Os PRINCíPIOS FUNDAMENTAIS DE
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- Letícia Estrada Marques
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1 7 Os PRINCíPIOS FUNDAMENTAIS DE CONTABILIDADE - O CUSTO, A MOEDA, A COMPETÊNCIA E A ESSÊNCIA 7.1 CUSTO ORIGINAL COMO BASE DE VALOR o MAIS DISCUTIDO o mais antigo e mais discutido Princípio propriamente dito da Contabilidade Uá que os dois anteriormente estudados são, por alguns, considerados como Postulados Ambientais), é considerado por grande parte dos estudiosos da doutrina contábil como uma conseqüência direta da continuidade. Até alguns anos atrás, esse princípio foi entendido numa acepção por demais conservadora de custo original como valor (e não como base de valor), isto é, não apenas o valor de um ativo - seu custo original - não poderia ser alterado (nem mesmo por ajustamentos pelas variações do poder aquisitivo da moeda), como somente os ativos que custaram algo para a entidade (para adquiri-ias ou fabricá-ias) poderiam ser considerados ativos. Os doados, mesmo que apresentassem benefícios para a entidade, nunca seriam considerados ativos. O CASO DE DOAÇÕES Posteriormente, segundo o citado documento, o princípio assumiu conotações menos restritivas, aceitando-se as doações como ativos, porém inserindo-as pelo preço que haviam custado, originariamente, ao doador. Mais recentemente, ainda se admite, como base de valor para doações de ativos, quanto pagaríamos por um bem em estado de conservação semelhante, no mercado de novos ou usados, se existir.
2 102 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA CONTABILIDADE GOODWILL (Veja o conceito de Goodwill na Leitura Complementar do Capítulo 10.) Na verdade, considera-se que somente é ativo, no fundo, aquilo que "CUStou" alguma coisa para a entidade. Somente assim pode-se entender o porquê de a Contabilidade apenas admitir, usualmente, o registro do Goodwill adquirido e não do criado pela entidade durante o curso de suas operações e como conseqüência mesma do sucesso de sua operação. Embora hoje em dia o entendimento do princípio tenha se ampliado bastante, ainda permanece o fato de que é um valor de entrada (de custo) que deve prevalecer, como base de registro para a Contabilidade, na continuidade de suas operações. opção DOS VALORES DE ENTRADA Mas como optar entre vários tipos de valor de entrada? Talvez o sentido e a aplicação primários do custo original como base de valor devessem, tendo em vista as condições brasileiras, ser alterados para: custo original como Base de Registro Inicial. Se o custo histórico (original), na data de uma transação, se aproxima bastante do valor econômico de um ativo (veja mais adiante definições de ativo), o mesmo não se pode afirmar, com o decurso do tempo, pelos seguintes fatores: a) desgaste físico e natural do ativo; b) flutuações específicas do preço do ativo em graduação diferenciada da variação do poder aquisitivo médio geral da moeda; e c) mudanças tecnológicas e obsolescência. VALOR NOMINAL E BENEFÍCIOS Normalmente, há uma perda de valor real, no sentido da diminuição da potencialidade de benefícios que os ativos apresentam para a entidade. Isto não significa, entretanto, que esta perda real seja acompanhada por diminuições no valor nominal do ativo, mormente em regimes inflacionários. o valor de transação, portanto, pode ser considerado como uma estimação bastante adequada do valor econômico de um bem por ocasião da ocorrência da transação propriamente dita. Com o decurso do tempo, todavia, devido à ação de um ou mais dós fatores acima delineados, esse valor de registro perde grande parte de sua validade como estimador do valor econômico e como elemento de inferência para o usuário dos relatórios contábeis.
