Universidade Federal de Uberlândia. Comunicação: Relato de Pesquisa

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1 PLANTA BAIXA: RESIGNIFICAÇÃO SENSORIAL DO ESPAÇO ESCOLAR André Luiz Silva Rodovalho Bárbara Lamounier Borges Lima Clara Fonseca Bevilaqua Juliana Lopes Nascimento Leandro Sousa Alves Nayara Silva Mendonça Rafael Machado Michalichem Renan Bonito Pereira Mariene Hundertmarck Perobelli Universidade Federal de Uberlândia Comunicação: Relato de Pesquisa Resumo A partir do contato entre os bolsistas do PIBID Projeto Institucional de Bolsas de Incentivo a Docência - subprojeto Teatro da Universidade Federal de Uberlândia e o ambiente da Escola Municipal Professora Josiany França, detectou-se a importância do reconhecimento espacial e compartilhamento sensorial do ambiente escolar. Por meio de fotos, vivências e recriação da planta baixa do edifício da Escola Municipal, estabeleceu-se a transposição do documento arquitetônico e o jogo de tabuleiro Detetive (originalmente conhecido como Clue). As atividades resultaram em um processo de Drama como método de ensino, proposta pedagógica da autora Beatriz Ângela Vieira Cabral e utilizado entre os bolsistas para instaurar uma forma diferente de reconhecimento do local que trabalham semanalmente. Com foco nas sensações que o espaço e tempo lhes proporcionam. Os autores buscam retratar vivências e atividades realizadas através do PIBID dentro e fora do ambiente escolar durante o 2º semestre de 2011, por meio da instalação de fotos inseridas na releitura espacial da Escola Municipal Professora Josiany França. Primeiro gostaria de pedir desculpas a você por envolvê-lo nisso. Mas se você achou minha carta, por favor, não a guarde para si nem ache tudo isso uma grande e de mau gosto brincadeira e a entregue para a policia. Escrevo sofregamente tal carta porque acredito que estou correndo sério risco de vida e se você está lendo isso, provavelmente não estou mais entre vocês Carta ficcional anônima escrita por alguém da Escola Municipal Professora Josiany França assassinada na mesma.

2 Uma das primeiras ações que o subprojeto PIBID Projeto Institucional de Bolsas de Incentivo a Docência deve realizar é a observação e estudo do espaço de atuação e pesquisa, no caso, a escola. O subprojeto de Teatro começou suas atividades na Escola Municipal Professora Josiany França, no bairro Canaã, periferia da cidade de Uberlândia. Como estudar o espaço que nos encontramos? Qual a relação entre o espaço e o tempo? De que forma o espaço nos afeta? Como a relação dos bolsistas estagiários afeta o ambiente escolar? Após vivencias semanais na escola, observações sensíveis e objetivas, optamos por observar basicamente o documento arquitetônico da escola (planta baixa), como ponto de partida dos estudos. Desta forma, estabelecemos momentos de trocas dos estudos entre os bolsistas do subprojeto teatro. Documento arquitetônico (planta baixa) da Escola Municipal Professora Josiany França Retas... Curvas... Espaços vazios... Estudando-a começamos uma discussão de como, a partir da planta baixa, fotos e observações, poderíamos resignificá-los em um material artístico-pedagógico. Decidimos usar as fotos que tiramos pela escola e outras ideias que surgiram no grupo.

