RESPONSABILIDADE E INCLUSÃO SOCIAL COMO TECNOLOGIAS LEVES EM ENFERMAGEM
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- Clara Barros Palma
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1 RESPONSABILIDADE E INCLUSÃO SOCIAL COMO TECNOLOGIAS LEVES EM ENFERMAGEM Leonardo Rodrigues Piovesan 1 Bárbara Andres 2 A enfermagem de saúde pública por caracterizar-se pelo grande contato e vínculo com a comunidade, assume uma grande responsabilidade com a mesma. Responsabilidade essa não apenas no que se refere a prestação de cuidados de saúde e prevenção, mas também no âmbito social. São muitos os fatores que podem afetar a saúde de uma pessoa, mas, na minha opinião, os mais relevantes são aqueles de ordem sócio-econômica e cultural sendo que, onde existe carência significativa nesses fatores as implicações são amplas. E é nesse cenário que a enfermagem se faz necessária, estimulando ações de cunho social, a fim de tentar diminuir essas desigualdades. Caracterizando assim a tecnologia leve que diz respeito à cumplicidade, à responsabilização e ao vínculo manifestados na relação entre usuário e trabalhador de saúde (CASATE e CORRÊA 2005). Muitos são os exemplos de atividades que fazem a diferença em suas comunidades, em termos de inclusão social, cidadania e responsabilidade, os quais devem ser tomados como incentivo para o crescimento dessas práticas. Este estudo trata-se de uma revisão de literatura com o objetivo de demonstrar a importância da enfermagem estar inserida em um contexto de responsabilidade social, destacando essa atividade como uma das mais importantes no trabalho em saúde pública. Aqui desenvolvo a idéia de que as ações de inclusão social e responsabilidade social, caracterizando-as como tecnologia leve de trabalho, 1 Relator. Acadêmico de Enfermagem do 6 semestre da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM, reside na Rua Frederico Varaschini N 690, bairro Camobi, Santa Maria RS. leonardoagenteplebe@yahoo.com.br. 2 Autora. Acadêmica de Enfermagem do 6 semestre da Universidade Federal de Santa Maria UFSM.
2 devem partir do enfermeiro de saúde pública como formas de cuidado a uma comunidade que tem problemas de ordem sócio-cultural. A partir deste raciocínio desenvolvo a seguinte questão: Seriam responsabilidade e a inclusão social tecnologias leves para o trabalho em enfermagem?. Entendo que esta questão seja pertinente, a partir do momento em que existam muitos exemplos de trabalhos comunitários que realmente transformam realidades em todo o Brasil, principalmente envolvendo a juventude e crianças em situação de risco. Tanto pela violência, drogas, analfabetismo, quanto pela falta de oportunidade, que acaba dificultando cada vez mais a situação dessa parcela tão grande e importante de nossa sociedade. Acredito que a enfermagem tenha papel irrefutável nessa realidade, afinal como parte integrante da sociedade assume uma responsabilidade imensa com a mesma, em todos os aspectos que a envolvem. A Metodologia dessa revisão de literatura deu-se em dois momentos. Primeiramente a pesquisa foi realizada através da busca por artigos sobre a temática Enfermagem e inclusão social em diversas revistas de saúde nacionais. Como não foram muitos os artigos encontrados, passei a pesquisar textos de outras áreas do conhecimento com o tema inclusão social, a partir das referências encontradas nos primeiros artigos. Foram então selecionados 16 artigos e mais 8 textos que tratavam das temáticas responsabilidade social, inclusão social e tecnologias leves de trabalho em enfermagem. Os critérios de inclusão eram que os textos deveriam relacionar, de alguma forma, os aspectos de cunho social das temáticas com o trabalho em enfermagem, e as possíveis repercussões disso para a sociedade. A partir da leitura e análise desses materiais foram selecionados 9 artigos e 8 textos para comporem a discussão dos resultados. A segunda parte da metodologia era encontrar ações comunitárias que continham algum caráter social, para citá-las como bons exemplos de mudança da realidade. Procurei entre essas iniciativas sociais algumas que tivessem a música como forma de atrativo aos jovens e crianças, proporcionando-os educação (tanto musical quanto cultural e profissionalizante),
3 vínculo com os grupos e uma melhor expectativa de vida devido ao crescimento ao qual eram motivados. O interesse em grupos que utilizassem a música como forma de instrumento não foi em vão, ele partiu de uma grande crença minha na potencialidade que a música tem em despertar, primeiramente, o interesse nos jovens e nas crianças, mas principalmente disciplina, concentração, trabalho em equipe e muito estudo. Funcionando como, além de uma atividade extra para estes jovens e crianças, uma verdadeira escola de bons exemplos a serem seguidos em suas vidas. Juntando os conteúdos dessas duas partes distintas da pesquisa elaborei um paralelo entre ambas, para tentar demonstrar a importância da responsabilidade e inclusão social como tecnologias leves em enfermagem. Utilizei também alguns textos que regulamentassem essas ações de cunho social, pelos governos e pela sociedade, como a Declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos feita pela UNESCO e a Lei Federal n de Setembro de Como resultado da análise dos textos pude notar que são muitos os exemplos ações sociais realizadas por ONGs, escolas, hospitais, comunidades, ou mesmo pessoas físicas em todo o Brasil com o intuito de diminuir as diferenças sócioeconômicas e culturais em suas comunidades de atuação. Um belo exemplo dessas ações é o Projeto Oficina de Percussão em Santa Maria RS, que existe desde 2005 e tem como objetivo descentralizar a cultura na cidade proporcionando inclusão social e estimulando a solidariedade Carbonel et al (2007). Ao levar música à criança de periferia, além de promover a valorização da arte e aumentar a auto-estima das crianças, o projeto gera e acentua o senso de comunidade nos envolvidos. O projeto já atingiu diretamente mais de 300 crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos, alunos de várias escolas públicas do bairro Camobi. Carbonel et al (2007). O fundador do projeto José Éverton da Silva Rozzini (2007) explica que são oferecidas oficinas de música, trabalhando basicamente com instrumento de percussão, e também oficina de dança latino americana onde já foi criado um grupo de dança flamenca chamado Ritana. Também realizamos concertos, workshops, palestras, tudo com temas que