3 Os PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DE CONTABILIDADE - O CUSTO, A MOEDA, INFLAÇÃO Notadamente na situação brasileira antes de 1995, sujeita a mudanças continuadas nos níveis de preços de bens e serviços, por fatores estruturais e conjunturais, a manutenção, por um certo período de tempo, do valor inicial de registro contábil subtraía significativo poder informativo e previsional das demonstrações contábeis. Felizmente essa situação mudou. O custo inicial, portanto, além dos provisionamentos normais que devem atender à perda de valor econômico, precisa ser "conservado", durante o tempo, pelo menos mantendo o poder aquisitivo inalterado (daí alguns estudos separarem esse princípio em dois: custo original- ou denorriinação equivalente - e manutenção ou conservação do custo original). Pausa e Reflexão Por que antes de 1995 era muito comum se usar no Brasil a expressão Custo Original Corrigido? Você acha que a antiga Correção Monetária de Balanço contrariava o Princípio do Custo Histórico? E a Reavaliação do Ativo? Contraria esse princípio? 7.2 O PRINcíPIO DO DENOMINADOR COMUM MONETÁRIO Este princípio expressa a dimensão essencialmente financeira (o termo é utilizado agora na acepção de homogeneização monetária) da Contabilidade, na tarefa que a Contabilidade tem de homogeneizar, para o usuário das demonstrações contábeis, elementos de ativo, de exigibilidades e de patrimônio líquido, de tão diferentes naturezas, pelo Denominador Comum Monetário, que é sua avaliação em moeda corrente do País. VANTAGENS DESTE PRINCÍPIO É a qualidade agregativa da Contabilidade que, sem deixar de dar a devida consideração às qualidades essenciais e específicas de ativos e passivos como geradores de fluxos futuros de caixa, ainda consegue adicionar e homogeneizar tais elementos diferenciados através do denominador comum monetário. É importante notar que, em sua origem, o princípio era entendido apenas no que se refere à dimensão essencialmente financeira da Contabilidade, nada explicitando no que se refere à estabilidade do padrão monetário.
4 104 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA CONTABILIDADE A MOEDA E A INFORMAÇÃO Um padrão, para ser considerado como tal, não pode sofrer variações em sua essência, como instrumento de medição. Dessa forma, o real, como muitas outras moedas no mundo, não importando agora a graduação da perda de poder aquisitivo, não pode ser considerado um padrão afiançável de mensuração monetária, a não ser no exato momento de cada transação. É importante escolher-se, assim, uma data-base para expressar todas as contas das demonstrações deste exercício e de exercícios anteriores, em moeda de poder aquisitivo daquela data base escolhida. CORREÇÃO NA COMPARAÇÃO Como é útil e quase que mandatário expressar-se o balanço final em termos de moeda de final de exercício, tem-se que corrigir todas as demonstrações contábeis de exercícios anteriores para o poder aquisitivo da moeda de final de exercício. É importante destacar, todavia, que o fato de se terem corrigidas as contas das demonstrações contábeis (inflacionando-as) não implica que contas a receber e a pagar assim corrigidas (de períodos anteriores ao do balanço final) obriguem as partes a resgatá-ias em valores corrigidos, a não ser que exista alguma cláusula expressa de correção dos relacionamentos de débito e crédito, contratualmente. VALOR PRESENTE Outro ponto que deriva desse princípio: o fato de algumas transações serem realizadas com base em valores prefixados e com a data de liquidação (vencimento) fixada a certo prazo da data de operação tem feito crescer a tendência de se trabalhar contabilmente com o conceito de valor presente. O valor do dinheiro no tempo tem levado a uma mudança de atitude nesses casos em que o prazo ou os juros e os efeitos inflacionários embutidos no preço prefixado são significativos. Consagra-se, portanto, a cada dia, a partir da adoção do enunciado específico do Princípio do Denominador Comum Monetário, a adoção de um padrão monetário estável para as demonstrações contábeis. O enunciado pode ser assim expresso: '14sdemonstrações contábeis, sem prejuízo dos registros detalhados de natureza qualitativa, serão expressas em termos de moeda nacional de poder aquisitivo da data do último Balanço Patrimonial. "
