Políticas Públicas para o enfrentamento do problema da violência no Brasil: avanços, obstáculos e implementações.
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- Giovanni de Mendonça Braga
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1 Violência de gênero ST. 5 Claudia M. Pedrosa (1) Jacqueline I. Machado Brigagão (2) USP Palavras-chave: violência, gênero, políticas públicas Políticas Públicas para o enfrentamento do problema da violência no Brasil: avanços, obstáculos e implementações. No Brasil o debate sobre a violência contra a mulher e o papel do Estado na defesa dos direitos das mulheres e na implementação de políticas publica voltadas a essa questão iniciou-se na década de 80. Desde então, podemos observar muitos avanços nas políticas publicas de gênero, como a implantação de Delegacias da Mulher em muitos municípios, a criação de abrigos para mulheres vítimas de violência, a criação das coordenadorias da mulher em diversos governos municipais e estaduais, campanhas publicitárias nacionais discutindo a violência contra a mulher e a iniciativa do atual governo federal de criar a Secretaria Especial de Políticas Públicas para a Mulher. Entre as principais ações para erradicar a violência contra mulheres e meninas (Brasil, 2004) vale ressaltar a Norma Técnica para Prevenção e Tratamento dos Agravos Resultantes da Violência Sexual contra Mulheres e Adolescentes, elaborada pelo Ministério da Saúde e o Programa de Prevenção, Assistência e Combate à Violência, da SPM. A Norma Técnica regulamenta o atendimento as pessoas que sofrem violência sexual, recomendando entre outras coisas que os serviços de saúde tenham assistência ginecológica e de obstetrícia devidamente capacitados para atendimento a violência sexual. Ressaltam também que os serviços que recebem as mulheres que sofreram violência sexual - serviços de saúde e polícia - constituam uma rede para oferecer atendimento integral com todas informações necessárias para a mulher escolher qual a melhor conduta. Outra Política Pública que merece destaque foi à implantação de um serviço nacional para atendimento às denuncias de violência contra a mulher. (Lei número /03). Neste breve histórico, fica evidente que os movimentos organizados de mulheres, a sociedade civil, e os grupos feministas tem conseguido sensibilizar os governantes para o papel do Estado na consolidação dos direitos da mulher e especialmente no combate a violência contra a mulher. Apesar de todos estes avanços gostaríamos de focalizar a discussão em alguns desafios que precisam ser enfrentados pelos gestores públicos ao elaborar e implementar políticas públicas para o enfrentamento da violência contra a mulher. Vamos focalizar a discussão nas políticas públicas locais 1
2 porque, apesar de reconhecermos o importante papel de instâncias federais como a Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres na definição e financiamento de ações e na formulação de diretrizes nacionais que possam orientar as políticas de gênero em todo o país, queremos neste texto enfatizar as potencialidades de ações locais na transformação das relações do cotidiano e na superação das diversas modalidades de violência contra a mulher. Vamos iniciar essa discussão retomando os desafios apontados por Farah (2003) na discussão acerca das políticas locais de gênero: 1.Em primeiro lugar, há o desafio da incorporação do olhar de gênero, da perspectiva das mulheres, a todas as políticas públicas municipais. Isto significa que ao se formular e implementar uma política ou programa de governo deve se ter em mente as seguintes perguntas: a)como a relação homem-mulher se dá nesta área?b)como se dá a inserção da mulher nesta atividade?c) Essa inserção reflete acesso equivalente ao dos homens (ou há um acesso desigual)?d) A situação específica da mulher é considerada pelo programa e, se não, isto de alguma forma a prejudica?e) como as desigualdades de gênero identificadas nesta área especifica podem ser combatidas pela política ou programa? 2.Um segundo desafio ligado ao primeiro é o desafio da integração. Muitas vezes uma ação isolada perde parte de sua eficácia se não contar com o apoio de outro setor. Assim por exemplo no combate a violência contra a mulher, o atendimento completo as vítimas da violência doméstica, capaz de garantir a sua reinserção social, não se esgota no atendimento emergencial que lhe garanta cuidados de saúde, atendimento psicológico e jurídico e mesmo casa abrigo. É fundamental o apoio para que a mulher vítima de violência doméstica tenha garantido a sua inserção (ou reinserção) no mercado de trabalho que lhe permitirá obter autonomia.( ) É preciso evitar a violência. E uma das formas importantes de atuar neste sentido consiste na penalização da violência doméstica. Neste caso é fundamental uma articulação que transcende o próprio executivo e o próprio nível local, envolvendo legislativo e judiciário. Seria importante assim, construir uma rede que articule profissionais e servidores de diferentes órgãos públicos, evitando que a questão de gênero seja vista como algo circunscrito a um único órgão. 3.Um último desafio diz respeito à relação com a sociedade civil. Embora seja um passo fundamental a abertura de diálogo com os movimentos organizados na 2
