REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO ÁREA DE PROTEÇÃO DE MANANCIAIS: INJUSTIÇAS SOCIOAMBIENTAIS EM RELAÇÃO À AGUA

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1 XI ENCONTRO NACIONAL DA ECOECO Araraquara-SP - Brasil REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO ÁREA DE PROTEÇÃO DE MANANCIAIS: INJUSTIÇAS SOCIOAMBIENTAIS EM RELAÇÃO À AGUA Ana Karina Merlin do Imperio favaro (Universidade de São Paulo) - anakarinafavaro@usp.br Doutoranda em Saúde Pública, área de concentração Saúde Ambiental. Mestre na mesma área, pela mesma instituição. Especialização em Gestão Ambiental e graduação em Engenharia Agronômica. Leandro Luiz Giatti (Universidade de São Paulo) - lgiatti@usp.br Professor Associado no Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo. Possui graduação em Ciências Biológicas pela Universidade Sao Judas Tadeu, mestrado e doutorado em Saúde Pública pela Faculdade de São Paulo

2 REGIÃO METROPOLITANA DE SÃO PAULO ÁREA DE PROTEÇÃO DE MANANCIAIS: INJUSTIÇAS SOCIOAMBIENTAIS EM RELAÇÃO À AGUA Resumo A Região Metropolitana de São Paulo passa por uma crise hídrica de grandes proporções. Dos 39 municípios da região, 25 apresentam áreas de proteção de mananciais. Essas áreas possuem restrições de uso e ocupação dos solos, garantidas por lei, contudo, sofrem com a degradação ambiental e a ocupação irregular. A correlação entre área de proteção de mananciais e remanescentes florestais pode contribuir para um melhor entendimento da dinâmica produção e uso do recurso água. Com o objetivo de avaliar a situação dos municípios que têm a obrigação de proteger os mananciais, garantindo o serviço ambiental essencial água, bem como a situação dos municípios que mais consomem esse recurso, dados disponibilizados por organizações governamentais, como o IBGE, SIFESP, SIGAM e SNIS, foram analisados. Com base nessa análise, foram identificados os maiores protetores ou possíveis provedores do serviço ambiental água, bem como seus maiores consumidores, ou recebedores do serviço ambiental água. Resumo Expandido Introdução: A dinâmica da inter-relação da sociedade com os ecossistemas ao longo da história revelou dois tipos de problemas. Em primeiro lugar, as respostas dos ecossistemas ao estresse podem dificultar as escolhas, a gestão e divisão dos serviços ambientais; o segundo, é que a resposta da sociedade em relação aos problemas ambientais tende a ser lenta, causando um aproveitamento ineficiente dos recursos naturais e, consequentemente, a degradação dos serviços ecossistêmicos (Scheffer e col. 2000). Esses serviços, advindos dos ecossistemas e utilizados pela sociedade, em alguns casos são garantidos por intervenções humanas; assim, é possível a identificação dos provedores de serviços ambientais, bem como dos recebedores desses serviços (Imperio- Favaro 2012). A relação entre provedores e recebedores de serviços ambientais pode variar com de acordo com a gama dos serviços prestados, sua composição, características socioeconômicas envolvidas, o contexto sociocultural da população, bem como critérios de equidade, justiça e ética (Turner e Daily 2008). O aumento da urbanização acelera a degradação ambiental, a perda de serviços ecossistêmicos e, consequentemente, a possibilidade de prestação de serviços ambientais. Na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), região altamente urbanizada e com aproximadamente 20 milhões de habitantes, o serviço ambiental essencial de abastecimento de água é disponibilizado por provedores (municípios integrantes das áreas de proteção de mananciais) e consumido por recebedores (toda a população da RMSP). Justificativa: O reconhecimento dos provedores e recebedores desse serviço ambiental é fundamental para a distribuição mais justa do produto água para abastecimento na RMSP, visando melhorar as condições para prestação do serviço. Prestadores desse serviço ambiental acabam por arcar, sozinhos, com os custos da preservação das áreas de mananciais (Lei Estadual n de 1997); se o produto é partilhado, os custos para sua produção também devem ser. Da mesma forma, os recebedores desse serviço ambiental devem ser informados sobre as

