MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA DA REPÚBLICA EM ALAGOAS

Transcrição

1 Processo n / PREGÃO N 02/2012 ASSUNTO : Julgamento da impugnação do Edital pela empresa MCA SERVIÇOS ESPECIALIZADOS LTDA - EPP. A empresa MCA SERVIÇOS ESPECIALIZADOS LTDA - EPP interpôs no dia 20/06/2011, uma impugnação contra o Edital de Pregão n.º 02/2012, protocolo 9317/2012, a qual o Sr. Pregoeiro passará a analisar e julgar. Trata o presente processo do Pregão nº 02/2012, por intermédio do qual se intenta a contratação de empresa especializada para a prestação dos serviços de limpeza e conservação, copeiragem, auxiliar de carga e descarga, auxiliar de serviços gerais e recepção para prédios desta Procuradoria da República no Estado de Alagoas, capital e Arapiraca, de forma contínua, com fornecimento de material para os itens 1, 2 e 4 observando o requerido e discriminado no Anexo I e I-A (Termo de Referência) do Edital. O Edital foi regularmente divulgado, tendo sido agendada a sessão de abertura para o dia 26 de junho vindouro, às 10:00 (dez horas). No dia 20 de junho de 2012, por meio de correspondência protocolada nesta unidade sob número 9315/2012, a empresa MCA SERVIÇOS ESPECIALIZADOS LTDA - EPP, tempestivamente, impugnou o Ato Convocatório. I DOS FATOS A empresa retromencionada declara que conforme entendimento do Tribunal de Contas da União, a vistoria nos locais onde serão prestados os serviços não deve ser obrigação da empresa interessada em participar do certame. Constitui um direito, sendo opção da empresa interessada a sua visita nos locais objetivando ter ciência das instalações, área e demais condições de execução contratual. Como arrimo à sua tese põe em evidência excertos do Acórdão TCU nº 295/2008-Plenário, ordenando: [...] 5. A vistoria aos bens a serem transportados constitui direito das licitantes, às quais deve ser assegurado o acesso a todas as informações necessárias à prestação do serviço e à adequada formulação de seu preço. O que é um direito, porém, não deve se transmudar em obrigação sem justificativa, especialmente se da Av. Fernandes Lima, Farol - Maceió/AL - CEP Fones: (082) / Fax: cdij@pral.mpf.gov.br

2 exigência criada decorrem ônus às interessadas e se existem meios alternativos que permitem obter o mesmo resultado. [ ] Em todo caso, a empresa que decidir não realizar a vistoria e eventualmente, subestimar sua proposta estará incorrendo em risco típico de seu negócio, não podendo, futuramente, opô-lo contra a Administração para eximir qualquer obrigação assumida ou para rever os termos do contrato que vier a firmar. Continua, colocando em destaque disposição do 1 do artigo 3 da Lei Federal n 8.666/93, asseverando que os agentes públicos não devem impor regras/normas que frustrem o caráter competitivo da seleção mais vantajosa para a Administração. A reclamante argumenta ainda que o Egrégio Tribunal de Contas da União já recomendou, conforme disposições da lei, que o edital não pode prever cláusulas prejudiciais à obtenção de proposta vantajosa. Por fim, faz menção à Súmula TCU 222, asseverando que as decisões do Tribunal de Contas da União, relativas à aplicação de normas gerais de licitação, sobre as quais cabe privativamente à União legislar, devem ser acatadas pelos administradores dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. II DO MÉRITO A MCA SERVIÇOS ESPECIALIZADOS LTDA - EPP traz à audiência deste Ministério propostas de ajustes no Ato Convocatório, com o propósito de, a seu juízo, sanear vícios e, ao mesmo tempo, ampliar a competitividade do Pregão n 02/2012. Preliminarmente cumpre-nos registrar que esta Procuradoria da República em Alagoas, quando da elaboração de seus editais licitatórios, alinha-se ao cumprimento dos princípios norteadores da Administração Pública, elucidados no art. 37, caput, da Constituição Federal de 1988 e art. 3 da Lei n 8.666/93, especialmente, no que se refere à legalidade do referido ato administrativo e respeito ao princípio da ampla competitividade e obtenção da proposta mais vantajosa à Administração e pleiteia pela garantia da excelência e eficiência da qualidade dos produtos e dos serviços a serem prestados. No que pertine à alegação da impugnante no sentido de que a exigência de realização de vistoria aos locais de prestação dos serviços não se coaduna com o que entende o TCU por tratar-se de um direito da empresa interessada, registramos que a íntegra do teor do Acórdão TCU nº 295/2008- Plenário, parcialmente referenciado pela própria impugnante, reconhece de forma clara que o entendimento majoritário do Tribunal de Contas da União não é no sentido de que a vistoria é um direito das licitantes.

