AVALIAÇÃO DA IMPLANTAÇÃO DE UM AMBIENTE DE CONVIVÊNCIA PERMANENTE EM UM CAPS INFANTIL 1
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- Maria Laura de Mendonça Barreiro
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1 AVALIAÇÃO DA IMPLANTAÇÃO DE UM AMBIENTE DE CONVIVÊNCIA PERMANENTE EM UM CAPS INFANTIL 1 PEIXOTO, Maristela Jaqueline Reis 2 ; LENA, Marisangela Spolaôr 3, CULAU, Fernanda Steffen 4, CASSEL, Paula Argemi 5, DIAS, Hericka Zogbi Jorge 5 1 Trabalho de Pesquisa _UFSM 2 Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 3 Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 4 Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 5 Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil 6 Curso de Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil maris.rpeixoto@gmail.com RESUMO O presente trabalho pretende investigar o impacto da intervenção realizada através da implantação de um ambiente de convivência permanente em um CAPS Infantil. Trata-se de um estudo prospectivo, no qual os participantes serão as crianças, suas mães e/ou cuidadores, e os funcionários do CAPSi. A intervenção será avaliada através de instrumentos de avaliação de características sóciodemográficas, qualidade de vida, características relacionais e de sintomatologia, em dois momentos: antes que seja estabelecida a intervenção, (T1), e ao final de um período de 6 meses, (T2). Acreditamos que o estabelecimento de um ambiente suficientemente bom sobre o qual se possa (re) construir as configurações vinculares poderá ajudar na melhoria do prognóstico, diminuição de sintomatologia e na prevenção de transtornos mentais graves na vida adulta. Palavras-chave: Ambiente terapêutico; Intervenção; Avaliação; Psicologia Infantil; Prevenção. 1.INTRODUÇÃO Estudos recentes têm apresentado uma prevalência de problemas de saúde mental na criança variando de 10 até 20%, sendo considerada a causa mais relevante de problemas na infância. Metade das crianças e adolescentes entre 10 e 17 anos estão envolvidos em pelo menos dois ou mais comportamentos de risco, como abuso de álcool e drogas, delinqüência, baixo aproveitamento escolar e gravidez. Da mesma forma, vários estudos em várias culturas têm apontado para proporções igualmente elevadas de crianças 1
2 na idade pré-escolar e escolar sofrendo de problemas emocionais (HALPERN E FIGUERAS, 2004). Martins, Costa, Saforcada e Cunha (2004) apresentaram após estudo de coorte, oito fatores de risco para a criança, associados à qualidade do ambiente: baixa renda familiar mensal, baixa escolaridade materna, sexo masculino, casas com mais de sete residentes, número de irmãos maior ou igual a quatro, uso de tabaco na gestação, crianças que dormem na cama dos pais aos 4 anos e mães com presença de transtornos psiquiátricos. A doença mental grave na infância contém um importante componente da relação inicial, também entendida como relação objetal com a mãe. A estruturação do psiquismo necessita de alguns elementos importantes citados por Winnicott, como autonomia e independência (Winnicott, 1983). A impossibilidade da mãe em permitir o processo de separação da criança surge por dificuldades pessoais e ambientais, que acabam por não favorecer tais processos de independência emocional. Nos serviços de atendimento a saúde mental de crianças, é importante que se possa restabelecer esse sentimento de segurança inicial, distante em algum momento da figura exclusiva da mãe, que por entraves internos ou ambientais não pode responder, sozinha, pela demanda emocional da criança. É imprescindível que se possa fornecer às crianças acometidas por algum tipo de transtorno mental um ambiente acolhedor e facilitador do seu desenvolvimento. Nesses casos, tanto as crianças quanto suas mães ou cuidadores substitutos necessitam de atenção global, pois se configuram em dois grupos distintos, com necessidades distintas mas que se cruzam no cuidado à criança, cuja demanda sobre os adultos, funcionários, mães e/ou cuidadores, é intensa. No sentido de minimizar sintomas atuais e trabalhar na prevenção do agravamento dos sintomas e na prevenção do estabelecimento do transtorno de personalidade adulta, o presente trabalho visa contribuir com o processo terapêutico das crianças usuárias do CAPS infantil através de uma intervenção aqui denominada implantação de um espaço de convivência para as crianças portadoras de transtornos graves do desenvolvimento, como parte do atendimento do que entendemos por clínica ampliada nos atendimentos de saúde mental 2. DESENVOLVIMENTO Sabe-se da importância da delimitação de espaço, físico e psicológico, e o papel das fronteiras para o desenvolvimento saudável do psiquismo (ANZIEU, 1989). Para a criança o meio é fundamental para que seu desenvolvimento ocorra de maneira satisfatória. O 2
