O TREINAMENTO PLIOMÉTRICO MELHORA O DESEMPENHO DA SAÍDA DE BLOCO DE NADADORES *
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1 O TREINAMENTO PLIOMÉTRICO MELHORA O DESEMPENHO DA SAÍDA DE BLOCO DE NADADORES * DANILO S. BOCALINI RÉGIS M. P. ANDRADE PATRICIA T. UEZU RODRIGO NOLASCO DOS SANTOS FERNADA P. NAKAMOTO Universidade Federal de São Paulo Escola Paulista de Medicina bocalini@fcr.epm.br (Brasil) RESUMO Apesar do treinamento pliométrico (TP) ser um bom método para o desenvolvimento da força não está bem definido o papel que TP exerce na performance da saída de borda de nadadores. Objetivo: verificar a influência do treinamento pliométrico (TP) no desempenho de saída de blocos de nadadores. Métodos: após 12 semanas de TP, 16 nadadores adultos federados, divididos em grupo controle (C=6) e treino (T=10) foram avaliados utilizando os testes de: 15 metros de natação (15m), impulsão horizontal (IH), impulsão vertical com auxilio (IVCA) e sem auxilio (IVSA). Resultados: somente no grupo T foram encontradas melhoras significativas após o TP em todos os indicadores de força analisados, em especial no teste de 15m o tempo de nado no grupo T (pré: 6,83 + 0,34; pós: 6,22 + 0,65 segundos) no grupo C (pré: 6,90 + 0,21; pós: 6,75 + 0,31 segundos). Conclusão: o programa de treinamento de pliometria se mostrou eficiente, proporcionando melhor desempenho na saída de bloco dos nadadores avaliados pelo teste de 15m. Palavras Chaves: treinamento, pliometria e performance. INTRODUÇÃO Na natação competitiva, com o intuito de melhorar seu rendimento, técnicos e atletas buscam a melhora no seu desempenho não só por meio de sessões de treinos específicos dentro d água, mas também fora d água, afim de otimizar a performance (PICHON et al. 1995; SWANIC et al., 2002; SMITH et al., 2002; SMITH, 2003; PAPOTI at al., 2005). Nos programas de treinos tem-se procurado utilizar métodos econômicos e eficazes, porem de fácil aplicabilidade (MILER et al., 1984; SANTO et al., 1997; UGRINOWITSH e BARBANTI, 1998; MOURA, 1998; PAPOTI at al., 2005). O treinamento pliométrico (TP) assume-se como um método eficaz para otimizar a força muscular (KOMI, 1984; LUNDIN, 1985; CAVAGNA 1997), baseado em um conjunto de exercícios que permite o músculo atingirem um nível mais elevado de força explosiva fundamentado no ciclo de alongamento e encurtamento também conhecido como CAE, (FORD et al., 1983; CHIMERA et al., 2004). Esta ação provoca no músculo tendinoso um armazenamento de energia elástica que é liberada durante a contração concêntrica na forma de energia cinética transformando a força pura em força rápida (FORD et al., 1983; CAVAGNA, 1997; CHIMERA et al., 2004, LEES et al., 2004). * Artigo disponível o nine via:
2 Nas provas de velocidade de natação, uma das principais virtudes que um atleta deve desenvolver é à saída do bloco de partida, que além de contribuir como vantagem diante de seus adversários, irá melhorar sua propulsão de entrada na água e, consequentemente, melhor desempenho final. Estudos como o de MILER et al. (1984) e LEWIS (1980) e salientam que a saída é fundamental para um bom desempenho em competições, além de integrar duas vantagens: 1) Fator psicológico de estar à frente na prova; 2) O fato de estar nadando em águas mais calmas, o que aumenta a eficácia da braçada. Não está claro na literatura se o TP poderia melhorar o desempenho da saída de bloco de nadadores. Portanto, tendo em vista a importância de uma saída eficiente do bloco de partida o objetivo deste estudo foi avaliar a influência do TP na performance da saída de bloco de partida em nadadores. MATERIAL E MÉTODOS Amostragem Foram selecionados 16 nadadores do sexo masculino velocistas (provas de 50 metros) e divididos em dois grupos Controle (n:6) com media de idade de anos e Treino (n:10) com media de idade de ,5 anos, sendo todos federados, competindo em nível nacional há mais de um ano. A rotina de treinamento na água não foi alterada respeitando a fase da periodização da qual os nadadores encontravam-se, sendo a fase de base. O treinamento na fase atual constituía de seis sessões de treino semanais com duração de duas horas cada. De acordo com a resolução 196/96 do conselho Nacional de Saúde só foram admitidas ao estudo as participantes que deram o seu consentimento por escrito. Protocolo de Treino Pliométrico O programa de TP seguiu o modelo adaptado de Santo et al. (1997), conforme o quadro 1. Os atletas foram avaliados antes e após 12 semanas de treinamento. A rotina deste treino era realizada antes do treino aquático.
