In Memorian: Geralda do Nascimento Cantos Eduardo Francisco de Oliveira

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Benedicto Santarém Carrilho
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2 In Memorian: Geralda do Nascimento Cantos Eduardo Francisco de Oliveira Arranjos: Eduardo Cantos Davö Direção Artística: Solyen Davö Letras e Músicas: Eduardo Cantos Davö

3 O Legado da Voz A voz que me deu essa voz me ensinou a sorrir... Mãos que me seguraram p ra eu caminhar, um disco na antiga vitrola, as guloseimas de minha predileção, um sorriso, um afago, como olhos que enxergaram, além da visão. Nas palavras mansas a lição de amor, pelo rádio na voz, com um samba-canção. Dois mil e tanto tempo depois ainda lembro da voz, em meu rosto no espelho nos umbrais, pronta a esperar. E hoje, quase não me lembro dos sonhos que tinha, quase os esqueci de sonhar. Hoje já não me escondo, à espera de me encontrar, vou fazendo o caminho todo dia quando do sol o raiar e me lembro do abraço. Que os anjos te guardem em toda direção, que eu te levo comigo, dentro do coração! Falar de Nós Lá fora faz temporal e você não vejo mais... Lá fora se espalha o mal... Não me esqueço de ti jamais! Não há um sol a brilhar. Se houver que não seja de dezembro a calar qualquer sonho que se veja. Abrir os olhos e se lembrar do que passou de se apartar. Agora é hora de um amanhã chegar, não vamos embora, vamos cantar. Lá Vamos Nós Estamos atentos aos sinais, podemos ouvir de longe temporais. Temos guarda-chuvas para ir mais longe... Vamos nós... Lá... Já não importa o que passou, mas sim, o que virá. As lutas ganhas não importam, mas as por lutar... E lá vamos nós...

Nas palavras mansas a lição de amor, pelo rádio na voz, com um samba-canção. Dois mil e tanto tempo depois ainda lembro da voz, em meu rosto no espelho nos umbrais, pronta a esperar.

4 (Refrão) Que venha e ponha tudo em seu lugar... Uma centelha que nos possa ajudar. Os cavaleiros do apocalips e Já dizia a profecia que viria aberração novos tempos tão confusos: morte, fome, guerra e destruição. Quatro velhos cavaleiros com o ômega na mão... Esse tempo já chegou! A preguiça celebramos, a inveja cultivamos, fizemos a degradação. Nossa ira espalhamos, matamos a inteligência, desafiando a ciência... Destruímos nossas matas, Feneceu a inocência... Elegemos as feridas, maltratamos os doentes, nas escolas não se aprende! Destruímos as sementes e o apocalipse já começou. (Refrão) Dias de Primavera É quando o sol atrás dos montes se escondia, quando a luz formava um lilás no fim do dia e a lua vinha iluminando em harmonia, nos trazia toda a alegria... De conversas banais, ao redor da flor... Desta terra onde a água faz brotar o olor... Nos telhados gatos, refletindo as cores... Deste entardecer de nuances entre as flores... Hoje já não vejo mais todo aquele azul-lilás, que o sol nos trazia... Nem há hoje mais, conversas sobre a luz do luar. Não há mais gatos nos telhados, nem o perfume, que nos vinha brindar... Vai chover, o céu vai chorar, à tarde dava p ra ver a água descer e a alma lavar... Vai chover, mas não é lágrima, vai se cantar a melodia que vai ficar, pra sempre na lembrança... Melodia que restou p ra eu fazer, melodia que não sei cantar... E a chuva lá fora a rolar...

A preguiça celebramos, a inveja cultivamos, fizemos a degradação. Nossa ira espalhamos, matamos a inteligência, desafiando a ciência... Destruímos nossas matas, Feneceu a inocência.