5 Os PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DE CONTABILIDADE - O CUSTO, A MOEDA, Pausa e Reflexão Seria possível afirmar que cada princípio é limitativo a partir da idéia de que não se contabilizamitens físicose de produtividade, pois nem sempre têm os valores monetários identificados? 7.3 REALIZAÇÃO DA RECEITA CONTABILIDADE VERSUS ECONOMIA A contabilidade apresenta uma grande necessidade de objetividade e de consistência em seus procedimentos pois os registros e demonstrações contábeis podem ter reflexos até em disputas judiciais. Nesse aspecto, a Contabilidade diferencia-se bastante da Economia que, muitas vezes, enuncia e define conceitos que se refletem sobre as entidades, sem a necessidade ou obrigação de mensurá-ios de forma sistemática e repetitiva. É reconhecido que o processo de produção adiciona valor aos fatores manipulados de forma contínua, embora não se possa, às vezes, determinar objetivamente o que foi adicionado em cada ponto do processo. Embora se acentue que o processo de produção adiciona valor de forma contínua, nem sempre se pode afiançar se esse acréscimo se dá de maneira linear, exponencial ou segundo outra forma de crescimento. INDÚSTRIA NAVAL As etapas diferenciadas da execução de um processo produtivo podem adicionar valor desproporcionalmente ao tempo envolvido na etapa e mesmo aos custos incorridos, embora esta última premissa - da proporcionalidade entre custos incorridos e receita proporcional gerada - seja utilizada em casos especiais, por exemplo, na fabricação de navios, que podem demorar mais de um exercício para serem completados. COMPETÊNCIA VERSUS CAIXA Assim, escolhe-se como ponto normal de reconhecimento da receita aquele em que produtos ou serviços são transferidos ao cliente e não, propriamente, o ponto em que dinheiro é recebido por esta transferência (daí os nomes genéricos, quando nos referimos à receita e despesa, de Regime da Competência como oposto ao Regime de Caixa). Usualmente, a maior parte dos textos e autores, ao reunir Receita e Despesa num princípio geral só, o da competência, limita-se a enunciar que receitas e despesas são atribuídas aos períodos contábeis de acordo com a incorrência do fato gerador de ambos e não com recebimento e pagamento de caixa.
6 106 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA CONTABILIDADE DETALHANDO COMPETÊNCIA Conquanto isto seja verdadeiro, é preferível desdobrar em dois subprincípios; o reconhecimento da receita é tão fundamental e às vezes eivado de dificuldades e apresentando algumas exceções à regra (princípio geral), que merece tratamento detalhado e individual. Retomando, o ponto de transferência é coincidente, muitas vezes, com o momento da venda, ou logo após o mesmo. A base usual de reconhecimento da receita é assim utilizada pela Contabilidade porque: QUATROa) ARGUMENTOS a transferência do bem ou serviço normal~ncretiza J quando todo o esforço para obter a receita já foi desenvolvido; b) nesse ponto configura-se com mais objetividade e exatidão o valor de mercado (de transação) para a transferência; c) no mesmo ponto já se conhecem todos os custos de produção do produto ou serviço transferido (e que, pela transferência, se transformam em despesa) e outras despesas ou deduções de receita diretamente associáveis ao produto ou serviço, tais como: comissões sobre vendas, despesas com consertos ou reformas parciais decorrentes de garantias concedidas etc. (os desembolsos efetivos com tais despesas freqüentemente ocorrem somente após o ponto de transferência, mas são razoavelmente estimáveis já no ato da transferência) ; d) mas, de qualquer forma, é necessário ainda verificar-se se está recebendo em troca dinheiro ou direitos com boa garantia de efetivo recebimento ou, em última instância, ativos com valor de mercado amplamente reconhecido e realizável. Em termos conceituais é a satisfação das quatro condições acima que deverá determinar quando a receita pode ser reconhecida e registrada nos livros da entidade. Em casos muito especiais, pode até acontecer que tais condições sejam satisfeitas antes do ponto-de-venda e em outros, especialíssimos, até após. Alguns desses casos especiais serão tratados a seguir. Por que para o pequeno empresário e até mesmo para os leigos, o Regime de Caixa é mais lógico que o Regime de Competência?
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