CRIANÇAS NA MÍDIA DIGITAL:UMA EXPERIÊNCIA DE PRODUÇÃO DE VÍDEO DIGITAL NO ENSINO DA LINGUAGEM POÉTICA
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- Eric Canário Lopes
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1 CRIANÇAS NA MÍDIA DIGITAL:UMA EXPERIÊNCIA DE PRODUÇÃO DE VÍDEO DIGITAL NO ENSINO DA LINGUAGEM POÉTICA WILLIANA PEREIRA SALDANHA (ESCOLA MUNICIPAL JOSÉ DE ANCHIETA). Resumo Nesta comunicação relatamos uma experiência de produção de vídeo digital educativo, no ensino da linguagem poética em Língua Portuguesa, realizada nas 1ª à 4ª séries do Ensino Fundamental de uma escola de Sumaré. As crianças traziam do ano anterior uma experiência de alfabetização audiovisual, a partir da produção do vídeo digital Brincando com a Poesia na Escola (2007), sendo essa performance de linguagem poética de textos literários de diversos autores, como Vinícius de Moraes e José Paulo Paes. Neste evento, participaram vinte e oito crianças na faixa etária de seis à dez anos. Para dar continuidade ao processo e iniciar uma co autoria nos roteiros do segundo vídeo digital, ou seja, uma produção de roteiros elaborados pelas crianças e pelos professores, adotamos os pressupostos teóricos Amaral(2008), Souza (2005) e Schaffer (1990) e abrimos um espaço no contexto escolar articulado, com a proposta pedagógica interdisciplinar do PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais), para que elas, ao lerem, dialogassem de forma crítica e criativa com o outro (colega e professor). A interação e negociação, resultante dos processos de educação através dos meios de comunicação, permitiram que relacionassem o texto literário poético aos conteúdos ensinados e às suas experiências e construíssem conhecimentos sociais significativos, através da linguagem digital. Palavras-chave: Mídia, linguagem, vídeo digital. Nesta comunicação relatamos uma experiência de produção de vídeo digital educativo, como uma prática pedagógica inovadora no processo de ensino e aprendizagem da linguagem poética em Língua Portuguesa, realizada, desde 2007, com alunos de 1ª a 4ª series do Ensino Fundamental da Escola Municipal José de Anchieta, em Sumaré. Em primeiro lugar, precisamos evidenciar que a integração das novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC), nos processos educacionais, como possibilidade de mudança na natureza do ensino e do aprendizado, no contexto educacional formal, mencionadas nos estudos de Schaffer (1990), Souza (2005), Amaral et al (2007) e Amaral (2008), sustentam nossas reflexões e análises. Em segundo, acreditamos que o encontro da tecnologia com a educação, em projetos educativos nas séries iniciais do Ensino Fundamental, pode contribuir para a adaptação da escola na educação com e para os novos meios e atender à demanda de uma comunidade estudantil que se mostra competente em seu uso e manejo. Em terceiro lugar, utilizaremos a denominação educadorapesquisadora-produtora (Souza, 2005:79), para referir-se a atuação pedagógica da professora coordenadora no projeto de produção digital. Segundo o autor (Amaral, 2008): Utilizando a linguagem digital, a educação promoveria uma intervenção social, o desenvolvimento de uma dinâmica educacional, de cooperação e de solidariedade e deste conceito a liberdade, e o desenvolvimento da formação necessária para a cidadania, a democratização por meio da entrega digital de conteúdo produzido pelos próprios estudantes (p.16).
