Recenf. Saúde Coletiva. Abenfo

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3 Jul\Ago. 25

4 Recenf Luciana Roberto de Souza, Maria Aparecida Guerreiro de Souza, Adriana da Silva Pinto,Elaine Antunes Cortez, Thalita Gomes do Carmos, Rogéria Maria do Nascimento Teresa Cristina Prochet, Maria Julia Paes da Silva. Saúde Coletiva Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, João Batista Ferreira Sobrinho, Amanda Gleice Fernan- des Carvalho A família como suporte para o enfrentamento do câncer de mama The family as a support for the confrontation of breast cancer Daniela do Nascimento, Narciso Vieira Soares Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, Carlos Eduardo da Silva Marinho, Elisângela Cássia Marques, Larissa Dela Líbera Miranda, Amanda Gleice Fernandes Carvalho. Abenfo Torcata Amorim, Dulce Maria Rosa Gualda

5 Urgência, Emergência e Terapia intensiva Anent Maíris Duarte Alarcão, Mariele Cambiriba, Maria Antonia Ramos Costa Anna Maria de Oliveira Salimena, Marilena Cazetta Venâncio, Maria Carmen Simões Cardoso de Melo, Ívis Emília de Oliveira Souza Anielle Samara de Souza, Eliene Ferreira Resende, Liomar Afonso Teixeira, Miriam de Fátima Silva, Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi, Luiz Almeida da Silva, Sonia Aparecida Faleiros Saúde do idoso Daniel Rodrigues Machado, Ewerton Naves Dias, José Vitor da Silva, Luciano Magalhães Vitorino, Fernando Magalhães Vitorino José Vitor da Silva.

6 Os benefícios da visita pré-operatória de enfermagem para o cliente cirúrgico: revisão sistemática de literatura The benefits of preoperative visit nursing to surgical patients: a systematic review of literature Luciana Roberto de Souza, Maria Aparecida Guerreiro de Souza, Adriana da Silva Pinto,Elaine Antunes Cortez, Thalita Gomes do Carmos, Rogéria Maria do Nascimento. RECENF-Revista Técnico- Científica de Enfermagem-2010-v8-n25;( ). Resumo Este estudo tem como objetivo identificar os benefícios da visita pré-operatória de enfermagem para o cliente que se submeterá à cirurgia. Trata-se de uma pesquisa exploratória, com abordagem qualitativa, bibliográfica, realizada através de uma revisão sistemática na Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), nas bases de dados do LILACS e BDENF, onde foram selecionadas 11 bibliografias potenciais, após a pré-leitura e leitura seletiva, realizou-se ainda a leitura interpretativa e a análise temática. Resultados: emergiram duas categorias, benefícios da visita pré-operatório de enfermagem, e cuidados pré-operatórios de enfermagem ao paciente cirúrgico. Conclui-se que a visita pré-operatória é relevante e envolve a influência mútua e o processo de comunicação e confiança entre o enfermeiro e o paciente, além de ajudar na adaptação do cliente cirúrgico ao ambiente hospitalar, amenizando seus medos e ansiedades fazendo com que o mesmo aceite melhor e enfrente o problema, proporcionando uma cirurgia tranquila e uma boa recuperação. Descritores: Enfermagem pré-operatória, cuidados de enfermagem. Abstract This study aims to identify the benefits of preoperative evaluation of nursing for the customer who will undergo surgery. This is an exploratory research with a qualitative approach, literature, accomplished through a systematic review of the Virtual Health Library (VHL) in the databases LILACS and BDENF, where 11 were selected bibliographies potential after pre-reading and selective reading, there was still reading and interpretative thematic analysis. Results: Two categories emerged, the benefits seen preoperative nursing care and preoperative nursing the surgical patient. We conclude that the preoperative visit is important and involves the mutual influences and the process of communication and trust between nurse and patient, and help in adapting the surgery patients to the hospital environment, easing their fears and anxieties by making the same accepted best and face the problem, providing a smooth surgery and a good recovery. Descriptors: Preoperative care, nursing. Luciana Roberto de Souza. Acadêmica do 8º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Iguaçu (UNIG), Nova Iguaçu/RJ. lucianagordinha@hotmail.com Maria Aparecida Guerreiro de Souza. Acadêmica do 8º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Iguaçu (UNIG), Nova Iguaçu/RJ. Adriana da Silva Pinto. Acadêmica do 8º período do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Iguaçu (UNIG), Nova Iguaçu/RJ. lucianagordinha@hotmail.com Elaine Antunes Cortez. Enfermeira, Doutora em enfermagem (EEAN/ UFRJ), Professora orientadora da disciplina TCC (UNIG). nanicortez@hotmail.com Thalita Gomes do Carmos. Enfermeira Mestranda em enfermagem (EEAAC/ UFF), especialista em cardiologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro no Instituto Nacional de Cardiologia (INC). thalitacarmo@terra.com.br Rogéria Maria do Nascimento. Enfermeira, Coordenadora do curso de graduação em enfermagem da Universidade Iguaçu. rogeriatec@ig.com.br 111

7 Luciana Roberto de Souza, Maria Aparecida Guerreiro de Souza, Adriana da Silva Pinto,Elaine Antunes Cortez, Thalita Gomes do Carmos, Rogéria Maria do Nascimento. Introdução são frente à notícia de cirurgia e consiste em responder a questão: vem sendo realizada no Brasil des- quais são os aspectos da visita préde 1975, data em que surge a prime- operatória de enfermagem que po- A presente pesquisa tem como objeira divulgação formal a respeito dem beneficiar os clientes que se to os benefícios obtidos com a visi- (2). submeterão à cirurgia? ta pré-operatória de enfermagem Para o cliente, o período de- O objetivo proposto é idenpara o cliente submetido à cirurgia. nominado pré-operatório é de vital tificar os benefícios da visita pré- O interesse pelo estudo ocorreu duimportância em nível biopsicossó- operatória de enfermagem para o rante o estagio do 7º período no cioespiritual, desencadeando a ansi- cliente que se submeterá à cirurgia. Hospital Geral de Nova Iguaçu, onedade, os temores (da cirurgia, da Como contribuição, o assunto prode vários pacientes aguardavam cidor, de não voltar da anestesia, da porciona um melhor entendimento rurgia sem data prevista, e apresenmorte) e o medo do desconhecido do real motivo de se realizar a visita tavam seus fatores fisiológicos e em geral (1). pré-operatória fazendo com que os psicológicos alterados. Com isso, Nesse período a assistên- enfermeiros reflitam sobre a sua notamos a possibilidade do profiscia de enfermagem se faz extrema- prática profissional, podendo, dessional enfermeiro realizar a visita mente importante, com o objetivo sa forma, buscar instrumentos que pré-operatória como instrumento de preparar o físico e principalmen- contribua para uma assistência huamenizador do medo e da ansiedate o emocional do paciente, preocu- manizada e integral. Oferecer aos de que estes pacientes apresentam pando-se com seu eu e com o que clientes um adequado preparo emofrente à cirurgia, ajudando-o a perocorrerá com seu corpo (1). cional, que vá além da fase préceber melhor sua doença, bem co- O fator psicológico pode operatória, propiciando sua particimo os aspectos emocionais que ajudar o paciente a perceber melhor pação no autocuidado pósacontecem junto com a doença, tais sua doença, lidar com os aspectos cirúrgica, além de demonstrar aos como, ansiedade, medo, fantasias, emocionais que acontecem junto acadêmicos o conhecimento dessa mitos, enfim, fazer com que o pacicom a doença, como ansiedade, me- temática. ente aceite melhor seu estado de dodo, fantasias, mitos, enfim, fazer ença e encare o problema. com que o paciente aceite melhor o A pessoa que será submetique acontece com ele e encare o pro- Metodologia da a uma cirurgia, apresenta diverblema. sos temores que podem alterar o Destaca-se ainda que, todo Trata-se de um estudo exseu equilíbrio. Um contato com proser humano tem medo do descofissionais de saúde, dentre eles, ploratório. Quanto à definição de nhecido, pois o que é desconhecido pesquisa exploratória, ela é aquela com enfermeiro, possivelmente pogera medo e insegurança, podendo que tem como objetivo fornecer ma- derá ajudar essa pessoa no sentido ser indefinível, imprevisível e inde fornecer-lhe informações e dimi- ior interação com o problema, com controlável. o intuito de torná-lo mais explícito nuir sua insegurança, conforme foi Os clientes são estimulaconstatado por vários autores (1). e levantar hipóteses (4). dos a expressar seus sentimentos e Estabelecemos a aborda- Dessa forma, faz se necestemores e, através do diálogo, que gem qualitativa, pois esta trabalha sário manter um contato prévio são fornecidos esclarecimentos de com o universo dos significados, com o paciente que irá se submeter dúvidas sobre o processo cirúrgico. dos motivos, das aspirações, das a uma cirurgia, por representar um Assim o enfermeiro deve encorajar crenças, dos valores e das atitudes, momento de grande importância, a verbalização, deve ouvir ser comonde lhe será conferido explica- enfatizando a importância das relapreensivo e prestar informações ções que se determinará durante a ções sobre os procedimentos que que ajudem a dissolver as preocuacontecerão e suas duvidas retira- realização do estudo (5). Os dados pações. qualitativos consistem em descri- das, a fim de minimizar seus temo- Ressalta-se ainda que quanres, sua insegurança, e a apreensão ções detalhadas de situações com do o enfermeiro chega a compreenpor ele sentida. que o objetivo de compreender os der o que está acontecendo entre ele indivíduos em seus próprios ter- A visita pré-operatória de e o paciente, pode-se dizer que atinenfermagem ajuda no ajustamento mos. Isto é, podemos dizer que as giu a essência da prática de enferdo paciente ao ambiente hospitalar pesquisas qualitativas visam enten- magem (3). der o ser humano na sua essência e e fornece informações e orienta- O problema de pesquisa acima disso trazer a pesquisa riqueções no intuito de amenizar a ten- za de detalhes sobre este que 112 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

8 Luciana Roberto de Souza, Maria Aparecida Guerreiro de Souza, Adriana da Silva Pinto,Elaine Antunes Cortez, Thalita Gomes do Carmos, Rogéria Maria do Nascimento. possam muitas vezes responder aos problemas levantados (6). Foi realizada uma revisão de literatura, nos bancos de dados e do LILACS e BDenf, onde foram selecionadas pesquisas que se encaixavam nos critérios de inclusão, que foram: publicações em português e dos últimos 10 anos. Os descritores utilizados para a coleta dos dados foram: Enfermagem pré-operatória e cuidados pré-operatórios. Na intenção de organizar os materiais coletados, iniciou-se a coleta dos dados com os descritores individualmente, vide quadro 1. Quadro 1 - Distribuição quantitativa das bibliografias encontradas na BVS através dos descritores isolados. Após a coleta dos dados inicial realizou-se uma nova busca associando os descritores em dupla e desse resultado, foi feita a préleitura com intuito de obter uma visão sobre os assuntos encontrados, e a leitura seletiva, cujo objetivo foi selecionar pesquisas de acordo com o nosso estudo. Dessa forma, excluiu-se as pesquisas que não se enquadravam nos critérios de inclusão e os repetidos, e a bibliografia potencial escolhida foi de 11 produções científicas, que pode ser visualizada no quadro 2 (dois). Bibliografia selecionada Quadro 2 - Distribuição quantitativa das bibliografias encontradas na BVS através dos descritores associados e selecionados Distribuição quantitativa das bibliografias encontradas na BVS através dos descritores associados e selecionados Resultados e análise Benefícios da visita pré-operatória de enfermagem Nessa categoria, estão inseridos 4 (quatro) produções científicas, 3 (três) artigos e 1 (uma) dissertação de mestrado, que abordam os benefícios da visita pré- operatória de enfermagem, que podem ser visualizados no quadro 3 (três). AUTORES Baggio; Teixeira & Portella Bachion; Magalhães; Munari, Almeida & 8 Lima ANO Schmitt Souza BASE DE DADOS/ REVISTA/VOLUME/Nº BDENF Rev. gaúch. enferm; 22(1): , BDENF Acta paul. enferm; 17(3): , BDENF Rev. SOBESC; 9(4):15-18 BDENF Dissertação Curitiba TÍTULO Pré-operatório do paciente cirúrgico cardíaco: a orientação de enfermagem fazendo a diferença Identificação do medo no período pré-operatório de cirurgia cardíaca Cirurgia da obesidade mórbida: atuação da enfermeira em uma equipe multidisciplinar Sentimentos e percepções do cliente no pré-operatório de cirurgia cardíaca Quadro 3 - Distribuição das bibliografias potenciais da categoria temática Benefícios da visita pré-operatória de enfermagem. O primeiro estudo (7) foi realizado em Unidade Cardiológica de um hospital universitário com o objetivo de identificar a percepção do paciente cirúrgico cardíaco acerca das orientações pré-operatórias fornecidas pela enfermagem. A orientação pré-operatória, em especial neste estudo, atendeu às necessidades do paciente no período pré-operatório, sejam elas psicológicas ou científicas, e contribuiu para uma melhor e mais rápida recuperação pósoperatória. A orientação permitiu o esclarecimento e a clarificação do evento aos indivíduos nele envolvidos diretamente. Durante a visita préoperatória, ficou estabelecida a humanização, caracterizada pela interação enfermeira/paciente, com o que ocorreu a aceitação fundamentada na atenção, confiança e apoio entre esses seres, observando o resultado positivo do processo estabelecido entre a enfermeira e o paciente. O segundo estudo (8) desta categoria teve como objetivo estudar o "medo" no período pré-operatório de cirurgia cardíaca foi realizado em hospital especializado em cirurgias cardíacas e mostrou que a incidência desse diagnóstico sinaliza a necessidade de elaboração de protocolo de intervenções específicas para esse grupo, ressaltando a importância do enfermeiro esta ambientado com as reações emocionais que afetam os clientes no período pré-operatório de um modo geral. O terceiro estudo (9) é um relato de experiência de uma enfermeira Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

9 Luciana Roberto de Souza, Maria Aparecida Guerreiro de Souza, Adriana da Silva Pinto,Elaine Antunes Cortez, Thalita Gomes do Carmos, Rogéria Maria do Nascimento. na cirurgia da obesidade mórbida ce um papel como veículo de orien- cença, evita infecções hospitalares, no Centro da Obesidade Mórbida, tação, espera-se que o mesmo atue, poupa tempo, reduz gastos, preocuconsiderando assistência da aconselhando rotineiramente sobre pações, ameniza a dor e aumenta a Enfermagem ao paciente obeso ci- os devidos cuidados àquele pacien- sobrevida do paciente (11). rúrgico envolvendo técnicas e pro- te que se encontra nos períodos pré Outro destaque é a efetivacedimentos não apenas durante a e pós-operatório sendo imprescin- ção da consulta de enfermagem anoperação, mas também nos perío- dível se ter uma visão holística e hu- tes e após a cirurgia. A consulta de dos pré e pós-operatório. manizada, pois a doença e o proces- enfermagem é uma atividade exer- Objetivando destacar a relevância so cirúrgico trazem à tona seus me- cida pelo enfermeiro, na qual está do papel da Enfermagem, chaman- dos e limitações, tornando-as extre- amparada na lei do exercício prodo a atenção dos profissionais da mamente vulneráveis ao se afasta- fissional n.º7.498/86, no seu art.11, área para esse novo campo de atua- rem do ambiente familiar e de suas inciso I, alínea i, como privativa e é ção, propondo a necessidade de atividades cotidianas. efetivada na prática desses profissicompreendê-lo como um paciente Ressaltamos a importância onais que nela acredita (12). diferenciado, devido às peculiari- da enfermagem pré-operatória para A consulta de enfermagem dades que apresenta. o paciente cirúrgico, a fim de iden- tem sua origem na pós-consulta rea- O quarto estudo (10) obje- tificar o grau de ansiedade do paci- lizada pela enfermeira aos clientes tivou identificar sentimentos e as ente, verificando a presença de alte- atendidos em programas de saúde percepções do corpo enfermo que rações emocionais decorrentes do governamentais e sua implantação se encontra em pré-operatório de ci- anúncio do diagnóstico cirúrgico e ocorreu ao longo do desenvolvirurgia cardíaca. Trata-se de uma avaliação das condições físicas e fi- mento histórico da enfermagem, e pesquisa qualitativa, realizada no siológicas do paciente. A desvalori- surgiu com a resolução n.º 159/92 H o s p i t a l d e C l í n i c a s d a zação da visita pré-operatória co- do COFEn (Conselho Federal de Universidade Federal do Paraná, e mo um método usado para levantar Enfermagem) que dita as normas e que conta com a participação de 11 e avaliar as necessidades individu- requisitos para operacionalização sujeitos em pré-operatório de cirur- ais do paciente cirúrgico impede da consulta de enfermagem (13). gia cardíaca e são colocados todos um bom relacionamento terapêuti- No que diz respeito à conos seus medos e ansiedades. co. Dificultando o planejamento de sulta de enfermagem pré- Afirmando a importância e a neces- uma assistência integral, individu- operatória, chamada de visita présidade de interação entre a enfer- alizada, documentada e contínua operatória de enfermagem, podemeira e o corpo enfermo na situa- em todo o período pré-operatório, mos defini-la como etapa préção pré-operatório, tendo em vista contribuindo para o aumento dos operatória realizada pela avaliação a promoção do seu bem-estar. riscos cirúrgicos que o paciente es- dos dados obtidos durante a entre- Resumindo essa categoria, tá exposto. vista com o paciente a ser operado e fica evidente que esta atividade é de Para discutir essa categoria pela consulta da ficha prérelevante interesse para a sobreleva salientar que é de suma operatória de enfermagem, pron- Enfermagem, propondo em sua prá- importância que o enfermeiro apri- tuário do paciente, por meio do entica assistencial sistematizada, re- more seus conhecimentos e execu- fermeiro da unidade de internação e flexões sobre uma contribuição efe- te a visita pré-operatória, criando es- familiares do paciente (11). tiva, compreendendo-a como um tímulos e estratégias que possibili- A visita pré-operatória de ser existencial. tem uma maior compreensão das di- enfermagem é realizada no Brasil Destaca-se que, na forma- ficuldades enfrentadas pelo pacien- desde 1975, data em que surge a prição profissional do enfermeiro mui- te submetido a um procedimento ci- meira divulgação formal a respeito. tas vezes não é discutida a impor- rúrgico. Pois durante esse período a Destaca-se que, para o paciente, o tância de se gerar a interação e o re- assistência de enfermagem é muito p e r í o d o d e n o m i n a d o p r é - lacionamento com os pacientes no importante e concentra interven- operatório é de vital importância pré-operatório ou até mesmo mui- ções destinadas a prevenir ou tratar em nível/dimensões biopsicossócitos enfermeiros desconhecem as es- complicações futuras. Pois por me- oespiritual, pois desencadeia a ansitratégias de comunicação terapêu- nor que seja o procedimento cirúr- edade, os temores (da cirurgia, da tica, mesmo que já tenham tido con- gico, o risco de complicações sem- dor, de não voltar da anestesia, da tato com elas na formação acadê- pre estará presente. A prevenção morte) e o medo do desconhecido mica. Visto que o enfermeiro exer- destas promove rápida convales- em geral. Assim, nesse período, a 114 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

10 Luciana Roberto de Souza, Maria Aparecida Guerreiro de Souza, Adriana da Silva Pinto,Elaine Antunes Cortez, Thalita Gomes do Carmos, Rogéria Maria do Nascime.nto. O segundo estudo (16) é um relato de a experiência de enfermeiras no Programa de Orientação Pré-operatória em hospital universitário descrevendo a importância da orientação pré-operatória para os pais e para a criança, nesse momento crítico. O terceiro estudo (17) é uma pesquisa bibliográfica, que descreve os aspectos a ser abordado para se atingir um cuidado integral e humanizada, e a importância da consulta de enfermagem no préoperatório de ostomias, no sentido de possibilitar ao paciente melhor aceitação da cirurgia e estimular o autocuidado e prevenir complicações comuns no local de inserção da ostomia. O quarto estudo (18) é um estudo de revisão de literatura utilizando livros-texto e publicações indexadas nas bases de dados MEDLINE, LILACS e SCIELO, onde foi construído um instrumento para preparo do cliente em cirurgia de revascularização do miocárdio e confeccionado um manual para o preenchimento do instrumento citado. O quinto estudo (19) é um estudo realizado em 20 pacientes internados no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Brasil para serem submetidos à cirurgia esofágica. Onde foram identificados os diagnósticos com frequência superior a 50%,e analisados considerando-se os fatores relacionados, as características definidoras ou fatores de risco, de acordo com o tipo de diagnóstico, e as respostas à patologia esofágica. O sexto estudo (20) é um estudo descritivo transversal, com abordagem quantitativa, realizado em unidades cirúrgicas de dois hospitais do município de Ponta Grossa, que objetivou caracterizar os cuidados de enfermagem prestaassistência de enfermagem se faz extremamente importante, pois esta tem como objetivo, preparar o indivíduo nas dimensões supracitas, de forma a preocupar-se com seu eu, do paciente, e com o que ocorrerá com seu corpo (14). Cuidados pré-operatórios de enfermagem ao paciente cirúrgico Nessa categoria, estão inseridas 7 (sete) produções científicas, sendo todas artigos, que abordam os fatores relacionados com os cuidados préoperatórios, conforme o quadro 4 (quatro) delineado abaixo. Base de Dados/ AUTORES ANO Revista/Volume/nº TÍTULOS Jansen; Silva; Novello;Guimarães & Silvia. 15 Santos; Cassapula & Hellberger 16 Mendonça; Valadão; Castro & Camargo. 17 Poltronieri Neto; teixeira & Barbosa. 18 Lopes; Pompeo; Canini & Rossi. 19 Cristóforo & Carvalho 29 Grasel; Bretano & Caregnato LILACS Rev. SOCERJ; 13(1):22-29 LILACS Cogitare enferm; 5(n.esp):61-65 LILACS Rev. bras. cancerol; 53(4): LILASCS Mundo saúde 32(1): LILASCS Rev. latinoan. enferm; 17(1):66-73 LILASCS Rev. Esc. Enferm. USP; 43(1),. LILASCS Rev. SOBECC; 14(2):28-35 Assistência de enfermagem à criança portadora de cardiopatia Programa de orientação préopetória em cirurgia pediátrica: relato de experiência A importância da consulta de enfermagem em pré-operatório de ostomias intestinais Elaboração de um instrumento para o preparo pré-operatório em cirurgia cardíacas. Diagnósticos de enfermagem de pacientes em período préoperatório de cirurgia esofágica Cuidados de enfermagem realizados ao paciente cirúrgico no período pré-operatório Ansiedade e medo: diagnóstico de enfermagem aplicado no préoperatório do paciente cardíaco. Quadro 4 - Distribuição das bibliografias potenciais da categoria temática Cuidados pré-operatórios de enfermagem ao paciente cirúrgico. O primeiro estudo (15) é uma revisão bibliográfica com enfoque para a sistematização da assistência de enfermagem no pré-operatório, buscando mostrar que o roteiro sistematizado da assistência de enfermagem orienta a equipe à prevenção e diagnóstico precoce das complicações favorecendo a recuperação precoce da criança e, consequentemente, diminuindo o tempo de permanência no ambiente hospitalar. Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

11 Luciana Roberto de Souza, Maria Aparecida Guerreiro de Souza, Adriana da Silva Pinto,Elaine Antunes Cortez, Thalita Gomes do Carmos, Rogéria Maria do Nascimento. dos a pacientes em período pré- Para discutir essa categoria bem como sua instituição, para que operatório de cirurgias eletivas. com base no respeito à pessoa hu- melhorias ocorram em favor dos pa- Este estudo permitiu que se identi- mana, percebe-se a necessidade imi- cientes, reservando-lhes o direito ficassem fragilidades no cuidado nente de melhorar a abordagem à de ser atendido de acordo com suas do paciente cirúrgico, no sentido de pessoa enferma, na tentativa de di- necessidades, recebendo uma ascontribuir para a reflexão sobre a ne- minuir o conflito vivenciado pelos sistência de enfermagem de qualicessidade de mudança nas práticas pacientes ao se submeterem a cer- dade. da enfermagem no ambiente hospi- tos tipos de cirurgias, e o medo de Em uma prática assistencitalar. morrer ou ficar com alguma defi- al realizada, com paciente no perío- O sétimo estudo (21) é uma ciência física. do pré-operatório, verificou-se que pesquisa exploratória descritiva É necessário, portanto, que os cuidados pré-operatórios tornacom abordagem quantitativa, reali- os membros da equipe de saúde, ram o momento cirúrgico, mas tranzada com 20 pacientes no pré- particularmente o enfermeiro, de- quilo, o que repercutiu numa boa reoperatório de cirurgia cardíaca que sempenhem suas atividades junto cuperação do paciente isso mostra responderam a um questionário ao paciente com mais humanidade, o quanto o papel do enfermeiro e imcom perguntas construídas através interessando-se por ele como pes- portante no sentido de prevenir e midas características definidoras e soa, por seu estado, sua evolução, nimizar os estressores do processo fatores relacionados dos diagnósti- esforçando-se para ajudá-lo no tra- cirúrgico (25). cos de Enfermagem Ansiedade e tamento e recuperação (22). Medo e o objetivo deste estudo foi Na prática, são realizados conhecer as evidências apresenta- ações planejadas para preencher as Conclusão das pelos pacientes no pré- necessidades identificadas, na exoperatório de cirurgia cardíaca rela- pectativa de que o enfermeiro conidentificar e analisar através de revi- O presente estudo buscou cionadas aos Diagnósticos de sidere todos os efeitos possíveis da Enfermagem Ansiedade e Medo. ação sobre o paciente, preocupannefícios da visita pré-operatória de são sistemática de literatura os be- Sintetizando essa catego- do-se com a eficácia dessa para obenfermagem para os clientes que ria, fica evidente a importância dos ter a solução da necessidade de ajuirão se submeter à cirurgia. Desse cuidados pré-operatórios, pois per- da (23). mite o levantamento e avaliação É um direito do paciente, modo, compreendeu-se que a visita das necessidades individuais do pa- estar informado sobre sua situação pré-operatória é relevante e envol- ciente cirúrgico. Viabilizando o pla- e sobre o procedimento a que será ve a influência mutua e o processo nejamento de uma assistência inte- submetido. O paciente também deenfermeiro e o paciente e deve ser de comunicação e confiança entre o gral, individualizada, documentada ve estar ciente de que pode solicitar e contínua em todo o período pré- analgésico e não achar que sentir encorajada e ensinada durante o peoperatório, diminuindo os riscos ci- dor é normal, cabendo à equipe de ríodo acadêmico e não menos imrúrgicos aos quais o paciente está enfermagem prestar assistência, portante durante a vida profissioexposto e conseqüentemente me- responder aos chamados e manter o nal. Pois muitos profissionais da en- lhorando a qualidade da assistência paciente consciente de tudo que sepré-operatória de maneira adequa- fermagem não exercitam a visita de enfermagem. rá realizado, estimulando o exercída e específica, com cuidados real- Destaca-se ainda que os cu- cio da cidadania (24). idados pré-operatórios além dos be- O s c u i d a d o s p r é - mente válidos para a cirurgia pronefícios para o paciente oferecem operatórios realizados estão voltapostas pelas instituições ou prescri- posta, praticando apenas regras imao enfermeiro a oportunidade de dos principalmente ao preparo físitas em prontuários por médicos. uma atuação mais direta com o paci- co do paciente, com pouca orientaente cirúrgico, proporcionando a re- ção quanto ao procedimento cirúrque antecede a internação apesar de Conclui-se que o período alização do planejamento de uma gico e aos cuidados efetuados. Fazser curto, é ideal para orientação e assistência continua e orientada e se necessário instigar reflexões, senesclarecimento quanto a dúvidas proporcionando à enfermagem um sibilizar ou influenciar ideias, hábiem relação à cirurgia, e o enfermeimelhor reconhecimento da profis- tos maneira de agir e pensar dos proro tem obrigação legal e moral para são, motivando ainda mais o traba- fissionais de enfermagem para a nefazê-las de forma clara, diagnostilho do enfermeiro do Centro cessidade de reconstruir novas prácando alterações emocionais e fisi- Cirúrgico. tica no cuidado pré-operatório, ológicas, e tomando medidas inter- 116 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

12 Luciana Roberto de Souza, Maria Aparecida Guerreiro de Souza, Adriana da Silva Pinto,Elaine Antunes Cortez, Thalita Gomes do Carmos, Rogéria Maria do Nascimento. ventivas adequadas, realizando cuiferm. a percepção do cliente. Rev. latinoam. en- fermagem pré-operatória: significado de 1998 jan/fev; 6(1): um projeto vivenciado no ESPENSUL para dados e procedimentos, ajudando 13.Conselho Federal de Enfermagem. a prática assistencial. Texto & contexto enna adaptação do paciente ao ambi- Código de ética dos profissionais de enfer- ferm. 1999; 8 (nº esp): ente hospitalar, amenizando seus magem. Rio de Janeiro; Hoffer, JL. Anestesia In: Meek MH. medos e ansiedade fazendo com 14.Jorgetto, GV; Noronha, R; Araújo, Rothrock Jc. Alexander: Cuidados de en- que o paciente aceite melhor o que IEM. Estudo da visita pré-operatória de en- fermagem ao paciente cirurgico. 10ª ed. fermagem sobre a ótica dos enfermeiros do Rio de Janeiro: Guanabara koogan; acontece com ele e enfrente o procentro-cirúrgico de um hospital universitáblema, proporcionando uma cirur- rio. Rev. eletrônica enferm [periódico onligia tranquila e uma boa recupera- ne] ago/set [capturado em 2009 dez ção. Diminuindo assim as chances 06];6(2): Disponível em: http: de complicações em todas as fases / / w w w. f e n-.ufg.br/revista/revista6_2/pdf/orig8_visit de internação do paciente. a.pdf 15.Jansen, D; Silva, KVPT; Novello, R; Guimarães, TCF; Silva, VG. Assistência de Referências enfermagem à criança portadora de cardiopatia. Rev. SOCERJ. 2000; 13(1): Bianchi, ERF; Castellanos, BEP. 16.Santos, R; Cassapula, R; Hellberger, T. Considerações sobre a visita pré- Programa de orientação pré-operatória operatóriado enfermeiro da unidade de cen- em cirurgia pediátrica: relato de experiêntro cirúrgico: resenha da literatura estran- cia. Cogitare enferm. 2000; 5 (nº esp):61- geira. Rev. paul. enferm. 1983; 5(3): Castelanos, BEP. Visita pré-operatória 17.Mendonça, RS; Valadão, M; Castro, L; do enfermeiro da unidade de centro cirúr- Camargo, TC. A importância da consulta gico: marcos referencial para seu ensino de enfermagem em pré-operatório de ostono curso de graduação de enfermagem. mias intestinais. Rev. bras. cancerol. 2007; Rev. paul. enferm. 1984; 4(1): (4): Orlando, IG. O relacionamento dinâmi- 18.Poltronieri, Neto A; Teixeira, JBA; co enfermeiro/paciente. São Paulo: EPV; Barbosa, MH. Elaboração de um instru mento para o preparo pré-operatório em ci- 4.Gil, AC. Como elaborar projetos de pes- rurgias cardíacas. Mundo saúde (1995). quisa. 4ª ed. São Paulo: Atlas; ; 32(1): Cervo, AL; Bervian, PA. Metodologia ci- 19.Lopes, AER; Pompeo, DA; Canini, entifica. 5ª ed. São Paulo: Pearson SRMS; Rossi, LA. Diagnósticos de enfer- Prentice Hall; magem de pacientes em período pré- 6.Goldenberg, M. A arte de pesquisar: co- operatório de cirurgia esofágica. Rev. mo fazer pesquisa qualitativa em Ciências latinoam. enferm. 2009; 17(1): Sociais. 7ª ed. Rio de Janeiro: Record; 20.Christóforo, BEB; Carvalho, DS Cuidados de enfermagem realizados ao pa- 7.Baggio, MA; Teixeira, A; Portella, MR. ciente cirúrgico no período pré- Pré-operatório do paciente cirúrgico car- operatório. Rev. Esc. Enferm. USP. 2009; díaco: a orientação de enfermagem fazen- 43(1). do a diferença. Rev. gaúch. enferm. 2001; 21.Grasel, LH; Bretano, EP; Caregnato, 22(1): RC. Ansiedade e medo: diagnóstico de en- 8.Bachion, MM; Magalhães, FGS; fermagem aplicado no pré-operatório do Munari, DB; Almeida, SP; Lima, ML. paciente cardíaco. Rev. SOBECC. 2009; Identificação do medo no período pré- 14(2): operatório de cirurgia cardíaca. Acta paul. 22.Biazin, DT; Coldibelli, LMF; Ribeiro, enferm. 2004; 17(3): RP; Recanello, J; Simon, MCF; Silva, MC. 9.Schmitt, MT. Cirurgia da obesidade mór- Projeto de extensão: visita pré e pós- opebida: atuação da enfermeira em uma equi- ratória de cirurgia cardíaca [material elepe multidisciplinar. Rev. SOBECC. 2004; trônico]. Terra e Cultura. [capturado em 9(4): dez 15]. Ano XVIII(35): Souza, RHS. Sentimentos e percepções D i s p o n í v e l e m : do cliente no pré-operatório de cirurgia cardíaca [dissertação]. Curitiba: a/terra_cultura/35/terra%20e%20cultur Universidade Federal do Paraná; a_35-11.pdf 11.Possari, JF. Centro cirúrgico: planeja- 23.Leonard, MK; George, JB; Ida, JO. In: mento, organização e gestão. 1ª ed. São George JB. Teorias de enfermagem: os fun- Paulo: látria; damentos à prática profissional. 4ª ed. 12.Silva, MG. A consulta de enfermagem Porto Alegre: Artes Médicas Sul; no contexto da comunicação interpessoal 24.Loureiro, M; Zappas, S. Consulta de en- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

13 Competência comunicacional: o que é isso? Communicational competence: What is this? Competencia comunicacional: qué es esto? Teresa Cristina Prochet, Maria Julia Paes da Silva. RECENF-Revista Técnico-Científica de Enfermagem-2010-v8-n25; ( ). Resumo O objetivo é revelar o entendimento sobre ser hábil e competente em comunicar-se com as pessoas. É um estudo de campo, qualitativo, descritivo e exploratório desenvolvido no interior paulista com 117 graduandos e profissionais de saúde que participaram da capacitação em comunicação não-verbal em gerontologia. As respostas foram ordenadas e analisadas, sendo construídas seis categorias, a saber: habilidades centradas na atenção à necessidade, reação e compreensão do outro; habilidades centradas na qualidade e facilidade da oratória pública; habilidades centradas na percepção do não-verbal e verbal; habilidades centradas na maneira de lidar com o outro; habilidades centradas no contexto espacial e temporal e habilidades centradas no conhecimento técnico. Ficou clara a interdependência comunicativa presente nos discursos, revelando coerência com os pressupostos que defendem o quanto aprender a ser e aprender a conviver são premissas essenciais na construção de um profissional de saúde competente. Descritores: Comunicação, enfermagem, relação inter pessoal. Abstract The goal is to provide a better understanding on how one should be rendered able and competent while communicating with others. The methodology is qualitative, descriptive, exploratory field work performed in São Paulo State countryside by 117 undergraduate students and health professionals on non-verbal capacity building in gerontology. The answers were organized, reviewed, and grouped in the following six categories: abilities based on attention to needs, reacting to and understanding the other, abilities based on public oratory quality and easiness, abilities based on verbal and non-verbal perception, abilities based on time and space context perception, and abilities based on technical knowledge. The results showed that there is a clear communicative interdependence in speech. This proved coherent with theoretical fundamentals according to which one's learning how to be oneself and how to live with others are basic assumptions while building a competent health professional. Descriptors: Communication, nursing, interpersonal relationship. 118

14 Resumen Objetivo: Rebelar la atención sobre ser hábil y competente en la comunicación con las personas. Resultados: Las respuestas fueron obtenidas y analizadas, siendo construidas 6 categorías, que son: habilidades centradas en la atención a la necesidad, reacción y comprensión del otro; habilidades centradas en la calidad y facilidad de la oratoria pública, habilidades centradas en la percepción del no verbal y verbal; habilidades centradas en la forma como tratar con el otro; habilidades centradas en el contexto espacial y temporal y habilidades centradas en el conocimiento técnico. Conclusión: Quedó clara la independencia comunicativa presente en los discursos, rebelando coherencia con los presupuestos que defienden que el aprender a ser y a convivir son premisas esenciales en la construcción de un profesional de salud competente. Descriptores: Comunicacíon, Enferméria, Relacionamiento Interpersonal Teresa Cristina Prochet. Doutora em Ciências Enfermagem na Saúde do Adulto pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo - USP. Integrante do Grupo de Pesquisa e Estudo sobre Comunicação em Enfermagem do CNPq. Docente Comissionada na Escola de Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. tcprochet@usp.br Maria Julia Paes da Silva. Professora Titular da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo e Coordenadora do Grupo de Estudo e Pesquisa sobre Comunicação em Enfermagem do CNPq. juliaps@usp.br 119

15 Teresa Cristina Prochet, Maria Julia Paes da Silva. Introdução Na última década, e em es- pecial a partir do ano 2000, têm-se verificado a crescente preocupação dos gestores e dos usuários com a humanização da atenção à saúde. Por conta disso, muitos programas específicos e pontuais até a Política Nacional de Humanização, foram desenvolvidos com o intuito de propor a melhorar a qualidade do cuidado oferecido aos usuários e trabalhadores do sistema de saúde. Constantes movimentos, encontros, reflexões e publicações têm buscado colocar em cena a ne- cessidade de se aprimorarem as habilidades comunicacionais, entre vários outros aspectos, para se avan- çar em direção à melhor qualidade dos serviços de saúde. Constata-se, no entanto, a carência de discussões sobre o tema para atender a for- mação de profissionais de saúde (1). A preocupação com o ensino de habilidades de comunicação no lidar com o cliente tem sido uma realidade nos diversos cursos. Na área da saúde, mais precisamente na enfermagem, tem sido motivo de preocupação, estudo e busca de vários autores como Stefanelli (2), Silva (3), Braga (4), dentre outros. Compreende-se aqui por habilidade em comunicação inter- pessoal como aquela que é desenvolvida em situações sociais relati- vamente informais em que pessoas, em encontros face a face, sustentam uma interação concentrada por meio da permuta recíproca de pis- tas verbais e não-verbais (5). Nessa definição, incluem-se critérios, com os quais a situação de cuidado comunicacional em saúde encontra correlação, são eles: existência de duas ou mais pessoas em proximidade física e que percebam a presença uma da outra; "interdependência comunicativa" - uma pessoa se comunica como consequência ce aos profissionais de saúde o exerda comunicação de outra; troca de cício de suas atividades, alicerçado mensagens; compreensão das men- não somente na valorização do assagens verbais e/ou não-verbais e sunto, mas sim em sua prática, visto informalidade/flexibilidade (5). ser e requerer uma abordagem apro- Pode-se afirmar que relaci- priada no mundo complexo dos qua- onamento é um padrão de interação is as relações humanas se insere. entre duas pessoas, baseado em suas percepções recíprocas (6). Objetivo Esse recorte de estudo baseou-se nos pressupostos de que o ser humano possui, simultaneamente, Revelar o entendimento soduas dimensões para expressar su- bre ser hábil e competente na comuas necessidades ao mundo (3): a lin- nicação interpessoal no discurso li- guagem verbal (psicolinguística) vre de profissional e graduandos da se refere às palavras ditas ou escri- área da saúde. tas; e não-verbal (psicobiológica), aquelas associadas aos gestos, si- Material e método lêncios, expressões faciais, entona- ção e timbre da voz, toque, aparên- Estudo qualitativo, de camcia física, condições ambientais, po e exploratório desenvolvido no posturas corporais, posição e dis- interior paulista após aprovação do tância corporal. Comitê de Ética em Pesquisa com O conhecimento e o uso Seres Humanos (Processo dos recursos, técnicas e dimensões CEP/HRA n 167/2008) com 117 comunicacionais sejam verbais ou graduandos e profissionais de saúnão-verbais subsidiam a constru- de que participaram da capacitação ção da competência no cuidar pelo em comunicação não-verbal em ge- profissional de saúde, pois a comu- rontologia (7). nicação competente se expressa A questão norteadora deste quando o profissional permite vi- estudo O que para você é ser hábil venciá-la, ouve o outro, presta aten- ou competente ao se comunicar ção no não-verbal, é capaz de eli- com as pessoas? foi aplicada no minar barreiras de comunicação, de- momento inicial do primeiro en- monstra afetividade, valida a com- contro, dentre três dos encontros repreensão das mensagens e está dis- alizados na capacitação (7). posto a investir no autoconheci- O tratamento dos dados foi mento (4). realizado por meio da interpretação Quando o profissional de dos 117 discursos, com base no mésaúde se conscientiza do valor da todo de análise de conteúdo. Esse comunicação e opta por desenvol- método é a aplicação de um conjunvê-la de maneira consciente e res- to de técnicas de análises das comu- peita os conceitos e os pressupostos nicações, que visa obter, por proceenvolvidos, consegue interferir na dimentos sistemáticos e objetivos sua própria prática cotidiana, con- de descrição do conteúdo das men- seqüentemente, influencia no al- sagens, indicadores que permitam a cance de cuidado efetivo a ser dado inferência de conhecimentos relati- ao cliente sob sua responsabilida- vos às percepções do cuidado, no de. âmbito hospitalar (8). Mediante o exposto, sabese que estudar e desenvolver as habilidades comunicacionais favore- 120 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

16 Teresa Cristina Prochet, Maria Julia Paes da Silva. Foram submetidos à capa- citação em comunicação não- verbal em gerontologia 117 pesso- as sendo: 71,8% (84) de profissio- nais de saúde e 28,2% (33) de graduandos na área da saúde. Em relação ao gênero e a idade 80,3% (94) eram mulheres com idade média de 35,7 anos e 19,7% (23) homens com 29,6 anos em média, de idade. A média geral de idade dos participantes, independentemente do gênero, foi de 34,5 anos, tendo o mais novo 20 anos e o mais velho 59 anos. Quando questionados so- bre ser hábil ou competente ao co- municar-se com as pessoas, os par- ticipantes da pesquisa escreveram alguns requisitos ou características que reconheceram serem importantes. As respostas agrupadas permi- tiram a criação de seis categorias, mas algumas foram pontuais como é saber ouvir, dar oportunidade das pessoas participarem, se colo- carem, exporem suas opiniões, baseado nisso ter amadurecimento de conseguir fazer adaptações, se assim forem necessárias, usando bom senso, conhecimento, postura corporal que revele segurança, entusiasmo e ainda, dar feedback daquilo que foi colocado. Saber ouvir e sa- ber falar com linguagem apropria- da, e boa voz também são importantes para alcançar as metas e ajudar o grupo/pessoa no que for ne- cessário (E1). Outras respostas fo- ram mais simples é quando se é expressivo, educado e se consegue passar bem o recado e o outro en- tende. (E2), e ainda, umas não responderam objetivamente o questio- nado como: é fazer tudo. (E3) Uma resposta ampla reme- te à possibilidade de inferirmos que o participante não soube nominar Resultados e discussão dos da- dos ou classificar adequadamente ao so- É competente o profissiolicitado. Defendemos a premissa nal que valoriza a compreensão do que o conhecimento, sem sombra outro, isto é, pede o retorno do que de dúvida, é uma ferramenta im- foi dito, verifica o entendimento da portante na construção da compe- comunicação. (E5) tência comunicacional, mas isso Braga (4) enfatiza que as não garante uma intervenção assis- habilidades centradas na atenção e tencial competente, pois essa re- compreensão do outro exigem que quer a habilidade e a coragem para o profissional de saúde agregue criar e inovar, que associadas às ha- perspicácia e vigilância no ser cui- bilidades cognitivas e comporta- dado, observe as necessidades e as mentais, alicerça o saber-fazer do valorize, e verifique as condições profissional de saúde no cuidar sociais e culturais do outro que in- com responsabilidade. O que é cor- terferem no cuidado imediato e no roborado por autores que estudam seu planejamento pós-hospitalar, o assunto (3,4). se for o caso. Sendo assim, pode-se As respostas dos partici- afirmar que o grupo de respostas pantes foram ordenadas e analisa- dessa categoria contemplou a imdas, sendo construídas seis catego- portância que deva ser dada, pelo rias, a saber: habilidades centradas profissional, na atenção às necessina atenção às necessidades, reação dades do cliente. e compreensão do outro; habilida- Já na segunda, habilidades des centradas na qualidade e facili- centradas na qualidade e facilidade dade da oratória pública; habilida- da oratória pública (29,1%) reuni- des centradas na percepção do não- ram aqueles discursos voltados à verbal e verbal; habilidades centra- clareza da explanação da mensadas na maneira de lidar com o ou- gem, uso de exemplos, explicação tro; habilidades centradas no con- com objetividade e simplicidade, texto espacial e temporal e habili- como também a facilidade de se exdades centradas no conhecimento por em público, tomar iniciativa e técnico. ser extrovertido. A primeira categoria cita- Falar claramente ou ex- da, habilidades centradas na aten- por suas ideias com clareza, objetição às necessidades, reação e com- vidade, dando exemplos para faci- preensão do outro (47,8%), agre- litar o entendimento. (E7) gou os discursos cujo destaque foi Quando o indivíduo se exdado ao atender às expectativas e pressa bem, sabe ser dinâmico, sim- necessidades do outro, observar as ples na frente das pessoas, não tem reações do ouvinte como estratégia vergonha. (E8) de saber se está sendo eficaz; saber Esses resultados reforçam ouvir, valorizar a interação pessoal que a área da saúde lida com difecomo momento terapêutico; usar o rentes questões importantes e orifeedback como avaliação e conti- undas do processo de cuidar, dentre nuidade da comunicação e para de- elas destaca-se a de ordem oral do tectar se o outro entendeu, captou e profissional, que exige dele a apli- compreendeu a mensagem trans- cação de linguagem apropriada ao mitida. contexto, o uso de exemplificações É quando eu vejo o idoso e a atenção a ser dada na clareza e e percebo as limitações e as neces- objetividade das mensagens. Essas sidades dele, atendo-o valorizando considerações devem ser valorizao que ele de fato precisa e requer, das no cotidiano dos profissionais ouço o que me pede (E4) de saúde e quando são usadas ade- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

17 Teresa Cristina Prochet, Maria Julia Paes da Silva. quadamente são capazes de colabo- sonalidade, como ser calmo, aten- benefícios práticos e a preservação rar para o alcance do bem-estar das cioso, simpático, compreensivo, de relacionamento de qualidade. A pessoas e vai ao encontro dos auto- atencioso, interessado, sincero, afe- empatia, aliada à disponibilidade, à res como Silva (4) e Alberecht (9). tuoso, carinhoso, respeitoso e edu- atenção e ao interesse do profissio- A categoria habilidades cado ao comunicar-se com as pes- nal ao sujeito a ser cuidado por ele, centradas na percepção do não- soas. Eis os exemplos: são consideradas condições básicas verbal e verbal (12,8%) reuniu os É falar a linguagem da para que a eficácia do processo codiscursos que continham direta ou pessoa com quem você está se co- municacional ocorra (3). indiretamente menções sobre a qua- municando, também sabendo falar Habilidades centradas no lidade e entonação da voz, o uso in- de maneira que ela entenda e a contexto espacial e temporal tencional da postura corporal, com transmissão aconteça. (E11) (8,5%) foram a categoria temática destaque na forma de olhar e de ex- Ser simpático e ter com- cujos discursos citaram a escolha pressões faciais que possam revelar preensão. (E12) do lugar e o adequado uso do tempo segurança, confiança, simpatia do É preciso ser educado, pa- como facilitadores para o desenlocutor principal e, ainda, a utiliza- ciente, saber ouvir a outra com jei- volvimento, tanto do assunto, quanção da linguagem apropriada que to bom. (E13) to do grupo. Os discursos a seguir valorizasse as condições social e Cabe aqui ressaltar que o explicitam-na: cultural do outro. Exemplos: uso de padrões verbais que susci- Saber se expressar sem Quando se fala bem, de tam empatia, atenção e carinho in- ser cansativo, usando bem o temforma que a outra entenda, por isso terferindo no impacto da notícia e po. (E14) o tom da voz é importante, como a no valor a ser dado pela mensagem É ser uma pessoa que fala expressão facial e corporal tam- transmitida. A clareza das ideias fa- bem, na hora e lugar certo, sem bém é.... (E9) cilita a consciência dos fenômenos pressa, mas com atenção. (E15) Olhar no rosto das pesso- cognitivos e emotivos da lingua- Aqui fica evidente o quanas, dando toda atenção que se mere- gem, o que envolve a habilidade de to que a escolha do ambiente para ce, sendo educado, simpático e cari- monitorar o uso dos padrões de lin- estabelecer e manter a comunicanhoso. (E10) guagem próprios e alheios e de evi- ção é um ponto, também, a ser aten- Isso exposto ressalta-se tar jargões técnicos que causam tado pelo profissional de saúde, que a comunicação não-verbal fala mal entendidos, conflitos e desa- uma vez que a presença de ruídos, da essência do indivíduo, de suas justes, desfocando a meta comuni- ventilação e iluminação inadequaemoções e pensamentos. O desven- cacional (9). da são quesitos que podem aproxidar da sua natureza potencializa a Littlejohn (12) enfatiza co- mar ou distanciar as pessoas, concomunicação do profissional com o mo que as funções da teoria da co- sequentemente, colaborar ou não cliente e equipe (10) e isso precisa municação podem se distinguir em no processo de comunicação (3,6). ser um foco de atenção no cotidiano relação ao âmbito teórico, estilo de Finalmente, habilidades centradas dos serviços de saúde. composição, diferenças de função e no conhecimento técnico (6,8%) en- Os resultados estão em con- na abordagem filosófica, mas jun- globaram os discursos que deram cordância com a afirmativa de que tas compõem o entendimento de co- valor ao domínio do assunto trataé por meio do corpo, dos seus ges- mo o comportamento humano e as do. Eis um exemplo: tos, de sua aparência, dos seus movi- relações interpessoais podem ser in- É saber o que falar, entender e mentos que o homem se comunica fluenciados pela forma que se reage transmitir sem se preocupar e sem com os outros, e esse rol pode, em afetivamente com o outro e tam- cansar o outro. (E16) determinado contexto, realizar mo- bém pela situação na qual o outro se A categoria com maior número vimentos ambíguos, ou seja, de encontra. de discursos, habilidades centradas aproximação ou de afastamento, Os resultados, portanto, na atenção às necessidades, reação uma vez que é por meio do corpo confirmam o proposto por e compreensão do outro (47,8%), que vemos e percebemos, somos Alberecht (9) quando defende o reforça o que é encontrado na litevistos e percebidos (11). pressuposto que desenvolver empa- ratura (13), quando os autores afir- A quinta categoria, habili- tia com o cliente significa disposi- mam ser fundamental, na ação codades centradas na maneira de lidar ção do profissional em permitir municativa, a participação do assiscom o outro (12,0%), agrupou va- compartilhar sentimentos e criar tido. Aparecer em grande número lor atribuído às qualidades de per- vínculos, que induz a conquista de essa preocupação nos profissionais 122 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

18 Teresa Cristina Prochet, Maria Julia Paes da Silva. é positivo, pois o que se verifica, cer e solicitar feedback às pessoas cutor principal. muitas vezes, é a imposição do pro- com as quais se relaciona. Ficou clara a interdepenfissional por meio da concepção de Em suma, as considera- dência comunicativa inerente entre que o domínio de sua verdade so- ções traçadas pelos participantes re- as dimensões verbais e nãobressaia e isso acaba por coibir o ou- metem ao próprio conceito de verbais, presente nos discursos tro de expor suas emoções e opi- Perrenoud (15) que cita a compe- apresentados, revelando coerência niões, logo atentar-se a essa possi- tência como a capacidade de mobi- com os pressupostos defendidos pebilidade é relevante e essencial ao lizar todos os tipos de recursos cog- la Lei de Diretrizes da Educação prestar o cuidado. nitivos, não apenas um saber proce- (14) quando enfatiza o quanto Pode-se afirmar que a valo- dimental, codificado, que seja apli- aprender a ser e aprender a convirização da comunicação interpes- cado literalmente, mas aquele que ver são premissas essenciais na soal no cotidiano passa por muitas potencializa e externa os saberes construção de um profissional de sainstâncias, constituindo um desafio considerados declarativos e condi- úde competente. na construção das habilidades pró- cionais. Pode-se afirmar que o auprias no cuidar efetivo/afetivo. tor ratifica que ser competente é Atualmente, a busca por competên- quando se valoriza o situacional e a Referências cia tem sido uma realidade. Isto po- pessoa utiliza ações que sejam per- 1.Cerqueira, AT de AR. Habilidades de code ser comprovado nas premissas tinentes ao contexto, o que exige re- municação com pacientes e famílias. da Lei de Diretrizes Curriculares e flexão e tomada de decisão/escolha Interface 2009,13(29): Bases da Educação Nacional (14), e não simplesmente saber a ação 2.Stefanelli, MC. Comunicação com pacique fundamenta o processo de for- correta. ente teoria e ensino. São Paulo: Robe edimação por meio de competências e torial; habilidades e do aperfeiçoamento Conclusão cultural, técnico e científico do cidade um programa sobre comunicação não- 3.Silva, MJP da. Construção e validação dão, que busca um profissional De acordo como objetivo verbal para enfermeiros [tese]. São Paulo: com perfil não somente alicerçado proposto percebe-se que o entendinos aspectos de conhecimento cog- São Paulo, Escola de Enfermagem, Universidade de nitivo, mas que também seja capaz mento sobre ser hábil e competente de agir com eficácia diante das mação: uma ponte entre aprendizado e ensino na comunicação interpessoal, para 4.Braga, EM. Competência em comunica- quase a metade dos 117 profissiois diversas situações, executando nais e/ou graduandos da área de saúatividades próprias da profissão, e de Enfermagem, Universidade de São na Enfermagem [tese]. São Paulo: Escola ainda, saiba conviver com as pessotificação do verbal e não-verbal e de, envolveu a capacidade de iden- Paulo, as. da atenção ao outro para que a com- 5.Barlund, D. Teorias de comunicação in- Os resultados verificados preensão correta da mensagem enneste estudo com os participantes t e r p e s s o a l. I n : L i t t l e j o h n S W. viada fosse alcançada. Outros asda capacitação proposta, mesmo mana. Trad. de Álvaro Cabral. Rio de Fundamentos teóricos da comunicação hu- que inicial, vai ao encontro das connor frequência. pectos surgiram, porém, com me- Janeiro: Zahar; p siderações feitas por Silva (11), ao As habilidades comunicaafirmar que, para ser eficaz na co- 6.Littlejohn, SW. Fundamentos teóricos da cionais, portanto, foram mais fortemunicação é necessário o cumpri- Cabral. Rio de Janeiro: Zahar; comunicação humana. Trad. de Álvaro mento de quatro principais aspecligadas à valorização pessoal no 7.Prochet, TC. Capacitação em mente identificadas como aquelas tos: a) prestar atenção aos sinais sentido de atentar-se a receptivida- Comunicação Não-Verbal: um caminho paemitidos pelo outro e por si próprio; de e entendimento do outro; nas haisso porque quanto maior a capaci- ra ações de cuidado efetivo/afetivo ao idobilidades que destacam a clareza da so [tese]. São Paulo: Escola de dade de decodificar corretamente o Enfermagem, Universidade de São Paulo, não-verbal maior serão as conditividade e simplicidade e ao jeito ex- explanação da mensagem com obje ções de emitir adequadamente sinatrovertido da oratória e na qualidais não-verbais; b) buscar desenvol- 8.Bardin, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: de e uso de aspectos não-verbais cover um comportamento empático; Edições; c) utilizar adequadamente os cinco mo, o uso da voz, postura corporal, 9.Alberecht, K. Inteligência social. São sentidos voltados para a percepção expressões faciais que, juntas, pu- Paulo: M Books; e compreensão do outro; d) oferegurança, confiança e simpatia do dessem de alguma forma revelar se- lo- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

19 Teresa Cristina Prochet, Maria Julia Paes da Silva. 10.Silva, MJP da. O aprendizado da linguagem não-verbal e o cuidar. In: Stefanelli MC, Carvalho EC, organizadores. A comunicação nos diferentes contextos da enfermagem. São Paulo: Manole; p Silva, MJP da. Comunicação tem remédio. São Paulo: Loyola; Littlejohn, SW. Fundamentos teóricos da comunicação humana. Rio de Janeiro: Zahar; Machado, MMT; Leitão, GM; Holanda, FUX. O conceito de ação comunicativa: uma contribuição para a consulta de enfermagem. Rev Lat Am Enferm [periódico na Internet] [citado 2009 dez. 3];13(5). Disponível em: http: // php?script=sci _arttext&pid =S &lng=pt 14.Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de Educação Superior. Parecer CNE/CES n.1133, de 7 agosto de Institui as diretrizes curriculares nacionais dos cursos de graduação em enfermagem, medicina e nutrição [legislação na Internet]. Brasília; [citado 2004 fev. 12]. Disponível em: legislação. 15.Perrenoud, P. A prática reflexiva ao oficio de professor: profissionalização e razão pedagógica. Porto Alegre: Artmed; Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

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22 As percepções do usuário do serviço de saúde sobre o programa saúde da família Perceptions of the user's health service on the family health program Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, João Batista Ferreira Sobrinho, Amanda Gleice Fernandes Carvalho. RECENF-Revista Técnico-Científica de Enfermagem-2010-v8-n.25;( ). Resumo O Programa de Saúde da Família (PSF) apresenta-se como uma possibilidade de reestruturação da atenção primária, a partir de um conjunto de ações conjugadas em sintonia com os princípios de territorialização, intersetorialidade, descentralização, co-responsabilização e priorização de grupos populacionais com maior risco de adoecer ou morrer. Tem o objetivo de contribuir para a reorientação das práticas em saúde, rompendo com o modelo de assistência que prevaleceu tradicionalmente em nossa sociedade: excludente, centrado na doença, individualizado e segmentado. Visando identificar como anda a satisfação e o conhecimento da população sobre o PSF, destacamos como objetivo do presente trabalho: identificar a percepção dos usuários do serviço público de saúde, sobre o que é o Programa Saúde da Família em uma cidade do sul de Minas Gerais, para isso foi utilizado como referencial o método qualitativo do Discurso do Sujeito Coletivo (DSC). O DSC é uma estratégia metodológica proveniente da Teoria das Representações Sociais. Por meio desse modo discursivo é possível visualizar a representação social, que é o modo como os indivíduos reais e concretos pensam. Percebe-se que muitas famílias e usuários sabem as finalidades do PSF o que nos leva a crer que existem equipes atuantes no ambiente familiar e fora dele. Descritores: Programa de Saúde da Família, enfermagem, usuário. Abstract The Family Health Program (FHP) presents itself as a possibility of restructuring of primary care from a combined set of actions in line with the principles of territorial, intersectional, decentralization, accountability and co-prioritization of population groups with greater risk of becoming ill or dying. It is the goal to contribute to the reorientation of practices in health, breaking with the type of assistance that traditionally prevailed in our society: exclusionary, focused on disease, individualized and targeted. To identify how the satisfaction and knowledge of the population go on the FHP, as highlighted objective of this work: identifying the perception of users of public health, on what is the Family Health Program in a town south of Minas Gerais, for it was the method used as reference quality the Collective Subject Discourse. The CSD is a methodology from the Theory of Social Representations. Through this way you can view the discursive social representation, which is how the people feel real and concrete. Clearly the fact that many families and users know the purpose of PSF which leads us to believe that there are teams working in the family and outside it. Descriptors: Family health program, nursing, user. Ivandira Anselmo Ribeiro Simões. Enfermeira Professora Mestre em Bioética; Especialista em Docência no Ensino Superior; Docente do Curso de Graduação e da Especialização em Saúde da Família da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. João Batista Ferreira Sobrinho. Enfermeiro Especialista em Saúde da Família Multiprofissional pela Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. Amanda Gleice Fernandes Carvalho. Acadêmica de enfermagem do 4º ano, do primeiro semestre da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, de Itajubá. 127