3 etapa inicial de definição da agenda, de prioridades, e de formulação de políticas, é importante que os canais de diálogo permaneçam abertos para que seja possível uma correção de rumos, pois não é possível prever tudo de antemão e porque a realidade sofre alterações constantes, redefinindo as próprias demandas. Nesta discussão apresentada por Marta Farah fica evidente a urgência de incorporar a transversalidade da perspectiva de gênero nas políticas públicas, sem diluir a especificidade das questões de gênero. Ela nos alerta também para a importância da intersetorialidade na execução dos programas ou políticas e da constante interlocução com a sociedade civil. Concordamos com os argumentos de Marta Farah, mas gostaríamos de pontuar que para superarmos estes desafios vamos precisar explicitar os sentidos atribuídos à violência de gênero que orientam a formulação das políticas públicas. Isso porque ainda circula entre nós muitas noções e repertórios que naturalizam a violência e faz-se necessário desmitificar essas leituras da violência de gênero e assumir uma postura política de transformação das relações de gênero. Entendemos que a violência de gênero é um fenômeno relacional e construído socialmente nas relações do cotidiano a partir de referencias sociais e culturais. Desse modo, a efetividade das políticas publicas está intimamente associada às possibilidades que estas criam de visibilizar e desconstruir relações sociais pautadas na prescrição de papéis rígidos para homens e mulheres e especialmente nas noções de identidades fixas e imutáveis. Assim, é necessário incorporar esta dimensão de desconstrução dos lugares tradicionalmente ocupados por homens e mulheres nas políticas públicas locais. Para isso é preciso compreender as especificidades locais e fomentar a participação da população neste processo. Sabemos que a violência contra a mulher nada mais é do que uma manifestação das relações de poder historicamente desiguais entre mulheres e homens, que tem conduzido a dominação da mulher pelo homem, a discriminação contra a mulher, provocando impedimentos contra o seu pleno desenvolvimento. Pensar políticas públicas locais implica conhecer as necessidades locais e as especificidades das relações de gênero nas diferentes regiões do Brasil. É preciso lembrar que a diversidade social cultural e econômica dos municípios brasileiros produzem diferentes regimes de gênero(walby 2004), que para serem compreendidos implicam em um profundo conhecimento das relações sociais e dos saberes compartilhados no cotidiano das mulheres. A violência contra a mulher é um problema de toda a sociedade e somente será superada através de ações conjuntas que possibilitem mudanças profundas nas relações de gênero. A violência contra a mulher está presente em todas as sociedades e em todas as classes sociais independente do 3
4 nível de educação ou de renda, etnia ou raça. E na maioria das situações, expressam-se de forma direta, como nos casos de espancamentos e assassinatos. Podendo, entretanto apresentar-se de forma indireta, como nos casos de violência simbólica e outras modalidades mais sutis de opressão e maus-tratos. Enfim, compreender o fenômeno da violência contra a mulher é reconhecer a discriminação histórica da mulher, podemos dizer que a discriminação esta intimamente associada ao aprofundamento da desigualdade econômica, social e política entre mulheres e homens, onde a mulher sempre ocupou e ocupa posição inferior. Provavelmente, esta relação desigual torna a mulher vulnerável a violência. Como ressalta. Medeiros ( 2005): A violação dos direitos da mulher, muitas vezes não percebida por ela como violência, deixa desta maneira de ser denunciada e ao mesmo tempo de ser detectada. Muitas vezes a violência é denunciada, mas isto não garante a proteção das vítimas e nem mesmo a punição dos agressores. No entanto, o silêncio e a omissão são cúmplices da impunidade e da violência. Assim, para nós, as políticas públicas locais voltadas para a prevenção e combate da violência de gênero devem ter como pressuposição política a desconstrução de práticas discursivas e repertórios que aprisionam homens e mulheres em identidades fixas e estereotipadas. É preciso ter claro que a emancipação das mulheres somente será possível quando compreendermos e disseminarmos a noção de que as identidades são sempre relacionais e socialmente construídas. Vale lembrar que para estas políticas públicas serem eficazes, elas precisam ser horizontais, ou seja, articular os diversos setores da sociedade, responder as demandas locais e enfrentar o desafio de envolver a sociedade no processo de desconstrução de discursos que mantêm e reproduzem as desigualdades entre homens e mulheres. Ou seja, parece-nos imprescindível que as políticas públicas sejam discutidas para além dos gabinetes dos gestores e que incluam outros atores sociais, além dos movimentos sociais organizados. É preciso pensá-las e discuti-las com o coletivo da sociedade, seja através, das agremiações existentes como as associações de bairro, clube de mães, igrejas, pastorais, conselhos etc. ou ainda através de convocações publicas de reuniões para a discussão e implementação das políticas voltadas ao combate da violência contra a mulher.esta tem que ser uma luta de todas e de todos na nossa sociedade. 4
5 Referências: BRASIL.(2004) Presidência da Republica.Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres. Contribuição da SPM para as Conferencias Estaduais. Documento Base- I Conferencia Nacional de Políticas para as Mulheres Brasília: SPM. Acesso: BRASIL. (2004) Presidência da Republica.Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.Plano Nacional de Políticas para as Mulheres (PNPM). Acesso: BRASIL. (2005) Presidência da Republica.Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres.Balanço das Ações 2003/ Política Nacional de Enfrentamento à Violência. Acesso: Enfrentando a Violência contra a Mulher Brasília: Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, FARAH,M.F.S.(2004) Políticas Públicas e Gênero. In:GodinhoT. E Silveira M.L.(orgs.) Políticas Públicas e Igualdade de Gênero.Coordenadoria Especial da Mulher. São Paulo. MEDEIROS., M. C. Unidos Contra A Violência, in Marcadas a Ferro Brasília:Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres, WALBY S Cidadania e Transformações de Gênero. In: In: GodinhoT. E Silveira M.L.(orgs.)Políticas Públicas e Igualdade de Gênero.Coordenadoria Especial da Mulher. São Paulo. 5
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