3 características desta provisão, de onde vem, como é realizada e, por fim, quem são os responsáveis pela provisão e qual o custo desse serviço. Metodologia: Uma pesquisa documental foi realizada nos arquivos disponíveis online do Sistema de Informações Florestais do Estado de São Paulo (SIFESP), Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Sistema Integrado de Gestão Ambiental (SIGAM), Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento (SNIS). Foram colhidas informações referentes às áreas totais, áreas de remanescentes florestais, população, IDH e consumo de água per capita para cada município da RMSP. Resultados: Como podemos observar na Tabela 1, os municípios de Juquitiba, São Lourenço da Serra, Embú-Guaçú, Itapecerica da Serra, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra possuem 100% de seus territórios em áreas de proteção de mananciais, tendo suas atividades ligadas ao uso e ocupação dos solos restritas. Todos os municípios com 82% ou mais de seu território em áreas de proteção de mananciais apresentam IDH abaixo da mediana para a RMSP (0,757). Em contrapartida, os municípios de Santana de Parnaíba, Guararema, Pirapora do Bom Jesus, Franco da Rocha, Itapevi, Cajamar, Itaquaquecetuba, Vargem Grande Paulista, Barueri, Taboão da Serra, Osasco, Jandira, Carapicuíba, São Caetano do Sul não possuem áreas de mananciais. Desses 14 municípios, 7 possuem IDH abaixo da mediana e 7 acima da mesma, sendo que São Caetano do Sul e Santana de Parnaíba apresentam o primeiro e o terceiro IDH mais alto da RMSP, respectivamente. Em termos de extensão, São Paulo, Juquitiba, Salesópolis, Mogi das Cruzes e Santa Isabel contribuem com as maiores áreas destinadas à proteção dos mananciais e Juquitiba, São Paulo, São Bernardo do Campo, Mogi das Cruzes e Cotia figuram com as maiores áreas destinadas à proteção de remanescentes florestais. Em relação ao consumo, dos 14 municípios que não possuem áreas de manancial, 9 apresentam consumo de água per capita acima da mediana (147,77). Conclusão: São Paulo, Guarulhos e São Bernardo do Campo, possuem as maiores populações da RMSP, sendo grandes consumidores do serviço ambiental água para abastecimento. Os municípios responsáveis pelas áreas de proteção de mananciais são homogêneos em relação ao IDH, contudo, 18 apresentam IDH abaixo da média da RMSP (0,7581); nesses casos, programas de pagamentos por serviços ambientais poderiam contribuir para a manutenção e melhoria dos serviços, trazendo recursos financeiros para esses municípios. São Paulo se apresenta com grandes extensões de remanescentes florestais e área de proteção de mananciais (21% e 36% da área total, respectivamente), contudo, é o quinto maior consumidor de água per capita (188,03 l/hab./dia) da região. Juquitiba é o possível maior provedor do serviço ambiental água para abastecimento da RMSP, com 522km 2 de área de proteção de manancial e 399km 2 de área de remanescente florestal. São Caetano do Sul é o possível maior recebedor desse serviço na região, com 255,58 l/hab./dia e nenhuma área destinada à proteção de mananciais ou remanescentes florestais. Pesquisas futuras são necessárias, contudo, esses dados podem contribuir para uma discussão inicial no que se refere à provisão e distribuição do serviço ambiental água para abastecimento na Região Metropolitana de São Paulo.

4 Tabela 1: Caracterização dos municípios da Região Metropolitana de São Paulo. Município Área Total Remanescente Florestal (Km 2 ) Área de proteção de Mananciais km 2 % População IDH Consumo per capita (l/hab./dia) Juquitiba 522, , , , ,06 São Lourenço da Serra 186, , , , ,45 Embú-Guaçú 154,945 71, , , ,02 Itapecerica da Serra 150,298 60, , , ,85 Ribeirão Pires 98,750 32,800 98, , ,54 Rio Grande da Serra 36,877 17,440 36, , ,91 Salesópolis 424, , , , ,96 Biritiba-Mirim 317, , , , ,49 Santa Isabel 362,738 83, , ,738 indisponível Mairiporã 320, , , , ,12 Suzano 206,617 31, , , ,20 Embú 70,397 16,190 41, , ,67 Santo André 174,947 64,770 94, , ,52 São Bernardo do Campo 408, , , , ,55 Arujá 96,359 24,320 49, , ,99 Mogi das Cruzes 713, , , , ,00 Ferraz de Vasconcelos 29,922 6,130 11, , ,89 São Paulo 1523, , , , ,03 Cotia 323, , , , ,26 Guarulhos 319,191 98,670 95, , ,19 Diadema 30,840 1,540 6, , ,78 Caieiras 96,698 17,060 19, , ,99 Mauá 61,301 7,300 11, , ,03 Poá 17,066 0,910 1, , ,60 Francisco Morato 49,345 7,510 2, , ,45 Santana de Parnaíba 179,807 43,380 0, , ,76 Guararema 270,604 38,830 0, , ,17 Pirapora do Bom Jesus 108,780 28,920 0, , ,64 Franco da Rocha 134,114 20,050 0, , ,02 Itapevi 83,107 19,870 0, , ,22 Cajamar 131,403 16,920 0, , ,40 Itaquaquecetuba 82,979 7,890 0, , ,93 Vargem Grande Paulista 42,080 6,880 0, , ,89 Barueri 66,141 5,350 0, , ,40 Taboão da Serra 20,293 1,840 0, , ,20 Osasco 64,037 1,560 0, , ,48 Jandira 17,690 1,320 0, , ,52 Carapicuíba 34,605 1,140 0, , ,85 São Caetano do Sul 15,374 0,000 0, , ,58 (1) IBGE Cidades, 2011; (2) SIFESP, 2009; (3) SIGAM, undated; (4) SNIS, 2014.

5 Referências bibliográficas IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (2011) IBGE Cidades São Paulo. Available at: < Access at: 23 jan Imperio-Favaro, A.K.M. Pagamento por serviços ambientais: uma contribuição para a saúde ambiental no contexto das mudanças climáticas - estudo de caso. Dissertação (Mestrado em Saúde Ambiental) - Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, Scheffer M. and col. (2000) Socioeconomic mechanisms preventing optimum use of ecosystem services: An interdisciplinary theoretical analysis. Ecosystems, 3, (5); SIFESP Sistema de Informações Florestais do Estado de São Paulo. Resultados-Tabelas. Available at: < Access at:15 dec SIGAM Sistema Integrado de Gestão Ambiental. Impactam Área de Proteção aos Mananciais (APM). Available at: < Access at: 15 dec SNIS Sistema Nacional de informações sobre o saneamento. Ministério das Cidades. Diagnóstico dos serviços de água e esgotos Available at: < Access: 18 jan Turner RK, Daily GC (2008) The ecosystem services framework and natural capital conservation. Environmental & Resource Economics, 39, (1):