3 Por fim, focamos em três: transpor a estrutura para um programa de computador, transformando-o em um grande cenário 3D. Fazer um jogo de labirinto em uma folha de papel a partir das paredes da escola. Por fim, a partir do jogo de tabuleiro Detetive, fazer nosso próprio jogo de tabuleiro, a partir da planta baixa da escola. No entanto, de que forma organizar essas ideias em uma maior? Como organizar tais materiais? Qual seria a motivação para jogar o nosso próprio Detetive? Desta forma, optamos em realizar uma investigação policial fictícia, para resolver o caso de alguém que teria sido assassinado nas instalações da escola. Para isso nos apoiamos no Drama como método de ensino, proposto pela Beatriz Ângela Vieira Cabral. Não consigo entender alguns fatos mas tentarei escrever alguns deles para você... Desde a primeira vez que pisei nesta escola sabia que minha vida não seria mais a mesma. Primeiro dada ao ótimo clima entre os estudantes e corpo docente dela, sua estrutura ampla e arejada. Por onde andava era possível sentir a brisa do dia massageando meu rosto. Da entrada a sala de aula. Da horta a quadra esportiva. Nos primeiros meses tudo correu bem na escola, fui adaptando-me a todos e vice-versa, e possíveis eventualidades acredito que sejam irrelevantes ao meu depoimento... Acredito que a ameaça que sinto tenha de fato começado com a entrada dos estagiários do PIBID de Teatro da UFU... Na semana anterior ao dia da reunião semanal do grupo de bolsistas iniciamos o processo de Drama como Método de Ensino. Foram enviados alguns bilhetes e s anônimos para os outros bolsistas PIBID/Teatro. Conteúdo dos bilhetes: Você acha que ninguém viu, mas o Canaã inteiro sabe o que você fez!. A partir desse pré-texto o jogo começou. Após a escolha inicial dos proponentes da atividade naquela semana acerca do contexto e circunstâncias da ficção 2, os outros participantes, também bolsistas PIBID começam a entrar em jogo, ainda sem reconhecer o processo. Na semana seguinte os proponentes da atividade esperavam os outros para a reunião, vestidos de preto, com câmeras fotográficas na mão. Antes de entrar para a sala, todos os bolsistas deveriam tirar uma foto de frente e perfil segurando uma placa que continha alguns números, pois todos eram suspeitos do crime que havia acontecido na Escola Municipal Professora Josiany França na semana anterior. 2 Primeiras características básicas ao Drama como método de Ensino, como sugere Beatriz Ângela Vieira Cabral.

4 Fiquei muito surpresa quando cheguei para o nosso encontro semanal e deparei com pessoas observando meu comportamento e tirando fotos minhas e do restante do grupo, com uma placa numerada, igual mostra nos filmes clássicos quando o vilão é preso. Senti-me entrando em um romance policial. No entanto, o romance não apareceu. Fomos conduzidos a entrar na sala e sentarmos em cadeiras dispostas lado a lado de frente à um projeção de imagens na parede, onde foram mostrados avatares de retratos falados ou caricaturas. O que era sério tornou-se cômico, pois eram avatares de cada integrante do grupo. Enquanto segurávamos o riso, os detetives tentavam encontrar os suspeitos. O objetivo era: acertar de quem era cada caricatura exposta em projeção. Feito isso, mostraram fotos tiradas na Escola para a identificação das mesmas. Senti que cada imagem nos aproximava cada vez mais do suspeito, pois a investigação acontecia com o intuito de descobrir quem cometeu o assassinato (fictício) na Escola Municipal Professora Josiany França. Esclareceram que o assassino conhecia muito bem cada lugar da escola. Feito isso, quem mais identificava as imagens era o maior suspeito. Prosseguindo com a investigação, foi entregue uma folha com vários traços, que pareciam ser labirintos. Pensei imediatamente que deveria ser o caminho traçado pelo assassino e um dos pontos era o local do crime. Fiquei em dúvida se realmente deveria tentar achar o caminho certo, pois se encontrasse com facilidade eu passaria a ser a maior suspeita. Ao mesmo tempo pensei que não tinha o que temer, pois até onde eu lembrava não havia feito nada de errado. Na próxima etapa da investigação colocaram todos os jogadores em uma pequena sala ao redor de uma mesa. Os detetives observavam as atitudes, os movimentos, o que resultou em um crescimento de tensão entre o grupo. De repente, os detetives transformaram-se em suspeitos, pois também havia suas caricaturas expostas no começo do jogo. Colocaram sobre a mesa uma releitura da planta baixa do espaço escolar (Escola Municipal Professora Josiany França). Entregaram três cartas, que continham itens diferentes (uma caricatura do suspeito, um local da Escola e uma arma, que eram equipamentos tecnológicos). Em seguida, foi entregue uma listagem com itens presentes nas cartas de todos os jogadores.

