiro público adequado, os corredores entre as lojas por onde passam os clientes são estreitos ocasionando congestionamento de pessoas. Os trabalhadores convivem com o cheiro forte devido a proximidade das lojas com mercado de peixes e carnes. O salário é extremamente baixo, que aliado a carga horária de trabalho alta, não garante aos trabalhadores uma boa qualidade de vida. Além disso, muitos trabalhadores não tem carteira de trabalho assinada o que não dá nenhuma garantia de estabilidade no emprego, nenhum tipo de licença e de aposentadoria (MENESES E MENDES). Nossas pesquisas apontam para uma realidade local de dominação dos trabalhadores pela burguesia apoiadas pelo Estado, situação essa por nós refletida, sobretudo nos processos de (re)produção social (TEIXEIRA E MENDES, 2015). Especificamente nesta última pesquisa, o que percebemos é um esquecimento por parte

4 dos nossos representantes no parlamento local no que se refere a políticas públicas no bairro em análise em todas as áreas. Parte da infraestrutura desse bairro está precária, as pessoas vivem sem asfalto nas ruas, com esgoto a céu aberto, falta de segurança e área de lazer para crianças jovens e adolescentes. Descobrimos ainda discursos diametralmente opostos entre vereadores e a população. (Idem) 4- REFLEXÕES Trabalho, geografia, espaço, realidade... Pesquisar... Quanto mais atuo como docente, quanto mais pesquiso, cada dia mais quando me interesso por uma análise... me pergunto a melhor maneira de acessar o real, é possível comprendê-lo? Compreender pra quê? Questionamentos elementares que fogem inclusive do que me propus a tratar aqui. Qual teoria me ajuda a explicar? Arrisco... Marx ainda é atual... ricos vivendo do sangue dos pobres, uma invariância quase estúpida atravessa os séculos... Os vampiros sempre os dominadores o sangue os trabalhadores... A arquitetura política de tudo isso que move o coração... O capital... O cérebro da dominação, das artimanhas do poder... Pesquiso, penso, vejo, poetizo, vivo, sinto... como explicar? Transformar? Enfim, sou um homem em busca da vida, da justiça, da transformação social, da liberdade, do amor... mais do que isso a geografia de tudo isso... a dimensão espacial de tudo isso. Amazonas... não é Amazônia... Amazonas não é só floresta e arvores, e animais, e índios que precisam ser salvos, civilizados, vestidos, aliás, somos muitos de nós citadinos e vestidos... Apenas somos... e eu apenas vivo neste lugar e tento explicar... Trabalhadores de Tefé... vamos à luta! 5- BIBLIOGRAFIA TEIXEIRA, F. S, MENDES, L. O. A Camara Municipal de Tefé: A geografia política em debate. 19p (monografia defendida junto à Universidade do Estado do Amazonas).

5 SITUBA, N. S. MENDES, L. O. A espacialidade do trabalho dos agentes da limpeza pública na cidade de Tefé- Am. Universidade do Estado do Amazonas UEA, Centro de Estudos Superiores de Tefé CEST. Trabalho de conclusão de curso, p. TEIXEIRA, F. S, MENDES, L. O. Territorialidade dos trabalhadores de confecções do Mercado municipal de Tefé-AM. 21p (monografia defendida junto à Universidade do Estado do Amazonas).