23 Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, João Batista Ferreira Sobrinho, Amanda Gleice Fernandes Carvalho. Introdução Desde o início do século XX, quando a Saúde Pública no Brasil se configurou como polí- tica nacional de saúde, vêm-se sistematizando práticas sanitári- as na tentativa de estabelecer uma assistência eficaz voltada para a coletividade, tendo sido a criação e regulamentação do SUS os marcos mais importan- tes desse processo. Após suces- sivos movimentos e tentativas, essa foi a primeira ferramenta legitimada e garantida em lei para a construção de um sistema de saúde digno, humano e universal (1). Segundo Borges (2), o PSF tem o objetivo de contribuir para a reorientação das práticas em saúde, rompendo com o mo- delo de assistência que prevale- ceu tradicionalmente em nossa sociedade: excludente, centrado na doença, individualizado e seg- mentado. Como a intervenção se dá no nível primário de atenção, ele trabalha localmente e, por- tanto, numa maior proximidade às famílias. Ele afirma ainda que o acolhimento e o vínculo são privilegiados e se caracterizam como uma modalidade de inter- venção usuário-centrada, incentivada na proposta do SUS, para que se possa estabelecer uma relação interpessoal mais próxima dos usuários em suas demandas. Características peculiares do PSF parecem favorecer a integração entre comunidade e equipes de saúde da família, bem como a relação trabalha- dor-usuário. Neste sentido, des- taca-se a introdução dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) nas equipes, adstrição de clientela num território definido, atuação das equipes na ótica da Vigilância em Saúde e o trabalho em equipe realizado por um enfermeiro, um médico, dois auxiliares de enfermagem e quatro a seis ACS. Segundo Oliveira, Spiri (3), o estreito relacionamento entre profissionais da equipe de saúde e as famílias, estabelecidas pelo PSF, auxilia na aceitação das pessoas para o acompanhamento frequente e a busca da satisfação das necessidades de saúde. Uma das demandas do PSF é o retorno da inclusão da família como partícipe do processo saúde-doença e em cujo espaço busca-se o desenvolvimento de ações preventivas, curativas e de reabilitação. Visando identificar como anda a satisfação e o conhecimento da população sobre o PSF, notamos que durante as atividades realizadas em nossa vivência profissional, como enfermeiros em equipes de saúde da família de nossos respectivos municípios, os usuários demandavam dúvidas comuns como: O que é o PSF? Quais são suas diretrizes e funções? O que significa promoção e prevenção da saúde? Percebemos que na prática a visão dos mesmos é ainda a de um modelo curativo e hospitalocêntrico, dificultando assim, distinguir a proposta entre Hospital, UBS, e o Programa Saúde da Família. A transição do modelo curativo em que o processo se dava pela demanda espontânea, para o modelo de caráter substitutivo do PSF, que prevalece à promoção e a prevenção da saúde ainda não está evidenciada, e com isso notamos que mesmo depois de anos de implantação, suas diretrizes e objetivos são pouco identificados pela maioria da população, o usuário fecha as portas de sua casa para a equipe no que diz respeito à prevenção de doenças e só procura o servi- ço de saúde, na maioria das ve- zes, quando a doença está incapacitando-o ou quando a doença já está instalada. A relevância deste estu- do refere-se ao fato de que go- vernantes gestores e a popula- ção em geral deveriam ser sensi- bilizados quanto à importância do PSF bem como suas metas e diretrizes. Com isso investiriam mais na atenção primária, e a equipe de saúde da família reali- zaria com melhores recursos o seu trabalho. Quanto à comunidade e os usuários, eles se tornariam mais ativos em seus cuidados, participariam mais efetivamente nos serviços de promoção da saú- de oferecidos. Este trabalho além da contribuição científica visa ainda melhorar a qualidade da assistência prestada, incenti- var os profissionais de saúde a exercer melhor suas atribuições dentro da equipe, valorizar a par- ticipação popular e também com- preender o que os usuários sa- bem sobre as competências do PSF. Diante do exposto desta- camos como objetivo do presen- te trabalho: identificar a percep- ção dos usuários do serviço pú- blico de saúde, sobre o que é o Programa Saúde da Família em uma cidade do sul de Minas Gerais. 128 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

24 Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, João Batista Ferreira Sobrinho, Amanda Gleice Fernandes Carvalho. Referencial conceitual De acordo com Lima (4), a proposta do PSF é parte in- tegrante das estratégias da con- solidação do SUS, implantado pelo governo federal em 1994 através do Ministério da Saúde, visando contribuir para o aprimoramento do SUS. Embora tenha sido criado com a denomi- nação PSF, depois de uma déca- da de experiências vividas em sua trajetória e da realização de estudos e reflexões à seu respei- to, não há mais dúvida em afirmar que a saúde da família não é apenas um programa, mas uma estratégia; não é apenas uma es- tratégia de médico da família, mas uma estratégia específica de atenção à saúde. Não se ca- racteriza como um projeto piloto alternativo, paralelo ao SUS. Trata-se de uma forma especial para reverter à maneira como sempre se fez a prestação de assistência à saúde no Brasil, cons- truindo, consequentemente, um novo modo de cuidar da saúde. A saúde da família é entendida como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial, operacionalizada mediante a implantação de equipes multiprofissionais em unidades básicas de saúde. Essas equipes são responsáveis pelo acompa- nhamento de um número defini- do de famílias, localizados em uma área geográfica delimitada. As equipes atuam com ações de promoção de saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de do- enças e agravos mais frequentes, e na manutenção da saúde da comunidade (5). Para Souza (6) a estratégia do PSF propõe uma nova di- nâmica para a estruturação dos serviços de saúde, bem como para a sua relação com a comunidade e entre os diversos níveis de complexidade assistencial. Assume o compromisso de prestar assistência universal, integral, equânime, contínua e acima de tudo resolutiva à população na unidade de saúde e no domicílio, sempre de acordo com suas reais necessidades, identificando os fatores de risco, aos quais ela está exposta, e nele intervindo de forma apropriada. O PSF é um projeto dinamizador do SUS, condicionado pela evolução histórica e organização do sistema de saúde no Brasil. A velocidade de expansão do PSF comprova a adesão de gestores estaduais e municipais aos seus princípios. Conforme Silva (7), as diretrizes ou princípios básicos do PSF envolvem o caráter substitutivo, em que as atividades a serem ofertadas estão voltadas a promoção à saúde, a prevenção dos agravos, o que caracteriza o nível primário da atenção a saúde; a adscrição da clientela, que visa estabelecer com definição um território a ser trabalhado, o que permite a equipe conhecer e ter responsabilidades com um número definido de famílias; o cadastramento, que através da visita domiciliar tem a função de inscrever ou cadastrar as famílias. O cadastramento permite a equipe conhecer os componentes da família, as doenças mais comuns, as condições sócioeconômicas entre outros pontos relevantes; a abordagem multiprofissional, o trabalho do PSF deve ser realizado por uma equipe multiprofissional, tendo em vista a necessidade de diferentes maneiras de compreender os problemas de saúde. É necessário um médico, um enfermeiro, um técnico ou auxiliar de enferma- gem e os agentes comunitários de saúde; a educação permanen- te, onde a capacitação dos pro- fissionais das equipes visa aten- der as necessidades vindas do próprio trabalho. Ângelo (8) relata que a família como unidade de cuida- do é a perspectiva que dá sentido ao processo de trabalho do PSF. Podem-se focalizar aspectos es- pecíficos da família, o que resul- ta em uma gama muito ampla de definições possíveis, ressalta ain- da que, assim pode-se conside- rar a família como um sistema, uma unidade cujos membros po- dem ou não estar relacionados ou viver juntos, pode conter cri- anças sendo elas de um único pai ou não. Nela existe um compro- misso e um vínculo entre seus membros e as funções de cuida- do da unidade consistem em proteção, alimentação e socializa- ção. Silva (7) relata que, o tra- balho em equipe multiprofissio- nal é considerado um importan- te pressuposto para a reorgani- zação do processo de trabalho no âmbito do Programa de Saúde da Família - PSF, visando uma abordagem mais integral e resolutiva. Isto pressupõe mudanças na organização do traba- lho e nos padrões de atuação indi- vidual e coletiva, favorecendo uma maior integração entre os profissionais e as ações que de- senvolvem. A equipe de saúde da fa- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

25 Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, João Batista Ferreira Sobrinho, Amanda Gleice Fernandes Carvalho. mília deve conhecer as famílias vimento. tornar mais clara uma determido território de abrangência, nada representação social e o identificar os problemas de saú- Referencial teórico metodolóde e as situações de riscos exis- constituem um dado imaginário. conjunto das representações que tentes na comunidade, elaborar gico Por meio desse modo disum plano e uma programação de cursivo é possível visualizar a reatividades para enfrentar os de- Teoria das representações sociterminantes do processo saú- em que ela aparece não sob a for- presentação social, na medida de/doença, desenvolver ações ais ma (artificial) de quadros, tabeeducativas e intersetoriais rela- Buscando atingir os obje- las ou categorias, mas sob a fortivos propostos para esta pesqui- ma mais viva e direta de um discionadas com os problemas de saúde identificados e prestar as- sa e responder às questões ela- curso, que é o modo como os inboradas para a compreensão do divíduos reais e concretos pen- sistência integral às famílias sob sua responsabilidade no âmbito objeto de estudo, foi utilizado o sam. da atenção básica (9). método qualitativo, do tipo ex- A interação é aqui enten- ploratório. Segundo Minayo (12), a opção pela abordagem Trajetória metodológica dida como construção de conqualitativa baseia-se no interessensos, em relação a objetivos e A pesquisa foi realizada se em compreender a complexiresultados a serem alcançados no município de Poço Fundo, dade do fenômeno que não se respelo conjunto dos profissionais. sul de Minas Gerais. O estudo tetringe os dados estatísticos. ve como sujeitos, vinte morado- Por meio dessa prática comunires do município. A amostragem Considerando a natureza cativa, os profissionais constrofoi do tipo intencional ou racioda questão da pesquisa que visa em e executam um projeto conal. Para se adequar ao critério identificar a percepção dos usuámum pertinente às necessidades rios do serviço de saúde sobre o de inclusão o entrevistado deve- de saúde dos usuários (5,10) que é o Programa Saúde da ria residir no município cuja pes- Segundo Carvalho (11), a proquisa foi realizada e estar cadas- Família, foi necessário, para ismoção da saúde é uma estratégia so, avaliar a compreensão do trado em uma equipe de saúde de produção de saúde articulada que essas pessoas dizem, fazem da família. Para acessar o cadas- às demais políticas e tecnologias e pensam a respeito do PSF, sendesenvolvidas no sistema de saú- tro das equipes, pedimos autorido assim optamos por adotar code brasileiro que busca contrização ao secretário do municí- mo referencial metodológico a pio. Como estratégia para coleta buir com as necessidades sociais Teoria das Representações dos dados, utilizamos entrevista em saúde, para além do enfoque Sociais (TRS). não-estruturada, contendo a seda doença. Conferências interguinte questão: Para você, o que P a r a A b r a n t e s ; nacionais sobre promoção e preé o Programa de Saúde da Figueiredo (13), a TRS apresenvenção da saúde, realizadas pela ta grande aderência aos objetos Família (PSF)? Organização Mundial de Saúde d e e s t u d o n a á r e a d e Os discursos dos entre- (OMS), vêm acontecendo desde Enfermagem, uma vez que ela vistados foram registrados por a segunda metade do século pasmeio de gravador, após autorizaconsegue apreender os aspectos sado. No Brasil, particularmenção prévia dos informantes, e da mais subjetivos que permeiam te, devido ao processo de impleassinatura do termo de consentios problemas inerentes esse cammentação e consolidação do po. Como método do estudo uti- mento informado. A autonomia SUS, os princípios gerais da prodos participantes do estudo foi lizamos o Discurso Sujeito moção, - equidade, intersetoriarespeitada pela sua livre decisão Coletivo (DSC). Lefèvre; lidade, participação social, criaem participar da pesquisa, após Lefèvre; Teixeira (14) define ção de um entorno propicio à vio fornecimento das orientações que o DSC é uma estratégia meda e à justiça social - encontraque subsidiaram a sua decisão. todológica com a finalidade de ram espaço para o seu desenvol- Os dados foram colhidos 130 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

26 individualmente mediante agenda e de acordo com a disponibilidade dos participantes. Ideia central: ajudar na saúde Para mim não tem serventia de nada não. Ah, eles ajudam só Além disso, é preciso evi- DSC de vez em quando...eu sinto faldenciar que este estudo seguiu Ajuda, ajuda muito, pois ta de orientação tenho pai e mãe os preceitos estabelecidos pela quando preciso de algum remé- com pressão alta em casa e só eu R e s o l u ç ã o / 9 6, d e dio, eu vou lá, ou eles vêm aqui que cuido deles... 16/10/1996, do Ministério da em casa, e sempre é muito bem Saúde. tratado... Graças ao PSF eu des- Ideia central: eu não sei o que é cobri que eu tenho pressão alta, PSF Resultados Dentro da temática Per- cepção dos usuários sobre o PSF serão compilados abaixo as Ideias Centrais (IC) do dis- curso dos entrevistados e, logo abaixo, seu respectivo DSC. Sendo assim, obtemos as seguintes IC: Visitar as famíli- as ; Ajudar na saúde ; Orientar e prevenir doenças ; Não serve de nada ; Eu não e agora eu faço tratamento direitinho, sarou minhas dores de cabeça, pra mim essa é a serventia do PSF, ajudar na saúde das pes- soas. Esse programa aí é pra ajudar na saúde. É pra atender as famílias. Eu penso que o PSF é muito bom... eu mesmo nunca ti- nha feito um preventivo, agora eu to cuidando mais da saúde. DSC DSC Eu nem sei o que é programa de família não, nunca recebi uma visita de médico nem enfer- meiro, só uma menina passa uma vez por mês pra pegar a assinatura. Eu num entendo muito bem desse PSF não. Ideia central: orientar e preve- Discussões As ICs com maior fresei o que é PSF, sendo as três nir doenças quência foram: visitar as famíprimeiras IC com maior fre- DSC lias ; ajudar na saúde ; ori- quência. Considerando as ideias centrais, surgiram os seguintes DSCs: Ideia central: visitar as famílias DSC Serve pra visitar as famílias e ver o que elas estão precisando. Acho bom porque como eu sou doméstica não tem como eu levar meu filho lá, e eles sempre tem o cuidado de vir aqui em casa. Recebo visita toda semana, tem o agente de saúde, o controle da minha diabete todo mês. Agora a gente recebe visita, porque de primeiro não tinha isso não, mudou pra melhor... Todo mês eles vão lá em casa, acho que no geral eles fazem só o bem pra nós. Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, João Batista Ferreira Sobrinho, Amanda Gleice Fernandes Carvalho. Pra meu entendimento serve pra orientação das doenças que a gente tem no bairro. É um programa do governo que serve pa- ra ajuda a população a prevenir as doenças mais grave, sempre que eles me fazem visita eu pergunto as coisas sobre minha doença, eles orientam a gente, eles fazem palestras de vez em quando. Eles chamam atenção da gente, todo mês eles me lembram de vacinar minhas crianças pequenas, serve de alerta pra gente. O PSF cuida da famí- lia com um todo, e serve para trabalhar a promoção e a prevenção das doenças. Ideia central: não serve de na- da entar e prevenir ; como podemos destacar nas falas dos DSC abaixo:... O PSF cuida da fa- mília, serve para promoção e prevenção das doenças... ;... eles orientam bem a gente... ;... é pra atender as famílias ;... a serventia do PSF é ajudar na saúde da pessoa.... Quanto à IC visitar as famílias, evidenciamos a im- portância da visita para conhe- cer o contexto social de cada fa- mília, além de intensificar o mo- delo de saúde proposto. Segundo Mandú et al. (15) a expansão da visita torna- se cada fez mais necessária, po- is, com as mudanças ocorridas no perfil epidemiológico da população, os idosos, hipertensos e diabéticos entre outros são cada vez mais cuidados em sua resi- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

27 Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, João Batista Ferreira Sobrinho, Amanda Gleice Fernandes Carvalho. dência, fazendo-se necessário a ção da saúde e reabilitação, ou se- das pessoas que eles cuidam, vigilância, manutenção e restau- ja, uma prática humanizada com- eles ensinam a ter saúde, muito ração de sua saúde onde eles se petente, unindo o saber popular bom o trabalho deles, precisa vaencontram. Por outro lado, uma ao saber técnico-científico. lorizar esse trabalho. das preocupações que se tem é Detectados nas falas abaixo:... Encontramos nos resultados que as visitas do PSF possam le- eles fazem palestra de vez em que os usuários em sua maioria var à dependência da população quando, minha mulher fez o pré- consideram o PSF Muito dos profissionais principalmen- natal com eles e foi tudo bem.... bom ; útil ; cuida da famíte médicos, como podemos iden- Os objetivos da implan- lia. Essa satisfação com o PSF tificar nas falas: As meninas tação do modelo de saúde da fa- vem ao encontro com o que diz vêm fazer visita, e se marcar o mília segundo o Ministério da Turrini (21). Segundo ela a samédico vem, acho melhor do jei- Saúde são, entre outros: prestar tisfação do cliente é uma forma to que é hoje... não precisa en- assistência integral e contínua; de se avaliar a qualidade do serfrentar fila. humanizar as práticas de saúde; viço de saúde, além do que, é No que diz respeito à IC fazer com que a saúde seja reco- uma acessibilidade de garantir o ajudar na saúde, nas decisões nhecida como um direito de cida- retorno do usuário quando nequanto à saúde dos indivíduos e dania e estimular a organização cessitar. A partir do usuário, é as comunidades deve-se respei- da comunidade, porém cabe as possível obter informações que tar o princípio ético da autono- equipes de saúde da família, pro- beneficiam a organização dos mia, evitando-se práticas pater- mover educação em saúde e me- serviços de saúde. nalistas contrárias à vontade das lhorar o autocuidado dos indiví- Percebe-se que muitas fapessoas, pois todo cidadão tem o duos (18). mílias e usuários sabem as finadireito de participar nas tomadas S e g u n d o C o s t a ; lidades do PSF, o que nos leva a de decisões no que se refere a Carbone (19) o enfermeiro deve crer que existem equipes atuansua saúde (16). assistir às pessoas que necessi- tes no ambiente familiar e fora A IC orientar e preve- tam de atenção de enfermagem. dele. nir doenças, também se desta- Cada equipe de saúde da família Segundo Cianciarullo cou,... descobri que tenho pres- é capacitada para conhecer as re- (22) o PSF constitui uma prosão alta e agora eu faço trata- alidades das famílias e a prática posta inovadora nos serviços de mento direitinho... ;... eles ori- sanitária não deve fixar na aten- saúde, priorizando as ações de entam bem a gente.... Podendo, ção meramente curativa, mais promoção, proteção e recuperatambém, ser identificada sua im- manter a vigilância em saúde. ção da saúde das pessoas e das faportância no estudo de Souza Para Carbone (20) no mílias de maneira integral e con- (17), em que ele evidencia que a PSF é muito importante trans- tínua. ESF vem gerando um novo mo- cender o biológico e compreen- Gualda, et. al. (23), tamdelo de atenção à saúde através der as dimensões biopsicossoci- bém, cita que a equipe de Saúde de uma assistência integral e con- ais das famílias e também co- da Família tem como principal tínua a todos os membros das fa- nhecer a história do usuário, in- missão promover a participação mílias e da comunidade em cada clusive sua fala reflete seu mun- da comunidade, favorecer a huuma das fases de vida, constru- do. manização do atendimento, posindo um vínculo entre equipe e Podemos confirmar tal sibilitando um bom relacionapopulação. Esse vínculo pro- fato, com o que disse esse usuá- mento. porciona retomar a visão inte- rio:... o PSF cuida da família Para Cianciarullo (22), gral do indivíduo em seu contex- como um todo e serve para tra- alguns serviços ainda estão preto familiar, desenvolvendo balhar a promoção e a preven- sos em procedimentos tradicioações de promoção, proteção es- ção das doenças desde o mais ri- nais, não adotando essa forma pecífica, diagnóstico precoce, co até o mais pobre, eu acho bo- inovadora e flexível que é o PSF. prevenção de danos, recupera- nito é o valor que eles dão ao lar O objetivo desse programa 132 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

28 Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, João Batista Ferreira Sobrinho, Amanda Gleice Fernandes Carvalho. (PSF) é uma reorganização da ais competências e, além disso, cas que relacionam com o seu prática assistencial, onde aten- estarem esclarecendo melhor bem estar. ção centra-se na família, em seu nossas famílias sobre as finali- Esta pesquisa não se esambiente físico e social, com su- dades do PSF. gota aqui, muitos desafios ainda as crenças e valores, favorecen- Como as percepções dos cabem a nós enquanto profissiodo o atendimento do processo sa- usuários são ímpares, é difícil di- nais. No entanto, temos a resúde/doença em um contexto geo- zer o que significa para eles um ponsabilidade de não poupargráfico definido. serviço ter a capacidade de solu- mos esforços para que aos pou- De acordo com Turrini cionar o seu problema de saúde. cos nossa sociedade possa com- (21) os resultados de um traba- Medir a satisfação deles refere- preender que devemos valorizar lho em saúde, efetivo, são avali- se a compreender suas experiên- a saúde e não a doença, que o inados pela satisfação do paciente, cias com relação ao cuidado à sa- divíduo deve ser tratado como pelos efeitos na saúde da popu- úde. um ser integral, dentro de seu lação e pelo atendimento da aten- contexto social, enfim, o PSF é ção primária na comunidade. Conclusão uma estratégia de esperança que Tivemos como IC que o PSF Os resultados do prenos abre os horizontes para essa Não serve de nada e ainda IC sente trabalho permitiram as sepossibilidade. Não podemos es- eu não sei o que é PSF. Essas guintes conclusões: que a perideias refletem a maneira como quecer que o usuário, a família e cepção dos usuários do serviço a comunidade são os fatores des- as equipes têm relacionado com público de saúde, sobre o se processo. as famílias, é um dado muito im- Programa Saúde da Família foportante, ou seja, o que significa ram: Visitar as famílias, Ajuo PSF, quais suas finalidades Referências dar na saúde, Orientar e prenão estão ainda bem definidas Pública: ideias e autores. Ciênc. Saúde 1.Nunes, ED. Sobre a história da Saúde venir doenças, Não serve de na concepção de alguns usuárinada, Eu não sei o que é 2.Borges, CC. Promover e recuperar saú- Colet (2): os. Segundo Costa (24), Os ser- PSF. de: sentidos produzidos em grupos comuviços de saúde não estão estabe- nitários no contexto do Programa de Saúde Esta pesquisa permitiu lecendo um diálogo eficiente da Família. Interface set/dez; 18(9): verificar que as percepções dos com o paciente. usuários são ímpares, sendo difí- 3.Oliveira, EM; Spiri, WC. Programa Muitos usuários dizem Saúde da Família: a experiência de equipe cil dizer o que significa para eles que os profissionais de saúde Multiprofissional. Rev. Saúde Pública. um serviço ter a capacidade de 2006 ago; 40(4): não olham para eles; os maiores solucionar o seu problema de saproblemas de comunicação são estomaterapia, incontinências, urinária e 4.Lima, CB. Enfermagem atual em cursos: úde. Mensurar a satisfação deles quando não se rompe a distância anal, Programa Saúde da Família. refere-se a compreender suas ex- Petrópolis, RJ: EPUB, entre o paciente e a equipe, refeperiências com relação ao cuire ainda que a diversidade cultu- saúde: conceito e tipologia - atualização. 5.Peduzzi, M. Equipe multiprofissional de dado com a saúde. ral envolva todas as maneiras de Rev. Saúde Pública. 2001; 35 (1): As expectativas dos 6.Souza, MF. A coragem do PSF. 2 ed. São viver dos indivíduos. Conforme usuários podem ser bem distina fala... Para mim não tem ser- 7Silva, L. Guia Curricular: O contexto e a Paulo: Hucitec, tas entre si, pois variam conforventia de nada não... instrumentalização da ação do agente co- me os valores sociais e culturais, munitário de saúde. Vol I. Belo Horizonte: Reconhecemos que outros estucontato com a equipe de saúde e Escola de Enfermagem da UFMG, dos com esse objetivo possam 8. Ângelo, M. Abrir-se para a família: supeo contexto em que eles se inseser realizados a fim de identifirem. A opinião, dos mesmos, é Desenvolvimento. 1999; 1(1-2): r a n d o d e s a f i o s. F a m. S a ú d e carmos prováveis falhas e promuito importante para avaliar as 9.BRASIL. Ministério da Saúde. porcionar as devidas melhorias. Departamento de Atenção Básica. Guia questões que envolvem o profis- No entanto, essas falas servem prático do Programa de Saúde da Família. sional, os serviços de saúde e as Brasília: Ministério da Saúde, para os profissionais de enferetapas de um determinado cuimagem como alerta para suas re- de saúde: a interface entre trabalho e inte- 10. Peduzzi, M. Equipe multiprofissional dado e também as característi- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

29 Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, João Batista Ferreira Sobrinho, Amanda Gleice Fernandes Carvalho. ção. [Tese Doutorado] - Faculdade de Rio de Janeiro: Rubio cap. 4, p.23- Ciências Médicas, Universidade Estadual 28. de Campinas, Campinas Carvalho, YM. Promoção da Saúde, Práticas Corporais e Atenção Básica. Rev. Brasileira Saúde da Família jul/set; s.n.(11): Minayo, MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 7 ed. São Paulo: Hucitec-Abrasco, Abrantes, VL; Figueiredo, NM. Construindo representações sociais com alunas (os) da pós-graduação em enfermagem: questões práticas em sala de aula. In: 9 Seminário de Pesquisa em Enfermagem. Anais. Vitória (ES), julho, Lefèvre, F; Lefèvre, AMC; Teixeira, JJV (org.). O discurso do sujeito coletivo, São Paulo: EDUCS, Mandú, ENT; Gaíva, MAM; Silva, MA; Silva, AMN. Visita domiciliária sob o olhar do usuário do programa saúde da família. Revi Texto e Contexto em Enfermagem Jan/mar; 17(1): Fortes, PAC; Martins, CL. A Ética, a Humanização e a Saúde da Família. Ver. Brasileira de Enferm dez; 53: Souza, MF. A Enfermagem reconstruindo sua Prática: Mais que uma conquista no PSF. Rev. Brasileira de Enferm dez; 53(n. especial): BRASIL Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Coordenação de Saúde da Comunidade. Saúde da Família: uma estratégia para a reorientação do modelo assistencial. Brasília: Ministério da Saúde, Costa, EMA; Carbone, MH. Saúde da Família: uma abordagem interdisciplinar. RJ: Rubio, Carbone, MH. Estilo de Vida. In: Costa EMA, Carbone MHS. Saúde da Família: uma abordagem interdisciplinar. RJ: Rubio; Cap Turrini, RTVT. Resolutividade dos Serviços de Saúde e satisfação do cliente. In: Cianciarullo TI (org). Saúde na Família e na Comunidade. São Paulo: ROBE p Cianciarullo, TI. Compreendendo a família no cenário de uma nova estratégia de saúde. In: Cianciarullo TI (org.). Saúde na Família e na Comunidade. ROBE. São Paulo Gualda, DMR; Bergamasco, RB; Okazaki, ELJ; Viana, L. Assistência prénatal no contexto do conceito de saúde reprodutiva. In: Cianciarullo TI; Gualda DMR; Silva GTR; Cunha ICKO, organizadores. Saúde na família e na comunidade. São Paulo: Robe p Costa, EMA. Escutando o paciente. In: Costa EMA, Carbone MH. Saúde da Família: Uma abordagem interdisciplinar. 134 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

30 A família como suporte para o enfrentamento do câncer de mama The family as a support for the confrontation of breast cancer Daniela do Nascimento, Narciso Vieira Soares. RECENF-Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8-n25; ( ) Resumo O objetivo deste estudo foi investigar junto às mulheres com câncer de mama, a percepção acerca do suporte familiar no enfrentamento da doença. Constituiu-se em uma pesquisa qualitativa descritiva. O contato inicial com as participantes do estudo deu-se em uma Clínica de Oncologia e Hematologia do interior do Estado do Rio Grande do Sul. Entrevistou-se 7 mulheres portadoras de câncer de mama no período de março a maio de As entrevistas aconteceram no domicílio das participantes de acordo com o agendamento prévio. Quanto à entrevista elaborou-se um roteiro semi-estruturado com 5 perguntas abertas. O registro das informações deu-se através de gravação das falas dos sujeitos da pesquisa. O processo analítico dos dados convergiu para a obtenção das seguintes categorias: a percepção da família na visão das mulheres com câncer de mama; a autoimagem como um desafio perante a sociedade e a si própria; a experiência do câncer de mama encarado não como uma doença, mas como mobilizadora de um trabalho educativo; sentimentos vivenciados a partir do diagnóstico de câncer de mama. Conclui-se que o apoio e suporte familiar às pacientes com câncer de mama, constituem-se em importantes instrumentos para enfrentamento da doença e manutenção do equilíbrio emocional. Descritores: Neoplasias da Mama, Família, Enfermagem. Abstract The objective of this study was to investigate near to women with breast cancer, the perception about the family support in the coping of the disease. It consisted in a descriptive qualitative study. The initial contact with the study participants occurred in a Oncology and Hematology Clinic in the interior of the Rio Grande do Sul State. They were interviewed 7 women carriers of breast cancer from March to May The interviews took place at the participants s domicile in agreement with the previous appointment. As for the interview it was elaborated a semi-structured script with 5 open questions. The information records were done by recording the research subjects s statements. The data analytical process converged to the obtaining of the following categories: the perception of the family in the view of women with breast cancer, self-image as a challenge to society and herself, the experience of breast cancer seen not as a disease, but by mobilizing educational work; feelings experienced after diagnosis of breast cancer. It follows that the support and family support for patients with breast cancer, are in important tools for fighting the disease and maintain emotional balance. Descriptors: Breast Neoplasm's, Family, Nursing. Daniela do Nascimento. Enfermeira graduada pela Univ. Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões-Campus de Santo Ângelo. Narciso Vieira Soares. Mestre em Enfermagem. Docente do curso de Enfermagem da Univ. Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões Campus Santo Ângelo. 135

31 Daniela do Nascimento, Narciso Vieira Soares. Introdução O Câncer de Mama cons- titui-se numa doença que acomete as mulheres em suas diver- sas faixas etárias, sendo temido pelos seus efeitos psicológicos, sexuais e de auto-imagem. A ca- da ano morrem de câncer no Brasil cerca de dez mil mulheres, sendo que a faixa etária predominante situa-se acima de 35 anos (1-2). No Rio Grande do Sul a incidência dessa patologia está aumentando cada vez mais. Segundo dados do INCA, dos novos casos de câncer estimados em mulheres gaú- chas, 13% foram casos de câncer de mama, no ano No Brasil, o câncer de mama é o que causa mais mortes entre as mulheres, sendo consi- derada a segunda causa de maior incidência de morbidade no ano de 2006 com casos. Essas informações são preocupantes para a saúde pú- blica e população em geral, na medida em que o câncer de ma- ma representa a causa mais comum de morte em mulheres entre 35 e 50 anos, embora seja verdade que, em muitas mulheres, incluindo aquelas abaixo de 50 anos, os casos são diagnostica- dos e tratados com sucesso. O câncer de mama é relativamente raro em mulher com menos dos 35 anos de idade, mas acima desta faixa sua incidência cresce rápida e progressivamente (2). Os sintomas do câncer de mama são nódulos ou tumor no seio, acompanhados ou não de dor mamária. Podem surgir al- terações da pele que recobre a mama, como abaulamentos e re- trações ou com um aspecto seme- lhante à casca de uma laranja. mento e da recuperação que po- Podem, também, surgir nódulos dem se estender por longo períopalpáveis na axila. Esses sinto- do. A família pode contribuir na mas são considerados como sina- superação desse momento viviis de alerta para identificação de do, mediante ações de cuidado, alguma anormalidade na mama. solidariedade, ajuda e conforto. Portanto, é de extrema impor- A participação em grupos de apotância o toque, o auto-exame, io é importante para as mulheres não somente para a detecção do com câncer de mama, pois nescâncer, mas também para a mu- ses encontros, poderão comparlher adquirir conhecimento do tilhar experiências positivas pa- próprio corpo, livrando-se de vá- ra ultrapassar esse momento, rios tabus e preconceitos em rela- através do incentivo de quem esção à auto-imagem e auto- tá vivenciando a mesma situa- estima perante a sociedade (2). ção de doença, tornando-se as- A família é uma das mais sim, mais fortes para vencer caimportantes fontes de energia e da etapa da experiência (5). suporte para vários agravos de Buscou-se investigar saúde, principalmente no caso neste estudo, se a família dá su- do câncer, que traz consigo o porte à mulher portadora de cângrande estigma da morte (3). cer de mama para ultrapassar es- A família pode ser com- se momento com mais seguranpreendida como um complexo ça e apoio emocional, pois a sistema de membros interdepen- ocorrência de câncer resulta em dentes que exercem múltiplos alterações no processo de vida papéis no contexto social em da mulher. O tratamento é agresque estão inseridos, mantendo in- sivo, estendendo-se por longo teração com outros membros, po- período. Entretanto, se a mulher dendo contribuir para a melho- mobilizar pensamentos positiria da qualidade de saúde das mu- vos, juntamente com o apoio da lheres acometidas de doença co- família e de amigos, sua recupemo o câncer de mama (4). ração poderá ser mais rápida, mi- Dentre os múltiplos pa- nimizando os efeitos agressivos péis exercidos pela família po- do tratamento, diminuindo o me- dem-se citar as funções relativas do da morte. à saúde, uma vez que a família No momento em que as protege seus membros, dando mulheres, portadoras do câncer apoio e resposta às necessidades de mama, recebem a notícia de básicas em situações de doença. que precisarão realizar a quimi- No momento em que a oterapia, sentem-se amedrontamulher adoece, ou seja, desco- das, abaladas, desesperadas, an- bre que está com câncer, neces- siosas e inseguras diante do trasita de apoio para enfrentamento tamento e seus efeitos colatera- das situações delicadas que está is, os quais são geralmente vivenciando. O suporte familiar agressivos, tanto para a parte físiconstitui-se em elemento funda- ca quanto para a psicológica (6). mental para ultrapassar os desa- Além dos efeitos colaterais cofios do diagnóstico, do trata- mo náuseas, vômitos e mal-estar 136 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

32 Daniela do Nascimento, Narciso Vieira Soares. geral, a alopecia é um dos as- atenção e do cuidado de enfer- ríodo de doença. pectos que mais preocupam a magem, além de acompanha- S e n t i m e n t o s maioria das mulheres, pois o ca- mento e apoio no enfrentamento Vivenciados pela Paciente com belo também é considerado co- desse momento vivido. Dessa Câncer de Mama e seus familiamo símbolo de feminilidade sig- forma, a mulher e sua doença, res nificativa para a mulher. Por isso não são os únicos focos da aten- A mulher, ao receber o dias pacientes devem ser prepara- ção do enfermeiro. A família agnóstico de câncer de mama das pelos profissionais de saúde também deve ser incluída no pla- passa a enfrentar situações de criantes do tratamento, informan- nejamento das ações de cuidado se, constituindo-se em um modo-as sobre os efeitos que ocor- da enfermagem (7). mento em que necessita de rem após o mesmo (6). Através de experiência amor, carinho e suporte emocio- O cuidado de enferma- vivida no âmbito familiar, per- nal daqueles que estão próximos gem às pacientes com câncer de cebeu-se que o apoio da família para manter a própria identidade mama inclui cuidar, orientar, dar é extremamente importante no e ajudar a enfrentar a grande inapoio emocional, segurança, momento da confirmação do di- certeza do futuro (5). A presença conforto e proporcionar um am- agnóstico e ao longo do trata- da família, apoiando as pacienbiente acolhedor para as mulhe- mento. tes aliadas com a esperança de res e seus familiares. O cuidado Por acreditar que é im- voltar à normalidade, constituintegral e humanizado à pacien- portante motivar as famílias a em importantes fatores facilitate e seus familiares exige enfer- compartilhar com a mulher por- dores no enfrentamento de situmeiros qualificados, capazes de tadora de câncer nesse momento ações de crise (5). compreender o momento viven- de sofrimento e dor em decor- De acordo com Silva e ciado, estabelecendo estratégias rência da doença, buscou-se atra- Melo (8) não é fácil aceitar um visando minimizar os efeitos ma- vés desse estudo, aprofundar re- diagnóstico de câncer, não imléficos da doença, e a partir daí flexões sobre essa temática. porta os conhecimentos que se tedar apoio necessário às mesmas Buscou-se, além disso, ampliar nha sobre a doença. Nesta árdua (7). Nesse sentido, o trabalho os conhecimentos sobre o cân- luta contra o diagnóstico de cânda enfermagem constitui mais cer de mama, para compreender cer, o impacto do medo do desde incentivo e suporte emocio- como se pode cuidar melhor e en- conhecido atinge não somente a nal para a mulher portadora do sinar às pessoas a serem melho- mulher, porquanto todos da famícâncer e sua família, do que pro- res cuidadores, sejam profissio- lia ficam naturalmente fragilizapriamente a cura (6). nais de saúde ou familiares. dos a ponto de se sentirem limi- Os profissionais de en- Esse estudo tem como tados em suas ações normais da fermagem devem investir na pre- objetivo geral, investigar junto vida. venção do câncer de mama, ori- às mulheres com câncer de ma- Após confirmação do dientando e auxiliando a mulher ma, a sua percepção acerca do su- agnóstico de câncer, a mulher na realização do auto-exame, porte familiar no enfrentamento passa a apresentar sentimentos oferecendo-lhe assistência, apo- da doença. Como objetivos espe- de ansiedade, desespero, angúsio e informação. Deve-se inves- cíficos têm-se: identificar a rede tia, desamparo, pensamentos de tir na assistência voltada não ape- de suporte familiar e social e a morte, acreditando que não irá nas aos cuidados físicos, mas ao sua relação com os mesmos; in- se curar e, se, ocorrer a cura, apacuidado emocional, buscando as- vestigar como as mulheres con- rece o medo da recorrência da dosim, reduzir sua ansiedade e ofe- seguem lidar com os sentimen- ença. É de suma importância recer maior segurança e confor- tos que emergem a partir da do- que ela tenha carinho e suporte to (6). ença; como mobilizam forças pa- de pessoas próximas para ajudar Assim como a mulher ra o enfrentamento desta situa- a enfrentar essa fase difícil sem portadora do câncer de mama, a ção vivida e investigar quais os medos, mostrando-lhe a possibifamília também necessita da desafios enfrentados nesse pe- lidade de cura, resgatando o va- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

33 Daniela do Nascimento, Narciso Vieira Soares. lor da vida, permitindo que essa lo de vida, passar a viver com ma- cional decorrente da doença mulher consiga olhar para o futu- is tranqüilidade e confiança. com ajuda de enfermeiros e de ro sem incertezas, com ânimo e Adaptar-se a essa nova forma de profissionais da equipe de saúcoragem diante dos desafios que vida requer que a família atue co- de, familiares e amigos, numa se apresentam (5). mo suporte, ajudando-a a não de- perspectiva de tratar e curar a do- Bergamasco (5) em seu sistir jamais, mas sim, encora- ença. estudo constatou que a família jando-a a continuar viver (5). A paciente com câncer foi identificada como rede de su- No câncer de mama, ao de mama torna-se uma pessoa porte social da mulher mastecto- realizar a mastectomia, a mulher duramente atingida física, psimizada, antes, durante e depois perde a mama, que para a maio- cológica e socialmente, tanto peda intervenção cirúrgica, confi- ria delas é definido como um ór- la doença como pelo tratamento. gurando-se, portanto, como ele- gão significante e que, no mo- Aceitar sua nova condimento importante e presente du- mento dessa perda, acaba per- ção e adaptar-se à nova imagem rante a experiência da doença. dendo juntamente a sua auto- de seu corpo exige esforço signi- Através desta citação en- estima e sua auto-imagem (8). A ficativo para o qual, muitas vetende-se que, o apoio familiar é auto-estima começa a ser abala- zes não estão preparadas (9). importante desde o início do des- da mais, acentuadamente, du- Diante da confirmação do diagcobrimento do câncer, ou seja, rante o tratamento quimioterápi- nóstico de câncer de mama, a mudesde o diagnóstico confirmado co, devido aos efeitos colaterais lher, muitas vezes sente-se comatravés dos exames realizados. destes, que causam desconforto, pletamente despreparada para A família deverá manter mal estar, sensação de piora de enfrentar a situação de doença diálogo com a paciente, abor- seu estado geral. Essas altera- ameaçadora à sua integridade. dando aspectos relacionados à ções em seu estado de saúde tor- Emergem sentimentos que vão patologia, mostrando que esta nam-lhe vulnerável, já que atin- desde a possibilidade de perder pode ser combatida através do gem a área emocional e física, uma mama, órgão importante tratamento, do cuidado e de ati- constituindo assim um dos pio- em seu corpo, até a perda de sua tudes positivas que resultem em res períodos de suas vidas. vida. A paciente necessitará de mobilização de forças para en- O trauma é um senti- apoio psicológico e emocional frentar e ultrapassar esse proces- mento que também pode ser vi- dos que estão à sua volta para eleso vivido com otimismo e segu- venciado no momento do diag- var sua auto-estima. rança. Isso ajudará bastante a nóstico, pela mulher com câncer Os sentimentos de medo compreender e enfrentar melhor de mama, mas não somente vi- e ansiedade vivenciados pela paa situação, servindo para ajudar venciado por ela, mas também ciente com câncer de mama acaa fortalecer a relação familiar pelos membros da família. É im- bam abalam seu equilíbrio emo- (5). portante a atenção psicológica cional, influenciando em seus re- A experiência de ser por- às respostas emocionais, essa lacionamentos, pois suas atentadora de câncer de mama opor- atenção deve ser entendida pe- ções centram-se na doença estuniza a mulher a aprender sobre los familiares e pessoas em sua quecendo-se de cuidar de si messi mesma e adaptar-se à nova si- volta, em especial pelos filhos e ma, centralizando suas emoções tuação de vida. Através desta companheiros. A possibilidade somente na doença. A relação enafirmação, entende-se que a mu- de comunicação favorável entre fermeiro-paciente pode desemlher deve ultrapassar essa etapa, os familiares ajudará a diminuir penhar papel de ajuda, através como um aprendizado em sua vi- o sentimento de isolamento da do cuidado humanizado no qual da, adquirindo forças para en- mulher (5). o profissional visualizará, não frentar obstáculos e desafios. Muitas mulheres conse- apenas um órgão doente, mas Deve dar-se conta de que guem lidar positivamente com uma mulher com todas suas poalgo, dali em diante, deverá ser essa situação, resolvendo bem, tencialidades com sua história mudado, ou seja, mudar seu esti- consigo mesma, a questão emo- de vida, medos e angústias (9). 138 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

34 Daniela do Nascimento, Narciso Vieira Soares. Ao descobrir-se com di- cura. E é importante encarar a si- do interior do Estado do Rio agnóstico de câncer, a mulher vi- tuação positivamente, com cora- Grande do Sul. As entrevistas fovencia sensações e sentimentos gem, determinação e força inte- ram realizadas nas residências de forma singular. Isto pode re- rior, de querer vencer todas as das mulheres que aceitaram parsultar em mudanças em sua vi- etapas (10). ticipar da pesquisa conforme da, necessitando adaptações aos A importância dos vín- acordo e agendamento prévio, momentos difíceis e desgastan- culos familiares é ressaltada no período de março a maio de tes, tanto para si quanto para sua quando se fala em câncer de ma família que acaba se envolvendo ma, pois se constitui num moe participando dessa experiência mento de grande fragilidade da Sujeitos do Estudo de dor e sofrimento pela qual es- mulher acometida por essa doen- Os sujeitos da pesquisa tão enfrentando (10). Às vezes, a ça. Considerando que todos nós, foram sete mulheres portadoras família se isola por não saber li- seres humanos, necessitamos de de câncer de mama que realizam dar e interpretar o sofrimento da cuidado, carinho, atenção, ou seou realizaram tratamento quimimulher, ou ela se isola por não ja, um afeto especial de todos os oterápico em um hospital da requerer preocupar a família, cri- membros da família, o que posgião noroeste do Estado do Rio ando assim uma barreira entre sibilita a nossa satisfação, e ha- Grande do Sul. O acesso às paciambos, dificultando o acompa- vendo a comunicação entre amentes deu-se mediante indicação nhamento e o apoio necessário bos, fortalecerá os relacionado médico assistente e da enfer- (11). mentos e também crescimento meira que atendem na clínica an- O câncer de mamar aba- interior da família e da mulher teriormente referida, onde se reala a mulher e toda sua estrutura (11). lizou o contato prévio com as familiar, podendo levá-la ao dem u l h e r e s e f a m i l i a r e s. sequilíbrio emocional, pelas fra- Metodologia Estabeleceu-se que as entrevisgilidades inerentes ao processo Tipo de Estudo tas seriam realizadas no domicivivenciado. É nesse momento Este estudo constitui-se lio das pacientes. que a família necessita unir esem uma pesquisa com uma aborforços visando ultrapassar as di- Como critério de includagem qualitativa do tipo desficuldades, que se apresentam. são adotou-se: ter sido diagnos- critiva. A pesquisa qualitativa ticada como portadora de câncer Os familiares devem manifestar responde a questões muito partiabertamente suas emoções e sen- de mama, ter mais de 18 anos, culares. Ela se preocupa, nas aceitar participar espontanea- timentos para a mulher com cânmente da pesquisa mediante o ciências sociais, com um nível cer, demonstrando sua imporpreenchimento do Termo de de realidade que não pode ser tância para todos, reforçando a quantificado(12). A pesquisa C o n s e n t i m e n t o L i v r e e esperança da paciente. É um modescritiva tem como objetivo primento de união, de cooperação e Esclarecido. Como critério de mordial a descrição das caractede busca de apoio dos profissio- exclusão: não ser portadora de rísticas de determinada populanais da saúde e dos serviços de câncer de mama, ser menor de ção ou fenômeno ou o estabelesaúde (10). 18 anos, não aceitar participar cimento de relações entre variáda pesquisa. Compreender as fragiliveis (13). dades da paciente é importante por que parte das famílias, assim Método de Coleta de Dados como as fontes de suportes dis- Local e Período do Estudo Foram realizadas entreponíveis possam ajudá-la peran- O contato inicial com as vistas com a utilização de um rote as dificuldades. O fortaleci- mulheres para compor a amostra teiro semi-estruturado com permento e a disponibilidade dos fa- do estudo foi realizado na guntas abertas. O registro dos da- miliares são fundamentais para Clínica de Oncologia e dos coletados ocorreu mediante a resistência do seu sofrimento e Hematologia de um município a utilização de gravador, além Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

35 Daniela do Nascimento, Narciso Vieira Soares. do diário de campo na qual fo- mes de flores, garantia de acesso não for a família eu acho que tu ram realizadas as anotações das aos dados resultantes da pesqui- não passa, não passa pela situaverbalizações das mulheres, as- sa a qualquer momento, e garan- ção se não for a família. Para sim como a impressão dos pes- tia de que sua participação não mim foi fundamental. (Margaquisadores no momento da cole- implicaria em nenhum risco em rida) ta de dados. relação à sua saúde. A utilização de um rotei- A ajuda da família, eu penso ro semi-estruturado facilitou aos Apresentação e análise dos dapesquisadores durante a realiza- fiz a cirurgia, eu tive a presença que é fundamental. Quando eu ção da entrevista, servindo co- dos da minha família. (Violeta) mo norteador no momento das Os dados obtidos através indagações às pesquisadas. Nas das entrevistas com os sujeitos...acho que em primeiro lugar, questões abertas, apresentava- da pesquisa foram submetidos tem que ter um apoio mesmo, se se a pergunta e a partir daí a en- ao processo de leitura e re- tu não tiver apoio da família, tu trevistada elaborava sua respos- leitura, separação por categoria já viu, não é? Porque fácil não é, ta conforme seu entendimento temática, conforme propõe às vezes eu dizia assim: ah, vou acerca do tema, momento em Minayo (15), emergindo de sua desistir de tudo, vou parar poranálise as seguintes categorias fi- que é muito doloroso não é, as que ocorreu a livre manifestação de subjetividades (13). nais apresentadas a seguir: fraquezas, a reação da quimio A percepção da família.... (Rosa) na visão das mulheres com cân- Considerações Éticas cer de mama. A ajuda da família foi muito im- Para a realização deste Nesta categoria apresen- portante e é importante até hoestudo foram respeitados os as- ta-se a percepção das entrevista- je... a dedicação assim, o caripectos éticos para a pesquisa en- das sobre a família e o enfrenta- nho, a preocupação.... (Girasvolvendo seres humanos, esta- mento da doença. Percebe-se sol) belecidos pela resolução 196/96 nas falas das entrevistadas que a do Ministério da Saúde (14). família, em momentos de doen- A participação efetiva da Obteve-se a aprovação ça, assume diferentes papéis, no- família constitui-se um impordo estudo pelo Comitê de Ética tadamente de apoio e incentivo. tante instrumento na ultrapassada Universidade Regional O suporte familiar constitui-se gem dos fatores adversos provo- Integrada do Alto Uruguai e das em valioso instrumento na supe- cados pelo câncer de mama. Missões URI - Campus de ração desse momento, caracteri- Essa participação poderá ser ob- Santo Ângelo sob nº 105- zado para algumas como uma en- jetivada a partir do apoio emoci- 04/TCH/07. Apresentou-se às cruzilhada, podendo representar onal, pela compreensão dos senpacientes um Termo de vida ou morte. As afirmações a timentos e emoções vivenciadas C o n s e n t i m e n t o L i v r e e seguir mostram como é percebi- pela mulher, disponibilizando Esclarecido constando os objeti- do o apoio familiar pelas entre- além de afeto e carinho, suporte vos do estudo, incluindo escla- vistadas: material e financeiro, o que conrecimento sobre a garantia do di- tribuirá positivamente na trajereito de retirarem seus consenti- A partir do momento da desco- tória dessa paciente durante o tramentos se assim o desejassem, berta da doença, a primeira pes- tamento (8). sem nenhuma implicação em soa que me acompanhou em to- A família é considerada seu atendimento e tratamento, da a etapa da pré cirurgia foi o uma força para o desenvolvigarantia do anonimato nas pu- meu marido.... (Cravo) mento de ações individuais e grublicações que resultassem do pais, condizentes com o dia-apresente estudo mediante a subs-...independente de umas aju- dia da mulher mastectomizada tituição de seus nomes por no- darem mais e outras menos, se (16). Representa uma das mais 140 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

36 importantes fontes de suporte Daniela do Nascimento, Narciso Vieira Soares. xa pra mim é essa, sabe...de ter para vários agravos de saúde, mexido no meu corpo, é bem difí- A experiência do câncer de maprincipalmente, no caso do cân- cil. Meu maior desafio é esse, é cer, que traz consigo o grande es- aceitar minha situação hoje. O ma, encarado não como uma tigma da morte (3). A família co- que está diariamente me inco- doença, mas como mobilizadomo um sistema interligado em modando e me afetando é a quesra de um trabalho educativo. As entrevistadas manifestaram sentimentos e emoções que afloraram após o diagnóstico do câncer de mama, dentre es- ses, a possibilidade de mudança em sua vida, sendo capazes de passarem de um estado de medo, inércias frente à doença para a ação. As afirmações a seguir mostram como ocorre essa mu- dança: que cada um de seus membros in- tão da operação. (Margarida) fluencia sobre o outro, o adoeci- mento de um dos integrantes Eu vou ser uma hipócrita em tem reflexos no comportamento não te dizer que eu não tive sene no estado emocional e até bio- timento em perder uma parte lógico dos demais (17). que foi minha, não é? não tem co- Durante todo o período mo, tu fica assim no início, ain- da doença, o significado do su- da mais que eu não fiz a recons- porte social para a mulher com tituição, foi muito difícil. No ve- câncer de mama se reveste de im- rão, eu passo nas vitrines e vejo portância, pois ela se vê sendo aquelas bluzinhas, roupas bem ajudada para não desistir do tra- bonitas, tudo de alcinha não é?, tamento, das consultas periódi- e eu dou uma olhada e digo: pucas do cuidado de si próprias (5). xa...eu tenho que andar com rou- É relevante que a abor- pa mais fechada...por quê?. dagem utilizada pela família pa- (Adália) ra o enfrentamento do câncer de mama, reforce expectativas de A identidade feminina esperança da mulher, mediante tende a ser modificada quando manifestação de sentimentos se concretiza a mastectomia e o que a façam perceberem sua im- tratamento quimioterápico, alteportância no contexto familiar ra-se também, o auto conceito, (14). podendo refletir-se de forma negativa na auto percepção da mu- A auto-imagem como um desa- lher (8). A cirurgia para a retirada fio perante a sociedade e a si da mama representa para muitas próprio. mulheres, momento de muita Nos relatos das entrevis- apreensão e perdas, pois a possitadas, percebeu-se uma grande bilidade de mutilação se dá pela preocupação com a auto- percepção da assimetria do corimagem, somando-se às outras po e pela visibilidade da cirur- questões relacionadas à doença, gia, que se constitui em agressão o que faz com que as pacientes à sua auto-imagem (18). Trata- estejam com um problema a ma- se da amputação de um órgão is. Essas preocupações são iden- que para ela é essencial na defi- tificadas nas falas: nição de seu gênero, faz parte do ser mulher. A partir da amputa- O que foi e está sendo o meu ção da mama, a mulher vive momaior desafio, o que está sendo mentos de conflitos psicológi- hoje é a questão da operação da cos, afetando a sua auto-imagem mama. A questão mais comple- corporal e a auto-estima (8). Eu mudei do dia pra noite, por que...quando eu soube o diagnóstico, em nenhum momento eu perguntei porque eu, as duas coi- sas que me preocuparam: e ago- ra, o que eu vou fazer, e a segun- da pergunta, o que eu preciso aprender? Essas duas coisas. Em mim, a partir dali, daquele momento, a partir de mim, eu comecei a olhar a vida de outra maneira, não é?. (Violeta)...Na nossa família agora tem um tio que tem câncer de pele, eu segunda feira fui lá de tarde pra levantar ele, sabe, eu me...mostro como exemplo, que tu tem que reagir, não po- de...sabe, as gurias dizem que não sabem de onde que eu tenho tanta força, mas eu, eu procuro ajudar a quem precisa. Eu tento ensinar pros outros o que eu...como é que eu fui.... (Girassol) Silva e Mamede (9) con- sideram que a manifestação da Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

37 Daniela do Nascimento, Narciso Vieira Soares. esperança é um ponto forte para des. tes do câncer, entre eles, o choassegurar à mulher uma imagem que, a ansiedade, a negação e a positiva das mudanças ocorridas Quando o resultado deu positi- raiva. Em conseqüência disto, no seu corpo. Ajudar outra pes- vo, senti medo, mas me senti surgem desafios que precisam soa, partilhar experiências e pro- com coragem para enfrentar to- ser enfrentados com o apoio da blemas do diagnóstico, do trata- dos os processos que eu ia en- família (19). mento, e até mesmo de proble- frentar. (Cravo) mas de outra natureza, são ele- Considerações finais mentos considerados essenciais Meu sistema emocional ficou Através dos relatos das para o crescimento e/ou trans- muito abalado e a angústia era entrevistadas, constatou-se que formação do comportamento. muito grande, medo e pavor. o suporte familiar é fundamental Para algumas mulheres, (Tulipa) para as mulheres com câncer de a experiência do câncer de mamama, para que possam ultrama oportuniza um repensar e Não sei... acho que te dá um pâpassar os momentos de angústia aprender sobre si mesma, à medi- nico, um medo. Pânico, pra mim e medo vivenciados, após a conda que necessitam adaptarem-se acho que deu pânico, não deu firmação do diagnóstico, constià situações não antes vivencia- medo, entrei em pânico sabe. tuindo-se, dessa forma, na base das, tendo que compreender Até quando meu marido me conde apoio e sustentação para o enaquilo que é importante na vida, tou, eu chorei aquela noite inteifrentamento da doença. no sentido de valorizá-la, po- rinha, inteirinha... (Margari- A realização das entredendo a partir daí, dar novo sig- da) vistas gerou grande expectativa, nificado à mesma(5). pois abordar um tema como o Ao descobrir-se com um Muitas mulheres ao rececâncer de mama, poderia reprediagnóstico como o câncer, a mu- berem o diagnóstico de câncer, sentar para as mulheres, lemlher e sua família passam por um sentem-se fragilizadas, demonsbranças de momentos de angúsperíodo de modificações em sua trando sentimentos de medo, antia e aflição advindos da doença, vida, já que há exigências ine- siedade, angústia, raiva, dúvida por isso, esteve presente a incerrentes à doença que provocam e preocupação em comunicar ou teza das reações emocionais, das adaptações sempre desgastantes partilhar tais questões com sua tristezas ou alegrias que poderie difíceis para todos os envolvi- família, devido à imagem ateram ser mobilizadas, a partir da dos (10). rorizada que emerge da doença visita domiciliar. A superação da (19). O medo resultante do diagansiedade inicial se deu no nóstico da doença constitui-se Sentimentos vivenciados a par- transcorrer dos diálogos, quanna possibilidade de uma maior do a insegurança mútua foi supegravidade do estado da pessoa tir do diagnóstico de câncer de rada com naturalidade e tranqüi- (16). mama. lidade, sendo possível realizar a No momento do diagentrevista conforme proposta do Vários sentimentos fo- nóstico, o medo é um dos primeestudo. A interação foi se conram relatados neste estudo pelas iros sentimentos que invade a mulheres, dentre eles o medo, a cretizando através do diálogo, es- mente das mulheres portadoras angústia, a tristeza, o pânico, o tabelecendo-se o vínculo, o que do câncer de mama, assim como pavor e o medo da morte, mas constituiu em fator motivador o medo da morte. Isto porque o além de sentimentos negativos, para a interação pesquisador, câncer é quase sempre associapesquisada. elas também demonstraram for- do à morte e também a uma doença, coragem, pensamentos posi- A entrevista propiciou ça sem cura(8). tivos e muita fé para enfrentar o um momento para que as paci- A autonomia da pacientes pudessem expressar seus câncer e os tratamentos necessá- ente e de seus familiares é afetasentimentos sobre a experiência rios, mesmo com suas dificulda- da pelos sentimentos decorrenvivenciada, sendo a vista domi- 142 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

38 ciliar considerada por estas, um momento de encontro, uma oporlheres com câncer de mama. Ribeirão 18. Ferreira MLSM, Mamede MV. tunidade para livre manifesta- Preto. (Tese) Universidade Federal de São Representação do corpo na relação consição. O estudo, além disso, possi- P a u l o. D i s p o n í v e l e m : go mesma após mastectomia. Rev Latino- ]2008 mar.30]. am Enferm 2003; 11 (3): bilitou às mulheres identificar a 4 Stanhope M. Teorias e desenvolvimento 19. Muniz RM, Dutra MG. O cliente em traimportância da presença de pro- familiar. In: Stanhope M, Lancaster J. tamento quimioterápico: a família vivencifissionais da saúde competentes, Enfermagem comunitária: promoção de sa- ando o cuidado. Famí Saú e Desenvolv úde de grupos, famílias e indivíduos. 2003; 5 (2): responsáveis e comprometidos Lisboa; com a saúde das pacientes. 5. Bergamasco RB, Ângelo M. O sofrimento de descobrir-se com câncer de mama: co- Entende-se que o enfermo o diagnóstico é experienciado pela mumeiro, ao realizar o planejamenlher. Rev. Bras. de Cancerol 2001; to de ações de cuidado à pacien- 47(3): te com câncer, deve incluir a fa- 6. Pereira SG, Rosenhein DP, Bulhosa MS, Lunardi VL, Filho WDL. Vivências de cuimília como parte integrante da dados da mulher mastectomizada: uma pesassistência de enfermagem. É re- quisa bibliográfica. Rev. Bras. de Enferm levante atentar para os aspectos 2006; 59(6): Ângelo M. Abrir-se para a família: supeque envolvem a dinâmica famirando desafios. Famí Saú e Desenvolv liar, auxiliando esses familiares 1999; 1(1/2):7-14. no cuidado da paciente que está 8. Silva RM, Melo EM, Rodrigues MSP. Família como suporte para a mulher em fragilizada naquele momento. A tratamento quimioterápico. Famíl. Saú e enfermagem necessita definir es- Desenvolv. 1999; 1(1/2): tratégias de cuidados à mulher, 9. Régis MFS, Simões SMF. Diagnóstico de câncer de mama: sentimentos, comportaque incluam o suporte familiar, a mentos e expectativas de mulheres. informação em relação ao cân- Disponível em: [2008 cer de mama, incluindo os as- jun.03]. 10. Hayashi VD, Chico E, Ferreira NML. pectos relacionados aos trata- Enfermagem de família: um enfoque em onmentos necessários e seus efei- cologia. Rev. Enferm. UERJ 2006; 14 tos colaterais. Deve-se proporci- (1): Maia SAF. Câncer e morte: o impacto onar tranqüilidade e conforto à sobre o paciente e a família. Curitiba; paciente, estimulando a expres D i s p o n í v e l e m : são de sentimentos e pensamen- [2008 abr.08]. 12. Minayo MC de S. Pesquisa qualitativa tos que viabilizem a construem saúde. Rio de Janeiro: Guanabara ção de alternativas viáveis para Koogan; minimizar a alteração na imasocial. São Paulo: Atlas; Gil AC. Métodos e técnicas de pesquisa gem corporal e que incentivem 14. Brasil. Ministério da Saúde (BR). na execução de atividades ocu- Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº pacionais que reduzam a tensão 196, de 10 de outubro de Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa em emocional e encorajem a sua seres humanos. Brasília (DF); participação em grupos de au- 15. Minayo MC de S. O Desafio do to-ajuda. Conhecimento: pesquisa qualitativa em sa- REFERÊNCIAS 1. Lopes MWP. Serviço de regulação da oncologia - Setor de Planejamento - 12º Coordenadoria Regional de Saúde. Santo Ângelo; Instituto Nacional do Câncer. Disponível em: < [2007 Daniela do Nascimento, Narciso Vieira Soares. ago.15] mastectomia. Rev Bras de Cancerol 2006; 3. Biffi RG. A dinâmica de um grupo de mu- 52 (2): úde. São Paulo/Rio de Janeiro: Hucitec. Abrasco; Mesquita ME, Magalhães SR, Carvalho AMA, Férnandez AF, Rego CDM. Comportamentos da família diante do diagnóstico de câncer de mama. D i s p o n í v e l e m : rticle/viewfile [2008 mar.20]. 17. Bervian PI, Girardon NMOP. A família (com )vivendo com a mulher/mãe após a Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

39 144 Atendimento humanizado: as representações sociais dos membros da equipe de enfermagem do programa de saúde da família de uma cidade sul mineira The meaning of humanized care by the nurse members of the staff of the family health program in a towm located in the southern region of the minas gerais state. Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, Carlos Eduardo da Silva Marinho, Elisângela Cássia Marques, Larissa Dela Líbera Miranda, Amanda Gleice Fernandes Carvalho. RECENF-Revista Técnico-Científica de Enfermagem-2010-v8-n25; ( ). Resumo Trata-se de um estudo que teve como objetivo identificar o significado de atendimento humanizado para os membros da equipe de enfermagem do Programa Saúde da Família (PSF) de uma cidade sul mineira. Este estudo foi do tipo descritivo, exploratório com abordagem qualitativa. A amostra foi constituída de 22 participantes, sendo 4 enfermeiros e 18 auxiliares de enfermagem inseridos no PSF. A amostragem foi do tipo proposital. A coleta de dados foi realizada mediante entrevista nãoestruturada, gravada e transcrita literalmente. As diretrizes metodológicas do Discurso do Sujeito Coletivo foram utilizadas para a seleção das ideias centrais e expressões-chave correspondentes, a partir das quais foram extraídos os discursos dos sujeitos, no cenário do Programa Saúde da Família. Do ponto de vista dos auxiliares de enfermagem, identificaram-se as seguintes ideias centrais sobre o evento O significado de Atendimento Humanizado no PSF : Ser educado ; Colocar-se no lugar do paciente ; Interagir com o paciente ; Mais humano ; Atender com respeito e Tratar com amor. Para os enfermeiros: Assistir holisticamente ; Colocar-se no lugar do outro e Saber ouvir. As conclusões permitiram conhecer que o significado de atendimento humanizado no PSF é significativo e primordial, porém, quanto mais conseguirmos associar conhecimento científico aos aspectos afetivos, mais próximos estaremos do cuidado humanizado. Descritores: Programa saúde da família; atendimento humanizado; equipe de enfermagem. Abstract This study aimed to identify the meaning of Humanized Care by the nurse members of the staff of the Family Health Program (PSF), in a town located in the southern region of the Minas Gerais State. It was descriptive, exploratory and qualitative approach. The group consisted of 4 nurses and 18 assistants' nurses, all involved in the PSF. The sampling was at random. The collection data was done in an interview which was recorded and transcript. The methodological guidelines of the group's speech were used for the selection of the main ideas and corresponding key expressions extracted from the subject's speech, all within the PSF. For the assistant nurses the main idea identified was: The meaning of the PSF humanized care Be polite, act like a patient, interact with the patient, be more human, answer and respect all kind of questions and treat the patient with extreme care. And for the nurses: Assist the patient holistically, act like a patient, and listen carefully to the patient. The conclusion allowed knowing the meaning of humanized care in the PSF. Descriptors: Family health program; humanized care, the nursing staff. Ivandira Anselmo Ribeiro Simões. Mestre em Bioética. Enfermeira Docente do Curso de Especialização Saúde da Família e do Curso de Graduação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. Carlos Eduardo da Silva Marinho. Mestre em Bioética. Enfermeira Docente do Curso de Especialização Saúde da Família e do Curso de Graduação da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. Enfermagem de Ouro Fino. Especialista em Saúde da Família. Elisângela Cássia Marques. Enfermeira. Especialista em Saúde da Família e UTI Neonatal Larissa Dela Líbera Miranda. Enfermeira. Mestranda em Ciências da Saúde pelo IAMSP. Especialista em Saúde da Família Amanda Gleide Fernandes Carvalho. Acadêmica de enfermagem do 4º ano, do primeiro semestre da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, de Itajubá.