2 Portanto, Brincando com a Poesia na Escola é um projeto de natureza interdisciplinar e colaborativa, fundamentado nos princípios teóricos dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa (PCN-LP), visando à construção do conhecimento para e pela criança, ou seja, a construção e a troca de conhecimentos na elaboração de um conteúdo educativo significativo. Ressaltamos que a forma escolhida (linguagem digital), o gênero roteiro e a produção colaborativa fazem parte de uma estratégia pedagógica com objetivos práticos, isto é, avaliar os resultados obtidos. Assim, nosso maior desafio, como educadores, é o de saber utilizar esse meio tecnológico, como recurso motivador no processo de ensino e aprendizagem, isto é, uma nova ferramenta de aprendizagem virtual na construção dos conhecimentos dos alunos nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Brincando com a Poesia na Escola: um projeto de linguagem digital Esse é o nome do projeto de produção digital e da produção em DVD, o qual foi elaborado como um espaço articulado à proposta pedagógica escolar, em 2007, no interior do Projeto de Incentivo à Leitura da biblioteca da escola, para difundir os conhecimentos adquiridos no processo de ensino e aprendizagem formal de linguagem poética, em sala de aula, e estimular a leitura dentro e fora da escola. Para tanto, a educadora-pesquisadora-produtora e 28 alunos na faixa etária de 6 a 10 anos, iniciaram o processo para a produção da primeira performance poética. Os textos literários, nessa primeira fase, foram selecionados pelos professores das respectivas séries em parceria com a educadora, no acervo da biblioteca infantil da escola. Nessa etapa, foram selecionados os autores, por exemplo, Vinícius de Moraes e José Paulo Paes. Como condição principal, a alfabetização audiovisual, para cumprir o objetivo proposto e fosse compatível com a ferramenta tecnológica adotada, o vídeo digital (DVD). Nesse sentido, Schaeffer nos propõe: "para ler as imagens, igual aos textos escritos, não se deve esquecer que é necessário aprender simultaneamente a escrever". (Schaeffer apud Amaral, 2008: 15). E Amaral complementa: "A expressão digital interativa através da língua, como uma estratégia de motivação e desmistificadora requerer, para tanto, não só decifrar o código da língua de comunicação, mas servir-se dela." (Amaral, 2008:16). Um pressuposto básico que denominados como território favorável, diz respeito à integração das TICs no cotidiano escolar da Escola Municipal José de Anchieta. Além dos equipamentos de apoio na administração escolar, temos o de apoio ao processo de ensino e aprendizagem, como rede de computadores e suas ferramentas de informação e telecomunicação (correio eletrônico, sites de divulgação, etc.). Portanto, contamos com duas salas de ensino de informática, com a presença de monitores e horários especiais de atendimento para alunos de 1ª a 4ª séries, duas bibliotecas (não informatizadas), laboratórios de Ciências e auditório e salas especiais para exibição de filmes e palestras, além de câmera de vídeo (sistema VHS) e tripé e câmera fotográfica digital. Outro aspecto importante é o Plano Político Pedagógico em andamento, com base nos PCNs que muito tem contribuído para a presença desse projeto educativo e de muitos outros em atuação na rede e nas diversas unidades escolares. Segundo a autora (SOUZA, 2005): Se temos uma sociedade que vive na era da tecnologia, é preciso formar os cidadãos para o uso correto, coerente, crítico e criativo. É necessária, então, uma nova pedagogia para formar o homem que nasce nessa realidade. Essa pedagogia, que gostaríamos de