5 Levitar Leve para voar, por entre as aves, entre as nuvens, entre as naves, labirintos do meu ser. Sinto-me levitar, hoje quero voar nas asas do albatroz, voa, anda veloz, pelos céus azuis que batizo de manto de luz. Leve p ra onde levar, o vento do noroeste quer me carregar p ra onde as flores campestres me façam sentir livre p ra voar. Leve como a luz do sol, leve como um pássaro, o canto do rouxinol acelera meu passo. Posso levitar... Posso levitar... Posso levitar... Um Olhar Para o Futuro Eu vi as flores secarem, vi crianças chorar. Na devastação, vi bandidos matar. Vi a esperança passando e a ganância ficando. Vi a intolerância encurtando as vidas... Eu vi... Eu vi uma terra cinzenta e um planalto extinto, vi uma idéia nascendo na ponta de uma caneta, mil sentidos sentindo. Eu vi os filhos morrendo e o amanhã o que será? A fome bate à porta, não há mais uma horta para poder plantar. Já não existe a esperança, apenas a vontade de mudar. O passado passou e agora e como está. Quantas Máscaras Quantas máscaras que andam nestes rostos, p ra esconder a dor e a covardia... Essas máscaras, que usam noite e dia. Sociedade abandonada, nas esquinas, nas quebradas. Sociedade flagelada, presa a este curral, que parecia tão legal. A justiça é desprezada... Sociedade discriminada, sociedade mascarada, p ra esconder toda desgraça. Sociedade esquecida por essa mãe distraída. Quantas máscaras aqui.

Leve p ra onde levar, o vento do noroeste quer me carregar p ra onde as flores campestres me façam sentir livre p ra voar.

6 Manhã de inverno Eu que esperei a tarde passar, mas não passou! Eu que fiquei nesse lugar onde o céu se fez gris... Eu que andei, sem os pés no chão, eu que sonhei! O inverno vem e a chuva também, banha esse cais... A serra verde, voa albatroz, foge a minha voz... A chuva que cai não faz nenhum mal, mas é temporal! Eu que agora sei que um dia o mundo vem e nos sufoca! Eu que agora vi, no vôo eu pressenti, que chegou meu cais. O s o m d o s t a m b o r e s O som dos tambores que eu ouço me falam de um povo guerreiro das tribos, histórias e lendas de rainhas e de reis negros... No som dos tambores um lamento, mãe África, longe seus filhos, navios negreiros, Américas, novo e velho mundo... Mesma dor! No som dos tambores que eu ouço, os cantos de Ketu e Nagô, entoando em ioruba as bênçãos de pai Oxalá... No som dos tambores que ouço, grilhões arrebentando a noite, construindo um país pelo dia, riqueza de reis e barões... Liberdade ainda que tardia, Chega... E mistura as cores, os credos, os ritmos... Cria o samba, o choro, nossa identidade: (Refrão) Brasil! Teus tambores que ouço, teus velhos sonhos, moços teus cantos mestiços, beleza de gente que sabe sorrir... E não importa a dor, não importa o peso, não vai desistir de ser feliz!

Eu que agora sei que um dia o mundo vem e nos sufoca! Eu que agora vi, no vôo eu pressenti, que chegou meu cais.

7 Este é um disco feito de afeto, o afeto que vem com O LEGADO DA VOZ, entre pessoas com um laço de carinho, com os mesmos traços nos espelhos de nós... Faz, assim, com que nos lembremos de FALAR DE NÓS, das nossas lutas de ontem pelos ideais de um amanhã, para que saibamos que LÁ VAMOS NÓS, em busca de um lugar melhor para todos e cada um, para que deixemos de agir com nosso egoísmo, devastador de todas as coisas, para que deixemos de ser OS CAVALEIROS DO APOCALIPSE por nós forjado e possamos contemplar as flores e cores de DIAS DE PRIMAVERA, sem pressa, apenas com a nostalgia de tempos que não regressam. Destarte, podemos LEVITAR e lançar UM OLHAR PARA O FUTURO sem crianças famintas, sem as dores de uma sociedade feita de QUANTAS MÁSCARAS forem necessárias para se esconder. Quiçá, poderemos lembrar, n uma MANHÃ DE INVERNO, de um tempo bem vivido e da liberdade, ainda que tardia, na mistura das cores e povos, em paz, festejando com O SOM DOS TAMBORES.

que deixemos de agir com nosso egoísmo, devastador de todas as coisas, para que deixemos de ser OS CAVALEIROS DO APOCALIPSE por nós forjado e possamos contemplar as flores e cores de DIAS DE

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