INVESTIGAÇÃO ETNOBOTÂNICA DAS PLANTAS MEDICINAIS CULTIVADAS NAS HORTAS COMUNITÁRIAS DE PALMAS - TO

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1 INVESTIGAÇÃO ETNOBOTÂNICA DAS PLANTAS MEDICINAIS CULTIVADAS NAS HORTAS COMUNITÁRIAS DE PALMAS - TO Paulo Vitor de Sousa Silva 1 ; Guilherme Nobre L. do Nascimento 2 ; 1 Aluno do Curso de Enfermagem; Campus de Palmas; pv.sousasilva@gmail.com PIVIC/UFT 2 Orientador do Curso de Nutrição; Campus de Palmas.; guilherme.nobre@uft.edu.br RESUMO: O uso de plantas medicinais é o que muitas pessoas e comunidades têm como alternativa viável para o tratamento de doenças e prevenção a saúde. Essa prática tem sido passada de geração em geração, entretanto, esse conhecimento tem-se perdido. Assim, o objetivo deste trabalho foi investigar quais as plantas medicinais utilizadas pelos beneficiários das hortas comunitárias de Palmas TO, conhecer como estes têm utilizado e indicado essa terapêutica, bem como resgatar e incentivar o conhecimento popular, auxiliando na preservação destes saberes. Na primeira etapa do estudo houve um levantamento bibliográfico onde através deste todos os membros da equipe foram capacitados. Posteriormente foram realizadas visitas em 15 hortas comunitárias do município, onde houve a aplicação do questionário e a realização da coleta das plantas mais citadas Hortelã (Mentha sp.), Mastruz (Chenopodium ambrosioides L.) e Malva do Reino (Plectranthus amboinicus). Constatou-se que os usuários utilizavam as plantas em forma de chá, sumo e infusão. Segundo a maioria dos entrevistados o conhecimento sobre plantas medicinais foi transmitido pelos pais e familiares, e 65,8% destes acreditam que as plantas medicinais são inofensivas. Este trabalho foi efetivo em ressaltar a importância das plantas medicinais como meio alternativo para prevenção e tratamento de doenças, como também investigar e resgatar conhecimentos populares sobre essas, porém novos estudos e trabalhos de orientação da população quanto ao uso e finalidade destas plantas são necessários. Palavras-chave: (Etnobotânica; plantas medicinais; hortas comunitárias)

2 INTRODUÇÃO O Brasil é o país com maior diversidade biológica do mundo, sendo objeto de estudo para a comunidade científica (SOUZA e FELFILI, 2006) na busca por plantas com potencial terapêutico. O saber sobre o uso de plantas medicinais é difundido por várias populações, sendo essa uma prática que vem desde tempos remotos e tem sido passada de geração em geração (FRANÇA et al., 2008). A terapêutica com plantas medicinais são o que muitas pessoas e comunidades têm como alternativa viável para tratamento de doenças e prevenção à saúde. A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que no início da década de 90 cerca de 80% da população mundial fazia uso de fitoterápicos (OMS, UICN e WWF, 1993). Tal fato justifica-se pela facilidade ao acesso e baixo custo desses produtos, a própria OMS tem incentivado o uso de terapias alternativas, principalmente em relação ao uso de plantas com potencial medicinal, buscando assim suprir a falta de medicamentos provenientes da indústria (REZENDE e COCCO, 2002; ALVES e SILVA, 2003; TOMAZZONI et al., 2006; FRANÇA et al., 2008; JESUS et al., 2009). As investigações etnofarmacológicas e etnobotânicas têm sido a principal abordagem reconhecida por cientistas em todo o mundo como uma estratégia de seleção de plantas medicinais (MACIEL et al, 2002). As qualidades e fortalezas dessas abordagens já foram suficientemente discutidas, restando poucas dúvidas de seu potencial e impactos biológicos, econômicos e sociais (ALBURQUEQUE e HANAZAKI, 2006). Há interesse industrial e governamental em associar o avanço tecnológico a partir de medicamentos derivados do conhecimento popular, com o intuito voltado a uma política de assistência a saúde, no qual os estudos etnobotânicos têm contribuído para planos de conservação e manejo de ecossistemas (FRANÇA et al., 2008). Entretanto, este conhecimento popular tem sido perdido ao longo do tempo devido a fatores como: a) facilidade de acesso a serviços de saúde (NOLAN, 1999; LIMA et al., 2000; AMOROZO, 2002); b) migração de pessoas do seu local de origem, levando a perda do conhecimento popular acumulado ao longo de gerações (VALLE, 2002); c) exposição das comunidades à sociedade moderna, onde esta sofre pressões socioculturais e econômicas para mudanças de hábitos, comportamentos e crenças (AMOROZO & GÉLY, 1988; AMOROZO, 2002). Devido à carência de estudos que tratem desse assunto em nosso estado, é necessário que se investigue quais as plantas medicinais utilizadas pelos beneficiários das hortas comunitárias de Palmas