3 denominá-la pedagogia da comunicação, respeita o poder da mídia. (..)Essa pedagogia que necessita ser discutida possui em seu eixo, além da capacitação técnica, outras extensões da educação, como é o caso da leitura crítica dos meios, das várias linguagens e da semiótica, tudo contemplado nos PCNs (p.105). Vídeo Digital: uma nova ferramenta de aprendizagem virtual interdisciplinar e colaborativa Em 2008, para dar continuidade ao processo de alfabetização audiovisual e iniciar uma nova fase, ou seja, a aprendizagem interdisciplinar colaborativa nos roteiros audiovisuais das performances poéticas começou os trabalhos para a produção do segundo vídeo digital, incluindo as crianças e os professores como co-autores do roteiro audiovisual. Segundo o autor Amaral et al (2007): Essa produção necessita de uma organização, buscando atingir os objetivos traçados pelo professor dentro do projeto que ele esteja desenvolvendo. Para isso, é necessária uma ferramenta fundamental utilizada em produções audiovisuais: o roteiro. O roteiro é um tipo de gênero específico e pode ser aproveitado pedagogicamente pelo professor, já que o aluno irá produzi-lo previamente, para depois concretizá-lo na forma audiovisual (p.02). Com relação às considerações acima, precisamos assinalar que nas duas produções digitais realizamos apenas um roteiro (educadora) contendo as etapas de trabalho e a metodologia, sendo que o roteiro audiovisual das performances (2008), resultante da ação conjunta do grupo de crianças com a educadora, não foi registrado. Mesmo assim, é possível, por meio do roteiro elaborado em 2008, percebemos, inicialmente, três etapas no processo de criação colaborativa das performances, envolvendo os alunos e a educadora. Na primeira, ocorre uma discussão em pequenos grupos sobre a escolha do texto literário. Na segunda, cada participante elabora seu roteiro audiovisual da performance em conjunto com os colegas e a educadora. Na terceira, cada participante elabora individualmente sua atuação performática, respeitando seus limites. Cumpridas essas etapas, a educadora, antes da gravação final, faz uma breve consideração com a criança sobre as peculiaridades de cada performance e de seu roteiro. Percebemos que a relação da criança com o processo de co-autoria cria infinitas oportunidades de aprendizagem e, entre elas, a experiência dialógica. Assim, a criança ao interagir em diferentes posições discursivas, ora ouvinte-interlocutor, ora como narrador-locutor, ou seja, ora ator, ora diretor, poderá refletir sobre o quê, o como, o onde e para quem narra. Diante do exposto, apresentaremos algumas considerações sobre a escolha do uso de DVDs, o processo e a estrutura dos DVDs produzidos, as características das produções, tendo como base as formulações metodológicas de Souza (2005: 70 e 79) sobre as produções de vídeos orientados pelo LANTEC (Laboratório de Novas Tecnologias Aplicadas na Educação-FE da Unicamp), na EMEF "Professora Dulce Bento Nascimento", em Campinas. Com relação à escolha do uso de DVDs processados em MPG-2 nas produções de vídeos educativos, nossas justificativas se assemelham nos seguintes aspectos: nas
4 vantagens de uso, armazenamento e conversão, pelo som ser de melhor qualidade e dar uma sensação de navegação, como na Internet. Processo: O projeto inicia-se com uma abertura musical com efeitos visuais, dando a noção de movimento, escolha aleatória do editor terceirizado. Nesse aspecto, não foi realizada uma abertura personalizada. Em seguida, as performances roteirizadas, em 2007 pela educadora e, em 2008, em ação colaborativa. A Poesia Convite de José Paulo Paes inicia, em ambas as produções, as performances por sugerir que a poesia possibilita uma brincadeira com as palavras da língua materna. Apesar de ser uma filmagem contínua e linear das performances, pode-se considerá-la como sendo uma produção do estilo descontraído devido à variedade das interpretações criadas pelos protagonistas, ora cômicas, ora românticas, etc. A educadora realiza as gravações com uma câmera VHS no espaço da biblioteca da escola, devido à ausência de um estúdio de gravação. E, para tanto, utiliza um material de apoio técnico para dar suporte às interpretações, isto é, os textos literários são convertidos em transparências e projetados para leitura. Os créditos finais possuem uma imagem colorida e um tema musical, com as indicações das participações dos alunos dos alunos da 1ª à 4ª séries como protagonistas e, por fim, o nome da educadora-pesquisadora-produtora e da direção escolar. No arquivo anexo 1 Estrutura do DVD. A Produção: O objetivo da produção como mencionamos na introdução é difundir os conhecimentos da linguagem poética aprendidos em sala de aula, ou seja, a estrutura da linguagem poética: rima