5 Com o decorrer do jogo, todos eram detetives e suspeitos do crime. As acusações começaram. E o objetivo era percorrer a planta baixa da Escola e descobrir o assassino. 3 Após a proposição do crime, os bolsistas estavam em uma situação diferente da rotina semanal. O Drama, segundo Beatriz Ângela Vieira Cabral: É uma atividade criativa em grupo, na qual os participantes se comportam como se estivessem em outra situação ou lugar, sendo eles próprios ou outras pessoas (CABRAL: 2006, p.11). Os narradores ( detetives ) da história tinham a intenção de instaurar uma forma diferente de reconhecimento do local que trabalham semanalmente. A partir disto, reconstruir maneiras diferentes de olhar o espaço e o tempo escolar. Para tornar a situação ainda mais complexa, o professor, tal como o investigador, deve lembrar que ele também tem intenções e está reconstruindo a história. A investigação de memórias fica dessa forma situada entre intenções e reconstruções; é isso que a situa como processo artístico (CABRAL: 2006, p.15). O pré texto é outra característica fundamental ao Drama como método de ensino. Segundo Cabral, é este fator que: define a natureza e os limites do contexto dramático, e sugere papéis aos participantes. (CABRAL; 2006, 15). Instaurado o jogo, cada participante entra em jogo e os papéis diferentes vão surgindo, com o decorrer dos comandos oferecidos durante o processo. É possível observar, a partir do relato de um dos integrantes do jogo, que os participantes se envolviam cada vez mais no decorrer do jogo. O jogo realizado com os bolsistas, só se concretizou a partir do processo 4, com o decorrer dos episódios 5. É possível identificar durante o processo na reunião, cinco episódios que contribuíram para a concretização do jogo, para a renovação do olhar para o ambiente de trabalho (Escola), da criação de papéis e envolvimento dos bolsistas enquanto artistas, criadores e educadores no jogo proposto. É possível enumerá-los da seguinte forma: 1º episódio: Bilhetes anônimos acusando os remetentes de algo acontecido no bairro da Escola surgem no decorrer de uma semana. 3 Experiência relatada pela bolsista PIBID subprojeto Teatro: Nayara silva Mendonça. 4 Outras características básicas ao Drama Como Método de Ensino. 5 Idem nota 4.

6 2º episódio: Para entrar na sala de reunião todos os bolsistas posam para fotos, segurando placas numeradas, indicando que são suspeitos de um crime. 3º episódio: Identificação de caricaturas dos suspeitos e dos espaços escolares mostrados a partir fotos e planta baixa em 3D. 4º episódio: Os suspeitos devem traçar um caminho dentro do labirinto feito a partir do projeto arquitetônico da Escola. 5º episódio: Suspeitos e detetives, a partir da transposição do documento arquitetônico da Escola e do jogo de tabuleiro Detetive (originalmente conhecido como Clue), tentam descobrir, jogando, quem cometeu um crime ficcional dentro da Escola. Ao assumir personagens (detetives), os três bolsistas que conduziam a reunião, interagiram com o restante do grupo no contexto do suposto crime. Desta forma, foi possível compartilhar o olhar dos proponentes acerca do ambiente escolar, dos espaços mais freqüentados pelos alunos e do tempo, que se transforma constantemente. Um tempo de ação, de encontros e criações. O tempo de criações, estimulou o grupo proponente a realizar uma releitura do Drama como método de ensino. Isso resultou em materiais visuais que possibilitaram exercer um olhar em constante movimento e criação para o ambiente escolar e para os bolsistas artistas educadores. As releituras dos documentos arquitetônicos e fotos da Escola geraram plantas baixas do ambiente escolar. Este material foi escolhido pelo grupo como forma de compartilhar o olhar do grupo de bolsistas sobre a Escola Municipal Professora Josiany França. A partir da planta baixa, optamos em compartilhar vivências e atividades realizadas pelo PIBID dentro e fora do ambiente escolar durante o 2º semestre de 2011, por meio da instalação de fotos inseridas na releitura espacial. Elas também foram uma forma de retratar cada ação, que foi gerada a partir dos estímulos que o artista educador vive na Escola, em seu ambiente de trabalho. Uma forma de criar ações dentro da rotina. Crio, criamos, criaremos sempre em movimento ações que alimentem nossos trabalhos. Compartilhamos como forma de estimular e trocar experiências. E reinventamos a forma de compartilhamento para que a rotina não nos deixe parar no tempo. Para reinventar os espaços que ocupamos.

7 REFERÊNCIA CABRAL, Beatriz Ângela Vieira. Drama como método de ensino. Hucitec, 2006.

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