3 TO, conhecer como estes têm utilizado e indicado essa terapêutica, bem como resgatar e incentivar o conhecimento popular, auxiliando na preservação destes saberes. MATERIAL E MÉTODOS Na primeira etapa do projeto foi realizado levantamento bibliográfico sobre plantas medicinais, seus efeitos farmacológicos e estudos etnobotânicos das mesmas, com o intuito de capacitar a equipe com informações pertinentes para a realização do trabalho. Logo após foi elaborado um questionário que abordava temas relacionados ao perfil dos trabalhadores, plantas medicinais cultivadas e forma de consumo. Posteriormente foi feita a visita in loco em 15 hortas comunitárias da cidade de Palmas, para coleta de amostras das plantas medicinais mais citadas e para a entrevista com os usuários das hortas. As informações foram obtidas através de uma entrevista estruturada aplicada aos usuários das hortas, mediante a assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. Com material botânico coletado foram feitas exsicatas depositadas no herbário da Universidade Federal do Tocantins no Campus de Porto Nacional. Em seguida, os dados levantados foram agrupados, tabulados e analisados com estatística descritiva e analítica. RESULTADOS E DISCUSSÃO Os dados analisados mostram que a população faz uso de plantas medicinais para a prevenção e tratamento de doenças crônicas. Esta informação pode indicar que basicamente a população substitui o tratamento com medicamentos industrializados por plantas, pois o princípio e finalidade de uso são os mesmos dentro dos princípios da alopatia. O conhecimento sobre o uso das plantas medicinais, em sua maioria, foi transmitido através dos pais e familiares, apesar de não ser um conhecimento científico este pode ser a gênese na descoberta de novos fármacos (ALBUQUERQUE e HANAZAKI, 2006). Além disso, foi averiguado que a principal forma de aquisição desses produtos é na própria horta comunitária (68,8%), porém a produção ainda é pequena, devido ao baixo retorno financeiro destas plantas quando comparado com as hortaliças. Os usuários utilizam as plantas na forma de chá, sumo e infusão. Nesse aspecto, vale ressaltar que as plantas medicinais podem ter diferentes efeitos dependendo da parte e método utilizado, havendo a possibilidade de ocorrer reações contrárias ao esperado ou até mesmo intoxicação de vários níveis podendo levar o usuário ao óbito (JUNIOR et al.,2006; ROCHA,2004). Sendo assim é