e ritmo e estimular a leitura. Esse conteúdo é desenvolvido e aprofundado ao longo do processo de ensino e aprendizagem da 1ª a 4ª séries na área de Língua Portuguesa. Assim, o plano de trabalho das duas produções efetuou-se durante o cotidiano escolar, fator que dificulta o levantamento total de horas dispensadas em todo o processo. Com relação às pesquisas realizadas tanto por parte da educadora quanto dos alunos envolvidos, essas ocorreram no acervo poético da biblioteca da escola e na Internet. Em 2008, a educadora contou com um material de apoio pedagógico do Ministério da Educação fornecido para a Olimpíada da Língua Portuguesa (Poetas da escola). Cabe-nos ressaltar que o vídeo digital, como uma nova ferramenta no cotidiano escolar, recebeu uma aprovação imediata, bem como a introdução da mídia televisiva. Assim, uma característica muito peculiar desse vídeo educativo é a aceitação sem reservas da roteirização das perfomances audiovisuais, inicialmente pela educadora com um cenário fixo e, em seguida, com a co-autoria dos alunos e professores, em diferentes ambientes da escola. Resultados Obtidos na Análise dos Depoimentos Analisaremos alguns dos depoimentos gravados com os alunos participantes da primeira experiência de produção (2007), para observarmos os resultados obtidos na trajetória da aprendizagem nesse novo contexto digital interdisciplinar e colaborativo. Esses depoimentos, num total de 17, foram gravados pela educadora com câmera (VHS) na biblioteca infantil durante o cotidiano escolar, em sua maioria antes e alguns depois da realização da segunda produção. Basicamente os alunos responderam a duas perguntas: O que você achou de participar do evento?
5 E como você se sentiu sendo filmado? Atualmente esse arquivo de imagens está armazenado em sistema digital. Para fins de registro de transcrição de diálogos utilizaremos a seguinte legenda: E= educadora-pesquisadora-produtora; A1, A2= alunos identificados, / pausa breve; // pausa longa; (incomp.) incompreensível; /../ transcrição parcial. Iniciaremos evidenciando as afirmações de A5 aluno de 1ª série e A15 aluno de 2ª série, pela relevância da questão da mídia nessa experiência de produção. A5 é questionado: E=O que você achou de participar do evento? Como se sentiu sendo filmado? A5 = Alegria dos meus amigos estarem vendo// A 15 é questionado: E=Como foi participar do evento? Como foi essa experiência? A15= É legal porque você participa/ todo mundo vai lá assistir você lendo uma poesia/ (incomp.) muitas rimas/ É legal. Podemos analisar as afirmações acima em dois sentidos, o primeiro a presença do poder da mídia, em especial a televisiva. Esta por ser uma tecnologia presente no cotidiano da maioria das crianças, afeta suas relações e proporciona novos conhecimentos, novas ideias de como é viver numa sociedade da era digital. Acreditamos que a percepção de si mesmo, do outro e do mundo é diferente nessa geração, se comparada às gerações anteriores. O segundo já mencionado anteriormente é sobre a utilização da tecnologia digital (DVD), a qual não causou estranheza e sua aceitação foi rápida e eficaz. O que facilitou seu uso como ferramenta interdisciplinar e colaborativa. Podemos perceber também que essas pistas de aceitação dos novos meios de tecnologias e seu uso nos apontam na direção de um processo de pré-alfabetização audiovisual pelo uso dos meios de tecnologia. Agora passaremos a analisar os aspectos pedagógicos observados nas afirmações dos entrevistados. O primeiro refere-se aos conhecimentos aprendidos no processo de ensino e aprendizagem da linguagem poética em sala de aula e sua relação com suas experiências pessoais, e o segundo, à relação do conteúdo aprendido e a construção de conhecimentos sociais significativos. Com relação ao primeiro aspecto, iniciaremos com a análise das afirmações dos alunos A7 e A8, alunos de 2ª série: A7 é questionado: E= Você participou do evento de poesia e falou uma poesia super legal do Vinicius de Moraes. Como foi a experiência? A7= Foi divertido// por causa da poesia também. E= Por que você gostou tanto dessa poesia? Lembro que você falou sobre ela, que tinha um motivo. A7= Lembrava da minha cachorrinha (conteve risos).
