MAYRA RACHEL DA SILVA

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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ UECE CENTRO DE HUMANIDADES CENTRO DE ESTUDOS SOCIAIS APLICADOS PROGRAMA DE MESTRADO ACADÊMICO EM POLÍTICAS PÚBLICAS E SOCIEDADE MAYRA RACHEL DA SILVA CANTEIRO DE OBRAS, LUGAR DE MULHER? UM ESTUDO SOBRE AS RELAÇÕES DE GÊNERO E TRABALHO NO ÂMBITO DA CONSTRUÇÃO CIVIL DE FORTALEZA- CE. FORTALEZA 2013

2 MAYRA RACHEL DA SILVA CANTEIRO DE OBRAS, LUGAR DE MULHER? UM ESTUDO SOBRE AS RELAÇÕES DE GÊNERO E TRABALHO NO ÂMBITO DA CONSTRUÇÃO CIVIL DE FORTALEZA- CE. Dissertação apresentada ao Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade da Universidade Estadual do Ceará, como requisito parcial para obtenção do título de Mestra em Políticas Públicas e Sociedade. Orientadora: Profª. Dra. Maria do Socorro Ferreira Osterne FORTALEZA 2013

3 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação Universidade Estadual do Ceará Biblioteca Central Prof. Antônio Martins Filho Bibliotecário Responsável Francisco Welton Silva Rios CRB-3/919 S586c Silva, Mayra Rachel da Canteiro de obras, lugar de mulher? Um estudo sobre as relações de gênero e trabalho no âmbito da construção civil de Fortaleza-CE / Mayra Rachel da Silva CD-ROM. 141 f. ; il. (algumas color.) : 4 ¾ pol. CD-ROM contendo o arquivo no formato PDF do trabalho acadêmico, acondicionado em caixa de DVD Slim (19 x 14 cm x 7 mm). Dissertação (mestrado) Universidade Estadual do Ceará, Centro de Estudos Sociais Aplicados, Curso de Mestrado Acadêmico em Políticas Públicas e Sociedade, Fortaleza, Orientação: Profa. Dra. Maria do Socorro Ferreira Osterne. 1. Gênero. 2. Trabalho mulher. 3. Construção civil mulher. I. Título. CDD: 331.4

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6 A minha mãe, pelo imensurável amor e dedicação e por, tantas vezes, abrir mão de seus sonhos para que eu possa realizar os meus.

7 AGRADECIMENTOS A minha mãe, Socorro Pimentel, por toda sua dedicação e apoio às minhas escolhas. Por sempre ter mantida viva em mim, apesar das nossas dificuldades, a esperança de uma vida melhor. Ao meu grande amor e incentivador, Bruno Liberato, por suas contribuições diretas no desenvolvimento deste trabalho. Suas opiniões sobre o tema, embora discordantes das minhas, na maioria das vezes, me ajudaram a perceber as diversas nuances do meu objeto de estudo. Entretanto, agradeço, principalmente, seu carinho, paciência e cuidado cotidianos comigo. À professora Socorro Osterne, o maior presente que pude ganhar ao entrar no Mestrado. Uma pessoa por quem passei a ter não só admiração e respeito, mas um afeto todo especial. Estabelecemos, nesses dois anos de convivência, uma relação de amizade e de confiança que, sem dúvidas, não se encerrará por aqui. Agradeço por toda a paciência que teve comigo nesse percurso, por tudo o que me ensinou e, principalmente, por seu carinho e consideração por mim. Às professoras Gema Galgani e Helena Frota por suas valiosas contribuições, que me propiciaram um maior amadurecimento em relação ao meu tema de estudo. Ao professor Georges Boris, que prontamente aceitou participar, juntamente com as professoras Socorro Osterne e Gema Galgani, da banca de defesa desta dissertação. Aos meus sobrinhos, João Guilherme e Pedro, pela alegria que dão a minha vida e pelo amor, incondicional, que me dedicam. Aos amigos e à representante discente mais querida do mestrado, Lara, por seu comprometimento com nossa turma e pelo prazer de ter compartilhado com ela grandes aventuras nas organizações dos seminários. Ao Abelardo Coelho (AB) e à Idenilse Moreira (ID), por terem tornado minhas tardes no MAPPS mais alegres. Pelas conversas divertidas e pelos lanches com os gatos

8 na lanchonete. Enfim, vocês contribuíram para que esta fase, de tantas responsabilidades e cobranças, fosse vivida de forma mais leve. Aos amigos de sempre, Aline Gomes, Juliana Viana, Isabel Cavalcante, Georgia Rangel, Amália Facundo, Lívia Monteiro, Gilca Furtado, Monich Vládia e Pedro Neto. Pessoas com quem sempre posso contar, que torcem, verdadeiramente, por mim e pelas quais tenho um carinho enorme. À querida Clara Silveira, uma grata surpresa no final do mestrado, companheira de estágio de docência, uma amiga e parceira de produção acadêmica, que, pacientemente, ouviu minhas angústias, opinou sobre meus textos e sempre me passou muita positividade. Ao amigo e colaborador desta pesquisa Raphael Mesquita, pessoa presente na minha vida desde o ensino médio e que, gentilmente, facilitou meu acesso a uma das obras analisadas nesta pesquisa. A todos os trabalhadores e trabalhadoras da construção civil que se dispuseram a contribuir para o desenvolvimento do meu estudo. Se não fosse a disponibilidade destes profissionais esta pesquisa não teria acontecido. Ao Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil, em especial ao Nestor, ao Laércio e ao Gonzaga, que colaboraram, fundamentalmente, para minha compreensão em relação à presença das mulheres na construção civil, além de me ajudarem no mapeamento das construtoras que apresentavam mulheres no seu quadro de funcionários e me aproximarem, ainda mais, do campo, sugerindo que eu os acompanhasse nas visitas aos canteiros de obra. À Funcap, agência de fomento desta pesquisa. Enfim, obrigada a todas (os) que estiveram comigo, que acreditaram e que torceram pelo meu sucesso em mais uma etapa da minha vida. A vocês, meu carinho, consideração e gratidão.

9 RESUMO Na contemporaneidade, novas configurações se apresentam ao mundo do trabalho. Profissões, culturalmente constituídas no imaginário social como específicas da condição masculina estão sendo ocupadas crescentemente por mulheres, a exemplo, podemos citar o aumento da participação feminina como mão de obra na construção civil. Nesse sentido, o presente trabalho tem por objetivo investigar quais aspectos das relações de gênero e trabalho permeiam o desempenho das atividades de homens e mulheres na construção civil de Fortaleza. Esta pesquisa apresenta natureza qualitativa e é do tipo bibliográfica e de campo. Deste modo, para o alcance do objetivo proposto, realizamos entrevistas, a partir de roteiros semiestruturados, com os trabalhadores e trabalhadoras deste setor produtivo. Fizemos, ainda, reflexões sobre as principais categorias que envolvem o objeto de estudo, a saber: gênero, divisão sexual do trabalho e construção civil. Através desta análise, dentre outros aspectos, pudemos perceber que o trabalho de homens e mulheres na construção civil é permeado por questões de gênero e é marcado pela divisão sexual do trabalho. Esta, por sua vez, determina, na maioria dos casos, as funções e os trabalhos que devem ser executados por homens e mulheres neste ramo. Verificamos que a maioria das mulheres busca inserção neste segmento em função da possibilidade de ingresso no setor formal da economia e uma melhor remuneração. Com relação a este último aspecto, constatamos que não diferenciação salarial em função, mas em contrapartida, a maioria das mulheres exerce a função de servente, recebendo, portanto, a menor remuneração da cadeia produtiva do setor. Constatamos, por fim, que as trabalhadoras deste ramo enfrentam, cotidianamente, grandes desafios. Elas, ainda, são vítimas do preconceito e da violência de gênero expressos, por exemplo, nas brincadeiras preconceituosas de seus colegas de trabalho e nos casos de abusos sexual nos quais elas são vítimas. Palavras-chave: Gênero. Divisão sexual do trabalho. Construção civil

10 ABSTRACT Nowadays, new settings present themselves to the world of work. Jobs, culturally constituted in the social imaginary as male-specific condition being increasingly occupied by women, an example, the increase in female participation as labor in construction. Accordingly, this study aims to investigate which aspects of gender relations permeate the work and performance of activities of men and women in the construction of Fortaleza.This research presents qualitative and literature and is the type of field. Thus, to achieve the proposed goal, we conduct interviews, tours from semi-structured, with the workers of this productive sector. We also reflections on the major categories that involve the object of study, namely: gender, sexual division of labor and construction. Through this analysis, among other things, we realized that the work of men and women in construction is permeated by gender and is marked by the sexual division of labor.this, in turn, determines, in most cases, the functions and jobs that must be performed by men and women in this field. We found that most women seek inclusion in this segment due to the possibility of joining the formal sector of the economy and better remuneration. Regarding the latter point, we note that no wage differentiation function, but on the other hand, most women plays the role of a servant, receiving thus the lowest remuneration of the production chain. We note, finally, that this branch workers face in everyday life challenges. They also are victims of prejudice and gender violence expressed, for example, in jokes prejudiced of his coworkers and sexual abuse cases in which they are victims. Keywords: Gender. Sexual division of labor. Construction

11 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1 Número de estabelecimentos e empregos gerados na construção civil em função do porte das empresas Gráfico 2 Participação feminina na população ocupada, por grupamentos de atividades(%) 2003 e Gráfico 3 Horas de trabalho doméstico semanais com relação ao número de horas trabalhados no mercado de trabalho comparação entre os sexos...94 Gráfico 4 Comparação internacional da participação feminina no mercado de trabalho (%) Gráfico 5 Participação das mulheres no mercado de trabalho em função da Raça/etnia e com faixa etária a partir de 16 anos...103

12 LISTA DE TABELAS Tabela 1 Evolução da proporção de mulheres no total da PEA (%) entre 1950 e 1990 América latina e países do MERCOSUL...74 Tabela 2 Taxa de desemprego no Brasil em função do gênero...80 Tabela 3 Horas semanais dedicadas ao trabalho doméstico...95 Tabela 4 Horas semanais dedicadas ao trabalho doméstico homens e mulheres por região...95 Tabela 5 Participação no mercado de trabalho brasileiro por sexo e faixa etária Tabela 6 - Participação das mulheres no mercado de trabalho brasileiro por nível educacional(%) mulheres de 16 anos ou mais Tabela 7 Evolução da participação feminina em diversas profissões Tabela 8 Diferenças no salário mensal médio para homens e mulheres...108

13 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURA ABI - Associação Brasileira de Imprensa CCQS- Círculos de Controle de Qualidade CNDM - Conselho Nacional dos Direitos da Mulher CRAS - Centro de Referência da Assistência Social DIEESE- Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócioeconômicos FIEC- Federação das Indústrias do Estado do Ceará FUNCAP Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico IBGE - Instituto Brasileiro de Geográfia e Estatística MERCOSUL- Mercado Comum do Sul MTE - Ministério do Trabalho e Emprego NTIC - Novas Tecnologias da Informação e da Comunicação ONGs - Organizações Não Governamentais ONU - Organização das Nações Unidas PAC - Programa de Aceleração do Crescimento PEA - População Economicamente Ativa PME - Pesquisa Mensal de Emprego PNAD - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial SINDUSCON CE - Sindicato da Indústria da Construção Civil Ceará SITCCRMF - Sindicato dos Trabalhadores da Indústria da Construção Civil da Região Metropolitana de Fortaleza UECE- Universidade Estadual do Ceará

14 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO A CONSTITUIÇÃO DO PERCURSO METODOLÓGICO DA INVESTIGAÇÃO A trajetória para delimitação do objeto de estudo A construção civil no Brasil: A fase é boa e promissora...,, Construção civil: um espaço para as mulheres? Estabelecendo os critérios e as prioridades para o desenvolvimento da pesquisa Conhecendo as obras Quem são essas operárias? A coleta de dados A pesquisa bibliográfica CONSTRUÇÃO CIVIL, ISSO É COISA DE MULHER? A CATEGORIA TRABALHO SOB UM OLHAR DE GÊNERO Mulher e trabalho: entre mudanças e permanências Porque lutar é preciso as lutas e conquistas do Movimento Feminista na busca da equidade de gênero Crise, instabilidade e mudanças: os efeitos da reestruturação produtiva sobre o trabalho das mulheres no Brasil O CARÁTER DETERMINATE DA DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO Entre as esferas doméstica e profissional As marcas da divisão sexual do trabalho Assédio sexual, melhor não falar? Quando a participação política se faz necessária CONSIDERAÇÕES FINAIS...119

15 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APÊNDICES...130

16 14 1 INTRODUÇÃO A presença das mulheres na força de trabalho brasileira vem aumentando consistente e significativamente nas últimas décadas, principalmente a partir dos anos Além de mudanças quantitativas, a inserção feminina no mundo do trabalho sofreu alterações de ordem qualitativa, ou seja, as mulheres passaram a ocupar os mais diversos postos de trabalho. Embora, de um lado, uma minoria delas exerça cargos de prestígio e, de outro, uma maioria, encontre-se na informalidade e nas atividades mais precárias, sem qualquer proteção das leis trabalhistas. Neste contexto de mudanças, registramos a presença das mulheres em funções antes exercidas, majoritariamente, por homens. Este é o caso da construção civil de Fortaleza, cuja participação da mão de obra feminina começou a tomar forma na década de 1990, sendo intensificada nos anos Apesar deste tema encontrar-se em voga na mídia cearense, não encontramos nenhum estudo científico referente à presença das trabalhadoras neste ramo produtivo. Fato que torna evidente a importância desta pesquisa para os estudos relacionados ao gênero e ao trabalho. Buscamos, através de nossas análises, verificar quais aspectos das relações de gênero e trabalho permeiam o desempenho das atividades de homens e mulheres na construção civil de Fortaleza. Procuramos, dentre outros objetivos, compreender os motivos apresentados pelas mulheres para justificar sua entrada neste setor e, ainda, perceber como se expressa a divisão sexual do trabalho neste segmento produtivo. Optamos por apresentar a discussão que envolve o objeto de estudo desta pesquisa em quatro capítulos. Neles, tratamos dos desdobramentos teóricos e empíricos de duas categorias analíticas centrais: gênero e divisão sexual do trabalho. No primeiro capítulo, apresentamos o percurso metodológico da investigação. Nele, indicamos nossa aproximação com a temática; descrevemos o cenário

17 15 brasileiro da construção civil, destacando o contexto cearense; apontamos os critérios para escolha dos informantes e dos locais pesquisados; bem como, apresentamos as principais características referentes a esta mão de obra feminina, tais como, a idade, a escolaridade e o número de filhos. No segundo capítulo, trazemos à discussão algumas considerações sobre como se expressam as relações de gênero na construção civil, enfatizando como a constituição social do masculino e do feminino tem influência sobre a atuação dos profissionais deste setor, principalmente, sobre o desempenho das atividades das mulheres. Na seção seguinte, discorremos sobre a categoria trabalho sob uma perspectiva de gênero. Retrocedemos na historiografia referente ao trabalho feminino para evidenciarmos os aspectos de mudanças e de permanências em relação ao trabalho das mulheres, dando ênfase aos anos de 1980, período da reestruturação produtiva no contexto brasileiro. No quarto capítulo, tratamos sobre as expressões da divisão sexual do trabalho na construção civil. Destacamos como as trabalhadoras conciliam as suas funções nas esferas produtiva e reprodutiva. Levantamos, ainda, algumas questões sobre a participação das mulheres no sindicato de sua categoria e sobre o assédio sexual. Nosso estudo, portanto, converge no sentido de evidenciar como a constituição social do feminino e do masculino, assim como a divisão sexual do trabalho repercutem diretamente na inserção, na permanência e no trabalho das mulheres na construção civil.

18 16 2 A CONSTITUIÇÃO DO PERCURSO METODOLÓGICO DA INVESTIGAÇÃO Desvendar a realidade, as situações da vida cotidiana, em sua complexidade e múltiplas manifestações, apresenta-se como uma tarefa árdua e requer uma metodologia que torne possível a apreensão do fato a ser investigado. De acordo com Bourdieu (2001), constituir um objeto científico é, antes de qualquer coisa e, sobretudo, romper com o senso comum, com representações partilhadas por todos. Tendo como referência esse entendimento, estudar a inserção das mulheres na construção civil exige de nós um olhar que supere a superficialidade deste problema, sendo necessário analisá-lo sob o ponto de vista das relações de gênero e suas repercussões sobre o mundo do trabalho. Na busca pela apreensão dos fatos em sua essência, conforme alerta Bourdieu (2001), muitas vezes, nos deparamos com alguns desafios que exigem de nós uma maior cautela, a exemplo, podemos citar o fato de termos como objeto de análise o mundo social do qual, ao mesmo tempo, somos produto e retiramos nossos problemas, conceitos e instrumentos do conhecimento. Para Osterne (2001), o fazer científico não pode ser compreendido apenas como um inventário de dados isolados conectados por uma explicação teórica. Expõe a autora: O pesquisador integra-se ao conhecimento, interpretando os fenômenos para melhor aproximar-se da sua essencialidade. O objeto jamais será um elemento inerte e neutro, senão primordialmente qualitativo. A realidade social é, em si, o próprio dinamismo da vida individual e coletiva com toda a abundância de significados dela transbordante. A pesquisa deverá ser sempre, antes, a possibilidade de um diálogo critico e criativo com a realidade e tem seu melhor desfecho na elaboração do pensamento e na capacidade de intervenção (p.23). Sob esta linha de análise, é interessante destacarmos o pensamento de Weber (1982) quando ele, ao falar sobre a ciência, sugere a superação da visão que a reduz apenas a um problema de cálculo, que tem como base o intelecto frio, suscitando, desta forma, a importância da presença de elementos referentes ao coração e à alma no desenvolvimento científico. Weber (2001), também, discute sobre o papel dos juízos de valor e reconhece que eles não devem ser excluídos da análise científica, pois são

19 oriundos, em última instância, de determinados ideais e expressam a subjetividade do pesquisador. 17 Todavia, apesar da presença das experiências pessoais no processo de elaboração do pensamento, é possível, nas ciências sociais, realizar um estudo racional por meio das incursões metodológicas e dos conceitos, mas sem, no entanto, utilizá-los como concluídos e articulando-os às experiências, aos sentidos e às urgências de compreensão do mundo social, conforme asseveram Osterne, Brasil e Almeida (2013). Embasados neste pensamento, acreditamos que a definição dos procedimentos metodológicos que tornaram possível a realização deste estudo apresenta-se como uma etapa fundamental na constituição do conhecimento alcançado. Portanto, no decorrer deste capítulo, descreveremos a metodologia utilizada para a elaboração desta análise, para tanto, iniciaremos com algumas considerações sobre a escolha do objeto da pesquisa. 2.1 A trajetória para delimitação do objeto de estudo 1 Certa vez, ao ler uma das obras de Saffioti (2004), me deparei com uma frase que a priori apenas anotei, mas que, em seguida, me fez pensar melhor sobre minha aproximação com o meu tema de estudo. Eis a frase: Na verdade, a história de vida de cada pessoa encontra-se com fenômenos a ela exteriores, fenômeno denominado sincronicidade por Jung, e que permite afirmar: ninguém escolhe seu tema de pesquisa, é escolhido por ele (SAFFIOTI, 2004, p. 43). Acredito que minha inquietação em relação à condição feminina na contemporaneidade foi aguçada após meu ingresso na universidade e, principalmente, por ter cursado Serviço Social. A inserção neste curso me proporcionou grandes e qualitativas mudanças em meu modo de pensar, de ver, e, consequentemente, de me posicionar frente aos fenômenos que se apresentam em nossa sociedade. 1 Nesta sessão, consideramos importante a utilização da primeira pessoa do singular no desenvolvimento do texto, tendo em vista que se trata da trajetória de aproximação vivenciado pela pesquisadora para delimitação do seu objeto de estudo.

20 18 Contudo, o conteúdo da grade curricular do curso não foi suficiente para me pôr frente a frente com as desigualdades enfrentadas pelas mulheres, apesar de também ser uma. A única disciplina do curso que me possibilitou discutir questões de gênero foi Serviço Social de Família. Todavia, ter sido bolsista de iniciação científica e ter participado do grupo de pesquisa Gênero, Família e Geração nas Políticas Públicas, além de despertarem em mim a paixão pela pesquisa, me trouxeram grande amadurecimento em relação às questões de gênero. A proximidade com as discussões sobre a categoria gênero me deu subsídio para perceber que antes mesmo de entrar em contato com a teoria referente às relações de gênero, eu vivia envolta nelas. Desde o fato da minha família ter como referência uma mulher, a divisão sexual do trabalho na qual fui familiarizada, passando pela escolha da minha profissão serviço social, chegando às escolhas dos meus objetos de pesquisa. Após o termino do meu curso de graduação, no ano de 2008, em que meu trabalho de conclusão de curso constituiu-se uma análise referente às repercussões do Projeto Mulheres em Cena: autonomia e direitos 2 sobre seu público participante, passei a trabalhar na execução da Política Nacional de Assistência Social, no Centro de Referência da Assistência Social CRAS da Barra do Ceará. Durante o período em que lá trabalhei, do ano 2008 ao ano de 2011, acompanhei alguns projetos, dentre eles o Projeto de Inclusão Produtiva para Mulheres do Programa Bolsa Família e o Programa Próximo Passo 3. Foi a partir do meu trabalho no CRAS que me aproximei da questão que, pouco tempo depois, apresentou-se como meu objeto de pesquisa, pois, em um determinado dia, um participante de um dos cursos da área da construção civil 4 (curso de pedreiro) veio contestar e mostrar sua insatisfação em relação à presença de mulheres no curso, segundo ele, elas não tinham habilidade para trabalhar na referida área e aquela não seria uma profissão feminina. 2 Projeto elaborado pela Secretaria Municipal de Assistência Social de Fortaleza e executado pelos CRAS em O Projeto era direcionado a mulheres em situação de vulnerabilidade social e seu objetivo principal era a efetivação da cidadania de suas participantes por meio do acesso a informações e reflexões acerca de seus direitos e inserção na rede socioassistencial. 3 Programa do Governo Federal, ação complementar ao Programa Bolsa Família, na perspectiva de qualificação profissional dos beneficiários nas áreas da construção civil e do turismo. 4 Um dos cursos do Programa Próximo Passo do Governo Federal

21 19 Ouvindo a queixa daquele usuário, logo me vieram à mente diversos questionamentos e minha familiaridade com a temática de gênero me fez perceber que aquela reclamação trazia em si um problema social e, também, a urgência em trazê-lo à discussão. Assim, sem ter qualquer dúvida, percebi que estava diante do meu objeto de pesquisa a inserção das mulheres na construção civil em Fortaleza - Ce. Logo, tendo esclarecido como o meu objeto de investigação foi definido, na seção seguinte, irei esboçar algumas ponderações sobre o cenário vivenciado pela construção civil no Brasil e no Estado do Ceará A construção civil no Brasil: A fase é boa e promissora Até conquistar o prestígio e alcançar o desenvolvimento que tem hoje, a construção civil percorreu um longo trajeto de, aproximadamente, seis mil anos, ou seja, este caminho foi traçado desde que o homem deixou as cavernas e começou a pensar numa moradia com mais segurança e conforto para sua família. No Brasil, a Engenharia Civil deu seus primeiros passos, de maneira metódica, ainda no período colonial, com a edificação de fortificações e igrejas. Porém, foi na década de 1940, no governo de Getúlio Vargas, que a construção civil teve seu auge. Na época, este setor foi considerado um dos mais avançados. Durante os anos de 1970, período correspondente ao regime militar, vigorou um grande investimento no setor sob o intuito de diminuir o déficit de moradia. Nesse contexto, as cidades passaram a crescer numa velocidade nunca antes registrada e os altos edifícios, as pontes quilométricas, o sistema de saneamento básico, as estradas pavimentadas e o metrô passaram a fazer parte da paisagem. A partir do ano de 1990, as construtoras passaram a dar mais importância à qualificação profissional, pois a exigência por produtos finais com mais qualidade começou a difundir-se. Nos anos 2000 esta preocupação ainda é intensa, pois além da sua importância relacionada aos aspectos econômicos e sociais, a construção civil tem uma interferência muito forte na natureza (VIEIRA, 2006, p 27).