40 Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, Carlos Eduardo da Silva Marinho, Elisângela Cássia Marques, Larissa Dela Líbera Miranda, Amanda Gleice Fernandes Carvalho. de-se a valorização dos diferen- onamentos: será que a equipe de Metodologia tes sujeitos implicados no pro- enfermagem reconhece o verda- O estudo foi realizado cesso de produção de saúde: deiro sentido da palavra humanas Unidades de Saúde da usuários, trabalhadores e gesto- nizar? Visa à humanização do Família (USF) do município de res. Os valores que norteiam es- atendimento no Programa Santa Rita do Sapucaí, localizasa política são a autonomia e o Saúde da Família? Sabe qual é o do no sul de Minas Gerias que protagonismo dos sujeitos, a co- significado de atendimento hutem uma população de responsabilidade entre eles, o es- manizado? mil habitantes. tabelecimento de vínculos soli- Sendo assim, elabora- Como critério de includários e a participação coletiva mos para essa pesquisa a seguinsão foi escolhido como sujeitos no processo de gestão. A huma- te questão: Qual o significado do deste estudo às pessoas que fanização como política transver- atendimento humanizado para zem parte da equipe de enfermasal, proposta pelo Ministério da os profissionais da equipe de engem (enfermeiros e auxiliares), Saúde, na rede de saúde pública fermagem do PSF? O propósito que trabalham no Programa implica em reafirmar os princí- de compreendermos o significa- Saúde da Família das áreas urbapios do SUS, construindo trocas do do atendimento humanizado na e rural do município de Santa solidárias e comprometidas, para a equipe de saúde, princi- Rita do Sapucaí, Minas Gerais e com a tarefa de produção de saú- palmente para a equipe de enferaceitaram participar do estudo. de e produção de sujeitos, a fim magem do Programa Saúde da Na pesquisa em questão de contagiar com suas ações hu- Família, implica reconhecermos a amostra foi de 22 profissionais manizadoras (7). que, nas nossas práticas diárias, que formam a equipe de enfer- O Programa Saúde da a implementação do cuidado humagem, entre eles, auxiliares e Família (PSF), ao se constituir manizado faz-se necessário, poenfermeiros. em uma estratégia de mudança e is ele é fundamental na qualida- A amostragem foi intenreordenamento do modelo assis- de da atenção prestada. No encional ou proposital, na qual o tencial no Brasil, propõe-se a ala- tanto, podemos observar que ispesquisador pode decidir e selevancar o Sistema Único de so muitas vezes não ocorre, os cionar a maior variedade possí- Saúde (SUS) que, apesar dos serviços de saúde ainda enfovel de respondentes, ou escolher avanços jurídico-políticos, não cam a medicina curativa, especisujeitos típicos da população em foi capaz de reverter o quadro só- alizada, hospitalocêntrica e fragquestão ou conhecedores do asciossanitário nacional, regional mentada. sunto em estudo (9). ou local, permanecendo como Acreditamos que este es- O método utilizado foi o hegemônico, modelo assistenci- tudo poderá despertar na equipe Discurso do Sujeito Coletivo al individual, curativo, cujo cen- de enfermagem do PSF e nas de- (DSC). De acordo com as diretro é o hospital. Portanto, o PSF mais pessoas, gestores coordetrizes do Discurso do Sujeito é inovador em seu aspecto de re- nadores, secretários de saúde, Coletivo são utilizadas três figulação interativa entre os profis- acadêmicos e professores o interas metodológicas: Expressõessionais de enfermagem e a comu- resse em repensar suas ações ao Chave (ECH) são transcrições linidade, tratando-se, no entanto, atender o usuário, família e a coterais de cada entrevistado. Ideia de um projeto complexo, pelas munidade, assim como, utiliza- Central (IC), que é uma expressuas tantas atribuições e propos- rem forma mais efetiva a humasão linguística que descreve de tas, mas que em muitos casos nização na assistência prestada. maneira sintética as ECH e o tem obtido excelentes resulta- O objetivo desta pesqui- Discurso do Sujeito Coletivo dos e alcançado saídas criativas, sa é identificar o significado de (DSC), formado pelas ECH que comprometidas e transformado- atendimento humanizado para tem as respectivas IC e é redigiras (8). os membros da equipe de enferdo na primeira pessoa do singu- Diante do que foi expos- magem do PSF de uma cidade lar (10). to, despertou-nos alguns questi- sul mineira. 146 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

41 Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, Carlos Eduardo da Silva Marinho, Elisângela Cássia Marques, Larissa Dela Líbera Miranda, Amanda Gleice Fernandes Carvalho. Introdução Atualmente, discute-se a necessidade de humanizar o cuidado, a assistência, a relação com o usuário do serviço de saú- de. O SUS instituiu uma política pública de saúde que, apesar dos avanços acumulados, hoje, ain- da enfrenta fragmentação do pro- cesso de trabalho e das relações entre os diferentes profissionais, fragmentação da rede assisten- cial, precária interação nas equi- pes, burocratização e verticali- zação do sistema, baixo investi- mento na qualificação dos trabalhadores, formação dos profissionais de saúde distante do debate e da formulação da política pú- blica de saúde, entre outros as- pectos tão ou mais importantes do que os citados aqui, resultan- tes de ações consideradas desumanizadas na relação com os usuários do serviço público de saúde (1). O modelo assistencial ainda predominante no país caracteriza-se pela prática hospitalocêntrica, pelo individualis- mo, pela utilização irracional dos recursos tecnológicos dis- poníveis e com baixa resolubilidade (2). O Programa Saúde da Família (PSF) propõe uma nova dinâmica para a estruturação dos serviços de saúde, bem como para a sua relação com a comunidade e entre os diversos ní- veis de complexidade assistencial. Assume o compromisso de prestar assistência universal, in- tegral, equânime, contínua e acima de tudo resolutiva à população na unidade de saúde e no do- micílio, sempre de acordo com suas reais necessidades, identifi- cando os fatores de riscos, aos do só se tornam humanas quanquais ela está exposta, e nele in- do passam pelo diálogo com os tervindo de forma apropriada semelhantes (1). (2). Humanizar caracteriza- A efetivação e o resgate se em colocar a cabeça e o corade uma atenção humanizada exi- ção na tarefa a ser desenvolvida, gem dos profissionais, não so- entregar-se de maneira sincera e mente a competência técnica, leal ao outro e saber ouvir com mas a vivência ética. Nesse sen- ciência e paciência as palavras e tido o ensino da bioética pode os silêncios. O relacionamento e fornecer instrumentos e novos o contato direto fazem crescer, e olhares, a determinadas situa- é neste momento de troca, que ções, contribuindo para que o humanizo, porque assim posso profissional tenha uma visão di- reconhecer-me e identificar-me ferente daquela que à prática lhe como ser humano (4). impõe. Ainda, é preciso ter claro A utilização do conceito que a qualificação e o aprimora- de humanização no campo da samento dos membros da equipe úde é recente, não existindo, ainsão cada vez mais necessários, da, grande quantidade de pespara que possam acompanhar as q u i s a s s o b r e o t e m a. mudanças no âmbito da saúde. Humanização pode ser objeto de Ressaltamos aqui a necessidade distintas interpretações, as quais de que a capacitação dos profis- orientarão as questões a serem sionais compreenda também os pesquisadas. Uma vez que o con- valores éticos. O cuidado huma- ceito de humanização está liga- no não deve ser tratado como do ao paradigma dos direitos e a uma intervenção sobre o pacien- cada dia surgem novas reivindite. A relação não é sujeito- cações de direitos, que se remeobjeto, mas sujeito-sujeito. tem às singularidades dos sujei- Logo, a relação do cuidado não é tos, esse paradigma vem se torde domínio sobre, mas de convi- nando complexo e expandindo, vência, não é pura intervenção e alcançando novas esferas sociasim entrar em sintonia com (3). is e discursivas (5). Humanizar é garantir à Está se tornando um con- palavra a sua dignidade ética. senso que é necessário humani- Ou seja, o sofrimento humano, zar a assistência à saúde em nosas percepções de dor ou de pra- so país. Humanizar significa re- zer no corpo para serem humani- conhecer as pessoas, que buszadas precisam que sejam reco- cam nos serviços de saúde a resonhecidas pelo outro. Pela lin- lução de suas necessidades de saguagem fazem-se as descober- úde, como sujeitos de direitos. tas de meios pessoais de comu- Humanizar é observar cada pes- nicação com o outro, sem o que soa em sua individualidade, em se desumaniza reciprocamente. suas necessidades específicas, Isto é, sem comunicação não há ampliando as possibilidades pahumanização. A humanização ra que possa exercer sua autonodepende da capacidade de falar e mia (6). de ouvir, pois as coisas do mun- Por humanização enten- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

42 Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, Carlos Eduardo da Silva Marinho, Elisângela Cássia Marques, Larissa Dela Líbera Miranda, Amanda Gleice Fernandes Carvalho. A realização deste proje- tindo [...]. 1ª IC: assistir holisticamente 3ª IC: mais humano DSC DSC Resultados to foi feita após aprovação do Comitê de Ética da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, obedecendo à resolução 196/96 do CNS (Conselho Nacional de Saúde), que diz respeito às pes- quisas com seres humanos e os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. [...]. atendimento humanizado é aquele que assiste o indivíduo [...] atendimento humanizado holisticamente em todas as suas para mim significa um atendi- necessidades biopsicossociais, mento humano, ter vínculo com desde o momento da concepção o paciente, saber o nome do paci- até a velhice, enfim, todas as fa- ente, para atendermos melhor, ses da vida[...]. para ajudá-lo naquilo que é necessário [...]. 4ª IC: Tratar com amor DSC 2ª IC: Colocar-se no lugar do outro DSC O resultado apresentado permite visualizar o tema explo- [...] O atendimento humanizado rado, suas IC e a síntese dos res- [...] tratar o paciente com muito é tratar o indivíduo com empaamor, ser paciente e atendê-lo pectivos DSC de cada uma de- tia, se colocando no lugar dele, las. Tema: Atendimento nas suas necessidades. O PSF é compreendendo seus medos e anum tipo de atendimento humani- Humanizado no PSF. A questão gústias, desde o momento em dirigida aos entrevistados foi: zado porque atende o paciente que o paciente chega na unidade Para você o que significa atendi- em casa[...]. [...]. mento humanizado no PSF? Para os auxiliares de en- 5ª IC: Atender com respeito fermagem as IC identificadas 3ª IC: saber ouvir nos discursos foram: DSC DSC [...]Significa ter respeito com as [...]A gente percebe que a capessoas, ouvir com atenção, ter 1ª IC: interagir com o paciente rência dos pacientes é muito um tratamento com igualdade e grande e, muitas vezes, essa caprocurar atender em todas as su- DSC rência transforma em doença, [...] humanização no PSF é o as necessidades [...]. então se você recebe esse pacifuncionário interagir bem com o ente de forma carinhosa, falanpaciente formando um vínculo 6ª IC: Ser educado do com um tom de voz agradáprofissional para que a evolu- DSC vel, dando atenção, ouvindo, ção deste paciente seja mais [...] atendimento humanizado olhando nos olhos, ele se sente tranquila e sem contratempos no PSF é atender bem o pacienagradecido, com isso, ele se tor- [...]; te, ser educado, cordial, saber na satisfeito, então, sabendo ou- explicar o que está acontecentem necessidade realmente de vir esse paciente, às vezes não 2ª IC: Colocar-se no lugar do pado, não deixar com dúvida, pasuma intervenção e uma consulta sar segurança e principalmente ciente atender o paciente com carinho médica [...]. DSC [...]. Para mim atendimento humani- Discussões zado é se colocar no lugar do pa- Quanto aos DCS dos O programa de humaniciente como se a gente invertes- Enfermeiros foi possível detec- zação do SUS prioriza sua atuase os papeis [...] tem horas que a tar as seguintes IC: ção no atendimento de urgências gente tem que se colocar para e emergências, gravidez e parto sentir o que o paciente está sen- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

43 Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, Carlos Eduardo da Silva Marinho, Elisângela Cássia Marques, Larissa Dela Líbera Miranda, Amanda Gleice Fernandes Carvalho. de alto risco, porém essas ações é que a humanização deve ser tempos... devem expandir a todas as uni- parte da filosofia de enferma- Muitas vezes o cuidado dades de saúde. Acredita-se que gem. O ambiente físico, os re- é fragmentado, despersonalizaa humanização deva alcançar ca- cursos materiais e tecnológicos do podendo trazer implicações à da vez mais um espaço concreto não são mais significativos do população e sua saúde. A humadentro do SUS, permitindo uma que a essência humana. Essa, nização inclui cortesia, carinho melhora entre a postura dos pro- sim, irá conduzir o pensamento e a competência é um requisito fissionais de saúde na relação en- e as ações da equipe de enferma- também essencial a qualquer tre os mesmos e entre o usuário gem, principalmente do enfer- profissional, mais o que o paci- (11). meiro, tornando capaz de criti- ente espera do profissional é a O usuário busca em uma car e construir uma realidade ma- atenção. Um paciente não sabe instituição de saúde mais do que is humana (12). diferenciar se um procedimento a cura ou alívio. Ele busca pre- Em saúde, humanizar é foi executado corretamente ou servar a vida, recuperar a saúde, um processo de busca que ofere- não, mas esse percebe a maneira ser tratado de forma holística, ce ao paciente um tratamento humana ou não com que está sencom solidariedade e outros as- que envolva a totalidade, o bem do cuidado (13). Os enfermeiros pectos que ultrapassam a técni- estar físico, psíquico, social e confirmaram em suas falas: ca. Entre os enfermeiros, assis- moral. Envolve também autocu-...atendimento humanizado é a tir holisticamente foi a ideia idado, comunicação, postura gente tratar bem, ser cordial, é central com mais frequência, em profissional, ou seja, é um resga- passar todas as informações neseguida: Saber ouvir e Co- te a subjetividade do paciente. cessárias que ele precisa, é ajulocar-se no lugar do outro. Na humanização, o profissional dar o nosso próximo, é dever e Quanto aos auxiliares, o e o paciente possuem os mesmos obrigação ser bem humano, se significado de cuidado humani- sentimentos e os mesmos ansei- colocando no lugar do pacienzado foi: Colocar-se no lugar os, logo, é uma via de mão du- te... do paciente e interagir com o pla, existe um feedback (13). Acredito que atendimento hupaciente. Podemos confirmar O cuidado acompanha manizado é atender o paciente nas falas dos entrevistados:... valores que direcionam a paz, ao desde a sua chegada a unidade Atendimento humanizado é amor e ao respeito. É o modo do até o seu atendimento, olhandoaquele que assiste o indivíduo enfermeiro se relacionar com o o como um todo, independente holisticamente em todas as suas paciente, aplicando conheci- da sua raça, escolaridade ou sinecessidades biopsicossociais, mentos e atitudes que são influ- tuação financeira.... desde o momento da concepção enciadas por fatores pessoais e Cada usuário precisa ser tratado até a velhice, enfim, todas as fa- profissionais. Os serviços de saú- como único, considerando o vases da vida... de pública ainda têm ações vol- lor e a dignidade. O cuidado hu- A gente percebe que a tadas para a doença e não a pes- mano precisa valorizar a pessoa carência é muito grande dos pa- soa (14). em seu ambiente social, e não cientes e muitas vezes essa ca- Assim ouvimos dos auxiliares: apenas as técnicas e os procedirência transforma em doença,... Conhecer a pessoa, aquele mentos (15). então se você recebe esse paci- paciente, mas conhecer a pes- Assim narraram os enente de forma carinhosa, falan- soa como pessoa, não como a do- fermeiros: do com um tom de voz agradá- ença ou patologia só, às vezes... A humanização no PSF é vovel, dando atenção, ouvindo, conhecer tudo. Humanização no cê acolher o paciente desde a hoolhando nos olhos deste pacien- PSF é o funcionário interagir ra que ele chega à sua unidade te ele se sente agradecido mui- bem com o paciente formando de atendimento até na hora que tas vezes e com isso, ele se torna um vínculo profissional para ele vai pra casa, se estendendo satisfeito... que a evolução deste paciente se- também no seu domicilio, com Outro aspecto relevante ja mais tranquila e sem contra- seus familiares, pois muitas ve- 148 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

44 Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, Carlos Eduardo da Silva Marinho, Elisângela Cássia Marques, Larissa Dela Líbera Miranda, Amanda Gleice Fernandes Carvalho. zes, o problema dele não se resu- mento humanizado é o atendi- tar abertos, prestando mais atenme a unidade de saúde... É ne- mento em que há um respeito en- ção aos gestos, a palavras e bem cessário sabermos mais, por isso tre enfermeiro e paciente, ha- como as expressões faciais. o PSF tem como meta o vínculo, vendo assim uma boa comuni- Quanto mais conseguirmos assoa necessidade de entender e apoi- cação e um bom relacionamento ciar conhecimento científico aos ar esse paciente na resolução dos entre ambos... aspectos afetivos mais próximos problemas. O bom relacionamento é estará do cuidado humanizado No caminho para a práti- estabelecido a partir da empatia, (19). ca humanística é preciso amor, pois conforme Puggina (17) a as pessoas devem ser amadas empatia é o radar do convívio so- Conclusão porque é gente e amor que refle- cial e a partir da empatia é que se Essa pesquisa permitiu te a ética. O cuidado precisa vir cria vínculos. As pessoas revediante das ideias centrais enconacompanhado de estima, solida- lam aquilo que sentem não apetradas perceber que o atendiriedade, compaixão, amor e afei- nas com palavras, mas pela sua mento humanizado no PSF reção. O cuidado, no contexto da expressão facial, olhar e outros. quer que os usuários sejam tratahumanização é um dever da pes- Dar atendimento humados segundo suas necessidades e soa e do profissional, pois o po- nizado requer dedicação e saber os profissionais devem procurar der de transformar pelo amor e falar palavras de conforto, segudar um cuidado holístico, tratácompaixão não são dons especi- rança e carinho (17). E os profislo com respeito e amor, ser eduais de uma minoria. As relações sionais de saúde, sobretudo o encado e humano, interagir com o de cuidado não são de domínio fermeiro, precisam desenvolver paciente, saber ouvir e, sobretusobre, mas de convivência, de in- essa sensibilidade de criarem do colocar-se no lugar dele. É teração. É o resgate dos peque- vínculos que favoreçam a assispreciso que as equipes de PSF esnos eventos que tornam o ser hu- tência através de um bom relacitejam imbuídas quanto a essas mano único e especial, prestan- onamento, ou seja, um relaciopropostas e serem estimuladas a do atendimento personalizado namento empático. trabalhar com um atendimento (16). A interação é a essência mais humanizado. Responderam os auxili- da vida social. É partir do relaci- O cuidado humanizado ares que: Atendimento huma- onamento de seus membros que passa pelo resgate dos pequenos nizado ao paciente significa es- os indivíduos tornam-se um grueventos que fazem o ser humano tar sempre pronto e apto para po. E grupo é um conjunto de ser único e especial nas diferenatender às suas necessidades, pessoas que interagem (18). tes situações, principalmente tratando sempre com amor, aten- Podemos entender a huquando se almeja prestar atendição, dedicação de acordo com manização como um conjunto mento personalizado voltado paas suas necessidades. Tratar o de coisas que se apresentam tora o ser humano e não para a dopaciente com muito amor, ser pa- talmente interligadas: a valoriença. Um gesto de acolhida, um ciente e atendê-lo nas suas ne- zação dos sujeitos (usuários, traambiente agradável, um exame cessidades. balhadores, gestores), melhoria no dia e horário agendados, um Vivemos numa era de in- das condições de trabalho entre sistema de informação integraternet, que em frações de segun- outros fatores que são necessárido, materiais e recursos de quado nos aproximamos de pessoas os na área de saúde. O que nos calidade entre outros fazem muita e lugares, porém, não consegui- racteriza como seres humanos é diferença. mos estabelecer vínculos com a necessidade de interagir com o A transformação do moquem está ao nosso lado no dia- outro, principalmente no que diz delo assistencial e a humanizaa-dia, precisamos nos educar a respeito ao carinho, atenção e no ção do atendimento requerem fim de usarmos efetivamente da apoio emocional. Para tornar o que os profissionais, que atuem comunicação (15). Como referi- relacionamento com o usuário nas equipes de Saúde da Família ram os enfermeiros:...atendi- mais humanizado precisamos es- (médicos, enfermeiros, auxilia- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

45 Ivandira Anselmo Ribeiro Simões, Carlos Eduardo da Silva Marinho, Elisângela Cássia Marques, Larissa Dela Líbera Miranda, Amanda Gleice Fernandes Carvalho. Valentim, W. Acolhimento no psf: humanização e solidariedade. Rev. O mundo da sa- res de enfermagem e agentes co- proporcionados pelos enfermeimunitários), tenham responsa- ros. Através dos seus escritos, úde abr./jun; 2 (30): bilidade individual de esclarecer percebemos que naquela época, 9.Polit, DF; Beck, CT; Hungler, BP. os usuários sobre as questões ainda que o foco principal da asmétodos, avaliação e utilização. 5. ed. Fundamentos de pesquisa em enfermagem: que lhes são mais afeitas, assim sistência fosse o ambiente, a hu- Porto Alegre: Artmed; como criar condições para o esta- manização já estava implícita na 10.Lefevre, F; Lefevre, AMC. DSC: um novo enfoque em pesquisa qualitativa (desdobelecimento de uma cultura ins- atuação da enfermagem. Hoje, bramentos). 2. Ed. São Paulo: Educs; titucional de informação, comu- passados um século e meio, a nicação e humanização que leve questão da humanização ainda 11.Brasil, Ministério da Saúde. em conta as condições sócio- consiste num desafio para a pro- Humanização SUS. Brasília, Bedin, E; Ribeiro, IBM; Barreto, culturais de cada comunidade fissão que precisa se adequar às RASS. Humanização da assistência de enatendida. demandas tecnológicas, econô- fermagem em centro cirúrgico. Rev. Com o avanço científico micas e sociais todas elas com Eletrônica de enferm. 2004; 6 (3): Mezzono, JC. Hospital humanizado. tecnológico e a modernização forte tendência a desumaniza- Fortaleza: Premius, de procedimentos, o enfermeiro ção (20). 14.Farias, MCAD; Varela, ZMV; Oliveira, passou a assumir cada vez mais A partir do exposto, sugemunitária: um estilo de cuidado. Rev. FB. Retroação social em enfermagem co- encargos administrativos, afas- rimos que outros trabalhos dessa Nursing out; 9(101): , tando-se gradualmente do cui- natureza sejam realizados a fim 15.Pessini, L. Bioética: um grito por dignidade de viver. São Paulo: Paulinas; dado ao paciente, surgindo com de que novas estratégias sejam 16.Backes, DS; Lunardi Filho, WD; isso à necessidade de resgatar os promovidas e gradativamente Lunardi, LV. A construção de um ambiente valores humanísticos da assis- possamos intervir proporcio- de cuidado humano: percepção dos integrantes do grupo de humanização. Rev. tência de enfermagem. nando melhor atendimento ao Nursing out; 9(101): Observamos que a en- usuário. 17.Puggina, ACG. Administrar o tempo pofermagem vem a cada dia des- p e r t a n d o p a r a u m r e - Referências Paulo: Loyola; direcionamento de seu papel en- 1.Oliveira, BRG; Collet, N; Vieira, CS. A quanto um ser cuidador que se humanização na assistência à saúde. Rev. Latino-americana de enferm envolve com os outros, ou seja, mar/abr; 2 (14): enfermagem é a arte de cuidar. E 2.Sousa, MF. A enfermagem reconstruindo o cuidado humanizado é uma sua prática: mais que uma conquista no psf. Rev. brasileira de enferm dez; 53 dessas estratégias. (especial): p.130. Apesar de a literatura res- 3.Gaiva, MAM. O cuidar em unidades de saltar a necessidade da humani- cuidados intensivos neonatais: em busca de um cuidado ético e humanizado. Rev. zação dos usuários dos serviços Cogitare enferm. 2006; 11 (1): de saúde, pouco se sabe a respei- 4.Oliveira, ME. Mais uma nota para a meloto da implantação e dos resulta- dia da humanização. In: A melodia da hu manização: reflexos sobre o cuidado dudos de medidas que visem mini- rante o processo do nascimento. mizar a impessoalidade do cli- Florianópolis: Cidade futura; ente. Na enfermagem, embora 5.Vaitsman, J; Andrade, GRB. Satisfação e responsabilidade: formas de medir a qualide forma indireta, a humaniza- dade e a humanização da assistência à saúção do paciente foi enfocada no de. Rev. Ciência e saúde coletiva século XIX, por Florence jul./set; 3(10): Fortes, PAC; Martins, CL. A ética, a hu- Nightingale. Em seu livro de títu- manização e a saúde da família. Rev. lo Notas Sobre Enfermagem, em Brasileira de enferm dez; 53 (especial): vários momentos, ela sugere ma- 7.Brasil, Ministério da Saúde. Política naneiras para o melhor restabeleci- cional de humanização: documento base mento dos pacientes através da para gestores e trabalhadores do SUS, adoção de medidas ambientais Brasília Ayres, RCV; Pereira, SAOE; Ávila, SMV; de mudar o jeito de dizer bom dia. In: Silva M JP. Qual o tempo do cuidado? São 18.Berusa, AAS; Ricco, GMG. Trabalho em equipe. In: Cianciarullo TI. Instrumentos básicos para o cuidar. São Paulo: Atheneu; Cap Martins, MCFN. Humanização das rela- ções assistenciais: a formação do profissi- onal de saúde. Casa do psicólogo: 2001; 20.Matsuda, LM; Silva, N; Tisolin, AM. Humanização da assistência de enferma- gem: estudo com clientes no período pós- internação de uma UTI adulto. Rev. Acta scientarum. Health sciences. 2003; 25 (2): 150 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

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47 Práticas comprovadamente úteis e que devem ser estimuladas durante o trabalho de parto e parto, que estão sendo realizados por enfermeiras obstétricas: revisão de literatura Provenly useful practices that are being carried out by obsterician nurses which should bencouraged during labor and parturition: literature review Torcata Amorim, Dulce Maria Rosa Gualda. RECENF-Revista Técnico-Científica de Enfermagem-2010-v8-n25; ( ). Resumo As taxas de morbi mortalidade materna e neonatal e de partos cesariana chegaram a índices preocupantes no Brasil. Para reverter este quadro o Ministério da Saúde (MS) criou leis, portarias, manuais e financiou e incentivou cursos de especialização em enfermagem obstétrica. Essas especialistas estão aptas a assistir a mulher durante o pré natal, parto e puerpério, prestando uma assistência humanizada e em consonância com as práticas para a assistência recomendadas pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Assim sendo, este estudo buscou através de um levantamento bibliográfico, conhecer as quais práticas de assistência comprovadamente úteis e que devem ser estimuladas, estão sendo utilizadas pelas enfermeiras obstétricas durante o trabalho de parto e parto. Foram selecionados 31 trabalhos nacionais e 22 internacionais, das bases de dados ScieLo, BDEnf, Dedalus, Lilacs, MedLine, Ibecs, Cochrane e PubMed, no período de 2005 a As práticas utilizadas abordaram a qualidade da atenção oferecida, autonomia e capacidade de atuação, assistência nos centros de parto normal, posição adotada durante o trabalho de parto e parto, técnicas alternativas de alívio a dor, alimentação durante o trabalho de parto, utilização do partograma, suporte emocional, presença de acompanhante, realização de episiotomia, taxas de parto operatório e importância do pré natal. Concluiu-se que apesar do número de publicações realizadas pelas enfermeiras obstétricas estar aumentado, ainda é necessário que elas se organizem melhor, buscando realizar mais estudos e divulgação de sua atuação. Palavras chave: Enfermeiras obstétricas; Práticas de assistência; Trabalho de parto; Parto normal. Abstract Maternal, neonatal and Cesarean section mortality rates have reached worrying indexes in Brazil. To change this picture the Ministry of Health has created laws, decrees and guides, and has also financed and promoted graduate specializations in obstetric nursing. These graduate nurses are qualified to assist women during prenatal, parturition and puerperium, delivering a humanized assistance according to the assistance practices recommended by World Health Organization (WHO). Thus, this study has tried to know, by means of a bibliographical survey, which assistance practices are being used by obstetrician nurses during labor and parturition, that are provenly useful and that should be encouraged, 31 national and 22 international studies were selected from ScieLo, BDEnf, Dedalus, Lilacs, MedLine, Ibecs, Cochrane and PubMed databases, between 2005 and The practices used approached the quality of the attention given, autonomy and capacity of action, assistance in normal birth centers, position adopted during labor and parturition, alterna- 152

48 support, presence of companion, episiotomy, Cesarean section rates and importance of prenatal care. It was concluded that despite the fact that the number of publications carried out by obstetrician nurses is increasing, they still need to be better organized, to carry out more studies and divulge their actuation. Key words: Obstetrician nurses; assistance practices, labor, normal birth. Torcata Amorim. Mestre em Enfermagem. Doutoranda em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo EEUSP.Docente do Departamento de Enfermagem Materno Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem Universidade Federal de Minas Gerais. Enfermeira Obstetra (EEUFMG). Dulce Maria Rosa Gualda. Doutora em Enfermagem. Obstetriz.Professora Titular do Departamento de Enfermagem Materno- Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo. 153

49 Torcata Amorim, Dulce Maria Rosa Gualda. INTRODUÇÃO As taxas de mortalidade ma- terna e neonatal e de parto cesa- riana no Brasil, apesar de sofre- rem diferenças nas diversas camadas sociais e regiões, podem ser consideradas um problema de saúde pública no geral. O índi- ce de morte materna atingiu a marca de 51,7 óbitos declarados por nascidos vivos em O cálculo do Coeficiente de Morte Materna (CMM) sofre interferência devido à subinfor- mação, que resulta do preenchi- mento incorreto das declarações de óbito e/ou, por se omitir que a morte teve causa relacionada à gestação, ao parto ou ao puerpério. E também, devido ao sub- registro, que é a omissão do registro do óbito em um cartório. Assim, o CMM estimado é de 72,4 / nascidos vivos. Os maiores valores são encontrados nas regiões Nordeste e Centro-Oeste, e o menor na região Sudeste. As principais causas de morte são as obstétricas diretas, com destaque para as doenças hipertensivas e as síndromes hemorrágicas (). Nos países de- senvolvidos, as razões de mortalidade materna são em geral, inferiores a 20/ ou 10/ nascidos vivos (2). Os partos cesariana representam 46% dos partos realizados no Brasil, sendo que, a Organização Mundial da Saúde recomenda que essas cirurgias devam corresponder a no máxi- mo 15% dos partos(3). A inci- dência de morte materna associada à cesariana é 3,5 vezes maior do que no parto normal (4). Esta situação reflete as condições de assistência que a aleitamento(11) e a criação de população feminina em fase re- Centros de Parto Normal no âmprodutiva está submetida, já bito do SUS, onde a enfermeira que, muitos partos cesariana e obstétrica é membro da equipe mortes maternas poderiam ser mínima(12). evitadas. Segundo Cecatti, A Organização Mundial Calderon (5), a atenção profissi- da Saúde (OMS), Confederação onal à gestante e/ou parturiente Internacional de parteiras (CIF) representa seguramente elemen- e a Federação Internacional de to chave para a obtenção de bons Ginecologia e Obstetrícia resultados, tanto maternos quan- (FIGO), consideram que, dentre to perinatais. Assim, melhores os prestadores de serviços de par- condições da atenção profissio- to, a enfermeira-parteira, é uma nal e institucional ao parto, inde- profissional que recebeu treina- pendentemente de outras carac- mento adequado e que está apta terísticas das mulheres, são capa- para assumir a responsabilidade zes de diminuir a ocorrência de pela assistência à gestação e ao morbidade materna grave e de parto normal, com competência mortes maternas. para agir de modo decidido e in- Diante deste quadro, o dependente (13). Ministério da Saúde do Brasil Mulheres em trabalho de criou leis, portarias e manuais, parto quando acompanhadas por buscando uma assistência mais profissionais não médicos, ne- humanizada e reverter estas ta- cessitam de menos analgésicos, xas. Dentre as medidas adotadas há menos intervenções e os repodemos destacar o Programa sultados finais são melhores que de Humanização do Pré-natal e aqueles produzidos pela assis- Nascimento (PHPN)(6); a pu- tência médica convencional blicação do manual Parto, (14,15). Nos países industriali- Aborto e Puerpério: Assistência zados, onde as parteiras são os Humanizada à Mulher (7); o provedores de saúde primários Pacto de Ação para Redução da de mulheres saudáveis durante o Mortalidade Materna(8); a in- parto, os resultados maternos e clusão na tabela do Sistema Úni- neonatais são mais favoráveis, co de Saúde (SUS), o pagamen- incluindo menores taxas de morto pelo parto normal sem distó- talidade perinatal e menores ta- cia realizado pela enfermeira xas de cesariana, que nos países obstétrica(9); a aprovação do la- em que muitas mulheres saudáudo de enfermagem para emis- veis, ou a maioria delas, são atens ã o d e A u t o r i z a ç ã o d e didas por obstetras durante a gra- Internação Hospitalar (AIH) pa- videz (16). ra parto normal(10); o Prêmio A experiência exitosa de Galba de Araújo que premia ma- alguns países, bem como, as meternidades que atendem ao SUS didas adotadas pelo Ministério e que desenvolvem ações de hu- da Saúde, incentivou a atuação manização à gestante e ao re- de enfermeiras obstétricas, po- cém-nascido, estimulam o parto rém não havia no mercado, espe- normal, alojamento conjunto e cialistas disponíveis, conforme 154 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

50 Torcata Amorim, Dulce Maria Rosa Gualda. observam Maranhão et al.: trica e ao planejamento reprodu- trabalho de parto e parto, desta- existe uma deficiência de pro- tivo a partir do ano 2000, a assis- camos a elaboração de um plano fissionais que atuam na área ma- tência ao parto e nascimento ain- pessoal de parto; acompanhaterno-infantil, dentre eles, enfer- da é marcada pela medicaliza- mento do bem estar físico e emomeiras obstetras e parteiras pro- ção, intervenções desnecessári- cional da mulher; o oferecimenfissionais (17:20). Buscando as e iatrogênicas, e pela prática to de líquidos por via oral; respeatender o espaço de atuação que abusiva de cesarianas. ito à mulher em relação à escose abria para as enfermeiras obs- Buscando humanizar a as- lha do local de nascimento e avatétricas, o Ministério da Saúde, sistência, a OMS recomendou a liação da segurança para o acon- Associação Brasileira de utilização das seguintes medi- tecimento do parto; privacidade Obstetrizes e Enfermeiros das: implementação da assistên- e escolha de um acompanhante; Obstetras (ABENFO), escolas cia pré-natal, organização de sis- oferecer apoio e informações da de enfermagem e profissionais temas de atenção à gestante de al- evolução e assistência; utilizada área se mobilizaram para dis- to risco, redução das taxas de par- ção de métodos de massagem e cutir modelos de formação para to cesárea, promoção do parto técnicas de relaxamento para alíestas profissionais. Então, no fi- normal, investimentos em refor- vio da dor; liberdade na escolha nal da década de 1990, o mas de maternidades, publica- da posição e movimento; utili- Ministério da Saúde, através da ção de normas técnicas atualiza- zação do partograma; promoção Área Técnica de Saúde da das de atendimento durante o precoce do contacto pele a pele Mulher, passou a financiar cur- pré-natal, gestação e, em situa- entre mãe e filho e início do aleisos de especialização em enfer- ções de alto risco e emergências tamento na 1 hora de pós-parto magem obstétrica em todo o país obstétricas. Recomendou ainda, (13). (18). que se respeitasse o processo fisi- No Brasil, a atuação das Em 2005, durante a II ológico e a dinâmica de cada nas- enfermeiras obstétricas está pau- Conferência Internacional sobre cimento, e que, as intervenções tada no Decreto lei n Humanização do Parto e sejam cuidadosas, evitando-se que regulamenta a Lei n Nascimento, as recomendações os excessos e utilizando-se cri- de 25 de junho de 1986 que em para promover a incorporação teriosamente os recursos tecno- seu artigo 9 faz referência aos das práticas humanizadas na as- lógicos disponíveis. A OMS ain- profissionais titulares de diplosistência ao parto e nascimento da classificou as práticas relaci- ma ou certificado de obstetrizes em todo o mundo foram reforça- onadas ao parto normal em qua- e enfermeiras obstetras, incudas (19), confirmando a impor- tro categorias: A) Práticas com- bindo-as de: 1) prestar assistêntância da atuação das enfermei- provadamente úteis e que de- cia à parturiente e ao parto norras obstétricas neste modelo de vem ser estimuladas; B) Práticas mal; 2) identificar as distócias assistência. Para Costa (20), es- claramente prejudiciais ou inefi- obstétricas e tomada de provitas profissionais estão começan- cazes e que devem ser elimina- dências, até a chegada do médido a desenhar um novo cenário das; C) Práticas em relação às co; 3) realizar episiotomia e epina assistência humanizada à mu- quais não existem evidências su- siorrafia, com aplicação de aneslher no pré-natal, parto, nasci- ficientes para apoiar uma reco- tésico local, quando necessário mento e puerpério, no Brasil. mendação e que devem ser utili- (22). Mas infelizmente, a atua- zadas com cautela, até que no- Diante da deliberação ção destas profissionais ainda vas pesquisas esclareçam a ques- destas medidas e da maior partinão foi suficiente para mudar o tão e D) Práticas freqüentemen- cipação da enfermeira obstétrica quadro de assistência. Segundo te utilizadas, de modo inadequa- no cenário de assistência ao par- Brasil (21), apesar da estabiliza- do (13). to e nascimento, sentimos neção nos índices de mortalidade Dentre as práticas com- cessidade de conhecer através materna, associado à melhoria provadamente úteis e que de- de publicações, quais práticas da qualidade da atenção obsté- vem ser estimuladas durante o não farmacológicas e não inva- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

51 Torcata Amorim, Dulce Maria Rosa Gualda. sivas estão sendo utiliza- sumo e excluído os artigos, cujo reito da mulher à privacidade, a das/aplicadas por estas profissi- resumo deixava claro a não afi- segurança e conforto, com uma onais, as parturientes. nidade com o tema proposto. assistência humana e de quali- Posteriormente foram analisa- dade, aliado ao apoio familiar dudos os trabalhos restantes, che- rante a parturição, transforman- Objetivo gando-se ao número de 53. Os ar- do o nascimento num momento Identificar, através de um le- tigos que não estavam disponí- único e especial. Segundo a vantamento bibliográfico de pu- veis on line foram encomenda- OMS (24) a privacidade da mublicações científicas nacionais e dos através da biblioteca Baeta lher no ambiente de parto deve internacionais, quais práticas de Viana UFMG. O levantamento ser respeitada e, uma parturiente assistência comprovadamente foi finalizado quando se perce- necessita de seu próprio quarto, úteis e que devem ser estimula- beu um esgotamento dos traba- onde o número de prestadores de das, estão sendo utilizadas pelas lhos e sua repetição nas bases de serviço deve ser limitado ao míenfermeiras obstétricas durante dados. nimo essencial. o trabalho de parto, visando uma Autonomia e capacidade atenção humanizada. Resultado e Discussão de atuação, e de tomada de deci- Foram selecionados 31 são das profissionais foi ressal- (trinta e um) artigos nacionais e tado, como sendo fator impor- Método 22 (vinte e dois) internacionais tante para o sucesso dos resulta- Para realizar esta pesque abordavam direta ou indirequisa, buscando atender ao rigor dos do trabalho desenvolvido. tamente as práticas de assistênnecessário a um trabalho cientí- Os artigos que abordacia utilizadas. Alguns trabalhos vam a atenção oferecida nos fico, primeiramente foram deficitavam a utilização de mais de Centros de Parto Normal (CPN) nidos alguns critérios de incluum método comprovadamente eram mais explícitos quanto às são. Os trabalhos teriam que deiútil e que deve ser estimulado na práticas utilizadas, às necessida- xar claro a utilização de práticas assistência durante o trabalho de des das parturientes, à satisfação que, segundo a OMS, são comparto e parto. das profissionais e clientela com provadamente úteis e devem ser A qualidade da atenção o trabalho oferecido e, a motivaestimuladas; qual prática foi utiprestada por enfermeiras obstélizada e, a participação de enfer- ção e dificuldades das profissiotricas, visando uma melhor asmeiras na atividade. Definiu-se nais para o desenvolvimento das sistência, conforto, participação práticas. A experiência positiva como critério de exclusão a falta da parturiente e melhores resulde acesso ao trabalho na íntegra. da assistência em um centro de tados durante o trabalho de parto parto normal foi apresenta no tra- Diante destes critérios foram see parto, foi o assunto mais debalecionados 53 artigos, disserta- balho de Campos e Lana (25), tido, ressaltando-se a importânções e teses encontradas nas ba- que investigaram os resultados cia do acompanhamento e suses de dados ScieLo, BDEnf, do CPN Dr. Davi Capistrano porte da profissional. Foi fre- Filho em Belo Horizonte - MG. Dedalus, Lilacs, MedLine, quente nos artigos, referência a Os autores concluem que os re- Ibecs, Cochrane e PubMed no importância da privacidade duperíodo de 2005 a A con- sultados daquele centro não se rante o processo de parturição, distanciam dos resultados en- sulta à base de dados foi realizafazendo parte da qualidade da asda através dos descritores: en- contrados na literatura disponísistência. Para Brasil (23) o bem vel, e destaca a baixa taxa de par- fermeira obstétrica / obstetrical estar físico e emocional da munursing, obstetriz / midwive; tra- to cesárea (2,2%), como o resullher contribuem para o bom debalho de parto / labor; assistên- tado mais significativo. senvolvimento do trabalho de A posição adotada pela cia / assistence. Para a seleção parto e favorecem a redução dos parturiente durante o parto apa- dos artigos, inicialmente foi reariscos e complicações. Para tanlizada uma avaliação de cada re- receu em artigos nacionais, comto, é necessário o respeito ao diparando a posição adotada, com 156 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

52 Torcata Amorim, Dulce Maria Rosa Gualda. a integridade do períneo, trau- parturição (fase latente e ativa). tados positivos. A presença de ma perineal e paridade. O traba- A especificação da dieta um acompanhante de escolha da lho internacional avaliou a inte- oferecida durante o trabalho de parturiente e puérpera está resgridade do períneo, edema vul- parto foi encontrada em um arti- paldada na Portaria N var e perda sanguínea, com a po- go internacional, que compara- de dezembro de 2005(28), posição adotada no período expul- va a ocorrência de distócia de di- rém, este procedimento ainda sivo. A OMS recomenda que as latação cervical em um grupo de não acontece rotineiramente em parturientes adotem as posições mulheres que receberam dieta lí- muitas maternidades do país. que lhe agradem, devendo ser es- quida, com um grupo que rece- Alguns artigos nacionais timuladas por profissionais capa- beu dieta rica em carboidratos, mostram a preocupação com o citados, e que acompanhem par- constatando-se que não houve di- número de episiotomias, e a netos em outras posições, além da ferença significativa entre os cessidade de avaliação do perítradicional. Em posições dife- grupos. Segundo a OMS (13), a neo para sua indicação correta, rentes da litotomia, os escores adoção de dietas branda para re- bem como a necessidade de mude Apgar foram melhores(13). por as fontes de energia requeri- dança desta prática, tão ampla- Mouta et al.(26) alerta que a posi- das no trabalho de parto, previne mente difundida. O uso liberal ção vertical requer dos profissi- a desidratação e a cetose, garan- ou rotineiro da episiotomia está onais cuidados específicos em tindo o bem-estar fetal e mater- inserido no grupo D da publicarelação à proteção perineal, de no. Portanto, a oferta de líquidos ção da OMS, que aborda as conmodo a evitar a episiotomia ou a e alimentos leves por via oral à dutas frequentemente utilizadas laceração. parturiente, respeitando o seu de- de forma inapropriadas (13). A literatura nacional sejo, além de não interferir no de- A comparação do númemencionou as massagens e ba- senvolvimento do trabalho de ro de partos normais x partos cenho como técnicas alternativas parto e parto, pode ser benéfico. sarianos nas instituições, e os de alívio à dor e a internacional A abordagem sobre a uti- motivos para indicação da cirurcitou técnicas de respiração. A lização do partograma foi feita gia, foram mais encontrados em prática de colocar a gestante pa- ao se avaliar a sua eficácia, sua trabalhos nacionais, mostrando ra deambular foi encontrada em utilização ou não na instituição e a preocupação dos profissionais um artigo que comparou o tem- o preenchimento correto. O par- com estes dados. po de duração do trabalho de par- tograma é a representação gráfi- Os descritores para o leto em parturientes que deambu- ca do trabalho de parto, permi- vantamento dos artigos não laram, com as que permanece- tindo acompanhar sua evolução, abrangiam a assistência préram no leito. Almeida, et al. (27) documentar, diagnosticar altera- natal, porém, fazemos destaque realizaram um estudo utilizando ções e indicar a tomada de con- aos artigos que abordavam mais técnicas de respiração e relaxa- dutas apropriadas para a corre- de uma prática sendo utilizada e, mento em 36 parturientes, sendo ção dos possíveis desvios. É um dentre elas, discutiam a impor- 17 do grupo controle (GC) e 19 método simples e ajuda a evitar tância do preparo da gestante dudo grupo experimental (GE), de intervenções desnecessárias rante o pré natal. Este momento uma maternidade pública de (23). apareceu nos trabalhos como de Goiânia GO, a pesquisa con- Os artigos ressaltaram as suma importância para informar cluiu que as técnicas utilizadas vantagens do suporte emocional e preparar as gestantes e familianão reduziram a intensidade da dado pelo acompanhante duran- res para o trabalho de parto e pardor, mas promoveram ao GE a te o processo de parturição. Os to, passar-lhes segurança, e redumanutenção de baixo nível de an- resultados enfatizavam a impor- zir com isto, a ansiedade. Esses siedade-estado (condição transi- tância do acompanhante de esco- procedimentos realizados dutória de tensão diante de uma cir- lha da parturiente e a segurança rante o atendimento de pré natal, cunstância percebida como ame- e conforto que são transmitidos se mostraram importantes aliaaçadora), por maior tempo na por eles, repercutindo em resul- dos no incentivo ao parto nor- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

53 Torcata Amorim, Dulce Maria Rosa Gualda. mal. Segundo a OMS (24), uma sados que as práticas comprova- te às profissionais se organizar importante tarefa do parteiro é damente úteis e que devem ser melhor, buscando meios de reaajudar as mulheres a suportar a estimuladas na assistência ao lizar estudos freqüentes e condor durante o trabalho de parto. parto de baixo risco, realizadas fiáveis, que permitam tornar pú- E, além do alívio farmacológi- por enfermeiras obstétricas, tem blicos os resultados obtidos atraco, é fundamental, e mais impor- aparecido, de modo ainda tími- vés de seu trabalho. A partir destante, a abordagem não farma- do. Poucos trabalhos mostraram tes resultados, de preferência cológica, que deve ser iniciada de forma direta as práticas utili- qualitativos e quantitativos, nodurante o pré-natal com o forne- zadas, seus resultados quantita- vas metas de assistência podecimento de informações tran- tivos e qualitativos. rão ser traçadas. Consideramos qüilizadoras à gestante e ao seu A Pesquisa Nacional de ser esta uma forma eficaz de concompanheiro, e também à sua fa- Demografia e Saúde da Criança tribuir para a melhoria da qualimília, se necessário. Outro fator e da Mulher 2006(29), verifi- dade da assistência e redução que contribui para diminuir a ne- cou que 98% dos partos no das taxas de morbi mortalidade cessidade de analgesia farmaco- Brasil ocorrem em hospitais, po- materna e neonatal e de partos celógica é o apoio empático de rém, destes, 89% são assistidos sárea. prestadores de serviço e acom- por médicos e 8,3% por enferpanhantes, antes e durante o tra- meiras. Estes resultados podem Referências balho de parto. justificar parcialmente o núme- 1.Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria ro reduzido de trabalhos encon- de Atenção à Saúde. Departamento de trados, abordando as atividades Ações Programáticas Estratégicas. Manu- Considerações finais al dos Comitês de Mortalidade Materna. 3ª desempenhadas pelas enfermei- Observamos durante a reras obstétricas. Brasília DF p. Disponível em: ed. Série A. Normas e Manuais Técnicos. visão de literatura que a produ- A mesma pesquisa (29) ção da enfermagem obstétrica /pdf/comites_mortalidade_materna_m.pd mostrou que o alívio da dor atravem aumentando nos últimos f. [2010 fev. 25] vés de métodos não invasivos e 2.Sousa MH, et al. Sistemas de informação anos e, muitos destes trabalhos não farmacológicos e a presença em saúde e monitoramento de morbidade são frutos de dissertações e tedo acompanhante, somadas às materna grave e mortalidade maternal. ses, o que mostra um maior númedidas farmacológicas (anal- Apr./Jun Disponível em: Rev. Bras. Saúde Mater. Infant. v.6 n.2. mero de profissionais se qualifigesia peridural) são pouco apli- cando. O pré requisito de analicadas, visto que foram encontra &script=sci_arttex sar o trabalho na íntegra atende t&tlng=em. [2010 fev.23] das somente em 28% para a uti- 3.Brasil. Ministério da Saúde. Saúde, ao rigor do trabalho científico, lização dos métodos, e 16%, pacial. Publicação do Ministério da Saúde. Brasil. Duas décadas de transformação so- mas excluiu alguns trabalhos, ra a presença do acompanhante. uma vez que, não estavam dis- Agosto de Edição n 147. ISSN Buscou-se com os acha D i s p o n í v e l e m : poníveis por completo on line e, dos internacionais, apesar de a encomenda no sistema de conão serem objetos deste estudo, /pdf/saude_brasil_agosto_2008.pdf. mutação era muitas vezes oneidentificar as práticas que mais 4.Brasil. Ministério da Saúde. Parto nor- [2010 fev. 23] rosa e demorada. A inclusão de aparecem nos artigos de outros mal: mais segurança para a mãe e o bebê. artigos que indiretamente aborpaíses. Entende-se que, os traba- D i s p o n í v e l e m : davam a prática utilizada, como lhos internacionais merecem um r_texto.cfm?idtxt= [2010 fev. 25] por exemplo, a comparação do levantamento e avaliação indebenéficas durante o parto para a preven- 5.Cecatti JG, Calderón IMP. Intervenções tempo de trabalho de parto em pendentes, uma vez que em muiparturientes com movimentação ção da mortalidade maternal. Rev. Bras. tos países, a atuação da enferme- Ginecol. Obstet. v. 27 n. 6. Jun ativa e em repouso, contribuiu ira obstétrica, obstetriz ou ma- 6.Portaria nº 569/GM em 1 de junho de para que mais artigos pudessem Institui o programa de humanização trona já está consolidada, e em ser incluídos. no pré-natal e nascimento, no âmbito do outros não. Sistema Único de Saúde. Disponível em: Vemos nos artigos anali- Concluímos que compe- sualizar_texto.cfm?... [2009 nov. 25] 158 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

