Fr o m Co l d Wa r t o t h e Gl o b a l Wa r m i n g

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1 Da Guerra Fria ao Aquecimento Global Fr o m Co l d Wa r t o t h e Gl o b a l Wa r m i n g Elian Alabi Lucci * Somente quando for cortada a última árvore, pescado o último peixe, poluído o último rio, é que as pessoas vão perceber que não podem comer dinheiro. Provérbio indígena RESUMO: O presente artigo discute a problemática do aquecimento global e suas trágicas conseqüências para o planeta Terra. Os alarmantes níveis de poluentes emitidos desde o advento da era industrial coloca, segundo o IPCC, a ação antrópica como fator decisivo para as mudanças de temperaturas. Palavras-chave: Aquecimento global; desenvolvimento sustentável; benevolência; valores. ecológicos. ABSTRACT: This article discusses the problem of global warming and its tragic consequences for the planet Earth. The alarming levels of pollutants emitted since the advent of the industrial age raises, according to the IPCC, the anthropic as decisive factor for changes in temperature. Key words: Global warming; sustainable development; kindness; ecological values. * Geografo e autor de livros didádicos pela Editora Saraiva. Membro da Diretoria AGB/Bauru-SP 17

2 Ellian Alabi Lucci Estamos vivendo hoje a sexta grande onda de extinção em massa. Cientistas acreditam que estamos em meio a uma grande onda de extinção até mais acelerada do que o colapso acorrido quando os dinossauros desapareceram, há cerca de 65 milhões de anos. Sete entre 10 biólogos acreditam que o mundo esteja hoje em meio a mais acelerada extinção em massa de seres vivos nos 4,5 bilhões de anos da história do planeta, de acordo com a pesquisa realizada pelo Museu Americano de História natural e pela empresa de pesquisa Louis Harris. Isto a torna até mais acelerada do que o colapso ocorrido quando os dinossauros desapareceram, há cerca de 65 milhões de anos. Diferentemente desta e de outra extinção em massa do passado pré-humano, a atual é causada pela atividade humana e não por fenômenos naturais, declaram os cientistas. Aos cientistas consultados classificam a perda da biodiversidade como um problema ambiental mais grave que a destruição da camada de ozônio, aquecimento global ou poluição e contaminação. A maioria (70 %) revelou acreditar que nos próximos 30 anos, até um quinto de todas as espécies vivas hoje estará extinto, e um terço dos consultados considerou que metade das espécies da Terra estará morta no mesmo período. ( ext_emmassa.htm.) A onda anterior até crianças de quatro anos para cima conhece muito bem: ela se deu há aproximadamente 65 milhões de anos quando desapareceram os dinossauros e os mamíferos começam sua escalada para o sucesso. O efeito estufa que nesta ocasião determinou o fim dos dinossauros e o início da evolução dos mamíferos foi provocado por um fator natural: o impacto de um meteoro ou asteróide, no Golfo do México. Mas o efeito estufa que gera o aquecimento global de hoje, é fruto não de um fenômeno natural (vulcão, terremoto ou tsunami) e sim da queima de combustíveis fósseis e do exagerado consumo da sociedade moderna. Contribuição dos gases efeito estufa ao aquecimento global No dia 2 de fevereiro de 2007, o I.P.C.C. (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), reunido em Paris, confirmou aquilo que já se sabia há muito tempo: o grande responsável por esta nova onda não são problemas de ordem natural ou geográfico, mas sim a ação antrópica, isto é, a ação nefasta do ser humano. No mais recente encontro, na Indonésia, em dezembro de 2007 (COP 13), com representantes de 190 países, esta conferência esteve próxima do fracasso. A reunião foi salva por vários acordos ou acertos mais propriamente dito, alguns deles transparentes e outros não, e também muitas jogadas diplomáticas. Desse encontro surgiu um documento chamado Um mapa do caminho de Bali que se constituiu de diretrizes e intenções até 2009 para substituição do Protocolo de Kyoto. O nosso planeta tem segundo cálculos da FUNUAP 18