6 A8 é questionado: E= Como foi participar do evento? A8= Foi legal e divertido. E= Divertido por quê? Tem um motivo, por que você gostou bastante? A8= Porque falava das pessoas/ que cada um tinha um jeito assim diferente. Observamos, por meio de suas afirmações, que ambos possuem percepção de si e dos outros e relacionam o conhecimento poético aprendido com suas experiências pessoais, a memória pessoal (A7) e coletiva (A8). Expressam seus sentimentos em relação ao mundo que os cerca. A7 tem uma cachorrinha e percebe que os sentimentos dos quais o poeta fala é igual aos seus, enquanto A8 percebe que as pessoas sobre as quais o poema se refere são as mesmas que ela também considera diferentes, ou seja, ambos são dominados pela visão poética de ver com a imaginação. O segundo aspecto pedagógico diz respeito às afirmações que relacionam os conhecimentos aprendidos à construção de conhecimentos sociais significativos. A16, aluno de 2ª série, é questionado: E= Como foi trabalhar com rima/ com a linguagem poética/ com ritmo? A16= Foi legal, porque a gente é criança; a gente / assim todo mundo gosta de uma poesia de uma brincadeira// E= Como está sendo pra você participar esse ano (2008)? A16= Tá mais legal ainda. As afirmações de A16 = "Foi legal, porque a gente é criança/ assim todo mundo gosta de uma poesia de uma brincadeira", nos revelam a percepção que ele tem de si e do mundo sobre o que é ser criança, bem como acredita que sua identidade está ali na expressão da imaginação no ato de libertá-la ludicamente, por meio da brincadeira que a poesia proporciona. A10, aluno de 3ª série, é questionado: E= Como é a experiência de falar poesia e ser gravado? A10= Eu me sentia //tipo assim// dentro//do livro// que eu escrevi com as próprias mãos. Nas afirmações de A10 percebemos que a experiência da co-autoria permite uma alternância de papéis, ora ator, ora diretor, que se realiza por meio da interpretação, em outras palavras, da apropriação da palavra do autor a criança se sente autora daquelas palavras que antes era daquele. Ela evidencia "que eu escrevi com as próprias mãos", uma expressão para não restar dúvidas. A9, aluno de 3ª série, é questionado:
7 E= Como é a experiência de falar poesia e ser gravado? A9= Assim/ é uma experiência que tipo você tá lendo aquela poesia que o poeta criou tá parecendo que você é o poeta mesmo E= Você se identifica, então? A9=Identifica. As afirmações de A9 de que "lendo aquela poesia que o poeta criou tá parecendo que você é o poeta mesmo", nos sugere que a autoria mudou de natureza, isto é, não é mais aquela velha conhecida materialidade do livro, mas uma nova: a da materialidade digital. Essa pista que nos remete à possibilidade de aprendizagem na direção da construção de conhecimento, que não vê limite de territórios: imaginação, sentimento e conceitual. A12, aluno de 3ª série, é questionado: E= Como você viu a experiência de você falar uma linguagem poética? A12= Bom, eu achei que foi muito interessante pois //a poesia mostra a linguagem que o poeta sente quando ele está fazendo/ é um jeito dele se expressar de uma forma alegre/e de outras formas também/que pode ser feitas. E=Você quer dizer dos sentimentos dele? A12= É dos sentimentos das ideias. Nas afirmações de A12 percebemos que o aprendizado do conteúdo ensinado em sala de aula, sobre estrutura da linguagem poética está presente. Ao afirmar que "a poesia mostra a linguagem que o poeta sente", refere-se ao "eu lírico" do autor. Cabe-nos lembrar que não é nosso objetivo um aprofundamento no âmbito estrutural e conceitual do gênero poético, mas sim evidenciar a presença de pista de um conceito mais elaborado nas afirmações de A12. Nessa perspectiva, A17 aluno de 2ª série também nos fornece pista de uma compreensão mais elaborada da estrutura da linguagem poética. Observemos: E= Você estava dizendo que a poesia é brincar com as palavras. A17= Você brinca muito com as palavras na poesia. E= Dá um exemplo/ exemplo desse ano de A17= Ah! A casa/ foi legal falar. E= E o relógio também! A17= O relógio/ você tinha que falar devagar/porque tinha que perceber que o relógio tava cansado. E= O bater do relógio?