54 Torcata Amorim, Dulce Maria Rosa Gualda. 7.Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria Ministério da Saúde na região nordeste do de Políticas de Saúde. Área Técnica de país: caracterização e atuação profissio- Saúde da mulher. Parto, Aborto e nal. [Tese de Doutorado]. São Paulo: Puerpério: Assistência Humanizada à Universidade Federal de São Paulo, Mulher. Brasília: Ministério da Saúde, 21.Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Departamento de 8.Brasil. Ministério da Saúde. Pacto Ações Programáticas Estratégicas. Área Nacional pela Redução da Mortalidade Técnica de Saúde da Mulher. Relatório de Materna e Neonatal: Balanço de 3 anos. gestão Brasília 2007 OMS/OPS. Brasília, p. 22.Brasil. Lei n de 25 de junho de 9.Brasil. Lei n de 29 de maio de 1986: dispõe sobre a regulamentação do Diário Oficial da República exercício da enfermagem e da outras provi- Federativa do Brasil, Brasília (DF) 1998c dências. Diário Oficial da República jun.2; Seção 1: Federativa do Brasil jun 26; Secção 10.Brasil. Lei n 163 de 29 de maio de 1: Aprova o laudo de enfermagem para 23.Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria emissão de autorização de internação hos- de Políticas públicas de Saúde. Parto pitalar. Diário Oficial da República Aborto e Puerpério. Assistência humaniza- Federativa do Brasil, Brasília (DF) 1998b da à mulher. 2ª ed. Brasília DF jun.2; Seção 1: Organização Mundial da Saúde. 11.Brasil. Portaria n 2.883/GM de 4 de ju- Maternidade segura. Disponível em: lho de Institui o prêmio Professor Galba de Araujo no Sistema Único de a/assistenciapartonormal-oms.htm. Saúde. Brasília (DF) s.n [2010 fev. 25] 12.Brasil. Ministério da Saúde. Portaria 25.Campos SEV, Lana FCF.. Resultados da 985/99 GM de 05 de agosto de CPN assistência ao parto no Centro de Parto 13.Organização Mundial de Saúde. Normal Dr. David Capistrano da Costa Assistência ao parto normal: um guia prá- Filho em Belo Horizonte, Minas Gerais, tico. Genebra: OMS/SRF/MSM, p Brasil. Cad. Saúde Pública, v.23, n.6. Jun. 14.Hodnett ED & Osborn RW. A random D i s p o n í v e l e m : ized trial of the effect of monitrice support during labor: mothers views two four = s c i _ a r t t e x t & p i d = S weeks postpartum. Birth : X &lng=pt. [2010 jan. 15.Blanchette,H. Comparison of obstetric 22] outcome of a primary-care access clinic 26.Mouta RJO, et al. Relação entre posistaffed by certified nurse-midwives and a ção adotada pela mulher no parto, integriprivate practice group of obstetricians in dade perineal e vitalidade do recémthe same community. Am. J Obst. Gynecol nascido. Rev. Enf. UERJ 2008; out/dez; 172 (6): (4): Enkin M, et al. Guia para atenção efeti- 27.Almeida NAM; et al. Utilização de técva na gravidez e no parto. 3ª ed. Rio de nicas de respiração e relaxamento para alí- Janeiro: Guanabara Koogam; vio de dor e ansiedade no processo de parp. turição. Rev. Latino-Am. Enfermagem 17.Maranhão et al. (1990), Apud Brasil 2005; Jan./Feb. v.13 n.1 Disponível em: (1995, p. 20): Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. i _ a r t t e x t & p i d = S Coordenação Materno-Infantil. Plano de &lng=en&nrm=iso. ação para redução da mortalidade mater- [2010 jan. 19] na. Brasília; p. 28.Brasil. Portaria N de dezem- 18.Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria bro de Regulamenta em conformidade Políticas de Saúde. Área Técnica de de com o Art. 1º da Lei nº , de 7 de Saúde da Mulher. Comitê de Especialistas abril de 2005, a presença de acompanhanem Enfermagem Obstétrica: diretrizes pa- te para mulheres em trabalho de parto, parra elaboração de projetos de cursos de es- to e pós-parto imediato nos hospitais públipecialização em enfermagem obstétrica. cos e conveniados com o Sistema Único de Brasília Saúde - SUS. 19.Rede pela Humanização do Parto. 29.Brasil. Ministério da Saúde. PNDS REHUNA. II Conferência Internacional so Pesquisa Nacional de Demografia e bre Humanização do Parto e Nascimento. Saúde da Criança e da Mulher. Brasília XV Encontro de Gestação e Parto Natural DF, Conscientes. Rio Centro: Rio de Janeiro Costa, AANM. Enfermeiras obstetras egressas dos cursos financiados pelo Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

55 Aleitamento materno exclusivo: fatores norteadores para sua prática Exclusive breastfeeding: guiders factors for its practice Anna Maria de Oliveira Salimena, Marilena Cazetta Venâncio, Maria Carmen Simões Cardoso de Melo, Ívis Emília de Oliveira Souza. RECENF-Revista Técnico-Científica de Enfermagem-2010-v8-n25; ( ). Resumo Estudo de abordagem qualitativa realizado em uma Unidade Básica de Saúde do município de Juiz de Fora/MG, após aprovação do Comitê de Ética da UFJF, parecer nº 143/2007. Foram depoentes onze mulheres, amamentando filhos com até seis meses de idade, com o objetivo de compreender o significado do aleitamento materno exclusivo para as mães que amamentam descrevendo os fatores incentivadores e norteadores dessa prática. Utilizou-se a entrevista aberta mediante relação empática e a redução de pressupostos com vistas ao desenvolvimento da análise compreensiva fenomenológica na perspectiva heideggeriana. Foram constituídas quatro unidades de significação - O leite como principal alimento para o bebê e a importância da amamentação; Sentimento de aproximaçãracto e contato mãe/filho ao amamentar; Facilidades e dificuldades do dia-a-dia da amamentação; Dúvidas que emergem da prática da amamentação exclusiva. A análise compreensiva desvelou que as mulheres mostraram-se como ser-aí-com porque buscaram dialogar com os enfermeiros em face da possibilidade de amamentar até o sexto mês. Nesse sentido o apoio e auxílio para o processo de viver a amamentação de forma saudável exigem uma relação assistencial empática e de diálogo com as mulheres/mães. Descritores: Saúde da mulher, aleitamento materno, enfermagem em saúde comunitária Abstract Study of qualitative approach realized in a Basic Unit of Health of the Juiz de Fora/MG county, after approval of the Comitê de Ética da UFJF (Committee of Ethics of the UFJF), report n.143/2007. Eleven women were deponents, breastfeeding children up to six months old, with the aim at understanding the meaning of the exclusive breastfeeding for the mothers that breastfeed describing the stimulator and guider factors of this practice. It was used the open interview through empathic relation and the presupposed reduction in review of the development of the phenomenological comprehensive analysis development in the heideggerian perspective. Four units of signification were constituted: the milk as main food for the baby and the breastfeeding importance; Sentiment of approach and contact of the mother/child binomial on breastfeeding; Opportunities and difficulties of the breastfeeding daily and doubts that emerge from the exclusive breastfeeding s practice: the nurse in the context of the promotion and support to the exclusive breastfeeding. The comprehensive analysis unveiled that the women showed themselves as eager, because they searched for dialoguing with the nurses in the face of the possibility of breastfeeding up to the sixth month. Therein the support and aid for the empathic assistance relation and of the dialogue with the women/mothers. Descriptors: Woman, breastfeeding, nursing. 160

56 Anna Maria de Oliveira Salimena. Enfermeira. Graduada no 2º sem/2007 do Curso de Enfermagem da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Juiz de Fora (FACENF/UFJF). Marilena Cazetta Venâncio. Orientadora da Pesquisa. Doutora em Enfermagem. Professora Associada do Departamento Enfermagem Aplicada da FACENF/UFJF. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa O cotidiano do cuidar em Enfermagem da FACENF/UFJF e do Núcleo de Pesquisa em Enfermagem em Saúde da Mulher NUPESM/ EEAN/UFRJ. Maria Carmen Simões Cardoso de Melo. Mestre em Enfermagem. Professora Assistente do Departamento Enfermagem Aplicada da FACENF/UFJF. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro - EEAN/UFRJ. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa O cotidiano do cuidar em Enfermagem da FACENF/UFJF e do Núcleo de Pesquisa em Enfermagem em Saúde da Mulher NUPESM/ EEAN/UFRJ. Ívis Emília de Oliveira Souza. Doutora em Enfermagem. Professora Titular de Enfermagem Obstétrica do Departamento Enfermagem Materno - Infantil da EEAN/UFRJ. Pesquisadora e Membro da Diretoria do Núcleo de Pesquisa em Enfermagem em Saúde da Mulher - NUPESM/EEAN/UFRJ. 161

57 Introdução As propriedades nutrici- onais e imunológicas presentes no leite materno bem como as influências psicológicas, emocio- nais e afetivas propiciadas pela amamentação, confirmadas nos estudos científicos produzidos nos últimos trinta anos são incontestáveis, entretanto o des- mame precoce ainda é uma rea- lidade. Na implementação da proposta de Promoção, Proteção e Apoio ao Aleitamento Materno parece que a modalidade de aleitamento materno exclusivo até o sexto mês ainda precisa ser mais bem difundida e discutida entre as gestantes e mães. Pois, o fato de muitas mães não terem informações sobre os be- nefícios do leite materno e da ali- mentação no seio, bem como a falta de assistência, apoio e ori- entação tanto dos profissionais da saúde quanto de familiares, contribui para o desmame precoce e chama-nos à atenção. Iniciativas de promoção, e proteção do aleitamento materno estão sendo realizadas, entre elas a Iniciativa Hospital Amigo da Criança (IHAC), que segundo a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia é uma estratégia para implementar mudanças nas rotinas e práticas referentes à ama- mentação nos serviços de saúde (1). Contudo, apesar do consenso acerca das inúmeras van- tagens do aleitamento materno e da mobilização mundial nas últimas décadas para recuperação da cultura da amamentação o desmame precoce ainda é uma 162 Anna Maria de Oliveira Salimena, Marilena Cazetta Venâncio, Maria Carmen Simões Cardoso de Melo, Ívis Emília de Oliveira Souza. prática comum em todo o mun- cipal forma de acompanhamendo, mesmo sabendo-se que o ale- to da gestante durante seu préitamento materno proporciona natal, sendo este acompanhaum momento de interação mãe- mento um fator importante na filho prazeroso para ambos (2). promoção do aleitamento ma- Além disso, o leite materno é a terno uma vez que nessa fase melhor e mais completa fonte nu- ocorre a definição da prática a tricional do bebê e traz também, qual a nutriz irá recorrer (8). várias vantagens tanto para mãe Sendo assim, o incentivo ao alei- quanto para o recém-nascido tamento deve ser efetivado du- (3). A dupla mãe e filho está liga- rante as consultas de pré-natal, da por um afeto mútuo, uma in- onde o profissional da saúde irá tensa relação emocional e após estimular orientar e preparar a estabelecidos esses vínculos de mãe emocionalmente para o mo- amor e afetividade há uma base mento da amamentação. Além forte para que ocorra o sucesso disso, durante a realização do no aleitamento (4). exame das mamas nessas con- O primeiro contato entre sultas, podem-se detectar alguns mãe e filho, se realizado preco- fatores ou problemas que influcemente, tem um efeito benéfico enciarão eventualmente no alei- fortalecendo o vínculo afetivo tamento e podem contribuir para entre ambos e influenciando po- o desmame precoce (9). sitivamente na duração do alei- No âmbito da atenção tamento (5). Também, observa- primária, o Programa Saúde da se que para diversas mulheres de- Família (PSF) constitui um imcidir amamentar é importante pa- portante meio de promoção e ra sua determinação pessoal, sen- apoio ao aleitamento, em vista do a base de conhecimentos ad- que oferece suporte à saúde das quiridos através de várias fon- famílias e pode oferecer ativida- tes, acerca do valor que o leite des educativas desde o prématerno exerce sobre o desen- natal, que possibilitem à mulher volvimento e crescimento da cri- conhecer outros aspectos que faança (6). voreçam o processo de ama- Portanto, com o intuito mentação. Também permite que de favorecer a melhoria da saúde o profissional da saúde atue dire- e da qualidade de vida das crian- tamente nas intercorrências co- ças e de suas famílias, a promo- muns nesse processo (7). ção do aleitamento materno de- Uma das principais cauveria ser considerada uma ação sas do desmame precoce é a adoprioritária, além disso, esse po- ção de bicos e mamadeiras, uma deria ser um exemplo de política vez que modifica a forma de mapública que envolve família, co- mada da criança levando a retimunidade, sociedade e governo, rada insuficiente de leite do peicom baixo custo e ótimo impac- to, o que ocasiona baixa eficácia to sobre o crescimento infantil na ação do leite, aumentando as- (7). sim a incidência de doenças res- A rede de assistência pri- piratórias, diarreia, distúrbios na mária no Brasil constitui a prin- fala, infecções dentárias entre Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

58 Anna Maria de Oliveira Salimena, Marilena Cazetta Venâncio, Maria Carmen Simões Cardoso de Melo, Ívis Emília de Oliveira Souza. na fala, infecções dentárias en- como a produção e composição Compreender o signifitre outras (10). Além disso, o do leite, a técnica da amamenta- cado do aleitamento materno exuso do bico/chupeta e mamadei- ção e seus benefícios para a saú- clusivo para as mães que amara introduzido pela mãe, com a de do bebê e da mãe, bem como mentam descrevendo os fatores volta ao trabalho ou sobrecarre- sobre os problemas mais comu- incentivadores e norteadores gada de afazeres, pode estar ca- mente citados na prática do alei- dessa prática. muflando possíveis problemas e tamento materno (13). dificuldades na amamentação As informações ditas à Material e método ou até mesmo uma ansiedade e mãe, durante e após a gestação, insegurança materna frente a es- acerca do aleitamento materno e se processo, que necessitaria de seus benefícios influenciam na uma intervenção e abordagem decisão dessa sobre o tempo da mais eficazes por parte dos pro- amamentação bem como a for- fissionais/família (5). ma como irá realizá-la, se de for- Atualmente o processo ma exclusiva ou não. Dessa forde amamentação sofre influên- ma, promover uma base de in- cias culturais, sociais e familia- formações adequadas sobre o te- res induzindo as mães a recorre- ma contribui para provocar e pro- rem a tais artifícios, diminuindo duzir o desejo de amamentar a importância e o valor que o alei- (6). tamento exerce na vida e saúde O profissional de saúde da mãe e filho (11). é parte fundamental no processo A mulher-mãe necessita das ações voltadas para a recu- compreender que o desmame peração, manutenção e proteção faz parte do processo de cresci- da saúde do bebê através de uma mento da criança, há um mo- comunicação efetiva, que é a bamento correto para que esse se para desenvolver ações de saúaconteça. E, o momento certo pa- de. Através dessa, tem condi- ra o desmame é quando um dos ções de criar condições favoráparceiros está realmente pronto veis para efetivar a relação com para interromper a amamenta- a nutriz, de forma que a mesma ção, que está relacionada ao mo- perceba sua atenção e sinta-se mento em que o bebê pode subs- confortável, encorajando assim tituir o seio materno por outra ali- o processo do aleitamento. mentação que remeta a ele o sen- A mulher deve ser ouvitido de amor e suporte emocio- da sobre suas expectativas, dúvi- nal vividos na amamentação (4). das e necessidades, a fim de dire- A mãe necessita de condições fa- cionar uma assistência de quali- voráveis para realizar o aleita- dade, oferecendo condições pamento e deve receber apoio, ori- ra que possa agir, decidir (14) soentação e informação do profis- bre o melhor para si e para o fi- sional de saúde capacitado, que lho mesmo sabendo que a prátiirá auxiliar no momento da ama- ca da amamentação seja impresmentação, sempre lembrando cindível para a promoção da saúque a mãe é a pessoa central em de para o binômio mãe-filho tal processo (12). Essas infor- (15). mações devem abranger conhecimentos que envolvam temas Objetivo do estudo Estudo de abordagem qualitativa realizado em uma Unidade Básica de Saúde Progresso do município de Juiz de Fora/MG, após aprovação do Comitê de Ética da UFJF, parecer nº 143/2007 (16). Foram depoentes onze mulheres, em fase de amamentação, com crianças na faixa etária até seis meses de idade, no intervalo de setembro a outubro de Utilizou-se a entrevista aberta mediante rela- ção empática (17) com as seguintes questões norteadoras: - O que sabe e o que significa para você amamentação? - Como você compreende o papel do enfermeiro nesse processo? Como está vivendo esse momento e que fator ajuda ou dificulta a ama- mentação exclusiva? Após a transcrição de ca- da depoimento, procedeu-se à le- itura flutuante, que deu condi- ções de perceber as estruturas essenciais para apreender os momentos-chave do fenômeno e a redução de pressupostos com vistas ao desenvolvimento da análise compreensiva fenomenológica na perspectiva heideggeriana. Resultado e análise dos dados A análise compreensiva desvelou quatro Unidades de Significação: O leite como principal alimento para o bebê e a im- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

59 Anna Maria de Oliveira Salimena, Marilena Cazetta Venâncio, Maria Carmen Simões Cardoso de Melo, Ívis Emília de Oliveira Souza. portância da amamentação; te pode fazer pro bebê é ama- pra ele.... E11 Sentimento de aproximação e mentar.... E5 contato do binômio mãe/filho ao Percebemos que as paramamentar; Facilidades e difi-... a sei que o leite é muito im- ticipantes são informadas e coculdades do dia-a-dia da ama- portante, que tudo que ela preci- nhecem os valores da amamenmentação e dúvidas que emer- sa é adquirido no leite né. Não tação uma vez que várias citagem da prática da amamentação precisa beber água, que tomá ram seus benefícios. Como tamexclusiva; o enfermeiro no con- chá, num precisa nada disso, bém são evidenciados os aspectexto da promoção e apoio à ama- que tudo que ela precisa ta no lei- tos promotores de saúde às mentação exclusiva. te.... E7 mães, como por exemplo, contribui para a involução uterina, Eu sei que é o principal ali- diminui sangramento após o par- O leite como principal alimento mento que eu tenho pro meu fi- to e o risco de anemia e protege para o bebê e a importância da lho... não tem nada que é melhor contra o câncer de mama e ová- pra ele, nem mamadeira nem ou- rio (12). amamentação tro tipo de leite. Só o meu, a mi- Entretanto, foram pou- O incentivo ao aleita- nha amamentação que é o prin- cas as que citaram as vantagens mento materno vem se desta- cipal alimento pra ele.... E8 do aleitamento para as mães, o cando como uma estratégia de que demonstra falta de informapromoção da saúde infantil,... a amamentação é muito im- ção quanto a alguns aspectos reapresentando oscilações nas di- portante pro neném porque é ma- lacionados com sua própria saúferentes sociedades e tempo, is saudável....e9 de. frente às suas diversas vantagens já comprovadas ao longo São inúmeras as vanta-... pro câncer de mama tamdos anos através dos estudos e in- gens, que se destacam a queda bém ajuda a prevenir. E6 dicadores de saúde. na mortalidade infantil, devido é bom pra mulher mesmo... Sabe-se que o leite ma- ao menor índice de doenças co- mas eu acho importantíssimo terno é o mais completo alimen- mo diarreia, pneumonia, desnu- pra mulher voltá ao corpo norto para o bebê, sendo essencial trição, além de contribuir para di- mal, é que queima bastante calopara ajudar no crescimento da minuir a taxa de obesidade em ria mesmo quando ta mamancriança e seu desenvolvimento crianças e ser um importante fa- do. E11 nos primeiros anos de vida, pois tor imunológico para a criança atende todas as suas necessida- nos primeiros meses de vida. Nessa situação podemos questides, tanto nutricionais, fisioló- onar até que ponto as orientagicas quanto emocionais (9)...., porque ela desenvolve mais ções estão sendo feitas de mane- Percebemos que as mães estão rápido,... fica mais forte,... fica ira que elas apreendam? Será cientes de que o aleitamento ma- imune praticamente de qual- que as mães estão sendo orientaterno é a melhor alimentação quer doença... no dia a dia nem das quanto a todos os aspectos que a criança pode receber pos- gripe, resfriado... pra mim foi im- que envolvem a amamentação, suindo todos os fatores impor- portante a amamentação, que inclusive aqueles relacionados tantes para o início de sua vida. ele teve pneumonia e ajudou mu- às mesmas? É de fundamental Sabem ainda que nenhum outro ito pra curá a pneumonia dele importância que as mães tenham alimento substitui o leite mater- só mamou no peito.... E1 o conhecimento desses pontos no em suas propriedades: para incentivar e promover me-... ajuda a ele também porque é lhor a prática do aleitamento ma-... que é o alimento mais corre- uma vacina.... E3 terno exclusivo, para que esse seto para o bebê, mais apropria- Todos os anticorpos que con- ja efetivado. do... é a melhor coisa que a gen- tém no meu corpo vai passando Sentimento de aproxi- 164 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

60 Anna Maria de Oliveira Salimena, Marilena Cazetta Venâncio, Maria Carmen Simões Cardoso de Melo, Ívis Emília de Oliveira Souza. mação e contato do binômio É um vínculo da mãe com a crimãe/filho ao amamentar ança, um momento sagrado en-... quando eu tô dando de ma- Encontramos na litera- tre a mãe e a criança é a hora da má... eu gosto de dá mamá quantura a importância do contato en- amamentação. E8 do eu tô sozinha, ou então na pretre mãe e filho durante a ama- sença do meu marido sem televimentação, dos aspectos emocio- Assim sendo, percebe- são ligada sabe. E7 nais e psicológicos que estão en- mos que é valorizado pelas mães volvidos nessa relação como: este momento de contato com se-... Ah eu to achando assim maus bebês. Quase todas as mães es- ravilhoso. E9... ajuda a mulher e o bebê a tavam com seus filhos durante a formarem uma relação íntima e entrevista e esse fato possibili- Evidenciamos, então, que não amorosa que a faz sentir-se pro- tou observar os gestos de afeto há nada melhor para o bebê do fundamente satisfeita emocio- que a mãe lançava sobre a crian- que ser amamentado, acalentanalmente. O contato íntimo des- ça ao falar sobre os sentimentos do ao seio da mãe, recebendo tude imediatamente após o parto que estão envolvidos no ato de do o que esse necessita emocioajuda essa relação a se desen- amamentar, conforme explicita- nalmente e psicologicamente pavolver (2). A promoção do alei- do Os benefícios emocionais ra seu desenvolvimento e crescitamento contribui para o fortale- da alimentação ao seio também mento saudável. O contato cimento do vínculo mãe-filho, são indubitáveis. O recém- mãe/filho, assim, se faz necessáproporcionando para o bebê estí- nascido humano não sobrevive rio para o fortalecimento do vínmulos sensoriais e emocionais. sem cuidados e, principalmente, culo entre ambos e mostra-se Alguns depoimentos expressam não se desenvolve sem carinho e um fator responsável por maior e confirmam a importância do afeto (11). Bem como, ao estar tempo de aleitamento devido à contato mãe e filho durante a amamentando a mãe mostra que satisfação e sentimentos provoamamentação: está conseguindo construir um cados em sua prática. vínculo com o bebê, proporcio- eu gostei. Pra ele transmite ca- nando um momento de carinho e Facilidades e dificuldades do rinho, amor... eu gosto de ama- contato pele a pele, que é tão imdia-a-dia da amamentação e mentar ele. E2 portante para o desenvolvimento da criança (11). dúvidas que emergem da práti- eu tô amamentando também As depoentes falaram soca da amamentação exclusiva Ao se expressarem sobre os pontos facilitadores no processo de amamentação, os fatores mais citados e que, prova- velmente, se fazem os principais influenciadores são o fato de: ser um alimento que está pronto a qualquer hora e ser de fácil acesso. A praticidade do leite materno como um fator de funda- mental importância como expresso: o aleitamento materno é a forma mais prática de se ter um leite pronto e em temperatu pra conhecer meu filho. A gente tá mais próximo, a gente ta entendendo mais, eu entendo ele e ele me entende. E4... é importante o contato que a gente tem com o filho, a criança deve sentir o carinho da mãe também... Mas às vezes num é que ela ta com fome, ela ta querendo um acalento... que ela ficou lá dentro da gente esse tem- po todo, depois que sai o único contato que ela tem com a mãe é o peito. Assim mais próximo mais íntimo. E7 bre seu sentimento ao amamentar seus filhos, mostrando-se feli- zes por fazê-lo e que não havia maior satisfação do que estar vivendo tal momento. Olha, nossa pra mim no come- ço foi bom, basicamente emoci- onante dá mamá pro meu filho ainda mais que sô muito novi- nha. E1 Olha eu tô vivendo com muita alegria porque já é meu segundo filho e eu acho que agora que eu to conseguindo aproveitar mais. E5 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

61 Anna Maria de Oliveira Salimena, Marilena Cazetta Venâncio, Maria Carmen Simões Cardoso de Melo, Ívis Emília de Oliveira Souza. ra adequada, quando compara- dores: meses de vida do bebê, princido ao preparo de uma mamadei- É no começo eu tive muita difi- palmente se a mãe for primípara (18). As depoentes ratifica- culdade porque eu acho que to- ra, como ocorreu com algumas ram: das as mães tem, por causa que das depoentes. O que ajuda o principal lógi- são dores das rachaduras no pei- Percebemos que ocorre, co, é que tá pronto a qualquer ho- to, mas eu tive, eu fiz bastante também, contradição entre as ra, você num tem que levantar massagem... mas quando ele ma- orientações para as mães: pra fazê uma mamadeira e ma uma vez a mais então eu sin- Ah isso é um poquim complicatal.... E8 to muitas dores e dá um pouco do na minha cabeça, porque lá de incômodo. E4 na... que me falaram sobre ama-... é uma mão na roda, quem de- mentação foi uma coisa e o que ra se o mínimo pudesse mamá Porque na primeira eu fiquei o enfermeiro daqui me falou foi até começa a comer. E11 muito preocupada... queria fa- outra. Igual lá na... me falaram zer tudo muito correto, tudo mui- pra eu dá 40 minutos num peito, Nota-se que a questão to como tava no livro. Então eu depois 40 minutos no outro. que mais favorece a continuida- acho que to tendo até mais leite Achei assim muito, que ela não de do aleitamento materno é in- do que eu tive na primeira. E5 mama nem 20 minutos e também discutivelmente o fato do leite é muito assim receita de boca famaterno ser o alimento mais fá- Ah o nervosismo. E6 la 40 minutos, cada criança é de cil para o bebê, o que facilita mu- um jeito.... E7 ito a adesão a esse processo. Ah assim, eu sinto um pouqui- Além disso, uma das de- nho de dor quando ela mama sa- Assim, ficou evidenciapoentes expressou como positi- be. Mas depois das primeiras su- do as divergências entre as oriva a experiência anterior com a gadas assim, pára de doer.... entações recebidas, o que pode maternidade e o prévio conheci- E7 favorecer uma interrupção desmento que envolve a prática da se aleitamento, pelo fato da mãe amamentação como um ponto fa- Ás vezes eu preciso de sair e desconhecer o correto para seu cilitador nesse processo. Para as ele precisa ficar e aí ele acaba bebê. mães que já conseguiram ama- tendo que toma uma mamadei- Algumas vezes as orienmentar com sucesso anterior- ra, de um leite que num é tão im- tações dadas pelos médicos que mente, o desejo soma-se à certe- portante como o meu e isso pode as acompanhavam não eram za de que o aleitamento irá pros- até atrapalhar ele tomá o meu bem recebidas, sendo passadas seguir naturalmente e com su- depois dessa mamadeira... Mas de forma equivocada e sem muicesso (6). querendo ou não tem hora que ta clareza, ainda restando dúvinum tem jeito. E8 das acerca do processo do aleita- O que me ajudou acho que foi mento o que causava, segundo a experiência de já ter tido um fi- Foi possível desvelar as mães dificuldade na tomada lho, de sabe como que é ama- através desses depoimentos que de decisões sobre o modo corrementar, de saber as dificulda- mesmo muitas mães conhecen- to de aleitar seu filho. des, de ter tido um preparo ade- do pouco sobre a amamentação, Assim, amamentação em nada quado da mama, porque eu não ainda ocorre uma falha no forne- ta dificultando não. Às vezes eu tive rachadura na mama dessa cimento de informações sobre fico em dúvida se ele tá satisfeivez. E5 questões que são importantes no to. Que a médica fala assim há dia-a-dia destas mulheres. Mas, dez minutos é o suficiente. Às Também, consideraram sabe-se também da importância vezes tem hora que ele mama 20 aspectos que dificultavam o alei- de auxiliar as mães na tentativa minutos, tem hora que mama cintamento materno emergindo de resolver as dificuldades e dú- co, então a gente nunca sabe se pontos negativos e/ou dificulta- vidas comuns nos três primeiros satisfez o neném, como é que a 166 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

62 Anna Maria de Oliveira Salimena, Marilena Cazetta Venâncio, Maria Carmen Simões Cardoso de Melo, Ívis Emília de Oliveira Souza. gente fica sabendo isso. E toda todos os aspectos envolvidos du- to sabe, ela nos ensinava como vez que ele mama dá cólica, isso rante a amamentação, que irão que era o processo, o tempo que assim que a gente fica com duvi- influenciar a decisão da mãe em o bebê mama, a quantidade, tuda, ai será que é alguma coisa amamentar seu filho. Portanto, é do ela explicava pra gente e a com o leite.... E9 responsável também na adesão a gente acaba ficando mais seguesse processo, pois a amamen- ra com estas informações. E8 Sendo assim, as deter- tação não é uma prática natuminações do pediatra tendem a ral. Para melhoria dos seus índi- pra mim foi muito importante, ser assimiladas e incorporadas ces faz-se necessário adequado porque lá na maternidade na hona medida em que são julgadas aprendizado das mães com par- ra de dá o mamá ela que ensinou corretas, com base naquilo que ticipação ativa dos profissiona- como é que eu pegava, como é as mães consideram ser práti- is de saúde, propiciando orien- que era mais confortável pra cas que comprovam a boa saúde tações e suporte oportunos para mim. E ele num pegava e ela me das crianças (6).Vários são os as gestantes e lactantes (20). ensinou como eu estimula ele. estudos que apontam como a vol- Dessa forma fica claro E9 ta ao trabalho dificultador da que o profissional de enfermacontinuidade do aleitamento ao gem tem um papel indelével na Portanto, faz-se necesseio, como uma das razões do assistência às mães no período sário que os profissionais de endesmame precoce é a separação de amamentação, auxiliando e fermagem gerem ações de proda mãe de seu filho, devido a vol- esclarecendo possíveis dúvidas moção do aleitamento nas diverta ao trabalho fora do lar, condi- e dificuldades encontradas por sas Unidades Básicas de Saúde, ção pior nas grandes cidades pe- elas neste processo, conforme a fim de melhorar o índice de la situação de transporte e dis- os depoimentos: adesão à amamentação, isto intância casa-local de trabalho Ele pelo menos comigo me aju- clui também realizar capacita- (19). dou muito, me explicando como ção da equipe para o manejo e É sabido que essa situa- se põe a criança pra mamá, cri- técnicas adequadas para tal. ção ocorre com muita frequên- ança pra arrotá vê uma forma Pois, as diferenças de atuação cia. Neste depoimento a reação melhor pra mãe e o bebê ficar das equipes e dos profissionais da mãe foi de desaprovação com confortável assim, na hora da de enfermagem podem influenesta situação, da separação do amamentação, que é uma hora ciar na duração da amamentaseu filho durante a amamenta- sagrada pra criança e pra mãe ção, uma vez que essa pode ser ção. também. E1 abandonada quando as dificul- E a dificuldade é trabalhar fo- dades encontradas pelas mães ra, porque infelizmente não pe- Pra mim foi de suma importân- não são superadas (7). guei a licença de 6 meses ainda cia, muita coisa eu num conhe- Percebe-se que o sucesso e meu filho já tá na creche, então cia, principalmente que é meu na prática do aleitamento depenestá mamando só no período da primeiro filho e eu tive muitas de muito da qualidade e quantinoite. E5 orientações... eu recebi orienta- dade de informações que são ções do enfermeiro de fazer mas- transmitidas às mães, que posagem, o que ajudou bastante. dem ajudar na superação das difi- O enfermeiro no contexto da E4 culdades que eventualmente surjam. E, mesmo com todas as oripromoção e apoio à amamen- Pra mim foi importante porque entações que são fornecidas petação exclusiva no hospital tinha uma enfermei- los enfermeiros, ainda há falhas O enfermeiro nesse con- ra exclusiva pra cada bebê e pra nesse processo. O fato de pratitexto é de fundamental impor- cada mãe. E a enfermeira nos en- camente todas as mães entrevistância como educador e fonte de sinava pra quem não sabia ama- tadas não terem informação neinformações para as mães sobre mentar e num tinha bico no pei- nhuma sobre a AME comprova Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

63 Anna Maria de Oliveira Salimena, Marilena Cazetta Venâncio, Maria Carmen Simões Cardoso de Melo, Ívis Emília de Oliveira Souza. essa situação. mentação, parecem estar sendo empregadas e surtindo o efeito 9 PONTES, CM et al. Exame das Mamas no Pré-Natal: uma das Estratégias na Promoção do Aleitamento Materno. Conclusão desejado, uma vez que as mães Revista Nursing. 2002; 49: A amamentação é um momento estudadas conseguiram amapeculiar na vida de uma mu- mentar com sucesso. Nesse sen D i s p o n í v e l e m : < lher/mãe, um momento de tido o apoio e auxílio para o pro- >. Acesso em: aprendizado único em sua vida, cesso de viver a amamentação 12/04/ CARVALHO MR, TAMEZ RN. de conhecer seu filho e tudo o de forma saudável, contribuindo Amamentação: bases profissionais para a que ele necessita que só ela pos- para sua extensão e exclusivida- prática profissional. Rio de Janeiro: sa oferecer. de até o sexto mês exige uma re- Editora Guanabara Koogan S.A., JULIANI, CM et al. Aleitamento materlação assistencial empática e de Os resultados aponta- no: acompanhando e avaliando essa expediálogo na qual as mulheres pre- riência. Revista Enfermagem Atual. 2004, ram que as mulheres desconhev. 23(04): c i a m o s i g n i f i c a d o d o cisam falar de si, de suas vivên- 13 REZENDE MA, SIGAUD CHS, Aleitamento Materno Exclusivo cias e de seu vivido. VERÍSSIMO MDLÓR, CHIESA AM, mesmo tendo recebido e ainda BERTOLOZZI MR. O processo de comuni- 10 BRASIL, Ministério da Saúde. Bicos e mamadeiras prejudicam a amamentação, cação na promoção do aleitamento materrecebendo informações dos pro- Referências no. Revista Latino-Americana de fissionais de saúde sobre: ama- 1 FEBRASGO, Federação Brasileira das Enfermagem. 2002; 10(2): mentação, a importância do leite Associações de Ginecologia e Obstetrícia. 14 Salimena AMO. O cotidiano da mulher materno para o bebê e sobre a Aleitamento Materno: manual de orienta- após histerectomia à luz do pensamento de ção. Editor: Corintio Mariani Neto SP, Martin Heidegger. [Doutorado] Rio de não introdução de outros líqui Janeiro (RJ): EEAN-UFRJ; dos e alimentos antes do sexto 2 JUSTINO, MM. et al. Relato de 15 Alves VH, Costa, SF. O ato da amamen- mês. A análise hermenêutica Experiência de uma Atividade Educativa tação: uma questão de valor ou um valor c o m m u l h e re s : I n c e n t i v a n d o a em questão? Revista Recenf. 2009; mostrou mães ocupadas com as Amamentação desde a Gestação. Rev. 7(2): mamas, com os filhos, com o sig- Enfermagem Atual, 2007; 37: Brasil. Ministério da Saúde. Conselho nificado do choro dos filhos e 3 MARCA, EH. Práticas de Aleitamento Nacional de Saúde, Comissão Nacional de Materno e Alimentação Infantil no Bairro Ética em Pesquisa. Resolução Nº 196 de 10 com dificuldade de, no dia-a- de Itaipu, Medianeira PR. Revista Saúde de outubro de 1996: diretrizes e normas redia, aplicarem as orientações re- Coletiva, 2006; 03 (12): gulamentadoras de pesquisa envolvendo cebidas no pré-natal e nas con- 4 SONEGO, J,SAND, ICPV. D, ALMEIDA, seres humanos. Brasília (DF): MS; AM, GOMES, FA. Experiência do desma- 17 Carvalho AS. Metodologia da sultas de acompanhamento da me entre mulheres de uma mesma família. Entrevista: uma abordagem fenomenológicriança. As mulheres mostra- Revista da Escola de Enfermagem USP ca. Rio de Janeiro: Agir, ram-se como ser-aí-com porque 2004; 38(1): ICHISATO SMT, SHIMO AKK. 5 CHAVES RG, LAMOUNIER JA, CÉSAR Aleitamento Materno e as Crenças buscaram dialogar com os en- CC. Factors associated with duration of Alimentares. Revista Latino-Americana fermeiros em face da possibili- breastfeeding. J. Pediatr (Rio J). 2007; de Enfermagem 2001; 9(5):70-6. dade de amamentar até o sexto 83(3): REA MF, VENÂNCIO SI, BATISTA LE, 6 OSIS MJD, DUARTE GA, PÁDUA KS, SANTOS RG, GREINER T. Possibilidades mês. HARDY E., SANDOVAL LEM, BENTO SF. e limitações da amamentação entre mulhe- Nesse sentido o enferbalhadoras com creche no local de traba- Saúde Pública 1997; 31(2): Aleitamento materno exclusivo entre tra- res trabalhadoras formais. Revista de meiro é ponto fundamental na lho. Revista Saúde Pública. 2004; 38(2): 20 CALDEIRA AP, AGUIAR GN, ajuda à nutriz a viver a amamen MAGALHÃES WAC, FAGUNDES GC. tação de forma saudável e con- 7 PARADA CMGL, CARVALHAES MABL, Conhecimentos e práticas de promoção do tribuindo para seu êxito. A falta WINCKLER CC, WINCKLER LA, aleitamento materno em Equipes de Saúde WINCKLER VC. Situação do aleitamento da Família em Montes Claros, Minas gerade conhecimento entre as depo- materno em população assistida pelo is, Brasil. Caderno de Saúde Pública, Rio entes sobre o Aleitamento Programa Saúde da Família - PSF. Revista de Janeiro, 23(8): , ago, 2007 Materno Exclusivo indicou que Latino Americana de Enfermagem. 2005; 13(3): esta prática não está sendo bem 8 OLIVEIRA, MIC et al. Promoção, proteção e apoio à amamentação na atenção pricompreendida pelas mulheres. Porém, atividades de apoio vimária à saúde no Estado do Rio de Janeiro, Brasil: uma política de saúde pública basesando auxiliá-las a superarem as ada em evidência. Cadernos Saúde dificuldades no início da ama- Pública RJ, 2005; 21(6): Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

64 Aleitamento materno, introdução de leite artificial e anemia em crianças de 06 a 23 meses de idade Breastfeeding, supplement-feeding introduction and anaemia in children from 06 to 23 months of age Elisabeth Schettert, Luciana Pedrosa Leal, Marly Javorski, Mônica Maria Osório, Ednaldo Cavalcante de Araújo. RECENF-Revista Técnico Científica de Enfermagem-2010v8-n25;( ) Resumo O objetivo deste estudo foi correlacionar a prevalência do aleitamento materno e a introdução da alimentação complementar com o diagnóstico de anemia em crianças de meses. Os dados secundários de 421 crianças foram coletados da pesquisa realizada em 2001, nos ambulatórios de puericultura e pediatria do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, com o objetivo de avaliar a validação e reprodutibilidade dos sinais clínicos e da escala de cores da hemoglobina da Organização Mundial da Saúde no diagnóstico de anemia em crianças. A introdução de leite artificial foi realizada após os 120 dias de vida para mais de 50% das crianças. Entre elas, 89,1% eram anêmicas, estando a maior prevalência (91,7%) nas crianças de 06 a 11 meses. A única variável que mostrou relação estatística significante com anemia foi à idade da criança (2= 23,99, P < 0,0001). Neste estudo, não se observou relação estatística significante entre o aleitamento materno e a introdução do leite artificial e o desenvolvimento de anemia. Os resultados obtidos nos direcionaram a sugerir como rotina nos ambulatórios de puericultura e pediatria que incentivem o aleitamento materno exclusivo até os 06 meses de idade e a partir desta data orientar sobre a alimentação complementar, com alimentos ricos em ferro, tendo em vista a alta prevalência de anemia no Brasil, implementando a suplementação com sulfato ferroso oral para menores de 24 meses. Palavras-chave: anemia, amamentação, alimentação complementar. Abstract Correlating the breastfeeding prevalence and the supplement-feeding introduction with the anaemia diagnosis, in children months was the objective of this study. Data secondary from 421 children had been collected of the research carried through in 2001 year, attended at puericulture and pediatrics sectors of the Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira, with the aims evaluating the validation and reprodutibility of the clinical signals and the hemoglobin of colors scale of the World Health Organization in the diagnosis of anaemia in children. The supplement-feeding introduction was carried through after the 120 life days for more than 50.0% of the children. Between them, 89.1% were anaemics, being the biggest prevalence (91,7%) it enters those with ages between 06 to 11 months. The only variable that showed to relation significant statistics with anaemia was the child age (2= 23,99, P < 0,0001). In this study, there was no statistically significant relationship between breastfeeding and the introduction of artificial milk and the development of anemia. Our results addressed us to suggest to the routine at puericulture and pediatrics sectors, to stimulate the exclusive breastfeeding until the 06 months of age and to leave of this date to guide the supplements feeding, with rich foods in iron, in view of the high prevalence of anaemia in Brazil, implementing the supplementation with oral ferrous sulphate for minors of 24 months. Key Words: anaemia, breastfeeding, supplements feeding. 169

65 Elisabeth Schettert. Enfermeira Especialista em Saúde da Criança na Modalidade de Residência. Graduada pela Universidade Federal de Pernambuco. Luciana Pedrosa Leal. Enfermeira. Mestre em Nutrição. Professora Assistente da Área Infantil do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco. Marly Javorski. Enfermeira. Mestre em Enfermagem. Professora Assistente da Área Infantil do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco. Mônica Maria Osório. Nutricionista. Professor Associado da Universidade Federal de Pernambuco, pesquisador 2 do CNPq. Coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Nutrição- CCS/UFPE. mosorio@ufpe.br Ednaldo Cavalcante de Araújo. Enfermeiro. Professor Pós-doutor da Área Infantil do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Pernambuco. ednenjp@gmail.com 170

66 Introdução Elisabeth Schettert, Luciana Pedrosa Leal, Marly Javorski, Mônica Maria Osório, Ednaldo Cavalcante de Araújo. Material e métodos que a anemia interfere no cresci- Devido aos benefícios mento, no desenvolvimento Trata-se de um estudo do leite humano, a Organização mental, motor e da linguagem; do tipo transversal, realizado peacarreta em alterações compor- Mundial da Saúde (OMS) e o la pesquisa quantitativa em 421 Ministério da Saúde do Brasil tamentais e psicológicas como crianças de meses atendifalta de atenção, fadiga, insegu- (MS) recomendam aleitamento das nos ambulatórios de puerirança, alterações do sistema dimaterno exclusivo até os seis me- cultura e pediatria do Instituto ses e a manutenção do aleitagestivo e imunológico; ocasiona de Medicina Integral Professor mento materno (AM) complediminuição da atividade física, Fernando Figueira (IMIP) da cialterações metabólicas na pele e mentar até os dois anos. O leite dade de Recife, PE. materno (LM) oferecido de formucosa (3-6,10). Os dados secundários foma exclusiva, somente leite hu- Tendo em vista que o ram coletados da pesquisa realiprincipal fator etiológico da anemano sem outros líquidos ou só- zada no ano de 2001, nos ambumia ferropriva é de natureza dielidos, é o alimento ideal para o latórios de puericultura e pediatética, constitui-se interesse de lactente nos primeiros meses de tria do IMIP, no período de maio vida, por ser rico em nutrientes, estudo a investigação de práti- a outubro, com o objetivo de avacas alimentares que possam difatores imunológicos e microor- liar a validação e reprodutibiliminuir o aporte de ferro, como é ganismos (1-3). dade dos sinais clínicos e da eso caso da realização precoce do No contexto mundial, as cala de cores da hemoglobina da conseqüências do abandono do desmame e do manejo inade- OMS no diagnóstico de anemia AM são preocupantes, acarrequado na introdução de alimenem crianças, obedecendo aos setos complementares. A introdutando em prejuízos importantes guintes critérios de inclusão: 1) para a saúde da criança, como as ção da alimentação complemen- crianças de meses de idatar (AC) precoce (introdução de anemias, especialmente as nu- de; 2) acompanhadas por mãe bioutros alimentos à dieta da critricionais (ferropriva e megalo- ológica à consulta de rotina no blástica). Caracteriza-se como ança que não seja o leite mater- ambulatório de puericultura ou, um problema de saúde pública no, antes dos quatro meses de 3) para primeira consulta ou, 4) devido a altas prevalências, no idade), especialmente sem ori- consulta de retorno ao ambulaentação profissional, é fator prequal as crianças nos primeiros tório de pediatria; critérios de exdisponente à anemia ferropriva anos e as gestantes em países de- clusão: 1) crianças portadoras senvolvidos e subdesenvolvidos no primeiro ano de vida (11-14). de doenças crônicas (cardiopatificam mais vulneráveis às doen- Em face aos problemas as, doenças reumáticas, nefroconsequentes da anemia ferroças, entretanto, atingindo mais patias, afecções do aparelho gaspriva em crianças menores de 24 as nações pobres. No Brasil, ape- trointestinal, doenças respiratómeses, o objetivo desse estudo é sar da superioridade do LM so- rias, entre outras), com diagnóscorrelacionar à prevalência do bre outros tipos de leite, as mu- tico confirmado no momento da lheres que amamentam exclusialeitamento materno e a introdu- consulta. vamente são minorias e a introção da alimentação complemen- Os dados foram analisatar com o diagnóstico de anemia dução de alimentos ocorre pre- dos utilizando-se o programa cocemente (3-9). em crianças de meses. Epi-Info 6.04, apresentados em Segundo a OMS, a ane- Acredita-se que os resultados distribuições de freqüências abdeste estudo possam contribuir mia ferropriva ou a concentra- solutas e relativas e dispostos ção de ferro circulante abaixo do para o planejamento de estraté- em tabelas. Para fins de análise normal, chega a ser responsável gias de intervenções que ve- do aleitamento materno, embora por até 95% das anemias mundinham a ser utilizadas para ajudar a OMS indique os 180 dias coa reduzir a prevalência de aneais, caracterizando-se o proble- mo idade adequada para iniciar ma mais comum de nutrição em mia nesta população. o desmame, foi considerado o crianças. Entretanto, sabe-se ponto de corte de 120 dias de vi- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

67 Elisabeth Schettert, Luciana Pedrosa Leal, Marly Javorski, Mônica Maria Osório, Ednaldo Cavalcante de Araújo. da, no intuito de correlacionar com a prática ado- A tabela 2 evidencia a prevalência de anetada pelas mães em nosso meio, com o período de mia nas crianças. Constata-se que a maioria das retorno das mesmas ao trabalho e com a idade mí- crianças apresenta anemia. Esta prevalência supenima preconizada pela OMS para introdução de ra inclusive a prevalência mundial estimada pela outros alimentos, além do leite artificial na dieta OMS5 para crianças com idade entre 0 e 48 meses das crianças que não recebem o aleitamento ma- que foi de 20,1% para os países industrializados e terno exclusivo. 48,1% para os países não industrializados. A mes- A anemia foi diagnosticada de acordo com a reco- ma corrobora com estudos nacionais que mosmendação da OMS, que considera anêmicas as cri- tram prevalências acima de 49% entre as crianças anças menores de cinco anos cuja hemoglobina se- menores de 24 meses (14). ja < 11g/dl (5-6). Foi utilizado o teste do qui-quadrado (2) para investigar a associação entre anemia e variáveis da criança (idade, sexo, peso ao nascer e peso atual) e amamentação exclusiva até os 06 meses, porém será apresentado o teste relacionado apenas à idade da criança, onde mostrou significância A tabela 3 revela a relação entre a anemia estatística. A discussão foi subsidiada pela revisão e a idade da criança, a qual mostrou associação esda literatura encontrada. tatística significante (p < 0,0001). A coleta dos dados na pesquisa original foi realizada de acordo com a Resolução nº 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, que trata sobre a condução das pesquisas envolvendo seres humanos e aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira IMIP, em reunião realizada no dia 11/02/2001. RESULTADOS A tabela 4 demonstra a relação entre anemia e sexo nas crianças. Corroborando com os dados desta pesquisa, os estudos como os de Devincenzi (15) e Neuman et al. (16) também não encontraram associações entre anemia e sexo. Todavia, Torres et al.,(17) evidenciaram que a prevalência da anemia pode variar entre os sexos, com freqüência de 63,1% para o sexo masculino e 55,2% para o sexo feminino. Estes pesquisadores acreditam que a maior ocorrência de anemia no sexo masculino possa ser explicada pela maior velocidade de crescimento apresentada pelos meninos, nesta faixa etária, acarretando maior necessidade de ferro pelo organismo, não suprida pela dieta. A tabela 5 apresenta a relação do peso da criança ao nascer e anemia e revela que entre as 172 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

68 Elisabeth Schettert, Luciana Pedrosa Leal, Marly Javorski, Mônica Maria Osório, Ednaldo Cavalcante de Araújo. crianças com peso baixo ao nascer a maior prevalência de anemia ocorreu nas crianças entre e 2.999g. Todavia, para todas as classes de peso ao nascer a prevalência de anemia esteve acima de 85%. A tabela 6 mostra a relação entre anemia e duração da amamentação nas crianças. Constatase, também, que a freqüência da anemia foi maior nas crianças que receberam amamentação por mais tempo. Contudo, sabe-se que o leite materno propicia a criança ferro de alta biodisponibilidade e proteção contra infecções, condições que a protegem da anemia (18,19). Na tabela 7 constata-se a relação entre a anemia e o tempo de amamentação exclusiva nas crianças do estudo. Relacionando o tempo de amamentação exclusiva e nível de hemoglobina, entre as 166 que mamaram exclusivamente por 120 dias ou mais, 89,2% apresentavam anemia. Na tabela 8 verifica-se a relação entre anemia e alimentação com leite artificial. Em relação à associação entre as variáveis alimentações com leite artificial e anemia, obteve-se uma freqüência menor de anemia nas crianças que iniciaram a alimentação com leite artificial com menos de 120 di- as (89,4%), do que nas que receberam aleitamen- to artificial com 120 dias ou mais (95%). DISCUSSÃO As características sociais e biológicas das crianças ao nascer e de suas mães revelaram que as crianças apresentaram idade média de 08 meses, estando a maioria (68,9%) entre meses, 22,6% entre meses e apenas 8,6% entre meses. No tocante ao sexo, 50,1% era do sexo masculino e 49,9% do sexo feminino. Quanto ao peso ao nascer 60,5% ficou entre Kg e apenas 6,7% teve peso inferior a Kg. O peso atual observado estava entre Kg em 64,3% e acima de Kg em 3% das crianças. Em relação à distribuição das mulheres por faixa etária, constatou-se que a média de ida- de das mães foi de 24 anos, sendo 48,5% com 25 anos ou mais, 32,3% entre anos e com menos de 20 anos 19,2%. Com referência à escolari- dade, a maioria das mães (94,6%) possuía escolaridade acima de quatro anos de estudo e a minoria (5,1%) tinha menos de quatro anos de estudo, 72,2% das mulheres não trabalhavam fora do lar. Fizeram parte desse estudo lactentes menores de 24 meses, que segundo Souza et al., Souza (11) e Dewey et al.(20), constituem um grupo susceptível à anemia por carência de ferro, uma vez que es- tão submetidos a uma maior dependência das fontes dietéticas deste mineral. A maioria das mães re- feriu ter mais de quatro anos de estudo divergindo da situação encontrada na Pesquisa Nacional so- bre desnutrição infantil nos municípios brasileiros, onde 41,7% não eram alfabetizadas (21). Saber sobre o grau de instrução das mães é importante para o enfermeiro, visto que ele precisa adequar às informações a serem transmitidas, de acordo com o nível de compreensão das mesmas, a fim de que possam assimilar melhor as ori- entações recebidas e atingir os objetivos planeja- dos. Neste sentido Silva (22), afirma que depen- dendo da idade e do grau de escolaridade materna, do acesso às informações em saúde e do tempo dedicado aos cuidados da criança, esta tem maior ou menor risco de adoecer. Neste estudo, observou-se predominância de mães na faixa etária de 25 anos ou mais, porém, chamou-se a atenção o percentual de mães adolescentes (19,2%). A adolescência, conforme Araújo (23) é a fase do desenvolvimento caracte- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

69 Elisabeth Schettert, Luciana Pedrosa Leal, Marly Javorski, Mônica Maria Osório, Ednaldo Cavalcante de Araújo. rizada por transformações devi- quando comparada com os da- Neuman et al.,(16) verificaram do às diversas mudanças físicas, dos estaduais. que a anemia acomete mais da biológicas, psicológicas e socia- Autores como Osório (27), metade das crianças entre 0624 is. Refere ainda que a ocorrência Lima e Osório (28) consideram meses de idade (54%). No semide maternidade, nessa fase da vi- o baixo peso ao nascer um fator árido baiano, Assis et al.,(29) deda, implica em somatório de mu- determinante de anemia em cri- monstram uma prevalência da danças que exigem um repensar anças, no primeiro ano de vida e anemia em crianças de 1223 mesobre o futuro. Araújo (23), mesmo que a criança pré-termo ses de 50% e, entre os menores Coates e Sant'Anna (24), refe- ou de baixo peso ao nascer pos- de um ano, 29,9% e em rem que a qualidade da atenção sua, em média, a mesma quanti- Pernambuco, Osório et al (27), que as mães adolescentes dis- dade de ferro/kg de peso de uma encontraram uma prevalência pensam a seus filhos é frequen- criança nascida a termo, o total na região metropolitana do temente questionada devido às de reserva se depleta mais cedo, Recife de 71,7% e 58,2% nas cricaracterísticas próprias da ado- tornando-as dependentes de fon- anças de 0611 e 1223 meses, reslescência, período de conflitos, tes exógenas e facilitando, dessa pectivamente. oposição à realização de tarefas maneira a instalação da anemia. As anemias afetam grandes cone responsabilidades, entre ou- Verificou-se que a freqüência de tingentes populacionais, sendo tras. anemia foi acima de 88% para as uma carência freqüente no A maioria das mulheres não tra- crianças que mamavam exclusi- Brasil. Em Pernambuco, este esbalhava fora do lar, fato que tal- vamente por mais de 120 dias, tudo mostrou uma maior prevavez possa ter contribuído para a como para aquelas que mama- lência de anemia quando comredução na compra dos alimen- ram menos de 120 dias. parado aos dados da última tos, entre eles os ricos em ferro. Contrariando o que afirma Assis Pesquisa Estadual de Saúde e Por outro lado, ficando mais tem- et al., (29), quando refere que o Nutrição trabalhados por Osório po em casa, supõe-se que elas pu- ferro melhor aproveitado pela es- et al., (27). Acredita-se que estas deram se dedicar mais aos filhos pécie humana é contido no leite altas prevalências se devem, cone ao cuidado com a alimentação. materno, com um aproveita- forme a OMS (5-6), ao baixo Nesse estudo, 99% das crianças mento de até 70%, quando a ama- conteúdo de ferro nas dietas e ráreceberam leite materno e so- mentação é exclusiva. pido crescimento da criança, dumente 1% não mamou (resulta- Souza et al.,(11) em pesquisa rea- rante o primeiro ano de vida. dos não apresentados nas tabe- lizada com crianças até 12 me- Giugliani et al., (13) estudando las). Constatou-se, desse modo, ses de vida, em quatro Centros crianças na faixa etária de 036 que na região Nordeste os per- de Saúde Escola do Município meses em Porto Alegre, constacentuais de crianças que não ini- de São Paulo, também, não en- taram que a anemia foi mais preciam a amamentação vêm dimi- contraram associação significa- valente na faixa etária de 1223 nuindo. Na década de 90, pes- tiva entre anemia e duração do meses, o que difere dos dados quisas realizadas em nove esta- aleitamento materno exclusivo, aqui encontrados. Todavia este dos do Nordeste (23) revelaram cujo tempo mediano foi o mes- estudo apresentou resultados seum percentual de 7,8% de crian- mo para anêmicos e não anêmi- melhantes aos encontrados por ças que nunca mamaram. O estu- cos. Estudo realizado em 2004, Lima e Osório (28), ao analisar do de Vasconcelos26, analisan- em serviços da rede pública, crianças menores de 12 meses do os dados estaduais de crian- com crianças menores de 12 me- em Maringá (PR), onde a aneças de 024 meses de idade, mos- ses de idade, em dez cidades lo- mia apresentou uma prevalência tra que 6,8% das crianças no esta- calizadas nas cinco regiões geo- maior no segundo semestre de vido de Pernambuco nunca foram gráficas brasileiras, encontrou da, sendo a diferença encontraamamentadas. Observou-se uma prevalência de anemia de da estatisticamente significatiuma melhor adesão à amamen- 51,7% para crianças de 0612 me- va. Segundo Lima (14) e Osório tação na população do estudo, ses (11). Em Santa Catarina, (27), a alta prevalência de ane- 174 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

70 Elisabeth Schettert, Luciana Pedrosa Leal, Marly Javorski, Mônica Maria Osório, Ednaldo Cavalcante de Araújo. mia até 24 meses de idade ocor- Entretanto, Torres et al., antes dos quatro meses de idade, ra devido a uma maior velocida- (17) estudando crianças meno- pode atuar diminuindo a incide do crescimento, desmame res de 24 meses, atendidas nas dência de anemia. precoce, falta de dieta balancea- Unidades Básicas de Saúde no da e doenças como diarréia e in- estado de São Paulo encontra- Conclusões fecções respiratórias, nos pri- ram associação estatisticamente A prevalência do aleitameiros anos de vida. significante entre a presença de mento materno foi de 99%, po- Ao se analisar a ocorrên- anemia e o tempo de AM, com rém, 50,5% mamaram por 120 cia de uma maior prevalência en- prevalência de 62,7% se a crian- dias ou mais e 45,0% mamaram tre as crianças de meses ça não foi amamentada ao seio, exclusivamente até os 04 meses apresentada neste estudo, con- 60,6% se foi amamentada até 60 ou mais. corda-se com Faireweather-Tait dias, 57,35% mamou entre 90 e A anemia apresentou pre- (30) e Lönnerdal e Dewey (10) 180 dias e 55,5% se este período valência de 89,1%, mostrando quando afirmam que a biodispo- foi superior a 180 dias. maior prevalência entre as crinibilidade do ferro no leite huma- O resultado obtido na ta- anças com idades entre no pode diminuir até 80% quan- bela 7 foi contrário ao esperado, meses (91,7%). A relação entre a do outros alimentos passam a que era uma freqüência de ane- idade da criança e o valor da heser ingeridos pelo lactente e, ain- mia maior nas crianças que ini- moglobina foi estatisticamente da, ao considerar a introdução ciaram a alimentação com leite significante. precoce de alimentos comple- artificial mais precocemente, Das crianças com peso mentares como fator de alto ris- visto que Fairweather-Tait (30) ao nascer < 2.500g, 85,2% tico para o aparecimento da ane- refere que a maioria das ocor- nham anemia, embora a maior mia ferropriva. rências de deficiências de ferro prevalência tenha ocorrido no Acredita-se que alguns tem vínculo com dietas à base de grupo de crianças entre 2.500g a fatores podem ter determinado o amido e consumo de grandes 2.999g (94,4%). A prevalência maior percentual de crianças quantidades de leite de vaca e os de anemia foi maior entre as crianêmicas amamentadas por ma- resultados verificados em al- anças que receberam amamenis de 120 dias, vale ressaltar que guns estudos sugerem a hipótese tação por mais tempo (88,5%), aqui não estão sendo considera- de que a anemia no primeiro ano assim como entre àqueles que dos o tempo de AME e o início de vida tenha como causa entre mamaram exclusivamente por da introdução de AC que confor- outras, o desmame precoce dias ou mais (89,2%), conme Osório et al., ( 27) a introdu- Conforme o Ministério da trariando a maioria dos autores ção precoce de alimentos com- Saúde (2), o padrão alimentar de sobre o efeito protetor do aleitaplementares é considerada co- alimentação precoce na região mento materno no desenvolvimo fator de alto risco para o apa- Nordeste é inadequado. Os ali- mento da anemia. recimento de anemia ferropriva. mentos complementares são de Das crianças que inicia- Estudo realizado por baixo teor energético devido à di- ram a alimentação com leite arti- Giugliani et AL., (13) em crian- luição inadequada e ao uso de ficial com 120 dias ou mais, ças de 036 meses de idade em to- uma forma de administração pre- 95,3% tinham anemia. das as escolas municipais infan- dominantemente líquida e diluítis de Porto Alegre, também não da. encontrou associação entre tem- Neste estudo não foi in- REFERÊNCIAS 1.Montrone VG, Arantes CA. Prevalência po de aleitamento materno e ane- vestigado o tipo de leite utiliza- do aleitamento materno na cidade de São mia. Registrando prevalência de do pelas mães. Infere-se que, Carlos, São Paulo. Jornal de Pediatria. 51,8%, 49,6% e 44,5% para ama- provavelmente, a utilização de 2000; 76: Ministério da Saúde (BR). Secretaria de mentação por período a 90 di- fórmulas lácteas modificadas, Políticas de Saúde. Saúde da Criança e as; 120 a 180 dias e a 210 dias, com algum enriquecimento de Aleitamento Materno. Guias alimentares ferro, no desmame das crianças para as crianças menores de dois anos no respectivamente. nordeste do Brasil: da teoria à prática. Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