22 20 Segundo Vieira (2006), a indústria da construção civil está dividida em três subsetores: o de edificações, responsável pela construção de edifícios residenciais, comerciais e industriais, públicos ou privados, cujas obras são realizadas por empresas de pequeno, médio ou grande porte. O de Construção pesada, que objetiva a construção de infra-estrutura de transportes, energia, telecomunicações e saneamento. E, Por fim, tem-se o setor de montagem industrial, responsável pela montagem de estruturas metálicas nos vários setores industriais, sistemas de geração de energia, de comunicações e de exploração de recursos naturais. Os dados apresentados pela Federação das Indústrias do Estado do Ceará - FIEC (2011), com relação ao parque fabril cearense, demonstram a força da construção civil nesse Estado - dentre as empresas existentes no Ceará, até o ano de 2010, eram empresas do setor da Construção Civil. Vale ainda destacar que o parque fabril do Estado é composto, basicamente, por indústrias de transformação e por empresas da construção civil, haja vista que estes ramos, conjuntamente, representam 97,90% de todo o setor industrial cearense. O Gráfico 1 expressa o número de estabelecimentos e empregos que foram gerados pelo setor da construção civil no Ceará, até o final do ano de 2010, em função do porte das empresas: Gráfico 1: Número de estabelecimentos e empregos gerados na construção civil em função do porte das empresas Estabelecimentos Empregos Micro Pequena Média Grande Total Fonte: FIEC (2011)

23 21 Até o ano de 2003, o cenário da construção civil nacional vivenciou um período de instabilidade, marcado pela falta de incentivo, pela tímida disponibilidade de recursos e por uma inexpressiva presença de financiamento imobiliário. Entretanto, de acordo com o estudo setorial da construção civil realizado pelo DIEESE (2011), a partir de 2004, este ramo produtivo começou a dar sinais de expansão, apresentando um aumento nos investimentos em obras de infraestrutura e em unidades habitacionais, superando, inclusive, as taxas negativas de crescimento decorrentes da crise econômica financeira internacional de O desempenho do setor, em 2010, acompanhou a tendência nacional, com taxa de crescimento de 11,6%, o melhor desempenho dos últimos 24 anos, segundo dados do PIB setorial. A boa fase vivenciada pelo setor, especialmente nos primeiros nove meses de 2010, tem como fatores propulsores um conjunto de medidas, a saber: o aumento do crédito, incluindo o apoio dos bancos públicos ao setor produtivo no momento mais agudo da crise financeira de A queda nas taxas de juros e redução de impostos. O maior número de obras públicas, com destaque para as de infraestrutura previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e de habitação, com o Programa Minha Casa, Minha Vida. O investimento para execução de obras de infraestrutura de transporte e logística, assim como a exploração do pré-sal, a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016 sinalizam um aquecimento da indústria brasileira de construção pesada, mas também apontam grandes desafios a serem enfrentados por este segmento, como por exemplo, a precária capacidade de gestão dos investimentos, a deficiente gestão empresarial nos canteiros de obras, a falta de qualificação profissional dos trabalhadores e a regulamentação ambiental. Em 2009, tendo como referência os dados do IBGE (2010), o setor possuía cerca de 6,9 milhões de ocupados, o correspondente a 7,44% de toda a população ocupada - 92,7 milhões. A mesma pesquisa demonstrou que expressiva parte dos ocupados da construção, um total de trabalhadores, era representada pelos empregados por conta própria, o equivalente a 39,94%. Este número, somado ao contingente de trabalhadores sem carteira de trabalho assinada,

24 22 aproximadamente, 23,11% aponta que o segmento, no período, possuía elevado grau de informalidade. Há de se destacar que mais de 4,3 milhões de trabalhadores não tinham nenhum tipo de vínculo empregatício com as empresas para as quais prestavam serviço e, por conseguinte, não tinham acesso aos benefícios previdenciários. No tocante à remuneração paga pelo setor, percebe-se uma variação entre os diversos Estados. A construção no Brasil, em 2009, pagou, em média, R$ 1.395,00 aos seus trabalhadores. As menores remunerações médias foram registradas na Paraíba (R$ 776,12), no Piauí (R$ 839,30) e em Roraima (R$ 873,68). Já o Rio de Janeiro (R$ 1.758,13), São Paulo (R$ 1.642,22), Rondônia (R$ 1.551,96) e Brasília (R$ 1.530,34) apresentaram as melhores médias salariais. Os trabalhadores do Ceará, no ano em questão, receberam um salário de, em média, R$ 897,74 reais. Estudos indicam que durante a crise ocorrida em 2009, o emprego formal neste ramo produtivo foi um dos mais afetados, contudo, convém ressaltar que foi este segmento o que liderou a sua recuperação. Segundo os dados do MTE (2011), entre janeiro e dezembro de 2010, foram gerados novos empregos formais no setor, o equivalente a quase 12% dos postos de trabalho gerados no Brasil. Apesar do grande número de empregos promovidos, a construção civil vivencia o grave problema da rotatividade da mão de obra. De acordo com o MTE (2011), em 2010, foram contratados 2,4 milhões de trabalhadores, mas, em contrapartida, outros 2,2 milhões perderam o emprego. Uma das possíveis explicações para este fenômeno encontra-se numa particularidade do processo produtivo - o tempo de trabalho na construção se dá por contrato temporal ou empreitada, deste modo, o contrato de trabalho dos empregados neste segmento se encerra de acordo com o término da obra. Em alguns casos, no fim do serviço, os trabalhadores são transferidos para outros canteiros. Além disso, a esta rotatividade favorece a diminuição salarial da força de trabalho, gerando uma redução nos custos das construtoras. Com relação à escolaridade, cerca de 40% das vagas ofertadas pelo segmento foram ocupadas por trabalhadores com ensino médio completo, aproximadamente, 102 mil novas contratações. É quase o mesmo número de novas

25 23 ocupações de trabalhadores com até o ensino fundamental completo: 107 mil. Esse dado revela que as empresas, cada vez mais, buscam trabalhadores com maior qualificação. Pelo exposto, podemos perceber que este setor produtivo encontra-se em uma excelente fase. Além disso, os investimentos previstos para os próximos anos, pelo menos até 2016, tendo em vista a realização dos jogos olímpicos no Brasil, trazem implícita a possibilidade de continuidade desse processo de crescimento do ramo e, consequentemente, do emprego. Além disso, é importante registramos que, conforme têm demonstrado algumas pesquisas, as atividades desempenhadas tradicionalmente por homens neste segmento, estão sendo executadas crescentemente por mulheres, levando ao questionamento: a construção civil é um espaço para as mulheres? Construção civil: um espaço para as mulheres? Atualmente, ao percorrermos as ruas de Fortaleza, podemos perceber um aumento significativo no número de obras em execução nesta cidade. Deparamosnos com obras de mobilidade urbana, de construção de equipamentos públicos, de estádios e de condomínios residenciais. Neste contexto, a verticalização urbana e a especulação imobiliária têm se apresentado de forma intensa nesta capital. Em meio a tantas edificações, uma cena, antes pouco observada e, há algumas décadas, impossível de ser imaginada, passou a fazer parte deste cenário a presença das mulheres trabalhando na execução das obras. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria da Construção Civil da Região Metropolitana de Fortaleza (SITCCRMF) 5, a inserção feminina neste ramo aconteceu de forma mais intensa, a partir do ano de Entretanto, os informantes, também, registram a participação das mulheres no setor na década de 1990, mais precisamente entre os anos de 1994 e Segundo o dirigente sindical Lucas 6, 5 Informações obtidas através de entrevista realizada pela pesquisadora 6 Este é um nome fictício a fim de resguardar a identidade do informante. Ressaltamos que utilizaremos nomes bíblicos sempre que precisarmos fazer referência às falas dos entrevistados e das entrevistadas desta pesquisa. A escolha por nomes bíblicos se deu em decorrência da forte religiosidade expressa pelos trabalhadores das obras analisadas.

26 As mulheres eram convocadas pra trabalhar na construção civil pelo simples fato de ter que limpar os apartamentos, ou seja, os homens aprontavam todo o apartamento, deixavam sujos lá e as mulheres iam pra limpar os apartamentos. Elas começaram a limpar e o serviço que o homem fazia, por exemplo, pra dar uma noção pras pessoas, que é levantar alvenaria, rebocar, assentar cerâmica e fazer o emassamento, ele ganhava por tudo isso e a mulher vinha, em seguida, pra limpar o apartamento (LUCAS, DIRIGENTE SINDICAL). Posteriormente, conforme explicam os informantes, na intenção de reduzir os custos nas obras e tendo em vista a falta de mão de obra que se apresentava ao setor, os empresários encontraram na força de trabalho feminina a solução para parte de seus problemas. Nesta perspectiva, 24 Os empresários perceberam que estavam gastando além do normal 7. Então, o que eles fizeram? Começaram a contratar mulher para, além da limpeza do apartamento, fazer o emassamento da cerâmica, ou seja, elas faziam uma dupla função e ganhavam um salário só. Então, elas começaram a partir daí. De 2010 pra cá, teve uma inserção maior, por que elas fazem o emassamento, têm umas delas que assenta tijolo, têm umas delas que fazem reboco, tem pedreira. Então, houve uma inserção maior do ano de 2010 pra cá. Por exemplo, hoje tem obra que tem 80 mulheres trabalhando (TIMÓTEO, DIRIGENTE SINDICAL). De acordo com a Pesquisa Mensal de Emprego PME (IBGE,) 8, de março de 2012, no ano de 2011, as mulheres eram maioria na população de 10 anos ou mais de idade, em média, 53,7%. No entanto, elas eram minoria, aproximadamente, 45,4%, na população ocupada. Com relação à participação das trabalhadoras nos grupamentos de atividade econômica, o Gráfico 2 explana a distribuição da população ocupada feminina nos diversos setores nos anos de 2003 e Refere-se, neste caso, ao gasto com os homens para construção dos prédios e com as mulheres para executar a limpeza dos mesmos. 8 A Pesquisa Mensal de Emprego PME, implantada em 1980, produz indicadores para o acompanhamento conjuntural do mercado de trabalho nas regiões metropolitanas de Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto Alegre. Trata-se de uma pesquisa domiciliar urbana realizada através de uma amostra probabilística, planejada de forma a garantir os resultados para os níveis geográficos em que é realizada.

27 Gráfico 2: participação feminina na população ocupada, por grupamentos de atividade (%) e 2011* 94,8 64, ,4 5,76,1 42,6 38, ,3 62,1 94,8 41, Fonte: IBGE (2012) * Média das estimativas mensais. No tocante à presença feminina na construção civil, dados do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE (2011) 9 nos mostram que, no Brasil, o número de trabalhadoras neste setor cresceu 65% em uma década 10. No ano de 2000, elas eram pouco mais de 83 mil entre 1,094 milhão de pessoas empregadas pelo setor. Em 2008, esse número subiu para No primeiro bimestre do ano de 2010, mulheres conseguiram emprego na construção civil, ocupando 5,9% das vagas geradas no setor nesse período. Percebemos, ainda, que, no Brasil, iniciativas do Poder Público e da sociedade civil vêm fomentando a inserção feminina, como mão de obra, neste setor. A exemplo, podemos citar o caso de Fortaleza - em 2007, a Prefeitura executou o Programa Mulheres Pedreiras, através dele foram capacitadas 180 mulheres para trabalhar na construção civil. Vale dizer que grupos de mulheres capacitadas pelo referido programa já trabalharam em obras de conjuntos habitacionais do município e na execução das obras do Hospital da Mulher de Fortaleza. 9 Informação divulgada em site especializado na Internet: 10 Período referente ao intervalo de tempo entre 2000 e 2010

28 26 Outra iniciativa de incentivo à inserção feminina na construção civil foi lançada em 2011, pelo Sinduscon - Ce 11 em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial - SENAI, trata-se do projeto Mulheres da Construção, este, por sua vez, visava a capacitação de 100 mulheres para atuar no setor. Os cursos ofertados eram de pedreira, de carpinteira e de instaladora hidráulica e elétrica. Pelo descrito, podemos verificar a crescente participação feminina neste segmento, espaço social e culturalmente destinado aos homens. Tão logo, consideramos fundamental o desenvolvimento de estudos que ajudem na compreensão dessas novas configurações que se colocam ao mundo do trabalho, pois, sob nosso entendimento, essas mudanças que se apresentam a este ramo produtivo são geradoras de tensões e conflitos e repercutem, mais intensa e negativamente, sobre o trabalho feminino. Com base nestes argumentos, nos interessa saber: Quais aspectos das relações de gênero e trabalho permeiam o desempenho das atividades de homens e mulheres na construção civil no município de Fortaleza? Qual o significado da inserção da mão de obra feminina na construção civil sob a ótica das mulheres? Quais os motivos apresentados pelas mulheres para justificar seu ingresso na construção civil? Existem diferenças entre as atividades desenvolvidas por homens e mulheres na construção civil em decorrência do sexo? Quais as razões apresentadas pelas construtoras para a contratação das mulheres? Sob o intuito de responder estas perguntas, definimos como objetivos do nosso estudo as seguintes intenções: Investigar como se expressam as relações de gênero e trabalho no desempenho das atividades de homens e mulheres no âmbito da construção civil de Fortaleza. Apreender, sob a ótica das mulheres, qual o significado da inserção da mão de obra feminina no setor produtivo em estudo. 11 Sindicato que representa os empresários da construção civil do Estado do Ceará. Tentamos contato com esta instituição, mas não tivemos êxito. Enviamos conforme fomos orientados em um dos contatos telefônicos, realizamos várias ligações, mas não conseguimos falar com a diretora indicada como responsável pelo projeto.

29 27 Desvendar as motivações apresentadas pelas mulheres para justificar sua entrada na construção civil Perceber se existe diferenciação, em função do sexo, nas atividades desenvolvidas por homens e mulheres no setor. Averiguar as razões suscitadas pelas construtoras para a contratação das mulheres. Após estabelecermos os objetivos desta investigação, definimos como hipóteses norteadoras desta pesquisa os seguintes pressupostos: As relações de trabalho entre homens e mulheres que trabalham na construção civil são permeadas por questões de gênero, refletidas na divisão sexual do trabalho e no preconceito em relação à presença feminina nesse ramo. Alguns destes aspectos referem-se à diferenciação salarial e de funções em decorrência do sexo, bem como, a depreciação, por parte dos trabalhadores, em relação às tarefas executadas pelas mulheres nas obras. Sob a ótica das trabalhadoras, este setor produtivo constitui-se um desafio, no entanto, o trabalho feminino na construção civil significa uma possibilidade de autonomia e reconhecimento social por tratar-se de exercer uma atividade remunerada e exterior ao âmbito doméstico. A construção civil, em processo de grande expansão, com salários mais atrativos, além do incentivo de programas governamentais que promovem cursos de capacitação nesta área, acaba por estimular a inserção das mulheres que, por sua vez, estão sendo cada vez mais exigidas a participarem do sustento familiar na condição de provedoras. Na construção civil existe uma diferenciação nas atividades que são desenvolvidas por homens e mulheres em decorrência do sexo. Geralmente, as mulheres são designadas para trabalhos de acabamento das obras, tais como colocação de azulejos, pintura de paredes, trabalhos ditos mais leves e que requerem cuidado, destreza, sutileza, características socialmente atribuídas às mulheres. Já os homens desempenham atividades que exigem mais esforço e força física, tais como escavações e trabalhos de alvenaria.

30 28 A contratação da mão de obra feminina pelas empreiteiras tem por base a vinculação do trabalho das mulheres às características atribuídas ao universo feminino, como o cuidado, a destreza, a minúcia. Tal fato acaba por definir os trabalhos a serem desenvolvidos pelas trabalhadoras limitando, muitas vezes, a atuação das mulheres às fases de acabamento e limpeza das obras. Além disto, a contratação delas pelas construtoras acaba por gerar um marketing positivo para tais empresas frente à sociedade, pois a inclusão das trabalhadoras em um segmento constituído em sua maior parte por homens propicia uma ideia de inclusão social e de combate ao preconceito em relação ao trabalho feminino. Estas foram, em linhas gerais, algumas considerações que acreditamos serem relevantes quando falamos da constituição do objeto de pesquisa. Na sessão seguinte, discutiremos as decisões de ordem metodológica tomadas para viabilização do estudo proposto. 2.2 Estabelecendo os critérios e as prioridades para o desenvolvimento da pesquisa Após delimitarmos o nosso objeto de análise, inúmeros questionamentos surgiram, principalmente, no tocante aos procedimentos metodológicos necessários para pôr em prática a investigação. Neste momento, nos demos conta de que estávamos diante de um grande desafio pensar sobre uma questão pouco discutida pela comunidade científica a presença das mulheres na construção civil. A pesquisa de natureza qualitativa apresentou-se como a mais adequada para o conhecimento da realidade que nos propusemos estudar, sendo a pesquisa de campo e a pesquisa bibliográfica os tipos de pesquisa utilizados para o desenvolvimento desta análise. Quanto à pesquisa de campo, a primeira inquietação que surgiu foi em relação aos locais onde ela pudesse acontecer. Pensamos, inicialmente, em obras que tivessem visibilidade na mídia em decorrência da presença feminina no setor de produção, ou seja, mulheres pedreiras ou serventes. Porém, após a qualificação do projeto de pesquisa e depois de realizarmos visita ao Sindicato dos Trabalhadores

31 da Construção Civil e a uma obra indicada por esta instituição, optamos por alterar os critérios para escolha do lócus do estudo. 29 Buscamos, conforme sugestão das professoras da banca de qualificação, obras diferenciadas conforme o tipo de construção. Sob esta lógica, escolhemos uma obra da construção pesada e duas do ramo de edificações. As últimas se diferenciavam entre si pelo fato de uma delas ser a constituição de um equipamento público e ter mulheres pedreiras e serventes e a outra ser a execução de um condomínio residencial e ter somente serventes, que fazem serviços específicos limpeza da obra e rejunte de cerâmica. Com relação ao último critério, o consideramos importante, pois, após visita a uma determinada obra, que realizamos junto com o sindicato dos trabalhadores do setor, nos deparamos com um número significativo de mulheres serventes desempenhando apenas a limpeza e o emassamento da cerâmica, aproximadamente 100 mulheres. Posteriormente, ao contatarmos outras construtoras indicadas, também, pelo sindicato, percebemos que esta realidade se repetia, portanto, avaliamos ser conveniente analisá-la. Definidos os critérios para escolha dos locais para realização da pesquisa de campo, entramos em contato com as empresas para explicar do que se tratava nossa investigação, bem como pedir a autorização para realização de nossa análise em seus canteiros. Mas esta tarefa não foi tão simples como prevíamos, recebemos resposta negativa de algumas construtoras e outras empresas não aceitaram, sequer, agendar um momento conosco para que fossem expostos os objetivos do estudo. Superada esta fase e estabelecidos os locais a serem analisados, nos preparamos para adentrar o campo de estudo. Contudo, antes disso acontecer, muitas dúvidas acometiam a pesquisadora. Inquietações que iam desde as roupas que deveriam ser usadas para sua ida às obras sem chamar a atenção, principalmente, dos trabalhadores, até as estratégias que seriam utilizadas para que sua estada em campo atrapalhasse o mínimo possível a rotina das pessoas que lá trabalham.

32 30 Depois de muito pensar, resolvemos ir aos canteiros do modo como habitualmente nos vestimos, pois, segundo nosso entendimento, nos vestir de um modo diferenciado, nos preocupando em esconder as características femininas do nosso corpo, estaríamos reproduzindo a ideia de que para entrar em um espaço masculino e sermos respeitadas por eles, precisaríamos ser uma igual. E, diferentemente, do que, inicial e preconceituosamente, pensamos nossa decisão não nos trouxe nenhum problema, pois, em nenhum momento, fomos desrespeitada ou assediada por algum dos trabalhadores. A partir de nossa entrada em campo, optamos pela observação simples nos espaços em que a investigação estava sendo realizada. Assim, observamos, de maneira espontânea, os fatos, prestando atenção, principalmente, aos sujeitos, ao cenário e ao objeto de análise em seu contexto, levando sempre em consideração a observação das construtoras de não nos mantermos por um período mais longo nas obras. Feitos esses esclarecimentos, passaremos a descrever as obras estudadas, com destaque para a inserção das mulheres nestes espaços Conhecendo as obras Iniciaremos apresentando o primeiro canteiro visitado no decorrer da pesquisa de campo. Trata-se da edificação de um equipamento público municipal. Antes de chegarmos, tivemos que conversar com a pessoa responsável pelo projeto e pela inserção das mulheres nesta construção, pois a utilização da mão de obra feminina foi uma ação afirmativa promovida pelo poder municipal para inclusão das mulheres no mundo do trabalho. Demos a esta profissional o nome fictício de Marta 12, a fim de preservar sua identidade e resguardar o anonimato de suas declarações. A entrada das mulheres nesta obra aconteceu no dia 07 de abril de Neste primeiro momento, foram contratadas seis mulheres e, posteriormente, mais 12 No decorrer deste trabalho utilizaremos nomes bíblicos quando fizermos referência aos informantes desta pesquisa. A escolha por nomes bíblicos se deu por conta de que no setor produtivo em análise a religião apresenta-se de forma muito intensa. Há um número significativo de evangélicos e muitos utilizam irmão e irmã como forma de tratamento.

33 quatro, totalizando dez trabalhadoras. O número total de funcionários nesta empreitada variou entre 170 e 230 pessoas. 31 Segundo Marta, antes da chegada das mulheres ao campo, a coordenação do projeto organizou oficinas preparatórias no intuito de preparar estas profissionais para seu ingresso e permanência nos canteiros. As oficinas tratavam, por exemplo, da discriminação no trabalho em função do sexo e da violência sexista. Com o início do trabalho feminino, as oficinas passaram a acontecer de forma quinzenal, pactuado com a empresa executora da obra, agregando, também, o público masculino. De acordo com Marta, no inicio, houve rejeição da empresa à contratação das mulheres. A construtora não acreditava que as trabalhadoras pudessem executar de forma exitosa o trabalho na construção civil e achava, inclusive, que poderia haver atraso na conclusão do serviço por conta da mão de obra feminina. Com a presença das mulheres no canteiro, foram necessários alguns ajustes no espaço de trabalho, até então, majoritariamente, masculinizado. Assim, ocorreu a instalação banheiros femininos; a criação de kits, contendo absorventes e remédio para cólica, para serem disponibilizados às mulheres quando necessário; e, também, foi negociada uma maior flexibilidade para as idas das mulheres ao banheiro e a consultas médicas, por exemplo. A entrada e a permanência das trabalhadoras neste espaço contaram com a colaboração de algumas profissionais vinculadas à gestão municipal. Elas tinham o apoio da coordenadora do projeto, de uma assistente social e, também, de uma articuladora social. Estas profissionais, sempre que preciso, acionavam a rede de atendimento às mulheres em casos, por exemplo, de saúde preventiva e violência sexista. Depois do ingresso das mulheres na obra, foram criadas algumas estratégias para dar visibilidade ao trabalho delas. Assim, na intenção de possibilitar o devido reconhecimento social ao trabalho feminino, propiciar o combate à segmentação ocupacional em função do sexo e estimular a contratação da mão de obra feminina

34 por outras empreiteiras, foram veiculadas propagandas e reportagens tratando da presença das trabalhadoras neste canteiro. 32 Sob nosso entendimento, destacar socialmente o trabalho das mulheres, deliberadamente vítimas de preconceito no mercado de trabalho, foi, também, uma forma do poder municipal promover suas ações e de fortalecer sua imagem frente à população. Esse mesmo recurso foi, ainda, utilizado para dar destaque à esfera estadual, principalmente, pelo fato de sua obra ter visibilidade internacional devido à Copa do Mundo de Futebol. Por último, é importante registrar que, pelo fato da empresa não ter visto, inicialmente, com bons olhos a presença das profissionais neste campo, fatos recorrentes no ambiente de trabalho, muitas vezes, naturalizados quando praticados pelos homens, tinham uma repercussão muito maior se cometidos pelas mulheres. Como exemplo, a coordenadora Marta cita as discussões que ocorrem comumente nos espaços de trabalho. O segundo canteiro que visitamos foi o de uma obra de construção pesada vinculada ao Governo do Estado do Ceará e teve, inclusive, em seu quadro de funcionários algumas operárias vindas da obra anteriormente descrita. A contratação das mulheres para trabalhar nesta frente de serviço, inicialmente, se deu a partir da articulação da empresa responsável pela execução da obra e um centro de capacitação profissional para realização de qualificações nas comunidades de Fortaleza, sob o intuito de montar turmas de pedreiros para trabalhar na empreitada. Na ocasião, a responsável pela seleção, Rute 13, se deparou com várias mulheres que demonstraram seu interesse em participar desta qualificação, mesmo já tendo a formação de pedreira emitida pelo SENAI. Este curso que as mulheres participaram foi promovido pelo poder municipal. Após conversa com as mulheres, no intuito de esclarecê-las de que não valia a pena elas fazerem o curso pela segunda vez, Rute se comprometeu em analisar 13 Nome fictício a fim de assegurar o anonimato das declarações,

35 33 os currículos das interessadas, em média seis. Depois de expor a situação à gerencia da obra, decidiu dar uma oportunidade às mulheres. Rute ressalta que algumas delas, apesar de terem concluído o curso, não tinham experiência nenhuma registrada na carteira de trabalho. Neste caso, elas foram contratadas como serventes. Já outras eram oriundas da primeira obra que visitamos e como lá se encontravam no cargo de pedreiras, nesta frente de serviço, foram contratadas para exercer em a mesma função. Ao todo, para esta empreitada, foram contratadas oito mulheres para o trabalho na produção. Todavia, o número total de trabalhadoras (alocadas no campo e no escritório), considerando o pico de contratações, foi de, em média, 40 mulheres. Já o número de funcionários do sexo masculino girou em torno de 1500, ratificando, deste modo, a predominância dos homens neste setor produtivo. Diferentemente do que ocorreu na obra de responsabilidade municipal, nesta não aconteceram oficinas preparatórias para inserção feminina no campo. Na realidade, houve apenas uma reunião com as mulheres alertando-as sobre os possíveis desafios que se apresentariam em seu cotidiano de trabalho. Os encarregados das obras também foram orientados a apoiar às mulheres nessa fase inicial de sua inclusão no canteiro. Destacamos que, no decorrer da inserção feminina neste espaço, algumas dificuldades se apresentaram. A primeira refere-se ao fato de algumas trabalhadoras, por terem feito trabalhos mais leves, geralmente de acabamento, na obra anterior, quando se depararam com atividades mais pesadas, sentiram dificuldade de adaptação. O segundo fator que teve interferência negativa sobre o caminhar das mulheres nesta obra vincula-se à questão de que as trabalhadoras que vieram da obra municipal não se acostumaram facilmente à condição de não ter mais a articulação de profissionais para solução de suas demandas pessoais, tais como o encaminhamento para consultas e exames médicos de rotina. Conforme afirma Rute, muitas ações que foram desenvolvidas com o público feminino na obra municipal não se aplicam nas demais empresas de cunho privado.