4 achamos relevante para os jovens. Devemos atingir cerca de 200 crianças durante este ano (2007) na oficina. Estas ações podem (e devem) partir de todos os integrantes de nossa sociedade, mas principalmente daqueles que tem um compromisso, uma proximidade e um vínculo maior com ela. Neste contexto destaca-se a enfermagem, por ter o seu foco de responsabilidade e competência voltado para o cuidado com a comunidade. Esse cuidado deve ser entendido em seu conceito mais amplo, incluindo-se nele a responsabilidade social com a comunidade na qual se está atuando. Dentro desse raciocínio, destaco as brilhantes palavras de Matumoto (2001) ao dizer que estamos então tomando em conta que a enfermagem não se apresenta neutra e não se faz somente com saberes e práticas técnicas, ainda que necessite destes para constituir-se como um trabalho social em dada sociedade, reconhecido por ela e intervindo nela. A seguir a autora cita que o projeto de intervenção da enfermagem vai na direção da produção de uma ação social, a qual pode ser de manutenção ou de transformação da realidade. Inscrevendo a enfermagem na esfera de responsabilidade social tão defendida neste texto. Ao fazer o questionamento: Qual o impacto de nossas práticas sobre a saúde da população pela qual nos responsabilizamos?, Matumoto nos faz refletir se as ações que estamos tendo na prática, com a sociedade, estão de fato interferindo e gerando resultados benéficos para ela, ou apenas mantendo as ações já impostas anteriormente, sem que haja uma repercussão positiva. Rozendo e Collet (1999) também acreditam na necessidade dos profissionais da área da saúde atuarem como participantes diretos na responsabilidade social ao dizerem que os profissionais de saúde, não só como integrantes do setor mas também como cidadãos responsáveis e em pleno gozo de sua cidadania, têm um grande compromisso para com a população e com o projeto de construção de uma sociedade mais justa. As autoras também salientam a postura que alguns profissionais tomam, sendo esta altamente influente nos rumos que o trabalho tomará: É necessário identificarmos quais são nossas opções e de qual lado do
5 rio iremos amarrar nossa canoas: se do lado cujo trabalho é desenvolvido no sentido de canalizar esforços para a manutenção de status quo ou do lado em que se trabalha para o seu contrário, ou seja, a transformação da realidade.... Carvalho (1997) vem ao encontro dessa afirmação ao dizer que... a enfermeira de saúde pública deve estar ciente sobre sua forma especial de atuar, que corresponde a uma prática total [...] e nunca a plano estreitado de um canteiro privado. E mostra-se totalmente a favor da idéia de responsabilidade social vinculada a enfermagem quando refere que a enfermagem de saúde pública como prática social é a expressão mais completa da arte da enfermeira. Ao término de sua publicação Carvalho (1997) deixa-nos um questionamento: Em que sentido a enfermagem de saúde pública pode ser entendida como prática social?. Humildemente tento responder esse questionamento, com base em minhas convicções de que a enfermagem deve atuar como principal colaboradora e promotora de ações de responsabilidade e inclusão social, valendo-se dessas atitudes como tecnologias leves de trabalho. A partir de ter a responsabilidade do cuidado, e enfermagem deve observar as deficiências e necessidades no âmbito sócio-econômico e cultural e, a partir daí estruturar ações concretas a nível de inclusão social. A enfermagem não pode restringir-se apenas ao cuidado direto às necessidades biológicas e patológicas de saúde. Ela deve sim ampliar o seu olhar para os demais fatores que interferem nessas condições de saúde, como foi especificado anteriormente, agindo assim como uma profissão que realmente atua tendo em mente a responsabilidade social. Palavras Chave: Instrumento e inovação tecnológica no trabalho da enfermagem; inclusão social; responsabilidade social; saúde pública; tecnologias leves de trabalho.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CARBONEL, Fabrício Lazzarini. et al. Percussão na comunidade: produção do informativo Repique como experiência em comunicação comunitária. Anais do XXX CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA COMUNICAÇÃO INTERCOM, Santos, CARVALHO, Vilma de. A enfermagem de saúde pública como prática social: Um ponto de vista crítico sobre a formação da enfermeira em nível de graduação. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, n de lançamento, Julho CASATE, Juliana Cristina; CORRÊA, Adriana Kátia. Humanização do atendimento em saúde: conhecimento veiculado na literatura brasileira de enfermagem. Rev. Latino-Am. Enfermagem vol.13 no.1 Ribeirão Preto Jan./Fev MATUMOTO, Silvia; MISHIMA Silvana Martins; PINTO, Ione Carvalho. Saúde Coletiva: um desafio para a enfermagem. Cadernos de Saúde Pública v 17, n 1, Jan./Feb, Rio de Janeiro, ROZENDO, Célia Alves e COLLET, Neusa. A década de 90 e a enfermagem brasileira. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, Rio de Janeiro, v.3, n.3, dez ROZZINI, José Éverton da Silva. Projeto educa colocando os jovens para batucar. Informativo do Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos Bancários de Santa Maria e Região, Maio, 2007, pg. 6. UNESCO. Declaração universal sobre bioética e direitos humanos. Outubro 2005.
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