71 Elisabeth Schettert, Luciana Pedrosa Leal, Marly Javorski, Mônica Maria Osório, Ednaldo Cavalcante de Araújo. Brasília: (DF); Torres MAA, Sato K, Queiroz SS. 30.Fairweather-Tait SJ. Iron deficiency in 3.Del Ciampo LA, Ricco R, Almeida CAN. Anemia em crianças menores de dois anos infancy; easy to prevent or is it?. Aleitamento materno: passagens e transfe- atendidas nas unidades básicas de saúde European Journal of Clinical Nutrition. rências mãe-filho. São Paulo: Atheneu; no Estado de São Paulo, Brasil. Revista de 1992; 46 (supl. IV): Saúde Publica. 1994; 28 (1): Who World Health Organization. The 18.Beard JL. Iron biology in immune funcprevalence of nutricional anaemia in tion, muscle metabolism and neuronal funcwomen. A tabulation of available informa- tioning. The Journal of Nutrition. 2001; tion. Geneva; (2) (supl. II): Who World Health Organization. Iron de- 19.Oppenheimer SJ. Iron and its relation to ficiency anaemia. Assessment, prevention immunity and infectious disease. The and control. A guide for programme man- Journal of Nutrition. 2001; 131 (2) (supl. agers. Geneva; II): Who World Health Organization. 20.Dewey KG et al. Iron supplementation Worldwide prevalence of anaemia affects growth and morbidity of breast-fed : WHO global database on infants: results of a randomized trial in anaemia. Geneva; Sweden and Honduras. The Journal of 7.Lima TM. Perfil do aleitamento materno Nutrition. 2002; 132 (11): em crianças menores de 2 anos de idade da 21.Monteiro CA, Benício MHDB. Região Nordeste do Brasil. [dissertação]. Desnutrição infantil nos municípios brasi- Recife (PE): Departamento de Nutrição. leiros: risco de ocorrência. Brasília: Universidade Federal de Pernambuco; UNICEF; SILVA GAP. O uso de chupeta contribui 8.Pollitt E. The developmental and proba- para uma maior ocorrência de enteroparabilistic nature of the functional conse- sitose? Jornal de Pediatria. 1997; 73 quences of iron-deficiency anemia in chil- (1):2-4. dren. Philadelphia. The Journal of 23.Araújo, EC. Adoção de práticas de sexo Nutrition. 2001; 131: mais seguro de jovens do sexo masculino. 9.Benoist B. Iron-deficiency anaemia: reex- [tese]. São Paulo (SP): Doutorado em amining the nature and magnitude of the Enfermagem, Universidade Federal de public health problem. Philadelphia. The São Paulo, Escola Paulista de Medicina; Journal of Nutrition. 2001; 131: L ö n n e r d a l B, D e w e y K G. 24.Coates, V, Sant'Anna, MJ. Gravidez na Epidemiologia e deficiência de ferro no lac- adolescência. In: Françoso LA, Gejer D, tente e na criança. São Paulo. Anais da Reato LFN. Sexualidade e saúde reproduti- Nestlé. 1996; 52: va na adolescência. Rio de Janeiro: 11.Souza SB, Szarfarc SC, Souza JMP. Atheneu; Prática alimentar no primeiro ano de vida, 25.Unicef Fundo das Nações Unidas para em crianças atendidas em centros de saúde a Infância - Pesquisas Estaduais (1987- escola do município de São Paulo. Revista 1992). Saúde e nutrição das crianças de Saúde Pública. 1997; 12: Nordestinas. Recife; Who World Health Organization. 26.Vasconcelos MGL. Perfil do aleitamen- Complementary feeding of young children to materno em crianças de 0 a 24 meses de in developing contries: a review of currents idade no estado de Pernambuco. [dissertascientific knowledge. Geneva; ção]. Recife (PE): Departamento de 13.Giugliani ERJ et al. O alimento mater- Nutrição. Universidade Federal de no na prática clínica. Jornal de Pediatria. Pernambuco; ; 76 (supl. III): Osório MM. Perfil epidemiológico da 14.Lima ACVMS et al. Fatores determi- anemia e fatores associados à hemoglobinantes dos níveis de hemoglobina em cri- na em crianças de 6 a 59 meses de idade no anças aos 12 meses de vida na Zona da Estado de Pernambuco. [tese]. Recife Mata Meridional de Pernambuco. Revista (PE): Departamento de Nutrição. Brasileira de Saúde Materno Infantil. Universidade Federal de Pernambuco; 2004; 4 (1): Devincenzi MU. Anemia ferropriva na 28.Lima TM, Osório MM. Perfil e fatores primeira infância: intervenções com aten- associados ao aleitamento materno em crição primária à saúde em comunidades ca- anças menores de 25 meses da Região rentes. [dissertação]. São Paulo (SP): Nordeste do Brasil. Revista Brasileira de Universidade Federal de São Paulo/EPM; Saúde Materno Infanti. 2003; 3 (3): Assis AM. et al. Distribuição da anemia 16.Neuman NA et al. Prevalência e fatores em pré-escolares do semi-árido da Bahia. de risco para anemia no Sul do Brasil. Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Revista de Saúde Pública. 2000; 34 (1):56- Pública. 1997; 13: Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

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73 Perfil dos usuários e suas demandas em uma unidade de atendimento imediato Profile of the users and its demands in a unit of immediate attendance Meiriele Tavares Araujo, Alexandre Rodrigues Ferreira, Thays Batista da Rocha.RECENF-Revista Técnico-Científica de Enfermagem-2010-v8-n25;( ) Resumo Este estudo teve por objetivo analisar o perfil e as demandas dos usuários de uma Unidade de Atendimento Imediato (UAI) de Betim-MG. Trata-se de um estudo de caso descritivo quantitativo. Os dados foram coletados através das fichas dos usuários dos meses de março e setembro de 2007, escolhidos aleatoriamente 5 dias de cada um dos meses. No total, foram analisadas 978 fichas da especialidade clínica médica, dessas 59% foram de atendimentos a mulheres, com idade média de 40 anos. Dentre o total de usuários 83% faziam parte da área de abrangência dessa unidade, apenas 2% foram encaminhados por Unidades Básicas de Saúde (UBS) e 68% não realizaram exames laboratoriais e de imagem após a consulta. Os diagnósticos mais frequentes foram doenças do aparelho respiratório, seguida de doenças do aparelho osteomuscular, doenças geniturinárias e do aparelho digestório. Quanto ao acesso à unidade, 95% desses usuários vieram por meios próprios, permanecendo a maioria deles mais de 60 minutos na unidade de saúde. Após o atendimento 92% desses receberam alta e apenas 29% foram encaminhados para acompanhamento nas UBS. O preenchimento das fichas de atendimento mostrou-se deficiente, sendo os itens mais negligenciados: profissão, motivo de procura da unidade e o horário de alta. Por esse fato foi impossível assegurar se o usuário tinha ou não necessidade de um atendimento de urgência. Mas percebe-se que os usuários procuraram a UAI com diferentes necessidades, desde queixas simples às mais complexas. No pronto-atendimento estudado foi possível observar a utilização da referência e contrarreferências presentes no município. Descritores: Serviços médicos de emergência, necessidades e demandas de serviços de saúde, atenção secundária a saúde. 178

74 Abstract This study had as an objective to analyze the users' profile and demanding in an Immediate Attendance Unit (IAU) in Betim (MG - Brazil). It is a descriptive quantitative case study. The data were collected through users' files from March to September 2007, randomly chosen five days of each month. Nine hundred seventy-eight clinical medical files were analyzed; of those 59% were of women attendance aged 40 in average. Among the total of users, 83% were part of the working demand of that health unit, only 2% of them were forwarded by basic health units and 68% of them hadn't done laboratorial and image exams after consultation. The most frequent diagnosis was concerning to breath device, the osteomuscular device, the digestive device and genitutary diseases. Concerning the access to the health unit, 95% of the users came by their own means and they stayed more than sixty minutes. After 92% of those went back home and only 29% were forwarded to the IAUs. The files fulfilling were deficient, the most neglected items were: occupation, the reason why and the time of leaving. By that, it was impossible to precise if the user had or not the need of urgency attendance, but it's possible to denote that they come to the IAUs with different needs, from the most simple to the most complex health complaints. At the ER were the study took place, it was possible to observe the use of the reference and against-references that are in the city. Descriptors: Emergency medical services, health services needs and demand, secondary health care. Meiriele Tavares Araujo. Enfermeira. Doutoranda em Enfermagem pela UFMG. Mestre em Enfermagem pela Escola de Enfermagem da UFMG. Especialista em Trauma, Urgência e Terapia Intensiva pela Reanimação/FCMMG. Membro do Núcleo de Pesquisa e Administração em Enfermagem (NUPAE). meirieleta@yahoo.com.br Alexandre Rodrigues Ferreira. Médico. Doutor em Medicina pela UFMG. Mestre em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais. Professor Adjunto da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Instrutor do PHTLS (Pré-Hospital Trauma Life Support). Instrutor do PALS (Pediatric Advanced Life Support). alexfer@uai.com.br. Thays Batista da Rocha Acadêmica do 8º período do curso de Enfermagem da Universidade Federal de Minas Gerais. Bolsista de Iniciação Científica da FAPEMIG. Membro do Núcleo de Pesquisa Administração em Enfermagem (NUPAE). thayslalinha@hotmail.com 179

75 Introdução 180 Meiriele Tavares Araujo, Alexandre Rodrigues Ferreira, Thays Batista da Rocha. O Brasil, nos últimos anos, tem buscado várias estra- tégias para aprimorar a organi- zação do Sistema Único de Saúde (SUS). Principalmente, visando colocar em prática, de forma mais efetiva, os princípi- os da universalização do acesso, a integralidade e equidade na atenção à saúde da população atendida. Devido à proposta de mu- dança no modelo de atenção a sa- úde, com a implantação do SUS, foram necessárias a contratação e abertura de novos serviços com o objetivo de dar maior rapidez, agilidade e reduzir as longas filas que se formavam nas portas das instituições públicas (1). Assim, dentre as estratégias pensadas, encontra-se a expansão dos serviços de urgên- cia/emergência como suporte para diminuir a demanda dos hos- pitais, por meio da criação de U n i d a d e s d e P r o n t o Atendimento (UPA), Serviço de A t e n d i m e n t o M ó v e l d e Urgência (SAMU) e Serviço de Resgate do Corpo de Bombeiros para atendimento às vítimas de urgência e trauma além da abertura de vários centros de atenção básica. A área das urgências foi considerada prioritária, em 2003, sendo publicada a Portaria GM/MS 1863, reco- nhecida como a Política Nacional de Atenção às Urgências, incorporando novos elementos conceituais no atendimento das urgências além da revisão e retomada de outros já bastante difundidos (2). Esses elementos retomados são: a ga- rantia da universalidade, da equi- ção do usuário com o serviço de dade e da integralidade no aten- Atenção Básica e com a equipe dimento, consubstanciar as dire- de saúde de sua área de origem trizes de regionalização da aten- (1). ção às urgências; desenvolver es- Essa situação faz com tratégias promocionais da quali- que esses serviços apresentem aldade de vida e saúde capazes de ta capacidade de produção de prevenir agravos, proteger a vi- consultas médicas e expressem da, educar para a defesa da saú- cada vez mais a fragmentação de e recuperar a saúde, prote- da assistência e as deficiências gendo e desenvolvendo a auto- de interligação entre os vários ní- nomia e a equidade de indivídu- veis de atenção (1). Vale ressal- os e coletividades; fomentar, co- tar que esses serviços de urgênordenar e executar projetos es- cia são cada vez mais onerosos tratégicos de atendimento às ca- para o sistema, e o descompasso tástrofes, integrar o complexo entre as necessidades do usuário regulador do Sistema Único de e a forma de oferta de serviços Saúde implementando e aperfe- gera, frequentemente, conflito içoando permanentemente a pro- entre os usuários e os profissiodução de dados e democratiza- nais em suas portas. Pois, os pro- ção das informações com a pers- fissionais partem do princípio pectiva de usá-las para alimen- de que o usuário procura os sertar estratégias promocionais e viços de urgência para todo o tigerenciais; qualificar a assistên- po de atendimento, ora por descia e promover a capacitação conhecer o que seria urgência continuada das equipes de saúde ora pela baixa resolutividade endo SUS na Atenção às contrada na atenção básica. Urgências (2). Por outro lado, o usuário Assim, apesar do fluxo que procura a UAI tem urgência hierarquizado proposto na es- em resolver seu problema de saútruturação do modelo de atenção de e, não raro, reclama da moroás urgências, não muito claro pa- sidade do atendimento e da má ra os usuários, as Unidades de vontade dos profissionais. Para Atendimento Imediato (UAI), Jacquemot (3), há uma distorção ou seja, os pronto-atendimentos extrema entre a urgência defini- ainda vêm atuando como impor- da e organizada a partir de crité- tante porta de entrada do sistema rios técnicos dos agentes do sisde saúde pública. Essas unida- tema médico, com a urgência tal des servem de acesso aos paci- como ela é concebida pela popuentes que chegam por demanda lação dos usuários, aquela reespontânea e que, em sua maio- presentada e vivida por eles. ria, procuram atendimentos de Segundo Magalhães (4), consultas simples e de cuidados os conceitos de urgência e emerbásicos. No entanto, esses aten- gência são confusos e polêmi- dimentos básicos nos serviços cos. Por outro lado, a definição de urgência descaracterizam a de urgência é complexa e mo- proposta do sistema de saúde, dernamente fala-se em situa- proporcionando pouca vincula- ções clínicas agudas. Logo, a de- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

76 Meiriele Tavares Araujo, Alexandre Rodrigues Ferreira, Thays Batista da Rocha. finição de urgência não é preci- Para Minayo (8), as in- de especialistas (CISMEP), 1 sa, abrindo assim a possibilida- terpretações das doenças estão Banco de Leite Humano e 4 de de interpretações múltiplas dentro de um contexto natural, Hospitais (incluindo uma maque justificariam a subjetivida- sobrenatural, psicossocial e soci- ternidade e um hospital em code da observação dos vários ato- oeconômico. Corroborando gestão com a Fundação res. com essa ideia Jacquemont (3) Hospitalar de Minas Gerais), 1 Assim, a procura aos ser- traz que a percepção da urgência Serviço de Atendimento Móvel viços de saúde ainda pode ser en- não é restrita ao médico e sim (SAMU). Atualmente, a populatendida como um pedido que tra- uma construção contextual em ção atendida em Betim é de 422 duz as demandas do usuário co- que há vários envolvimentos, mil habitantes (9) sendo a popumo necessidades que podem ser não só do doente, mais de todo o lação atendida pelo sistema musatisfeitas por meio da consulta contexto no qual se insere. nicipal de saúde (incluindo popumédica, realização de exames e Nesse sentido, o presen- lações de outros municípios coconsumo de medicamentos. te estudo tem por objetivo anali- mo Sarzedo, Esmeraldas, Entretanto, essas necessidades sar o perfil e as demandas de Martinho Campos) de 1,5 mide cada usuário podem ser ou- usuários de uma UAI de Betim- lhões de habitantes. tras como a busca de respostas MG. O mesmo torna-se relevan- O cenário deste estudo às questões socioeconômicas, às te, pois ao traçar esse perfil e co- será uma das Unidades de más condições de vida, à violên- nhecer as demandas pode-se co- Atendimento Imediato (UAI) de cia, à solidão, à necessidade de laborar para que se tenha subsí- Betim-MG. A escolha do local v í n c u l o c o m u m s e r v i- dios a fim de melhorar a integra- se deu por facilidade de acesso ço/profissional, ou, ainda, o ção desse serviço com os demais ao gerente da unidade e aos cooracesso a alguma tecnologia espe- níveis de atenção à saúde pre- denadores de enfermagem e dos cífica que lhe possa proporcio- sentes no município além da pos- médicos. Essa unidade é refenar alguma qualidade de vida sibilidade de estabelecimento rencia para o atendimento de ur- (5). de novas estratégias de gestão gência para as Unidades Básicas Outro fato, é que esse tanto dos recursos humanos e de Saúde do Alterosas, Bueno usuário reclama que não foi aten- materiais possibilitando, assim, Franco, Dom Bosco, Homero dido no Centro de Saúde, mas na a criação de estratégias para inte- Gil e Icaivera e 13 Equipes de maioria das vezes nem o procu- gralidade das ações em saúde e Saúde da Família. Através do rou tendo o pronto-socorro co- otimização de recursos. consórcio Intermunicipal do mo uma possibilidade concreta Médio Paraopeba (CISMEP) e de acesso à consulta médica. E Metodologia da Programação Pactuada algumas vezes também existe a Trata-se de um estudo de Integrada (PPI), atendendo a poconcepção de que o médico do caso descritivo, com base nos dapronto-atendimento é melhor pulação de Brumadinho, Mário dos presentes na ficha de atendique o do Centro de Saúde. Por Campos e Sarzedo em urgências mento, preenchida em uma encaminhadas. Essa unidade ofe- outro lado, Dave e Isser (6); UAI, que corresponde ao pronrece serviços de Raios-X e ele- Grumbach, Keane e Bindman tuário do usuário nesse serviço. trocardiograma, além de exa- (7) concordam que outra ques- O sistema de saúde munitão a destacar é que os próprios mes laboratoriais e pequenas cicipal de Betim-MG é composto rurgias eletivas previamente profissionais de saúde, sabendo por 4 UAI, 16 Unidades de agendadas, contam com os se- dessa problemática dentro dos Atendimento Básico de Saúde guintes profissionais: clínico geserviços de urgência ainda enca- (UBS) e 14 Unidades de ral, cirurgião geral, pediatra, tecminham seus clientes que, a ri- Atendimento de Saúde Família, nólogo em radiologia, farmagor, não careceriam de um aten- 10 Centros de Especialidades, 1 cêutico, enfermeiro e equipe de dimento em nível terciário ou Unidade consorciada com ounos prontos-socorros. enfermagem, assistente social e tros municípios para consultas auxiliares de análises clínicas Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

77 Meiriele Tavares Araujo, Alexandre Rodrigues Ferreira, Thays Batista da Rocha. (9). Esse serviço atende uma média de 90 pacientes por dia chegando a um total de pacientes por mês. As fichas de atendimento foram separadas, aleatoriamente pormeio de sorteio, sendo referentes a 2 meses do ano de 2007, março e setembro, perfazendo meses sem férias escolares ou dos profissionais da atenção básica e sem ocorrência de greves. Foram sorteados 5 dias de cada um desses meses sendo uma segunda, uma quarta, uma sexta, um sábado e um domingo, totalizando assim 10 dias no ano de 2007 que juntos somaram 1592 atendimentos. Desses foram selecionados 1011 que correspondem aos atendimentos realizados pela Clínica Médica. Foi construído um banco de dados secundário, organizado em porcentagens e analisado de acordo com a literatura, considerando os seguintes parâmetros: dados sóciodemográficos (idade, sexo, profissão, bairro), motivo de procura do serviço, hipótese diagnóstica após atendimento médico e período que ficou em observação na unidade, se realizou exames (laboratoriais ou de imagem) e se após alta foi encaminhado para casa ou para alguma unidade de referência. Os dados só foram coletados após aprovação e liberação do Comitê de Ética da Faculdade de Medicina Ciências Médicas de Minas Gerais, Protocolo nº146/08. Apresentação dos resultados O mês de março de 2007 apresentou um total de 5741 atendimentos dos quais 872 (15,2%) ocorreram nos 5 dias analisados sendo separados apenas as fichas de atendimento para Clínica médica, totalizando 538 atendimentos. Já o mês de setembro de 2007 foram atendidos no total 3951 pessoas sendo separadas 720 (18,2%) referentes aos 5 dias analisados e desses 473 (45,09%) são referen- tes á atendimentos da clínica médica. Foram, en- tão, analisadas um total de 1011 fichas, dessas apenas 978 foram consideradas válidas devido ao pre- enchimento insuficiente, sendo 537 do mês de março e 441 do mês de setembro. A Tabela (1) mostra as características da população estudada. Dos 978 atendimentos realiza- dos, 59% foram do sexo feminino e 41%, do mas- culino. A idade média em setembro foi de 39 anos e em março de 40 anos, ficando a amostra com uma idade média de 40 anos. A tabela (2) discute a utilização do serviço pelas pessoas de sua área de abrangência e de ou- tros lugares sendo possível observar que dessa amostra 83,43%, ou seja, a maioria foram realmen- te usuários determinados pela abrangência, en- quanto apenas 1,73% correspondem a atendimentos de outras cidades. A tabela (3) apresenta as formas de acessos que esses usuários atendidos utilizaram. Dessa amostra 97,34% não foram encaminhados pelas Unidades Básicas de Saúde (UBS), ou seja, são demandas espontâneas que muitas vezes procuram a UAI como porta de entrada no sistema de saúde. Com relação à utilização da atenção préhospitalar (Bombeiros, Samu, etc) apenas 2,25% foram trazidos ao serviço pelo SAMU/Bombeiros, a maioria chegou por meios próprios. 182 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

78 Meiriele Tavares Araujo, Alexandre Rodrigues Ferreira, Thays Batista da Rocha. A tabela (4) apresenta um apanhado dos diagnósticos realizados após as consultas médicas nessa unidade, não foi possível avaliar pelo nível de preenchimento das fichas quais os casos seriam considerados urgentes, ou seja, aqueles que realmente deveriam ser atendidos nessa unidade. As doenças do aparelho respiratório foram o diagnóstico mais expressivo dessa amostra correspondendo á 21,16%, logo após com 9,92% vêm as doenças do sistema osteomuscular e do tecido conjuntivo e em terceiro lugar estão as doenças do aparelho geniturinário com 8,9% e próximo disso com 8,18% as doenças do aparelho digestivo. É importante ressaltar que no montante de fichas consultadas, 8,59% não tinham o diagnóstico relatado e 7,67% estavam ilegíveis, esses valores são representativos e demonstram perda de informações importantes para a continuidade do tratamento caso seja necessário recorrer a essas fichas novamente quando houver retorno do paciente a esse serviço. A tabela (5) demonstra a propedêutica adotada após a consulta. Apenas 31,18% dos consultados realizaram algum exame, sendo esse de imagem ou laboratorial. Quanto ao tempo de permanência, mesmo com a precariedade de preenchimento da ficha foi possível observar que 16,67% dos usuários permaneceram entre 60 minutos e 240 minutos dentro da unidade, contabilizando desde o horário do preenchimento da ficha até a alta. Com relação à alta, a grande maioria, 92,74% dos usuários, foram encaminhados para casa e apenas 29% re- ferenciadas para UBS para continuar algum trata- mento. Discussão dos resultados Uma análise primária das fichas permitiu observar que o preenchimento das mesmas foi falho e incompleto, seja por parte dos profissionais da recepção seja pela equipe de saúde. Os dados de identificação, principalmente, ocupação e motivo da consulta ficaram em branco respectivamente em 100% e 37,21% das 978 fichas, tornando inviável uma analise mais aprofundada desses dados. As fichas sem o motivo da consulta, que deveria ter sido anotado na recepção, nos permitem inferir que esses usuários possam estar recebendo Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

79 Meiriele Tavares Araujo, Alexandre Rodrigues Ferreira, Thays Batista da Rocha. uma primeira escuta de seus pro- viço funcionar 24 horas ininter- necessidades daquele momento. blemas negligenciada, ou seja, ruptas, o horário de atendimento Pelos relatos da fichas apenas um acolhimento ineficiente que não pode ser entendido como fa- nas situações em que se fazia nepode atrapalhar o bom direcio- tor dificultador do acesso da po- cessária a continuidade do atennamento do atendimento. Uma pulação masculina adulta, como dimento, os pacientes eram encaquantidade significativa das fi- ocorre nos serviços de atenção minhados para os serviços de chas ainda não possuía o horário básica. atenção básica. de saída registrado, situação que O acesso a esse serviço Ainda com relação asse agrava mais nos casos em que traz dados que entram em con- sistência prestada apenas o usuário ficou em observação cordância com outros estudos co- 31,18% do consultados realizapor mais de 24hs na Instituição o mo o de Rocha (1), foi possível ram algum exame na unidade que impossibilitou calcular a ta- observar que os usuários che- sendo laboratorial ou de imaxa de ocupação dos leitos, sendo gam, em sua maioria, por meios gem, porcentagem essa diferenpossível apenas uma avaliação próprios e são provenientes dos te da presente no senso comum do tempo de permanência na uni- bairros da área de abrangência desses usuários. No imaginário dade. os quais a unidade é realmente do senso comum presente no es- Em um estudo seme- responsável. Apenas 2% da tudo de Rocha (1), os usuários relhante de Carvalho et al (10), so- amostra foram encaminhados latavam que o atendimento na bre o tipo de preenchimento das pela Atenção Básica de Saúde. unidade de urgência, era bom, fichas de atendimento foi evi- Assim, acredita-se que pois além de viabilizar a consuldenciado que o registro mais fre- as pessoas que recorrem a esse ta médica no mesmo dia, ainda quentemente encontrado na fi- serviço de pronto-atendimento podia proporcionar maior resocha de consulta médica foi o da apresentam razões diversas co- lutividade, pois ele poderia sair conduta médica adotada, pre- mo: problemas de saúde, fácil com os seus problemas pesquisente em cerca de 85% das fi- acessibilidade, funcionamento sados por meio de exames de chas, os demais registros como durante 24 horas, impossibilida- RX, laboratório e outros. o da queixa e/ou história da doen- de de recorrer aos serviços ambu- Salla et al (16), enconça foi menor; em média, apenas latoriais e também por se encon- traram 60,6% de atendimentos 67% apresentavam tal dado e trarem angustiadas e apreensi- nos pronto-atendimentos caracem apenas 38% houve registro vas com sua situação atual (15). terizados como não sendo de urde exame físico. Para alguns autores, a presença gência ou emergência, resulta- A amostra foi predomi- de grande número de usuários dos aproximados, 74,5%, foram nantemente feminina o que já nos serviços de emergência de achados por Furtado et al (15), era esperado. Outros estu- "causas comuns", denominados em estudo semelhante. Esses redos(1,11,12,13,14), demons- inadequados, com queixas típi- sultados demonstraram que os tram uma predominância do gê- cas de serviços de atenção pri- prontos socorros eram utilizanero feminino para as consultas mária de saúde, caracteriza um dos como uma "válvula de escade clínica médica nos pronto- uso abusivo desses serviços por pe" dos serviços de saúde, prejuatendimentos. Esses trabalhos parte da população (15). dicando o atendimento dos catambém discutem a causa dessa Um número significati- sos considerados adequados. No predominância sendo devido à vo de pacientes passou pela con- presente estudo não foi possível menor inserção da mulher no sulta e foram liberados ao domi- fazer uma analise aprofundada mercado formal de trabalho, cílio. Esses pacientes tinham dos casos a ponto de calcular com maior disponibilidade de queixas agudas que foram trata- quais seriam indicados para a tempo, além de uma possível das pontualmente. Nesses casos UAI e quais seriam para a percepção diferenciada do seu o serviço tinha condições e capa- Atenção Básica devido a qualiprocesso saúde-doença. Por ou- cidade de atendê-las sendo os cu- dade do preenchimento das fitro lado, devido ao fato desse ser- idados prestados e resolvidas às chas de atendimento analisadas. 184 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

80 Meiriele Tavares Araujo, Alexandre Rodrigues Ferreira, Thays Batista da Rocha. Mas por meio da organi- mento mostrou-se deficiente, pecialidades e os hospitais, utilização dos diagnósticos por capí- sendo os itens mais negligencia- zando assim as possibilidades tulos do CID 10 foi possível infe- dos: a profissão, o motivo de pro- de referência e contrarreferênrir que alguns diagnósticos não cura da unidade e o horário de al- cia do município. se aplicam ao atendimento de ta. Os diagnósticos mais repre- Assim sendo, o serviço unidades de pronto atendimento sentativos foram os das doenças atendia às necessidades dessa pocomo gravidez, doenças infec- do aparelho respiratório, as do- pulação mesmo para as queixas toparasitárias e neoplasias. enças do sistema osteomuscular eletivas e complementares com Considerando que na época des- e do tecido conjuntivo seguidas ações iniciadas em outros níveis ses atendimentos a dengue ainda das doenças do aparelho genitu- de atendimento uma vez que o não tinha um papel tão expressi- rinário e do aparelho digestivo. usuário fez uma busca espontâvo dentro da categoria das doen- Os usuários procuraram nea desse atendimento. O comças infectoparasitárias presente a UAI com diferentes necessida- promisso com a cura fica exnos pronto-atendimentos. des, desde queixas simples às presso no limite da expectativa O excesso de demanda mais complexas, de acordo com deste usuário, geralmente ponconsiderada desviada acarreta o que estão sentindo no momen- tual e momentânea, deixando acúmulo de tarefas e consequen- to e o que consideram como ur- apenas para os gestores e profiste sobrecarga para toda a equipe gência e emergência. Esses bus- sionais de saúde o ideal de prede profissionais dos prontos so- cam o pronto atendimento para venção e promoção de saúde. corros, contribuindo também pa- resolução de necessidades agura o aumento dos custos hospita- das ou não, mas que, no momen- Referências lares. Esse fato também aponta to, lhe trazem dificuldades e des- 1. Rocha, AFS. Determinantes da Procura para a ineficácia do Sistema de conforto. Porém, essas questões de Atendimento de Urgência Pelos Usuários nas Unidades de Pronto Saúde, incapaz de oferecer a es- de diferença conceitual dos ter- Atendimento da Secretaria Municipal de ses indivíduos um acesso mais mos urgência e emergência en- Saúde de Belo Horizonte. [Dissertação de fácil à rede de atenção primária, tre usuários e profissionais de sa- Mestrado]. Belo Horizonte: Escola de Enfermagem da UFMG; encaminhando-os aos serviços úde, ainda são pouco compreen- 2. Brasil. Ministério da Saúde. Política de urgência e emergência didas pelos trabalhadores de Nacional de Atenção às Urgências. 3a ed. (15,16). De acordo com Cecílio Urgência e Emergência, os qua- Brasília: Editora do Ministério da Saúde; (5), a população procura acessar is esperam trabalhar apenas com 3. Jacquemot, GA. Urgências e o sistema onde é possível, con- casos considerados graves pela Emergências em Saúde: Perspectivas de trariando a lógica racionalista na sua lógica biomédica de atendi- Profissionais e Usuários. Rio de Janeiro: Editora Fiocruz; qual os técnicos do setor saúde mento. Essa discussão está pre- 4. Magalhães, HM. Urgência e continuam a defender a rede de sente na grande maioria da lite- Emergência: A participação do município. serviços em forma de pirâmide, ratura nacional e internacional a In: REIS, A. T. Sistema Único de Saúde de Belo Horizonte: reescrevendo o público. visando que suas necessidades respeito da utilização das urgên- São Paulo: Xamã, Parte III: sejam atendidas. cias como porta de entrada nos 5. Cecílio, LCO. As necessidades de saúde serviços de saúde. como conceito estruturante na luta pela inte- gralidade e equidade na atenção em saúde. A unidade demonstrou In: Pinheiro R, Mattos RA, organizadores. Conclusão estar de portas abertas para as de- Os sentidos da integralidade na atenção e O perfil dos usuários que mandas que lhes chegasse e que no cuidado à saúde. Rio de Janeiro: UERJ, IMS: ABRASCO; procuraram a UAI foi, predomi- respondia, dentro de seus limi- 6. Dave, B; Isser, D. Primary care physinantemente, do gênero femini- tes, a sua finalidade de atender à cian and patient factors that result in patients seeking emergency care in a no, com média de idade de 40 queixa principal. Ainda foi pos- Hospital Setting: The patient's perspective. anos, provenientes do domicí- sível inferir a presença de um The Journal of Emergency Medicine (onlio, sendo a maioria da região de vínculo com os serviços de saú- line).1999; 17(3): Disponível em: abrangência da UAI. O preen- de, em diferentes níveis, tanto d e s c r i p t i o n. c w s _ h o- chimento das fichas de atendi- na atenção básica, quanto nas es- me/525473/description#description Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

81 Meiriele Tavares Araujo, Alexandre Rodrigues Ferreira, Thays Batista da Rocha. 7. Grumbach, K; Keane, D; Bindman, A. Primary care and public emergency department overcrowding. American Journal of Public Health (online). 1993; 83(3): D i s p o n í v e l e m : 8. Minayo, MCS. Saúde-doença: uma concepção popular da etiologia. Cad. Saúde Pública. 1988; 4 (4): Dados Sistema de Informação em Saúde (SIA-SUS). Secretaria Municipal de Betim-MG Carvalho, MS et al. Demanda ambulatorial em três serviços da rede pública do município do Rio de Janeiro, Brasil. Cad. Saúde Pública. 1994; 10(1): 17-29, jan/mar. 11. Benitez, G; Monzó, L. Morbilidad en consultas ambulatoriales del Policlínico de la Comunidad Belkys Sotomayor, Año Rev. cuba. Salud pública. 1985: Delozier, JE; Gagnon, RO. National Ambulatory Medical Care Survey: 1989 Summary, Advance Data from Vital and Health Statistics of the National Center for Health Statistics. Washington DC: National Center for Health Statistics Tanaka, OY; Rosenburg, CP. Análise da utilização pela clientela de uma unidade ambulatorial da Secretaria da Saúde do Município de São Paulo, SP (Brasil). Rev. Saude Publica 1990; 24: Yazzle-Rocha, JS; Nogueira, JL. Padrões de morbidade em assistência primária na região de Ribeirão Preto, SP (Brasil). Rev. Saúde Publica 1985; 19: Furtado, BMASM; Araujo, JRJLC; Cavalcanti, P. O perfil da emergência do Hospital da Restauração: uma análise dos possíveis impactos após a municipalização dos serviços de saúde. Rev. bras. epidemiol. 2004; 7(3): Salla, J; Chellar, ML; Ilha, MS; Frandoloso, PR. Perfil da demanda de um serviço de Pronto Socorro, Santa Maria, RS. Saúde 1989; 15(1/2): Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

82 A contribuição do acolhimento com a classificação de risco nos serviços de urgência para organização e gerenciamento The contribution of the shelter with the risk classification in the urgency services for organization and management Nelise Maria Nascimento, Eduardo Augusto dos Santos Moreira Silva, Daniela Carla Medeiros Silva. RECENF-Revista Técnico- Científica de Enfermagem-2010-v8-n25; ( ). Resumo Este estudo tem como objetivo ressaltar como o processo de classificação em um serviço de urgência pode ajudar na sua organização e gerenciamento. Esperou-se mostrar a real importância do acolhimento e classificação de risco no gerenciamento e organização dos serviços de urgência, bem como a falta de informação dos usuários leva a superlotação dos mesmos. Trata-se de um artigo de revisão bibliográfica, em que foram utilizados sites, livros, artigos científicos e manuais do Ministério da Saúde para elaboração do mesmo, sendo analisadas publicações nas áreas médica e de enfermagem que abordaram o tema triagem classificatória de risco. Foi realizada uma busca de artigos científicos através do banco de dados da Biblioteca Virtual de Saúde (BVS), utilizandose dos descritores: triagem, emergências, serviços médicos de emergência e acolhimento. A partir dessa experiência foi possível alcançar novas informações sobre o assunto, em que foi notável a importância do acolhimento e classificação de risco para a organização e diminuição da demanda nos serviços de urgência. Descritores: Acolhimento, emergências, triagem, serviços médicos de emergência. Abstract This study aims to understand how the process of classification in an urgency service can help in its organization and management. We expected to show the real importance of the shelter and classification of risk in the management and organization in the urgency services, as well as the lack of information of the users leads to overcrowding the urgency services. We made bibliographical revision, where sites, books, scientific and manual articles of the Brazilian Health Department had been used, being analyzed publications in the medical and nursing areas which approached the subject classification of risk. A scientific article search was carried through in the data base of the Virtual Library of Health (BVS), using the describers: triage, emergencies, emergency medical services and user embracement. This work allowed to get new information on the subject, where there was notable the importance of the shelter and risk classification for the organization and reduction of the demand in the urgency services. Descriptors: User embracement, triage, emergencies, emergency medical services. Nelise Maria Nascimento. Enfermeira (Unilavras). Especializanda em Enfermagem em Urgência, Emergência e Trauma (PUC- MG). RT da Unid. Básica de Saúde de Monte Sião MG. Eduardo Augusto dos Santos Moreira Silva. Doutorando em Bioquímica e Imunologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais. Centro de Pesquisas René Rachou (Fiocruz). duduaugusto1@yahoo.com.br Daniela Carla Medeiros Silva. Doutoranda em Bioquímica e Imunologia, Instituto de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Minas Gerais. Centro de Pesquisas René Rachou (Fiocruz). daninhamed@yahoo.com.br 187

83 1) Introdução 188 Nelise Maria Nascimento, Eduardo Augusto dos Santos Moreira Silva, Daniela Carla Medeiros Silva. O tema acolhimento com classificação de risco tem despertado bastante interesse entre os enfermeiros, pois além de se tratar de um assunto relativamente novo, é ainda bastante desconhecido pela população usuária e até mesmo pelos profissionais de saúde, dentre eles o enfermeiro. A superlotação dos serviços dos serviços de urgência e emergência representa grave problema do sistema de saúde e a demanda espontânea dos pacientes com doenças simples am- plifica exageradamente o núme- ro de atendimento nessas unidades (1). Os serviços de pronto atendimento, sejam eles públicos ou privados, devem ser estruturados para prestar um atendimento em situações de urgência e emergência, devendo ga- rantir todas as maneiras de sus- tentação da vida, tendo condições de dar continuidade a assistência no local ou em outro nível de atendimento (2). Para que a assistência seja prestada de forma integral, é necessário que haja vários re- cursos técnicos, pessoal qualificado, e espaço físico mínimo para a prestação de uma assistência. A situação encontrada hoje nos prontos socorros é caó- tica, principalmente pela super- lotação dos mesmos, sendo vári- os os outros fatores contribuin- tes para essa situação (2). Um de- les é a falta de recursos encontrados nos serviços de atenção básica, resultando assim na grande procura pelos serviços de urgência, pois ao contrário das uni- dades hospitalares, o pronto so- de saúde. Os determinantes de corro, não delimita a entrada de sua utilização podem ser descripacientes, trabalha com leitos ex- tos como fatores relacionados à tras (macas), número fixo de fun- necessidade de saúde, aos usuácionários e área física restrita. A rios, aos prestadores de servi- somatória desses fatores resulta ços, a organização e a política. O em um ambiente de trabalho es- conceito de uso compreende to- tressante e difícil. do contato direto ou indireto Pode-se dizer que os ser- com os serviços, devendo ser leviços de urgência e emergência vado em conta o resultado da in- constituem um grave problema teração do comportamento do in- de saúde pública no Brasil, onde divíduo que procura cuidados e há descaso governamental, onde também o comportamento indi- as dificuldades de cada serviço vidual, ou seja, de acordo com precisam ser solucionadas den- suas necessidades e situações de tro de cada um deles, de acordo vida que o levam a elaborar escom cada realidade, pois, esse, tratégias de enfrentamento de secotidiano caótico pode gerar us problemas cotidianos (4). grandes frustrações para o paci- Associar o individual e o ente e toda a equipe de saúde. coletivo na compreensão do pro- Assim, vêm sendo implantados cesso de utilização dos serviços protocolos universais de atendi- é um desafio, pois as organizamento (2). ções devem responder as de- Contudo, a principal ca- mandas populacionais. Por isso, racterística para o conhecimen- um fator importante para o plato da real gravidade dos usuários nejamento e a organização dos que vão a um serviço de emer- serviços de urgência, é conhecer gência é seu potencial para esta- o perfil socioeconômico e demobelecer um tratamento precoce gráfico dos usuários e a mobili- aos mesmos, distinguindo não zação existente na utilização dos apenas suas particularidades, serviços de saúde (4). mas também permitindo uma vi- Tendo em vista o expos- são individualizada de cada paci- to acima, vê-se a importância ente. dos profissionais e diretores dos A falta de recursos huma- serviços de urgência conhecer o nos e infraestrutura fazem cair à tipo de população que irão atenqualidade do atendimento. Os der, em todos os perfis, conse- profissionais trabalham insegu- guindo assim, obter uma maior ros e, grande parte das vezes, resolutividade do atendimento e sob pressão, passando por situa- consequentemente, uma maior ções difíceis, as quais precisam satisfação dos usuários. escolher que paciente será aten- Alguns autores relatam dido primeiro, qual de tantos que a demanda aos serviços de que está na fila poderá suportar a saúde pode ser entendida como dor um pouco mais (3). um pedido explícito que expres- A utilização dos servi- sa todas as necessidades do usuáços de saúde representa o centro rio, podendo se efetivar por medo funcionamento dos sistemas io de consulta, exames, medica- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

84 Nelise Maria Nascimento, Eduardo Augusto dos Santos Moreira Silva, Daniela Carla Medeiros Silva. mentos, realização de procedimentos, sendo essa a forma como os serviços se organizam. Em toda situação de atendimento prestado por profissionais de saúde, o acolhimento deve estar presente, atendendo a todos, ouvindo-os e assumindo uma postura capaz de dar respostas adequadas aos usuários, utilizando os recursos disponíveis para a resolução de problemas. Devem ser estabelecidas articulações com outros serviços, para obter continuidade da assistência, ga- rantindo a eficácia do atendimento (5). Em função do exposto acima, pode-se observar que os serviços de urgência e emergência encontram-se sempre superlotados, com poucos recursos disponíveis e com ausência de uma boa articulação com os serviços de atenção primária. O desenvolvimento desse trabalho justifica-se uma vez que existe uma escassez de trabalhos científicos acerca do pro- cesso de acolhimento com clas- sificação de risco e por se tratar de um assunto de destaque quan- do consideramos o processo de reestruturação dos serviços de urgência e emergência proposta pelo Ministério da Saúde. Assim pretende-se, com esse estudo, ressaltar a importância do aco- lhimento com a classificação de risco na reestruturação e organização dos serviços de urgência. Dessa forma, o presente estudo tem como objetivo delinear como o processo de acolhimento com classificação de risco pode contribuir para a organi- zação dos serviços de urgência e emergência. 2) Metodologia a definição dos artigos a serem Trata-se de um artigo de utilizados procedeu-se à leitura revisão bibliográfica, onde fodos mesmos, identificando conram utilizados sites, livros, arti- ceitos e temas relevantes à cons- gos científicos e manuais do trução deste estudo. Ministério da Saúde para elabo- ração do mesmo, sendo analisa- 3) Desenvolvimento das publicações nas áreas médicas e de enfermagem que abor- 3.1) Acolhimento com classifi- daram o tema triagem classifica- tória de risco. cação de risco Para confecção do arti- go, foi realizada uma busca de artigos científicos, através do ban ) O conceito de acolhimenco de dados da Biblioteca to Virtual de Saúde (BVS), utili- Acolhimento é uma ma- zando-se os descritores: neira de operar os processos de Acolhimento, Emergências, trabalho em saúde, para satisfa- Triagem, Serviços Médicos de zer os usuários que chegam até a Emergência. Inicialmente, os esse serviço, procurando atendescritores foram utilizados indi- der, escutando e oferecendo res- vidualmente, resultando num postas as pessoas. Implica em grande número de artigos. um atendimento com resolutivi- Dessa forma, utilizou-se a estra- dade, encaminhando os pacien- tégia de combinação dos descri- tes, para continuidade da assistores para uma seleção mais es- tência, quando for o caso, e man- pecífica dos artigos a serem uti- tendo sempre a comunicação lizados. Além disso, foram utili- com os outros serviços, para gazados como limites de busca: ar- rantir um bom atendimento aos tigos publicados no período de usuários (7) a 2009 e pesquisas realiza- De acordo com outros audas com seres humanos. Esse pe- tores, o principal objetivo do ríodo de publicação foi selecio- acolhimento é selecionar entre nado, pois data de 1993 a prime- os pacientes a serem atendidos ira tentativa de implantação de de acordo com a prioridade de um protocolo canadense de ava- gravidade, ressalta ainda, que liação e classificação de risco não tem a finalidade de rejeitar em um hospital brasileiro (6). ou excluir um usuário, mas sim, Após a busca dos arti- organizar o fluxo de usuários, segos, foi realizada a seleção dos lecionando os meios mais ade- artigos de interesse para que fos- quados para o diagnóstico e trase realizada a leitura na íntegra tamento do problema de saúde dos mesmos. Os artigos foram apresentado. Tem como objetiselecionados, inicialmente, pela vos principais, identificar as conleitura dos títulos e resumos, sen- dições de ameaça a vida e de urdo excluídos aqueles cujo resu- gência, garantir o local mais mo não apresentava relação com apropriado aos usuários que che- a temática deste trabalho. Após Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

85 3.1.2) Fluxo dos usuários no ser- gam ao serviço de urgência, pres- pelo seu problema de saúde ontar esclarecimentos a pacientes e de encontra as portas abertas. familiares e oferecer informa- viço de urgência A população procura o ções que ajudem a definir o ní- Vários são os fatores que serviço de urgência não somente vel de acuidade do serviço (2). contribuíram para o aumento da para casos agudos, mas também O acolhimento, que ante- utilização dos serviços de ur- em casos eletivos, complemengência, o que levou os serviços a tando a ação dos serviços das riormente era conhecido como triagem é um meio de organizar criarem uma maneira de selecio- Unidades Básicas de Saúde o atendimento nos serviços de ur- nar os atendimentos nesses ser- ( U B S ) e d a s U n i d a d e s gência, pois prioriza os atendi- viços. Há algum tempo os servi- Especializadas. Apesar de semços de urgência representam im- pre lotados e atendendo somente mentos do serviço de acordo com a gravidade de cada caso. portante porta de entrada nos ser- a queixa principal, os serviços De acordo com Abbês e viços de saúde o que gera pro- de urgência possuem recursos, Massaro (7), o acolhimento na blemas de demanda, consequen- como remédios, exames, contemente podendo gerar diminui- sultas e internações, enquanto as área de saúde, tem sido visto como uma recepção administrati- ção na qualidade do atendimen- unidades de atenção básica ofeto (2). recem, geralmente, apenas a con- va e ambiente confortável ou em momentos como uma ação de tri- Os serviços de emergên- sulta médica (2). agem administrativa e encami- cia, sempre superlotados, são fo- A regionalização e a hiecos de problemas, por não con- rarquização, por si só, não ganhamentos. Sendo importante que as duas ações devam ser fei- seguirem oferecer uma qualida- rantem a diminuição do fluxo tas juntas, obtendo um vínculo e de ideal no atendimento aos dos usuários aos níveis de maior prestando um serviço com res- usuários. E seu principal papel é complexidade. É esperado que ponsabilização, vendo o pacien- avaliar e manejar pacientes doen- os usuários além de serem acotes e com mal-estar nas primei- lhidos no nível primário, tamte não como uma doença, mas sim como um todo, obtendo ras etapas da crise e sua maior ên- bém recebam atenção resolutifase deve ser na identificação e va, ou seja, a resolubilidade das uma visão holística. A implantação e imple- tratamento de manifestações de unidades básicas e secundárias mentação do acolhimento com doenças que precedam ações de de saúde é condição fundamentratamento intensivo (9). tal para evitar a maioria dos enca- avaliação e classificação de risco nas unidades de pronto aten- A procura por serviços minhamentos desnecessários dimento são de grande relevân- de saúde pelo usuário, depende aos centros de complexidade terde como esse está organizado. ciária e, particularmente, aos cia no contexto atual do atendimento de urgência e emergência Sendo influentes a urgência do hospitais de maior porte, permiproblema, tecnologia, resoluti- tindo que seus leitos sejam ocutendo em vista o aumento do número de acidentes de trânsito, da vidade da atenção, o acolhimen- pados por usuários que realmento, condições de acesso, agilida- te deles necessitam (3). violência urbana e do aumento da demanda por atendimento de do atendimento, destreza na nos serviços de urgência e emer- realização de serviço, como mar ) Papel do enfermeiro no gência. Aliado a isso, está a insuacolhimento e classificação de cação de exames e o vínculo cria- ficiente estruturação da rede as- do entre usuários e profissionais sistencial que tem contribuído (2). risco decisivamente para a sobrecarga A baixa qualidade e reso- O enfermeiro é o profislutividade apresentadas nos serdos serviços de Urgência e sional preparado para exercer tal Emergência disponibilizados pa- viços de saúde, acompanhada da função, sendo esse respaldado ra o atendimento da população dificuldade de mudanças de há- pela lei do exercício profissiobitos e crenças da população, le- (8). nal. A consulta de enfermagem e va o usuário a procurar a solução a prescrição de medicamentos 190 Nelise Maria Nascimento, Eduardo Augusto dos Santos Moreira Silva, Daniela Carla Medeiros Silva. Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

86 Nelise Maria Nascimento, Eduardo Augusto dos Santos Moreira Silva, Daniela Carla Medeiros Silva. protocolados em alguns servi- profissional escolhido para assu- Gerdtz e Bucknall (14), ços, fazem parte da triagem (2). mir os serviços que utilizam o afirmam que as escalas de clas- O enfermeiro além de re- protocolo de acolhimento com sificação são instrumentos que alizar uma classificação de ma- avaliação e classificação de ris- favorecem o enfermeiro da clasneira correta, deve reavaliar o pa- co, gerando inúmeros questio- sificação organizar as informaciente constantemente, explicar namentos em relação à falta de ções, determinando o nível de os motivos da demora do atendi- autonomia do enfermeiro para prioridade. As primeiras escalas mento e estabelecer uma relação solicitação de exames e inter- criadas foram de forma ordinais, profissional adequada entre pro- pretação dos mesmos, e relati- inicialmente de três níveis, posfissional cliente e profissio- vos à capacitação dos mesmos teriormente foram desenvolvinal familiares, evitando assim, para exercer tal função, tendo das escalas de cinco níveis, obinterpretações errôneas (10). em vista que atualmente existe, tendo maior concordância e re- É papel do enfermeiro geralmente, em nível de capaci- sultando em uma classificação no acolhimento com a classifi- tação, apenas treinamento em mais precisa de acordo com as cação de risco, não só avaliar os serviço. condições clínicas de cada pacipacientes do serviço, organizan- Outro problema diz respeito à ente. do o atendimento, pela ordem de inexistência de disciplinas que As escalas de classificagravidade dos mesmos, como tratem a temática em questão ção, ou triagem, como são cotambém estabelecer um vínculo com a profundidade merecida nhecidas, são grandes aliadas na entre pacientes e seus familia- nos currículos de graduação em prestação da assistência de enres, orientando, esclarecendo su- enfermagem e pós-graduação fermagem nos serviços de uras dúvidas, procurando atender em áreas de urgência, emergên- gência e emergência, mas para da melhor forma possível a de- cia e trauma (12). que seja utilizada de forma cormanda de cada um, encami- reta, é necessária que haja treinhando-os ao setor correto den ) Recursos necessários patro do próprio serviço ou a ou- fermeiros que trabalham no se- namento dos profissionais entros serviços como UBSs ou ra a realização do acolhimento tor de classificação e acolhi- PSFs, quando for o caso. Existe uma grande difi- mento aos pacientes, como tamculdade de estabelecer critérios bém, a documentação do atendi- O acolhimento com a classificação de risco, é um cam- objetivos na classificação, re- mento, discussão dos casos, exsultando assim, em opiniões di- periência profissional e principo novo e constitui uma nova área de atuação para o profissio- ferentes entre os profissionais palmente, empatia por parte do nal enfermeiro. Permite melho- no que diz respeito a gravidade profissional. rar o gerenciamento do serviço, do paciente, havendo necessida- Alguns autores acredide de protocolos de atendimento tam que o primeiro ponto ao se pois contribui com a garantia do acesso ao paciente, diminuindo estruturados e próprios para a implementar um serviço de clasclassificação (13). sificação, é que esteja compatí- o tempo de espera, riscos e ocorrências iatrogênicas e, princi- Procurando a uniformi- vel com a realidade da região, palmente melhorando a qualida- dade do atendimento e a utiliza- atendendo as necessidades da poção de instrumentos que permi- pulação usuária do serviço. O de do atendimento (11). No entanto, devemos tam uma classificação mais cor- treinamento dos enfermeiros dereta quanto a gravidade dos sin- ve garantir padronização de conconsiderar também os questionamentos que surgem em rela- tomas, foi criado as escalas de dutas, otimização do tempo gasacolhimento com a classifica- to na avaliação dos pacientes e ção à atuação do enfermeiro no processo de acolhimento com ção de risco. É importante que, tomada de decisão rápida, com classificação de risco. De acor- os serviços possuam instrumen- qualidade e com o menor risco do com Medeiros-Silva et al. tos para uma avaliação rápida e para o paciente (2). (12), o enfermeiro tem sido o com baixos índices de erro. É importante considerar Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

87 Nelise Maria Nascimento, Eduardo Augusto dos Santos Moreira Silva, Daniela Carla Medeiros Silva. alguns pontos para a realização nal, consequentemente, alcan- e função. São empreendimentos da classificação, como o regis- çando a qualidade dos serviços. que exigem grandes investitro de dados importantes nos A humanização, principalmen- mentos na construção, na comprontuários de cada paciente. A te, nos serviços de urgência, en- pra de equipamentos e, princiclassificação deve ser realizada contra-se precária, pois recebem palmente, na manutenção dos em um ambiente próximo a en- um grande número de pacientes, custos operacionais. Os estabetrada do serviço de urgência, po- com variados casos e gravidade, lecimentos de saúde do futuro, rém, que ofereça privacidade pa- levando assim a uma sobrecarga além da viabilidade econômicora o paciente e o enfermeiro. É dos trabalhadores do serviço, re- financeira, devem atender aos reessencial que haja uma boa co- sultando em um atendimento de quisitos de: expansibilidade, flemunicação do enfermeiro e prin- pouca qualidade. xibilidade, segurança, eficiêncipalmente, empatia e compro- O Acolhimento com cia e, sobretudo, humanização. metimento desse profissional, Classificação de Risco é um dis- Nesse ponto, o conforto ambipara o bom funcionamento e sa- positivo que opera concreta- ental aparece como forte aliado tisfação dos usuários do serviço. mente os princípios da Política nos processos de cura de paciende Humanização, que tem como tes. meta implantar um modelo de Uma pessoa está confor ) Humanização no serviço atenção com responsabilização tável em um ambiente quando se de urgência e vínculo, ampliando o acesso sente em neutralidade em rela- A modernidade auxilia do usuário ao SUS, implantando ção a ele. No caso dos edifícios nos processos de diagnósticos e um acolhimento responsável e hospitalares, a arquitetura pode tratamentos, porém isso faz com resolutivo, baseado em critérios ser um instrumento terapêutico que o trabalho das equipes se torfísico do paciente com a criação de risco (15). caso contribua para o bem-estar nem mecânicos, distanciandode espaços que, além de acomas do fator humano. Com isso ) Humanização da área vê-se a diminuição ou até mes- panharem os avanços da tecno- física mo a exclusão do sujeito de for- logia, desenvolvam condições ma psicológica e social, esqueal (2), qualquer estrutura hospi- Miquelin (18) lembra De acordo com Calil et de convívio mais humanas (17). cendo seus valores, cultura e emoções (2). talar deve ter o olhar voltado à que o desconforto ambiental nos As propostas de humanas áreas onde há o acolhimento um problema a mais nesses espa- humanização, principalmente serviços de saúde não pode ser nização dos serviços de saúde ledos pacientes, ou seja, a porta de ços, construídos para, muitas vevam a refletir sobre o tipo de atendimento prestado nesses sersegurança e conforto, tornando atendimento associadas a paci- entrada. É necessário que haja zes, situações estressantes de viços, profissionais apesar de huum ambiente agradável, não ex- entes com risco de vida ou sofrimanos, prestam cuidados de forpondo os usuários do serviço. A mento profundo. ma desumana ou pouco humanifalta de privacidade, o descon- A humanização do ambizadas. Um grande contribuinte para um serviço desumano, é a forto são queixas comuns en- ente físico de saúde ao mesmo falta de recursos físicos, humaviço, principalmente, de urgên- processo terapêutico do pacien- contradas pelos pacientes do ser- tempo em que colabora com o nos, mas principalmente o baixo investimento na qualificação de cia. te, contribui para a qualidade profissionais (2). Para Martins (16), os es- dos serviços de saúde prestados A equipe multidisciplisaúde, bem como os serviços de A natureza transversal dessa po- tabelecimentos assistenciais de pelos profissionais envolvidos. nar deve estar envolvida, desenurgência, são empresas comple- lítica envolve todos os atores e volvendo ações, cada um em sua área de competência, obtendo xas, abrigando diversos setores, pode ser colocada em prática de um bom desempenho profissiocada um com sua especificidade imediato, porque exige apenas 192 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

88 Nelise Maria Nascimento, Eduardo Augusto dos Santos Moreira Silva, Daniela Carla Medeiros Silva. decisão de mudar a forma de ver mento entre esses leva a uma ma- manda e a equipe não deve soo outro (16). ior motivação e comprometi- mente resolver tudo, mas tudo Os usuários dos serviços mento (2). de maneira correta. de saúde devem se sentir segu- O atendimento na emer- Donabedian (20) definiu ros, à vontade, na hora do aten- gência envolve dados subjeti- qualidade como uma propriedadimento, obtendo um atendi- vos, relacionados com ansieda- de que pode ser obtida em vários mento com maior resolutivida- de e medo, pelos clientes e fami- níveis, de acordo com a obtende. liares. O profissional precisa sa- ção de benefícios e menores risber lidar com esses sentimentos, cos para o paciente, dependente buscando informações concre- dos recursos disponíveis e os va ) Humanização do pestas, fundamentadas em sinais clí- lores sociais existentes, proponsoal e entre profissionais nicos. A questão fundamental é do uma tríade: estrutura, proces- Calil et al (2) acreditam quais os dados utilizados para so e resultado. que a humanização dos profissi- classificar um paciente, que ins- Um grande contribuinte onais e entre eles, deve ser um fa- trumento utilizar? (11). para precárias condições de saútor essencial para transformar o A humanização está sen- de está aliada ao fato de grande atendimento uma experiência do considerada o diferencial, po- parte da população não possuir agradável. Deve haver uma mu- is deve fazer parte do dia a dia acesso a um bom serviço de saúdança na visão dos dirigentes das instituições. É imprescindí- de e na maioria das vezes a utilidestes serviços, não focando ape- vel que as instituições tenham a zação desses serviços existentes nas na obtenção de equipes trei- visão de que a assistência deve ocorrer de maneira caótica. O nadas, com desenvolvimento ser prestada em função da vida e usuário não sabe qual serviço técnico e científico, como tam- saúde e não da doença ou morte, procurar nas diferentes condibém em um serviço humaniza- que os protocolos utilizados são ções de saúde que ele se encondo. Os protocolos são ferramen- uma grande ajuda para a avalia- tra. tas importantes para a agilidade ção mais rápida dos pacientes, Sendo assim, alguns audo atendimento, mas o profissi- mas não esquecendo de oferecer tores, referem que um ambiente onal deve ficar atento para não um atendimento mais humano. tumultuado e estressante difideixar de lado a individualidade Entretanto verifica-se culta a prestação de um serviço do paciente no seu aspecto mais que a simples implantação da com qualidade, em que os prohumano. classificação de risco como for- fissionais ficam sobrecarrega- Sendo assim, o profissi- ma de atenção humanizada não dos, não sendo capazes de presonal deve ter consciência de que garante a qualidade e agilidade tar um atendimento qualificado o paciente necessita de um bom no atendimento. Há necessidade aos pacientes (21). atendimento, não tratando so- de mudanças nas atitudes de to- Por esse motivo, outros mente a queixa principal, a doen- da equipe, com objetivo de pres- autores citam, visando melhorar ça, ou o monitor, mas sim, ter tar um cuidado integral e huma- a qualidade da atenção à saúde uma visão holística, evitando o nizado (19). realizada pelo SUS, a criação de atendimento mecanizado. A co- programas de qualidade como o municação é um ponto essencial 3.1.6) Qualidade nos serviços Qualisus, pelo ministério da saúem um atendimento humaniza- de, em regiões metropolitanas, do, abordando e orientando os de urgência nos serviços de urgência (22). usuários. Como já foi falado, ha- D e a c o r d o c o m O processo de humani- vendo humanização nos servi- Bittencourt e Hortale (22), a quazação não deve limitar-se aos pa- ços, provavelmente haverá qua- lidade é vista como o grau em cientes e familiares, como tam- lidade dos mesmos. A qualidade que os serviços de saúde satisfabém entre os próprios profissio- é dependente da satisfação dos zem as necessidades dos indivínais, pois um bom relaciona- clientes, da agilidade em alta de- duos e seus familiares. Alguns Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