36 34 Inclusive, algumas delas podem acirrar as diferenças existentes entre homens e mulheres no espaço de trabalho. A entrevistada ilustrou essa situação com o seguinte exemplo: Aqui, eu não tenho nem plano de saúde para os meus colaboradores, então, eu não tenho como fazer distinção, porque se eu oferecer pra elas, por que eu não posso oferecer para o meu colaborador? (RUTE, CONTRATANTE) Todavia, o tratamento igualitário destinado aos homens e às mulheres neste canteiro não exclui, quando necessário, o atendimento às demandas específicas desses funcionários e funcionárias, como foi expresso através do discurso da contratante: Lógico, têm algumas questões específicas. Por exemplo, uma operária passou por uma situação pessoal e a gente tentou ajudar, mas nada assistencialista. Nada de sempre que elas precisem de um exame, a gente estar encaminhando, não! A gente não tem condições para isso e se eu fizesse isso, eu não estaria tratando todo mundo de forma igual (RUTE, CONTRATANTE). O terceiro canteiro de obras visitado foi a edificação de um condomínio residencial, um empreendimento de uma empresa privada. Neste local, encontramos uma realidade já comum a outras empresas do ramo, ou seja, a utilização da mão de obra feminina para limpeza e rejuntamento da cerâmica. Neste campo de investigação, detectamos a presença de três trabalhadoras contratadas como serventes, enquanto o público masculino aproximava-se de 210 funcionários. As mulheres encontram-se nesta obra desde o começo do ano É válido assinalarmos que essa não foi a primeira vez que a construtora utilizou a mão de obra feminina no setor de produção. Outras empreitadas geridas por esta mesma construtora também contaram e contam com a presença feminina em seu quadro de funcionários desde o ano de Nesta obra, de acordo com Mateus 14, o grande atrativo para contratação do trabalho feminino tem relação com a suposta habilidade manual inerente à condição feminina, principalmente para o desempenho de trabalhos que requerem cuidado e destreza, como o acabamento. Há ainda que se destacar a sua melhor desenvoltura 14 Nome ficiticio dado ao responsável pela contratação das mulheres

37 na limpeza, consequência da divisão sexual do trabalho com a qual foram familiarizadas. 35 Neste canteiro, assim como nas outras frentes de serviço analisadas, não houve classificação da mão de obra feminina. Entretanto, acreditamos que a promoção das mulheres, neste espaço em particular, aparece de forma mais dificultosa ao considerarmos que o trabalho executado por elas é bastante específico, não havendo muitas possibilidades para o desenvolvimento de outras habilidades por parte das trabalhadoras. Por fim, quando tratamos da contratação das mulheres como mão de obra, convém destacar, conforme observamos em duas obras analisadas, que a negação da feminilidade é um dos quesitos recorrentes no processo seletivo, conforme expressa a fala a seguir: Quando você conversa, você verifica se aquela pessoa é mais feminina, mais delicada ou não. Então, assim, eu ia muito por isso também, tinham pessoas que vinham aqui e queriam oportunidade, mas assim, muito femininas, muito delicadas, você via que não tinha o perfil nem para lidar lá no campo (RUTE, CONTRATANTE). Nesse sentido, fica evidente que a admissão das mulheres nesse setor passa por parâmetros de masculinidade, ou seja, elas precisam, de certa forma, esconder sua feminilidade para poderem ser aceitas. Adiante, no intuito de melhor situar o leitor em relação aos dados obtidos em campo, faremos a exposição do perfil das mulheres que participaram desta pesquisa, retratando, por exemplo, quem são essas mulheres, em que trabalhavam anteriormente e quais as razões para estarem na construção civil Quem são essas operárias? Iniciaremos esta discussão pontuando algumas considerações sobre o perfil das trabalhadoras inseridas na construção do equipamento público municipal, cujos aspectos foram retratados na sessão anterior. Das cinco mulheres contratadas para o setor de produção da obra, duas são pedreiras, enquanto as outras três exercem a função de servente. A idade destas

38 36 funcionárias situa-se entre 40 e 54 anos. Quanto à escolaridade, somente uma concluiu o ensino médio, uma delas possui o ensino fundamental completo e as demais declararam não ter finalizado o ensino fundamental. Segundo as informantes, esta é a sua primeira experiência no ramo. Duas, inicialmente, já haviam feito curso de pedreira, promovido pelo poder municipal, sendo, posteriormente, inseridas na obra. As outras fizeram o caminho inverso - primeiro tiveram sua inserção na obra, por indicação de outras trabalhadoras e, no decorrer da execução do serviço, fizeram o curso profissionalizante. Quando tratamos da atuação profissional dessas mulheres antes de seu ingresso na construção civil é interessante observar que três delas atuavam no setor informal uma era babá e recebia 230 reais por mês. Outra vendia produtos de uma revista de cosméticos e ganhava, em média, 400 reais. E, a última era cozinheira em uma barraca de praia, ganhava 100 reais semanalmente. As outras trabalhadoras, antes de atuar na construção civil, estavam desempregadas, mas o último trabalho delas foi no setor formal. Uma era auxiliar de serviços gerais, recebia um salário mínimo. A outra era operadora de máquinas numa indústria de plástico e ganhava 800 reais por sua mão de obra. Marta, coordenadora do projeto, registra que, inicialmente, as mulheres apresentaram muita dificuldade para conciliar suas atribuições produtivas com suas responsabilidades domésticas. Era comum elas faltarem ao trabalho, bem como chegarem atrasadas por conta de problemas familiares. Algumas, inclusive, chegaram ao ponto de querer desistir do trabalho pelo fato de ter uma pessoa da família doente e elas sentirem-se na obrigação de dedicar-se ao cuidado desse ente. Além disso, levando em consideração algumas nunca terem trabalhado formalmente no mercado, a adaptação à rotina do trabalho formal, que apresenta horários mais rígidos e exige maior responsabilidade e comprometimento por parte dos trabalhadores e das trabalhadoras, não aconteceu de forma fácil. Ao longo da caminhada, houve a desistência de parte das mulheres, até mesmo, pelo valor que recebiam após a rescisão contratual. De acordo com Marta, algumas trabalhadoras chegaram a se emocionar no banco quando receberam seu

39 primeiro salário, pois era a primeira vez que recebiam dinheiro em troca do seu trabalho. 37 No tocante à presença feminina na construção pesada, apenas duas trabalhadoras permaneceram nesta frente de serviço. A conclusão da obra encontrava-se próxima, ocorrendo, portanto, uma redução natural no quadro de funcionários. As duas mulheres eram pedreiras, contudo, apenas uma desempenhou, de fato, as tarefas inerentes a esta função. A outra operária teve a sua atuação mais direcionada à limpeza da obra e aos acabamentos. Segundo ela, Aqui na obra, eu fiquei mais na parte da limpeza junto com o pessoal. Porque aqui na obra, agora, tem mais é a parte da limpeza. Quando eu comecei, eu não fiz serviço de pedreira, eu comecei numa turma que assentava cerâmica, mas eu passei pouco tempo. Ai, fiquei na turma de limpeza, passei uns três meses cuidando das chaves de um setor. Fiquei cuidando das chaves, porque foram colocando as portas e eu fiquei cuidando das chaves. Agora, to na limpeza. O pessoal faz o acabamento, depois, a gente vai, limpa tudo e tranca (ESTÉR, PEDREIRA, 50 ANOS). A situação acima descrita não foi especificidade da obra em discussão. Na edificação municipal também foi possível registrar a presença deste tipo de fato, conforme indica a fala de uma trabalhadora: Na realidade, quando eu iniciei aqui, comecei fazendo alvenaria, depois eu passei para o ar condicionado. Hoje, eu não sei se sou pedreira ou trabalho com ar condicionado (risos), porque nesse tempo todo, eu trabalhei com ar condicionado, montando o ar condicionado, fabricando peça, ajudando, na realidade, eu ajudo os meninos do ar condicionado montando, fabricando dutos, quer dizer, é uma coisa bem interessante. Então assim, esses dois anos e meio foi com ar condicionado e, agora, neste momento, eu estou cuidando das chaves da obra, eu estou trancando tudo (risos) (DORCA, PEDREIRA, 41 ANOS). Com relação à idade e à escolaridade, uma delas tinha 34 anos e não completou o ensino fundamental. A outra tinha 50 anos e concluiu o ensino médio. Ambas são casadas, mas apenas uma tinha filho ainda criança em sua composição familiar. É importante registrar que as duas eram oriundas da obra do município também analisada neste estudo. Antes de ter trabalhado na construção civil, uma delas nunca havia exercido qualquer atividade remunerada, ou seja, sua vida inteira foi dedicada ao trabalho doméstico e ao cuidado com os filhos. Contudo, consideramos conveniente destacar

40 que esta funcionária, desde a infância, executa serviços na construção civil, pois seu pai 15 é pedreiro e ela sempre o auxiliava em suas ações. Relata a entrevistada: 38 Meu pai é pedreiro, eu já cresci vendo ele com as ferramentas. Eu pequenininha, com 8 anos, já sabia bater nível. Ele já mandava eu segurar os pontos de nível. Então, quando eu fiz o curso, eu já sabia, tinha noção, então ficou mais fácil pra mim. Eu sempre gostava de ficar botando armador em casa, se meu pai tava puxando piso, eu queria puxar com ele. Eu já fazia o serviço da construção civil, né? (ANA, PEDREIRA, 34 ANOS). A fala da entrevistada, agregada aos elogios decorrentes de sua boa atuação na obra, ratifica a proposição de que o bom desempenho de determinadas funções no mundo do trabalho, seja por homens ou por mulheres, encontra-se fortemente relacionado à divisão sexual do trabalho na qual foram familiarizados os indivíduos. A outra trabalhadora era empregada doméstica, ganhava apenas R$ 220 reais por mês e não era protegida pelas leis trabalhistas, em função de não ter o registro em sua carteira de trabalho. Vale ressaltar que esta é uma realidade vivenciada por muitas mulheres, apesar dos avanços na legislação que ampara as empregadas domésticas. Feitas as consideração em relação à mão de obra feminina na construção pesada, nos dedicaremos a descrever alguns aspectos referentes ao perfil das três trabalhadoras que atuam na edificação de um condomínio residencial. Inicialmente convém assinalar que duas concluíram o ensino fundamental e uma conseguiu completar o ensino médio. A idade dessas funcionárias varia entre 23 e 38 anos. Duas são casadas e têm filhos ainda crianças em sua composição familiar e uma delas é solteira. Destacamos, ainda, que esta é a primeira vez que trabalham na construção civil. Anterior a sua entrada para atuar neste ramo produtivo, uma trabalhava no setor formal como auxiliar de serviços gerais, ganhava um salário mínimo. No tocante às demais, uma era empregada doméstica e recebia R$ 320 reais por mês e 15 Curioso observar que o pai e o avô da depoente trabalharam, durante a década de 1970, mais precisamente no ano de 1971, na mesma obra em que está alocada a trabalhadora.

41 a outra nunca havia exercido qualquer atividade remunerada previamente, esta foi sua primeira oportunidade de trabalho. 39 Nenhuma delas tem curso na área da construção civil. Fato que para nós era plenamente compreensível, já que elas executavam apenas a limpeza da obra e faziam o rejunte da cerâmica. Nas três obras analisadas, quando questionamos às mulheres sobre os aspectos que motivaram sua entrada na construção civil, significativa parte delas aponta a melhor remuneração paga pelo setor e o vínculo empregatício como principais fatores propulsores. Algumas trabalhadoras afirmam que sua decisão de trabalhar neste segmento não foi isenta de conflitos. Lamentam, inclusive, a falta de apoio por parte de seus familiares, conforme expressa a fala de uma das entrevistadas: A única pessoa que foi contra foi a minha mãe. Por conta de eu, como mulher, trabalhar no meio de muito homem. Já a minha filha, me acha uma mulher guerreira. (a entrevistada emocionou-se e chorou). Eu não senti preconceito em relação a outras pessoas, só em relação a minha mãe e é até hoje. Até foto que nós tiramos quando nós chegamos aqui, eu botei lá em cima e ela fez eu tirar. Ela não aceita. Eu fiz o curso, quando eu cheguei com todo o material que eu ganhei, ela não quis nem ver. Isso me entristece muito, mas não me faz pensar em desistir. Eu sei muito bem o que eu quero (MIRIAN, SERVENTE, 48 ANOS). Outra dificuldade expressa pelas mulheres relaciona-se a não aceitação dos seus companheiros e maridos quanto a sua escolha profissional. Segundo as informantes, não os agrada o fato delas encontrarem-se em um espaço composto, majoritariamente, por homens. O discurso de uma trabalhadora confirma esta afirmação: No início, meu marido dizia: o que é que tu vai fazer lá no meio daquele monte de homem? Ai, eu dizia: vou trabalhar. Ele dizia: mas vai te aquietar, arruma outro trabalho. Ai, eu falei: Não, eu quero é esse! Mas ai o tempo passou, ai ele acabou aceitando, viu que não tinha jeito mesmo (risos). (DORCA, PEDREIRA, 41 ANOS). O discurso dos trabalhadores das obras analisadas também ratificam esta não aceitação dos homens em relação ao trabalho feminino em ambientes considerados masculinos. Eles, contraditoriamente, foram unânimes ao dizer que acham válida a presença das mulheres nas obras e que as respeitam, mas que não

42 aceitam o ingresso de suas esposas ou companheiras no setor. Conta um dos operários: 40 Vixe...(risos)...trabalhar mais um monte de homem, é? Ela até pediu pra eu arrumar um emprego aqui pra ela. Mas ai eu fiquei, pensei...ai, eu não arrumei não ( FELIPE, PEDREIRO, 52 ANOS). Em algumas justificativas, percebemos o ciúme como principal motivador para a rejeição em relação à ideia de suas mulheres se inserirem nos canteiros. O medo da traição está presente, mesmo que de forma implícita, em, praticamente, todas as respostas. Eu não aceitaria, porque a construção civil é aquele negócio. Eu tô há muito tempo na construção civil e sei como é e como funciona.falando de um modo bem popular, peão é complicado. Se der chance, você já sabe...ele dizem logo: vamo tomar uma cervejinha? Então, pra evitar, eu não aceitaria (SAMUEL, ENCARREGADO, 33 ANOS). Apesar das dificuldades inerentes a toda inserção de mulheres em ramos tradicionalmente masculinos, as entrevistadas sentem-se muito orgulhosas por realizarem as tarefas que até pouco tempo, segundo expressou uma delas, os homens não as queriam por perto nem para ajudar. Começar a trabalhar na construção civil proporcionou a estas trabalhadoras mudanças significativas em suas vidas. Favoreceu a elevação de sua autoestima e lhes possibilitou a aquisição de bens materiais. Fato confirmado nas seguintes falas: Eu tenho orgulho de ser servente da construção civil. Tudo que eu quero, estando no meu limite, eu compro. Tudo que me dá vontade de comer, eu compro. Hoje, eu posso ir pra uma churrascaria. Engraçado que quando eu trabalhava na churrascaria, eu não tinha condições de sentar lá e com o dinheiro que eu ganhava lá, me alimentar. Agora, eu posso sentar em qualquer restaurante, qualquer churrascaria. Posso comer e beber o que eu quero (MARIA, SERVENTE, 42 ANOS). Eu só penso em terminar a minha casa. Rebocar e ter uma casa pintada, bem bonita. Então, eu só estou gastando dinheiro com a minha casa. Meu sonho é ter uma casa linda, rebocada e pintada. Mas eu também comprei uma geladeira à vista, isso foi bom porque eu nunca podia comprar uma geladeira à vista. Uma vez, eu comprei uma, paguei em 18 meses e essa eu comprei à vista (ESTER, PEDREIRA, 50 ANOS). É interessante percebermos que a maioria delas aponta como grande ganho decorrente de seu trabalho a independência financeira em relação aos seus maridos. Afirmam, ainda, que utilizam a remuneração, principalmente, para gastos

43 com a casa e, também, para com os filhos, conforme assevera uma das entrevistadas: 41 Hoje em dia, eu tenho tudo o que eu quero sem ter que pedir pro meu marido. Você se sente mais livre, é muito gostoso você trabalhar, ter seu dinheiro. A gente tá construindo a nossa casa. E é os dois, um ajudando o outro. Hoje, eu posso dar o melhor para os meus filhos, porque o intuito dos pais é esse a gente não trabalha pra gente, mas pros filhos da gente (DORCA, PEDREIRA, 41 ANOS). Entretanto, elas também destacam a aquisição de bens e produtos para uso pessoal, que anteriormente não era possível adquirir em função da má ou ausência de remuneração. Utilizamos trechos de dois depoimentos concedidos pelas trabalhadoras para confirmar esta circunstância. Como eu não podia usar coisas boas, tipo xampu, colônia boa, batom. Agora eu tô aproveitando tudo o que eu não podia ter. Já é a terceira moto que eu compro, porque eu gosto de moto. Eu vou trocando a cada ano. Assim que passa que eu vejo que tem uma melhor que a outra, eu tô trocando (ANA, PEDREIRA, 34 ANOS). Eu comprei um celular e produtos de beleza também. Eu queria tanto comprar os produtos de beleza que passava na televisão pra minha idade, porque eu tinha mais de 45 anos, mas eu não podia comprar. Mas a partir do dia que eu comecei a trabalhar, eu pude comprar, porque eu ia ter dinheiro para pagar (ESTER, PEDREIRA, 50 ANOS). Quando indagadas sobre seus planos futuros, todas as mulheres das duas primeiras obras expuseram a intenção de manter-se no setor, porém sem ambição de galgar outros cargos. Duas trabalhadoras, funcionárias da terceira obra analisada, relataram interesse em atuar em outras áreas, conta uma delas: Aqui eu tô só passando uma chuva. Não quero isso pra minha vida toda não. O que eu quero mesmo é trabalhar em escritório. Ser tipo secretária, mexer com computador, essas coisas, sabe? Vou até fazer um curso de computação pra ver se ajuda (REBECA, SERVENTE, 23 ANOS). O depoimento acima, também, expressa a segmentação ocupacional em função do sexo, pois a profissão pela qual a funcionária tem apresso e interesse apresenta-se como uma das atividades executadas tradicionalmente por mulheres em nossa sociedade. Esta discussão será aprofundada no quinto capítulo deste estudo.

44 42 Na sessão seguinte, faremos o detalhamento dos procedimentos adotados pela pesquisadora para a coleta dos dados. Trataremos, portanto, das técnicas e dos instrumentos utilizados para o desenvolvimento desta pesquisa A coleta de dados Para a coleta dos dados, devido nosso entendimento quanto à importância das expressões da experiência e dos atores sociais, conforme já ficou evidenciado nos parágrafos anteriores, realizamos entrevistas com homens e mulheres os quais, no período de desenvolvimento da pesquisa, entre março de 2011 e dezembro de 2012, trabalhavam na construção civil de Fortaleza. Buscamos a proporcionalidade entre o número de trabalhadoras e trabalhadores entrevistados. Com base nesta decisão, entrevistamos o número total de funcionárias presentes nas obras - dez mulheres: cinco na edificação de um equipamento público municipal, duas na obra de construção pesada, três na construção de um condomínio residencial. Tendo como referência o número de mulheres entrevistadas por obra, fizemos, também, entrevista com 10 trabalhadores que atuam profissionalmente com as mulheres. Sob esta lógica, entrevistamos pedreiros, serventes, pintores e eletricistas. A escolha dos trabalhadores 16 entrevistados se deu de modo aleatório e a realização das entrevistas, tanto com os homens como com as mulheres, esteve condicionada ao interesse dos informantes em participar da pesquisa. Destacamos que todos os envolvidos neste estudo assinaram o termo de livre e esclarecido elaborado pela pesquisadora 17. Para a realização das entrevistas, tivemos que nos adequar aos espaços em que a pesquisa de campo aconteceu. Na maioria das vezes, os depoimentos eram embalados pelo barulho emitido pelas máquinas, tratores, caminhões e batidas de martelo. Tivemos que improvisar os lugares para que as entrevistas pudessem acontecer. Ora estávamos no meio do nada, apenas com duas cadeiras, muita 16 Principalmente com relação ao público masculino, pois realizamos entrevistas com o número total de mulheres de cada obra. 17 Este documento encontra-se nos apêndices deste trabalho.

45 poeira e a presença do entrevistado, ora fazíamos das escadas, já concluídas nos canteiros, nosso espaço para coletar as informações. 43 Não encontrei resistência por parte dos trabalhadores e trabalhadoras para a concessão das entrevistas. Todavia, a conversa com as mulheres fluía de forma mais espontânea. Era nítido o desejo e o orgulho que elas demonstravam em falar sobre seu trabalho. Contudo, também, era perceptível a necessidade de expor as questões decorrentes dele e da condição de escuta que a maioria delas deixava transparecer. Já com os depoentes do sexo masculino, tivemos um pouco mais de dificuldade no sentido de estimular para que, além de objetivas, suas respostas trouxessem conteúdo, ou seja, que eles explicassem o porquê de suas respostas, tendo em vista a importância de verificar os sentidos das ações e buscar os significados, ressaltando, desta forma, o estudo dos discursos e o sentido das palavras, conforme orientam Osterne, Brasil e Almeida (2012) Convém assinalar que para um melhor desempenho da pesquisa, o apoio de alguns profissionais das obras foi indispensável. Eles garantiram que as entrevistas acontecessem sem atrapalhar o andamento da obra e a produção dos trabalhadores envolvidos. Nos locais selecionados, entrevistamos, oportunamente, os responsáveis pela contratação das mulheres nas obras, no intuito de apreender os motivos que contribuíram para a contratação desse público para atuar neste ramo. Dos três espaços analisados, apenas na obra de construção pesada uma mulher 18 era a responsável pela seleção e contratação dos funcionários e funcionárias. Entrevistamos os encarregados das obras, pois eram eles quem, diariamente e de modo mais próximo, acompanhavam e avaliavam o desempenho dos profissionais, homens e mulheres, alocados nas frentes de serviços. Além disso, eram eles que vivenciavam mais de perto as relações que se estabeleciam entre as trabalhadoras e os trabalhadores dentro das obras. 18 Ela era do setor de recursos humanos da empresa responsável pela obra.

46 44 Além disso, através da entrevista concedida pelos representantes do Sindicato dos Trabalhadores, foi possível elucidar outra inquietação nossa que era contextualizar, minimamente, a inserção feminina neste setor, já que não encontramos documentos ou qualquer outro registro que demarcasse o período de entrada delas para atuar na construção civil. Foi possível, também, conhecer um maior número de obras que contavam com a mão de obra feminina na produção. As entrevistas aconteceram com base em um roteiro semi-estruturado 19, com o intuito de que nosso diálogo com os entrevistados acontecesse de forma fluente, mas sem a perda dos objetivos da pesquisa. O roteiro semi-estruturado teve a função primordial de nos auxiliar na condução da entrevista, mas contribui, também, para que o entrevistado possibilitasse as informações de forma mais precisa e com maior facilidade. No processo de elaboração dos instrumentos utilizados para coleta de dados, tivemos o cuidado de usar uma linguagem acessível e compor questões simples e objetivas para não suscitar dúvidas quanto aos objetivos das perguntas.. Durante a realização da pesquisa, utilizamos uma câmera fotográfica para registro dos momentos vivenciados e um gravador de voz, através do qual armazenamos os diálogos estabelecidos durante as entrevistas sem que ocorresse a perda de detalhes contidos nas falas dos depoentes. Fizemos um diário de campo, nele escrevemos descrições, observações e impressões que não puderam ser captadas pelo gravador de voz e pela câmera fotográfica. Com relação aos dados obtidos em campo, para melhor analisá-los, realizamos a transcrição das entrevistas. Este tarefa foi, demasiadamente, densa, pois tivemos que transcrever 28 entrevistas, totalizando 385 minutos de gravação e 109 laudas de entrevistas transcritas. Esta, portanto, foi uma etapa que demandou muito tempo e uma escuta apurada das entrevistas realizadas. Neste momento, o uso do diário de campo foi importantíssimo, pois ajudou a reconstruir o cenário e as condições em que ocorreram as entrevistas. Em seguida, faremos algumas considerações sobre a pesquisa bibliográfica. 19 Os roteiros utilizados encontram-se nos apêndices desse trabalho.

