EDUCAÇÃO PATRIMONIAL, DIVERSIDADE CULTURAL E CULTURA JURIDICA NA FRONTEIRA OESTE DA CAPITANIA DE MATO GROSSO SETECENTISTA
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- Vergílio Bandeira Álvaro
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1 EDUCAÇÃO PATRIMONIAL, DIVERSIDADE CULTURAL E CULTURA JURIDICA NA FRONTEIRA OESTE DA CAPITANIA DE MATO GROSSO SETECENTISTA STELLA, Roberta 1 Palavras-chave: Educação Patrimonial. Diversidade Cultural. Pluralidade Jurídica. Sociedades Indígenas. Introdução Este texto é parte das atividades de extensão relativas ao projeto Educação Patrimonial, Diversidade Cultural e Cultura Jurídica na Fronteira Oeste da Capitania de Mato Grosso Setecentista. A perspectiva é divulgar a cultura político-jurídica colonial relativa à questão indígena na fronteira oeste do Brasil no séc. XVIII. Dessa forma, expandir os valores históricos e patrimoniais. Releva-se essa necessidade de divulgar questões pouco conhecidas sobre diversidade cultural, sociedades indígenas e aspectos jurídicos coloniais em um panorama de Patrimônio Histórico Cultural. Estabelecendo a temática como fundamento de educação patrimonial por ser [...] um instrumento de alfabetização cultural que possibilita ao indivíduo fazer a leitura do mundo que o rodeia, levando-o a compreensão do universo sociocultural e da trajetória histórico-temporal em que está inserido. Este processo leva ao reforço da auto-estima dos indivíduos e comunidades e a valorização da cultura brasileira, compreendida como múltipla e plural. (HORTA, 1999, p.06) * Resumo revisado pelo Ms. Luciano Pereira da Silva historiador e arqueólogo. Educação Patrimonial, Gestão Participativa e Sustentabilidade no município de Cáceres. Código de ação: 122/ Universidade do Estado de Mato Grosso UNEMAT. Roberta_stella7@hotmail.com
2 Nesse sentido se visa expandir e propagar os valores históricos patrimoniais agregados pela diversidade cultural e jurídica da região da fronteira Oeste do Brasil, contribuindo para fruição dos saberes de uma pluralidade cultural e jurídica regional. Documentos como os contidos nos Annaes do Sennado da Camara do Cuyabá oferecem argumentos históricos sobre as relações e organizações político-administrativas e sociais de época. Isso como referência aos interesses das elites locais, que constrói o direito letrado (Direito Romano), assim como, o rústico (usos e costumes). Há ainda passagens nos anais que informam as relações jurídicas entre colonizadores e indígenas, ou seja, a situação da política indigenista da coroa portuguesa referente às guerras (in) justas por esta inventariada, manifestando a ação portuguesa no trato aos índios como aliados ou inimigos da região oeste da capitania de Mato Grosso. No ano de 1730 denota-se, pela expressão (...) devido hostilidade indígena Payagoas gera conflito entre colonos e gentis, a ocorrência de guerra justa contra os indígenas. Contudo, também apresenta a absoluta proibição de conquista e extração de Pareci devido as Ordenações Reais de 20 de Julho Em 1731, o General da Província de São Paulo, Antonio da Santa Calda Pimentel, que tinha permissão de fazer ou não guerra ao índio da colônia, tendo decidido que se fizesse guerra, ficando cativos e escravos todos os que se aprisionassem e recomenda que não se faça de nenhum modo guerra ao Pareci, por ser gentio aliado. Já em 1734 há outro registro de guerra contra os Paiaguá informando a chegada de Manoel Rodrigues de Carvalho com 400 homens para a dita Guerra, tudo a custa do Povo, e sem despesa da Real Fazenda. A guerra justa foi um instrumento jurídico de uso dos portugueses para invadir a terra e escravizar os índios. Compreendendo esse prospecto, pressupõese uma participação ativa das sociedades indígenas no processo histórico, que deve ser divulgada e discutida. Sob esse contexto enfatiza-se o Artigo 215, caput, da Constituição Federal do Brasil em que o Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e incentivará a
3 valorização e a difusão das manifestações culturais. Concomitante a isso, o projeto vem proporcionando a extensão dos conhecimentos referentes à diversidade cultural em seus aspectos jurídicos e regionais nas instituições de ensino local. Outrossim, é a Lei nº /2008 que torna obrigatório o ensino da história e da cultura dos povos indígenas no ensino fundamental e médio. Que, sobretudo, respalda-se nessa insuficiência de estudo e desvalorização da cultura indígena nas redes de ensino. Sendo necessário o emprego de lei que outorgue obrigatoriedade na difusão da relevância da representação indígena no processo de formação histórica e jurídica da sociedade atual. Enquanto na área acadêmica não há distinção enquanto ao déficit de pesquisa e extensão referente à temática da cultura jurídica na fronteira oeste, o que desvaloriza conhecimentos necessários para fundamentar concepções como patrimônio histórico e cultural. Conforme vem ressaltar Noelli (2003, p.1): [...] estudiosos de vários países e órgãos como a UNESCO já demonstraram com muita