89 Nelise Maria Nascimento, Eduardo Augusto dos Santos Moreira Silva, Daniela Carla Medeiros Silva. pontos são considerados como ou decisões, devendo esses estar des de cada população (24). fatores de qualidade, são eles: re- resguardadas nos princípios éti- Nos serviços de urgênsolubilidade, eficácia e efetivi- cos e legais do exercício profis- cia e emergência, deve estar predade da atenção a saúde, redu- sional (23). sente também a consulta de enção dos riscos a saúde, humani- Os profissionais devem fermagem, pois o enfermeiro é o zação, presteza na atenção, moti- agir pautados por leis, com ética profissional mais indicado para vação dos profissionais, e con- profissional e assegurar ao cli- obter uma classificação com boa trole social. ente uma assistência livre de da- resolução, sem deixar de ser hu- Nas frequentes situa- nos decorrentes de imperícia, ne- manizada e respaldada por lei. ções de alta demanda, a classifi- gligência ou imprudência. É imcação dos pacientes passa a ser portante que o profissional de en- 4) Conclusão Ao término desse estudo foi possível obter novos conhecimentos sobre aspectos geren- ciais acerca do acolhimento com a classificação de risco, mos- trando a realidade encontrada nos serviços de urgência, bem como as dificuldades enfrenta- das pelos profissionais do serviço e pelos usuários do mesmo. O principal papel da implantação do protocolo de classificação de risco no serviço de urgência é garantir a qualidade da assistência pela padronização do atendimento e da priorização do paciente mais grave, garantindo assim, a ação e a prioridade adequada do atendimen- crucial na priorização dos paci- fermagem procure estar sempre entes graves ou potencialmente se atualizando e ampliando seus graves. Com isso, é possível conhecimentos técnicos, cientíuma avaliação rápida e eficien- ficos e culturais. te, com protocolos e profissio- Segundo Oguisso e nais hábeis, e condutas de ur- Zoboli (23), os aspectos éticos e gência e emergência. Outro pon- legais do agir dos profissionais to crucial, relacionado a quali- de enfermagem, pautam-se no dade do atendimento, é o con- código de ética dos profissionais trole da dor. A equipe deve ser de enfermagem e na lei do exer- treinada para perceber os sinais cício profissional, porém devede dor, utilizando escalas. Deve se considerar que os fundamenhaver uma distribuição do traba- tos éticos de agir são um conjun- lho entre a equipe para que acon- to de valores. teça uma organização do mes- A consulta de enfermamo, facilitando a assistência e gem é atividade privativa do enobtendo uma maior qualidade fermeiro, que utiliza componen- (2). tes do método científico para identificar situações de saúde/doença, prescrever e implementar medidas de enfermagem gência: aspectos éticos e legais que contribuam para a promo- Para Calil et al (2) al- ção, prevenção, proteção da saúguns aspectos éticos e legais das de, recuperação e reabilitação práticas assistencial e gerencial do indivíduo, família e comunide enfermagem em serviços de dade. Compõe-se de histórico emergência, envolvem o pro- de enfermagem (entrevista), exacesso de tomada de decisão, me físico, diagnóstico de enferbem como as responsabilidades magem, prescrição e implemenda equipe (2). tação da assistência e evolução A ética profissional, co- de enfermagem. A institucionamo parte da ética geral, visa des- lização da consulta de enfermapertar no profissional a reflexão gem como um processo da prátisobre o processo de trabalho, as ca de enfermagem, leva a uma relações interpessoais e a res- perspectiva da concretização de ponsabilidade diante das ações um modelo assistencial adequaprofissionais, comportamentos do às condições das necessida- 194 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n ) Enfermagem na emer- to, além de assegurar que os re- cursos sejam alocados de forma devida. A organização da assistência permite conhecer indica- dores que direcionam a gestão do serviço e a necessidade de in- vestimentos de recursos. Graças a esse estudo foi possível observar como o acolhimento e a classificação de ris- co nos serviços de urgência, podem ajudar a organizar e gerenciar os serviços, obtendo uma diminuição de demanda dos mes- mos, sem deixar de prestar a de- vida assistência aos usuários, encaminhando-os a outros serviços, e consequentemente resul-

90 Nelise Maria Nascimento, Eduardo Augusto dos Santos Moreira Silva, Daniela Carla Medeiros Silva. tando em uma menor sobrecarga de trabalho aos profissionais, po- Acesso em: 15 out dendo assim, oferecer um aten- 9. Machado, SCEP. Como um Protocolo de 21. Novaes, HM; Paganini, JM. Garantia dimento com maior eficiência, Classificação de Risco pode Qualificar o de Qualidade: acreditação de hospitais pa- Encaminhamento dos Pacientes na ra a América Latina e o Caribe. Brasília, qualidade e humanizado. E m e r g ê n c i a. D i s p o n í v e l e m : Referências 1. Teixeira, JMC et al. Organização do Fluxo de Atendimento em um Serviço de Emergência. Disponível em: < /2008/2005/Eficiencia_e_Desburocratiza cao/ed_500.doc.> Acesso em: 05 fev Calil, AM; Paranhos, WY. O enfermeiro e as situações de emergência. São Paulo: Atheneu; Santos, JS; Scarpelini, S; Brasileiro, SLL; Ferraz, CA; Dallora, MELV; Sá, MFS. Avaliação do modelo de organização d a u n i d a d e d e e m e rg ê n c i a d o HCFMRP USP, adotando, como referência, as políticas nacionais de atenção as urgências e de humanização. Medicina (Ribeirão Preto). 2003; 36: Roese, A; Gerhardt, TE. Fluxos e utilização de serviços de saúde: mobilidade dos usuários de média complexidade. Rev Gaúcha Enferm., Porto Alegre (RS) 2008 jun;29(2): Marques, GQ; Lima, MADS. Demandas de usuários a um serviço de pronto atendimento e seu acolhimento ao sistema de saúde. Rev Lat Am Enfermagem 2007; 15(1): Grupo Brasileiro de Acolhimento com Classificação de Risco (GBACR). História da Classificação de risco. [citado em 15 dez 2008] Disponível em: URL: < o m _ c o n- tent&task=view&id=74&itemid=107> Acesso em: 15 out Abbês, C; Massaro, A. Acolhimento Com Classificação de Risco. Disponível em: < l h i m e n- to%20com%20classifica%c3%a7%c3 %A3o%20de%20Risco.pdf> Acesso em: 05 fev Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Regulamento técnico dos sistemas estaduais de urgência e emergência. Portaria GM/MS nº 2048,de 5 de novembro de Ministério da Saúde, Brasília; (Série E. Legislação de Saúde). [citado em 20 dez 2008] D i s p o n í v e l e m : U R L : < a t i v o s / l e g i s l a c a o - s a n i t a r i a / e s t a b e l e c i m e n t o s - d e - s a u d e / u r g e n c i a - e Donabedian, A. The seven pillars of emergencia/portaria_2048_b.pdf> quality. Arch Pathol Lab Med 1990; 114: < 22. Bittencourt, RJ; Hortale, VA. A qualio p t i- dade nos serviços de emergência de hospion=com_docman&task=doc_view&gid= tais públicos e algumas considerações so- 103> Acesso em: 05 fev bre a conjuntura recente no município do 10. Laurant, LS. Encounter at triage re- Rio de Janeiro. Ciênc. saúde coletiva sults in legal liability. J Emerg Nurs 2003; 2007; 12(4): (1): Oguisso, T; Zoboli, E. Ética e Bioética: 11. Pires, PS. Tradução para o português e desafios para a enfermagem e a saúde. São validação de instrumento para triagem de Paulo: Manole, pacientes em serviço de emergência: 24. COREN-MG. Legislação e Normas/ Canadian Triage and Acuity Scale (CTAS); Conselho Regional de Enfermagem de [Tese de Doutorado] Escola de Minas Gerais. V. 11, n. 1. Belo Horizonte: Enfermagem da Universidade de São COREN-MG, 2009: Paulo, São Paulo. 12. Medeiros-Silva, DC et al. Acolhimento com avaliação e classificação de risco: dificuldades no processo de implantação e im- plementação nos serviços de urgência. RECENF 2009; 7 (22): Pires, PS; Gato, MAF. Escala canadense de triagem e acuidade (CTAS): valida- ção e aplicação. Revista Emergência 2005; 1 (1): Gerdtz, MF; Bucknall, TK. Why we do the things we do: applying clinical decision making frameworks to triage practice. Acc Emerg Nurs 1999;7(1): Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva, Núcleo técnico da Política nacional de humanização. HumanizaSUS: Acolhimento com avaliação e classificação de risco: um paradigma ético-estético no fazer saúde. Brasília: Ministério da Saúde; Série B. Textos básicos em Saúde. 16. Martins, VP. A Humanização e o Ambiente Físico Hospitalar. Anais do I Congresso Nacional da ABDEH IV Seminário de Engenharia Clínica D i s p o n í v e l e m : < es/humanizacao_ambiente_fisico.pdf> Acesso em: 25 out Corbella, O. Em busca de arquitetura sustentável para os trópicos conforto ambiental. Rio de Janeiro: Revan, Miquelin LC. Anatomia dos edifícios hospitalares. São Paulo: CEDAS, Shiroma, LMB; Pires, DEP; Reibnitz, KSR. Reflexão acerca da implantação de um protocolo de classificação de risco no serviço de emergência. Anais do 2º Seminário de Trabalho em Enfermagem (2 SITEn); [citado em 10 nov 2009] Disponível em: URL: < Acesso em: 15 out Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

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92 Análise dos riscos ocupacionais dos profissionais de enfermagem de Paranavaí /PR Analysis of the nurses occupational risks in Paranavaí / PR. El análisis de los riesgos laborales de los profesionales de enfermería Paranavaí / PR Maíris Duarte Alarcão, Mariele Cambiriba, Maria Antonia Ramos Costa. RECENF-Revista Técnico-Científico de Enfermagem v8-n25; ( ) Resumo O trabalho é uma atividade inerente à existência humana. O trabalho de enfermagem por sua vez, expõe seus trabalhadores a inúmeros riscos ocupacionais, dentre esses o mais comum é o risco biológico principalmente aqueles ocasionados por material pérfurocortante. Assim este trabalho teve como objetivo caracterizar o perfil do profissional de enfermagem acidentado nos aspectos relacionados ao sexo, idade e ocupação e ainda identificar o tipo de acidente de maior prevalência no município de estudo destacando suas principais causas e características. Como método, utilizou-se coleta de dados através de pesquisa de campo quantiqualitativa, com dados secundários da Ficha de Investigação de Acidente de Trabalho do SINAN no período dos quatro primeiros meses dos anos de 2007, 2008 e As variáveis utilizadas foram dados do acidentado como sexo, idade, categoria profissional, tipo de acidente, tipo de material biológico e situação vacinal do mesmo. A análise dos dados deu-se através de tabelas e gráficos do software Excel Os resultados revelaram que os profissionais que mais se acidentaram foram os técnicos e auxiliares de enfermagem e o tipo de acidente em prevalência foi o percutâneo tendo como material orgânico o sangue e como agente causal principal a perfuração por agulhas. Descritores: Riscos ocupacionais, equipe de enfermagem, acidentes de trabalho. Abstract The work is an activity inherent in human existence. The work of nursing as per say, exposes its workers to numerous occupational hazards, among them the most common is the biological risk especially those caused by needlestick injuries. So this study aimed to characterize the profile of nursing staff injured in the aspects related to gender, age and occupation and identify the type of accident most prevalent in the municipality of study highlighting its main causes and characteristics. The method was used for data collection through quantitative and qualitative field research, with the secondary data sheet for the Investigation of Accident SINAN during the first four months of the years 2007, 2008 and The variables used were taken from the victims as sex, age, professional category, and type of accident, type of biological material and vaccination status of it. Data analysis took place with tables and graphs in Excel 2003 software. The results revealed that staff were hurt most were the technicians and nursing assistants and the type of accident in prevalence was having as percutaneous blood and organic material as the main causal agent piercing needles. Descriptors: Occupational risks, nursing, team, accidents, occupational. 197

93 Resumen El trabajo es una actividad inherente a la existencia humana. El trabajo de la enfermería, a su vez, expone a sus trabajadores a numerosos riesgos profesionales, entre ellos el riesgo biológico más común, especialmente las causadas por pinchazos con agujas. Así que este estudio tuvo como objetivo caracterizar el perfil del personal de enfermería heridos en los aspectos relacionados con el sexo, edad y ocupación e identificar el tipo de accidente más frecuente en el municipio de estudio destacando sus principales causas y características. El método fue utilizado para la recolección de datos a través de la investigación de campo cuantitativos y cualitativos, con la hoja de datos secundarios para la Investigación del Accidente SINAN durante los primeros cuatro meses de los años 2007, 2008 y Las variables utilizadas fueron tomadas de las víctimas de sexo, edad, categoría profesional, tipo de accidente, tipo de material biológico y estado de vacunación de la misma. El análisis de datos se llevó a cabo con tablas y gráficos en Excel 2003 de software. Los resultados revelaron que el personal estaba más perjudicados fueron los técnicos y auxiliares de enfermería y el tipo de accidente en la prevalencia fue teniendo como percutáneo de sangre y materia orgánica como el principal agente que causa la perforación agujas. Descriptores: Riesgos laborales, grupo de enfermería, accidentes de trabajo. Maíris Duarte Alarcão. Enfermeira; Graduada no Curso de Enfermagem da Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí. Mariele Cambiriba. Enfermeira; Graduada no Curso de Enfermagem da Faculdade Estadual de Educação, em Ciências e Letras de Paranavaí. Maria Antonia Ramos Costa. Enfermeira; Mestre, Docente e Chefe do Departamento do Curso de Enfermagem da Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí. 198

94 Introdução Maíris Duarte Alarcão, Mariele Cambiriba, Maria Antonia Ramos Costa. corporal, perturbação funcional dentado nos aspectos relaciona- O trabalho é uma ativiperda ou redução, permanente ainda identificar o tipo de aci- ou doença que cause a morte, dos ao sexo, idade e ocupação e dade inerente à existência humaou temporária da capacidade pa- dente de maior prevalência no na e que implica ao homem utilira o trabalho. Considera-se ain- município de estudo destacando zar-se de suas capacidades físida como acidente de trabalho, suas principais causas e caractecas e mentais na produção de bens e serviços que contribui patre a residência do trabalhador e aquele que ocorre no trajeto en- rísticas. ra a reprodução da vida humana, individual e social (1). o local de trabalho, a doença que Metodologia Em nossa sociedade, o é produzida ou desencadeada pe- Este estudo desenvollo exercício de determinado tratrabalho é visto pelo homem veu-se através de uma pesquisa com tamanha importância que balho e ainda a doença adquirida exploratória, que inicia-se por alou desencadeada pelas condiocupa grande número de horas gum fenômeno de interesse e, de seu dia. Nessa perspectiva, o ções de trabalho (3). além de observar e registrar a inprocesso de trabalho está de tal Os riscos ocupacionais, cidência do fenômeno, busca exsegundo a Organização Panmodo imbuído de normas e roti- plorar as dimensões deste, a manas, com exigências cada vez Americana de Saúde no Brasil, neira pela qual ele se manifesta e maiores, exageradas ou ultrapodem ser classificados em bio- os outros fatores com os quais passadas, que acaba por impedir lógicos, físicos, químicos, psi- ele se relaciona (6). que o homem transforme-se ducossociais, ergonômicos e de aci- Assim, utilizou-se como rante sua realização, além de atudentes (4). Enfatizaremos neste método de coleta de dados a pestrabalho os riscos ocupacionais ar como um agente causal dos quisa de campo quantiqualitaticausados por agentes biológiagravos à saúde física ou mental va, com dados secundários da do trabalhador (2). cos, em particular os acidentes Ficha de Investigação de Os agravos à saúde do com materiais pérfurocortantes, Acidente de Trabalho do trabalhador podem ser provenipor serem tão comuns entre os Sistema de Informação de entes de fatores nocivos presenprofissionais de enfermagem, Agravos de Notificação tes no ambiente laboral. Os traque em seu cotidiano lidam com SINAN. O acesso às fichas foi balhadores de saúde por sua vez, materiais como agulhas, sondas permitido após autorização por estão sujeitos a riscos gerais e ese cateteres, muitas vezes conta- escrito da Secretaria Municipal pecíficos, porém, os mais susminados por sangue ou fluídos de Saúde de Paranavaí-PR, atracorpóreos. ceptíveis aos riscos ocupaciona- vés do Setor de Epidemiologia is são os profissionais de enfer- Tais eventos são preocu- onde foram analisadas as notifipantes, pois, os acidentes ocasimagem (particularmente os que cações do município durante os atuam em unidades hospitalaonados com agulhas são respon- quatro primeiros meses dos anos res), por realizarem cuidados disáveis por 80 a 90% das trans- de 2007, 2008 e As variámissões de doenças infecciosas retos aos pacientes e serem os veis utilizadas foram alguns daentre trabalhadores de saúde. O responsáveis pela execução de dos do acidentado como sexo, 60% das ações de saúde. Assim, risco de transmissão de infecidade, categoria profissional, tições por meio de agulhas contaestão conseqüentemente mais po de acidente, tipo de material expostos ao risco de doenças e minadas é de um em três para biológico e situação vacinal do acidentes laborais (2). Hepatite B, um em trinta para mesmo. É oportuno mencionar Hepatite C e um em trezentos pa- O SINAN é alimentado, que, acidente de trabalho do ponra HIV(5). principalmente, pela notificação to de vista legal é definido como Em virtude do exposto, e investigação de casos de doenos objetivos deste trabalho fosendo aquele que ocorre pelo ças e agravos que constam da lisram caracterizar o perfil do proexercício do trabalho, a serviço ta nacional de doenças de notififissional de enfermagem acida empresa, provocando lesão cação compulsória. Sua utiliza- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

95 Maíris Duarte Alarcão, Mariele Cambiriba, Maria Antonia Ramos Costa. ção efetiva permite a realização do diagnóstico di- Observando a figura 2, ao separarmos a porcentanâmico da ocorrência de um evento na população; gem de casos na equipe de enfermagem por ano podendo fornecer subsídios para explicações cau- de estudo, percebemos maior prevalência em sais dos agravos de notificação compulsória, além Todavia, não se pode afirmar que nos anos de vir a indicar riscos aos quais as pessoas estão su- seguintes houve realmente uma queda brusca de jeitas, contribuindo assim, para a identificação da casos, pois muitos profissionais não notificam o realidade epidemiológica de determinada área ge- acidente (subnotificação), o que impede que se teográfica (7). nha uma ideia da real dimensão desse problema Como toda a pesquisa científica, utilizou- nas unidades de saúde. se levantamento bibliográfico, para fundamentar as discussões sobre como prevenir os acidentes com material biológico e para subsidiar a análise dos dados coletados, que foram compilados em tabelas e gráficos do software Excel 2003, para melhor compreensão dos resultados. A pesquisa foi realizada dentro dos preceitos éticos e legais da Resolução 196/06, conforme aprovação do Comitê de Ética da Universidade Estadual de Maringá, parecer nº 540/2009. Resultados e discussão Com a análise dos dados foi possível traçar um perfil da população acidentada e caracterizar o acidente e suas causas. O total de notificações no período de estudo foi de 32 casos. Observa-se que o número de exposições ao san- Estima-se que no Brasil ocorra uma alta tague, incluindo aquelas percutâneas e mucotâneas, xa de subnotificação de acidentes, que pode estar varia conforme as diferentes categorias profissio- relacionada a diversos fatores entre eles, a falta de nais, as atividades realizadas pelo profissional e conhecimento da realidade dos riscos por parte os setores de atuação dos serviços de saúde (8). O dos trabalhadores, ao medo de desemprego, ao estudo verificou que 50% desse total envolveram sentimento de culpa que sente em relação a esse profissionais de enfermagem em suas diferentes evento, a falta de organização adequada das funções, o que pode ser observado na figura 1, con- ações, a dificuldade de acesso ao sistema de inforfirmando que por prestar cuidados diretos e contí- mação e ainda à descrença dada a gravidade de nuos a pacientes com diferentes graus de comple- um acidente desta natureza (9). xidade, a equipe de enfermagem é a categoria ma- Na definição do perfil dos profissionais de is exposta a acidentes com material biológico. enfermagem acidentados, observou-se que 73% são do sexo feminino, confirmando que as mulheres constituem maioria na área da enfermagem fato que se compele ao surgimento da profissão que inicialmente era exercida exclusivamente por mulheres. Essa categoria está mais sujeita aos riscos ocupacionais também pelo fato de sofrerem maior desgaste físico, mental e emocional devido à necessidade de conciliação entre trabalho doméstico e atividade profissional (dupla ou tripla jornada de trabalho) (10). Quanto à faixa etária dos profissionais, podemos identificar através da figura 3 que o maior 200 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

96 Maíris Duarte Alarcão, Mariele Cambiriba, Maria Antonia Ramos Costa. número de acidentes ocorreu com profissionais relativamente jovens com idade entre 20 e 29 anos. quema vacinal de Hepatite B completo (3 doses). São inúmeros os procedimentos executados pelos profissionais de enfermagem, e muitos deles são realizados em circunstâncias que oferecem riscos ao trabalhador. Na tabela 1 identificamos as principais circunstâncias em que ocorreram os acidentes ocupacionais da equipe de enfermagem. Ao analisarmos as causas e características do acidente constatou-se que a exposição em prevalência foi a percutânea, ocorrendo com 14 dos 16 profissionais de enfermagem. Esse tipo de exposição ocupacional é caracterizado pelo contato direto com fluidos potencialmente contaminados e pode ocorrer de dois modos distintos: por inoculação percutânea, também chamada de parenteral, e pelo contato direto com pele e/ou mucosa, com comprometimento de sua integridade após arra- Um fato que chamou-nos atenção foi que, 2 nhões, corte ou por dermatites (11). Outro ponto a das 3 atendentes de enfermagem acidentaram-se se ressaltar, é que 81% dos acidentes tiveram co- durante procedimento cirúrgico, o que denota dismo agente causal agulhas em sua maioria com lú- paridade com o regulamentado pela Lei do exermen, sendo que em 100% dos casos o material or- cício de enfermagem. Pois, segundo essa lei, a engânico presente foi o sangue, o que nos remete fermagem é exercida privativamente pelo enferuma reflexão preocupante, pois, quando o aciden- meiro, técnico de enfermagem, auxiliar de enferte ocorre com material contaminado ha possibili- magem e parteira, sendo assegurado aos atendendade do desenvolvimento de doenças graves co- tes de enfermagem admitidos antes da vigência mo HIV/AIDS, Hepatite B e hepatite C. dessa lei em locais com carência de recursos hu- O risco médio de se adquirir o HIV com ex- manos nessa área, apenas o exercício de atividaposição sanguínea é de, aproximadamente, 0,3% des elementares de enfermagem como, por exemapós exposição percutânea, e de 0,09% após expo- plo, prestar cuidados de higiene e conforto ao pacisição muco cutânea. Para Hepatite B esse risco é ente (12). Em virtude do exposto, fica evidente ainda maior podendo atingir 40% em exposições que o atendente de enfermagem não poderia partiem que o paciente apresente sorologia HBsAg rea- cipar de procedimentos cirúrgicos, pois, tal funtiva. No caso de contato com o vírus da Hepatite ção não faz parte de suas atribuições se tratando C, o risco médio é de 1,8%, podendo variar de 1 a de exercício irregular da profissão de enferma- 10%, ressaltando ainda que não exista uma inter- gem por esse servidor não possuir habilitação levenção específica para prevenir a transmissão do gal e treinamento para a execução da mesma. vírus da Hepatite C após exposição ocupacional Observou-se que os acidentes com agu- (8). Um ponto positivo identificado foi que todos lhas constituem a principal forma de exposição os profissionais de enfermagem estavam com o es- percutânea acidental dos profissionais de saúde, Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

97 Maíris Duarte Alarcão, Mariele Cambiriba, Maria Antonia Ramos Costa. em especial, de enfermagem sicas para a implementação de do Trabalho em Enfermagem: Uma análise contextual. Cien Cuid Saúde 2006; 5(1): (13). Sendo assim é necessário medidas de proteção à seguran que medidas preventivas sejam ça e à saúde dos trabalhadores 3.Lei 8213 de 24 de julho de 1991 implantadas e/ou seguidas, pois dos serviços de saúde, bem cod i s p o n í v e l e m : U R L : Decreto 611 de 21 de julho de1992, art 19º, a prevenção é maneira mais ade- mo daqueles que exercem ativihttp://www3.dataprev.gov.br/sislex/pagi quada para se prevenir acidentes dades de promoção e assistência nas/42/1991/8213.htm [ 2009 nov. 25] ocupacionais, haja vista os ine- à saúde em geral. 4.Mauro, MYC; Muzi, CD; Guimarães, RM; Mauro, CCC. Riscos Ocupacionais vitáveis riscos a que estão sujei- A partir da compreensão em Saúde. Rev. Enferm UERJ 2004; 12: tos os trabalhadores dessa cate- de que todas as categorias de en goria profissional. fermagem estão sujeitas os inú- 5.Simão, SAF; Souza, V; Borges, RVA; Soares, CRG; Cortez, EA. Fatores associameros riscos ocupacionais, temdos aos acidentes biológicos entre profissise a necessidade de que as insti- onais de enfermagem. Cogitare Enferm Conclusão tuições de saúde elaborem pro- 2010; 15 (1): Este estudo permitiu- 6.Polit, DF; Hungler, BP. Fundamentos de gramas de educação continuada pesquisa em enfermagem. 2ª ed. Porto nos identificar que os profissio- e treinamento dos profissionais, Alegre - RS(Brasil): Artes Médicas; nais de enfermagem que sofre- realizem supervisão contínua e 7.Torres, M; Campins, M; Esteban, JI; ram acidentes ocupacionais fo- Costa, J; Batisda, MT; Brug, M. Is it useful sistemática e ainda programe to perform the RNA test for hepatitis C in ram em sua maioria mulheres jo- modificações nas rotinas de tra- health care workers after an accidental vens, com idade entre 20 e 29 balho em que se torne um hábito needlestick. J Hepatol 2000; 33:683. anos, ocupando função de auxi- 8.Santos, APB; Novaes, MMV; Paizante, a prática de precauções de segu- GO. Acidentes de trabalho e biosseguranliar ou técnico de enfermagem. rança na realização das ativida- ça no ambiente hospitalar. Rer. Edu. Meio O tipo de acidente em prevalên- des laborais. Amb. e Saúde, 2008; 3(1): cia foi o percutâneo tendo como 9.Marziale, MHP; Silva, EJ; Hass, VJ; Igualmente, concorda- Robazzi, MLCC. Acidentes com material bimaterial orgânico o sangue e co- mos que reorientar a prática pro- ológico em hospital da Rede de Prevenção mo agente causal principal a per- fissional dos trabalhadores é um de Acidentes do Trabalho REPAT. Rev. furação por agulhas, que ocor- Brasileira de Saúde Ocupacional, São desafio para a enfermagem, haja Paulo2007; 32(115): reu durante a realização de pro- vista o fato de pouco sabermos 10.Leite, PC; Silva, A; Merighi, MAB. A cedimentos rotineiros como ad- sobre o conhecimento dos prodistúrbios osteomusculares relacionados mulher trabalhadora de Enfermagem e os ministração de medicação intra- fissionais a cerca desse assunto. ao trabalho. Revista da Escola de muscular (IM), punção venosa e Questionamos se esses desco- Enfermagem da USP, São Paulo 2007; 41 dextro. nhecem as precauções padroni- (2): Diante de tais resulta- 11.Decher, MD. The Osha bloodborne hazzadas ou simplesmente as ignoard standard. Infect control Hosp. dos, fica evidente a necessidade ram, pois mesmo cientes dos ris- Epidemiol. 1992; 13(7): de enfermeiros e gestores esta- cos, muitos ainda deixam de pro- 12.Lei 7498 de (DOU ), rem analisando as notificações Dispõe sobre a regulamentação do exercí- teger-se como se fosse uma aticio de enfermagem e dá outras providêncidos acidentes ocorridos nas uni- tude natural. Nesse sentido, as as. Art 2º e 23º. Disponível em: URL: abr. dades de saúde para obterem instituições devem buscar pro- 04] uma estatística do número de aci- 13.Balsamo, AC; Felli, VEA. Estudo sobre mover a saúde ocupacional cenos acidentes de trabalho com exposição dentes, bem como reconhece- tradas não só na prevenção de aos líquidos corporais humanos em trabalhadores da saúde de um hospital universirem os fatores determinantes pa- acidentes, mas principalmente ra a ocorrência do mesmo, a fim tário. Rev. Latino - am Enfermagem 2006; na melhoria da qualidade de vi- 14 (3): de definir medidas preventivas e da no trabalho. 14.Portaria MTE nº 485, de 11 de novembro de 2005 ( Diário Oficial da União de 16 soluções efetivas para a diminude novembro de 2005-Seção I) que define ição da ocorrência desses evendiretrizes da Norma Regulamentadora nº Referências tos danosos a saúde do trabalha- 1.Kurcgant, P. Gerenciamento em enfer- 32- Segurança e Saúde no Trabalho em dor, inclusive fazendo cumprir a magem.1ª Ed. São Paulo: EPU, 1991 p1- Serviços de saúde. NR-32 (14), que tem por finali Cavalcante, CAA; Enders, BC; Menezes, dade estabelecer as diretrizes bá- RMP; Medeiros, SM. Riscos Ocupacionais 202 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

98 Análise do uso de equipamentos de proteção individual por agricultores que utilizam agrotóxicos Analysis of the equipment use of individual protection for agriculturist who use agrotóxicos Eniva Miladi Fernandes Stumm, Marli Maria Loro, Rosane Maria Kirchner, Alexandre Zaisov, Liamara Denise Ubessi, Ane Gabriele Poli, Maiara Tamires Franco. RECENF-Revista Técnico-Científica de Enfermagem-2010-v8-n25; ( ). Resumo O uso de agrotóxicos nas lavouras sem proteção do trabalhador é prejudicial à sua saúde e ao meio ambiente. A pesquisa analisa o perfil de trabalhadores que utilizam agrotóxicos na região noroeste do Rio Grande do Sul e relaciona variáveis do mesmo ao uso de Equipamentos de Proteção Individual- EPIs. É quantitativa, descritiva, envolvendo resultados parciais de investigação desenvolvida no noroeste do Rio Grande do Sul. Trata-se de uma amostra parcial (285 famílias) de um total de 400 famílias residentes no meio rural dos respectivos municípios. Para a coleta de dados, foi utilizado instrumento com dados sociodemográficos e questões sobre EPIs. A análise se deu pela estatística descritiva e observados os preceitos éticos conforme Resolução196/96 do Ministério da Saúde. A maioria dos agricultores pesquisados é do gênero masculino, usa agrotóxicos, casada, mais da metade possui filhos e cursou o ensino fundamental incompleto. Dentre os EPIs mencionados pelos agricultores integrantes da pesquisa, o chapéu é o mais usado, seguido de botas e macacão. Já, óculos e protetor solar são os menos utilizados. O cruzamento das variáveis EPIS utilizados com a escolaridade mostra que o uso dos referidos equipamentos se dá na freqüência sempre, independente da escolaridade. Palavras-chave: Saúde da população rural; agrotóxicos; escolaridade; perfil epidemiológico; equipamentos de proteção; profissional de saúde. Abstract The pesticides use on farming without worker protection is harmful to health and to environment. The research analyzes workers profile who use pesticides in northwest of Rio Grande do Sul and relates variables of this profile using PPEs (personal protective equipment) -. It is a quantitative and descriptive research, involving partial results of investigation developed in northwest of Rio Grande do Sul. It is partial sample that involves 400 families living in rural zone of respective municipalities, totalizing 285 families. To data collection was used instrument with sociodemographic data and questions about PPEs. The analysis occurred by descriptive statistic and was observed the ethical as resolution 196/96 of Health Ministry. Most of farmers visited are male, use pesticides, are married, more than half have children and attended incomplete basic school. Among PPEs mentioned by farmers involved in the research, hat is the most used, followed by boots and overalls. Already, sunglasses and sunscreen are the least used. The crossing of PPEs variables used with scholarity data shows that the use of these equipments has always frequency, regardless of schooling. Keywords: Health rural population; pesticides, scholarity; epidemiological profile; protective devices; health personnel. Eniva Miladi Fernandes Stumm. Enfermeira, Mestre em Administração - Recursos Humanos, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), docente da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ. eniva@unijui.edu.br Marli Maria Loro. Enfermeira, Especialista em Enfermagem do Trabalho, Mestre em Educação nas Ciências, docente do Departamento de Ciências da Saúde da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ), representante da Associação Nacional de Enfermagem do Trabalho/RS, marlil@unijui.edu.br. Rosane Maria Kirchner. Professora Doutora em Engenharia Elétrica - Métodos de Apoio à Decisão. Professora de Estatística da Universidade Federal de Santa Maria- Cesnors UFSM - RS, rosanek@unijui.edu.br. Alexandre Zaisov. Acadêmico de enfermagem da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). Bolsista PIBIC-UNIJUI. Acadêmicos de enfermagem da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ). Bolsista voluntário, lia@unijui.edu.br.. 203

99 Eniva Miladi Fernandes Stumm, Marli Maria Loro, Rosane Maria Kirchner, Alexandre Zaisov, Liamara Denise Ubessi, Ane Gabriele Poli, Maiara Tamires Franco. INTRODUÇÃO A tecnologia aliada aos avanços científicos tem colocado à disposição da população um nú- mero expressivo de substâncias tó- xicas, que podem gerar danos à sa- úde, ao meio ambiente e se constituir em um problema de saúde pú- blica. A utilização destas substân- cias de forma inadequada incorre, para além do impacto na saúde das pessoas, em sérios problemas sociais, econômicos e ambientais. A utilização de agrotóxicos es- tá comprometendo a vida dos seres humanos e o meio ambiente, em decorrência de os trabalhado- res manusearem estas substâncias sem a devida proteção (botas, ma- cacões, máscaras, capacetes, luvas e outros equipamentos) (1). Uma pesquisa que objetivou avaliar percepções referentes ao risco, práticas e posturas no uso de agrotóxicos por agriculto- res de Culturama, Mato Grosso do Sul, em 2005, mostrou que os pesquisados eram cientes dos ris- cos no manuseio de agrotóxicos. Segundo os autores, muitos agricultores se preocupam com a pos- sibilidade de se contaminarem, bem como com o meio ambiente (2). Os principais problemas de saúde decorrentes do uso de agrotóxicos, evidenciados em estudos (3), são expressos pela dimi- nuição das defesas imunológicas, anemias, impotência sexual masculina, cefaléia, insônia, alterações da pressão arterial e distúrbi- os do comportamento. Os ho- mens são os que mais se intoxi- cam, mas a exposição aos agrotóxicos é generalizada, inclusive com a participação de crianças. Os efeitos sobre a saúde humana podem ser divididos em agudos e crônicos (4). Os efeitos agudos aparecem seguidamente ao con- O estudo se caracteriza cotato da pessoa com o agrotóxico e mo uma pesquisa quantitativa, normalmente apresentam carac- descritiva, envolvendo resultados terísticas peculiares, tais como: es- parciais de uma investigação que pasmos musculares, convulsões, está sendo desenvolvida na náuseas, desmaios, vômitos, diar- Região Noroeste do Estado do réias e dificuldades respiratórias. Rio Grande do Sul (Noroeste Os efeitos crônicos podem ser per- Colonial). Esta, segundo dados da cebidos em semanas, meses ou Fundação de Economia e anos após o contato com essas Estatística do Estado do Rio substâncias, sendo muitas vezes Grande do Sul(7), integra 32 mu- difícil de relacionar ao agente cau- nicípios, com uma população de sador, ou seja, o agrotóxico. aproximadamente habi- Nesta ressalta-se que os efeitos ne- tantes, com uma área de 9.911,3 gativos de uma possível contami- km², densidade demográfica de nação por agrotóxicos à saúde hu- 31,3 hab/km², taxa de analfabetis- mana sejam agravados em peque- mo de 8,28%, expectativa de vida nas comunidades rurais, pelas pre- ao nascer de 71 anos, coeficiente cárias condições sanitárias, defi- de mortalidade Infantil de 13,01 ciência no sistema de saúde local por mil nascidos vivos, renda per e falta de infra-estrutura da maio- capita (2004): R$ ,00 (da- ria da população local, normal- dos de 2006). Destaca-se que a mente, de baixas condições soci- economia desta região tem por ba- oeconômicas. se a agricultura, o comércio e ser- Evidencia-se que os agri- viços. cultores, em nível mundial, estão No que tange a população expostos aos efeitos danosos dos estudada, trata-se de uma amostra agrotóxicos, o que torna indis- parcial de uma pesquisa que compensável o uso de Equipamentos preende 400 famílias residentes de Proteção Individual- EPIs. em domicílios do meio rural dos Nesse contexto, igualmente, se ob- municípios que integram a serva déficit de informação aliado Região Noroeste Colonial do Rio a falta de cuidado dos trabalhado- Grande do Sul. O presente artigo res, levando ao não uso ou uso ina- foi construído a partir de resultadequado das medidas de proteção dos parciais envolvendo 285 famíquando da utilização de agrotóxi- lias, sendo que esse número foi cos. distribuído entre os municípios, O Brasil é um dos países respeitando a proporcionalidade que mais consome agrotóxico, com o número total da população com um número expressivo de tra- dos mesmos. No que tange aos cribalhadores expostos (5,6). Nesse térios de inclusão, foram definisentido, a presente pesquisa ana- dos os seguintes: ser produtor rulisa o perfil de trabalhadores que ral e residir na região Noroeste utilizam agrotóxicos na região no- Colonial do estado do Rio Grande roeste do Rio Grande do Sul e rela- do Sul; interesse em participar da ciona variáveis do mesmo ao uso pesquisa, após ser esclarecido e to- de Equipamentos de Proteção mado conhecimento dos objeti- Individual-EPIs. vos; aceitar e assinar o termo de consentimento livre e esclareci- do. MATERIAIS E MÉTODOS 204 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

100 Eniva Miladi Fernandes Stumm, Marli Maria Loro, Rosane Maria Kirchner, Alexandre Zaisov, Liamara Denise Ubessi, Ane Gabriele Poli, Maiara Tamires Franco. Para a coleta de dados 99% dos agricultores integran- ações educativas que envolfoi utilizado um instrumento tes dessa pesquisa utilizam vam não somente o trabalhacriado e testado pelas pesqui- agrotóxicos nas lavouras onde dor rural que utilizam agrotósadoras, contendo dados soci- trabalham. Esse dado vem ao xicos, como também seus famiodemográficos e questões so- encontro da literatura, em que liares. bre o uso de EPIs. Os dados so- vários autores pontuam que o Ao analisar o grau de ciodemográficos foram: gêne- Brasil é um líder em nível mun- instrução dos integrantes desro, idade, uso de agrotóxicos, dial no uso de agrotóxicos nas sa pesquisa, constata-se que estado civil, filhos e escolari- plantações, tendo como conse- mais da metade dos agricultodade; as questões referentes a quências elevados custos à saú- res (60,4%) possui o ensino freqüência de uso dos disposi- de das pessoas, danos ao meio fundamental incompleto e tivos de proteção foram: maca- ambiente, dentre outros (6,9). 10,2% cursou o ensino fundacão, luvas, máscara, chapéu, Quanto ao gênero dos mental completo. Evidenciabotas, óculos e protetor solar. trabalhadores pesquisados que se que os que cursaram o ensi- A análise dos dados se deu pela utilizam agrotóxicos nas la- no médio completo e /ou inestatística descritiva e uso do vouras, constata-se que a gran- completo perfazem 21,1% e software estatístico SPSS. Os de maioria é de homens, ou se- 8,4% possuem o ensino superesultados são apresentados ja, um percentual de 90%. rior completo ou incompleto. em forma de gráficos e tabelas Uma pesquisa foi realizada A escolaridade pode ser entencruzadas. Para verificar a rela- com 1479 trabalhadores rurais dida como um indicador social ção entre as variáveis estuda- dos municípios de Antônio da pessoa aliado a melhores das, foi aplicado o Teste t de Prado e Ipê, na Serra Gaúcha, condições de saúde, produzin- Student. em 495 unidades produtivas, do um efeito de proteção con- Por se tratar de uma pes- com os objetivos de: descrever tra os malefícios dos agrotóxiquisa que envolve pessoas, fo- as características da exposição cos à saúde humana. ram observados todos os pre- ocupacional aos agrotóxicos e Estudo realizado mosceitos éticos contidos na analisar a incidência de intoxi- tra que a maioria das pesquisas R e s o l u ç ã o / 9 6 d o cações por agrotóxicos, no con- destaca a baixa escolaridade M inistério d a S aúde7. texto da agricultura familiar. do agricultor como um proble- Inicialmente o projeto de pes- Na avaliação dos pesquisados ma, por dificultar e restringir a quisa foi registrado no quanto as características demo- leitura referente aos cuidados e SISNEP e encaminhado ao gráficas e relações de trabalho, medidas de segurança, descri- Comitê de Ética em Pesquisa o sexo masculino compreen- to nos rótulos dos agrotóxicos da Unijuí, sendo aprovado sob deu 55,0% dos proprietários e (6). o Parecer Consubstanciado arrendatários e a 68,0% dos em- Nesse contexto, o pro- Número 074/2008. Todos os pregados (5,6). cesso de modernização da agriparticipantes da pesquisa assi- Com relação ao estado cultura, a qual garantiu crédito naram TCLE, em duas vias, fi- civil dos pesquisados, a maio- e estimulou o crescimento da cando uma em poder deles e ou- ria, ou seja, 81% deles é casa- indústria de agrotóxicos no tra dos pesquisadores. do ou vive em união estável, Brasil, porém não considerou 14% são solteiros, 3% viúvos e as dificuldades de estrutura e Resultados e discussáo 2% são separados. Importante institucionais, tais como a quaressaltar que 58% deles possu- lificação dos trabalhadores e a Inicialmente considetaca-se a importância de os pro- proteção do meio ambiente e em filhos. Nesse sentido, des- das instituições direcionadas à ra-se importante destacar que fissionais da saúde realizar da saúde dos Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

101 Eniva Miladi Fernandes Stumm, Marli Maria Loro, Rosane Maria Kirchner, Alexandre Zaisov, Liamara Denise Ubessi, Ane Gabriele Poli, Maiara Tamires Franco. trabalhadores envolvidos. A não observância des- zar agrotóxicos, e destes, apenas 22 (23%) usaram ses aspectos tornou esse grupo suscetível aos ris- EPI. Dentre os EPIs apropriados para a manipulacos ocupacionais e ambientais (10). ção e aplicação de agroquímicos nas lavouras, bo- Ainda em relação ao grau de instrução/ es- tas (38%), chapéu (17%), máscara (16%) e lucolaridade dos trabalhadores que integraram essa vas(14%) foram os mais usados pela população espesquisa, considera-se importante a construção de tudada(11). Esses resultados diferem dos encontraprogramas em nível governamental de extensão dos na presente pesquisa, onde a grande maioria agrícola, com ênfase em técnicas alternativas de (99%) usa agrotóxicos nas plantações e quanto ao controle de pragas e no uso seguro de agrotóxicos uso de EPIs, igualmente os integrantes dessa pes- (2). quisa afirmam usa-los com maior freqüência. Sequencialmente, a Figura1, apresenta o Em continuidade a análise e discussão dos uso de EPIs pela população pesquisada. Constata- dados obtidos com esta pesquisa, foram realizadas se que o chapéu é utilizado pela grande maioria dos o cruzamento das variáveis Uso de EPIs e trabalhadores seguido de botas e macacão. O hábi- Escolaridade dos pesquisados. Neste observa-se to de utilizar EPIs, apesar de não desejado, deve ser que nos EPIs bota (76,5%) e chapéu (86,2), mais de considerado pelo trabalhador que se expõe a situa- três quartos sempre fazem uso destes equipamenção de risco, como meio de proteção disponível em tos. Também, verifica-se que independente da escouma visão integrada e sistêmica dos agravos de ori- laridade, prevalece à categoria do uso sempre. gem ocupacionais (4). Constata-se que os EPIs óculos e protetor solar são os menos utilizados pelos agricultores par- ticipantes da pesquisa (para óculos um percentual de 62,2% e para protetor solar 76,1% que não utili- zam). Também, quando analisada a escolaridade, observa-se o predomínio da não utilização em to- das as categorias. Quando observados os EPIs macacão (54,4%), luvas (53,4%) e máscara (60,9%), em tor- no da metade dos trabalhadores pesquisados fazem uso sempre destes equipamentos. Isto se destaca em todos os níveis de escolaridade. Em pesquisa realizada com 1479 trabalha- dores rurais visando descrever as características da Os equipamentos de proteção individual (EPIs), de acordo com a legislação, devem ser usados com a finalidade de reduzir o risco de absorção do produto pelo organismo humano durante a aplicação. O Ministério do Trabalho e Emprego considera EPI todo dispositivo de uso individual destinado a preservar e proteger a integridade física do trabalhador, considerando-se como EPI padrão para a aplicação de agrotóxicos a utilização de boné, máscara, macacão, avental, luvas e botas (11). Para o autor, essas medidas devem ser observadas sempre que a proteção coletiva não é possível ou não seja eficaz contra os riscos ocupacionais. Em pesquisa realizada em dois municípios de Pernambuco, em 2008, dos 182 produtores que participaram da mesma, 95 (52%) afirmaram utili- 206 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

102 Eniva Miladi Fernandes Stumm, Marli Maria Loro, Rosane Maria Kirchner, Alexandre Zaisov, Liamara Denise Ubessi, Ane Gabriele Poli, Maiara Tamires Franco. exposição ocupacional aos agro- is da metade possui filhos. Saúde, em hospitais, no sentido tóxicos e analisar a incidência Quanto ao grau de instrução, pre- de desencadear reflexões, disde intoxicações por agrotóxicos, domina os com ensino funda- cussões, instigar a realização de no contexto da agricultura, cons- mental incompleto. mais investigações envolvendo tatatou-se que o uso de EPIs foi Quanto ao uso de EPIs, o a referida temática, bem como mais freqüente entre homens e chapéu é o mais usado pelos agri- mobilizar ações no sentido de pessoas com escolaridade mé- cultores integrantes da pesquisa, minimizar os riscos à saúde dos dia 5 a 8 anos e o grupo sem seguido de botas e macacão. Os trabalhadores, seus familiares, à escolaridade foi o que menos uti- mesmos, independente da esco- população em geral, bem como lizou estes dispositivos de segu- laridade, prevalece a categoria na proteção do meio ambiente. rança. Mostrou também, que en- do uso sempre. Constata-se tre os agricultores idosos o uso que óculos e protetor solar são REFERÊNCIAS destas medidas de proteção foi os EPIS menos utilizados pelos 1. SOARES, E.L. Agrotóxicos: O veneno nosso reduzido (5). Pode-se afirmar agricultores participantes da pesf r o m : w w w. c o l a d a w e b.- de cada dia. [cited 2007 mai 25]. Available que esses resultados são contra- quisa e, quando analisada a esco- com/biologia/agrotoxicos. ditórios ao da presente pesquisa. laridade, ocorre o predomínio 2. Recena MC, Caldas ED. Percepção de risco, atitudes e práticas no uso de agrotóxicos entre Outro estudo realizado da não utilização em todas as ca- agricultores de Culturama-MS. Cad Saúde em 2008, em assentamentos dos tegorias. Os EPIS macacão, lu- Pública. 2008;42(2): Levigard YE. A interpretação dos profissionamunicípios de Lagoa Grande e vas e máscara, são usadas sem- is de saúde acerca das queixas do nervoso no meio rural: uma aproximação ao problema das into- Santa Maria da Boa Vista, em pre pelos trabalhadores pesquixicações por agrotóxicos. [dissertação] Rio de Pernambuco, com o objetivo de sados e isso ocorre em todos os Janeiro (RJ): Escola Nacional de Saúde verificar a utilização dos EPIs níveis de escolaridade. Pública, Fundação Oswaldo Cruz; Veiga MM, Duarte FJCM, Meirelles LA, pelos assentados do Movimento A relevância da pesquisa Garrigou A, baldi I. A contaminação por agrotóxicos e os equipamentos de proteção individual dos Sem Terra (MST), mostrou centra-se em informar a popula- (EPIs). Revista Brasileira de Saúde que dos 182 participantes, 87% ção estudada acerca do uso cor- Ocupacional, 2007; 32 (116): são homens. Destes 18,15% não reto dos produtos, aliado às me- 5. Faria NMX, Facchini LA, Fassa AG, Tomas E. Trabalho rural e intoxicações por agrotóxicos. são alfabetizados, 64,5% possu- didas de proteção específicas, es- Cad. Saúde Pública.2004 Set/Out;20(5):1298- em até quarta série do ensino clarecer acerca de maneiras de Faria NMX, Fassa AG, Facchini LA. Fundamental e 1,3% possuem o evitar agravos e, caso ocorram, Intoxicação por agrotóxicos no Brasil: os sistemas oficiais de informação e desafios para realiensino médio. Dentre os assen- que saibam as condutas adequazação de estudos epidemiológicos. Ciênc. saúde tados, nenhum utilizou os EPI das para evitar danos à saúde coletiva. 2007; 12 (1): completos e adequadamente, e o dos expostos a estas substânci- 7. Estado do Rio Grande do Sul. Secretaria de Planejamento e Gestão. Fundação de Economia baixo índice de uso pode estar re- as. Os resultados também po- e E s t a t í s t i c a. D i s p o n í v e l e m lacionado ao baixo grau de esco- dem ser utilizados como subsíde novembro de < Acesso em 11 laridade dos assentados(12). dios para a implementação de 8. Brasil. Ministério da Saúde. Conselho Nesse contexto, pode-se propostas de educação em saúde Nacional da Saúde. Diretrizes e normas regulamentadoras da pesquisa envolvendo os seres huafirmar que a não utilização ou articuladas com programas de manos: Resolução 196/96. Brasília, incompleta das medidas de pro- prevenção e controle de agraagrotóxicos e suicídios no Estado do Mato 9. Pires DX, Caldas ED, Recena MCP. Uso de teção representa perigo à saúde vos, disponibilizando à comuni- Grosso do Sul, Brasil. Cad. Saúde Pública do agricultor, inclusive, gerando dade local e regional, um servi- Mar/Apr;21 (2): Soares WL, Porto MF. Atividade agrícola e aumento significativo no índice ço de informação e orientação externalidade ambiental: uma análise a partir de intoxicações por produtos quí- em nível de atendimento primá- do uso de agrotóxicos no cerrado brasileiro. C i ê n c. s a ú d e c o l e t i v a micos. rio. Jan/Mar;12(1): Os resultados desta pes- 11. Brasil. Ministério do Trabalho. Normas Conclusões quisa podem ser utilizados por Trabalho. São Paulo: Atlas; O perfil dos agricultores pesquisados é: a grande maioria do gênero masculino usa agrotóxicos nas plantações, casada, ma- estudantes, pesquisadores, profissionais que atuam tanto em or- ganizações desta natureza, co- mo também na Rede Básica de Regulamentadoras: Segurança e Medicina do 12. Rocha AM, Silva FA, Barbosa FR, Pereira RC, Ferreira LO. Uso de EPIs pelos produtores em dois assentamentos dos municípios de Lagoa Grande e Santa Maria da Boa Vista, Pernambuco. In: XXII Congresso Brasileiro de Entomologia Ago 06-11; Uberlândia, Minas Gerais. 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103 Alterações à saúde decorrentes do manuseio do glutaraldeído na desinfecção de artigos médico-hospitalares Health alterations due to the handling of glutaraldehyde in the disinfection of medical-hospital products Anielle Samara de Souza, Eliene Ferreira Resende, Liomar Afonso Teixeira, Miriam de Fátima Silva, Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi, Luiz Almeida da Silva, Sonia Aparecida Faleiros-RECENF-Revista Técnico-Científica de Enfermagem-2010v8-n25; ( ) Resumo O trabalhador de enfermagem expõe-se aos vários fatores de riscos em seu ambiente laboral, inclusive ao manusear Glutaraldeído, substância química utilizada nos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde para a desinfecção e esterilização de artigos médico-hospitalares não-descartáveis. Essa exposição tem gerado discussões sobre a saúde e segurança dos trabalhadores de enfermagem. O presente estudo tem como objetivo investigar as alterações à saúde ocasionadas aos trabalhadores de enfermagem relacionados ao manuseio desse produto no processo de desinfecção dos artigos médicohospitalares, bem como os principais meios de proteção necessários quando se utiliza essa substância e em qual ambiente essa deve ser manipulada. Utilizou-se como metodologia a revisão bibliográfica de artigos publicados na biblioteca eletrônica SciELO entre 1994 e 2008, utilizando-se os descritor glutaraldeído e enfermagem do trabalho. A amostra foi composta por oito artigos os quais foram lidos na íntegra e analisados criteriosamente. Com os resultados, constatou-se que o manuseio do glutaraldeído é um fator de risco ocupacional que pode ocasionar alterações em vários sistemas do corpo humano, como o respiratório, cardiovascular, gastrointestinal, tegumentar, ocular, entre outros sintomas; quando tal produto é manipulado pelo trabalhador de forma inadequada e sem o uso de equipamentos de proteção individual. Conclui-se que os trabalhadores de enfermagem que manipulam glutaraldeído necessitam aderir aos princípios de biossegurança dando ênfase na utilização dos equipamentos de proteção individual, evitando assim eventos como tosse, coriza, cefaléia, dermatites, ulcerações, irritações nos olhos, entre outros. Descritores: glutaraldeído, risco ocupacional, enfermagem do trabalho 208

104 Abstract Nursing workers are exposed to several risk factors in their occupational environment, including the handling of Glutaraldehyde, chemical substance used in Health Care Services, to the disinfection and sterilization of non-reusable medical-hospital products. This exposure has caused discussions about nursing workers' health and security. The present study aims to explore the alterations caused to nursing workers' health, related to the handling of Glutaraldehyde in the disinfection process of medical-hospital products, as well as the main protection means needed when using this substance and in which environment it should be handled. It was used as methodology the bibliographic review of articles published on the electronic library SciELO, between 1994 and 2008, using as descriptors Glutaraldehyde and occupational nursing. The sample consisted of eight articles which were read fully and thoughtfully analyzed. As results it was evidenced the handling of glutaraldehyde is an occupational risk factor that might cause changes in several body systems like the respiratory, cardiovascular, gastric, integumentary ocular systems, among others symptoms, when this product is handled by the worker improperly and without the use of personal protective equipment. It was concluded the nursing workers that handle of Glutaraldehyde need to adhere to the principles of biosafety, with emphasis on use of personal protective equipment, preventing events such as cough, runny nose, headache, dermatitis, ulcerations, eye irritation, among others Descriptors: Glutaraldehyde, Occupational Risks, Occupational Health Nursing Anielle Samara de Souza Enfermeira, Graduada no Centro Universitário do Triângulo UNITRI. Eliene Ferreira Resende - Enfermeira, Graduada no Centro Universitário do Triângulo UNITRI. elieneferesende@hotmail.com Liomar Afonso Teixeira - Enfermeiro, Graduado no Centro Universitário do Triângulo UNITRI. leo-saudepublica@hotmail.com Miriam de Fátima Silva - Enfermeira, Graduada no Centro Universitário do Triângulo UNITRI. mirian.2007@hotmail.com Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi. Enfermeira do Trabalho. Doutora em Enfermagem. Professora Titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto EERP-SP. avrmlccr@eerp.usp.br. Luiz Almeida da Silva - Enfermeiro do Trabalho. Mestrando em Enfermagem Fundamental - Saúde do Trabalhador EERP/USP, Professor do UNITRI- Uberlândia-MG. enferluiz@yahoo.com.br Sonia Aparecida Faleiros Especialista em Metodologia do Ensino Superior. Professora da Escola Navegantes, Uberlândia-MG. sonnyafaleiros@yahoo.com.br 209

105 Introdução 210 Anielle Samara de Souza, Eliene Ferreira Resende, Liomar Afonso Teixeira, Miriam de Fátima Silva, Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi, Luiz Almeida da Silva, Sonia Aparecida Faleiros. Uma das formas mais usuais para a prevenção de in- fecções hospitalares é o proces- so de esterilização e desinfecção dos artigos médico-hospitalares não descartáveis. Tais infecções constituem-se em um importan- te problema de Saúde Pública, tanto pela sua abrangência como pelos elevados custos sociais e econômicos (1). Os responsáveis pela se- gurança e eficácia da utilização d o s m a t e r i a i s m é d i c o - hospitalares, em geral, são os profissionais de enfermagem. Com a desinfecção e esterilização, que se constituem em procedimentos habitualmente realizados sob sua responsabilidade, pressupõe-se que a saúde dos trabalhadores de enfermagem deve ser considerada, já que eles estão diretamente envolvidos com as substâncias químicas utilizadas na destruição de microorganismos patogênicos, alojados nesses equipamentos. O manuseio inadequado de tais substân- cias pode causar danos à saúde constituindo-se em questão rele- vante para a segurança do trabalhador (2). Ao se relacionar a análise das vertentes entre saúde e tra- balho devem ser consideradas as discussões sobre biossegurança, entendida como um conjunto de ações voltadas para prevenção, minimização ou eliminação dos riscos inerentes às atividades la- borais. Essas atividades, na maioria das vezes, podem compro- meter a saúde do homem bem co- mo a qualidade do trabalho de- senvolvido (2). Na área de saúde pode- se observar a existência de nume- chuveiros para banho, ter água rosos fatores de riscos ocupacio- abundante e condições de atennais, sendo um deles representa- dimento imediato às vítimas de do pelo Glutaraldeído, agente de possíveis acidentes com esse risco químico, ao qual o traba- produto. A exposição ao vapor lhador pode se tornar exposto. de Glutaraldeído acontece quan- Esse produto é uma subs- do o trabalhador manipula os ar- tância química na forma líquida tigos em ambientes fechados, utilizada nos Estabelecimentos sem ventilação, favorecendo o Assistenciais de Saúde (EAS) aparecimento de irritação nos no processo de desinfecção e es- olhos, nariz e garganta, queima- terilização de artigos médico- duras cutâneas e outros (2). hospitalares, por ter eficiente pa- É de fundamental impel na eliminação de microrga- portância a conscientização e nismos como bactérias, fungos, educação permanente dos pro- vírus e outros. É aceito larga- fissionais proporcionando-lhes mente como desinfetante de alto condições para um trabalho se- nível e quimioesterilizador (3). guro, bem como a oportunidade No entanto, a recente para reflexões, discussões, críti- Resolução RDC n 8, de cas, atualização e adoção de me- 2 7 / 0 2 / d a A g e n c i a didas preventivas corretas (5). Nacional de Vigilância Sanitária Por atuar no processo de (ANVISA) determina que, fica desinfecção dos artigos médico- suspensa a esterilização quími- hospitalares não descartáveis, o ca por imersão, com agentes es- profissional de enfermagem ex- terilizantes líquidos, para o ins- p õ e - s e a o s e f e i t o s d o trumental cirúrgico e produtos Glutaraldeido, sendo os mais copara saúde utilizados nos proce- muns decorrentes dessa exposi- dimentos hospitalares (4). ção os seguintes: náuseas, cefa- Diante disso, no presen- leia, obstrução das vias aéreas, te estudo, não será abordada a es- asma, rinite, irritação dos olhos, terilização, e sim a desinfecção dermatite e descoloração da pepor Glutaraldeído, o que é pre- l e. Q u a n d o m a n i p u l a m conizado atualmente pela Glutaraldeído, precauções apro- ANVISA (4). priadas devem ser adotadas para A vigilância à saúde dos proteger a saúde, tornando astrabalhadores expostos aos fato- sim, imprescindível o uso de res de riscos químicos, em espe- EPI's (5). cial ao Glutaraldeído, deve ocor- A investigação das alte- rer de forma constante. A mani- rações à saúde ocasionada aos pulação dessa substância, diante trabalhadores de enfermagem, dos sérios riscos que pode ofere- relacionadas ao manuseio do cer a saúde do trabalhador ne- Glutaraldeído, no processo de cessita ser realizada com todos desinfecção dos artigos médicoos equipamentos de proteção in- hospitalares, possibilitará uma dividual (EPI) necessários. O promoção do conhecimento dos ambiente físico onde é manuse- profissionais de saúde quanto ado deve ser arejado, dispor de aos malefícios e benefícios do Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