8 A17= Porque ele falava que tinha/tava cansado dia e noite de fazer tic tac e se tinha que falar no finalzinho devagar. E= Ah! O ritmo tinha que dar o som do cansaço. A17= É. As afirmações de A17 nos apontam pistas em várias direções, uma delas é sobre a poesia ser um canal para o lúdico, quando afirma "você brinca muito com as palavras". Podemos confirmar sua afirmação, por meio da análise do exemplo poético dado, isto é, os poemas ao quais ele se refere: "A CASA" que se refere a uma casa que não é uma casa de tijolos e "O RELÓGIO", um relógio que é dotado de sentimento e, por isso, toma decisões, ambos de autoria do poeta Vinícius de Moraes. A outra direção nos aponta para a compreensão dos aspectos da estrutura rítmica como um elemento que caracteriza o gênero poético. Assim ao afirmar que " porque ele falava que tinha/ já tava cansado dia e noite de fazer tic tac e tinha que falar no finalzinho devagar" ele percebe a relação da palavra e sua cadência melódica. Finalizando a análise dos depoimentos, observemos as afirmações de A11, aluno de 3ª série ao ser questionado: E= Como foi sua experiência de falar poesia o ano passado (2007)? A11=Achei que foi uma experiência legal, porque estimulou a minha leitura e a leitura das pessoas que viram/o vídeo. E= Você chegou a ver isso nos colegas? A11= Sim! E= Nesse pessoal que está fazendo de novo, estimulou bastante?/../ A11=Éh! Estimulou. Percebemos, nas afirmações de A11, pistas que apontam para a concretização do objetivo proposto pelo projeto de estimular a leitura no cotidiano escolar. A partir dessa observação, talvez possamos interpretar a afirmação da educadora do aumento do número de participantes na segunda produção como uma pista na mesma direção. Fato esse comprovado quando se verifica o número dos participantes no DVD produzido em para todas as séries com 28 performances- e 2 DVDs produzidos em um para a 1ª e 2ª séries e outro para a 3ª e 4ª séries, no total de 53 performances. Diante do exposto, percebemos que os objetivos propostos como do Ensino Fundamental dispostos nos PCNs, no caso o acesso às novas tecnologias e ao conhecimento, a novas linguagens, além da linguagem escrita e a criação colaborativa (Souza, 2005:97), entre outros, contribuíram e influenciaram na escolha das estratégias adotadas e consequentemente nos resultados obtidos. Conclusão Ao propormos uma prática inovadora como a produção de vídeo educativo, pretendemos mostrar que a abertura de um espaço no contexto escolar articulado a proposta pedagógica interdisciplinar e colaborativa dos PCNs, não só contribui para
9 a construção dos conhecimentos dos alunos nas séries iniciais do Ensino Fundamental, como também colabora no processo de alfabetização audiovisual por meio da linguagem digital, possibilitando a construção de conhecimentos e a formação de cidadãos autônomos, críticos e criativos por meio da educação e da experiência de produção pelos meios de comunicação. Referências Bibliográficas AMARAL, S. F. Princípios y Reflexiones Del Lenguaje Digital Interactivo. In: AMARAL, S. F. GARCIA GARCIA, F.; MEDINA RIVILLA, A.(orgs). Aplicaciones Educativas Y Nuevos Lenguajes de Las TIC. 1ª ed. Campinas: Gráfica FE, 2008, p AMARAL, S.F. et al. Vídeo Digital e Educação. A aplicação de vídeo como ferramenta para interdisciplinaridade. In: CONGRESSO DA LEITURA DO BRASIL, 16º. 2007, Campinas. São Paulo. Anais eletrônicos Associação de Leitura do Brasil. Disponível em: htpp:// Acesso: em julho de SOUZA, K. I. Novas Tecnologias e educação: preparando a escola para a chegada da TV digital interativa f. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação/Unicamp, Campinas, São Paulo,2005. Disponível em: htpp://libdigi.unicamp.br/document/?code=vtls Acesso: em Junho de 2009.
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