ênfase que a preservação do patrimônio cultural depende, principalmente, do conhecimento e de uma educação voltada à compreensão e valorização da diversidade. Ao estigmatizar o positivismo jurídico se verifica, ainda, que o ordenamento jurídico não advém somente de uma cultura metropolitana, mas também da sua vigência e adequação no meio em que se destina. O jurista Hespanha (2006, p.01) afirma: [...] no sistema jurídico de Antigo Regime, a autonomia de um direito não decorria principalmente da existência de leis próprias, mas, muito mais, da capacidade local de preencher os espaços jurídicos de abertura ou indeterminação é assistente na própria estrutura do direito comum. Desse modo, pretende-se refletir a respeito da cultura jurídica colonial na região de fronteira oeste do Brasil mediante divulgações e pesquisas documentais, mais especificamente acerca das sociedades indígenas. Discutir o pensamento crítico no real ordenamento jurídico através da atuação dos institutos portugueses referente à cultura indígena consuetudinária como também ao Direito Rústico e sua importância para o conhecimento da cultura indígena como verdadeiro patrimônio
4 histórico cultural brasileiro. Todo esse procedimento evidenciando a existência do Direito para além da imposição de lei por uma autoridade competente. Metodologia Para a realização de atividades de Educação Patrimonial em escolas e à comunidade, vem se desenvolvendo um estudo crítico de fontes secundárias referente à aplicabilidade das leis da Coroa Portuguesa em relação aos costumes coloniais que constitui a diversidade cultural na região. Concomitante a isso se promove a exposição de pesquisas em concernência à diversidade cultural e jurídica na fronteira oeste do Brasil às instituições de ensino fundamental, médio e acadêmico em eventos jurídicos, históricos, culturais e científicos além de apresentação em associações de bairros. O método utilizado para a elaboração desse trabalho é dedutivo com pesquisa qualitativa. Resultados e Discussão Propicia-se a concretização da Lei Nº /08 em que se estabeleceu a obrigatoriedade do ensino da cultura indígena nas escolas, conferindo assim conhecimento suficiente para toda uma preservação da memória do pluralismo cultural e jurídico regional já existente. As atividades concernentes a dada lei constituiu eficácia em relação à ciência da diversidade cultural e jurídica da região fronteiriça, em relevância a representação do índio, à população local, a possibilidade de afirmar a existência de uma autonomia do direito colonial de cunho pluralista que vem ser a coexistência de diversas ordens jurídicas no seio do mesmo ordenamento jurídico, o que se pode comprovar mediante as análises dos Annaes do Sennado da Camara do Cuyabá Além do fato de agregar tais fontes documentais como recursos jurídicos históricos, concebendo-as como parte do patrimônio histórico cultural nacional, constituindo assim, sua plena conservação. Conclusão Diante desse quadro, vem se divulgando aspectos sobre a relação entre diversidade cultural e uma pluralidade normativa colonial autônoma, ao ponto de debater sobre o monopólio da produção jurídica a partir do Estado, evidenciando
5 que o Direito existe para além da imposição de lei por uma autoridade competente. E por serem tais temas pouco conhecidos, devido ao fato de serem pouco pesquisados. Pensar-se em um programa de extensão é fundamental à reflexão tanto dos discentes, docentes e da comunidade em geral até do próprio ordenamento estatal, instituidor das políticas culturais educativas, para a possível formação cultural, crítica e política do público-alvo. Referência Bibliográfica Annaes do Sennado da Câmara do Cuyabá ( ). Edição Paleográfica Digital. Transcrição e Organização Yumiko Takamoto Suzuki. Cuiabá (MT): Entrelinhas, Arquivo Público de Mato Grosso, BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O Que é Educação. (33ª ed) SP: Brasiliense Coleção Primeiros Passos. BRASIL Constituição (1988). Constituição da Republica Federativa do Brasil. Artigo 216, 1º. Disponível em BRASIL. LEI Nº , DE 10 de MARÇO DE Institui a obrigatoriedade do estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, públicos e privados. Disponível em HESPANHA, Antonio Manuel. Porque é que existe e em que é que consiste um direito colonial Brasileiro. Disponível em acessada em 01 de setembro de HORTA, Maria de Lourdes Parreiras. Guia Básico de Educação Patrimonial / Maria de Lourdes Parreira Horta, Evelina Grunberg, Adriane Queiroz Monteiro Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial NOELLI, Francisco Silva. Educação Patrimonial: Relatos e Experiências. Disponível em acessada em 10 de novembro de PERRONE-MOISÉS, Beatriz. Índios livres e índios escravos: os princípios da legislação indigenista do período colonial (séculos XVI a XVIII). In: CUNHA, Manuela Carneiro da. História dos índios no Brasil. São Paulo: Cia das Letras, Secretaria Municipal de Cultura, FAPESP, 1998.
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