106 Anielle Samara de Souza, Eliene Ferreira Resende, Liomar Afonso Teixeira, Miriam de Fátima Silva, Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi, Luiz Almeida da Silva, Sonia Aparecida Faleiros. mesmo favorecendo um melhor conhecimentos e métodos, os devem ser desinfectados e estecuidado às pessoas que procu- quais contribuíram para o con- rilizados de forma correta, com ram os serviços de saúde. trole da infecção hospitalar, po- o objetivo de prevenir as infec- Entende-se então que este estu- dendo-se citar Florence ções hospitalares (7). do é de relevância social e cien- Nightingale, Joseph Lister, No final do século XIX, tifica, contribuindo para aumen- Louis Pasteur e William o calor de aproximadamente tar o conhecimento sobre o te- Halstedt (6), entre outros. 125 graus centígrados e água em ma. A lavagem das mãos é ebulição foram elementos utilium procedimento rotineiro que zados para realizar a limpeza e Objetivos juntamente com o processo de desinfecção dos aventais e ins- Geral: investigar as altepresenta uma grande importân- Favoreceram a descoberta dos desinfecção e esterilização re- t r u m e n t a i s c i r ú r g i c o s. rações à saúde ocasionadas aos trabalhadores de enfermagem rehospitalares. O processo de de- atuais. Em 1867, Joseph Lister, cia no controle das infecções equipamentos de esterilização lacionados ao manuseio do Glutaraldeído no processo de dehospitalares constituiu-se em Louis Pasteur, concluiu que o sinfecção dos artigos médico- baseando-se nas descobertas de sinfecção dos artigos médicouma grande descoberta para eli- uso de ácido fênico ou ácido carhospitalares não descartáveis. Específicos: identificar minar antígenos patogênicos, bônico poderia reduzir o risco sinais e sintomas ocasionados uma prática já utilizada há mui- de infecções nos pacientes subpelo uso e manuseio do tos anos (6). metidos a cirurgias; se o feri- Glutaraldeído; quais os meios A r t i g o s m é d i c o - mento fosse coberto por uma atade proteção individual necessáde natureza diversa, utilizados e ria manter o antígeno distante hospitalares são instrumentos dura umedecida em fenol, pode- rios para manusear esse produto e qual o ambiente físico mais manuseados pelos pacientes, ta- dos ferimentos. Acreditava tam- adequado para este manuseio. is como utensílios (comadres, bém que as lavagens das mãos e papagaios, louças, talheres, dos instrumentos cirúrgicos na etc.), instrumentos de corte, pró- mesma solução diminuiriam as Revisão da literatura teses, drenos e outros. Podem infecções que poderiam ser proser História da desinfecção e da es- classificados em: artigos crí- venientes das mãos e instrumen- ticos (os que penetram através tos insuficientemente assépticos terilização da pele e mucosas nos tecidos (8). Naquela época era difícil A infecção hospitalar sub-epiteliais e no sistema vas- convencer as pessoas de que a hiapresenta relevância na história cular, tais como bisturis, agu- gienização das mãos e de instrudos hospitais e da medicina, po- lhas, entre outros. Pelo grande mentos cirúrgicos, de vestimenis muito se aprende com o passa- risco de transmissão, devem ser tas e do ambiente poderia prodo. Ignaz Semmelweis (1818- esterilizados); artigos semicríti- mover saúde e qualidade de vi- 1865) instituiu, no ato de lavar cos (os que têm contato com a pe- da. Entretanto, mesmo diante da as mãos, a medida de eleição no le não íntegra ou com mucosas evolução do conhecimento ciencontrole das infecções hospita- íntegras, como endoscópicos, la- tífico, as infecções hospitalares lares e Oliver Holmes (1909- ringoscópios, entre outros. ainda têm se constituído em gra- 1994) implantou a prática da la- Requerem desinfecção ve problema de Saúde Pública vagem das mãos, no controle de alto nível ou esterilização pa- envolvendo custos sociais e ecodas infecções cruzadas nos hos- ra ter garantia da qualidade do nômicos (3). pitais. O gesto de lavar as mãos seu múltiplo uso); artigos nãosobrevive como medida mais efi- críticos (os que entram em concaz na prevenção das infecções, O uso do Glutaraldeído no pro- tato com a pele íntegra, tais cotendo sido adotado por pessoas cesso de desinfecção mo termômetros axilares, estetoscópios e outros). Tais artigos importantes que desenvolveram Aldeídos têm sido usa- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

107 Anielle Samara de Souza, Eliene Ferreira Resende, Liomar Afonso Teixeira, Miriam de Fátima Silva, Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi, Luiz Almeida da Silva, Sonia Aparecida Faleiros. dos desde o ano de 1963, classi- mente com os de baixo nível, ção, ulcerações, queimaduras e ficados como solução germicida são tipicamente usados para arti- erupções alérgicas. Os sinais clíde alto nível, sendo capaz de es- gos que entrarão em contato so- nicos descritos com maior freterilizar artigos em período de mente com a pele íntegra ou pa- quência por trabalhadores de enexposição prolongado. O ra desinfecção de superfícies fermagem têm sido ardor nos Glutaraldeído é o agente mais (1). olhos e queimação no nariz. O utilizado na desinfecção. Na con- Na desinfecção de baixo uso impróprio do Glutaraldeído centração de 2%, não danifica nível, não há ação sobre os espo- propicia um risco real aos trabametais; é um produto não corro- ros ou o bacilo da tuberculose, lhadores de saúde, em especial sivo, sendo usado para instru- podendo ter ou não ação sobre ví- aos de enfermagem que desemmentos sensíveis ao calor, que rus não-lipídicos e com ativida- penham funções relevantes no são denominados de artigos ter- de relativa sobre fungos; capaz processo de desinfecção de artimossensíveis. Por outro lado, é de eliminar a maioria das bacté- gos médico-hospitalares, porconsiderado um produto tóxico rias em forma vegetativa (1). tanto, é imprescindível que utilie nocivo à saúde das pessoas que Riscos à saúde do traba- zem EPI e adotem medidas aproo manuseiam, podendo compro- lhador de enfermagem relacio- priadas de biossegurança (2). meter a saúde dessas pessoas, n a d o a o m a n u s e i o d o No Estado de São Paulo, quando não seguem as normas Glutaraldeído considerando-se que há dentro adequadas para desinfecção, No ambiente hospitalar dos EAS o uso inadequado do além de produzir efeitos nocivos há vários riscos ocupacionais, Glutaraldeído foi aprovada a ao meio ambiente (1). constituídos por uma multiplici- R e s o l u ç ã o S S - 2 7, d e A desinfecção dos arti- dade de fatores de riscos presen- 28/02/2007, da Secretaria de gos médico-hospitalares pode tes neste local, aos quais se sub- Estado da Saúde, instituindo meser divida em três níveis, de acor- metem os trabalhadores da saú- didas de controle sobre o uso do do com o poder de destruição de, em geral, incluindo-se os de produto. Entre outras determidos microorganismos. No seu es- enfermagem. Um desses riscos nações, instituiu-se que todos os pectro de ação a desinfecção de ocupacionais (químicos) está re- trabalhadores expostos devem alto nível deve iniciar a elimina- lacionado ao contato com o passar por exames médicos, tanção de alguns esporos, tais co- Glutaraldeído muito utilizado to admissionais como periódimo: o bacilo da tuberculose, nos hospitais e que tem causado cos, além de exame clínico minualém de todas as bactérias vege- danos à saúde do trabalhador, cioso e que inclua a avaliação de tativas, fungos e todos os vírus. sem que este perceba os sinais e aspectos neurocomportamenta- É indicada para artigos semicrí- sintomas inerentes ao manuseio is e exames de laboratórios inditicos, como lâminas de laringos- dessa substância (9). cadores do efeito da exposição. cópios, equipamento de terapia Trabalhadores da área Deve-se estar atento, respiratória, anestesia e endos- da saúde são expostos, então, di- também, para a necessidade de cópio de fibra ótica flexível (1). ariamente, a uma variedade de realização de exames de mudan- Na desinfecção de nível substâncias tóxicas. Há cerca de ça de função e de retorno ao traintermediário, não é esperada sete milhões de substâncias quí- balho. Além disso, os EAS dequalquer ação sobre os esporos micas registradas em nível mun- vem realizar programas internos bacterianos e ação média sobre dial. A maioria prejudiciais e sua de capacitação, treinamento e covírus não-lipídicos; mas se espe- toxidade está relacionada à do- municação de riscos aos trabara que seja tuberculicida e elimi- se, porém raramente os sinais clí- lhadores (10). Visando maior sene a maioria das células vegeta- nicos são associados à utilização gurança aos trabalhadores dos tivas bacterianas. Cloro, iodófo- desses produtos (2). serviços de saúde, foi elaborada ros, fenólicos e álcoois perten- As principais manifesta- a Norma Regulamentadora cem a esse grupo. Os desinfe- ções que traduzem uma agres- NR 32 intitulada Segurança e tantes dessa classificação, junta- são cutâneo-mucosa são: irrita- Saúde no Trabalho em Serviços 212 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

108 Anielle Samara de Souza, Eliene Ferreira Resende, Liomar Afonso Teixeira, Miriam de Fátima Silva, Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi, Luiz Almeida da Silva, Sonia Aparecida Faleiros. de Saúde. Essa Norma Regulamentadora NR tem por finalidade estabelecer as diretrizes básicas para a implementação de medidas de proteção à segurança e à saúde dos trabalhadores dos serviços de saúde, bem como daqueles que exercem atividades de promoção e assistência à saúde em geral. Para fins de aplicação desta NR entende-se por serviços de saúde qualquer edificação destinada à prestação de assistência à saúde da população e todas as ações de promoção, recuperação, assistência, pesquisa e ensino em saúde em qualquer nível de complexidade (11). Metodologia Trata-se de um estudo de revisão de literaríodo de 1994 a 2008 oito artigos foram publicados Conforme descrito anteriormente, no petura onde foram procurados artigos nacionais punos periódicos Revista Latino-Americana de blicados entre 1994 e 2008 na biblioteca eletrônica SciELO -Scientific Electronic Library Online. O le- Enfermagem, Ciência, Cuidado e Saúde, Revista vantamento bibliográfico foi realizado no período Brasileira de Enfermagem, Revista Eletrônica de de fevereiro a outubro de 2009, utilizando-se os Enfermagem, Revista de Enfermagem da UERJ, descritores constantes no DeCS da Bireme; Acta Ortop Brás, Brasiliamédica; sendo que cinco Glutaraldeído, riscos ocupacionais e enfermagem foram de revisão bibliográfica e três de pesquisa do trabalho. descritiva com análise quantitativa de dados. A partir dessa estratégia foram identificado, os achados foram divididos nos tópicos descri- Em consonância com os objetivos do estudos, inicialmente 82 artigos, os quais seus resumos foram analisados criteriosamente. Foram incluídos tos a seguir. os artigos com acesso na íntegra; publicados no idisintomas ocasionados pelo uso e manuseio do Quanto ao objetivo de identificar sinais e oma português e aqueles que embora não tivessem todos os descritores, estivessem relacionados com Glutaraldeído, as alterações à saúde do trabalhador alterações à saúde em enfermagem e glutaraldeído. encontradas nos artigos utilizados neste estudo, fo- Foram excluídos aqueles que, embora os descritono e estão apresentadas a seguir. ram divididas conforme os sistemas do corpo humares os direcionassem, não se relacionavam diretamente ao tema proposto. Ao final, obedecidos aos critérios de inclusão e exclusão dos artigos, obteve-se, o total de oito que abordavam as alterações à saúde dos trabalhadores de enfermagem, ocasionado pelo manuseio inadequado do Glutaraldeído. Para melhor fundamentação teórica que possibilitasse uma boa discussão, foram também utilizados outros manuscritos encontrados na ANVISA e outras literaturas impressas pertinenços de saúde e a segurança do trabalhador, os prin- No artigo O uso do Glutaraldeído em servites, tais como: livros e revistas científicas. cipais sinais e sintomas citados foram: prurido, manchas pelo corpo, falta de ar e edema na face, le- Resultados e discussão sões na boca, ardor na garganta e olhos, queimação No quadro a seguir estão apresentadas algu- no nariz. É relevante destacar que nem sempre esmas características dos artigos utilizados na pes- tes sinais e sintomas são percebidos pelos trabalhaquisa. dores que manuseiam tal produto (2). Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

109 Anielle Samara de Souza, Eliene Ferreira Resende, Liomar Afonso Teixeira, Miriam de Fátima Silva, Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi, Luiz Almeida da Silva, Sonia Aparecida Faleiros. No artigo Riscos quími- do interior do estado de Goiás há tais, destinados a conhecer e concos a que estão submetidos os o relato que a descentralização trolar os riscos que o trabalho potrabalhadores de enfermagem: ou a semicentralização dificul- de oferecer ao ambiente e à vida uma revisão bibliográfica foram tam a padronização das etapas (7). relatados casos de enfermeiros e operacionais do reprocessamen- Nos EAS a biosseguranmédicos apresentando manifes- to dos artigos (limpeza, seca- ça necessita ser mais bem comtações clínicas como lacrimeja- gem, preparo, acondicionamen- preendida pelos profissionais mento, rinites, dermatites, difi- to, desinfecção e esterilização) que ali atuam, especialmente, os culdades respiratórias, náuseas (12). que trabalham em áreas hospitae dor de cabeça após a exposição A sala onde ocorre a de- lares críticas, uma vez que estão ao Glutaraldeído (9). sinfecção por Glutaraldeído de- mais suscetíveis a adquirir doen- O uso de EPI é uma das ve dispor no mínimo de banca- ças provenientes de acidentes de medidas de segurança para os das com cubas, ponto de água trabalho, por ausência de adoprofissionais que manipulam fria, revestimentos de paredes e ção e compreensão da biossegusubstâncias tóxicas em seus loca- piso com material impermeável rança (13). is de trabalho; esses equipamen- e de fácil higienização, ralo sin- Biossegurança pode ser tos são regulamentados pela fonado com tampa escamoteá- também entendida como um con- P o r t a r i a N R - 6 d o vel, sinalização gráfica para junto de ações voltadas para a Ministério do Trabalho e devem identificação do local, lava prevenção, minimização ou eliser disponibilizados aos traba- olhos para uso de emergência e minação de riscos inerentes às lhadores. Para o manuseio ade- sistema de ventilação (7). atividades de pesquisa, produquado do Glutaraldeído necessi- A falta de planejamento ção, ensino, desenvolvimento ta-se de avental impermeável, lu- do espaço físico, a aeração ina- tecnológico e prestação de serva de nitrila ou dupla luva de lá- dequada e as temperaturas ele- viços, riscos que podem comtex; óculos de proteção e másca- vadas podem agir sinergicamen- prometer a saúde do homem, anira com filtro químico (2). te e contribuir para o aumento mais, meio ambiente ou a quali- O fator ambiental é um d a s c o n c e n t r a ç õ e s d o dade dos trabalhos desenvolviaspecto relevante a ser observa- Glutaraldeído nesses locais, po- dos (13). do com elevada atenção na rela- tencializando o risco laboral. Trabalhadores de enferção com a exposição do profissi- Recomenda-se que o desloca- magem compõem a maioria dos onal a esse composto químico, mento do ar deva ser sempre das que atuam na área de saúde e são durante o período de trabalho. A áreas de baixo para as de maior as pessoas que estão frente à de- Sociedade Brasileira de risco, ou das áreas limpas para sinfecção de artigos médico- E n f e r m e i r o s d e C e n t r o as menos limpas (2). hospitalares termossensíveis, C i r ú rg i c o, R e c u p e r a ç ã o No que se refere ao obje- sempre expostos aos produtos Anestésica e Centro de Material tivo de identificar quais os mei- químicos, como por exemplo, o e Esterilização (SOBECC) reco- os de proteção necessários ao Glutaraldeído, muito utilizado menda que, a esterilização de manusear o produto, encontrou- para este tipo de desinfecção. material, deve ocorrer de forma se a biossegurança, que é uma Diante da definição de biossecentralizada. Condições apro- área de conhecimento relativa- gurança, o uso dos EPI é indispriadas de segurança em um am- mente nova, a qual impõe desa- pensável para o manuseio desse biente de trabalho devem ser pre- fios não somente à equipe de saú- produto químico, por se tratar de vistas em seu plano arquitetôni- de, mas também às empresas uma substância altamente tóxico e implementadas na execu- que investem em pesquisas. ca (13).. ção da obra (2). Designa um campo de Os EPI constituem-se No artigo Avaliação ar- conhecimento e um conjunto de em dispositivos de proteção indiquitetônica do centro de materi- práticas e ações técnicas, com vidual que destinam a proteger o al de esterilização de hospitais preocupações sociais e ambien- trabalhador e minimizar aciden- 214 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

110 Anielle Samara de Souza, Eliene Ferreira Resende, Liomar Afonso Teixeira, Miriam de Fátima Silva, Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi, Luiz Almeida da Silva, Sonia Aparecida Faleiros. tes ocupacionais e são funda- se concentra a maioria dos tra- Glutaraldeído, a recente NR 32 mentais para os profissionais de balhadores da área de saúde, que trata sobre a segurança nos enfermagem que trabalham com principalmente a equipe de en- serviços de saúde, também exprodutos químicos em desinfec- fermagem que presta assistência plicitam a necessidade de utilição de artigos médico- direta e indireta ao paciente, que zação de EPI para os vários tipos hospitalares não descartáveis permanecem a maior parte do de atividades desenvolvidas nos (14). seu tempo dentro desse ambien- EAS, equipamentos estes que O fator de prevenção de te, muitas vezes em mais de um vão promover a proteção e seguacidente ocupacional mais rele- turno de trabalho. O ambiente rança dos trabalhadores (11). vante é a atitude que cada indiví- hospitalar, local onde se tenta O trabalhador de enferduo adota, graças a um processo salvar vidas e recuperar a saúde magem torna-se mais vulneráeducativo, pois a própria equipe perdida das pessoas doentes é o vel aos riscos, devido à diverside enfermagem tem dificuldade mesmo que favorece o adoecer ficação das atividades e o coe resistência em aderir às medi- das pessoas que nele trabalham, nhecimento ainda precário da das de segurança que buscam a porque aparentemente, não há equipe, no que diz respeito aos proteção ao risco, subestiman- uma inquietação com a prote- riscos associados à manipulação do, muitas vezes, o próprio risco ção, promoção e manutenção da de produtos químicos, não reco- (5). saúde de seus empregados (9). nhecendo a nocividade para a sa- A educação em biosse- A preocupação com a sa- úde, quando são manipulados gurança não foi inserida nas dis- úde do trabalhador da saúde fez inadequadamente (8). posições legais de formação dos se presente desde 1700, quando Durante a exposição e profissionais de enfermagem, Ramazzini questionou a conta- manuseio do glutaraldeído são existindo, ainda, um largo cami- minação das parteiras, possíveis necessários cuidados específinho entre a dimensão do proble- precursoras dos trabalhadores cos tais como: proteção dos ma, formação e capacitação de de enfermagem, durante a reali- olhos, das mãos, do corpo e via recursos humanos para a con- zação de seu trabalho e consoli- respiratória. cretização de uma prática pro- dou-se após o reconhecimento Em relação à proteção f i s s i o n a l s e g u r a. das ações de risco a relevância dos olhos, esses devem ser pro- Consequentemente exis- do uso dos EPI (9). tegidos contra o contato com a te uma deficiência na formação No ambiente hospitalar solução de glutaraldeído e os níprofissional do enfermeiro, no os profissionais de enfermagem veis de vapor devem ser controque tange à sua sensibilização estão submetidos aos vários ris- lados para prevenir irritação nos para medidas relativas à biosse- cos, dentre eles, os químicos, bi- olhos; óculos com ampla visão gurança (5).. ológicos, físicos e outros. Os ris- e/ou peça facial inteira devem A representação da bios- cos químicos são os gerados pe- ser usados sempre que trabalhar segurança é descrita pelos traba- lo manuseio de uma grande vari- com o produto (15). lhadores de enfermagem como edade de substâncias químicas, Quanto à proteção das EPI, antissepsia e uso apropria- provenientes da manipulação de mãos, elas devem ser protegidas do de descartex e outros. Essas sustâncias utilizadas em áreas do contato com a solução, luvas representações apresentam-se de limpeza, desinfecção e esteri- de borracha nitrílica e butílica fortemente vinculadas aos as- lização dos materiais, equipa- são os materiais mais imperpectos benéficos das ações nes- mentos e mobiliários utilizados meáveis ao glutaraldeído. se aspecto por proporcionar me- pelos pacientes (8). Entende-se Polietileno e propileno fornedidas de proteção individual e que os EPI ajudam a eliminar ou cem proteção adequada por algucoletivas aos pacientes e profis- minimizar os acidentes de traba- mas horas. Polivinil e neoprene sionais do ambiente hospitalar lho. não fornecem proteção adequa- (13). Apesar de não se restrin- da ao glutaraldeído. Luvas de lá- O hospital é o local onde g i r a p e n a s a o u s o d o tex não devem ser usadas, exce- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

111 to por curto período de tempo central com filtros, não possuem é de fundamental importância a em contatos acidentais (15). renovação do ar, apenas recircu- utilização de medidas apropria- Para a proteção do corpo lação (15). das de biossegurança além dos recomenda-se o uso de capas, A SOBECC recomenda EPI, o que implica na redução aventais ou jalecos com mangas que o ambiente onde se inicie o dos fatores de riscos ocupaciolongas e punhos em materiais im- processo de desinfecção e este- nais. Os principais equipamenpermeáveis disponíveis em poli- rilização seja centralizado. O tos recomendados quando houetileno e polipropileno. Tais ves- planejamento do ambiente físi- ver necessidade de manipulação timentas de proteção devem ser co é de suma importância, con- desse produto são: óculos com removidas, imediatamente com siderando-se as diferentes eta- ampla visão ou peça facial inteia saturação e lavadas antes do re- pas do processamento dos mate- ra; luvas de borracha nitrílica e uso; se houver qualquer contato riais, até a sua distribuição nas butílica; aventais ou jalecos com do produto com a pele, o local de- unidades do hospital. Por isso de- mangas longas e punhos em mave ser lavado com sabão sob ve ser executado por equipe mul- teriais impermeáveis; máscaras água corrente por pelo menos 15 tiprofissional, cuja atenção deve compatíveis com o trabalho reaminutos (15). estar voltada para a dinâmica de lizado e inseridos no PPR. Com relação à proteção funcionamento do setor. Quanto A manipulação do respiratória, todos os indivíduos a essa dinâmica existem três ti- Glutaraldeído deve acontecer expostos ao vapor de glutaralde- pos de central de esterilização: a em ambiente apropriado com o ído devem usar respiradores ade- descentralizada cada unidade objetivo de propiciar ao trabaquados durante os procedimen- ou conjunto de unidades do hos- lhador um local salubre e evitar tos de rotina ou emergenciais e pital é responsável por preparar acidentes relacionados a este inseridos em Programa de e esterilizar os materiais que uti- produto químico. Proteção Respiratória (PPR), de liza; a semicentralizada, onde ca- Percebe-se que há neacordo com as recomendações da unidade prepara os seus mate- cessidade de aumentar o número técnicas da Fundação Jorge riais, mas encaminha à Central de pesquisas sobre essa temática D u p r a t F i g u e i r e d o d e de Material para serem esterili- com desígnio de incrementar o Segurança e Medicina do zados e a centralizada, onde os conhecimento existente sobre a Trabalho (FUNDACENTRO), materiais de uso em todas as uni- mesma, contribuindo também conforme estabelecido na dades do hospital são totalmente para que o trabalhador de enfer- Instrução Normativa n. 1 de processados na Central de magem tenha sempre informa- 11/04/94 (15). Material (16). ções pertinentes sobre os pro- Quanto ao objetivo de blemas ocupacionais relacionaidentificar qual o ambiente físi- Conclusão dos aos riscos químicos em geco mais adequado para o manu- O trabalhador de enferseio do Glutaraldeído, ficou evi- ral e ao Glutaraldeído em espemagem que manuseia o cial. dente que nos EAS, especial- Glutaraldeído no processo de demente em hospitais, a ativação e sinfecção de artigos médicomanipulação do produto são rea- Referências hospitalares não descartáveis 1. Fernandes, AT. Infecções e suas interfa- lizadas na Central de Materiais e ces na área da saúde. São Paulo: Atheneu, apresenta sinais e sintomas que Esterilização (CME), isto é, cennem sempre são percebidos, 2.Tipple, AFV et al. O Uso do t r a l i z a n d o o s e u u s o. mas que podem afetar a saúde fu- Glutaraldeído em serviços de saúde e a se- Recomenda-se a não utilização gurança do trabalhador. Rev enferm turamente, tais como, obstrução em Centros Cirúrgicos para não UERJ. 2004; 12: das vias aéreas superiores, tosse, 3. Kalil, EM; Costa, AJF. Desinfecção e esexpor os trabalhadores e os pacicoriza, cefaleia, dermatites, ulceentes ao vapor orgânico, pois os 4. Ministério da Saúde (Br). Agência terilização. Acta ort brás. out-dez, rações, erupções alérgicas, irriambientes fechados, mesmo Nacional de Vigilância Sanitária. tação nos olhos, lacrimejamen- Resolução RDC n 08, de 19 de fevereiro com sistema de ar condicionado to, dentre outros. Nesse aspecto de Dispõe sobre as medidas para re- 216 Anielle Samara de Souza, Eliene Ferreira Resende, Liomar Afonso Teixeira, Miriam de Fátima Silva, Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi, Luiz Almeida da Silva, Sonia Aparecida Faleiros. Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

112 Anielle Samara de Souza, Eliene Ferreira Resende, Liomar Afonso Teixeira, Miriam de Fátima Silva, Maria Lúcia do Carmo Cruz Robazzi, Luiz Almeida da Silva, Sonia Aparecida Faleiros. dução de infecções por Micobactérias de Crescimento Rápido MCR em serviços de saúde da ANVISA. Brasília (DF): ANVISA; Andrade, AC; Sanna, MC. Ensino de Biossegurança na Graduação em Enfermagem: uma revisão da literatura. Rev bras enferm [periodico na Internet] out [citado em 2010 fev 27] ; 60(5): Disponível em: i _ a r t t e x t & p i d = S &lng=pt. 6. Andrade, GM. Infecção Hospitalar: mitos e verdades, velhos hábitos, novas atitudes. Brasiliamédica, 2002; Ministério da Saúde (Br). Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Informe Técnico n 04/07 de março de Glutaraldeído em Estabelecimentos de Assistência a Saúde. Brasília (DF): ANVISA; Steinhofel, E; Piccoli, M; Maraschin, M. A utilização de Equipamentos de Proteção Individual pela equipe de enfermagem na área de limpeza e desinfecção de materiais: revisando a literatura. Ciência, Cuidado e Saúde. 2002; 1: Xelegati, R; Robazzi, MLCC. Riscos químicos a que estão submetidos os trabalhadores de enfermagem: uma revisão de literatura. Rev Latino-Am Enfermagem [ periodico na Internet] Jun [acesso 2010 fev 27]; 11(3): Disponível em: i _ a r t t e x t & p i d = S &lng=pt. 10. São Paulo. Gabinete do Secretário. Resolução SS-27 de 28 de fevereiro de Aprova Norma Técnica que institui medidas de controle sobre o uso do Glutaraldeído nos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde. Diário Oficial do Estado de são Paulo. [Documento na internet], 2007 abril [citado em 2010 abr 16]. D i s p o n í v e l e m : do/resolucao.pdf. 11. Robazzi, MLCC; Barros, JCJ. Proposta brasileira de normatização para os trabalhadores da saúde. Cienc enferm. [periódico na Internet] Dez [citado 2010 Fev 08]; 11(2): Disponível em: _ a r t t e x t & p i d = S &lng=pt. 12. Guadagnin, SVT; Tipple, AFV; Souza, ACS. Avaliação arquitetônica dos centros de material e esterilização de hospitais do interior do estado de Goiás. Revista Eletrônica de Enfermagem [ periódico na internet]. set-dez, 2007[ acesso em 2010 jun 06]; 09 (03): ,. Disponível em: 07.htm. 13. Teixeira, P; Valle, S. Biossegurança: uma abordagem multidisciplinar. Rio de Janeiro: Fiocruz; Ministério da Saúde (Br). Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Norma Regulamentadora n 6 de 19 de Junho de Equipamento de Proteção Individual. Brasília (DF): ANVISA; Branco, JC et al. Associação de Combate aos Poluentes; Associação de Consciência à Prevenção Ocupacional. P r o t o c o l o d e P r o c e d i m e n t o s C o m p u l s ó r i o s p a r a o u s o d o Glutaraldeído. [site na internet] [citado em 2009 abr 06]. Disponível em: Pinto, CAL. A importância do enfermeiro na Central de Material Esterilizado. [ site na internet]. Nov [citado em 2009 m a i 0 3 ]. D i s p o n í v e l e m : 4/1/a-importancia-do-enfermeiro-nacentral-de-material-esterilizado. Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

113 C a d e r n o d a Saúde do Idoso

114 Conselho Cientifico do Caderno da Saúde do Idoso Diretor Científico/Scientific Editor Dr. José Vitor da Silva- Saúde da Pessoa Idosa-Escola Enferm. Wenceslau Braz,UNIVÁS/MG-BRASIL Conselho Científico Dra. Cristiane Giffoni Braga Mattos- Doutora em Enfermagem, Diagnósticos de enfermagem- Escola de Enfermagem Wenceslau Braz/ MG- BRASIL Dra. Maria Angélica Mendes- Doutora em Enfermagem,Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE)-UNIFAL/ MG-BRASIL

115 Avaliação da qualidade de vida dos homens idosos residentes em cidades sul-mineiras Life quality evaluation of elderly men living in south of Minas Daniel Rodrigues Machado, Ewerton Naves Dias, José Vitor da Silva, Luciano Magalhães Vitorino, Fernando Magalhães Vitorino. RECENF-Revista Técnico-Científica de Enfermagem-2010-v8-n.25;( ). Resumo Os objetivos do presente estudo foram: 1) identificar as características biossociais, familiares, econômicas e de saúde dos homens idosos, residentes em cidades sul-mineiras; 2) avaliar a sua QV e 3) relacionar as características biossociais, familiares, econômicas e de saúde com a QV. A abordagem foi do tipo quantitativo, descritivo e transversal. A amostra foi de 300 pessoas do gênero masculino com 60 anos ou mais, das cidades de Itajubá, Maria da Fé e Brazópolis, MG. A amostragem foi do tipo não probabilístico intencional. A entrevista foi estruturada direta. Foram utilizados três instrumentos: 1) Características biossociais, familiares, econômicas e de saúde; 2) WHOQOL-bref e 3) WHOQOLold. Numa escala de 0 a 100 pontos, a avaliação da QV geral, por meio do WHOQOL-bref, apresentou M= 74,20 e DP= 8,65. O domínio psicológico foi aquele que mais qualificou a QV com M= 76,2 e DP= 9,86; já o domínio meio ambiente obteve o escore mais baixo (M= 70,45 e DP= 9,77). Quanto à avaliação da QV total por meio do WHOQOL-old (em uma escala de 0 a 100 pontos), obteve-se M= 75,6 e DP= 8,12. O domínio funcionamento do sensório foi o que mais contribuiu com a QV com M= 80,65 e DP= 16,75. A dimensão autonomia foi a que alcançou pontuação mais inferior entre as demais (M= 70,25 e DP= 11,35). Ao relacionar as variáveis biossociais com o WHOQOL-old, encontrou-se correlações positivas e significativas. As pessoas idosas qualificaram sua vida como muito boa, tanto do ponto de vista geral como específico. Descritores: Qualidade de vida; idoso; gênero. Abstract The present study aimed at first to identify the biosocial, familiar, economic and health features of elderly men, living in the south of Minas; secondly to evaluate their QL and in third place to relate the biosocial, familiar, economic and health features with the QL. It is a quantitative, descriptive and transversal study. The sample was composed of 300 male people, aging 60 years or more, living in the cities of Itajubá, Maria da Fé and Brazópolis, MG. It was an intentional, non probabilistic kind. Three instruments were applied: 1) Biosocial, familiar, economic and health features; 2) WHOQOL-bref; 3) WHOQOL-old. In a scale of 0 to 100 points, the evaluation of general QL, through WHOQOL-bref, presented M= 74,20 and DP= 8,65. The psychological dominium was the one that most qualified the QL with M= 76,2 and DP= 9,86; the environmental dominium got the lower score in relation to the others (M= 70,45 e DP= 9,77). Regarding the total QL evaluation by through WHOQOL-old (in a scale of 0 to 100 points), it got M= 75,6 e DP= 8,12. The sensory working dominium was the one that most contributed to the QL with M= 80,65 and DP= 16,75. On the other hand, the autonomy dimension was the one that got the lowest punctuation among the (M= 70,25 e DP= 11,35). Elderly people qualified their lives as very good, both from general and the specific point of view. Descriptors: Quality of life; elderly; gender. Daniel Rodrigues Machado. Acadêmico do 6º Período do Curso de Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB). Bolsista de Iniciação Científica da Fapemig. Ewerton Naves Dias. Enfermeiro, docente da EEWB. Mestrando pela Universidade de São Paulo (USP). José Vitor da Silva. Enfermeiro, docente da EEWB. Pós-doutorando pela USP. Luciano Magalhães Vitorino. Enfermeiro, docente da EEWB. Mestrando pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Fernando Magalhães Vitorino. Enfermeiro, docente da EEWB. 220

116 Daniel Rodrigues Machado, Ewerton Naves Dias, José Vitor da Silva, Luciano Magalhães Vitorino, Fernando Magalhães Vitorino. Introdução Na atualidade, observase a ascensão da tecnologia voltada para a saúde, mais acesso à vacinação, medicações, exames, e melhoria nas condições sanitárias das zonas rurais e urbanas. Todos esses fatores podem ser citados como responsáveis pelo aumento da expectativa de vida das pessoas e, consequente- mente, pela transição demográ- fica que os países desenvolvidos e em desenvolvimento como o Brasil estão vivenciando (1). O envelhecimento populacional é hoje um fenômeno mundial de relevância conside- rável, determinando um aumento da população idosa em rela- ção aos demais grupos etários. Em 1950, o percentual de pessoas com 60 anos ou mais de idade era de 8,2%; em 2000 essa faixa etária alcançou 10%. As proje- ções para 2050 afirmam que ha- verá uma pessoa idosa para cada grupo de cinco indivíduos (2). Para Trentini (3) é reconhecido que viver por muitos anos sempre foi desejado pela humanidade, mas somente esse fato não é satisfatório para preencher os objetivos humanos. Diante desse panorama, fica cla- ra a importância dos estudos direcionados à avaliação da Qualidade de Vida (QV) na velhice, pois eles têm o potencial de esclarecer se as pessoas ido- sas estão adicionando anos à vida ou vida aos anos. A noção de QV vai além das questões que refletem o campo saúde e doença; possui, portanto, um campo semântico e pluralista: de um lado, encontrase relacionada ao modo de vida, suas condições e estilos; de ou- 1950, eram cerca de 204 mitro, ao desenvolvimento susten- lhões de pessoas idosas no muntável e aos direitos humanos e so- do e, em 1998, quase cinco décaciais (4). das depois, esse contingente pas- Paschoal (5) afirma que sou a somar 579 milhões de indiexistem diferenças entre a QV víduos, um crescimento de qua- do homem idoso e a QV da mu- se oito milhões de gerontes por lher idosa. Envelhecer em uma ano. Existem projeções que indi- classe social poderosa é diferen- cam que, em 2050, o número de te do envelhecer pertencendo a pessoas idosas será de 1,9 bilhão uma classe social menos favore- (8). cida, e envelhecer enquanto ho- Uma pesquisa recente mem é diverso de envelhecer diz que 9% da população da sendo mulher. Envelhecimento América Latina possui 60 anos envolve, portanto, classe social ou mais de idade, e a previsão pae gênero (6). ra 2050 é de que, para cada cinco Barros (7) comenta que latino-americanos, um terá essa o homem idoso passa a ter o seu idade (9). dia a dia no espaço privado, per- No Brasil, estima-se que dendo assim o poder caracterís- 34 milhões de pessoas terão idatico do homem adulto jovem, de igual ou superior a 60 anos que tem no espaço público sua até a data de 2025, o que repreatuação cotidiana; isso repre- senta, aproximadamente, ex- sentaria, portanto, perda de po- pressivos 13% da população to- der, que tem repercussões signi- tal. Em 2000, o número de indificativas na imagem de autono- víduos com 60 anos ou mais era mia e de liberdade vivenciada pe- de cerca de contra la maioria dos homens em 1991 (10). Diante do exposto, é viá- Por essas mudanças na vel o questionamento sobre a estrutura da população entende- QV do homem idoso. Os objeti- se transição demográfica, que é vos do trabalho foram: 1) identi- definida como o processo de alte- ficar as características biossoci- ração de uma situação com altas ais, familiares, econômicas e de taxas de fecundidade e mortali- saúde dos homens idosos, resi- dade para outra com baixas tadentes em cidades sul-mineiras; xas desses indicadores (11). 2) avaliar a QV dos homens ido- A transição demográfica sos e 3) associar as característi- é um fenômeno assinalado por cas biossociais, familiares, eco- quatro fases. A primeira fase é ca- nômicas e de saúde, com a QV, racterizada por elevadas taxas dos homens idosos. de fecundidade e mortalidade. Na segunda, a fecundi- Revisão de literatura dade continua alta, mas, com os O crescimento da popuprevenção de doenças, a taxa de avanços científicos e sociais na lação idosa, em números relatimortalidade começa a declinar. vos e absolutos, é um fenômeno mundial e está ocorrendo de fordidade entra em queda Na terceira fase, a taxa de fecun- ma sem precedentes. No ano de junto Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

117 Daniel Rodrigues Machado, Ewerton Naves Dias, José Vitor da Silva, Luciano Magalhães Vitorino, Fernando Magalhães Vitorino. o com a mortalidade e começa a existentes sobre o real significa- tência desse diferencial, sendo haver maior proporção de adul- do do termo QV nos últimos tem- maior a mortalidade masculina tos e jovens, não mais de crian- pos, os pesquisadores concor- em praticamente todas as idaças. Por fim, a última fase é mar- dam que o termo é ambíguo e in- des, e para quase a totalidade das cada com a continuidade da redu- consistente, que possui várias de- causas. A menor sobrevida masção da taxa de fecundidade e de finições constituídas por uma va- culina foi, ou ainda é, quase semmortalidade e, consequente- riedade de fatores objetivos e pre aceita sem muita discussão e mente, o número de pessoas ido- subjetivos que alternam de indi- vista somente como resultado de sas torna-se expressivo (12). víduo para indivíduo, e que so- fatores biológicos (24). Para Freitas (13), a população fre influências de valores étni- Figueiredo (25) comenta brasileira está inserida na tercei- cos, religiosos e culturais que os homens não buscam, cora fase dessa transição. (18,19). mo fazem as mulheres, os servi- Segundo Bimbato (14), Kimura (20) esclarece ços de atenção primária. Brasil em meio a essas transformações que, embora haja divergência (26) concorda com esta idéia e expressivas, na estrutura popu- quanto ao real significado desse acrescenta dizendo que os holacional, ocorrem alterações, termo, observa-se que há con- mens adentram o sistema de saútambém, nas características epi- cordâncias, entre os autores, de pela atenção ambulatorial e demiológicas. A transição epi- quanto à inclusão de aspectos re- hospitalar de média e alta comdemiológica é definida como: lacionados à capacidade funcio- plexidade, o que causa o agravo mudanças nos padrões de mor- nal, às funções fisiológicas, ao da morbidade pela demora na bimortalidade, principalmente, comportamento afetivo e emo- atenção e também um maior gaspor declínio das doenças infec- cional, às interações sociais, ao to para os serviços de saúde. to-parasitárias e aumento das do- trabalho e à situação econômica, As pesquisas qualitatienças crônico-degenerativas centrados na avaliação subjetiva vas apontam várias razões para a (15). dos indivíduos. Assim a QV baixa adesão dos homens aos ser- Em território brasileiro, apresenta-se, como um constru- viços de saúde, mas, de um moum terço dos indivíduos que che- to multifatorial, muito mais am- do geral, esses motivos podem gam aos 70 anos são portadores plo do que meramente a presen- ser divididas em dois grupos de doenças crônicas e pelo me- ça ou ausência de saúde. principais: barreiras sóciocultunos 20% dessas pessoas idosas O modo de viver do ho- rais e barreiras institucionais terão algum grau de incapacida- mem gera estresse, sedentaris- (26,27). de associada, implicando dimi- mo, má alimentação e prática de Os estereótipos de gênenuição da capacidade física e res- comportamentos não saudáveis ro, presentes há centenas de trições à autonomia e à indepen- e de risco. É comum esse cida- anos na cultura patriarcal, podência (16). dão possuir várias parceiras se- tencializam práticas baseadas A QV vem-se tornando xuais, não fazer uso de preserva- em crenças e valores do que é ser uma variável útil para determi- tivo, consumir bebidas alcoóli- masculino. O homem não reconar o impacto global das doen- cas e tabaco, não usar cinto de se- nhece a fragilidade como ineças e dos tratamentos médicos a gurança, entre outras atitudes, rente à sua condição biológica e, partir da perspectiva do indiví- propiciando tanto o desenvolvi- portanto, tenta esconder qualduo, e sua avaliação é potencial- mento de doenças como de situ- quer tipo de evento que contrarie mente válida para aplicações na ações que aumentam as taxas de essa perspectiva, inclusive a dopesquisa e prática clínica para ex- mortalidade (21, 22, 23). ença (26). Segundo Bozon (28) plicitar o impacto das doenças e Vários estudos mostram o homem julga-se invulnerável, o possível benefício das inter- maior mortalidade masculina do o que acaba por contribuir para venções terapêuticas (17). que feminina. A maioria dos indi- que ele dispense menos cuida- Apesar de grande utili- cadores tradicionais de saúde dos a si mesmo e se exponha mazação e de diversas discussões apontam, com clareza, a exis- is às situações de risco. 222 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

118 Daniel Rodrigues Machado, Ewerton Naves Dias, José Vitor da Silva, Luciano Magalhães Vitorino, Fernando Magalhães Vitorino. Muitos homens alegam que não procu- Saúde do Ministério da Saúde, no que concerne ram os serviços de atenção primária em razão da a estudos que envolvem seres humanos. O trabaposição de provedores que ocupam. Eles argu- lho foi encaminhado ao Comitê de Ética em mentam que os horários de funcionamento des- Pesquisa da Escola de Enfermagem Wenceslau ses tipos de serviço coincidem com a carga horá- Braz (EEWB), tendo recebido parecer favorável ria de seu trabalho. Não há duvida de que isso é sob o número de protocolo: 219/2008. uma barreira importante, contudo, há de se destacar que grande parte das mulheres se inclui na força produtiva, e nem por isso elas ignoram a sa- Resultados úde (26). A maioria dos participantes (97,66%) re- sidiam na zona urbana; a média de idade foi de 71,08 anos; 92,66% praticavam alguma religião, Material e método sendo predominante a católica com 92,44%. No A abordagem do estudo foi do tipo quanque se refere à escolaridade, 41,33% tinham o entitativo, descritivo e transversal. A amostra foi sino fundamental incompleto. No tocante ao estaconstituída por 300 pessoas do gênero masculido conjugal, 71,66% eram casados; o tipo de fano que possuíam 60 anos ou mais, sendo que 212 mília nuclear sobressaiu com 61,66%; 90% pospessoas idosas residiam em Itajubá, 52 em suíam filhos e a média de filhos foi de 4,82. Em Brazópolis e 36 em Maria da Fé, MG. A distriburelação à situação de trabalho, 63% eram apoição da amostra foi realizada de acordo com a resentados e deixaram de trabalhar, a média de renlação proporcional de homens idosos residentes dimento mensal foi de R$ 1.664,89 em cada uma daquelas cidades onde a pesquisa (DP=1623,00), sendo 2,85 o número médio de foi realizada. A amostragem foi do tipo não prop e s s o a s d e p e n d e n t e s d e s s a r e n d a. babilístico intencional ou proposital. Os critéri- Quanto à percepção do estado de saúde, 37,33% os de elegibilidade constituíram-se em: concorescolheram a opção boa ; 58% possuíam doendar em participar da pesquisa; ter 60 anos ou maças crônicas não transmissíveis, sendo a hiperis; ser do gênero masculino; residir nas cidades tensão arterial a patologia predominante mencionadas anteriormente e ter capacidade cog- (53,44%); 55% não praticavam tipo algum nitiva e de comunicação preservadas. de exercício físico. A entrevista foi estruturada direta e o período de coleta de dados foi de março a dezem- Tabela 1 - Medidas de tendência central da bro de Para a coleta de dados, foram utili- Qualidade de vida referente aos homens idosos. zados três instrumentos: 1) Características bios- Itajubá, Brazópolis e Maria da Fé, MG, 2009 sociais, familiares, econômicas e de saúde; 2) (n=300). WHOQOL-bref e 3) WHOQOL-old. Fonte: Instrumento de Pesquisa. Foi utilizada a estatística descritiva para a obtenção das frequências absolutas e relativas para as variáveis categóricas, assim como as medidas de tendência central para as variáveis contínuas ou numéricas, representadas pela média, mediana, moda, desvio padrão, valor mínimo, A tabela 1 evidencia os escores obtidos máximo e amplitude. Da estatística inferencial, pelos instrumentos que avaliaram a QV. Os escoforam utilizadas as correlações de Spearmann e res das escalas variavam de 0 a 100 pontos, seno alfa de Cronbach. do que quanto mais próximo de 100 melhor a À pesquisa seguiu às recomendações da QV e quanto mais próximo de zero pior a insatis- Resolução 196/96, do Conselho Nacional da fação com a vida. Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

119 Daniel Rodrigues Machado, Ewerton Naves Dias, José Vitor da Silva, Luciano Magalhães Vitorino, Fernando Magalhães Vitorino. Tabela 2 - Medidas de tendência central dos domínios do WHOQOL-bref referentes aos homens idosos. Itajubá, Brazópolis e Maria da Fé, MG, 2009 (n=300). Fonte: Instrumento de Pesquisa. Tabela 3 - Medidas de tendência central dos domínios do WHOQOL-old referentes aos homens idosos. Itajubá, Brazópolis e Maria da Fé, MG, 2009 (n=300). Fonte: Instrumento de Pesquisa. nhada (r= 0,5 e p= 0,022) com a faceta participação social ; não possuir doença crônica com os domínios autonomia e Funcionamento do sensório (r= 0,6 e p= 0,001 e r= 0,5 e p= 0,034, respectivamente). O alfa de Cronbach alcançou o valor de 0,80 para o WHOQOL-bref, sendo que o domínio Físico obteve o valor de 087, Psicológico 078, Relações Sócias 0,81 e Meio Ambiente 0,80. Já para o WHOQOL-old, o valor do alfa de Crombach correspondeu a 0,82, enquanto que as facetas Funcionamento do Sensório, Atividades Passadas Presentes e Futuras e Morte e Morrer alcançaram o valor de 081, Intimidade e Participação Social receberam 0,79 e Autonomia 0, Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n As tabelas 2 e 3 mostram as medidas de tendência central dos domínios do WHOQOL-bref e WHOQOL-old. É importante mencionar que a dis- tribuição dos escores dos domínios é igual à avalia- ção da QV global genérica e específica. Ao relacionar as variáveis biossociais com o WHOQOL-old, encontrou-se correlação positiva e significativa com estado civil casado (r= 0,6 e p= 0,011); número de filhos (r= 0,5 e p= 0,029); estado de saúde melhor (r= 0,5 e p= 0,033). Quando as variáveis biossociais foram relacionadas com os domínios do WHOQOL-old, houve correlação positiva e significativa do número de filhos (r= 0,7 e p= 0,000) e estado civil casado (r= 0,4 e p= 0,003) com o domínio atividades passadas presentes e futuras ; religião (r= 0,5 e p= 0,032) com o fator morte e morrer ; ter filhos (r= 0,4 e p= 0,007) e fazer cami- Discussão Para avaliar a QV, dividiu-se o valor máximo de 100 pontos em cinco categorias distintas, tendo cada uma delas em forma crescente, o valor de 20 pontos. As categorias são: ruim, regular, boa, muito boa e ótima. Ao interpretar a QV dos homens idosos encontrou-se que ela se encontrava muito boa (61 a 80 pontos), tanto do ponto de vista geral como específico. Essa ocorrência talvez possa ser justificada pelo fato de muitos homens idosos já terem atingido os seus objetivos profissionais, sociais e pessoais. Portanto, eles sentem-se mais realizados e desenvolvem um sentimento de dever cumprido em relação à vida. Santos (29) afirma que algumas pes- soas idosas convivem com o sentimento de orgulho, pois adquiriram casa própria, conseguiram o beneficio da aposentadoria, obtiveram sucesso na criação dos filhos e sobreviveram. Silva (30) realizou um estudo sobre a avaliação da QV de pessoas idosas residentes em comunidades e constatou que ela estava muito boa. No instrumento WHOQOL-bref, o domínio que mais contribuiu com a QV foi o Psicológico. Pode ser que a experiência de vida auxilie o homem idoso na superação dos problemas do cotidia- no e, consequentemente, ele aproveita melhor a vida, assim como desenvolve maior satisfação com ela. Portanto, a probabilidade da pessoa idosa de- senvolver sentimentos negativos tais como: mau humor, desespero e ansiedade é reduzida. A pessoa

120 Daniel Rodrigues Machado, Ewerton Naves Dias, José Vitor da Silva, Luciano Magalhães Vitorino, Fernando Magalhães Vitorino. com experiência de vida analisa ente extrínseco, parece bastante domínio feminino. o problema sob diversos pris- claro que os fatores como: trans- O excesso de zelo dos famas, o que facilita na escolha da porte, lazer, renda, segurança e miliares pode resultar em patermelhor alternativa para solucio- acesso aos serviços de saúde são nalismo, que nega à pessoa idonar as dificuldades (31). desqualificados pela maior parte sa o direito de manejar as ques- Segundo Neri (32), a esfera psi- da população dos países subde- tões que lhe dizem respeito. cológica é a menos afetada com senvolvidos, inclusive, pelo con- Consequentemente, os homens o passar dos anos, pois o bem- tingente de homens idosos. A fa- idosos se acomodam, renunciam estar subjetivo - caracterizado ceta Meio Ambiente do ins- ao direito de decidir sua própria por afetos positivos, bem-estar, trumento WHOQOL-bref fre- vida, pois acham que não têm casatisfação, felicidade - não de- quentemente apresenta resulta- pacidade e, assim, passam a viclina com a idade. dos poucos satisfatórios em paí- ver em estado de não- Por outro lado, o domí- ses subdesenvolvidos, pois ela participação, desenvolvendo o nio Meio Ambiente foi o que engloba diversas necessidades sentimento de impotência. Um mais comprometeu a QV geral. que dependem dos órgãos go- estudo sobre a QV de pessoas Essa faceta avalia a satisfação vernamentais (33). idosas residentes na comunidadas pessoas em relação a dife- Em relação ao instru- de, também detectou que a autorentes aspectos, como: moradia, mento WHOQOL-old, o domí- nomia foi o domínio que mais transporte, acesso aos serviços n i o F u n c i o n a m e n t o d o comprometeu a vida dos particide saúde, renda, lazer e seguran- Sensório foi o que mais contri- pantes do estudo (35). ça. buiu com a QV. O fato de grande Quanto ao meio ambien- parte das alterações fisiológicas Conclusões te intrínseco, pode ser que o ho- do envelhecimento relacionadas Os homens idosos qualimem idoso esteja insatisfeito com os sentidos poder ser comficaram sua vida como muito com as condições de sua mora- pensadas com pequenas alteraboa, tanto do ponto de vista gedia, com o contingente popula- ções no estilo de vida, ou ainda ral como específico. O fenômecional que habita a sua residên- pelo uso de aparelhos (óculos, no QV das pessoas idosas se corcia, com as relações familiares, aparelhos auditivos, entre ourelacionou com diversas variáou ainda, com as funções que lhe tros), pode ter influenciado esse veis pessoais e de saúde. são atribuídas. O homem, ao lon- resultado. O envelhecimento é Recomenda-se que ougo da vida, sempre teve como um processo biológico natural, tros trabalhos dessa natureza sepreocupação central a função de cujo conhecimento científico pojam realizados, no sentido de amprovedor, não tendo se adaptado de contribuir para atenuar as lipliar a avaliação da QV do hocom os afazeres domésticos, que mitações próprias da idade (34). mem idoso, em populações com podem ser incorporados ao seu Verificou-se no diferentes características e de dicotidiano. Com o crescimento estudo que o domínio Autonoferentes regiões do país, para a dos filhos e a chegada das noras, mia alcançou o resultado meconfirmação dos resultados obtigenros e netos, o indivíduo em nos satisfatório na avaliação da dos nesta pesquisa. questão também pode perde o QV específica. Acredita-se que seu status dentro de sua própria a autonomia do homem idoso é casa, pois é introduzida uma no- reduzida com a idade avançada, Referências va dinâmica familiar. Deduz-se pois ao longo da vida ele sempre 1.Dias, EM; Silva, JV; Vitorino, LM. Capacidade Funcional: uma necessidade ainda, que a relação do homem foi líder, suas ações se voltavam emergente entre idosos. In: Silva JV, organizador. Saúde do Idoso - processo de enveidoso com o meio ambiente in- para o ambiente público, entrelhecimento sob múltiplos aspectos. São trínseco não é favorecida, pois tanto, com a aposentadoria, ele Paulo: Iátria; ele passou grande parte de sua vi- passa a viver predominantemen- 2.Camarano, AA. Os novos idosos brasileiros muito além dos 60? Rio de Janeiro: da em ambiente público. te no ambiente privado, restan- No tocante ao meio ambi- do-lhe a passividade diante do Ipea; Trentini, CM. Qualidade de vida em ido- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

121 Daniel Rodrigues Machado, Ewerton Naves Dias, José Vitor da Silva, Luciano Magalhães Vitorino, Fernando Magalhães Vitorino. sos [Tese de Doutorado]. Porto Alegre: Revista do Instituto Humanitas Usinos Faculdade de Medicina da Universidade 17.Berlim, MT; Fleck, MPAA. Quality of [periódico online] 2006; 204. Disponível Federal do Rio Grande do Sul; life: a brand new concept for research em: URL: 4.Minayo, MCS; Hartz, ZMA; Buss, PM. and practice in psychiatry. Rev Bras Qualidade de vida e saúde: um debate ne- Psiquiatr 2003; 25(4): edicoes/ pdf.pdf [2009 cessário. Ciênc Saúde Coletiva 2000; 18.Ferrans, CE; Powers, MJ. Quality of dez.1]. 5(1): life of hemodialysis patients. AANNT J 32.Néri, AL. Qualidade de vida na velhi- 5.Paschoal, SMP. Qualidade de vida na 1993; 20(5): ce. In: Rebellato JR, Morelli JGS, velhice. In: Freitas EV, Organizadora. 19.Cianciarullo, TI. Cidadania e qualida- organizadores. Fisioterapia Geriátrica: a Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de de vida. 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Ser idoso e ter qualidade de Tratado de Gerontologia. São Paulo: vida: as representações de idosos residen- Atheneu; tes em cidades do sul de Minas Gerais 16.Camarano, AA. Envelhecimento da [Tese de Doutorado]. São Paulo: Escola População Brasileira: uma contribuição de Enfermagem da Universidade de São demográfica. In: Freitas EV, organizado- Paulo; ra. Tratado de Geriatria e Gerontologia. 31.Bredemeier, S. O despreparo da socie- Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; dade em enfrentar o envelhecimento. 226 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

122 Significados de ser idoso: as representações sociais de pessoas idosas de cidades sul-mineiras Meanings about being old: the social representations of elderly people in the cities in the south of Minas Gerais José Vitor da Silva. RECENF-Revista Técnico-Científica de Enfermagem-2010-v8-n.25;( ) Resumo Trata-se de um estudo que teve como objetivo: identificar as representações sociais sobre os significados de ser uma pessoa idosa. O estudo foi de abordagem qualitativa, exploratório e transversal. A amostra se constituiu de 50 pessoas idosas de ambos os gêneros e residentes em cidades sul-mineiras: Itajubá, Pouso Alegre e Santa Rita do Sapucaí. A coleta de dados foi realizada mediante entrevista semiestruturada, gravada e transcrita literalmente. As diretrizes metodológicas do Discurso do Coletivo foram utilizadas para a seleção das ideias centrais e das expressões chave correspondentes, a partir das quais foram extraídos os seguintes discursos das pessoas idosas: ser pessoa idosa ; pessoa com capacidade e inabilidade funcional ; pessoas com bastante idade, mas com saúde e cumpriu os seus objetivos de vida. Os resultados confirmaram neste estudo que o construto pessoa idosa apresentou diversos significados subjetivos da vida humana. Descritores: Idosos; representação social; significados. Abstract This is about a study that aimed at identifying the social representations about the meanings of being in an old person. It was a qualitative, exploratory and transversal study. The sample was formed by 50 elderly people, both male and female, living in the cities in the south of Minas Gerais: Itajubá, Pouso Alegre e Santa Rita do Sapucaí. Data collecting was performed through semi-structured interview that was taped and literally transcript. The methodological guidelines of Collective Discourse were used in order to select the central ideas and the corresponding key expressions, from which it was possible to get the following speech of the elderly people: being an old person, person with capacity and functional inability, very old people but with health and able of getting that life goals. The results confirmed, in this study, that the construct elderly people presented a lot of subjective meanings of human life. Descriptors: Elderly, social representation, meanings. José Vitor da Silva. Enfermeiro, docente da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz, Itajubá-MG e da Universidade do Vale do Sapucaí, Pouso Alegre-MG. Pós-doutorando pela USP. 227