47 A pesquisa bibliográfica Conforme retratamos no início desta seção, a pesquisa bibliográfica também foi um tipo de pesquisa utilizado para efetivação do estudo proposto. Portanto, através dela, tratamos do desdobramento teórico das categorias e concepções que envolviam o objeto de estudo. Para tanto, fizemos uma análise da categoria gênero, enfatizando os principais estudos relacionados a esta temática. Trouxemos à discussão a inserção das mulheres no mercado de trabalho e as marcas da divisão sexual do trabalho, sempre articulando a produção bibliográfica existente aos dados expressos na realidade e apreendidos por meio da pesquisa de campo. Para a efetivação da pesquisa bibliográfica realizada, utilizamos livros, artigos, dissertações, teses e publicações em periódicos. O procedimento descrito foi importante para historicização do objeto em sua perspectiva relacional tanto da sua existência social quanto conceitual. Concordamos com Bourdieu (2001) quando ele destaca a importância da história social dos problemas como instrumento de ruptura, ou seja, do trabalho social de construção da realidade social que se realiza no próprio seio social. Para o autor, é preciso fazer a história social da emergência desses problemas, da sua constituição progressiva, ou seja, apreender o trabalho coletivo que foi necessário para conhecer e fazer reconhecer essas questões como problemas legítimos, confessáveis, publicáveis e públicos oficiais. Concluída a exposição do percurso metodológico que seguimos, trataremos, nos capítulos seguintes, da contextualização teórica e conceitual que permeará o diálogo entre o pensamento e as manifestações concretas do problema analisado. Para tanto, a priori, propomos uma reflexão sobre aspectos relacionados à categoria gênero.

48 46 3 CONSTRUÇÃO CIVIL, ISSO É COISA DE MULHER? Para pôr em discussão a presença das mulheres na construção civil, pensamos ser indispensável analisar muito além dos aspectos positivos e negativos decorrentes dessa inserção. Acreditamos ser necessário partir do entendimento de que a presença feminina no âmbito deste setor precisa ser situada no contexto das relações de gênero, ao levarmos em consideração que, social, cultural e historicamente, as obras civis não são reconhecidas como um espaço para a atuação das mulheres. Nesse sentido, tendo como referência a literatura existente e os dados empíricos desta pesquisa, buscamos evidenciar como se mostram as questões de gênero no âmbito deste setor produtivo. De acordo com Scott (1990), a noção de gênero possui duas partes e várias sub-partes que se encontram interligadas. A primeira parte refere-se à ideia de que o gênero é um elemento constitutivo das relações sociais baseadas nas diferenças que distinguem os sexos. Enquanto a segunda, vincula-se à premissa de que o gênero é uma forma primária de relações significantes de poder (SCOTT, 1997, p.289). Quanto às sub-partes, Scott (1990) aponta que elas estão associadas aos símbolos culturalmente disponíveis, que permitem a formação de representações simbólicas (exemplo: Eva e a Virgem Maria). Vinculam-se, também, aos conceitos normativos, que interpretam e dão sentido aos símbolos expressos nas doutrinas religiosas, educativas, científicas, políticas ou jurídicas, afirmando enfaticamente o que é masculino e feminino. Estão associadas às instituições e organizações sociais. E, por fim, estão ligadas à identidade subjetiva, que é a maneira, por meio da qual, são construídas as identidades de gênero, relacionado-as com a realidade histórico-social. Para Louro (1992) enfocar o caráter fundamentalmente social da categoria em epígrafe não significa negar sua dimensão biológica. Na realidade, esse tipo de compreensão enfatiza a construção social e histórica produzida em decorrência das características biológicas que, frequentemente, se convertem em desigualdades, expressas nos papéis sociais direcionados aos homens e às mulheres.

49 47 No desenvolver da pesquisa de campo, escutamos, frequentemente, discursos que associam homens e mulheres a trabalhos diferenciados, a partir da concepção que os sujeitos da investigação têm em relação às características inerentes a cada um dos sexos. Ao questionarmos, por exemplo, sobre as atividades que as trabalhadoras desenvolvem melhor pelo fato de serem mulheres, a maioria delas e, também, os homens apontam as tarefas que requerem cuidado, dedicação e zelo como as que são melhor executadas por elas, conforme expressam algumas falas: No que elas se identificam mais é na limpeza, no emassamento e nesses serviços que são mais pra mulher os detalhes, o acabamento, né?[...] Na verdade, a mulher ela é mais atenciosa. Tem mais aquele carinho pela profissão. Ela se dedica mais, o homem também se dedica, mas o homem já é um pouco bruto desde que foi gerado. Elas não, já é mais delicada. Já bota uma massa, já coloca um tijolo, já bate um esquadro, já tem aquele detalhe de olhar para o acabamento e fazer bem. Nisso elas são bem perceptivas (SILAS, PINTOR 30 ANOS). Algumas coisas aqui na obra facilita o fato da gente ser mulher, pois sai com mais qualidade. Vamos supor: a vidraça com tinta. O homem não quer saber se vai arranhar, ele quer saber se tira a tinta. Nós já vamos com cuidado de não arranhar a vidraça, de não arranhar o alumínio. A gente tem aquele gosto. A gente faz de conta que é da nossa casa. Sempre a gente coloca na nossa mente um faz de conta, um faz de conta que é meu. O homem não. Não é dele, nem meu, nem teu e fica do jeito que fizer. Eles pensam: ninguém vai ver o arranhão porque tá bonito. Então, a mulher já faz com muito carinho,com qualidade. Ela não quer ver um cisquinho no chão. Uma coisinha acaba a beleza. Um pingo de tinta que tiver no chão, a parede pode estar linda como for, o pingo de tinta, na hora do acabamento, acaba com o trabalho da pintura da parede. A gente tem mais cuidado com a qualidade do acabamento (SARA, SERVENTE 38 ANOS). Nessa linha de raciocínio, Louro (1992) expõe seu entendimento sobre os papéis sociais. Segundo ela, eles [...] seriam, basicamente, padrões ou regras arbitrárias que uma sociedade estabelece para seus membros e que definem seus comportamentos, suas roupas, seus modos de se relacionar ou de se portar. Através do aprendizado de papéis, cada um/a deveria conhecer o que é considerado adequado (e inadequado) para um homem ou para uma mulher numa determinada sociedade, e responder a essas expectativas (p.24). Saffioti (1987), ao refletir sobre as relações de gênero, as compreende como construções sociais e históricas constituintes de um sistema simbólico que valora e cria hierarquias, tendo por referência o sexo e os aspectos culturais de um determinado período histórico. Para a autora, os seres humanos nascem machos ou

50 fêmeas, mas é através da educação que se tornam homens e mulheres. Segundo ela, a identidade social dos indivíduos é socialmente construída. 48 É conveniente salientar que a estudiosa em destaque considera que a constituição dos gêneros se dá através da dinâmica das relações sociais e não se trata apenas de perceber corpos que entram em relação uns com os outros. É a totalidade formada pelo corpo, pelo intelecto, pela emoção, pelo caráter do EU, que estabelece uma relação com o outro. Cada ser humano, portanto, é a história de suas relações sociais, marcadas por antagonismos e contradições de gênero, classe e raça/etnia. A autora supracitada defende, ainda, a ideia do uso simultâneo do conceito de gênero e patriarcado, pois, em seu entendimento, o patriarcado está no coração da engrenagem exploração- dominação (SAFFIOTI, 2004, p. 88). Segundo Saffioti (2004), o patriarcado traz em seu bojo relações de hierarquia entre seres socialmente diferentes. Desta forma, ele serve como um instrumento para compreensão das desigualdades estabelecidas entre homens e mulheres, nas quais a dominação masculina faz-se sempre presente. Faria e Nobre (2007), ao apontar alguns subsídios para a discussão sobre as relações de gênero, indicam que, a partir da consolidação do capitalismo, foi disseminada a ideia de que existe uma divisão entre as esferas pública e privada. Por conseguinte, levando em consideração a referida divisão, a esfera privada passou a ser considerada um lugar próprio das mulheres, do doméstico, da subjetividade e do cuidado. Já a esfera pública passou a ser vista como um espaço dos homens, dos iguais, da liberdade e do direito. Com base nesta compreensão, tendo, ainda, como referência o pensamento de Faria e Nobre (2007), a maternidade se apresenta como o principal papel feminino tradicional e, consequentemente, vincula-se às mulheres o cuidado da casa e dos filhos, além da tarefa de guardiã do afeto e da moral na família. Espera-se delas um comportamento meigo, atencioso, frágil e dengoso. Nesta configuração tradicional, o homem típico é aquele considerado provedor, que trabalha fora de casa e que traz o sustento da família, ou seja, é

51 aquele que se realiza fora do âmbito doméstico, no espaço público e que tem como atributos a força, a iniciativa, a objetividade e a racionalidade. 49 As autoras em destaque acreditam que a perpetuação dos papéis atribuídos aos homens e às mulheres costuma ser justificada pela ideia de que esses papéis são naturais, ou seja, homens e mulheres já nascem para ser de um determinado jeito. Logo, esta naturalização é o principal mecanismo de justificativa dessa situação. Para elas, A naturalização dos papéis e das relações de gênero faz parte de uma ideologia que tenta fazer crer que esta realidade é fruto da biologia, de uma essência masculina e feminina, como se homens e mulheres já nascessem assim. Ora, o que é ser mulher e ser homem não é fruto da natureza, mas da forma como as pessoas vão aprendendo a ser, em uma determinada sociedade, em um determinado momento histórico. Por isso, desnaturalizar e explicar os mecanismos que conformam esses papéis é fundamental para compreender as relações entre homens e mulheres e, também, seu papel na construção do conjunto das relações sociais (p.03). Essa naturalização dos papéis de gênero pode ser percebida, inclusive, na fala de um dos trabalhadores que utiliza a religião para ratificar a vinculação das mulheres ao âmbito doméstico. Para ele, o trabalho das mulheres, mesmo o remunerado, deve acontecer em casa, pois, caso contrário: Como é que fica a casa? Como é que fica a família? Fica à mercê? As mulheres devem trabalhar em casa. Não é discriminação não. Essa doutrina eu trago da igreja. Eu obedeço a palavra de Deus, eu não posso distorcer os preceitos bíblicos, né? A bíblia diz que a mulher cuida da casa e o homem do sustento da família, do trabalho (JÒ, PEDREIRO, 50 ANOS). Puleo (1999), por sua vez, considera que a categoria gênero sugere uma teoria da construção social das identidades sexuadas, bem como das relações de poder entre os sexos, isto é, trata-se de uma relação dialética entre os sexos. Para esta estudiosa, discutir sobre a categoria gênero significa, ainda, falar de um conceito elaborado pelas ciências sociais a fim de analisar a constituição sóciohistórica das identidades masculina e feminina. Supõe, deste modo, considerar a existência de discursos que legitimam e justificam a hierarquização dos homens e do masculino em relação às mulheres e ao feminino. Assim, uma análise das relações de gênero passa, necessariamente, por uma reflexão sobre as relações de poder estabelecidas em função do sexo. Para Foucault (2007), por exemplo, o poder está imbricado na sociedade, dissipado em

52 todas as partes das relações sociais, tendo a capacidade de sustentar ou quebrar os sistemas de dominação. 50 Para o autor em discussão, o poder deve ser analisado como algo que circula, que funciona em cadeia, que nunca está localizado em um único polo e que não pode ser apropriado como riqueza ou bem. Para ele, o poder funciona e se exerce em rede. Os indivíduos, em suas malhas, ao mesmo tempo em que exercem o poder, sofrem sua ação. Ao refletirmos sobre como funcionam as redes de poder no âmbito da construção civil, mais especificamente quando situamos o exercício do poder no campo das relações de gênero, é possível perceber que, em algumas situações, as mulheres estabelecem, mesmo que inconscientemente, algumas estratégias para conseguir adentrar e se manter nesse espaço masculinizado, fazendo, desta forma, com que o poder circule. Neste sentido, podemos citar como exemplo as seguintes táticas utilizadas pelas trabalhadoras: tratam o trabalho masculino como importante para o desempenho de sua atividade, sob a intenção de criar um clima de cooperação no canteiro de obra, além disso, comparam as relações de trabalho às relações familiares e, em alguns casos, se utilizam da condição feminina para usufruir de algumas vantagens junto aos homens. Conforme expressam, portanto, as falas a seguir, o poder não se apresenta de forma vertical, sendo exercido somente pelos homens, muito embora o poder masculino seja preponderante dentro do setor em estudo. Assim, o poder pensado, principalmente, como instrumento para quebrar o sistema de dominação é, sutilmente, exercido por elas: A maioria dos homens aqui, a gente trata com irmão. Eles trata a gente como irmã. É difícil nós chamar algum dos companheiros de trabalho pelo nome, sempre a gente usa o irmão. Toda vida é assim. Tanto é que, até agora, não teve conflito nessa construção, desde o dia que eu entrei. Não tem atrito, não tem confusão, todos eles respeita muito a gente, nós mulheres. [...] Eles ajudam a gente, às vezes, a gente manda neles, a gente diz assim: vem cá, onde tem homem, mulher não trabalha! Ai, eles dizem assim: e quem mandou vocês se meter nessa construção? Não sabe que é serviço para homem? Ai, a gente diz (falou a depoente em tom de brincadeira): cala a boca, vocês estão aqui é para ensinar a gente! Eles gostam muito da gente, pelo que eles mostra, sabe? [...] Eles faz é brincar com a gente, às vezes. A gente fura fila, ai eles dizem: eu num tô dizendo mesmo! Vá lá para trás. Ai, a gente diz: nada disso, eu sou mulher. Eles respeitam muito esse lado mulher (MARIA, SERVENTE 42 ANOS).

53 Quando a gente tá trabalhando perto, elas chama a gente pra ajudar a botar um andaime pra elas se atreparem e tudo. É um clima bom, tem uma farofinha ainda! (risos) Elas trazem uma farofinha para nós, ó!(risos) Traz a farofinha e começa a rodear nós, sabe? Seu fulano, seu fulano, bote esse andaime aqui! Ai, eu pá, colocava. Às vezes, elas mandava me chamar, porque eu não tava perto delas. Elas dizia : Chama ali o véi! Eu chegava, ai elas dizia: toma uma farofinha aí, véi! (ABRAÃO, SERVENTE, 60 ANOS). Bourdieu (2001), por sua vez, defende a existência do poder simbólico, através do qual, os campos dominantes são beneficiários de um capital simbólico que, por sua vez, é disseminado e reproduzido por meio de instituições e práticas sociais, que lhes possibilita exercer o poder. Trata-se, portanto, da teoria da dominação simbólica que se expressa, por exemplo, na sobreposição do sexo masculino ao feminino. 51 De acordo com Bourdieu (2007), a dominação masculina encontra suas origens num comportamento histórico de forças materiais e simbólicas atuantes nas esferas pública e privada. Bourdieu (2001) compreende os símbolos como instrumentos, por excelência, da integração social. Sob esta lógica, relata que o trabalho de reprodução da divisão dos gêneros, até recentemente, esteve garantido por três instâncias principais que se encontravam em consonância com os princípios do Estado (que veio ratificar e reforçar os preceitos do patriarcado privado com as de um patriarcado público presente em todas as instituições responsáveis por gerir e regulamentar a existência quotidiana da unidade doméstica), são elas: a Família, a Igreja e a Escola. Estas, sincronizadamente, possuem a característica de agir sobre as estruturas inconscientes, explica o autor: É, sem dúvida, à Família que cabe o papel principal na reprodução da dominação e da visão masculinas; é na família que se impõe a experiência precoce da divisão sexual do trabalho e da representação legítima dessa divisão, garantida pelo direito e inscrita na linguagem. Quanto à Igreja, (...) ela inculca (ou inculcava) explicitamente uma moral familiarista, completamente dominada pelos valores patriarcais e principalmente pelo dogma da inata inferioridade das mulheres. Por fim, a Escola, mesmo quando já libertada da tutela da igreja, continua a transmitir os pressupostos da representação patriarcal e, sobretudo, os que estão inscritos em suas próprias estruturas hierárquicas, todas sexualmente conotadas (...) (BOURDIEU, 2007, p ). O referido estudioso evidencia que a divisão entre os sexos parece estar na ordem das coisas e é percebida como algo tão natural, ao ponto de ser inevitável.

54 52 Alerta, também, sobre a necessidade da relação entre os sexos estar reinserida na história com vista a esclarecer como as diversas instituições atuam para ratificar a dominação masculina, pois para ele, aquilo que, na história, aparece como eterno não é mais que o produto de um trabalho de eternização que compete a instituições interligadas tais como a família, a igreja, a escola, e também, em uma outra ordem, o esporte e o jornalismo (...) (BOURDIEU, 2007, p. 8). No entendimento de Bourdieu (2007), o mundo é socialmente sexuado. A sociedade assume o papel de construir o corpo feminino e o masculino com base numa ordem de oposição, marcada por uma visão androcêntrica, que resulta, na maioria das vezes, em um apreço maior às características atribuídas aos homens: A primazia universalmente concedida aos homens se afirma na objetividade de estruturas sociais e de atividades produtivas e reprodutivas, baseadas em uma divisão sexual do trabalho de produção e de reprodução biológica e social, que confere aos homens a melhor parte, bem como nos esquemas imanentes a todos os habitus; moldados por tais condições, (...), eles funcionam como matrizes das percepções, dos pensamentos e das ações de todos os membros da sociedade, como transcendentais históricos que, sendo universalmente partilhados, impõem-se a cada agente como transcendentes (BOURDIEU, 2007, p. 45). A lógica paradoxal da dominação masculina e da submissão feminina só pode ser compreendida quando levados em consideração os efeitos duradouros que a ordem social exerce sobre mulheres e homens. A força simbólica, segundo o autor em epígrafe, é uma forma de poder que se exerce sobre os corpos, diretamente, e como que por magia, sem qualquer coação física, mas essa magia só atua com o apoio de predisposições colocadas, como molas propulsoras, na zona mais profunda dos corpos (BOURDIEU, 2007, p. 50). A dominação masculina, nesta compreensão, se estabelece de forma sutil e encontra maior eficácia na medida em que a maioria das mulheres não tem ciência de sua condição de dominada. Este situação acaba contribuindo para que as mulheres aceitem e, até mesmo, colaborem para efetivação da dominação. Segundo Berger e Luckmann (1978) os indivíduos se tornam parte da sociedade a partir do momento em que inserem em sua dialética, iniciada através do processo de interiorização. Esta, por sua vez, constitui, primeiramente, a base da compreensão de nossos semelhantes e, em segundo lugar, da apreensão do mundo

55 53 como realidade social dotada de sentido. Esta apreensão não é decorrente de criações autônomas de significados por indivíduos isolados, mas começa com o fato do indivíduo assumir o mundo no qual os outros já vivem. Com base nesta prerrogativa, é possível afirmar que mulheres e homens, compreendem o mundo e a si próprios de acordo com símbolos atribuídos ao masculino e ao feminino, incorporando à sua subjetividade os papéis sociais determinados para cada um dos sexos. Esta introjeção de valores acontece na socialização, através da inculcação do habitus. De acordo com Bourdieu (2001), o habitus é, concomitantemente, um sistema de esquemas de produção de práticas e um sistema de esquemas de percepção e apreciação das práticas. E, nos dois casos, suas operações exprimem a posição social em que foi construído (p.158). É possível identificarmos, tanto na vida prática como na literatura que trata sobre a categoria gênero, a existência de alguns discursos que legitimam e justificam a constituição e a hierarquização dos homens e do masculino em relação às mulheres e ao feminino. Estes discursos apresentam um caráter de verdadeiros sistemas de crenças que atribuem características diferentes a cada um dos sexos. A partir destas atribuições, são determinados os direitos, os espaços e as atividades pertinentes a cada sexo. Historicamente, esses discursos encontram-se nas mais diversas áreas, dentre elas: na mitologia, na religião e nas ciências. Puleo (2004), por exemplo, registra a presença dos discursos que legitimam esta desigualdade no ramo das ciências. Para ilustrar a proposição, a autora reporta-se à exclusão das mulheres da cidadania no momento da instauração das democracias modernas. No período em epígrafe, médicos-filósofos se fundamentaram, para deixá-las à parte desse processo, na teoria da debilidade cerebral feminina e, também, nos preceitos da Higiene, que prezavam pela dedicação integral das mulheres à maternidade. Os estudos da autora, em análise, indicam que a filosofia é, também, uma ciência que, ao longo de sua história, em muitos casos, serviu para justificar a desigualdade entre os sexos. Contudo, a filosofia, por seu potencial emancipatório e

56 54 sua força crítica, apresenta-se como uma ciência que tem a capacidade de impugnar, colocar em questão e, até mesmo, mudar essa relação injusta. Referenciada por esta visão, traça uma semelhança entre a história oficial da filosofia e a história oficial em geral: Quando há um discurso profundamente misógino ou sexista em filosofia é porque paralelamente existe um discurso feminista nessa mesma época. Isso é muito interessante porque a história oficial da filosofia é como a história oficial em geral: uma história de vencedores (PULEO, 2004, p. 16). Outra forma de manter os estereótipos comportamentais, segundo Silva (2005), é através dos livros didáticos, pois são através dos documentos escritos que são repassadas e ensinadas as maneiras corretas de comportamento social. Ao analisar um livro didático, o autor em discussão percebeu que as imagens e a forma pela qual os fatos históricos foram abordados reforçam o enquadramento da mulher ao âmbito privado. As imagens presentes nos livros analisados sempre enfocavam as mulheres em situação de subordinação, realizando trabalhos domésticos, cuidando de filhos ou em situação de consumo. No setor produtivo em análise, percebemos que as construções simbólicas sobre o que é ser mulher e as características inerentes a esta condição, em muitos casos, determinam as atividades que podem ou não ser desenvolvidas pelas mulheres neste ramo produtivo. Às mulheres, na maioria das obras pesquisadas, cabem as atividades vinculadas à limpeza e aos serviços que requerem maior destreza, cuidado e sutileza, características cultural e socialmente vinculadas às mulheres. Tal fato é ratificado pelo depoimento do encarregado de uma das obras estudadas: A atividade que as mulheres têm um desenvolvimento melhor que o dos homens? A resposta é a mesma que você já sabe, que os outros homens, com certeza, já deram (risos), porque não tem uma outra. Pra falar a verdade, não tem. Mas, além da limpeza, tem uma outra que elas se destaca melhor que os homens, é o rejuntamento. Elas rejuntaram muito. A gente tinha muita cerâmica pra fazer rejunte, colocamos elas no rejunte e elas fizeram um rejuntamento excelente. Bem melhor, mas bem melhor do que o dos homens. Nessa fase do acabamento, do rejunte, elas são bem melhores. Eu coloquei elas pra fazer e elas fizeram muito bem, desenvolveram muito bem. Homens que eu coloquei pra fazer, não fizeram. Eu tive que desfazer, tirar do local, porque não tava dando certo, o serviço estava de péssima qualidade, e elas não, fizeram e fizeram com ótima qualidade (SAMUEL, ENCARREGADO, 33 ANOS).

57 55 Em decorrência desse tipo de pensamento, muitas vezes, as mulheres inseridas neste setor têm seu campo de atuação profissional limitado. Inclusive, em alguns casos, contraditoriamente, serviços que requerem do trabalhador ou trabalhadora características que foram culturalmente vinculadas às mulheres - tais como o cuidado e a atenção - são realizados pelos homens. A título de exemplo, podemos citar o trabalho em altura 20, que apesar de em sua regulamentação não existir restrição para sua execução por mulheres, na prática, alguns discursos construídos socialmente legitimam a incapacidade das mulheres para este tipo de serviço: O trabalho em altura é um trabalho muito delicado, que exige, realmente, mais atenção e por elas serem mulheres, a gente coloca elas para trabalhar em locais mais baixos, em locais que não seja para subir em andaime. (SAMUEL, ENCARREGADO, 33 ANOS). Em contraposição a esta ideia, convém trazer à discussão o pensamento de Blay (2002). Esta estudiosa assevera que, no que se refere ao aspecto biológico, os seres humanos assemelham-se aos outros mamíferos, ou seja, podem ser machos ou fêmeas, sendo que a diferença entre ambos é restrita. Segundo a autora supracitada, no concernente aos imperativos biológicos relacionados, de um modo geral, aos homens e às mulheres, existem apenas quatro aspectos de diferença entre ambos, a saber: somente o homem tem a capacidade de fecundar; só a mulher pode menstruar, gestar e amamentar. Além destas quatros funções reprodutoras básicas, segundo a estudiosa em epígrafe, nenhuma outra diferença existente entre os sexos estaria posta de forma imutável de acordo ou segundo as linhas sexuais. Nesse sentido, a falta de habilidade ou impossibilidade para execução de alguns serviços não, necessariamente, encontram-se atreladas ao sexo. Tão logo, acreditamos ser plenamente possível, por exemplo, um homem apresentar 20 De acordo com a NR-35, do Ministério do Trabalho e Emprego, o trabalho em altura é toda atividade executada acima de dois metros do nível inferior, onde haja risco de queda. A NR-35 estabelece que o empregador deverá promover um programa para capacitação dos trabalhadores para a realização de trabalho em altura. Trabalhador capacitado para o trabalho em altura é aquele que foi submetido e aprovado em treinamento, teórico e prático, com carga horária mínima de oito horas. O conteúdo deve, no mínimo, incluir normas e regulamentos aplicáveis, dentre eles ao trabalho em altura; análise de risco e condições impeditivas; Equipamentos de Proteção Individual e condutas em situações de emergência.