3 Ministério da Saúde, através da Política Nacional de Humanização (PNH) Humaniza SUS (2008) explicita, o conceito de ambiência como o tratamento que é dado ao espaço, sendo ele social, profissional e de relações entre os indivíduos. A finalidade do que é feito no espaço é para que todos que o freqüentam, se sintam acolhidos, tornando o local, de certa forma, mais humano. Ainda de acordo com o Ministério da Saúde (2008) o conceito de ambiência deve seguir três eixos que aparecem didaticamente separados, mas que devem estar sempre juntos compondo-a. No primeiro, o espaço deve visar o conforto, a privacidade e a individualidade de trabalhadores e usuários com atenção especial aos elementos que compõem esse ambiente, e a interação com as pessoas, como, por exemplo, a cor, os odores, a sonorização, a iluminação, dentre outras. No segundo eixo, o espaço deve promover o encontro entre as pessoas, possibilitando a produção de subjetividades. E o terceiro eixo esclarece que o espaço deve ser pensado como uma forma de servir como um meio que facilite o processo de trabalho, favorecendo para que o atendimento seja resolutivo, além de mais humano. O CAPS infantil já conta hoje com modalidades diferentes de atendimento, por parte de seus técnicos e outros por voluntários, na maioria alunos de graduação, oriundos de projetos de pesquisa e intervenção, porém, ocorrendo de maneira isolada. Esperamos através deste projeto instrumentalizar o ambiente e integrar as práticas numa grande rede interna, no sentido de proporcionar às crianças que permaneçam mais tempo (com qualidade) no CAPSi além daquele pré-determinado pelas consultas, bem como suas mães e /ou cuidadores possam estar integrados a seus processos terapêuticos, e conseqüentemente, na ressiginificação dos papéis destes personagens, crianças e suas mães no processo de saúde-doença. A pesquisa, nesse sentido, pretende avaliar as crianças, suas mães e /ou cuidadores e funcionários do CAPSi antes e depois da implantação do ambiente de convivência. Esperamos que a intervenção possa vir a ser um complemento terapêutico, um espaço de desenvolvimento e de maiores possibilidades de interação saudável entre as crianças, e para suas mães, enquanto aguardam os atendimentos das crianças. Essa maior interação vai atuar diretamente na prevenção em saúde mental, considerando que a gradual independização emocional da criança auxiliará no seu desenvolvimento global e na minimização dos sintomas atuais. A pesquisa também prevê a avaliação dos funcionários e técnicos do CAPSi em função de que estes compõem o sistema de atenção e muitas vezes têm suas possibilidades de intervenção diminuídas em função da ausência de recursos ambientais 3
4 (espaço e/ou materiais) e intelectuais (treinamento, formação especializada). A implantação do ambiente de convivência poderá ser benéfico também para os funcionários e técnicos no sentido de caracterizar melhor a função do CAPSi como centro de apoio e não apenas como ambulatório, onde poderão desenvolver mais amplamente as ações de atenção as crianças não apenas em horários de atendimento preestabelecidos, o que reconfigura seus papéis no local. Queremos desta forma e através da presente proposta, evadir a lógica de atendimento ambulatorial e colocar em prática os objetivos para os quais os CAPS foram criados. Ação esta, que no presente momento só poderá ser otimizada através da parceria entre universidade e o serviço de saúde. Numa proposta dessa qualidade, o benefício poderá ser visto e medido em todos os âmbitos: através dos resultados da pesquisa, antes e depois da intervenção; através da maior participação e adesão das crianças e seus pais no ambiente do CAPSI e não apenas nos horários de atendimento; na formação ampliada que receberão os alunos de graduação e mestrado envolvidos na proposta; na qualificação dos funcionários e técnicos inseridos no sistema de saúde e em atividade direta com as crianças e adolescentes e seus familiares. 