3 Quadro 1. Programa de treino pliométrico. Organização Treino 1 Treino 2 Treino 3 Tipo Treino de saltos Saltos em profundidade Saltos com cargas adicionais Duração 5 semanas 4 semanas 3 semanas Freqüência 3x/semana 3x/semana 3x/semana Series 2/3 ¾ 4 Pausa entre: Exercício/ Series Material 25 / /90 3 /4 60 /90 3 /4 Banco sueco (alt.: 30cm); Barreiras (alt.: 50cm) Exercícios nº 1 6 saltos laterais e sprint Caixas de madeira (alt.: 40 cm e 70 cm) Sacos de areia (8 Kg) Caixa de madeira (alt.: 40cm) 6 saltos 5 barreiras nº 2 15 saltos 6 saltos 8 saltos nº 3 Passada saltada 4 apoios cada pé 6 saltos 8 saltos (4laterais e 4 frontais) nº 4 5 barreiras 6 saltos 10 saltos nº 5 10 saltos Protocolos de Avaliação Avaliação antropométrica: para avaliação da estatura foi utilizado um estadiômetro da marca Cardiomed, modelo WCS com precisão de 115/220 cm. A medida foi realizada com o cursor em angulo de 90 em relação a escala, sendo a estatura avaliada com o indivíduo sendo colocado na posição ostostática com os pés unidos, procurando pôr em contato com o instrumento de medida as superfícies posteriores do calcanhar, região occiptal e cinturas pélvica e escapular. Os avaliados foram instruídos a ficar em apnéia inspiratória e com cabeça orientada paralela ao solo. Para a massa corporal foi utilizada balança de marca Filizola, modelo Personal Line 150, com resolução de 100g e capacidade máxima de 150 kg e mínima de 2,5kg, com freqüência de 50/60Hz. O indivíduo avaliado foi colocado em pé de frente para a escala da balança com afastamento lateral dos pés ereto e com o olhar fixo á frente. O índice de massa corporal foi calculado pela equação: IMC= kg/m2. Força dos membros inferiores: para a avaliação da força dos membros inferiores foram utilizados os testes de impulsão horizontal, impulsão vertical com e sem auxilio, sendo estes testes já padronizados por Matsudo (1995). Teste dos 15 metros de natação: visando a especificidade de um teste para avaliar o desempenho da saída de borda, utilizamos o teste de 15 metros (SWANIC et al. 2002), tal distancia não permitiu que os nadadores do nível técnico do presente estudo utilizassem de maneira expressiva a ação motora de outros grupos musculares interferindo no resultado final do teste. Para sua realização o avaliado se posicionou no bloco de saída; ao sinal do avaliador o avaliado executou a saída e nadou de forma veloz até os 15 metros previamente demarcados pelo avaliador, a partir da borda de saída. Todo o
4 procedimento foi semelhante às condições encontradas durante a largada em uma competição. Todas as avaliações foram obtidas pela média de três realizações de cada avaliação especifica com intervalo de cinco minutos. Análise estatística Os dados são apresentados sob a forma de médias ± desvio padrão. Para efeito das comparações foi utilizado a ANOVA - Tukey com nível de significância estabelecido para as análises de p < 0,05. Para a analise da relação entre o tempo de nado e a distancia estabelecida no teste do salto horizontal foi utilizada a regressão linear. As análises foram realizados com auxílio do software estatístico GraphPad Prism 4.0 (GraphPad Softwares Inc., San Diego, CA, USA). Resultados Em relação aos dados antropométricos não foram observadas diferenças entre os grupos antes e depois do período de treinamento (tabela 1). Tabela 1. Dados relativos a variáveis antropométricas dos grupos. TREINO CONTROLE PRÉ PÓS PRÉ PÓS Peso (kg) 77 ± 4,45a 78,2 ± 2,50a 73 ± 3,41a 74 ± 1,2a IMC (kg/m2) 24,6 ± 3,2a 23,6 ± 0,08a 22,9 ± 4,2a 2,15* ± 0,08a Valores expressos em média ± desvio padrão da media relativo à comparação entre os testes pré e pós-treinamento em ambos os grupos. Letras minúsculas iguais indicam médias sem diferenças estatisticamente significantes (p 0,05). Letras minúsculas diferentes indicam médias estatisticamente diferentes (p 0,05). Como era esperado, na avaliação da força dos membros inferiores, o grupo T atingiu valores estatisticamente mais elevados em todas as variáveis analisadas em relação ao grupo C (tabela 2). Chama a atenção que para o salto horizontal o grupo T teve um aumento de 21% em relação ao pré-teste, já para os demais testes 15% de aumento para o salto vertical sem auxilio e 14% para o salto vertical com auxilio. Tabela 2. Efeito do treinamento de pliometria nos teste de salto vertical com e sem auxilio e no salto horizontal dos nadadores. TREINO CONTROLE PRÉ PÓS PRÉ PÓS SVSA (cm) 38 ± 2,45a 44,6 ± 2,50b 38,2 ± 2,14a 39,1± 1,2a SVCA (cm) 44,4 ± 3,24a 54,5 ± 3,53b 40 ± 1,41a 42,2 ± 1,94a SH (m) 2,01 ± 0,04a 2,33 ± 0,08b 2,03 ± 0,06a 2,04 ± 0,08a