58 dificuldade para trabalhos em altura, enquanto uma mulher o executa de forma exitosa. 56 Na altura, elas já têm um pouco de dificuldade para trabalhar. Hoje, se eu colocar elas pra trabalhar no telhado, eu acho que elas não têm coragem de ir lá não, assim como tem homem que também não vai (JOSUÉ, ENCARREGADO, 26 ANOS). Já fiz trabalho em altura, a gente põe o cinto e faz. Eu fiz acima de dois metros, usei o cinto e fiz. Tem até foto eu usando o cinto de segurança. Eu fazia as mesmas funções dos homens (ANA, PEDREIRA, 34 ANOS). Através da pesquisa de campo, percebemos, ainda, que algumas mulheres desempenham com louvor tarefas que, na construção civil, são, majoritariamente, atribuídas aos homens. O depoimento de um contratante entrevistado sobre o desempenho de uma pedreira contratada para uma de suas obras ratifica esta premissa: Essa mulher, eu nunca vi essa mulher parada. Esta ai, essa mulher é um exemplo do serviço braçal masculino. Ela trepou em andaime, fez massa, ela foi uma mulher que, aqui na obra, atingiu o patamar de 150 horas de tarefa, coisa que poucos homens ganharam. Então, o salário dela que é coisa de 800 reais, mais ou menos, passou para 1200, 1300 reais. Por quê? Porque ela participava de tarefas que eu só dava para homens (MOISÉS, CONTRATANTE, 54 ANOS). Um aspecto interessante suscitado no depoimento de uma das entrevistadas refere-se ao desgaste físico causado pelo trabalho doméstico e pelas tarefas tidas femininas, tais como cozinhar e lavar roupa. Relata a trabalhadora: Trabalho pesado foi quando eu trabalhei em trabalho de mulher. Até hoje, eu tenho pesadelo com as panelas pesadas, eu levantando as panelas pesadas. Porque cozinheira é cozinheira, não tem esse privilégio de dizer: essa panela tá muito pesada, tá muito quente. De jeito nenhum, a cozinheira tem a obrigação de fazer (MARIA, SERVENTE, 42 ANOS). As falas supracitadas nos inspiram a fazer outras reflexões quanto à divisão do trabalho em função do sexo existente na construção civil. Portanto, no capítulo seguinte, desenvolveremos discussões concernentes ao trabalho de homens e mulheres no ramo produtivo em estudo.

59 57 4 A CATEGORIA TRABALHO SOB UM OLHAR DE GÊNERO Hirata (2002), ao considerar a categoria trabalho, afirma que disjunções clássicas, tais como trabalho/não-trabalho, trabalho assalariado/trabalho doméstico, foram recusadas como reflexo ideológico das relações sociais dominantes. A autora em epígrafe buscou reestabelecer os vínculos entre o que, até então, havia sido separado, sob o intuito de formular uma definição mais ampla do trabalho, que não estivesse reduzida aos domínios das relações mercantis e na qual fossem contemplados tanto o trabalho assalariado como o trabalho doméstico. Ao analisarmos o pensamento da autora supracitada, percebemos que seu conceito ampliado de trabalho é o mais adequado para subsidiarmos as discussões em relação à inserção das mulheres na construção civil, haja vista que, por meio da pesquisa de campo, foi possível constatar a inviabilidade de pensar a presença das mulheres no trabalho assalariado dissociando-a do seu contexto reprodutivo. O forte envolvimento destas trabalhadoras com o âmbito doméstico pode ser observada, por exemplo, quando um dos contratantes, entrevistado durante a pesquisa de campo, estabelece como requesito necessário à mulher, para que esta ingresse e permaneça na construção civil, a separação entre casa e trabalho, ou seja, a desvinculação entre a esfera produtiva e a reprodutiva. Nesse sentido, percebemos que até mesmo a tentativa do contratante em negar essa dupla dimensão do trabalho feminino, constitui-se uma evidencia da forte ligação das mulheres ao âmbito do doméstico. De acordo com Hirata e Zarifian (2003), a noção moderna de trabalho, como foi formalizada pela economia clássica, apresenta uma dupla dimensão. A primeira remete-se a uma definição antropológica, o trabalho constituindo uma característica geral e genérica da ação humana, explicam os autores: Para Marx (1867/ 1965), o trabalho é em essência um ato que se passa entre o homem e a natureza. O próprio homem exerce em relação à natureza o papel de uma potência natural específica. Ele põe em movimento sua inteligência e suas forças a fim de transformar matérias e lhes dar uma forma útil à sua vida. Ao mesmo tempo em que modifica sua própria natureza e desenvolve suas faculdades ai adormecidas (p. 65).

60 58 A segunda dimensão, que se constitui uma reinterpretação da primeira, considera que as trocas entre homem e natureza sempre se produzem em condições sociais determinadas. Esta dupla concepção situa a atividade do trabalho no exato ponto em que se entrelaçam dois tipos de relação, a saber: homem natureza e homem-homem. Contudo, sob o ponto de vista dos estudiosos em destaque, essa definição ainda é muito insuficiente, pois parte de um modelo assexuado de trabalho, no qual o homem, sujeito do trabalho, é apresentado como universal. Além disso, os dois tipos de relação em discussão não são apreendidas de maneira idêntica enquanto as relações homem-natureza tendem a ser naturalizadas e fixadas como uma base imutável da produção da vida humana, as relações sociais, ou seja, as condições sociais do trabalho são historicizadas. Logo, Essa dupla definição não pode ser pertinente se considerarmos as relações historicamente, que é o que torna possível considerar o sexo social. Se extrairmos todas as consequências da tese do homem como ser social, não existem trocas genéricas entre o homem e a natureza, mas trocas sempre específicas entre os homens e as naturezas. E os próprios homens são os homens e as mulheres: assim, torna-se possível falar de sexo do trabalho (p.66). Anterior a sua significação moderna, o trabalho era sinônimo de sofrimento e/ou imobilização forçada. Segundo Hirata e Zarifian (2003), A definição da economia política clássica, de alguma forma, colaborou para o enobrecimento do trabalho ao dar a este o privilégio de estar na origem da produção material da vida humana. Todavia, apesar de enobrecido, o trabalho voltou a ser associado ao seu antigo sentido, pois sob a égide do assalariamento, o trabalho, mais uma vez, tornou-se sinônimo de constrangimento e sofrimento para quem o exercesse. Em sua acepção moderna, o trabalho emerge sob uma forma inédita: a de uma atividade social que se pode objetivar, ou seja, passível de descrição, análise, racionalização e prescrição em termos precisos: Uma sequência de operações, consideradas em uma abstração generalizante, e o tempo mensurável necessário para realizá-las. Este trabalho moderno, disfarçado sob a expressão atividade que pode ser objetificada, é considerado deste então na relação salarial nascente, porque ele se desenrola em torno da questão doravante central, que é a apropriação do tempo do assalariado pelo capitalista (HIRATA E ZARIFIAN, 2003, p.66).

61 59 A noção moderna de trabalho encontra-se vinculada à separação entre o trabalho, sequência de operações que podem ser objetificadas, e a capacidade humana de realiza-las, a força de trabalho. Entre esses dois extremos encontra-se o tempo compreendido, nessa combinação entre trabalho e trabalhador, como referente central de avaliação da produtividade. A acepção de trabalho doméstico é contrária à ideia de objetificação, ela está vinculada às relações afetivas familiares e tem sua fundamentação na disponibilidade materna e conjugal das mulheres. Sob esta lógica, o trabalho doméstico apresenta-se como expressão do amor na esfera dita privada, atrelando, desta forma, os gestos repetitivos e os atos cotidianos de manutenção do lar e de educação dos filhos às mulheres, possibilitando a legitimidade necessária aos homens para sua isenção nessas atividades. Com relação à desvinculação do masculino ao âmbito doméstico, é interessante observar que a maioria das mulheres que trabalham na construção civil, apesar da sua longa e cansativa jornada de trabalho, são as responsáveis pelo serviço doméstico, embora, em alguns casos, exerçam a mesma função que seus maridos ou companheiros no mundo produtivo, evidenciando, deste modo, a isenção masculina no tocante aos afazeres domésticos. A fala de uma das entrevistadas, em relação à rotina que tem fora do horário de trabalho remunerado junto ao seu companheiro, ratifica a desvinculação do masculino do âmbito doméstico: Em casa, na semana, a gente não janta em casa. Tem uma lanchonete perto de casa, toda noite a gente vai, toma uma canja. No final de semana é que eu faço o almoço, lavo roupa e limpo a casa. É a faxina. Eu faço a faxina mais é no sábado, pra no domingo eu puder repousar. Ele não me ajuda, a responsabilidade de casa é minha (DEBORA, SERVENTE, 54 ANOS). Hirata e Zarifian (2003) certificam que, nos debates sobre trabalho, prevalece uma perpétua hesitação entre o trabalho assalariado, de um lado, e o trabalho doméstico ou útil em geral, de outro. Este aspecto expressa que duas questões, a captação do tempo e a produção do viver, se interpenetram sem, no entanto, se confundirem. Para os autores em discussão, as relações sociais do sexo permitem direcionar um olhar particularmente revelador sobre as duas questões citadas no

62 60 parágrafo anterior, pois a captação do tempo pela reprodução do viver não pode ser reduzida apenas ao tempo do trabalho assalariado. Além disso, o tempo do assalariamento é condicionado pelo tempo do trabalho doméstico. Deste modo, quando as mulheres ingressam massivamente no assalariamento, é sob um status duplo: como assalariadas e como portadoras das condições gerais, temporais, do assalariamento. De outro lado, a produção do viver é levada pelas mulheres para além dos limites das esferas da vida nas quais os homens encontram-se estabelecidos e registram a sua dominação. Para as mulheres, [...] os limites temporais se dobram e redobram, trabalho doméstico e profissional, opressão e exploração, se acumulam e articulam, e por isso elas estão em situação de questionar a separação entre as esferas da vida privada, assalariada, política que regem oficialmente a sociedade moderna (HIRATA E ZARIFIAN, 2003, p.67). A partir dos anos 1970, o conceito de trabalho passou a ser questionado em decorrência do desenvolvimento de pesquisas que introduziram a dimensão sexuada nas análises referentes ao trabalho. Danièle Kergoat 21, tendo por referência a problemática da divisão sexual do trabalho, inicia a desconstrução e, ao mesmo tempo, reconstrução do conceito de trabalho e seus conceitos conexos, inserindo nesta discussão a dimensão do trabalho doméstico e a esfera da reprodução. Destarte, para pensarmos a inserção das mulheres no mercado de trabalho consideramos necessário analisar como foram estabelecidas as relações de gênero e de trabalho no Brasil no curso histórico. Para o alcance deste propósito, acreditamos ser fundamental retroceder na historiografia referente ao trabalho das mulheres. 4.1 Mulher e trabalho: entre mudanças e permanências De acordo com a historiografia, a Constituição de 1824 do nosso país ignorava a existência das mulheres. Elas não podiam votar e a maioria delas era analfabeta. Para Calil (2000), o analfabetismo era apenas um dos aspectos que envolviam o ciclo de dominação sob o qual se encontravam as mulheres, 21 Não é possível indicar o ano, pois trata-se de uma contextualização que Hirata e Zarifian (2003) fazem para contextualizar a introdução da dimensão de gênero nas análises sobre a categoria trabalho.

63 61 constituindo um verdadeiro ciclo vicioso: Como elas não possuíam instrução, deduzia-se que não estavam habilitadas para participação da vida pública e, consequentemente, não havia razão para receber qualquer tipo de instrução. No período imperial 22, as mulheres de classe mais abastada não exerciam muitas atividades fora do lar. Desempenhavam, basicamente, o papel de mãe e dedicavam se aos afazeres domésticos. Expõe Falci (2011), as mulheres de classe mais abastada não tinham muitas atividades fora do lar. Eram treinadas para desempenhar o papel de mãe e as chamadas prendas domésticas orientar filhos, fazer ou mandar fazer a cozinha, costurar e bordar (p.249). As mulheres economicamente menos favorecidas, viúvas ou de uma elite empobrecida conseguiam dinheiro com a produção de doces por encomenda, arranjo de flores, bordados ou aulas de piano. Entretanto, o exercício de atividades remuneradas por mulheres não era bem visto pela sociedade, pois, em tese, servia para demonstrar a incapacidade provedora do homem da casa e sua decadência econômica. Nesse período vigorava a ideia de que a mulher não precisava exercer atividade remunerada fora de casa e não deveria ganhar dinheiro. Porém, às mulheres pobres não cabia outra alternativa que não fosse a de garantir seu sustento. Para tanto, trabalhavam como costureiras, rendeiras, lavadeiras e roceiras. Neste último caso, executavam trabalhos ditos masculinos, tais como, torar paus, plantar, carregar lenha e fazer colheita. Já as escravas trabalhavam, principalmente, na roça e constituíam, ao mesmo tempo, mão-de-obra para outros diversos serviços solicitados por seus senhores, trabalhavam na tecelagem, eram carpinteiras, cozinheiras e amas-deleite. Norma Telles (2011), ao retratar a situação das mulheres no século XIX, expõe que elas eram, de fato, excluídas de uma efetiva participação na sociedade. Assim, não existia possibilidade delas ocuparem cargos públicos, além de serem impedidas de ter acesso à educação superior. As mulheres, nesse período, permaneciam trancadas dentro de casas ou sobrados, mocambos e senzalas, 22 As Informações sobre a situação feminina neste período foram extraídas do artigo Mulheres do Sertão Nordestino Autora: Miridan Knox Falci (in História das Mulheres no Brasil).

64 construídos por seus pais, maridos, e/ou senhores. A autora em epígrafe destaca que as mulheres 62 [...] estavam enredadas e constritas pelos enredos da arte e ficção masculina. Tanto na vida quanto na arte, a mulher no século XIX aprendia a ser tola, a se adequar a um retrato do qual não era a autora. As representações literárias não são neutras, são encarnações textuais da cultura que as gera (p.408). A partir do final do século XIX, com o advento da Segunda Revolução Industrial, começa a desenhar se o esboço do mundo que se conhece hoje. O Brasil imperial, de base escravocrata e rural, não prevaleceu mais por muito tempo e passou por alterações em todos os seus segmentos. No princípio da industrialização, a execução dos serviços requeria força. Tal fato acabava limitando o acesso às fábricas aos homens. Porém, com a descoberta de novas tecnologias mecânicas e o barateamento das máquinas, tornando-as mais acessível aos industriais, ter força deixou de ser um dos critérios para o trabalho fabril, abrindo as portas das fábricas às mulheres e às crianças, que reconhecidos por sua condição de inferioridade, recebiam salários inferiores aos recebidos pelos homens. De acordo com Calil (2000), no campo, referente à desvalorização do trabalho de mulheres e crianças, não havia muita diferenciação em relação aos centros urbanos mulheres e crianças auxiliavam na colheita e não existiam significativas diferenciações entre os trabalhos por eles executados e os dos homens. Mesmo assim, os primeiros eram considerados meia enxada recebendo metade do valor pago a um homem adulto, correspondente a uma enxada. Neste contexto de mudanças, propiciado pela expansão da indústria, de acordo com Soihet (2011), a elite burguesa buscou a difusão de seus valores, ou ainda, dos novos valores do capitalismo industrial em meio às classes populares, disciplinando homens e mulheres não somente na esfera pública, mas também no âmbito privado, inclusive, lhes impondo o modelo familiar adotado pela elite, na perspectiva de que no regime capitalista, que se instaurava com a supressão do escravismo, o custo da reprodução da força de trabalho fosse calculado contando como certa a contribuição invisível, não remunerada, do trabalho doméstico das mulheres.

65 63 Vale assinalar que as mulheres pobres, para assegurar seu sustento e de sua família, precisavam trabalhar, assim ficavam sujeitas ao preconceito pelo fato de serem trabalhadoras quando o natural e socialmente aceitável era sua permanência em casa, cuidando dos filhos e do marido e, também, porque eram mulheres tão logo, imperava a desvalorização de seu trabalho. Segundo Rago (2011), o início da industrialização do Brasil constituiu-se um período de grande contratação de mão-de-obra feminina. Dados de 1894 apontam que, na indústria têxtil, elas correspondiam a 67,62% da força de trabalho, o equivalente a 569 mulheres empregadas neste tipo de estabelecimento fabril da época. Não obstante, é importante esclarecer que, segundo Calil (2000), diferentemente do que muitos pensam, a presença das mulheres nas fábricas não era em função da existência de máquinas nestes estabelecimentos. Estudos realizados no Brasil, no início da industrialização, evidenciam que as mulheres eram empregadas exatamente nos ramos que se utilizavam de menor mecanização, o caso da indústria têxtil. Segundo Rago (2011), no período em questão, de um modo geral, um significativo número de mulheres trabalhava nas indústrias de fiação e tecelagem. Estavam, contudo, ausentes de setores como metalurgia, calçados e mobiliário que eram ocupados por homens. Rago (2011) ainda expõe que: Além disso, muitas mulheres eram costureiras e completavam o orçamento doméstico trabalhando em casa, às vezes até 18 horas por dia, para alguma fábrica de chapéu ou alfaiataria. Segundo o jornal Fanfulla, de 4 de maio de 1913, eram milhares as mulheres que, em São Paulo, usavam desse expediente. Para os industriais, era um negócio bastante lucrativo, porque deixava de pagar determinados impostos e ainda exploravam discretamente uma força de trabalho cuja capacidade de resistência era baixa. Para as mulheres, contudo, devia ser bem complicado, já que muitas eram obrigadas a se prostituir para completar o orçamento (p.581). Outro aspecto interessante refere-se ao fato da expulsão das mulheres dos postos de trabalho das fábricas ter se dado concomitantemente ao surgimento de uma legislação de proteção ao trabalho, ou seja, a partir do momento em que os movimentos operários adquiriram força e passaram a pressionar por leis que garantissem, minimamente, melhores condições de trabalho. É importante destacar que o avanço da industrialização nas fábricas também contribuiu para a intensificação do processo de substituição do trabalho feminino pelo masculino,

66 restando às mulheres as tarefas menos especializadas e as piores remunerações diante da divisão do trabalho nas fábricas. 64 Fica claro, portanto, o quadro de discriminação e preconceito no qual estavam inseridas as mulheres trabalhadoras durante o século XIX e início do século XX. Porém, a partir de então surgem as primeiras leis de proteção à mulher, como por exemplo, a Lei n , de 29 de dezembro de 1917, que instituiu o Serviço Sanitário do Estado de São Paulo e que proibiu o trabalho de mulheres em estabelecimentos industriais no último mês de gravidez e no primeiro puerpério. Os anos 50, no Brasil, foram marcados por um forte crescimento urbano e grande industrialização que, conseqüentemente, exigiram alterações sociais no âmbito público e privado. Porém, segundo Pinsky (2011), As distinções entre os papéis femininos e masculinos, entretanto, continuaram nítidas; a moral sexual diferenciada permanecia forte e o trabalho da mulher, ainda que cada vez mais comum, era cercado de preconceitos e visto como subsidiário a trabalho do homem, o chefe da casa. Se o Brasil acompanhou, à sua maneira, as tendências internacionais de modernização e emancipação feminina impulsionadas com a participação das mulheres no esforço de guerra e reforçadas pelo desenvolvimento econômico - também foi influenciado pelas campanhas estrangeiras que, com o fim da guerra, passaram a pregar a volta das mulheres ao lar e aos valores tradicionais da sociedade (p.608). Assim, enquanto as mulheres de classe média eram incentivadas a ficar em casa e dedicarem-se aos cuidados com a família, para as mulheres pobres trabalhar era o único meio de garantir sua sobrevivência e de sua família. As mulheres de classe média que precisassem ou quisessem trabalhar, tinham seus ganhos vistos como complementares aos do marido. Calil (2000) explica que, em decorrência do forte processo de industrialização e urbanização ocorrido no Brasil, muitos produtos, antes produzidos de forma doméstica, como por exemplo, roupas, pães, manteiga, carne e frango, foram absorvidos pela produção industrial. Deste modo, para consumir tais bens as famílias precisavam ter dinheiro. Logo, na busca de aumentar a renda familiar, a mulher foi, cada vez mais, se inserindo nos espaços públicos e o trabalho feminino tornando-se mais comum.

67 65 Destarte, as mulheres foram ocupando progressivamente diversos postos de trabalho, que, por conseguinte, desencadeou uma demanda por investimentos em escolaridade. Trabalhar passou a ser visto com algo sofisticado, embora o preconceito com o trabalho feminino persistisse. Para os que defendiam os valores familiares, o trabalho feminino denotava uma ameaça à vida familiar. Com o passar dos anos, a mulher trabalhadora foi tornando-se uma figura cada vez mais presente no cotidiano das cidades, passando, então, a protagonizar as lutas por seus direitos sociais Porque lutar é preciso - As lutas e conquistas do Movimento Feminista em prol da equidade de gênero De acordo com Lobo (1991), a história do movimento de mulheres não é uma história linear. Segundo ela, os primeiros passos das mulheres no terreno das lutas foram no sentido de sua emancipação enquanto cidadãs. Sob este intuito, lutaram pelo direito ao voto, pela igualdade na educação e pela igualdade civil. A autora em discussão afirma que, paralelamente ao feminismo liberal, um feminismo de classe - vinculado ao movimento e aos partidos socialistas - tomou forma na Europa. Neste período, as operárias feministas denunciaram as condições de exploração às quais estava submetida a força de trabalho feminina. A exemplo pode-se citar os baixos salários e a opressão sexista exercida pelos patrões. Entretanto, convém assinalar que a luta das mulheres não se restringia a estes aspectos. Elas também lutaram contra os sindicatos que discriminavam as mulheres e contra a opressão na família operária. No que se refere à realidade brasileira, Lobo (1991) evidencia que: No Brasil, desde o fim do século passado 23, sinhás e iaiás publicaram jornais femininos, em que se preocupavam, sobretudo, com a possibilidade de se educar profissionalmente, para que pudessem se tornar independentes dos maridos, conhecer melhor a realidade, educar melhor os filhos (p.213). 23 O século citado pela autora é o XIX.

68 66 Posteriormente, várias correntes de feminismo se desenvolveram questionando e evidenciando os problemas da educação feminina, a posição legal da mulher, as relações familiares, os privilégios profissionais e a questão do voto. Lobo (1991) aponta que o sufragismo brasileiro é registrado como a primeira luta organizada das mulheres. A luta pelo direito ao voto foi levada a efeito, sobretudo, por Bertha Lutz 24. Este movimento pôs em questão a predominância exclusivamente masculina na esfera política, intelectual e profissional. Paralelamente, desenvolviam-se as lutas das mulheres operárias que, segundo Lobo (1991), tinham uma orientação predominantemente anarquista e fizeram de uma de suas bandeiras de luta o combate à exploração da força de trabalho feminina. Entretanto, alerta a autora: [...] essa participação não parece ter qualificado a mulher para uma participação política em pé de igualdade na política operária: embora consciente dos efeitos provocados pelas condições de exploração do trabalho feminino, o movimento não propiciou a prática política feminina, autônoma e organizada (p.214). De acordo com Brasil (2010), a história do movimento feminista possui três grandes momentos, a saber: o primeiro deles, ocorrido no fim do século XIX, vinculase às reivindicações por direitos democráticos, tais como o direito ao voto, ao divórcio, à educação e ao trabalho. O segundo momento, datado já no final da década de 1960, foi marcado pela liberação sexual que teve como um de seus elementos propulsores o aumento dos contraceptivos. Por fim, o terceiro momento, iniciado já no final dos anos de 1970, teve como marca a luta de caráter sindical. Tendo como referência os estudos de Lobo (1991), que analisa o movimento feminista levando em consideração sua temporalidade simbólica, é possível percebermos que a periodização dos movimentos de mulheres é marcado por dois momentos: [...] um momento de emergência dos discursos sobre a condição feminina, centrados na denúncia das formas de discriminação e na articulação entre as chamadas reivindicações específicas (creches, contracepção, igualdade salarial) com as reivindicações gerais de justiça social e liberdades 24 Bertha Lutz, em 1922, fundou a Federação Brasileira pelo Progresso Feminino. O referido movimento foi centrado na conquista da cidadania plena e, segundo explica a autora, limitou-se a lutar pela participação no interior do sistema vigente da época.