3 - (Fundo das Nações Unidas para Assuntos Populacionais), um grau de suportabilidade para 7 bilhões de habitantes. Contudo, hoje com 6,5 bilhões nota-se que estamos próximos de atingirmos o limite do planeta. Mas, infelizmente, antes mesmo de atingirmos este limite, é tal o descontrole na relação homem natureza que já estamos arrancando do planeta mais do que ele pode nos fornecer. Humanidade já excede capacidade da Terra Os seres humanos já usam recursos naturais a uma taxa de 25% maior que a capacidade do planeta de regenerá-los. Se a tendência continuar, afirma um relatório divulgado ontem em 2050 a humanidade precisará de duas Terras para prover suas necessidades. O documento chamado Living Planet Report, é lançado todo ano pela ONG WWF. Ele se baseia em dois indicadores: o chamado índice planeta vivo, que mede a tendência da biodiversidade da Terra, e a pegada ecológica, que calcula fatores como a biocapacidade (área produtiva de pasto, lavoura e floresta necessárias à satisfação das necessidades humanas) e a capacidade dos oceanos de diluir a poluição humana. O relatório de 2006, que captura esta tendência global até 2003, indica que a humanidade superou a capacidade regenerativa do planeta por volta de O índice planeta vivo caiu 30% entre 1970 e 2003, o que indica que as extinções estão se acelerando. A humanidade não está mais vivendo dos juros da natureza, mas esgotando seu capital, afirma o relatório. A esse nível de déficit ecológico, a exaustão dos ativos ecológicos e o colapso em grande escala dos ecossistemas parece cada vez mais prováveis. Esse déficit não é igual para todos os seres humanos. A maioria dos países desenvolvidos deve mais ao planeta por ter uma pegada ecológica maior. Os Estados Unidos são o maior exemplo. Cada cidadão estadunidense demanda 9,6 hectares para atender a seu padrão de consumo, mas a biocapacidade dos Estados Unidos é de apenas 4,7 hectares por pessoa um déficit ecológico de 4,8 hectares por pessoa. Já no Brasil pelo menos neste quesito, é (ainda) um credor: cada brasileiro usa 2,1 hectares, tendo o país uma biocapacidade de 9,9 hectares por pessoa. (Folha de S. Paulo 25/10/2006 p. A18). A relação entre o uso desse recurso e seu esgotamento passou a ser denominado a partir de 2006 de Pegada Ecológica. A pegada ecológica A relação entre o uso deste recurso e seu esgotamento passou a ser denominada a partir de 2006, Da Guerra Fria ao aquecimento global de pegada ecológica. A pegada ecológica nosso impacto sobre a Terra está muito forte. O seu tamanho médio é de 2,2 hectares per capita. Esse número representa a área terrestre, e aquática biologicamente produtiva, necessária para fornecer a uma única pessoa, comida, fibra, madeira, terreno para construção e terra para absorver o carbono emitido pela queima de combustíveis fósseis. Como o planeta só consegue regenerar apenas 1,8 hectares por ano, os seres humanos precisam mudar urgentemente suas formas de consumir os recursos naturais. Os países desenvolvidos são os que apresentam maior pegada ecológica. A pegada mais forte do planeta está nos países do Hemisfério Norte estadunidense: 9,6 hectares por pessoa, devido especialmente ao consumo de combustíveis fósseis e do alto padrão de consumo que a sociedade dos Estados Unidos apresenta. Como sua biocapacidade é de 4,7 hectares per capita, os Estados Unidos apresentam um déficit (eco devedor de 4,8 hectares por área / per capita). Em comparação com a dos estadunidenses a pegada ecológica brasileira é bem menor: 2,1 per capita, devido principalmente ao uso de matriz energética mais limpa, com a participação de hidrelétricas e biocombustíveis. Mas ainda assim ela está acima da média dos países emergentes, em 1,9 hectares. Isto se deve, sobretudo, a conversão de florestas para plantações e o emprego da queimada. Tendo uma biocapacidade de 9,9 hectares per capita, nós somos ecos credores em relação aos países de maior pegada. Quando isto começou e onde vamos parar? O problema da devastação ambiental é tão antigo quanto o homem. Mas foi a partir de 1750 (inicio da sociedade industrial) que a relação homem x destruição ambiental se amplia cada vez mais. Ao chegarmos aos anos de 1970, o estado do planeta começa a dar sinais de que é preciso repensar nossa relação com a natureza. A grande contribuição para este despertar do sentimento preservacionista do planeta foi dado pelo livro Primavera Silenciosa, escrito em 1962 pela autora Rachel Carson. Apesar deste livro e outros transmitirem uma preocupação mais romântica em relação ao meio ambiente, eles foram muito importantes para a primeira grande reunião de 1972, em Estocolmo (Suécia) e que se constituiu em um marco quanto à preocupação de um grande número de países em relação às questões ecológicas. Depois deste encontro deve-se ressaltar o papel da Eco-92,no Rio de Janeiro e que culminaria com o 19