3. METODOLOGIA Trata- se de um estudo prospectivo, com uma intervenção e uma avaliação dividida em dois tempos: - Tempo 1 (T1): será realizado um estudo de avaliação das características citadas nos objetivos, nos três grandes grupos que compõem o estudo, como será apresentado a seguir em amostra e instrumentos. Ao final da etapa de estudo diagnóstico em T1, será implantado o ambiente de convivência, que terá as seguintes características/ qualidades: Um ambiente terapêutico, permanente, caracterizado por um local específico (sala hoje em desuso) no CAPS infantil, a qual será destinada para o desenvolvimento de atividades dirigidas às crianças durante o dia e entre suas consultas ambulatoriais previamente marcadas; Este ambiente estruturado contará com a ação de profissionais do CAPSi, alunos de graduação da psicologia e outros cursos que venham a inserir-se no trabalho na forma de estagiários curriculares, bolsistas de pesquisa ou de extensão; O ambiente contará com a ocorrência permanente de oficinas terapêuticas abertas, de cunho artístico, pedagógico, de atividades manuais e de expressão geral, coordenadas pela arteterapeuta do CAPSi, com a colaboração de alunos; 4
5 Eventualmente o ambiente poderá ter atividades voltadas para atenção aos familiares/ cuidadores, na forma de atividades terapêuticas, educativas ou informativas; O ambiente contará permanentemente com a presença de monitores na assessoria das atividades, para que se configure num espaço de convivência permanente de desenvolvimento para os usuários do CAPSi, no qual possam estar durante o dia, desenvolvendo atividades. - Tempo (T2): Após os primeiros 6 meses de funcionamento do ambiente, um novo estudo de avaliação será conduzido, com os mesmos instrumentos utilizados em T1, a fim de aferir o impacto da intervenção sobre os participantes. Os participantes que venham a inserir-se no CAPSi após a implantação do ambiente de convivência, farão a avaliação 1 na sua entrada no serviço e a avaliação 2 após 6 meses de permanência, no intuito de tornar regular a avaliação e incrementar a criação de um banco de dados de saúde mental infantil na cidade de Santa Maria, que auxilie na organização do serviço, instrumentalize os funcionários em ferramentas de pesquisa em saúde e também na estruturação de ações dirigidas aos usuários de acordo com as necessidades levantadas. 4. RESULTADOS O estudo está em andamento os resultado que serão apresentados são parciais. O que se espera é que a partir da intervenção se estabeleça um ambiente suficientemente bom capaz de auxiliar na construção ou reconstrução das configurações vinculares da criança. Pretende-se também gerar uma mudança no atendimento do CAPSi, tornando-o mais adequado ao atendimento global das crianças, provocando uma melhoria do prognóstico, diminuição de sintomatologia e, conseqüentemente, promovendo a prevenção de transtornos mentais graves na vida adulta. O estudo pretende ainda, tornar regular a avaliação e promover a criação de um banco de dados de saúde mental infantil na cidade de Santa Maria. 5. CONCLUSÃO O PROCONVIVE é um projeto de intervenção e de avaliação que contém um simbolismo importante para as relações das mães e das crianças usuárias de CAPS infantil, em função da importância do impacto da relação inicial entre mãe e criança para o desenvolvimento saudável do psiquismo e a importância da existência de um ambiente 5
6 seguro. Assim, o benefício poderá ser visto em todos os âmbitos através dos resultados da pesquisa, antes e depois da intervenção, da maior participação e adesão das crianças e seus pais no ambiente do CAPSi, na formação ampliada que receberão os alunos de graduação envolvidos, na qualificação dos funcionários e técnicos inseridos no sistema de saúde e em atividade direta com as crianças e adolescentes e seus familiares. REFERÊNCIAS ANZIEU, D. O eu-pele. São Paulo: Casa do Psicólogo, HALPERN, R.; FIGUERAS, M. Influências ambientais na saúde mental. Jornal de Pediatria V. 80, Nº2, MARTINS, MF; COSTA, JS; SAFORCADA E; CUNHA MD. Qualidade do ambiente e fatores associados: um estudo em crianças de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 20, n. 3, p , p , MCDOUGALL, J. Teatros do corpo : o psicossoma em psicanálise. São Paulo: Martins Fontes, 1991 MAHLER, M. O processo de separação-individuação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982 MALDONADO, M.T. Psicologia da gravidez, parto e puerpério. Petrópolis: Vozes, 1982 MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas, Caminhos para uma Política de saúde mental infanto-juvenil,série B. Textos Básicos em Saúde, MINISTÉRIO DA SAÚDE, Secretaria de Atenção à Saúde, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização, AMBIENCIA, Série B. Textos Básicos de Saúde, Brasília, RAPAPPORT, C.L. (Org.) Teorias do desenvolvimento. São Paulo: EPU, WINNICOTT, D.W. O ambiente e os processos de maturação. Porto Alegre: Artes Médicas,
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