69 democráticas. Num segundo momento, emerge a noção dos direitos: o direito à igualdade entre homens e mulheres, o direito à diferença, os direitos sociais e políticos das mulheres, tematizados nas reivindicações específicas (p.230). Nas primeiras décadas do século XX, as brasileiras obtiveram importantes conquistas. Em São Paulo, no ano de 1907, por exemplo, ocorreu a greve das costureiras que se constituiu o ponto de partida para o movimento em prol de uma jornada de trabalho de oito horas. 67 Dez anos depois, em 1917, o quadro de funcionários do serviço público passou a ser composto também por mulheres. Em 1919, a Conferência Do Conselho Feminino da Organização Internacional do Trabalho aprovou a resolução de salário igual para o trabalho igual. Outra década de destaque, quando nos referimos ao movimento feminista no Brasil e seus avanços no campo político, trata-se dos anos de Este período foi marcado pela conquista do direito ao voto feminino, através do Código Eleitoral. Sobre a questão vale ainda mencionar: Apesar da importância simbólica dessa conquista, à época, foram determinadas restrições para o exercício desse direito. Foi só com a constituição de 1946 que o direito pleno ao voto foi concedido. Mesmo assim, um ano após de ter conquistado o direito ao voto, em 1933, Carlota Pereira Queiroz torna-se a primeira deputada brasileira (BRASIL, 2010) 25. Com o advento da ditadura do Estado Novo, em 1937, o movimento feminista perdeu sua força e somente no fim da década seguinte voltou a atuar mais intensamente com a criação da Federação das Mulheres do Brasil e com a consolidação da presença feminina nos movimentos políticos. Contudo, pouco tempo depois, a partir de 1964, o país, mais uma vez, vivenciou outro período ditatorial e, por conseguinte, as ações do movimento foram sufocadas, sendo retomadas na década de De acordo com Lobo (1991), foi a partir de 1975 que se voltou a falar em movimento feminista. Com a ajuda, acima de qualquer suspeita, da ONU, as mulheres reaparecem (p.216). 25 Não é possível registrar a página, pois este documento encontra-se disponibilizado virtualmente no site: (Data do acesso: 1º de outubro de 2012).

70 68 A criação do Movimento Feminino pela Anistia, em 1975, foi um dos acontecimentos de maior relevância da década de No mesmo ano, a ONU, juntamente com a Associação Brasileira de Imprensa (ABI), realizou uma semana de debates sobre a condição feminina. Deste modo, aos poucos, temas proibidos, tais como o aborto, a violência sexual, a contracepção, assim como reivindicações referentes ao trabalho e à cidadania ganharam legitimidade. Na década em epígrafe também foi aprovada a lei do divórcio, uma antiga reivindicação do movimento. Já nos anos de 1980, as feministas dedicaram-se às lutas contra a violência às mulheres e ao princípio de que os gêneros são diferentes, mas não desiguais. Nesta mesma década, no ano de 1985, foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher (CNDM), subordinado ao Ministério da Justiça, sob o intuito de eliminar a discriminação e aumentar a participação feminina nas atividades políticas, econômicas e culturais do país. Uma das atuações de destaque do referido Conselho deu-se em 1987, quando em conjunto com organizações da sociedade civil e ONGs pleiteou direitos civis iguais para homens e mulheres. Tal movimento ficou conhecido como lobby do batom. Dentre as conquistas barganhadas pelo movimento supracitado encontramse: o poder de decisão das mulheres sobre suas casas, com os tribunais decidindo em caso de conflitos; a destituição da supremacia masculina em relação às questões familiares; a eliminação do direito do homem de impedir que a sua esposa trabalhe, em quaisquer circunstâncias; o reconhecimento da violência sexual como crime contra os direitos humanos em oposição ao crime moral, implicando assim em penalidades mais duras para os que cometem crimes sexuais; E, por fim, expansão dos direitos trabalhistas e previdenciários às empregadas domésticas. O movimento de mulheres do Brasil, conforme assevera Carneiro (2003), encontra-se entre os movimentos sociais de maior atuação no país. Um fato que ratifica esta proposição foram os encaminhamentos da Constituição de 1988, que contemplou cerca de 80% de suas propostas, o que mudou radicalmente o status jurídico das mulheres no Brasil.

71 69 Por este resgate histórico é possível perceber a grande contribuição do movimento feminista para a ampliação dos direitos da mulher e para a equidade entre os gêneros, embora muitas conquistas não tenham, ainda, sido plenamente asseguradas. Assim, já no século XXI, o movimento feminista continua com suas lutas tendo como pauta de reivindicações pontos como: Reconhecimento dos direitos econômicos, sociais, culturais e ambientais das mulheres. Necessidade do reconhecimento do direito universal à educação, à saúde e à previdência. Defesa dos direitos sexuais e reprodutivos. Reconhecimento do direito das mulheres sobre a gestação, com acesso de qualidade à concepção e/ou contracepção. Descriminalização do aborto como um direito de cidadania e questão de saúde pública (BRASIL, 2010). Na seção seguinte, esboçaremos o quadro econômico, político e social vivenciado pelo Brasil, durante as décadas de 1980 e 1990, tendo em vista que este período constituiu-se tempo de muitas transformações na sociedade na brasileira e, também, por tratar-se de um período registrado pelo Sindicato da Indústria da Construção Civil de Fortaleza e Região Metropolitana como marco do ingresso das mulheres na construção civil de Fortaleza. Essa inserção, conforme informado no início deste estudo, iniciou-se, aproximadamente, entre os anos de 1994 e Crise, instabilidade e mudanças: Os efeitos da reestruturação produtiva sobre o trabalho das mulheres no Brasil De acordo com Behring (2003), os anos de 1980 foram marcados pela revolução tecnológica e organizacional na produção, pela mundialização da economia e pelo ajuste neoliberal. Houve, portanto, uma resposta contundente do capital à queda das taxas de lucro ocorrida na década de De acordo com Soares (2000), tal conjuntura favoreceu a expansão do processo de implantação do modelo neoliberal, cuja concepção de Estado, enquanto interventor econômico, foi eliminada. O Estado, por sua vez, sofreu uma drástica redução de seu tamanho no que se refere à implementação de Políticas Públicas, vigorando a ideia do chamado Estado mínimo. Contudo, o mesmo se maximizou como incentivador e protetor do capital, atuando, inclusive, como grande financiador da acumulação privada. Tudo isso sob a égide do discurso de globalização.

72 70 Objetivando a manipulação ideológica, o discurso neoliberal prometia a recuperação do crescimento econômico e do bem-estar social, bem como a expansão do mercado de trabalho, o aumento dos salários reais e a melhoria da qualidade de vida da população. Entretanto, para Gutiérrez, Long e Parga (2003), tal modelo econômico apresentou-se imerso em contradições, na medida em que propôs para os países periféricos a liberalização comercial e financeira, ao passo que, nos países centrais, o que se constatou foi um intenso neoprotecionismo a fim de transferir sua crise para aqueles países, via dívida externa, mantendo, assim, protegidas suas economias. Segundo Soares (2000), acreditava-se que seria o livre jogo das forças de mercado o vetor que conduziria a uma melhor utilização dos meios produtivos em benefício de toda a coletividade, havendo, deste modo, uma distribuição racional dos recursos. Todavia, ao nos determos às reais motivações implícitas nos princípios do neoliberalismo e da globalização, nos deparamos com interesses de ordem econômica e política bem definidos. Na verdade, conforme apontam Gutiérrez, Long e Parga (2003), o neoliberalismo e a globalização representaram instrumentos estratégicos fundamentais para o capital, principalmente para o financeiro, no sentido de submeter a economia mundial aos seus interesse e propósitos. Para tanto, promoveram, dentre outras ações, o desmantelamento das estruturas, das instituições e dos benefícios econômicos e sociais do Estado de Bem Estar Social; a reestruturação da economia capitalista internacional em favor dos interesses do capital financeiro especulativo, das grandes corporações transnacionais e das potências capitalistas; a privatização dos patrimônios nacionais; a apropriação de recursos naturais estratégicos, como os energéticos, a água e a biodiversidade; a promoção do individualismo egoísta e da ausência de compromisso social e político das pessoas; e, por fim, a facilitação da exploração da força de trabalho, favorecida pelo clima de terrorismo psicológico ao qual grande parcela dos trabalhadores é submetida. O medo de ser mais um a compor a esfera do desemprego favorece a imposição das normas do capital e sua consequente introjeção pelos trabalhadores.

73 71 Trata-se, portanto, de um modelo de acumulação em que, cada vez mais, segundo Macário (2002), o capital assume o papel de sujeito universal do metabolismo sócio-histórico, ao passo que homens e mulheres desenvolvem seus atos como suporte deste ente auto-referente. E isto não por escolha própria, mas na medida mesma que têm de responder as suas necessidades (p.3,4). Bruschini (1998b) ao analisar as transformações ocorridas no Brasil no período corespondente à década de 1980 e aos primeiros anos da década de 1990, mais precisamente até o ano de 1995, comenta que o país passou por profundas transformações tanto de ordem política, econômica como social. No âmbito econômico, foram presenciadas fortes turbulências, especialmente entre os anos de 1986 e Nesse período, foram adotados, exatamente, seis planos de estabilização econômica, foram eles: Cruzado I, Cruzado II, Bresser, Verão, Brasil Novo e Real. Esses planos, sob o intuito de estagnar a crise inflacionária, desencadearam o congelamento dos preços e difíceis processos de desindexação, acarretando, assim, cinco mudanças na moeda nacional de cruzeiro passou, sucessivamente, para cruzado, cruzado novo, cruzeiro novo e, por fim, real. A atividade econômica oscilou entre períodos de aquecimento e de recessão, contudo, principalmente nos anos de 1980, prevaleceu uma permanente e prolongada crise econômica. Sobre este momento, manifesta-se Bruschini (1998b), O início da década de oitenta marca a interrupção de um longo período de crescimento da economia brasileira, com queda do produto interno bruto e retração da indústria de transformação, principalmente bens de consumo duráveis e bens intermediários. Tendo ancorado seu crescimento no endividamento externo, o país vinha sofrendo os efeitos dos programas de estabilização econômica implementados pelos países industrializados desde as crises do petróleo na segunda metade da década de 1970(p.19). Segundo Abramo (2001), durante o período em epígrafe, a maioria das famílias sobreviveu à crise fazendo um enorme esforço. Concomitantemente, ocorreu um aumento na participação dos membros da família no trabalho para o mercado e uma intensificação do trabalho nas atividades reprodutivas. Na ocasião, aconteceu um aumento nas taxas de desemprego. Além disso, houve uma alteração na distribuição da população economicamente ativa, que foi

74 72 deslocada do setor industrial para ocupações do setor informal e, por conseguinte, vivenciou-se um aumento no número de autônomos e de subempregados. Vale destacar ainda a redução nos níveis de salário real e a diminuição do poder de compra ocasionada pela inflação. Neste contexto de crise econômica, muitas mulheres tiveram que buscar trabalho para poder complementar a renda familiar ou supri-la integralmente. Porém, segundo Bruschini (1998b), o significativo aumento da atividade das mulheres, uma das mais importantes transformações ocorridas no país desde os anos de 1970, foi decorrente não apenas da necessidade econômica e das oportunidades oferecidas pelo mercado, mas, também, em grande parte, das transformações demográficas, culturais e sociais ocorridas no país que afetaram às mulheres e às famílias brasileiras. Explica a estudiosa: A intensa queda da fecundidade reduziu o número de filhos por mulher, sobretudo nas cidades e nas regiões mais desenvolvidas do país, liberandoa para o trabalho. A expansão da escolaridade e o acesso às universidades viabilizaram o acesso das mulheres a novas oportunidades de trabalho. Por fim, transformações nos padrões culturais e nos valores relativos ao papel social da mulher, intensificados pelo impacto dos movimentos feministas desde os anos setenta e pela presença cada vez mais atuante das mulheres nos espaços públicos, alteraram a constituição da identidade feminina, cada vez mais voltada para o trabalho produtivo. A consolidação de tantas mudanças é um dos fatores que explicariam não apenas o crescimento da atividade feminina, mas também as transformações no perfil da força de trabalho desse sexo (p.28). É importante registrar que a entrada das mulheres para atuar no setor da construção civil em Fortaleza, entre os anos de 1994 e 1995, se deu, justamente, nesse contexto de transformação que acometia o país. Elas foram absorvidas pelo setor para efetuar a limpeza dos condomínios que eram construídos pelos homens que trabalhavam nas construtoras. Além disso, a suposta habilidade manual e a minúcia favoreceram para que as empresas utilizassem sua mão de obra, também, para o emassamento da cerâmica dos apartamentos que eram construídos. Todavia, ao analisarmos a entrevista concedida pelo STICCFRM 26, percebemos que a inserção feminina na construção civil em Fortaleza, neste período, não se deu, apenas pela habilidade e bom desempenho das mulheres para o trabalho. Elas contribuíram, de certa maneira, para a redução dos custos na 26 Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Fortaleza e Região Metropolitana

75 73 produção das construtoras, pois, na medida em que não se esperava mais que os condomínios ficassem prontos para ser realizada sua limpeza, quando os homens terminavam o serviço, as mulheres, de imediato, limpavam, deixando o espaço já pronto. Além disso, elas faziam o serviço de emassamento da cerâmica, considerado simples, mas que, também, requeria um certo tempo da tarefa masculina. Enquanto isso, os homens eram lotados em outras frentes de serviço, otimizando, assim, o tempo da produção. Fica evidente, portanto, que as mulheres acumulavam duas funções, contudo recebiam somente o valor de uma. A crise econômica não ocasionou, para as mulheres, uma volta ao lar. Elas continuaram aumentando tanto as taxas de atividade como também as taxas de desemprego feminino. A Tabela 1 evidencia a evolução da proporção de mulheres na composição da PEA, entre as décadas de 1950 e 1990, nos países da América Latina. Tabela 1: Evolução da proporção de mulheres no total da PEA 27 (%) entre 1950 e América Latina e países do MERCOSUL POPULAÇÃO FEMININA ECONOMICAMENTE ATIVA (%) América 21,9 19,0 21,1 25,3 28,1 Latina Argentina 20,0 21,2 24,8 25,8 27,9 Brasil 15,4 17,8 20,4 27,0 29,6 Chile 25,2 22,0 22,2 26,0 29,4 Paraguai 21,9 21,9 21,0 25,0 24,4 Uruguai 18,7 19,4 27,1 33,5 38,5 Fonte: Valdés & Gomáriz (1995) apud Abramo (2001). Hirata (2002) destaca que a articulação entre estruturas familiares e esfera produtiva é, em grande parte, desconhecida nos estudos sobre o emprego e a crise econômica. Para ela, a situação dos trabalhadores na esfera familiar vincula-se às estratégias de gestão da força de trabalho e, particularmente, às políticas de demissões e de readmissões em períodos de crise. Deste modo, a posição do 27 Correspondente à população acima de 10 anos de idade.

76 74 trabalhador na família é ostensivamente considerada nessa política e essa posição interfere de maneira simetricamente oposta em função do sexo a que pertence o trabalhador: Os homens têm sua posição no trabalho assalariado reforçado pela situação familiar, sua situação de provedor de fundos assegura- lhes uma proteção relativa face do desemprego; as mulheres veem, ao contrário, sua posição na família enfraquece sua situação profissional (p.184). Hirata (2002) através de uma pesquisa realizada na década de 1980, em um estabelecimento de equipamentos eletrônicos de São Paulo 28, pôde constatar que 67% dos operários com filhos, que trabalhavam na fábrica em dezembro de 1981, ainda estavam empregados um ano depois, e somente 34% dos operários sem filhos mantiveram seus empregos. Com relação às mulheres, a taxa de estabilidade das operárias foi de 27% para as que não tinham filhos e 32% para as que tinham. Logo, é possível perceber que a paternidade ou a maternidade não têm as mesmas consequências sobre a manutenção do emprego operário (p.185). Abramo (2001) registra que, na década de 1980, não ocorreu apenas um aumento quantitativo da inserção das mulheres na economia, mas sim uma mudança no modelo da participação laboral feminina, refletida numa maior homogeneização do comportamento de atividade de homens e mulheres. No mundo da produção e do trabalho ocorreu a difusão do modelo japonês, o ohnismo/toyotismo, fundado, segundo Behring (2003), nas possibilidades abertas pela introdução de um novo padrão tecnológico: a revolução microeletrônica. É a chamada produção flexível, que altera o padrão rígido fordista (p.34). Para Zarifian (1993), o modelo japonês é subentendido pela busca gerencial de maior eficiência do aparelho industrial em um contexto de produção flexível, com series curtas e crescente diversificação (p.26). De acordo com Harvey (2011), a acumulação flexível: É marcada por um confronto direto com a rigidez do fordismo. Ela se apoia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores 28 Que empregava mais de 1000 pessoas, 587 delas eram operários de produção de ambos os sexos, dos quais 60% eram mulheres

77 de produção inteiramente novos, novas maneiras de fornecimentos de serviços financeiros, novos mercados e, sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões de desenvolvimento desigual tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego no chamado "setor de serviços", bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas (p.140). Para Hirata e Zarifian (199l), flexibilidade do novo modelo de produção se refere a diferentes dimensões do sistema econômico: flexibilidade na forma de produção, com alteração na divisão técnica do trabalho. Flexibilidade na estrutura organizacional das empresas, marcada pela presença de redes de subcontratação e sociedade entre as empresas. Flexibilidade no mercado de trabalho, com crescentes desregulações e alterações nos contratos, costumes e práticas que organizam o mercado de trabalho. 75 Segundo Hirata (1993), o modo de produção em destaque, no que se refere à organização do trabalho e da empresa, pressupõe uma forma de divisão social do trabalho baseada na polivalência, marcada pela rotação de tarefas e pela nãoalocação do trabalhador a um posto específico de trabalho; pelo predomínio do grupo de trabalho sobre os indivíduos; pela divisão de trabalho menos clara entre os operários de manutenção e de os fabricação; e, por último, pelas práticas de gestão, como just-in-time, Kanban e círculos de controle de qualidade (CCQS), que permitem ao trabalhador conhecer e dominar melhor o processo global de produção. Para Abramo (2001), significativa parte da literatura retrata o modelo japonês como um dos principais modelos virtuosos de reestruturação produtiva, ao lado do modelo dos distritos industriais italianos. Segundo esta literatura, As relações entre as empresas no modelo japonês se caracterizariam por um alto grau de cooperação (incluindo o intercâmbio de informações, capacitação e assistência técnica da empresa mãe aos fornecedores) e esse tipo de relação teria como efeito a disseminação das melhores práticas produtivas ao longo da cadeia. O estabelecimento de redes estáveis e cooperativas entre clientes e fornecedores com essas características abriria também a possibilidade de fortalecer e consolidar micro e pequenas empresas, com efeitos consequentemente benéficos sobre sua capacidade de geração de emprego (p.81).

78 76 Contudo, a autora apresenta o pensamento de outros autores 29, em relação ao modelo produtivo em evidência, que aponta para uma configuração das cadeias produtivas bem mais complexa, baseada em uma importante segmentação da estrutura industrial e do mercado de trabalho, que se expressam em desempenhos produtivos e em condições de trabalho muito diferentes, dependendo do lugar que cada empresa ocupa na cadeia produtiva. Sob esta lógica, o trabalho estável, bem pago e qualificado encontram-se nas empresas cabeças e nas fornecedoras de primeira linha. Nos demais níveis, nos espaços de produção de peças tecnologicamente menos sofisticadas, prevalecem o trabalho menos qualificado e instável. É justamente nestas esferas que se situa o trabalho das mulheres. Abramo (2001), ao analisar o toyotismo, levando em conta a dimensão de gênero, aponta importantes problemas relacionados ao modelo em estudo, a saber: no Japão, os empregos vitalícios, qualificados e remunerados em geral foram ocupados pelos trabalhadores homens das grandes empresas industriais. Tão logo, às mulheres ficaram reservados os empregos menos qualificados, instáveis e pior remunerados, geralmente associados às empresas de subcontratação. Outro aspecto de destaque refere-se ao fato de que, no Japão, por trás da grande dedicação ao trabalho por parte dos homens, encontra-se o confinamento das mulheres à esfera doméstica durante o longo período de reprodução e educação dos filhos. A autora destaca que uma série de estudos empíricos realizados na América Latina indica que o novo modelo de flexibilização, para as mulheres, passa pela utilização intensiva de formas de emprego precárias, tais como contratos de curta duração, empregos em tempo parcial e trabalho em domicílio, além disso, A concentração da presença feminina nas empresas mãos dos novos encadeamentos produtivos (ou seja, aquelas em que predomina o trabalho instável, pouco qualificado e mal pago), em oposição às empresas cabeça (em que se concentraria o trabalho mais bem qualificado, mais estável e melhor remunerado), na terminologia de Castillo e Santos (1993), é uma das formas pelas quais se manifesta esse fenômeno (ABRAMO, 2001, p.83). 29 Ferreira e outros,1990; Kamada, 1994; Leite, 1996.

79 77 Abramo (2001) ratifica a importância de estudar o trabalho feminino no âmbito das dinâmicas dos novos paradigmas produtivos, sob o intuito de tornar visível a presença das mulheres nos setores inferiores das cadeias produtivas e examinar até que ponto a inovação tecnológica e organizacional lhes proporciona maiores possibilidades de emprego e melhores condições de trabalho. Para retratar a situação das mulheres frente às inovações tecnológicas no contexto da reestruturação produtiva, Abramo (2001) expõe os resultados de uma pesquisa realizada no Chile, em No estudo em destaque, nas empresas industriais, em geral, a relação estabelecida entre o processo de modernização e o trabalho feminino se expressava de forma pouco favorável às mulheres, a exemplo, pode-se citar que a presença feminina na maquinaria programável, ou seja, mais moderna, era bem inferior em relação à sua participação na operação da maquinaria convencional. A situação acima descrita relaciona-se, em primeiro lugar, à incorporação do maquinário novo em seções-chave do processo produtivo, nas quais os postos de trabalho, por serem mais qualificados, eram ocupados majoritariamente por homens. Contudo, mesmo quando a nova maquinaria era introduzida em setores ocupados, exclusiva ou principalmente, por mulheres, quase sempre, as empresas designavam aos homens a operação dessas máquinas, ratificando a masculinização dos postos de trabalho relacionados às novas tecnologias. Deste modo, [...] os processos de modernização tecnológica e organizacional não haviam alterado a tradicional divisão sexual do trabalho no sentido da abertura de maiores oportunidades de acesso da mulher a novas profissões e ocupações, ou a postos de trabalho melhor remunerados ou de maior responsabilidade hierárquica (ABRAMO, 2001, p.88). Nesse sentido, faz-se conveniente mencionarmos o pensamento de Harvey (2011), quando este afirma que as novas condições do mercado de trabalho, de uma maneira geral, reacentuaram a vulnerabilidade dos grupos desprivilegiados, como é o caso das mulheres. Afirma, ainda, que as novas estruturas do mercado de trabalho, além de facilitar a exploração da força de trabalho das mulheres em ocupações de tempo parcial, substituindo, os trabalhadores homens centrais, melhor remunerados e menos facilmente demitíveis, pelo trabalho feminino mal pago, propiciam o retorno dos sistemas de trabalho doméstico e familiar e da

80 subcontratação, permitindo o ressurgimento de práticas e trabalhos de cunho patriarcal feitos em casa. 78 No período em estudo, em decorrência da estagnação econômica, ocorreu uma diminuição nos postos de trabalho no setor secundário da economia. Houve, porém, um aumento na oferta de trabalho no setor terciário, justamente o setor que mais deu espaço à mão de obra feminina no período. Mas convém salientar que a inserção das mulheres no mercado de trabalho brasileiro tem como uma de suas marcas a precariedade. Hirata (2009), tendo como referência pesquisas realizadas sobre o trabalho e o desemprego em âmbito internacional, apresenta três indicadores referentes ao trabalho precário: 1) Ausência de proteção social e de direitos sociais, inclusive de direitos sindicais: o trabalho informal nos países do Sul concerne a atividades realizadas sem proteção social (previdência social, aposentadoria), férias, etc. O mesmo ocorre com um certo número de empregos do setor de serviços nos países do Norte (trabalhadores domésticos, faxineiras, etc.); 2) Horas reduzidas de trabalho, que resultam em salários baixos e que levam frequentemente à precariedade; por exemplo, uma mulher que trabalhe em tempo parcial, mesmo tendo um contrato por tempo indeterminado, pode ser considerada como alguém que exerce um trabalho precário; 3) Níveis baixos de qualificação: a ausência de qualificação formal e a consequente baixa renda levam, em inúmeros casos, à precariedade e ao desemprego (p.26). A autora explica que levando em consideração os indicadores em evidência, apresenta-se uma divisão sexual da precariedade, pois as mulheres encontram-se em maior número, quando comparadas aos homens, tanto no trabalho informal quanto no trabalho em tempo parcial. No concernente ao desemprego, dados estatísticos demonstram que este também atinge de forma diferenciada aos homens e às mulheres, conforme ilustra a Tabela 2: Tabela 2: Taxa de desemprego no Brasil em função do gênero -1980/2009 (%) Mulheres 2,9 8,0 12,1 11,1

81 79 Homens 2,0 5,6 7,9 6,2 Fonte: Madalozzo (2011) No contexto da consolidação da lógica neoliberal, com a chegada dos anos 90, presenciou-se o aumento das taxas de desemprego, assistiu-se a um grande avanço tecnológico e uma noção passou a ser comumente usada - a globalização da economia. Esses três aspectos apresentam-se como efeito do que se denominou Terceira Revolução Industrial. Referida Revolução afetou todos os países, tendo em vista o seu caráter global. Seus efeitos negativos, contudo, foram mais agudos nos países cuja capacidade de adaptação dos trabalhadores às novas tecnologias foi mais difícil. Esta adaptação vincula-se ao nível de escolaridade desses trabalhadores. Hirata (2003) ao estabelecer os contornos e limites da noção de globalização, remete-se ao pensamento dos economistas críticos os quais entendem esse processo como um movimento de interdependência crescente de todos os mercados nacionais para dar origem a um mercado mundial unificado. Para a autora, pelo menos três dimensões concedem a este processo um caráter novo, a saber: a primeira delas, refere-se ao fato de que ele é estimulado por políticas governamentais neoliberais, permitindo, assim, a liberalização das trocas comerciais, a desregulamentação, a abertura dos mercados e as novas lógicas de desenvolvimento das empresas multinacionais. Os efeitos decorrentes dessas tendências são as mais diversas, destacam-se aqui, as privatizações, o desenvolvimento da terceirização e da externalização da produção. Na perspectiva do trabalho e do emprego das mulheres, as consequências dessas tendências apresentam-se de forma negativa, pois este segmento passou a trabalhar massivamente nas atividades terceirizadas. A segunda dimensão é alusiva ao desenvolvimento acelerado das novas tecnologias da informação e da comunicação (NTIC) e à expansão das redes que torna possível a circulação imediata de informações e dados das mais diversas ordens. O aumento no número de assalariadas nos anos 1990, no Sul, se deve, em parte, ao desenvolvimento das NTIC.