4 importante que os consumidores dessas terapias alternativas estejam informados e previamente instruídos quanto à forma de manipulação e consumo dessas plantas. Constatamos também que as plantas medicinais mais utilizadas pela população de Palmas foram: Hortelã (Mentha sp.), Mastruz (Chenopodium ambrosioides L.) e Malva do Reino (Plectranthus amboinicus). Estas eram indicadas para o tratamento de doenças e sintomas como infecções do útero e garganta, febre e congestionamento das vias aéreas. Outro resultado importante foi de que muitos acreditam que as plantas medicinais são inofensivas (65,8%), todavia, é conhecido que várias plantas apresentam efeitos colaterais e tóxicos como hepatotoxicidade e nefrotoxicidade, e a situação se acentuam devido ao baixo grau de conhecimento da população acerca da manipulação, onde a mesma pode ser exposta a diversos agentes contaminantes (ROCHA,2004). Com estes resultados podemos observar que a população tem utilizado e consumido plantas com finalidade de cura em uma proposta alopática e este conhecimento tem sido transmitido nas famílias. Porém há necessidade de mais estudos para comprovarmos a eficácia das plantas citadas, modo de uso e possíveis efeitos colaterais e então orientarmos esta população. LITERATURA CITADA ALBUQUERQUE, U. P.; HANAZAKI, N. As pesquisas etnodirigidas na descoberta de novos fármacos de interesse médico e farmacêutico: fragilidades e pespectivas. Rev. Bras. Farmacogn. v.16 (Supl.), p , ALVES, A. R.; SILVA, M. J. P. O uso da fitoterapia no cuidado de crianças com até cinco anos em área central e periférica da cidade de São Paulo. Rev. Esc. Enferm. v. 37, n.4, p.85-91, AMOROZO, M. C. M. e GÉLY, A. L. Uso de plantas medicinais por caboclos do Baixo Amazonas. Boletim do Museu Paraense Emilio Goeldi, Série Botânica. v. 4, n.1, p , AMOROZO, M. C. M. Uso e diversidade de plantas medicinais em Santo Antonio do Leverger, MT, Brasil. Acta Botanica Brasilica. v. 16, n.2, p , FRANÇA, I. S. X.; SOUZA, J. A.; BAPTISTA, R. S.; BRITTO, V. R. S. Medicina popular: benefícios e malefícios das plantas medicinais. Revista Brasileira de Enfermagem. v. 61, n.2, p , 2008.

5 JESUS, N. Z. T.; LIMA, J. C. S.; SILVA, R. M.; ESPINOSA, M. M.; MARTINS, D. T. O. Levantamento etnobotânico de plantas popularmente utilizadas como antiúlceras e antiinflamatórias pela comunidade de Pirizal, Nossa Senhora do Livramento MT, Brasil. Revista Brasileira de Farmacognosia. v.19, n.1a, p.130-9, JÚNIOR, V. F. V. et al. Plantas medicinais: cura segura? Química nova. v. 28, n.3, p , LIMA, R. X.; SILVA, S. M. e SILVA, Y. S. K. L. B. Etnobiologia de comunidades continentais da Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba - Paraná - Brasil. Etnoecológica. v.4, n.1, p.33-55, MACIEL, M. A. M.; PINTO, A. C.; VEIGA Jr., V. F.; GRYNBERG, N. F.; ECHEVARRIA, A. Plantas medicinais: a necessidade de estudos multidisciplinares. Quim. Nova. v. 25, n. 3, p , NOLAN, J. M. e ROBBINS, M. C. Cultural conservation of medicinal plant use in the Ozarks. Human Organization. v.58, n.1, p.67-72, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (OMS); UNIÓN MUNDIAL PARA LA NATURELEZA (UICN), WORLD WILDLIFE FUND (WWF). Diretrizes sobre conservación de plantas medicinales. Londres: Media Natura, p. 58, REZENDE, H. A.; COCCO, M. I. M. A utilização de fitoterapia no cotidiano de uma população rural. Rev. Esc. Enferm. v.36,.3, ROCHA, F. A. G. Diagnóstico sobre o uso de plantas medicinais comercializadas no mercado central da Cidade de Mossoró. Monografia. UERN. Mossoró-RN, abr SOUZA, C. D.; FELFILI, J. M. Uso de plantas medicinais na região de Alto Paraíso de Goiás, GO, Brasil. Acta Botanica Brasilica. v. 20, n. 1, p TOMAZZONI, M. I.; NEGRELLE, R. R. B.; CENTA, M. L. Fitoterapia popular: A busca instrumental enquanto prática terapêutica. Texto contexto enferm. v.15, n.1, p , VALE, N. B. A farmacobotânica, ainda tem lugar na moderna anestesiologia?. Revista Brasileira de Anestesiologia. v.52, n.3, p , AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi realizado com o apoio da UFT.

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