4 Ellian Alabi Lucci estabelecimento da Agenda 21. A Agenda 21 passou a ser importante documento internacional de compromissos ambientais contendo recomendações para um novo modelo de desenvolvimento e enfatizando a importância da educação ambiental. Com o advento da sociedade Pós-industrial a questão ambiental ultrapassa todos os limites e se sofistica. A causa deste novo surto de devastação, entre outras a revolução tecnológica e a pobreza que assola o planeta, por conta desta mesma revolução, vem alargando ainda mais o fosso entre ricos e pobres apesar do crescimento da economia mundial. Por quase qualquer critério, e na maior parte do mundo nota-se uma tendência geral: a distância entre os ricos e pobres está aumentando. Nos Estados Unidos, os 20% mais ricos conseguiram ampliar as suas riquezas numa proporção 50% maior que a média nacional desde os anos de Com o aquecimento econômico na Ásia, milhões de pessoas passaram a desfrutar de maior conforto material. Mas outras centenas de milhões ainda continuam a viver na pobreza. A desigualdade está presente em muitos aspectos do nosso mundo entre países e, no interior destes, entre indivíduos, grupos, sexos e até gerações -, mas nada torna a tão evidente quanto uma única medida desse crescente distanciamento: em 2007, as duas pessoas mais ricas do mundo tinham mais dinheiro que a soma do PIB dos 45 países mais pobres. parâmetros de valores de índole material e quantitativa. Curiosamente, hoje, é o homem que se apresenta atado aos horários da máquina, e não o que seria correto uma situação inversa. Isto é altamente injusto, pois ataca o ser da pessoa, que é o fim e não o meio. Tecnocracia e Valores Ecológicos A tecnocracia corresponde ao poder de uma técnica que aprisionar o homem e a atitude prepotente de usá-la contra a natureza. Quatro são as esferas implicadas na questão ecológica que nos preocupa intensamente. O movimento ecológico nos faz tomar consciência dos perigos que a tecnocracia provoca na natureza e propõe substituir os valores tecnocráticos. Como exemplo, apresentaremos um quadro que resume parte desses valores tecnocráticos e parte dos valores ecológicos. Revolução tecnológica e problemas ambientais O processo de crescimento da tecnologia se foi fazendo cada vez mais autônomo fugindo mais e mais do estado natural das coisas. O homem já não domina mais a técnica que ele criou, senão que é dominado por ela. Assim, a tecnologia e seus efeitos fogem da autoridade do homem, como por exemplo, o vírus na informática. Vejamos o que nos dizem os filósofos Ricardo Yepes e Javier Echevarria ao tratarem deste assunto sobre a ótica da Antropologia: À medida que novas técnicas vão se desenvolvendo, parece que a ação da pessoa é cada vez menos relevante, até a pessoa transformar-se em um objeto a mais desta cadeia. O homem se converte apenas em um instrumento de produção; ele mesmo é transformando por este processo de possibilidades técnicas (...). O que importa o que o homem pensa, sinta ou diga? O único que conta é a função que ele desempenha no processo de produção objetiva. O homem como sujeito como um ser único e irrepetível, já não conta para nada. Desta perspectiva, o conflito entre humanismo e tecnologia aparece com toda a sua dureza. Efetivamente, o sistema de produtos de alta tecnologia impõe suas próprias exigências, submetidas a Uma das idéias básicas dos valores ecológicos é a de 20

5 recuperar o ritmo natural, pôr em harmonia com a natureza. A vida humana, para ser verdadeiramente humana, não deve estar só em harmonia consigo mesma, senão também com o habitat natural. E isto se obtém sincronizando os ritmos humanos com os da natureza. Quando falta esta sincronia surgem dois problemas ou duas patologias: a pressa fenômeno exclusivamente humano, produzido pelo aumento da velocidade no ritmo de nossas atividades, produzida pela tecnologia e o ruído desarmonia que só o homem pode produzir, derivado da técnica. O silêncio da natureza está cheio de harmonia. A benevolência com atitude fundamental diante da natureza e dos seres vivos. Vamos usar aqui a palavra benevolência com um sentido diferente daquele que se emprega na linguagem comum, em que ela significa um sentimento de compaixão para com o fraco e o desprotegido. O sentido em que empregaremos o termo benevolência se refere à atitude moral da qual o ser humano é capaz. O que é a benevolência? Dar consentimento ao real, dizer a natureza: seja você mesma! Seja o que és! Se eu encontro um besouro virado, eu logo o ponho na posição correta, para que prossiga seu caminho. Com isto estou lhe dizendo: seja Da Guerra Fria ao aquecimento global você mesma! A benevolência consiste assim em prestar ajuda aos seres para que alcancem o seu fim: queremos que todos eles sejam como são que cada ser alcance o seu melhor modo de ser. O besouro não faria nada deitado de costas sobre o solo: ele foi feito para caminhar como os demais animais caminham normalmente. Colocá-lo de volta na posição correta é uma atitude benevolente. A benevolência é, portanto prestar ajuda ao ser, para que chegue a ser o que deve ser em sua plenitude. Por isso é benevolente quem sabe sair em socorro da vida ameaçada. O importante da benevolência é que com ela respeitamos e reconhecemos o valor do real em si mesmo, e não somente dele em relação a nós. Quem é benevolente sabe superar a relatividade nos interesses de uma visão centrada na satisfação dos instintos para captar de um modo absoluto o que são as coisas para, deste modo, poder querêlas, respeitá-las e usá-las como são. Só assim poderemos prestar-lhe nossa ajuda para que alcance sua plenitude. Diante disto que acabamos de ver pode se afirmar que a natureza ou o meio ambiente não precisa de compaixão, mas, sim, de que nós os seres humanos a vejamos como ela é: com sua capacidade de ser e de se recompor por si mesma, desde que assim permitamos. 21