82 80 A terceira dimensão vincula-se ao novo papel desempenhado pelos organismos internacionais, paralelamente e nem sempre de acordo com a regulação exercida pelos Estados-nações e pelas empresas multinacionais. A atuação desses organismos internacionais 30 e das novas instituições europeias tem repercussões sobre a situação das mulheres, pois favorece, cada vez mais, o desenvolvimento de políticas em prol da equidade entre os sexos. É importante esclarecer que esse novo cenário econômico e financeiro produz efeitos diferenciados nos países de acordo com sua localização no globo e conforme o assunto em questão vincule-se aos homens ou às mulheres. Hirata (2003) acredita que apesar das tendências decorrentes da globalização, tais como a atuação de forças homogeneizantes e a interdependência cada vez maior dos mercados nacionais no sentido de constituir um mercado mundial unificado, não há uma extinção da diversidade. Presencia-se, todavia, uma acentuação da heterogeneidade das condições de trabalho, do emprego e das atividade de mulheres e homens que vivem nos países do Sul e do Norte. O modelo de trabalho precário, vulnerável e flexível tomou, nos países do Norte, a forma de trabalho em tempo parcial e, nos países do Sul, a forma de trabalho informal, sem estatuto e sem a menor proteção social (HIRATA, 2003, p.16). Para a autora em destaque, um dos paradoxos da globalização situa-se na premissa de que a liberalização do comércio e a intensificação da concorrência internacional trouxeram consigo um aumento, percebido em escala mundial, do emprego assalariado e do trabalho remunerado das mulheres. Contudo, esse aumento foi acompanhado de uma maior precarização e vulnerabilidade desses empregos. Aponta, ainda, que a globalização, apesar de promover novas oportunidades, acarreta, também, novos riscos para as trabalhadoras. As pesquisas de Pearson (1995) mencionadas por Hirata (2003), por exemplo, demonstram que as desigualdades sociais nas relações de trabalho e em relação à saúde parecem ter se agravado sob o impacto das políticas de flexibilização. 30 Como exemplo desses organismos internacionais pode-se citar a ONU e o Banco Mundial.

83 81 A expansão do trabalho em tempo parcial nos países do Norte pode ser comparada ao aumento do trabalho informal nos países do Sul, no qual as mulheres, também, se tornaram mais presentes. Esses dois tipos de trabalho, de um modo geral, estão associados à instabilidade, à má remuneração, à pouca valorização social, à quase nula possibilidade de promoção e de plano de carreira e, por fim, ao limitado ou inexistente acesso aos direitos sociais. Hirata (2003) apresenta duas tendências que afetam o emprego feminino tanto nos países do Norte quanto nos países do Sul, são elas: a bipolarização, ou seja, a existência de um elevado número de trabalhadoras denominadas nãoqualificadas, presentes em empregos precários, mal-remunerados e de pouco valor social, em contraposição a uma minoria de mulheres altamente qualificadas e com salários relativamente elevados, quando comparados ao conjunto da mão de obra feminina. A Segunda tendência atrela-se ao crescimento dos empregos de serviços, principalmente dos empregos domésticos ligados à crise econômica e à recessão, que levam mulheres inativas e sem qualificação profissional reconhecida a se integrarem no mercado de trabalho. Os efeitos perversos do crescimento do número de empregos em serviço pessoal são conhecidos: diminuem o status, já precário e subvalorizado, desse tipo de emprego, em geral associado à força de trabalho feminina (p.20). Hirata (2003), ao tecer algumas considerações sobre as consequências da globalização sobre o trabalho e o emprego das mulheres, subsidia-se em algumas pesquisas que abordam esse processo a partir do ponto de vista de gênero. Segundo ela, as pesquisas coordenadas por Mitter e Rowbothan (1995) constataram que as mudanças tecnológicas e a intensificação do comércio internacional aumentaram as oportunidades de emprego para as mulheres: Na Malásia, a proporção de mulheres nos empregos qualificados em informática, por exemplo, passou de 16%, em 1975, para 40%, em No Chile, Abramo (1997:12 e 24) demonstrou que a introdução de novas tecnologias abriu também novas oportunidades e teve efeitos positivos sobre o trabalho feminino. Mears (1995) salientou essa mesma tendência a partir de um balanço da literatura dedicado à globalização e ao emprego das mulheres nas Américas (do Norte, Central e Latina) (HIRATA, 2003, p.21).

84 82 Outro aspecto relevante percebido nessas pesquisas refere-se às consequências do deslocamento de produções para outros países. Segundo esses estudos, ao mesmo tempo em que o referido deslocamento cria novas oportunidades de emprego para as mulheres, essas oportunidades tendem a ser acompanhadas por uma diferenciação salarial em relação aos das trabalhadoras do país das empresas clientes. Por exemplo, uma digitadora nas Caraíbas podia receber uma remuneração seis vezes menor que sua homóloga norte-americana. Hirata (2003) expõe que algumas investigações 31 demonstraram, de forma muito precisa, a evolução do emprego feminino no âmbito internacional durante os anos 90. Para isso, analisaram um grande número de pesquisas empíricas, realizadas ao longo da década em questão e chegaram à conclusão de que, atualmente, é possível afirmar que a globalização foi benéfica para o emprego feminino, que se desenvolveu consideravelmente durante a década em destaque. Porém, as modalidades de emprego criadas diferem-se da norma do emprego estável em vigor durante os Trinta Gloriosos 32, e a natureza instável e precária desses novos empregos femininos têm repercussões negativas sobre as condições de trabalho, a saúde, os salários e o modo de vida das trabalhadoras. Além disso, conforme expõe Cortazzo (2001), a exploração da força de trabalho, característica do sistema capitalista, é mais aguda no caso das mulheres: Face às condições adversas, são as primeiras a serem expulsas do mercado de trabalho, passando a assumir características de mão-de-obra não qualificada, de tempo parcial e descontínuo. Em tal sentido, ocupam os postos subalternos tanto nos setores tradicionais como no Setor Terciário, onde se inserem em maior medida como empregadas domésticas, cabendo-lhes as mesmas tarefas que realizam no âmbito familiar (p.57). Sob esta perspectiva, Hirata (2003) traz para discussão uma questão retratada por Carrasco (2001) - globalização dos trabalhos de cuidar de pessoas. Segundo esta, faz-se imprescindível pensar as consequências desse fenômeno sobre o emprego feminino, pois se presencia uma migração internacional do trabalho doméstico, através do emprego de mulheres pobres por famílias de níveis socioeconômicos mais elevados dos países capitalistas desenvolvidos. 31 No ano 2000, dois números especiais das revistas Feminist Economics e World Development, consagradas, respectivamente, aos temas Globalização e gênero e Desigualdades de gênero, macroeconomia, finanças e comércio global 32 Período de 1945 a 1975, caracterizado por um forte crescimento econômico.

85 83 Segundo Kergoat e Hirata (2007), essa internacionalização do trabalho reprodutivo engendra uma relação entre os países do Norte e do Sul, em que a servidão doméstica provoca para a migrante uma ruptura da relação mãe-filho: Diferentemente do que ocorre com os empregadores do Primeiro Mundo próspero, ela não pode viver com sua família e, ao mesmo tempo, incumbirse dela economicamente. Essas migrantes do Sul, para fazer o trabalho das mulheres do Norte, deixam seus próprios filhos aos cuidados das avós, irmãs, cunhadas, e, às vezes, só voltam para casa depois de longos períodos, o que acarreta o traumatismo inevitável dos filhos que deixaram em seu país (Ehrenreich, Hochschild, 2003 apud Kergoat; Hirata 2007). Ainda com relação aos estudos que tratam a globalização numa perspectiva de gênero, no que se refere às transformações do emprego feminino nas empresas globalizadas, Hirata (2003) relata que as pesquisas realizadas por ela em multinacionais no Brasil, na França e no Japão apontam no sentido de que a globalização incide sobre a interpendência dos mercados, mas não promove uma homogeneização do trabalho. No Brasil, a autora em evidência estudou a entrada das mulheres, a partir dos anos 90, nos postos de manutenção elétrica/instrumentação em uma empresa do ramo químico pertencente a uma multinacional francesa. Segundo ela, essa nova realidade se expressou de forma contraditória e culminou em novos sofrimentos para as trabalhadoras que terminavam por exercer uma profissão masculina, uma vez designadas para os piores serviços de manutenção 33, aceitos pelas trabalhadoras sob o medo da concorrência masculina. É importante destacar que a negação da identidade sexual era uma das exigências desse trabalho, inclusive, as mulheres deveriam usar roupas que não marcassem as linhas do seu corpo. Segundo uma das entrevistadas da pesquisa, era preciso ter uma aparência bem profissional, como se fosse um homem no trabalho 34. Outra pesquisa, realizada pela autora em destaque nas filiais brasileira e japonesa de uma multinacional francesa, demonstrou que as trabalhadoras e trabalhadores brasileiros tinham rendimentos muito satisfatórios se levados em 33 segundo uma das entrevistadas na referida pesquisa, no ano de 1996 em Hirata, 2003, p segundo uma das entrevistadas na referida pesquisa, no ano de 1996 em Hirata, 2003, p.25

86 84 consideração os salários do mercado de trabalho local, contudo, se comparados aos salários pagos na França, eles eram significativamente inferiores. Na época, o salário mínimo, no Brasil, era dez vezes menor do que na França. Pelo exposto, torna-se possível perceber que, contraditoriamente, a interdependência crescente dos mercados nacionais, as mudanças tecnológicas e a flexibilidade do trabalho trouxeram consigo o desenvolvimento do emprego e do trabalho para as mulheres, contudo, empregos marcados pela precariedade e a pela vulnerabilidade. Este aspecto permite refletir sobre outro paradoxo inerente à globalização: O desenvolvimento da terceirização do trabalho em domicílio, do teletrabalho, de modalidades diferenciadas do trabalho informal, o aumento do desemprego e do subemprego levaram à atomização do espaço e do tempo da atividade. No entanto, nem por isso a contestação deixa de estar presente no Globo (HIRATA, 2003, p.27). Para Quiminal (2000) apud Hirata (2003), a globalização que, ao mesmo tempo, é lugar de criação e fortalecimento das desigualdades de sexo, constitui-se um espaço para estruturação de novos coletivos. Movimentos anti ou alter globalização se expandem e se impõem no contexto político internacional, a exemplo, pode-se citar a Marcha Mundial das Mulheres contra a violência e a pobreza, que, reunindo diferentes associações, grupos e movimentos de mulheres, propôs alternativas e ações organizadas em escala mundial contra a crise, a precariedade e a flexibilidade cada vez maiores do trabalho das mulheres. Por fim, é relevante retratar que, no desenvolver deste capítulo, buscamos evidenciar as transformações referentes ao trabalho das mulheres ao longo do curso histórico, a fim de demonstrar que muitas características atribuídas à mão de obra feminina, tais como a desvalorização, a discriminação e a precarização, encontramse presentes nos diversos momentos históricos e repercutem até hoje nas formas de inserção das mulheres no mercado de trabalho. Deste modo, torna-se indispensável, no capítulo seguinte, tratarmos sobre um aspecto que permeia as relações de gênero, que explica e, ao mesmo tempo, constitui-se um elemento utilizado para ratificar a desigualdade entre homens e mulheres - a divisão sexual do trabalho que, por sua vez, apresenta-se como uma marca das relações de gênero estabelecidas na construção civil.

87 85 5 O CARÁTER DETERMINANTE DA DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO De acordo com Kergoat 35 (2003), as condições sob as quais se encontram homens e mulheres não são determinadas biologicamente, para a autora, elas são, antes de tudo, construções sociais. Homens e mulheres formam dois grupos sociais que estão engajados em uma relação social específica: as relações sociais de sexo. Estas relações, cuja base material é o trabalho, se expressam através da divisão social do trabalho entre os sexos, também chamada de divisão sexual do trabalho. O uso da noção divisão sexual do trabalho se deu, a priori, pelos etnólogos a fim de assinalar a existência de uma repartição complementar das tarefas entre os homens e as mulheres nas sociedades por eles estudadas. Contudo, foram as antropólogas feministas que lhe atribuíram um novo significado, demonstrando que tal noção não expressava apenas o caráter de complementariedade das tarefas, mas sim, uma relação de poder dos homens sobre as mulheres. Com base nesta assertiva, destacamos o pensamento de Kergoat (2003) que faz a seguinte afirmação: A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais de sexo; essa forma é adaptada historicamente e a cada sociedade. Ela tem por características a destinação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apreensão pelos homens das funções de forte valor social agregado (políticas, religiosas, militares, etc.) (p.55 e 56). De acordo com Saffioti (1986), podemos, em um primeiro momento, pensar que foi na sociedade capitalista que o trabalho feminino se projetou. Todavia, a autora explica que as mudanças ocorridas com o advento do capitalismo apenas evidenciaram as funções econômicas das mulheres que já desempenhavam atividades ocupacionais fora do lar. Deste modo, podemos afirmar que a divisão sexual do trabalho contextualizase como anterior à Revolução Industrial. No entanto, foi na sociedade capitalista que ela se reorganizou e se intensificou, tendo como fator fundamental o domínio do trabalho-mercadoria, em que coube aos homens o desenvolvimento das tarefas produtivas e remuneradas, a vida política e o mundo da cientificidade e da cultura, 35 Em cidadania ativa para as mulheres publicação do governo.

88 enquanto às mulheres ficaram destinadas as esferas privadas, domésticas, tidas como secundárias e de pouca relevância. 86 O termo divisão sexual do trabalho, na França, apresenta duas acepções diferentes. Trata-se, de um lado, de uma acepção sociográfica, na qual prevalecem os estudos sobre a distribuição diferencial de homens e mulheres no mercado de trabalho, nos ofícios e profissões, além das variações no tempo e no espaço dessa diferenciação. Nela, analisa-se, também, como essa diferenciação está associada à divisão desigual do trabalho doméstico entre os sexos. Sobre esta primeira acepção, manifestam-se Kergoat e Hirata (2007): Esse tipo de análise foi e continua sendo indispensável: por exemplo, a construção de indicadores confiáveis para medir a igualdade profissional homens/mulheres é um verdadeiro desafio político na França. Mas, a nosso ver, falar em termos de divisão sexual do trabalho deveria permitir ir bem além da simples constatação de desigualdades (p.596). Considerando que este primeiro entendimento apresenta um caráter meramente descritivo, as autoras expõem a segunda concepção, na qual pensar sobre a divisão sexual do trabalho requer: 1. Mostrar que essas desigualdades são sistemáticas e 2. Articular essa descrição do real como um reflexo sobre os processos mediante os quais a sociedade utiliza essa diferenciação para hierarquizar as atividades, e, portanto os sexos, em suma, para criar um sistema de gênero ( KERGOAT E HIRATA, 2007,596). As autoras, ainda, asseveram que a divisão social do trabalho apresenta dois princípios organizadores, a saber: o princípio de separação, que estabelece a existência de trabalhos específicos para os homens e para mulheres. E o princípio de hierarquização, que valoriza o trabalho masculino em detrimento do trabalho feminino. Os princípios em destaque são válidos para todas as sociedades conhecidas no tempo e no espaço. O que nos permite afirmar que eles existem dessa forma desde o início da humanidade, embora este pensamento não seja consenso entre os estudiosos e as estudiosas da temática. Para Kergoat (2003), Esses princípios podem ser aplicados graças a um processo específico de legitimação, a ideologia naturalista, que empurra o gênero para o sexo biológico, reduz as práticas sociais a papéis sociais sexuados, os quais remetem ao destino natural da espécie. No sentido oposto, a teorização em termos de divisão sexual do trabalho afirma que as práticas sexuadas são construções sociais, elas próprias resultado de relações sociais (p.56)

89 87 Na construção civil esses dois princípios expressam-se de forma muito intensa. Percebemos que existe uma diferenciação dos trabalhos em função do sexo, em que, na maioria dos casos, as mulheres encontram-se no desempenho de funções que requerem atributos vinculados à construção social do feminino, tais como a limpeza, o acabamento das obras e os serviços que requerem delicadeza, cuidado e destreza. Verificamos, também, que a hierarquização encontra-se presente nas relações estabelecidas entre os homens e as mulheres neste segmento, vigorando uma sobreposição masculina em relação à condição feminina, legitimada, principalmente, pelo poder decorrente do saber. Neste sentido, é conveniente fazermos menção ao pensamento de Foucault (2007) quando afirma que do mesmo modo que as relações de poder produzem campos de saber, os saberes engendram relações de poder. Assim, o conhecimento técnico e a experiência profissional que os homens têm acabam produzindo relações de poder, sobretudo, em relação às mulheres, praticamente, recém-chegadas no setor. Propiciando, assim, uma maior valorização da mão de obra masculina e, em alguns casos, o não reconhecimento da atuação profissional das mulheres, conforme expressam as seguintes falas: Olha, pra ser sincero, eu acho que tem diferença no trabalho dos homens e das mulheres, mas não tô criticando o trabalho delas. Eu acho que a diferença está por elas não ter tanto, não é desenvoltura, não é isso, mas eu que é por elas não ter é experiência (JOÃO, ELETRICISTA, 44 ANOS). As mulheres elas não tem a prática profissional que um profissional tem, mas elas fazem. Por isso que o trabalho do homem tem mais qualidade. Elas tão tendo oportunidade agora. Esse trabalho que elas tão fazendo aqui é tipo um estágio, elas tão aprendendo, né? (PEDRO, SERVENTE, 38 ANOS). Contudo, divisão sexual do trabalho não é um dado rígido e imutável. Embora seus princípios organizadores perpetuem-se ao longo da história, suas modalidades 36 variam significativamente de acordo com o tempo e com o espaço. Por exemplo, uma mesma tarefa, especificamente vinculada à condição feminina em uma determinada sociedade, pode ser considerada tipicamente masculina em outras. Além disso, é preciso estarmos atentos para as novas configurações que se 36 Podem ser citados como exemplo dessas modalidades, a concepção de trabalho reprodutivo, lugar das mulheres no trabalho mercantil, entre outros aspectos

90 88 apresentam ao mundo do trabalho em que mulheres, como na construção civil, passam a trabalhar em ramos cultural, histórica e tradicionalmente associados aos homens. Sob esta lógica, a problematização da divisão sexual do trabalho não se encontra vinculada a um pensamento determinista, na realidade, remete-se a um pensamento dialético que requer um estudo simultâneo de seus deslocamentos e rupturas, bem como a emergência de novas configurações que tendem a questionar a existência mesma dessa divisão (Kergoat, 2003, p.56). Para Kergoat e Hirata (2007), embora a divisão sexual do trabalho tenha sido objeto de trabalhos precursores em vários países, foi na França, nos anos iniciais da década de 1970, sob o impulso do movimento feminista, que surgiu um considerável número de trabalhos sobre os quais se assentaram as bases teóricas desse conceito. Kergoat (2003), ao pôr em discussão o surgimento do movimento feminista, afirma que não foi a questão do aborto, como se costuma dizer, o elemento que alavancou o movimento. Segundo a autora, foi a partir da tomada de consciência de uma opressão específica, ou seja, quando se tornou coletivamente evidente a gratuidade e a invisibilidade de uma enorme massa de trabalho 37 executada pelas mulheres, cuja realização era voltada para outras pessoas e não para elas mesmas, estando sempre atrelada ao amor, ao dever materno e à natureza. As primeiras análises sobre essa forma de trabalho apareceram nas ciências sociais. A exemplo, é possível citar dois corpos teóricos: o modo de produção doméstico e o trabalho doméstico. Aos poucos, as análises passaram a abordar o trabalho doméstico como uma atividade laboral com o mesmo peso do trabalho profissional. Logo, tal perspectiva permitiu considerar simultaneamente a atividade realizada nas esferas domésticas e profissional, o que abriu caminho para pensar em termos de divisão sexual do trabalho (KERGOAT, 2003, P.57). Assim, depois que a família, em seu sentido de entidade natural e biológica, se desfez, sobressaindo-se seu caráter de lugar de execução de trabalho, a esfera 37 Termo utilizado pela autora em estudo.

91 89 do trabalho assalariado também foi repensada, pois, até este marco, era entendida somente em termos de trabalho produtivo, cuja figura de destaque era a do trabalhador masculino, qualificado e branco. Apesar da construção teórica, iniciado na década de 80, Kergoat (2003) registra um declínio da força subversiva do conceito de divisão sexual do trabalho. Para a estudiosa, ele se tornou corriqueiro no discurso acadêmico das ciências humanas e, particularmente, na sociologia, além disso, ouve um esvaziamento das análises referentes às relações sociais de sexo. É conveniente assinalarmos que as relações sociais de sexo e a divisão sexual do trabalho, de acordo Kergoat (2003), são expressões indissociáveis e que juntas compõem epistemologicamente um sistema. Neste contexto, as relações sociais de sexo são caracterizadas pelas seguintes dimensões: 1.A relação entre os grupos assim definidos é antagônica. 2.As diferenças constatadas entre as práticas dos homens e das mulheres são construções sociais, e não provenientes de uma causalidade biológica. 3. Essa construção social tem uma base material e não é unicamente ideológica em outros termos, a mudança de mentalidades jamais acontecerá espontaneamente se estiver desconectada da divisão de trabalho concreta- podemos fazer uma abordagem histórica e periodizá-la. 4.Essas relações sociais se baseiam, antes de tudo, em uma relação hierárquica entre os sexos, trata-se de uma relação de poder, de dominação. (pgs. 58 e 59). Por fim, ao analisarmos a entrada das mulheres para atuar no setor de produção da construção civil, além de colocarmos em discussão os aspectos referentes à divisão sexual do trabalho, acreditamos ser oportuno evidenciar como estão relacionadas as esferas doméstica e profissional no cotidiano dessas mulheres, levando em consideração o fato de que elas, em sua maior parte, têm sua atividade remunerada condicionada às determinações do trabalho doméstico. Portanto, na sessão seguinte, faremos algumas considerações referentes a este assunto. 5.1 a esfera doméstica e a esfera profissional Kergoat e Hirata (2007), ao discutirem sobre as relações entre a esfera doméstica e a esfera profissional, apresentam os diferentes modelos de papéis sexuados: o modelo tradicional neste, o homem exerce a função de provedor e à

92 90 mulher fica designado todo o trabalho doméstico; o modelo de conciliação este sugere, por parte da mulher, a conciliação entre o trabalho doméstico e o trabalho profissional; o modelo de parceria baseado na igualdade de estatutos sociais entre os sexos, pressupõe uma parceria entre homens e mulheres, sugerindo a divisão das tarefas domésticas; por fim, temos o modelo de delegação cujo trabalho doméstico é delegado a outrem, geralmente outras mulheres, gerando uma verdadeira reação em cadeia sobre elas, pois as trabalhadoras domésticas, caso não conciliem suas tarefas domésticas, também, as delegam para outra mulher. De acordo com Sorj, Fontes e Machado (2007) as recentes mudanças ocorridas nas estruturas familiares e no mercado de trabalho agravaram a capacidade das famílias de lidarem com as exigências conflitantes do trabalho remunerado e do trabalho doméstico. Para as autoras, as últimas décadas, foram marcadas por uma importante transformação na composição sexual do mercado de trabalho e nas práticas de conciliação entre trabalho e responsabilidades familiares. O modelo tradicional deu espaço ao modelo de conciliação, no qual as mulheres permanecem como as principais responsáveis pelos cuidados familiares, apesar de sua inserção no mercado de trabalho. No decorrer da pesquisa, verificamos que a realidade vivenciada pelas trabalhadoras da construção civil, no que se refere ao desafio de responder às demandas do trabalho doméstico e do trabalho remunerado, não é diferente do que indicam as autoras supracitadas. Considerável número de mulheres vivencia o modelo de conciliação. Elas, após, e em alguns casos, antes e depois de sua cansativa jornada de trabalho na construção civil, precisam dar conta dos afazeres domésticos e dos cuidados com os filhos, conforme demonstram as falas de algumas trabalhadoras: Toda vida eu chego em casa, na semana, ai eu faço o básico.se tiver janta, eu ajeito minha janta, esquento minha janta, lavo a louça, passo uma vassoura na casa, pronto...ai tomo um banho, vou assistir. Quando é no final de semana, ai eu lavo a roupa maior, colcha, rede, a farda, tudo! Na semana, para não ficar muito, eu vou lavando a roupa que eu vou vestindo no dia-a-dia. Faço uma comida, um feijão que dê para colocar na geladeira, dois ou três dias! É isso dá o suficiente um pouco do trabalho e um pouco de casa, apesar da gente viver mais no trabalho (MARIA, SERVENTE, 42 ANOS). A gente já deixa a comida ali guardada, né? Pra quando chegar em casa só esquentar. Mas, às vezes, assim, quando não tem feito, eu peço já feito.