123 José Vitor da Silva. Introdução O envelhecimento das populações tornou-se um desafio crítico em todo o mundo. Já não há dúvidas de que o envelhecimento da população mundial é um fenômeno preocupante. Em 1950, o percentual de mai- ores de 60 anos de idade era de 8,2%; em 2000, essa faixa etária alcançou 10%. As projeções para 2050 estimam que a Terra abri- gará 21,1% de pessoas idosas (1). O envelhecimento da população brasileira já não é um exercício de futurologia: no Brasil, os idosos já são cerca de 15 milhões de pessoas, segundo o último censo do IBGE (2) estando presentes em todos os es- paços da sociedade. No Brasil, a população com mais de 60 anos aumentou de 4% em 1940 para 8,6% em A estimativa de vida ao nascer, em 1980, era de 57,2 anos para homens e de 64,3 para a mulher. Em 1990, esses dados já eram 59,3 e 65,8 anos respectivamente. Em 2000, no Brasil, a expectativa de vida era de 64,8 para homem e 72,5 anos para a mulher. Estima-se que entre 2045 e 2050 a expectativa de vida do brasileiro seja de 76,9 anos de idade. Projeções indicam que o Brasil será o sexto país do mundo em número de idosos no ano de 2020, com aproximadamente 32 milhões de ido- sos (1,3). A velocidade da mudan- ça do perfil demográfico brasileiro dificultou a necessária revi- são de conceitos e valores de nos- sa sociedade em relação ao enve- lhecimento, na superação de preconceitos e muitos que roubam a dignidade do idoso, bem como o uma alta porcentagem de viuvez encaminhamento de ações que e solidão entre as mulheres idopossam atender com dignidade sas. às necessidades específicas des- Para a sociedade brasile- sa terceira idade. Os idosos ira e a de muitos países do terceiocupam, ainda, um espaço se- ro mundo, que estão experimencundário na comunidade, bem tando o envelhecimento populacomo na família, como se o fato cional de forma rápida, o impacde envelhecer significasse a pas- to maior será na repartição dos sagem para uma cidadania de se- poucos recursos existentes. O augunda classe. mento do número absoluto e rela- O título de explicação, tivo dos idosos traz à baila novas pode-se dizer que as graves ques- necessidades e demandas. tões sociais que afetam os países Paralelamente, há um grande do terceiro mundo estavam no contingente de crianças, adultos seu auge quando ocorreu a ex- jovens, também com necessida- plosão demográfica do envelhe- des e demandas, muitas delas cimento, exatamente nessa so- ainda não equacionadas (alifrida realidade de desenvolvi- mentação, moradia, educação e mento. emprego). A chegada brusca dos Esse cenário tem provo- idosos leva à competição de recado consequências em âmbito cursos. Como resolver? (4). social, familiar e de saúde das No âmbito das relações pessoas idosas. Primeiro im- familiares, um sentimento seme- pacto do envelhecimento é a per- lhante de perda de ocupação e da dos seus papeis sociais e o va- tendência à solidão pode surgir zio experimentado por não en- em função da independência dos contrar novas funções. Quanta filhos, viuvez e consequente es- angústia, sofrimento e decep- vaziamento da casa (5). ção, e ao mesmo tempo quanto As transformações re- potencial desperdiçado! centes na estrutura familiar, co- Uma outra consequência mo diminuição do tamanho da fa- relacionada à primeira é a apo- mília e inserção da mulher no sentadoria que significa perda mercado de trabalho, têm difi- de rendimentos e impõe a neces- cultado o suporte familiar ao ido- sidade de redefinição do padrão so, sobretudo em caso de doença de vida e/ou a busca de nova ocu- e/ou incapacidade (5). Muitas vepação como meio de renda com- zes são fatores agravantes a displementar, que nem sempre é lo- tância entre as moradias, as difigrada devido à grande concor- culdades dos meios de transporrência e ao estigma da velhice. te e do trânsito, assim como o Um outro resultado de- pouco tempo e/ou interesse dos corrente dessa transformação de- adultos e jovens para o contato mográfica, quando aliada à mai- mais estreito com seus familiaor sobrevida das mulheres rela- res idosos. tivamente aos homens e à maior A tendência a um natural frequência de casamento nos ho- afastamento de gerações tem-se mens em relação às mulheres, é intensificado nas últimas déca- 228 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

124 José Vitor da Silva. das em função da rápida mudan- controle, complicações e seque- cuidadoras dos parentes idosos, ça de valores sociais e transfor- las. Como são doenças incurá- agora estão trabalhando fora, hamações tecnológicas que difi- veis, obrigam os seus portadores vendo necessidade de ser supricultam a comunicação e a identi- a procurarem os serviços de saú- da essa função. dade entre jovens e velhos. Na de com grande frequência, ha- A longevidade acarreta convivência familiar, é comum a vendo necessidade aumentada uma situação ambígua vivencia- falta de assunto, favorecida de recursos materiais e huma- da por muitas pessoas, mesmo muitas vezes pela mobilidade so- nos, muitas vezes com tecnolo- pelas ainda não idosas: o desejo ciocultural, que distancia os ma- gia complexa. Com isso, os cus- de viver cada vez mais e, simulis jovens dos seus ascendentes, tos financeiros também aumen- taneamente, o temor de viver em bem como os conflitos e intole- tam. Para um país que não resol- meio a incapacidades e à depenrância de parte a parte, cujas re- veu problemas prementes de saú- dência. De fato, o avanço da idacuperações tendem a privá-los de materno-infantil (mortalida- de aumenta a chance de ocorrêndo potencial de crescimento mú- de e desnutrição), o aumento da cia de doenças e de prejuízos à tuo e intergeracional (5). prevalência das doenças crôni- funcionalidade física, psíquica e Para o setor de saúde, o co-degenerativas vai levar a social. Mais anos vividos podem primeiro impacto que o envelhe- uma competição pelos recursos ser anos de sofrimento para os incimento populacional traz é a já escassos e mal-empregados divíduos e suas famílias. Anos mudança importante nas causas (7). marcados por isolamento social, de morbimortalidade. As doen- É conhecido que os ido- desvalorização, depressão e perças infectocontagiosas cedem lu- sos, quando comparados com ou- da da autonomia dos idosos. gar às doenças crônico- tros grupos etários, internam-se Com relação à necessidegenerativas como causa líder com maior frequência, reinter- dade de inclusão nas políticas sode mortalidade. nam-se mais vezes no mesmo ciais, principalmente dos países A Secretaria de Estado ano e permanecem internados da América Latina e África, de Minas Gerais (6) mostrou que por um tempo mais prolongado aconteceu há vinte e sete anos, os maiores índices de mortalida- em cada internação. Além disso, exatamente em 1982, a Primeira de se encontram na população utilizam os serviços de saúde, Assembleia da ONU (Organizade 60 anos e mais. Mesmo entre em geral, numa proporção muito ção das Nações Unidas) sobre o os óbitos dos maiores de 60 maior que toda a população ou envelhecimento em Viena, na anos, há uma tendência de con- que outras faixas etárias. A gran- Áustria, na qual foram delineacentração das idades mais avan- de maioria dos atendimentos é fe- das e elaboradas diretrizes políçadas, sendo causas de óbitos, ti- ita na rede pública ou na privada ticas relacionadas com os mais picamente na população idosa, vinculada à Previdência Social, diversos aspectos do envelheciem ordem de importância: 1) do- sem haver um enfoque preventi- mento populacional. enças do aparelho circulatório vo para reduzir a demanda e so- Vinte anos decorridos, (isquêmicas, do coração, cere- brecarga dos serviços de saúde. em Madrid, na Espanha, no pebrovascular e hipertensiva); 2) Além disso, aumenta ríodo de 8 a 11 de abril de 2002, neoplasmas malignos; 3) doen- também a necessidade de inves- a ONU retomou a questão duças do aparelho respiratório e 4) timentos na área social, pois pes- rante a Segunda Assembleia doenças metabólicas (6). soas com doenças crônicas e su- Mundial sobre envelhecimento, Essas doenças crônico- as sequelas demandam suporte abordando a temática uma socidegenerativas, próprias dos ido- de longa duração, com serviços edade para todas as idades, dessos, estão se tornando progressi- comunitários e uma rede de apo- sa vez com a proposta de um vamente mais prevalentes num io, ajudando as famílias no cui- Plano de Ação Internacional, país como o Brasil. Só que a res- dado desses idosos. Mesmo por- que está estruturado no comproposta a essa mudança é, em ge- que, as famílias são cada vez me- misso por diversos países, entre ral, ineficiente devido à falta de nores e as mulheres, tradicionais eles, o Brasil. Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

125 José Vitor da Silva. Considerando a grave si- gente idosa: que a infraestrutura necessária tuação enfrentada e vivida pelos A família, a sociedade e para atender a essa população é idosos, em especial daqueles o Estado têm o dever de amparar bastante precária, pois os servicontinentes, que abrangem as as pessoas idosas, assegurando a ços, programas sociais e de saúáreas sociais, política, econômi- sua participação na comunida- de são muito deficientes, escoca e de saúde, a mencionada as- de, defendendo a sua dignidade lheu para a Campanha da sembleia concluiu que não deve e bem-estar e garantindo-lhes o Fraternidade do ano de 2003 o teexistir mais uma ação isolada, direito à vida (8). ma Fraternidade e Pessoas mas integral, na qual Estado, Considerando a necessi- Idosas, cujo objetivo geral é Sociedade e Família, todos com- dade de providências urgentes motivar todas as pessoas para prometidos perante a comunida- para a questão do idoso, foi ins- que, iluminadas por valores de internacional, possam pro- tituída a Política Nacional do evangélicos, sejam construtoras mover a cidadania plena dos ido- Idoso (PNI) de acordo com o de novos relacionamentos, nosos. Embora seja um desafio, so- que preceitua a Lei 8.842, vas estruturas, que assegurem vamente a ação articulada desses 01/04/1994, regulamentada pe- lorização integral às pessoas idotrês pilares pode conduzir a um l o D e c r e t o n , d e sas e respeito aos seus direitos processo de mudança na quali- 03/07/1996. (10). dade de vida dos idosos brasilei- O país poderia estar nu- No que tange à área de saros. ma situação bem melhor quanto úde, entretanto, é ainda evidente Diante do cenário apre- às políticas de atenção ao idoso, o despreparo da maioria dos prosentado, há que se considerar a se o que está escrito e regula- fissionais, aí incluídos os enfernecessidade premente de colo- m e n t a d o p e l o D e c r e t o meiros no atendimento adequacar em prática a integração pro- n 1948/96 tivesse realmente si- do às demandas específicas da posta para que se possa promo- do executado, pois falta garantir população de idosos. ver as estratégias necessárias ao a dotação de recursos financei- Da leitura de textos, refeenfrentamento dessa realidade. ros para a implantação e imple- rentes às áreas de gerontologia e No Brasil, inegavelmen- mentação da Política Nacional geriatria, pode-se observar que te, demorou que se tomasse cons- do idoso. os autores consideram a longeciência de que o agrupamento No sentido de colocar vidade um problema com conseidoso exigia atitudes diferencia- em prática as ações preconiza- quências sérias nas diferentes didas. Entidades especializadas no das na PNI, os órgãos governa- mensões da vida humana, não só setor gerontológico, associa- mentais propuseram um plano no contexto físico, como tamções de idosos e de aposentados de ação conjunta, que trata de bém psíquico e social, trazendo e facções dentro das mais diver- ações preventivas, curativas e implicações importantes para a sas universidades, no início dos promocionais, objetivando a me- vida. Esses anos vividos a mais anos 1970, reivindicaram provi- lhor qualidade de vida do idoso. podem ser de sofrimento para os dências aos setores governa- O pano Integrado de idosos e suas famílias, marcados mentais para o problema cres- Ação Governamental para o por doenças, declínio funcional, cente da população mais velha. Desenvolvimento da Política aumento de dependência, perda A convocação de uma Nacional do Idoso foi publicado da autonomia, isolamento social Assembleia Constituinte, em em janeiro de 1997, pela e depressão. Entretanto, se as 1988, e o convite a que popula- Secretaria da Assistência Social pessoas envelhecem mantendoção e entidades oferecessem su- do Ministério da Previdência e se autônomas, com capacidade gestões, possibilitaram centenas Assistência Social (9). funcional e de autocuidado, a sode propostas, que acabaram redu- A Igreja Católica, reco- brevida aumentada pode ganhar zidas ao teor do que explicitou, nhecendo o contexto de exclu- em satisfação de viver. depois, o Artigo 230 da nova são social e de desamparo dos Diante disso, fez-se presen- Constituição, no particular da idosos, do qual pouco se sabe, e te o seguinte questionamento: 230 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

126 Do ponto de vista da pes- na França, no século XIX, as re- go e de alguém. Ela não é nem o soa que está vivenciando o enve- presentações sociais caíram em duplo do real, nem do ideal, nem lhecimento, o que significa ser desuso. Seu conceito, a partir da a parte subjetiva do objeto nem a uma pessoa idosa? década de 1960, foi resgatado e parte objetiva do sujeito. Ela é o As respostas a esse ques- introduzido na psicologia social processo pelo qual se estabelece tionamento são de importância por Serge Moscovici, em um es- a sua relação (15,16). fundamental para todos os pro- tudo sobre a difusão da psicaná- RS consiste em imagens fissionais de saúde, no momento lise e sua integração à cultura que condensam um conjunto de em que a sociedade brasileira francesa. Então começou a ser di- significações, sistemas de refepassa por uma transição demo- vulgado em diversos países, pa- rências que nos permitem intergráfica e epidemiológica. ra pesquisa em várias áreas do pretar o que nos acontece, ou co- Este artigo contribui no conhecimento, como atropolo- mo se dá um sentido inesperado; sentido de oferecer uma base gia, psicologia, educação, socio- categorias que servem para clasconceitual, a partir de dados da logia e saúde, entre outras. sificar as circunstâncias e os ferealidade empírica e do desen- A enfermagem vem uti- nômenos com os quais temos volvimento de instrumento de lizando os pressupostos da contato (15,16). medida de conceito, que con- Teoria das Representações O processo de representemple a especificidade da popu- Sociais (TRS) desde a década de tação permite tornar conhecido lação idosa. 1980, buscando compreender os o desconhecido a partir de refe- A intenção é identificar aspectos psicossociais que emer- renciais próprios ao sujeito e de os significados de ser uma pes- gem nos vários objetos da inves- acordo com seu contexto de valosoa idosa, na perspectiva de ido- tigação que ela focaliza. A TRS res culturais e de regras sociais. sos residentes em três cidades apresenta grande aderência aos Representar um objeto sul-mineiras. objetos de estudos na área de en- implica conferir-lhe o status de fermagem, uma vez que ela con- um signo, em conhecê-lo, torsegue apreender os aspectos ma- nando-o significante: implica, R e f e r e n c i a l t e ó r i c o - is subjetivos, que permeiam os portanto, numa relação dinâmiproblemas metodológico inerentes a essa área ca de reciprocidade indivíduo- As representações sociais Após terem sido fenômeno marcante da ciência social José Vitor da Silva. N a T e o r i a d e Representação Social, o conhe- cimento é analisado no Intercâmbio das histórias em âm- bito individual e social da pes- soa. O Discurso do Sujeito Coletivo é um método que implica em recompor, com o mate- rial dos discursos empíricos individuais, os discursos coletivos. Essa parte enfoca os pressupostos das representações sociais e a descrição do método do Discurso do Sujeito Coletivo, que se baseia nas fontes daquela Teoria. (11,12,13). sociedade. As representações socia- Visam a tornar familiar is (RS) consistem na maneira de os fenômenos estranhos da vida interpretar a nossa realidade coti- cotidiana e, como a vida cotidiadiana, uma forma de conheci- na apresenta novidades a todo o mento social, ao associar a ativi- momento, as RS são categorias dade mental desenvolvida pelos de conhecimento que estão semindivíduos e os grupos para fixar pre em construção. Essa conssua posição em relação à situa- trução envolve dois processos: a ção, acontecimentos, objetos e ancoragem que incorpora os ele- comunicação que lhes dizem res- mentos estranhos ao sistema de peito (14). pensamento e de valores pree- As representações socia- xistentes, nas representações já is são uma forma de conheci- construídas, e a objetivação, promento socialmente elaborado e cesso por meio do qual as repre- partilhado, tendo uma visão prá- sentações se concretizam em patica e concorrendo para a cons- lavras e imagens. É o mecanistrução de uma realidade comum mo que permite o intercâmbio a um conjunto social (15,16). entre percepção e conceito e é Toda RS é a representação de al- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

127 José Vitor da Silva. formador de imagens estrutu- das, articulando elementos afeti- os discursos que as veiculam. rantes, criadoras de novas reali- vos, mentais e sociais, integran- Do ponto de vista de núcleo esdades (15,16). do ao lado da cognição, da lin- truturante das ações, conside- Ancorar é classificar e guagem e da comunicação, a ram o sujeito o produtor de sendenominar: coisas que não são consideração das relações socia- tido, isto é, ele expressa em suas classificadas, nem denomina- is que afetam as representações representações o sentido que dá das, são estranhas, não existen- e a realidade material, social e à sua experiência no mundo socites ; objetivar é descobrir a qua- ideal as quais vão intervir al. lidade icônica de uma ideia ou (15,16). As RS são vistas como ser imprecisos, reproduzir um Como forma de retratar uma forma de discurso e conheconceito em uma imagem. a realidade, as RS se manifestam cimento, cujas implicações soci- Com a objetivação, o que antes em conduta, gestos, imagens e ais provêm da situação de comuera um esquema conceitual ago- chegam a ser institucionaliza- nicação, do lugar social, a partir ra torna-se real. Com ela, dá-se das, podendo ser analisadas a do que os sujeitos falam da finauma contrapartida material a al- partir da compreensão das estru- lidade dos seus discursos go abstrato. Um alimenta o ou- turas e dos comportamentos soci- (17,18). tro numa relação dialética, defi- ais. Elas são fruto das vivências Em síntese, as RS são nindo o conteúdo das RS (14). e das contradições, que permei- uma forma de conhecimento prá- Assim, os processos de am o dia-a-dia da sociedade, e tico o saber do senso comum formação das RS, quanto diale- sua expressão marca o entendi- que tem por finalidade estabeleticamente relacionados, articu- mento delas pelos indivíduos e cer uma ordem que permita aos lam as três funções básicas da re- pelas instituições, gerando o sen- indivíduos orientarem-se em presentação: a função cognitiva so comum sobre determinado ob- seu mundo e dominá-lo e posside integração da novidade, a fun- jeto focalizado. A partir do senso bilitar a comunicação entre os ção de interpretação da realida- comum, os indivíduos se mo- membros de um determinado de e a função de orientação das vem, estabelecem relações, cons- grupo. condutas e relações sociais. O troem suas vidas e as explicam, processo de formação de uma re- embasados nos seus esquemas DISCURSO DO SUJEITO COLETIVO presentação traduz sempre duas de conhecimentos. Para conhecer e descrerealidades inseparáveis, sendo Outro aspecto da TRS ver o significado de ser idoso um lado simbólico ou icônico e diz respeito aos fundamentos sob a perspectiva de pessoas outro figurativo da representa- das RS. É preciso diferenciar do- com 60 anos ou mais de três cidação, como se fossem duas faces is enfoques: as RS enquanto cam- de sul-mineiras, sob o referencide um papel ou os dois lados de po socialmente estruturado e en- al das RS, a opção pela abordauma moeda, um refletindo e ca- quanto núcleo estruturante da gem qualitativa era o melhor caracterizando o outro (14). ação (17,18). minho e o Discurso do Sujeito A TRS visa a dar conta Enquanto campo social- Coletivo (DSC) constitui o métode um fenômeno em que o ho- mente estruturado, implicam em do escolhido para a construção mem manifesta sua capacidade conhecer as experiências indivi- dos significados, permitindo a criativa para aponderar-se do duais como decorrentes da reali- aproximação com o fenômeno mundo, por meio de conceitos, dade social na qual o sujeito está em estudo. afirmações e explicações sociais imerso; realidade que se aprea respeito do objeto social, para senta sob a forma de campos sotorná-lo familiar e garantir co- ciais delimitados: família, bairmunicação no interior do grupo ro, categoria profissional. DSC As diretrizes metodológicas do e facilitar a interação com as ou- Implica que as condições sociais O DSC é uma estratégia tras pessoas e grupos. de inserção desses sujeitos de- metodológica com a finalidade As RS devem ser estuda- terminam suas representações e de tornar mais clara uma deter- 232 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

128 José Vitor da Silva. minada RS e o conjunto das re- chamar de primeira pessoa (co- mente com o DSC (20,21). presentações que constituem um letiva) do singular. Trata-se de O DSC é o equivalente da língua dado imaginário. Por meio desse um eu sintático que, ao mes- ou idioma e o depoimento dos inmodo discursivo é possível visu- mo tempo que sinaliza a presen- divíduos, com os quais ele é feializar a RS, na medida em que ça de um sujeito individual do to, ou a partir dos quais ele é reela aparece não sob a forma (ar- discurso, expressa uma referên- construído ou mesmo elaboratificial) de quadros, tabelas ou cia coletiva na maneira em que do, o equivalente as frases indicategorias, mas sob a forma ma- este eu fala pela ou em nome viduais. is viva e direta de um discurso, de uma coletividade. Esse dis- Logo, o Discurso do que é o modo como os indivídu- curso coletivo expressa um suje- Sujeito Coletivo é um construto, os reais e concretos pensam ito coletivo (20, 21). elaborado por abstração, a partir (19). Foi adotado para o DSC de um conjunto de falas indivi- O DSC consiste na reu- um pressuposto socioantropo- duais de sentido reputado semenião, num só discurso-síntese de lógico de base, por meio do lhante ou complementar, com a vários discursos individuais emi- qual entende-se que o pensa- finalidade precípua de expressar tidos como resposta a uma mes- mento de uma coletividade so- um pensamento coletivo ma questão de pesquisa, por suje- bre um dado tema pode ser visto (20,21). ito social e institucionalmente como o conjunto dos discursos Se o pensamento coletiequivalentes ou que fazem parte existentes na sociedade e na cul- vo pode ser visto como um conde uma mesma cultura organiza- tura sobre tal tema, do qual os su- junto de discursos sobre um dacional e de um grupo social ho- jeitos lançam mão para se comu- do tema, o DSC visa a iluminar o mogêneo, na medida em que os nicarem, interagirem e pensa- conjunto de individualidades seindivíduos que fazem parte des- rem. mânticas, próprias do imagináse grupo ocupam a mesma ou po- Nesse sentido, o pensa- rio social. É uma maneira destisições vizinhas num dado cam- mento coletivo é como se fosse nada a fazer a coletividade fapo social. O DSC é, então, uma um segundo idioma, uma segun- lar diretamente. forma de expressar diretamente da língua que, à medida que via- Para a elaboração do a RS de um dado sujeito (20,21). biliza e permite a troca entre indi- DSC foram criadas quatro figu- A proposta inovadora pa- víduos distintos de uma mesma ras metodológicas que são: ra somar discursos implica em cultura é, como o primeiro idio- 1.Expressões-chave que é preciso recompor o mate- ma, uma condição imprescindíteúdo (ECH): são partes ou todo o con- rial dos discursos empíricos cole- vel para a vida humana em socidiscurso das transcrições literais do tivos. Então por meio do DSC, edade. de cada sujeito, que detivos. busca-se escapar tanto da não- A comparação entre vem ser identificados e a seguir pessoa da ciência (números, dis- DSC e os idiomas permite que se destacados (sublinhados, coloricurso impessoal ou discurso so- entenda algo de suma importânsador e que revelam a essência dos ou iluminados) pelo pesqui- bre ) quanto do discurso indivi- cia, ou seja, um indivíduo que dodo discurso ou a teoria subjacendualizado, não generalizável, da mina determinada língua é, ao primeira pessoa do singular. mesmo tempo, um ente coletivo te. O DSC é uma proposta e um ente individual na medida 2.Ideias centrais (IC): é um node organização e tabulação de da- em que, enquanto ente coletivo, me ou expressão linguística que re- vela e descreve da maneira mais sindos qualitativos de natureza ver- compartilha com os membros da tética, precisa e fidedigna possível bal, obtidos de depoimentos, arti- sua cultura um código comum e, o sentido de cada um dos discursos gos de jornal, materiais de revis- enquanto ente individual é ca- analisados e de cada conjunto homotas e cartas, entre outros (20,21). paz de produzir e produz, fre- gêneo de ECH que posteriormente, O Sujeito Coletivo se ex- quentemente, nas suas intera- vai dar origem ao DSC. É importanpressa então por meio de um dis- ções habituais, frases inéditas. curso emitido no que se poderia Ora, isso acontece exata- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

129 te assinalar que a IC não é uma in- mentos individuais, o que se bus- junto de depoimentos/discursos terpretação, mas uma descrição ca obter, pelo menos inicialmen- sem que se tenham examinado do sentido do depoimento ou de te, é uma descrição do sentido de antes, detidamente, as ECHs preum conjunto de depoimentos. cada um e do (s) conjunto (s) dos sentes nesse conjunto de discur- As ICs podem ser resgatadas por depoimentos/discursos que se sos. Na realização de seu trabameio de descrições diretas do coletou sobre uma determinada lho de descrição dos discursos sentido do depoimento, revelan- temática. obtidos dos depoimentos de do o que foi dito, ou por meio Considerando cada depo- uma dada pesquisa, o pesquisade descrições indiretas ou medi- imento/discurso isoladamente, a dor começa por examinar as atas que revelam o tema do depo- IC é uma descrição mais sucinta ECHs dos depoimentos. Nesse imento ou sobre o quê o sujei- e objetiva possível do sentido momento percebe, ainda que de to enunciador está falando. desse discurso, o qual pode ter forma intuitiva e impressionista, Nesse último caso é preciso, mais de uma IC, conforme foi co- que um conjunto de ECH pode após a identificação do tema, re- mentado anteriormente. ser agrupado ou reunido num conhecer as ICs corresponden- A IC tem, por isso, a im- arquivo porque parece remetes. portante função de individuali- ter a uma ideia ou sentido seme- 3Ancoragem (AC): algu- zar um dado discurso ou um con- lhante ou complementar. Em semas ECH remetem não apenas a junto de discurso, descrevendo, guida, busca o pesquisador nouma IC correspondente, mas positivamente, suas especialida- mear ou identificar, quando também a uma figura metodoló- des semânticas e distinguindo- bem-sucedida, a IC. gica que, sob a inspiração da os de outros discursos, portado- Pode acontecer também TRS, denomina-se Ancoragem res de outras especificidades se- que o pesquisador se sinta inse- (AC), que é a manifestação lin- mânticas. guro ou insatisfeito com o resulguística explícita de uma deter- Considerando a IC o no- tado à medida que não encontrar minada teoria ou crença que o au- me ou a marca do sentido dos um nome, ou seja, uma IC adetor do discurso professa e que, discursos, pode-se dizer que as quada para caracterizar aquele na qualidade de afirmação gené- ECH representam o conteúdo conjunto de ECH inicialmente, rica, está sendo utilizada pelo ou substância desse sentido consideradas semelhantes. enunciador para enquadrar identificado e especificado por Diante disso, o pesquisador deuma situação específica. É im- esse nome ou por essa marca. As ve recomeçar seu trabalho, viportante observar que todo depo- ECH são segmentos dos discur- sando a adequar, corretamente, imento tem uma ou várias ICs, sos que remetem à IC e a corpo- IC,s e ECHs e vice versa. mas apenas alguns depoimentos rificam. apresentam, de maneira explíci- Fica claro, então, que as Apresentação de resultados do ta, as marcas discursivas das an- ICs e ECHc são ambas, indis- DSC coragens (20). 4.Discurso do Sujeito Coletivo (DSC): redigido na primeira pessoa do singular e composto pelas ECHs que têm a mesma IC ou AC. Interrelações de ideias centrais e expressões-chave No âmbito de uma pes- quisa qualitativa empírica de RS que envolva coleta de depoi- José Vitor da Silva. pensáveis para que os discursos possam ser adequadamente des- critos, tendo a primeira uma fun- ção identificadora, particulari- zadora, especificadora e a se- gunda uma função corporificadora, de substantivação, de recheio do sentido nomeado. Essas funções não de- vem apenas ser consideradas isoladamente, mas em interrelação dialética. De fato, não é possível identificar uma IC de um con- O DSC, como técnica de processamento de dados com vistas à obtenção do pensamento coletivo, dá como resultado um painel de discursos de sujeitos coletivos, enunciados na primeira pessoa do singular, justa- mente para sugerir uma pessoa coletiva, falando como se fosse um sujeito individual de discurso (20,21). É fácil perceber essa ma- 234 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

130 José Vitor da Silva. neira de apresentação de resulta- em copiar, integralmente o con- agrupamento e colá-las na codos, pois confere muita naturali- teúdo de todas as respostas refe- luna das ECH do IAD2. A sedade, espontaneidade e vivaci- r e n t e s à q u e s t ã o 1 n o gunda etapa é a construção do dade ao pensamento coletivo, o Instrumento de Análise de DSC propriamente dito de cada que contrasta muito com as for- Discurso 1 (IAD1), na coluna agrupamento. mar clássicas de apresentação ECH do quadro de apresentade resultados. ção. Trajetória metodológica Essa parte abarca os as- pectos relacionados com os locais da pesquisa, a população do es- tudo, a coleta de dados, os pro- cedimentos utilizados para a coleta, tratamento e análise de re- sultados, assim como os preceitos éticos da pesquisa. Pode-se apresentar os re- 2.Identificar e sublinhar, sultados obtidos por questão e, em cada uma das respostas, com quando houver mais de um DSC uma determinada cor ou utilipor questão, pode-se apresentar zando outro recurso gráfico as inicialmente um quadro-síntese ECH das ICs e, quando houver, com as ICs surgidas na análise com outra cor ou usando outro reda questão. curso, as ECH das ancoragens. O DSC pode estar em itá- 3.Identificar as ICs e, lico e em negrito, ao mesmo tem- quando for o caso, as ancorapo, para indicar que se trata de gens, a partir das ECH, colocanuma fala ou depoimento coleti- do-as nas caselas corresponden- Cenário do estudo vo, mas não é conveniente aspe- tes do quadro elaborado. O estudo foi realizado ar porque não se trata de uma ci- 4.Identificar e agrupar as em três cidades sul-mineiras: tação (20,21). ICs e as ancoragens de mesmo Itajubá, Pouso Alegre e Santa Terminada a exposição sentido ou de sentido equivalen- Rita do Sapucaí. dos quadros, com as ICs e seus te ou complementar. Deve-se O Estado de Minas DSCs, pode-se comentar descri- etiquetar cada grupo: A, B, C e G e r a i s c o n t a h o j e c o m tivamente os dados obtidos em assim por diante idosos. A cidade de cada questão da mesma forma 5.Denominar cada um Itajubá possui 90,000 habitanque se comentam tabelas e gráfi- dos agrupamentos A, B, C, D, e tes, dos quais têm 60 anos cos. outros, o que, na realidade, im- ou mais. A população total de Pouso Alegre é de pes- soas, tendo 8,978 idosos. O mu- plica em criar uma IC ou ancoragem-síntese que expresse, da me- O DSC passo a passo lhor maneira possível, todas as nicípio de Santa Rita do Sapucaí Considerando a exposi- ICs e ancoragens de mesmo sen- possui 32,720 habitantes, dos ção anterior, esquematicamente, tido. Às vezes, todas ou várias quais 3,046 são idosos (2). encontram-se listados a seguir ICs ou ancoragens têm o mesmo A distância entre Itajubá os passos necessários para che- título, ou nome, o que evidente- e Pouso Alegre é de 60 km e engar à construção dos DSC. mente, facilita o processo. tre a primeira e Santa Rita do Tendo sido todas as en- 6.Construir o DSC. Para Sapucaí é, aproximadamente, de trevistas gravadas e transcritas isso é preciso utilizar o 45km. para a tabulação de dados, é pre- Instrumento de Análise de Na área de educação, as ciso acompanhar, rigorosamen- Discurso 2 (IAD2). Deve-se três cidades contam com estabete, os seguintes passos: construir um DSC para cada lecimentos de ensino deste pré- 1.As questões devem ser agrupamento identificado no escolar ao superior, oferecendo analisadas isoladamente, isto é, passo anterior. Portanto, devem possibilidades de estudos não será inicialmente analisada a ser utilizados tantos IAD2 quan- apenas para os alunos da cidade questão 1 de todos os sujeitos en- tos forem os agrupamentos. e dos arredores, mas também de trevistados, a seguir a questão 2 A primeira etapa para a todo o país, sobretudo nas e assim sucessivamente. Dessa construção do DSC é copiar do Universidades e Institutos instaforma, o primeiro passo consiste IAD1 todas as ECH do mesmo lados na região. Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

131 O setor de saúde está for- grupo ou numa dada coletivida- constituída por pessoas, tanto do mado por hospitais gerais de mé- de, sobre um determinado as- sexo masculino quanto do femidio e grande portes, nas duas pri- sunto. Ora, quando a via de aces- nino, residentes nas cidades citameiras cidades, e um de peque- so a esse imaginário é o depoi- das anteriormente e com 60 anos no porte em Santa Rita do mento de pessoas, obtido por me- ou mais. Esse critério é adotado Sapucaí, consignados para aten- io de entrevistas individuais, um pela Organização Mundial de dimentos médico-hospitalares maior número de entrevistados Saúde para definir pessoa idosa, do Sistema Único de Saúde aumenta, em princípio a chance do ponto de vista cronológico (SUS), de natureza particular e de que o imaginário obtido seja nos países em desenvolvimento, conveniada. mais rico (20,21). a exemplo do Brasil (23). Os su- A infraestrutura destina- Na pesquisa qualitativa, jeitos da pesquisa foram selecioda aos atendimentos de saúde co- é sempre importante um conhe- nados por meio dos grupos de terletiva constitui-se de diversas cimento prévio das característi- ceira idade, igrejas, locais de traunidades básicas de saúde cas gerais do tema em investiga- balho e pelo conhecimento pré- (UBS), distribuídas nas zonas ur- ção para saber que tipo e quantos vio deles. bana e rural daquelas cidades. informantes são necessários pa- A amostra foi composta O perfil de morbimorta- ra que o painel de discurso com- de 50 idosos, dos quais dez folidade nessas cidades caracteri- posto com os seus depoimentos ram entrevistados em Santa Rita za-se pelo predomínio das doen- seja o mais amplo possível do Sapucaí e os demais, equitatiças cardiocirculatórias, doenças (20,21). vamente, nas outras duas cidado aparelho respiratório, neo- O tamanho da amostra des. A amostragem foi intencioplasias malignas e doenças endó- em pesquisas qualitativas de re- nal ou por seleção racional, que crinas (2). construção de imaginários soci- se baseia na crença de que os co- No contexto social, as ci- ais tem muito a ver com as difi- nhecimentos de um pesquisador dades contam hoje com grupos culdades técnicas e operacionais sobre a população e seus eleorganizados para terceira idade, que implicam em analisar, deta- mentos podem ser utilizados paabertos a todos os idosos da re- lhadamente, uma massa grande ra selecionar os casos que serão gião e por meio dos quais são de- de depoimentos, às vezes, den- incluídos na amostra (24). O pessenvolvidas atividades festivas, sos e complexos. Análises en- quisador pode decidir e seleciode lazer e outras. Finalmente, pa- volvendo um número maior de nar, intencionalmente, a mais ra os idosos com problemas fami- depoimentos podem ser feitas ampla variedade possível de enliares e sociais existem diversos ou propostas, aumentando a ri- trevistados, ou ainda pode seleasilos que funcionam em siste- queza do imaginário obtido cionar os sujeitos tidos como cama fechado e semi-aberto. (20,21). racterísticos da população em Os pequenos números questão, ou particularmente conão constituem uma caracterís- nhecedores das questões que es- Foram incluídos no estu- mine que a pesquisa qualitativa do os idosos que: tenha de ser conduzida com pe- -Concordaram em participar do quenos números. Mas as gran- estudo. des quantidades de dados den- -Foram capazes de comunicar- sos que os métodos qualitativos se verbalmente, isto é, lúcidos e tendem a gerar propiciam uma não portadores de desordens cog- razão de ordem prática para que nitivas. Para certificar-se de que se limite o tamanho da amostra eles atendiam a esse critério, foi (22). utilizado o Questionário de A amostra do estudo foi Avaliação Mental. Tamanho e natureza da amos- tica inalienável das pesquisas tão sendo estudadas. tra qualitativas. Nada há que deter- O objetivo de uma pes- quisa de RS é o resgate do ima- ginário social sobre um dado tema. Esse imaginário, na técnica do DSC, conforme comentários anteriores adquire a forma de um painel de discursos. Esse painel reflete o que se pode pensar, numa dada formação sociocultural, num dado José Vitor da Silva 236 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

132 -Estavam residindo nas cidades Características biossoci- respondente, após sua anuência. de Itajubá, Pouso Alegre e Santa ais, familiares, econômicas e de Os discursos dos entre- Rita do Sapucaí. saúde ocorreu por meio de entre- vistados foram registrados por vista estruturada. microgravador de fitas de 60 mi- Para a questão de enve- nutos. O tempo médio de dura- Coleta de dados lhecimento, foi utilizada a técni- ção da entrevista foi de 45 a 60 Instrumentos ca de entrevista semiestrutura- minutos. A reação dos entrevis- Procedimento para coleta de dados A aplicação dos questionários de Avaliação Mental e das José Vitor da Silva A coleta de dados ocorreu por meio de três instrumentos: 1.Questionário de avaliação mental: proposto por Khan (25). Ele consiste em dez perguntas que analisam basicamen- te a orientação temporoespacial e a memória para os fatos tardi- os, possibilitando avaliar se o idoso sofre ou não de uma síndrome mental orgânica. O respondente deve acertar no mínimo sete do total de dez perguntas. 2.Características biossociais, familiares, econômicas e de saúde: o questionário permitiu obter informações quanto às características individuais e familiares, da saúde física, das atividades da vida diária, dos recursos sociais e econômicos, assim como das necessidades e problemas que afetavam os idosos. A sua elaboração baseou-se no Questionário BOAS (Brasil Old Age Schedule) elaborado por Veras (26). 3.Roteiro de entrevista semiestruturada: foi constituído por uma pergunta aberta, destinada à identificação do significado de pessoa idosa. da. A entrevista privilegia a obtenção de dados por meio da fala que revela condições estruturais de sistema de valores, normas e símbolos e, ao mesmo tempo, transmite por meio de um portavoz as representações sociais de grupos determinados, em condições históricas, socioeconômicas e culturais específicas (27). Entre os diversos tipos de entrevista, optou-se pela semi- estruturada que é uma técnica que valoriza a presença do in- vestigador e permite que o entre- vistado alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação, favo- recendo não só a descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua totalidade (28). As estratégias utilizadas para a coleta de dados foram as seguintes: -As entrevistas foram realizadas no domicílio do idoso. -Todas as entrevistas foram agendadas previamente com cada ido- so, respeitando os dias e horários que lhes eram viáveis. -Antes do início da entrevista, o idoso tomava ciência do objetivo do estudo, instrumentos a serem aplicados e da entrevista gravada, assim como da garantia do anonimato. -Esclarecimentos de outras dúvidas, quando necessário. -Assinatura do Termo de Consentimento Informado pelo tados em relação ao gravador foi sempre positiva, não se obser- vando constrangimento do res- pondente. Não houve relato, por parte dos idosos, de falta de en- tendimento das perguntas. Todos os respondentes aceita- ram prontamente o convite. Tratamento e análise dos dados De acordo com as dire- trizes do DSC, foram adotadas neste estudo três figuras meto- dológicas: Expressões-Chave, Ideia Central e Discurso do Sujeito Coletivo. Para o trata- mento e análise dos dados, utili- zou-se, rigorosamente, a ordem das seguintes etapas: -1ª etapa: antes do início da transcrição dos dados, as fitas fo- ram ouvidas várias vezes para que se tivesse uma ideia panorâ- mica e melhor compreensão dos textos. Com os discursos gravados em fitas, procedeu-se à transcrição literal deles. -2.ª etapa: efetuou-se a leitura exaustiva de todo o material transcrito em dois momentos dis- tintos: no primeiro, procedeu-se à leitura de todas as entrevistas de cada um dos idosos, na sua to- talidade; num segundo momento, realizou-se a leitura individu- al da única questão da entrevista gravada. -3ª etapa: copiou-se integral- mente o conteúdo de todas as respostas inerentes à questão da en- trevista de cada respondente no Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

133 Instrumento de Análise de Discurso 1 (IAD1), representando as ECH em itálico. De posse das ECH e após a leitura de cada uma, identificou-se a sua IC, tomando-se o cuidado de que ela representasse a descrição das ECH e não a sua interpretação. -4ª etapa: elaboração do Instrumento de Análise do Discurso 2 (IAD2) que contém, separadamente, cada ideia central com as respectivas ECH semelhantes ou complementares. -5ª etapa: extraiu-se o tema de casa uma das perguntas da entrevista semiestruturada, agrupando a ele as suas respectivas ICs, assim como os sujeitos, representados pelo seu número e as frequências de ideias, por meio de quadros. Finalmente, construíram-se os DSCs, separadamente, de cada IC com as suas respectivas ECH. José Vitor da Silva. Resultados Primeira ideia central É a pessoa com incapacidade e inabilidade funci- onal. DSC A caracterização das pessoas idosas que participaram deste estudo permitiu mostrar que a maior parte delas era do gênero feminino, a média de idade foi de 70 anos. Quase todas sabiam ler e escrever, embora tivessem apenas o nível mais elementar de escolaridade. Eram predominantemente casadas, tinham em média quatro filhos, sentiam-se satisfeitas com quem moravam, assim como com os vizinhos e amigos. Quanto ao estado de saúde, o consideraram bom, inclusive quando comparado ao de outras pessoas da sua idade. A maioria era portadora de uma doença crônica não transmissível, predominando a hipertensão arterial sistêmica. Recebiam em média um salário mínimo referente a aposentadoria para suprir as necessidades diária. Tema I: pessoa idosa 1.O que é para o Senhor (a) uma pessoa idosa? Quadro 1- Ideias centrais, sujeitos e frequência de ideias do tema pessoa idosa Fonte: Instrumento de Pesquisa É uma pessoa de idade avançada, com vida já bem longa, mas que perdeu o gosto pela vida, sem vontade de viver e não consegue mais levar aquele... aquele ritmo de viver que é próprio de uma pessoa mais moça. A pessoa já fica meio can- sada, meio decepcionada e às vezes até desiludin- do os outros. Não se sente disposta para fazer uma coisa além do que ela consegue, nas forças que ela tem. É uma pessoa incapaz, doente, sem ânimo para trabalhar e viver... sem forças para lutar, com limitações e sem ter os objetivos que teria ainda de cumprir. Logo, idosa é aquela pessoa que está hoje praticamente inerte, sem uma atividade, né? Acha que não tem mais potencial e que, por ser idosa, O quadro 1 mostra as ideias centrais, sujeitos e frequência de ideias do tema pessoa idosa. não pode fazer nada. Tem que ficar parada não quer e não pode trabalhar e fica só pensando na ve- lhice. Ai, vêm todos os problemas, tanta coisa, né? Segunda ideia central É uma pessoa com bastante idade, saúde e vida normal. 238 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

134 DSC Uma pessoa idosa, no conceito da palavra, Para mim, uma pessoa idosa é uma pessoa é aquele que tem muita idade, mas eu não vejo des- que tem vivido, que sabe aproveitar os anos vividos sa maneira, eu não acho que pessoa idosa seja a e que tem mais experiência de serviço e mais expeidade, não. Isso é de cada um. Eu creio também que riência para tudo, né? Então eu posso citar a idade a idade não é o tempo... não é tempo...não é total- cronológica avançada, mas também aquele que admente o tempo de vida que a gente tem. Eu creio quiriu bastante experiência porque uma vida de 60 que a idade, ela...ela é...ela depende muito de co- anos... já gozou muita coisa e já sofreu na prática a mo a pessoa vive, de qual a concepção que a pes- vida suficiente de todas as matérias, pode-se assim soa tem da vida. O conceito de idoso pode ser mais dizer para ensinar alguém. Uma pessoa idosa tem amplo. Eu, por exemplo, aos 71 anos de idade, sou compreensão das coisas da vida e sabe aproveitar uma pessoa muito feliz... eu lembro que sou velho os seus anos vividos, né? Viveu a mocidade, já pasquando olho no espelho... porque o meu coração é sou por ela e sabe o que é, né? jovem, eu não me sinto velho, eu não me entreguei Enfim, eu acho que ser idoso é muito bom. ainda à velhice... Eu continuo sendo uma pessoa di- A gente tem experiência e a gente dá conselho para nâmica, trabalho 12 horas por dia, tenho uma vida os mais novos que pedem tudo. Eu penso que, de saudável e não me preocupo com a idade, né? Acho uma maneira sucinta, seria isso. que depende muito do espírito de cada um. Pessoa idosa para mim é quem tem bastante saúde, vontade de viver e vida normal. Tem âni- Quinta ideia central mo para tudo e para trabalhar, está em atividade e É a pessoa que já cumpriu os seus objetivos tem a felicidade de ajudar os outros. d vida. Eu acho que está tudo bem comigo porque DSC eu tenho bastante saúde e muita disposição para o Uma pessoa idosa é aquela que já viveu mutrabalho. Sou aposentado, mas continuo traba- ito que já passou dos 60 anos e que já atingiu todas lhando porque não gosto de ficar parado, certo? as fases desde a adolescência até chegar nessa fa- Logo, eu creio que ser velho não é se entregar, é vi- se de vida mais avançada. Já alcançou tudo aquilo ver a vida nas condições de velho... reconhecendo que almejada como trabalho, família, criou ou fique é uma pessoa velha, porém uma pessoa que lhos e aposentadoria... É uma pessoa que já realinão se entrega para ir morrendo aos poucos. zou tudo, mas que tem uma vida digna e bem vivida. Terceira ideia central Essa para mim é uma pessoa idosa perfeita. A figura 1 ilustra o significado de ser pessoa É a pessoa que já viveu muitos anos idosa. DSC Uma pessoa idosa é aquela que tem muitos anos vividos. É uma pessoa velha, de idade bastante avançada e que já viveu mais de 60 anos, 70, 80 por ai. Uma pessoa idosa, diz a medicina é aquela que já viveu mais de 60 anos. É claro que tudo isso é relativo porque depende do modo como a pessoa encara o que seja essa questão, né? Então, é fisicamente, porque espiritualmente a gente nunca é idosa. Quarta ideia central da. É aquele que tem muita experiência de vi- José Vitor da Silva. DSC Pessoas com incapacidade e inabilidade funcional Pessoa que já viveu muitos anos Pessoas com bastante idade, saúde e vida normal Significados de pessoas idosas Aquele que tem muita experiência de vida Figura 1 - Significados de ser pessoa idosa Fonte: Instrumento de Pesquisa Pessoa que já cumpriu seus objetivos de vida Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

135 José Vitor da Silva. Os integrantes do estu- A heterogeneidade de guem vivem a velhice de modo do representaram socialmente a significados ou de representa- mais rico e inovado do que as pessoa idosa como aquela que já ções é um fenômeno que traduz pessoas idosas de antigamente. tem muitos anos, portadora de as diferenças entre as pessoas Infelizmente muitos outros idouma experiência de vida, que já em razão das suas distintas his- sos continuam amarrados às cumpriu os seus objetivos traça- tórias de vida. Essas são cons- mesmas restrições, à falta de dos, com saúde e vida normais truídas com base na interação en- oportunidades e a desvantagens, ou com incapacidade ou inabili- tre a história de vida individual, em virtude da pobreza que só dade funcional. a personalidade e as experiênci- agrava as dificuldades físicas e as sociais que os indivíduos com- sociais da velhice. Seu destino é Discussão partilham com seus semelhan- sombrio não só por terem enve- Ao analisar as represenniões diz respeito às experiênci- qualidade de vida precedente. tes. Como a diferença de opi- lhecido, mas também pela má tações sociais dos idosos sobre velhice, observou-se que elas foconstruídas durante todo o ciclo sobre velhice também serão hete- as individuais que são únicas e Consequentemente, as acepções ram notadamente heterogêneas, oscilando desde uma concepção de vida, é possível admitir que rogêneas (30). mais negativa de que o idoso é ela se acentua à medida que as Zimermam (32), ao ana- uma pessoa incapaz, doente, pessoas envelhecem (30). lisar os motivos que levam os sem ânimo para trabalhar e vicostuma pensar, as pessoas ido- interpretação sobre a velhice, ob- Ao contrário do que se idosos a terem divergências de ver... sem forças para lutar, com limitações e sem ter os objetivos sas não são todas iguais, assim servou que aqueles com bom níque teria de cumprir, perpastre si na sua concepção de ser ve- tonomia, com suas doenças crô- como tendem a ser diferentes en- vel de capacidade funcional e ausando pela ideia de que é aquele que já cumpriu seus objetivos lho. As representações dessa eta- nicas controladas, com a sensade vida, é a pessoa que já vimomento em que se vive, asso- ção ao trabalho e à família, sen- pa de vida refletem a síntese do ção do dever cumprido em relaveu muitos anos até chegar a outro extremo de que, embora see às expressões vividas e senti- sim como aqueles que tinham re- ciado a todo o contexto anterior tindo-se úteis e experientes, asja uma pessoa com bastante idade, tem saúde e disposição das. cursos financeiros adequados, para trabalhar. Entretanto, não há uma conceituavam-na positivamen- A heterogeneidade das consciência clara de que a velhi- te, o que não ocorria com idosos expressões vividas e percebidas ce possa ser anunciada por meio em situações opostas. sobre velhice reflete as diversas de características físicas, psico- Essa diversificação de possibilidades de o idoso interrituais. Algumas pessoas pare- cide ainda com Zimermam (32) lógicas, sociais, culturais e espi- ideias sobre a pessoa idosa coin- pretar a sua condição, depencem velhas aos 45 anos de idade quanto, ao referir-se a ela, diz: dendo da história de vida de cae outras jovens aos 70. Se o iní- velho é aquele que tem a idade da um, disponibilidade do sucio da velhice é rigorosamente do corpo, aquele que tem expeporte afetivo, a nível social e sisindefinido, havendo divergênci- riência, mais vivência, mais dotemas de valores pessoais. As dias de opiniões e de indicadores, ença crônica e mais perdas físiferentes representações dos idoo viver e o sentir a velhice tam- cas. No momento em que o idosos sobre velhice encontram resbém são marcados por divergên- so utiliza mais a sua experiência paldo em Ferrari (29), para quem o processo de envelheciprios atores (31). capaz de ensinar e conviver com cias pessoais vindas dos seus pró- adquirida ao longo dos anos, é mento é muito pessoal, constitui uma etapa de vida com realidade Associado ao que foi di- a própria velhice e sentir-se rea- própria e diferente das anteriodesigualdade social que impera Ainda no contexto sobre to anteriormente, no contexto de lizado. res, limitadas por condições obno Brasil, alguns idosos conse- diversidade de ideias a jetivas e subjetivas. respeito 240 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

136 José Vitor da Silva. da velhice, a natureza desse fe- pacidade funcional o compo- ra realizar atividades, superar os nômeno é multidimensional e nente que melhor reflete o esta- problemas e viver melhor. Logo, multidirecional, ou seja, relacio- do de saúde dos idosos e que me- na concepção desses idosos, saúna-se com aspectos físicos, psi- lhor sinaliza as reais necessida- de não tem um fim em si mesma, cológicos, sociais do indivíduo, des de cuidados que requer essa mas é um recurso para viver plecujo processo de degeneração população. namente: porque a pessoa que inicia em diferentes momentos Com relação às ideias tem saúde vive melhor com seus da vida, ocorre em ritmos e com centrais é a pessoa que já viveu familiares, vive melhor com diferentes resultados de adapta- muitos anos e é uma pessoa Deus e vive melhor conção a ele. Para complicar, o ser com bastante idade, mas com sigo mesmo. idoso é um evento, cujas con- disposição para trabalhar, é As demais ideias centracepções podem variar no tempo importante citar, inicialmente, is: é aquele que tem muita expee no espaço, dependendo dos sig- que é a idade cronológica a de- riência de vida e é a pessoa nificados atribuídos a ele. Os sig- marcadora social da velhice que cumpriu seus objetivos de vinificados são diferentes em de- (31). O indivíduo deve chegar à da encontram respaldo em corrência da realidade familiar velhice com saúde, mas para Zimermam (32) ao afirmar que, social e cultural (33). uma pessoa idosa, o que é ter saú- quando o idoso é reconhecido pe- Ao interpretar separada- de? O que significa envelhecer las suas experiências anteriores mente, cada uma das ideias cen- de forma saudável? Idoso sau- e potencialidades atuais, assim trais relacionadas ao significado dável é aquele que não tem doen- como pelo que ainda é capaz de de ser uma pessoa idosa, a inca- ça? Se isso fosse verdade, existi- realizar, ele está protegido conpacidade e a inabilidade funcio- ria algum idoso saudável? O ido- tra a perda da autoestima e o isonal são a ideia com maior fre- so, mesmo portador de uma do- lamento social. A sensação de dequência. É importante destacar ença pode sentir-se saudável, ver cumprido ou de alcance das que, apesar de estabelecerem es- desde que seja capaz de desem- metas pessoais o previne da persa relação entre velhice e inca- penhar funções e atividades, al- da da própria identidade social pacidade funcional, a maioria cançar expectativas e desejos, (32). dos idosos deste estudo não se manter-se ativo em seu meio, ter via como pessoa incapaz ou im- alguma função social, efetivar Considerações finais Ser uma pessoa idosa foi caracterizado como um fenômeno multidimensional e multi- direcional, ou seja, relativo a aspectos físicos, psicológicos e so- ciais do organismo, cujo proces- so de degeneração começa em di- ferentes momentos da vida, ocor- re em diferentes ritmos e com di- ferentes resultados de adapta- ção. O envelhecimento é também um evento passível de vári- os tipos de interpretação, ou se- ja, as concepções a seu respeito podem variar no tempo e no espaço, dependendo dos significados a ele atribuídos. Como evento natural, envelhecimento significa degene- produtiva, ou seja, não se perce- projetos, conseguindo assim bia como velho, apesar da ideia uma boa qualidade de vida, pocronológica e dos problemas de dendo realizar-se como ser husaúde referidos por muitos. Isso mano, e o que é mais importante, leva à suposição de que os parti- ser feliz. Saúde, portanto, é a cacipantes do estudo, vivendo nu- pacidade de o idoso continuar ma sociedade preconceituosa exercendo funções em seu meio em relação aos idosos, reprodu- físico e social, contribuindo para ziram os seus estereótipos co- a sociedade e interagindo com mo, de resto, é comum observar ela (7). na população em geral. Esse po- A maior parte dos idosos de ser o motivo pelo qual, mui- deste estudo percebeu o seu estatas vezes, os próprios idosos se do de saúde como bom (60%) ou referiram à velhice de forma ne- muito bom (26%), embora 78% gativa (5). fossem portadores de uma doen- De qualquer modo, o re- ça crônico-degenerativa, sobre- sultado observado coincide com tudo de natureza cardiocircula- o posicionamento de Ramos, tória. A saúde, para eles, era vis- Saad (34), que consideram a ca- ta como condição necessária pa- Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

137 José Vitor da Silva. te perturbadores para o homem dor. Gerontologia. São Paulo: Atheneu; Assistência Social. Plano de Ação p Governamental Integrado para o desencomo indivíduo e espécie. Em úl- 8.Fernandes, FS. A importância da legisla- volvimento da Política Nacional do Idoso. tima análise é o principal deter- ção para a terceira idade. Mundo Saúde Brasília (DF); minante de seu esforço para con- 1997; 21(4): Polit, DF; Beck, CT; Hungler, BP. 9.Caldas, CP. A política nacional do idoso. Fundamentos de pesquisa em enfermagem. trolar o envelhecimento e as con- In: Caldas CP, organizadora. A saúde do Porto Alegre: Artmed; dições que o determinam. idoso: a arte de cuidar. 2 ed. Rio de 25.Khan, RL. Brief objective measures for Por outro lado, o enve- Janeiro: Editora da UERJ; p the determination of mental status in the 10.Conferência Nacional de Bispos do aged. Am J Psychyatric 1960; 117(1):326- lhecimento, é um fenômeno dis- Brasil. Campanha da Fraternidade de 8. tinto para cada pessoa. Cada ser 2003: fraternidade e pessoas idosas (si- 26.Veras, RP. País jovem com cabelos brannopse). Mundo Saúde 2002; 26(4): cos: a saúde do idoso no Brasil. Rio de humano tem o seu envelheci- 11.Abrantes, VL. Filhos adolescentes de ca- Janeiro: Relume Dunará; mento próprio que está centrado sa-lar: desafiando vivências modelando 27.Minayo, MCS; Deslandes, SF; Cruz em diversos aspectos, tais como projetos de vida e tecendo espaços para a Neto, O; Gomes, I. Pesquisa Social: teoria, valores, cultura, estilo de visa e enfermagem [Tese de Doutorado]. Rio de método e criatividade. 17 ed. Petrópolis: Janeiro: Escola de Enfermagem Anna Nery VOZES; cuidado com a saúde. Associada da Universidade Federal do Rio de 28.Triviños, ANS. Introdução à pesquisa a esses aspectos, a concepção Janeiro; em ciências sociais. 2ed. São Paulo: Atlas; própria sobre vida e envelheciira: instrumento do cuidado de enferma- 29.Ferrari, MAC. O envelhecer no Brasil. 12.Figueiredo, NMA. O Corpo da enferme mento é também um fator que gem. Um estudo sobre representações de en- Mundo Saúde 1999; 23(4): contribui para o seu desenvolvi- fermeiras [Tese de Doutorado]. Rio de 30.Goldstein, LL; Siqueira, MEC. mento. Janeiro: Escola de Enfermagem Anna Nery Heterogeneidade e diversidade nas expe- da Universidade Federal do Rio de riências de velhice. In: Neri AL, Freire SA, Todos os elementos men- Janeiro; organizadoras. E por falar em velhice. cionados anteriormente consti- 13.Silva, JV. Ser idoso e ter qualidade de vi- Campinas: Papirus; p tuem a estrutura do que se denoem cidades do sul de Minas Gerais [Tese de do envelhecimento e da velhice. In: Freitas da: as representações de idosos residentes 31. Papaléo Neto, M. Introdução ao estudo mina hoje envelhecimento pro- Doutorado]. São Paulo: Escola de EV, organizadora. Tratado de geriatria e dutivo e bem-sucedido, sendo es- Enfermagem da Universidade de São gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara te uma contraposição à associa- Paulo; Koogan; p Moscovici, S. Representação social da 32.Zimermam, GI. Velhice: aspectos biopção tradicional entre velhice e psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar; sicossociais. Porto Alegre: Artes Médicas; inatividade, isolamento social e 15.Jodelet, D. Les representaciones socia p improdutividade. les. Paris: Presses Universitales de France 33.Neri, AL. Qualidade de vida e idade ma- ; dura. Campinas: Papirus; p Referências 16.Jodelet, D. Les representaciones socia- 34.Ramos, LR; Saad, PM. Morbidade da les. Paris: Presses Universitales de France população idosa. In: Fundação SEADE. O 1.Pessini, L. Envelhecimento e saúde: ecos ; idoso na Grande São Paulo. São Paulo: da II Assembléia Mundial sobre o envelhe- 17.Jodelet, D. La representación social: fe- SEADE; p cimento. Mundo Saúde 2002; 26(4): 457- nómenos, concepto y teoría. In: Moscovici 63. S. Psicologia Social. Barcelona: Paidós; 2.Instituto Brasileiro de Geografia e p Estatística. Censo Nacional. Brasília 18.Jodelet, D. La representación social: fe- (DF); nómenos, concepto y teoría. In: Moscovici 3.Pessini, L; Queiroz, ZV. Envelhecimento S. Psicologia Social. Barcelona: Paidós; e saúde: desafios para o novo século Mundo Saúde 2002; 26 (4): Lefèvre, F; Lefèvre, AMC; Teixeira, JJV. 4.Paschoal, SMP. Epidemiologia do enve- O Discurso do Sujeito Coletivo. São Paulo: lhecimento. In: Papaléo Neto M, organiza- EDUCS; dor. Gerontologia. São Paulo: Atheneu; 20.Lefèvre, F; Lefèvre, AMC. Uma propos ta de processamento de dados em pesquisa 5.Assis, M. O envelhecimento e suas conse- qualitativa. São Paulo, qüências sociais. In: Caldas CP, organiza- 21.Lefèvre, F; Lefèvre, AMC. DSC: uma dora. A saúde do idoso: a arte de cuidar. proposta de processamento de dados em 2.ed. Rio de Janeiro: Editora da UERJ; pesquisa qualitativa. São Paulo: EDUCS; Secretaria do Estado de Saúde de Minas 22. Sá, A. 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139 244 Revista Técnico-Científica de Enfermagem v8 n

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