5 Valores expressos em média ± desvio padrão da media relativo à comparação entre os testes pré e pós-treinamento em ambos os grupos. SVSA (salto vertical sem auxilio), SVCA (salto vertical com auxilio) e SH (salto horizontal). Letras minúsculas iguais indicam médias sem diferenças estatisticamente significantes (p 0,05). Letras minúsculas diferentes indicam médias estatisticamente diferentes (p 0,05). O desempenho do teste de 15 metros de natação (figura 1) foi melhorado somente no grupo T, tendo uma queda percentual de 10% do tempo inicial. Adicionalmente como pode ser visto na figura 2 quando feito à correlação linear foi encontrado uma forte relação entre o tempo de nado e a distância do salto horizontal. Figura 1. Valores expressos em média ± desvio padrão da media relativo ao tempo de nado do teste dos 15 metros. Letras minúsculas iguais indicam médias sem diferenças estatisticamente significantes (p 0,05). Letras minúsculas diferentes indicam médias estatisticamente diferentes (p 0,05). Figura 2. Correlação linear e ± intervalo de confiança entre o tempo de nado do teste de 15 metros e a distancia do salto horizontal. DISCUSSÃO Outros estudos (FORD et al., 1983; SANTO et al., 1997; CHIMERA et al., 2004) que aplicaram treinamento pliométrico, adicionado ao treinamento diário, tiveram resultados semelhantes aos encontrados neste estudo;
6 mostrando resultados positivos na melhora dos diferentes indicadores de força explosiva, comparando valores antes de depois do treinamento pliométrico. A importância de se otimizar a velocidade de reação e o impulso horizontal durante a execução de uma saída na natação já vem sendo discutida pela literatura (PAYNE e BLADER, 1971; HAY e GUMIARAES, 1983; CRONIN e HANSEN, 2005). Estes trabalhos apontam para o fato de que a técnica de saída ideal seria aquela na qual o nadador deixa o bloco de partida no menor tempo possível, e ainda produz um impulso horizontal máximo. Para MAGLISCHO (1999) na natação, o fortalecimento dos membros inferiores é de grande importância, principalmente para nadadores velocistas, uma vez que é fator determinante para uma boa impulsão inicial após a largada. Outros autores investigaram a influência do treinamento pliométrico sobre a saída de bloco (COSSAR et al., 1999) e a virada na natação (GELADAS et al., 2005) sem encontrar melhoras significativas na performance. Entretanto, no presente estudo foi encontrado diferenças significativas na performance do tiro de 15 metros após 12 semanas de treinamento pliométrico, adicionado ao treinamento de natação; o que pode indicar melhora na saída do bloco de partida. A diferença entre os resultados dos estudos pode ser atribuída as suas diferenças metodológicas, tanto em relação à intensidade e aos tipos de exercício, quanto em relação à duração do período de treinamento (MAGLISCHO, 1999). O programa de treino cumprido pelos atletas deste estudo se mostrou mais eficaz quando comparado aos resultados obtidos em outras pesquisas com nadadores (COSSAR et al., 1999; GELADAS et al., 2005). Tal fato pode ser devido à duração de 12 semanas, que foi maior do que aquele realizado nos estudos cuja duração foi de 8 semanas. Em especial, a aptidão motora e física dos atletas do estudo de BREED, YOUNG (2003) foi inferior ao da amostragem de nosso estudo, sugerindo que um melhor nível de aptidão motora e física pode estar relacionado com ganhos significativos de força e potência muscular. Por outro lado, o treinamento de natação concomitante ao treinamento pliométrico, ainda que no período de base do início da temporada, pode ter influenciado na melhora da performance do tiro de 15 metros, uma vez que este é um parâmetro utilizado para predizer a performance de características de velocidade e potência do nado (MAGLISCHO, 1999). Um ponto relevante deste estudo diz respeito a correlação observada entre os valores relativos ao tiro de 15 metros e ao salto horizontal. GELADAS et al. (2005) constataram que o salto horizontal é um preditor significativo da performance dos 100 metros livre na natação. De modo semelhante, em nosso estudo foi encontrada uma correlação entre o tempo do tiro de 15m e o salto horizontal (figura 2), demonstrando que um bom salto
7 horizontal pode exercer influencia na performance do teste de 15 metros, melhorando assim o desempenho da saída do bloco de partida. CONCLUSÃO O programa de treinamento de pliometria se mostrou eficiente proporcionando um melhor desempenho no teste de 15 metros de natação bem como na força dos membros inferiores, podendo assim ser considerado uma alternativa no programa de treinamento para aprimorar o desempenho da saída de borda de nadadores velocistas.
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