93 E tem uma pessoa que cuida dos meus filhos, ela vai todo dia! Ai, de manhãzinha, antes de eu sair, eu já tenho que deixar o mingau da minha bebezinha feito. Eles sentem muito minha falta, quando eu chego em casa é aquela carreira pra cima de mim. No final de semana, eu coloco a roupa pra lavar na máquina, arrumo a casa e, aqui e acolá, o meu menino de 11 anos também ajuda (ISABEL, PEDREIRA, 35 ANOS). Através dos depoimentos, é possível registrar, além do modelo de conciliação, praticamente predominante entre as entrevistadas, o modelo de delegação, que foi conceituado por Kergoat e Hirata (2003) no início desta sessão. Percebemos que, em alguns casos, as trabalhadoras precisam delegar suas atividades domésticas e cuidados com os filhos a outras pessoas, sejam elas da própria família filhas, noras, sogras, mães ou tias ou pessoas fora do vínculo familiar, remuneradas para este trabalho. 91 Como eu tenho uma filha de 19 e outro de 16, eles cuidam dos menores, uns cuidam dos outros. Quando eu chego em casa, tem a minha filha e minha nora. A minha nora é muito dedicada, ai, quando eu chego, já tá tudo feito e até a janta e o suco ela vai deixar onde eu tô (ANA, PEDREIRA, 34 ANOS). Além do que foi dito, convém destacar outros dois aspectos percebidos através da pesquisa. O primeiro deles é que soubemos de um significativo número de mulheres entrevistadas utilizando seus dias de folga para realização de trabalhos domésticos que não podiam ser feitos durante a semana. Quando questionadas com relação ao quê costumam fazer nos momentos em que não se encontram no exercício do trabalho remunerado, percebemos que essas atividades, geralmente, estão vinculadas à esfera familiar, ou seja, o lazer das mulheres, conforme afirmam Araújo e Scalon (2005), comumente, relacionam-se com o tempo do outro da casa, dos filhos, do cuidado -, enquanto o tempo de lazer dos homens tende a ser menos dedicado ao outro e mais usado em proveito próprio (p.52). O segundo fator relaciona-se com a importância dos eletrodomésticos, principalmente, da máquina de lavar roupas, da geladeira e do microondas no cotidiano dessas mulheres. Eles, de certa forma, ajudam na conciliação entre trabalho remunerado e trabalho doméstico, diminuindo o tempo gasto com os afazeres de casa. A gente se organiza dependendo do tempo, né? Então, eu aproveito aquele tempo, mas não extrapolando muito, porque eu tenho que dormir cedo. Para no outro dia começar tudo de novo. Mas dá certo, porque hoje tem aquele microondas, que a gente faz um arroz e dá para dois, três dias.

94 Eu já cozinho o feijão, deixo na geladeira e já dá para a semana. A gente coloca nas vasilhinhas, já deixa tudo direitinho. Também já comprei minha máquina de lavar roupa para facilitar. Ai, eu só lavo roupa aos sábados. Se houver uma extra, já não lavo no sábado, lavo só no domingo. Na semana dou só uma ajeitadinha de leve, no fim de semana é que dedico mais tempo ao trabalho de casa (MIRIAN, SERVENTE, 48 ANOS). Dados do IBGE (2010) demonstram que as mulheres de 16 anos ou mais dedicam, aproximadamente, 23,9 horas por semana ao trabalho doméstico. Já os homens, que possuem a mesma faixa etária, dedicam apenas 5,2 horas semanais para o mesmo fim. Entretanto, quando levada em consideração a participação de homens e mulheres no mercado de trabalho, esses números sofrem significativa alteração em média, as mulheres, quando comparadas aos homens, trabalham menos horas no mercado. Assim, para se pensar sobre a quantidade de tempo despendida por homens e mulheres no trabalho doméstico, é necessário levar em consideração o número de horas que cada um dos sexos dedica ao trabalho remunerado. 92 O Gráfico 3 apresenta este comparativo e através dele percebemos que, independente do número de horas trabalhadas no mercado de trabalho, as mulheres gastam o equivalente a quase 4 vezes mais horas no trabalho doméstico do que os homens. Quando a comparação é feita entre homens e mulheres que não estão no mercado de trabalho, notamos que as mulheres dedicam, em média, 28,5 horas semanais para o trabalho doméstico enquanto os homens gastam 6,9 horas semanais para esta finalidade. As mulheres que trabalham entre 40 e 44 horas no mercado de trabalho gastam, aproximadamente, 16,2 horas nas tarefas domésticas, em contrapartida, os homens que apresentam a mesma carga-horária de trabalho, utilizam 4,7 horas por semana para os afazeres domésticos.

95 93 Gráfico 3: Horas de trabalho doméstico semananais com relação ao número de horas trabalhadas no mercado de trabalho-comparação entre os sexos , , , ,7 4,7 4,5 Homens Mulheres 0 Não trabalha Até 14 hs 15 a 39 hs 40 a a hs ou mais Fonte: IBGE Quantificar o número de horas que os trabalhadores e as trabalhadoras da construção civil dedicam às tarefas domésticas não se constituiu objetivo desta pesquisa, todavia, ficou evidente que as mulheres que estão neste ramo são, ainda, as principais responsáveis pelos cuidados da casa e dos filhos, tendo a ajuda dos seus maridos ou companheiros, apenas, de forma esporádica. As coisas de casa, eu faço depois que chego do trabalho. Jogo as roupas na máquina, vou lavando a louça, vou cuidando do meu pequeno. É um trabalho cansativo, né? Porque a gente já sai da obra cansada e quando chega em casa ainda tem que fazer tudo sozinha, porque meu marido, dificilmente, me ajuda (DORCA, PEDREIRA, 41 ANOS). Ao analisar o impacto da presença de um cônjuge no trabalho doméstico, ainda de acordo com dados do IBGE (2010), as mulheres solteiras gastam em média 17,8 horas semanais com trabalho doméstico e os homens, com o mesmo estado civil, gastam 5,3 horas semanais com este tipo de trabalho. No concernente ao número de horas dedicadas pelas mulheres casadas ao trabalho doméstico, têmse uma média de 28,5 horas semanais. Já os homens casados declaram utilizar 5,2 horas de seu tempo semanal com tarefas domésticas. Através dos dados explicitados, podemos perceber que as mulheres casadas dedicam-se quase dez horas por semana a mais ao trabalho doméstico quando comparadas às mulheres solteiras.

96 94 Uma possível explicação para esta diferenciação, segundo o órgão responsável pela pesquisa, encontra-se na presença de crianças no domicílio. Neste sentido, o trabalho adicional atribuído às mulheres casadas não é decorrente da presença de um cônjuge. A Tabela 3 apresenta a comparação de horas semanais dedicadas às tarefas do lar por mulheres levando em consideração a presença de um cônjuge e/ou crianças de até 14 anos no domicílio. Tabela 3: Horas semanais dedicadas ao trabalho doméstico mulheres. Com cônjuge Sem cônjuge Com crianças no domicílio 30,1 18,8 Sem crianças no domicílio 27,9 17,7 Fonte: IBGE Ao levar em consideração a raça/etnia, a pesquisa evidencia que as mulheres negras, pardas ou indígenas gastam, aproximadamente, 24,5 horas por semana com trabalho doméstico. As mulheres brancas ou asiáticas gastam, em média, duas horas a menos por semana com estas tarefas. As regiões brasileiras também apresentam diferenças em relação ao número de horas semanais que as mulheres dedicam ao trabalho doméstico. Tal fato encontra-se expresso na Tabela 4 que, por sua vez, indica que é na Região Nordeste que as mulheres destinam o maior número de horas aos afazeres domésticos - 26,4 horas semanais. Tabela 4: Horas semanais dedicadas ao trabalho doméstico homens e mulheres por Região. Homens Mulheres Norte 5,0 21,7 Nordeste 4,8 26,4 Sudeste 5,4 23,5 Sul 6,0 22,6 Centro-oeste 4,7 21,7 Fonte: IBGE (2010).

97 95 Pelo exposto, evidencia-se que a distribuição do trabalho doméstico entre homens e mulheres apresenta-se de forma desigual. Incide sobre as mulheres uma maior responsabilidade relacionada às tarefas de casa e aos cuidados com os filhos. Este aspecto, por conseguinte, traz implícitas repercussões na participação das mulheres no mercado de trabalho. Considerando o grupo de brasileiras com faixa etária entre 20 e 49 anos de idade 38, a presença de filhos com menos de 16 anos de idade, também, tem influência na participação materna no mercado de trabalho. De acordo com o IBGE (2010), as mulheres que não têm filhos, com 16 anos ou menos, apresentam uma participação de 75,8% no mercado, enquanto as que têm filhos nesta faixa etária participam com 70%. A presença de crianças pequenas, com menos de um ano de idade, produz um efeito ainda maior sobre a taxa de participação feminina no mercado de trabalho, a saber: somente 56,1% das mulheres, com filhos nessa faixa etária, participam do mercado de trabalho, enquanto 73,9% das que não têm filhos nesta idade encontram-se no mercado de trabalho. Vale registrar que, praticamente, todas as mulheres entrevistadas neste estudo têm filhos 39 e, uma das grandes dificuldades expressas pelas que têm filhos menores e, consequentemente, mais dependentes, é ter que deixá-los sob o cuidado de outras pessoas. Essa responsabilização, em parte dos casos pesquisados, é repassada para as avós, irmãs e irmãos dessas crianças. A fim de solucionar os conflitos decorrentes da relação entre o trabalho remunerado e os cuidados familiares, algumas medidas foram adotadas, mas estas variam entre os países. Em muitos países industrializados, particularmente na Europa, prevalecem as políticas públicas de apoio à conciliação entre o trabalho e a família. Já outros, a exemplo dos Estados Unidos, o governo desempenha um papel mínimo no suporte às famílias, ratificando o pensamento que vincula o cuidado familiar ao espaço privado e, sobretudo, às mulheres. Sob o ponto de vista de Sorj, Fontes e Machado (2007), as normas sociais que regulam as relações entre trabalho e família são uma construção social e o 38 Por ser a faixa de maior participação de mulheres no mercado 39 Exceto uma.

98 96 desenvolvimento de políticas com vistas a este objetivo reflete o modo como a sociedade percebe e valoriza a conciliação dessas duas dimensões. No Brasil, conforme esclarecem as estudiosas, O desenvolvimento insuficiente de políticas públicas, que permitam redistribuir ou socializar os custos dos cuidados familiares, e o baixo nível de abrangência das políticas existentes confirmam que a gestão das demandas conflitivas entre família e trabalho permanecem em grande medida um assunto privado (p.575). Para as autoras, a insuficiência de políticas públicas que incidam sobre as relações conflitivas que se estabelecem entre o cuidado da família e o trabalho remunerado, somada à baixa participação masculina nas tarefas de casa, ressoa nas oportunidades laborais das mulheres, principalmente quando estas são mães com filhos dependentes. Com relação a este aspecto, é importante destacar que operárias que participaram da pesquisa e que têm filhos pequenos em sua composição familiar, não utilizam as creches públicas para deixar seus filhos enquanto elas dedicam-se ao mercado de trabalho, elas, geralmente, delegam essa função a outras mulheres da família, principalmente as avós das crianças. Por fim, destacamos que o depoimento de uma trabalhadora evidencia a extensão de seus cuidados aos netos e seu descrédito em relação aos equipamentos públicos citados no parágrafo anterior. Sob seu entendimento: É melhor botar eles em creche particular, porque as nossas creches do Estado e da Prefeitura, praticamente, não funciona, vive fechada (ANA, PEDREIRA, 34 ANOS). No tópico seguinte, abordaremos como a divisão sexual do trabalho influencia e, muitas vezes, define os lugares que devem ser ocupados pelas mulheres no mercado de trabalho. 5.2 As marcas da divisão sexual do trabalho Lôbo (1991) afirma que a divisão sexual do trabalho é também uma construção social e histórica, que produz e reproduz a assimetria entre as práticas femininas e masculinas, constrói e reconstrói mecanismos de sujeição e

99 disciplinamento das mulheres, produzindo e reproduzindo a subordinação das mulheres e seus trabalhos. Ratifica a autora: 97 As pesquisas mostram que a divisão sexual do trabalho assume formas conjunturais e históricas, constrói-se como prática social, ora conservando tradições que ordenam tarefas masculinas e tarefas femininas na indústria, ora criando modalidades da divisão sexual das tarefas. A subordinação de gênero, a assimetria nas relações de trabalho masculinas e femininas se manifesta não apenas na divisão de tarefas, mas nos critérios que definem a qualificação das tarefas, nos salários, na disciplina de trabalho (p.165). Ao tecerem considerações sobre a divisão sexual do trabalho, Brito e Oliveira (1997) asseveram que esta não cria a subordinação e a desigualdade das mulheres no mercado de trabalho, mas, por sua vez, recria uma subordinação que existe também nas outras esferas do social. Complementam as autoras: Portanto, a divisão sexual do trabalho está inserida na divisão sexual da sociedade com uma evidente articulação entre trabalho de produção e reprodução. E a explicação pelo biológico legitima esta articulação. O mundo da casa, o mundo privado é seu lugar por excelência na sociedade e a entrada na esfera pública, seja através do trabalho ou de outro tipo de prática social e política, será marcada por este conjunto de representações do feminino (p.252). Carloto (2002) afirma que apesar das mudanças que vêm ocorrendo no âmbito da família, principalmente nos aspectos referentes à maternidade, à sexualidade e às relações familiares, estes fatores continuam influenciando sobre o modo pelo qual a mulher se coloca no mercado de trabalho e sobre a forma como os patrões e os homens, de uma maneira geral, tratam as mulheres. Esta visão apresenta repercussões sobre o acesso, o tipo e as condições em que se desenvolve o trabalho feminino. que: Bruschini (1998a), ao retratar esta problemática em seus estudos, aponta A constante necessidade de articular papéis familiares e profissionais limita a disponibilidade das mulheres para o trabalho, que depende de uma complexa combinação de características pessoais e familiares, como o estado conjugal e a presença de filhos, associados à idade e à escolaridade da trabalhadora, assim como a características do grupo familiar, como o ciclo de vida e a estrutura familiar. Fatores como esses afetam a participação feminina, mas não a masculina, no mercado de trabalho. O importante a reter é que o trabalho das mulheres não depende apenas da demanda do mercado e das suas necessidades e qualificações para atendê-la, mas decorre também de uma articulação complexa, e em permanente transformação, dos fatores mencionados (p.04).

100 98 Aos poucos, contudo, o papel das mulheres na sociedade vem sofrendo alterações e elas, cada vez mais, estão ampliando seu espaço na economia nacional. Nas últimas décadas, presenciamos um aumento significativo na participação das mulheres no mercado de trabalho. Segundo dados do IBGE (2010), em 1950, somente 13,6% das mulheres em idade ativa 40 participavam do mercado de trabalho. Em 2009, esse percentual era de 52,7% 41. A entrada das mulheres brasileiras no mercado de trabalho se deu de forma tardia, se comparada aos países do Hemisfério Norte, cuja incorporação feminina ocorreu durante a Segunda Guerra Mundial, em função da escassez de mão de obra no período. No Brasil, foi, principalmente, a partir da década de 1980, com uma inflação mais elevada e persistente, que as mulheres tiveram uma inserção mais contundente na força de trabalho. Ao analisarmos a participação feminina no mercado de trabalho brasileiro 42 e compará-la a de outros países, tem-se que a participação das mulheres sobrepõe-se à média internacional. Por meio do Gráfico 4, podemos visualizar que países como Japão, França, Alemanha, Itália e Reino Unido apresentam menor participação das mulheres no mercado de trabalho do que o Brasil (58,9%). Os dados brasileiros são próximos aos dos Estados Unidos (59,2%), Austrália (60,6%), Holanda (60%) e Suécia (60,6%). 40 No Brasil, define-se a população em idade ativa a partir dos dez anos de idade. Em países desenvolvidos, a idade ativa começa aos 15 ou 16 anos. Neste trabalho, será usada a idade ativa a partir dos dez anos para estatísticas do Brasil e, quando o dado se referir a uma faixa etária diferente para fins de comparabilidade, será explicitado. 41 Esse número expressa que, entre todas as mulheres residentes no Brasil, com idade a partir de dez anos, 52,7% estão empregadas ou procurando emprego. 42 Levando-se em consideração a população feminina, a partir dos 16 anos de idade, tendo em vista que em países desenvolvidos, a idade ativa começa aos 15 ou 16 anos.

101 99 Gráfico 4: Comparação internacional da participação feminina no mercado de trabalho (%) 59,2 62, , ,1 38, ,6 56,8 58,9 Fonte: Madalozzo (2011). Tendo como referência os dados do IBGE (2010), verificamos que, da década de 1970 até o ano de 2009, os números referentes à participação masculina no mercado de trabalho não apresentaram fortes modificações, no entanto, os indicadores femininos obtiveram drásticas alterações. Este aspecto torna-se evidente, principalmente, quando analisamos a participação das brasileiras e dos brasileiros no mercado de trabalho, levando em consideração o sexo e a faixa etária, conforme se expressa na Tabela 5. Tabela 5: Participação no mercado de trabalho brasileiro por sexo e faixa etária (%) FAIXA ETÁRIA HOMENS MULHERES HOMENS MULHERES De 10 a 14 anos,9 18,2 72,3 52,7 19,2 6,5 10,6 5,6 De 15 a 19 anos 61,9 23,6 55,2 39,4 De 20 a 24 anos 87,7 27,7 88,0 68,8 De 25 a 29 anos 95,9 23,1 94,1 73,7 De 30 a 39 anos 96,7 20,1 95,1 74,9 De 40 a 49 anos 94,2 19,5 93,6 70,9 De 50 a 59 anos 85,7 15,4 86,7 55,2 60 anos ou mais 59,1 7,9 43,3 19,2 TOTAL 71,9 18,2 72,3 52,7 Fonte: Madalozzo (2011).

102 100 Ao ter por referência os dados da Tabela 5, é possível constatar que em 1970 a participação feminina na força de trabalho não ultrapassava a média de 25%, exceto nos casos em que as mulheres tinham entre 20 e 24 anos de idade e representavam 27% da força de trabalho. Em contrapartida, no ano de 2009, somente nas situações em que as mulheres tinham idade abaixo de 14 anos e acima de 60 anos ocorreu o registro de taxas de participação feminina inferiores a 20%. Outro aspecto que precisamos destacar quando estudamos a situação das brasileiras no mercado de trabalho refere-se à escolaridade. Os dados do IBGE (2010), contidos na Tabela 6, expressam que conforme o nível educacional aumenta, alarga-se o percentual de mulheres que está na busca por emprego ou está empregada, além disso, a elevação da escolaridade é considerada uma das formas para se alcançar melhores condições sociais. Tabela 6: Participação das mulheres no mercado de trabalho brasileiro por nível educacional (%) mulheres de 16 anos ou mais. Participação na força de trabalho (%) Sem instrução 33,6 Fundamental incompleto 49,3 Fundamental completo ou 56,4 equivalente Ensino médio incompleto 55,5 Ensino médio completo ou 71,4 equivalente Superior incompleto 75,4 Superior completo ou mais 82,2 Fonte: IBGE (2010). Segundo demonstra o IBGE (2010), em 2009, a média de anos de estudo para o total de mulheres com 16 anos ou mais de idade, ocupadas em trabalho formal, no Brasil, era de 10,6 anos, enquanto a dos homens ficava em 9,2 anos. Entre a população ocupada no setor informal, a diferença persiste 7,1 anos de estudo para as mulheres e 6,1 anos para os homens.

103 101 Em nível regional, as diferenças apresentam-se de forma mais aguda. No nordeste, em 2009, a média de anos de estudo para o total de mulheres com 16 anos ou mais de idade, ocupadas no setor formal, era de 10, 7, já a média masculina ficava em torno de 8,6 anos. No setor informal, também prevalece essa diferenciação no que se refere à escolaridade em função do sexo as mulheres apresentaram 6,2 anos de estudos, enquanto os homens obtinham apenas 4,9 anos de escolaridade. Na obra de construção pesada, analisada durante a pesquisa, percebemos a preocupação da empresa com o aperfeiçoamento profissional e com a escolarização de seus funcionários, independente do sexo. Foram ofertados cursos na área da construção civil e, também, a possibilidade de conclusão escolar. Este aspecto foi evidenciado por uma das trabalhadoras que usufruiu desta iniciativa da empresa. Registrou a funcionária: Estudei até a quarta série, mas, aqui na empresa, eu consegui concluir a quinta, porque deram a oportunidade pra gente de estudar aqui na empresa (ANA, PEDREIRA, 34 ANOS). Ao tratar das áreas de maior concentração da força de trabalho feminina, Cunha (2000) faz referência ao pensamento de Abramo (1999) que enfatiza a vinculação do trabalho feminino à divisão sexual do trabalho que, por sua vez, favorece a inserção das mulheres em ocupações consideradas tradicionalmente femininas, limitando seu acesso a outras profissões ou também a outras qualificações. Para Carloto (2002), a permanência das mulheres em guetos ocupacionais é consequência da socialização para os chamados papéis femininos que se perpetuam através da família, da escola, dos meios de comunicação e que acabam por interferir nas escolhas profissionais das mulheres. A autora ainda destaca a importância de levarmos em consideração, quando pretendemos analisar a participação de homens e mulheres no mercado de trabalho, o viés de raça/etnia, segundo ela, a cor/raça, quando associada ao sexo, é um dos aspectos que mais interfere na determinação de desigualdades sociais. Trabalhadores pretos e pardos ganham em média, menos que os homens brancos e mulheres

104 102 brancas, mas são as trabalhadoras não brancas as mais discriminadas de todos os grupos em todas as regiões do país (p.09). Assim, nos parece conveniente retratar a participação das mulheres, com 16 anos ou mais, em função da raça/etnia. De acordo com o IBGE (2009), as mulheres indígenas são as que apresentam maior percentual de participação, 61,3% delas trabalham ou estão à procura de emprego. Vide o Gráfico5. Gráfico 5: Participação das mulheres no mercado de trabalho em função da Raça/etnia e com faixa etária a partir de 16 anos: Asiáticas Brancas Pretas e pardas Indígenas 53,8 58,5 59,2 61, Fonte: IBGE (2010). Brumer (1987), ao discorrer sobre a segmentação profissional em decorrência do sexo, pontua alguns aspectos da inserção feminina no mundo do trabalho. Segundo ela, existe uma divisão no mercado de trabalho que promove a concentração de homens e mulheres em determinadas profissões e que destina às trabalhadoras, de um modo geral, ganhos inferiores aos dos homens, mesmo quando exercem uma mesma função. Aponta, ainda, que a participação delas na força de trabalho, nos últimos anos, apresentou variação quantitativa (proporção de mulheres ocupadas) e qualitativa (tipos e setores de emprego) e que muitas mulheres sofrem discriminações no trabalho pelo simples fato de serem mulheres. A construção civil, neste contexto, constitui-se um exemplo desta mudança que vem ocorrendo em relação à participação feminina no mercado de trabalho, pois apesar do referido setor, ao longo da história não ter se apresentado como um espaço para atuação profissional das mulheres, a inserção das mulheres neste ramo encontra-se em ascendência. As trabalhadoras, inclusive, registram certo estranhamento, por parte das pessoas, tendo em vista que a presença delas neste

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