3 Assevera o Acórdão TCU nº 295/2008-Plenário: [...] Embora não seja o entendimento predominante no TCU, há recente acórdão da lavra do ilustre Ministro Marcos Vinicios Vilaça que, do mesmo modo como defendido nesta instrução, entende ser a vistoria um direito das licitantes não podendo ser alterado para uma obrigação. Por outro lado, o Tribunal de Contas da União em vastas manifestações tem assim tratado da matéria: Acórdão 112/ Plenário A exigência de vistoria técnica é também uma forma de a Administração se resguardar, pois a contratada não poderá alegar a existência de impedimentos para a perfeita execução do objeto, amparada no desconhecimento das instalações onde realizará os serviços. Em seu voto o Ministro Relator anota: (...) 2. A Agência Nacional de Aviação Civil - Anac foi ouvida a respeito dos aspectos relativos ao Edital do Pregão Presencial nº 7/2006 que resumo a seguir: (...) d) habilitação de licitantes condicionada à prévia vistoria técnica das instalações da Anac no Rio de Janeiro; 3. Consoante se verifica do relatório precedente, os argumentos apresentados pelo pregoeiro do certame, em nome da Anac, lograram demonstrar, no entender da unidade técnica, que os quesitos mencionados nas letras c e d do item 2 retro estão de acordo com a legislação em vigor. Pelos seus fundamentos, concordo com esse entendimento.(grifo nosso) Acórdão 293/ Plenário Quanto à exigência de vistoria técnica nas Coordenações Regionais dos Estados do Pará, Paraná, Goiás, São Paulo e Pernambuco, consta nos autos informação da FUNASA, em resposta à diligência da 4ª Secex, de que a escolha de tais estados se baseou em critérios técnicos, sendo essas regionais pólos tecnológicos em suas regiões. Ademais, a entidade informa ainda que um total de 6 (seis) empresas realizaram, à integra, as vistorias em todas as localidades definidas no Edital, o que demonstra não ter havido restrição à competitividade.(grifo nosso) Acórdão 2477/ Plenário 2. Consoante dispõe o inciso III do art. 30 da Lei nº 8.666/1993, é facultada à Administração exigir do licitante a comprovação de haver tomado conhecimento de todas as informações e das condições locais para o cumprimento das obrigações objeto da licitação. Com suporte nesse permissivo legal, o VI COMAR

4 requereu dos interessados em participar do citado certame declaração de comparecimento a suas instalações. 3. Tal visitação tinha por objetivo dar ciência aos licitantes de fatores relevantes para a prestação dos respectivos serviços. Entre eles, destaco os seguintes: existência ou não de pontos de rede, de telefone, de energia; os espaços disponíveis; computadores e softwares compatíveis e disponíveis para a instalação; localização das unidades atendidas. A referida empresa alega que lhe foi negado acesso à unidade Terceira Força Aérea. O VI COMAR informa, porém, que o representante dessa empresa não teria comparecido ao local da visitação. Por esse motivo, não foi fornecida a respectiva declaração. 4. (...) 5. Considero também pertinentes as anotações do Sr. Analista acerca da exigência da declaração acima referida dos interessados em participar do certame. Consoante se depreende do acima transcrito inciso III do art. 30 da Lei nº 8.666/93, há amparo legal para a exigência de declaração de vistoria como um dos requisitos da denominada qualificação técnica. Além disso, no caso concreto, a visitação às Unidades do VI COMAR revelou-se razoável, uma vez que permitiu o contato dos interessados com circunstâncias materiais relevantes para a formulação das respectivas propostas. 6. Em síntese, entendo que os elementos contidos nos autos são insuficientes para apontar ilicitude no certame realizado pelo VI COMAR. Exatamente porque não violaram garantia da autora da representação, nem denotaram a ocorrência de circunstância que prejudicasse o caráter competitivo da licitação. Por esses motivos e em consonância com a proposta de encaminhamento da Unidade Técnica, considero que a presente representação reúne elementos suficientes para, já nesta etapa processual, ser julgada improcedente.(grifo nosso) Acórdão 1687/ Plenário 7. Assim, têm fundamento legal e são razoáveis os critérios de exigência de vistoria técnica e de fixação e aplicação de multa utilizados pela Fundação, além de este Tribunal já haver reconhecido a possibilidade de contratação daquela entidade, dadas suas especificidades [...] (acórdãos 1306/ Plenário e 349/2007-2ª Câmara). A linha jurisprudencial colocada em destaque demonstra que a colenda Corte de Contas não se insurge quanto à exigência de vistoria para conhecimento das condições de realização do serviço, senão quando caracterizado o excesso, o que não se configura no caso presente. Observe-se ainda, que as vistorias técnicas podem ser realizadas por qualquer preposto da empresa. Trata-se de medida acautelatória para que as empresas interessadas em participar do certame tenham prévio

5 conhecimento, entre outros elementos, das áreas e suas características, de modo que essa situação não gere eventuais alegações de imprevisibilidade quando da execução do objeto da licitação. Para rematar, registre-se que: 1. Prevista no artigo 30, III, da Lei nº 8666/93, a vistoria prévia das condições do local enquadra-se entre os requisitos exigidos para habilitação técnica dos licitantes. O referido inciso arrola como documento referente à qualificação técnica a "comprovação, fornecida pelo órgão licitante, de que recebeu os documentos, e, quando exigido, de que tomou conhecimento de todas as informações e das condições locais para o cumprimento das obrigações objeto da licitação". E, apesar de Marçal Justen Filho entender que esse inciso seria inútil, visto não se poder inferir que o conhecimento das peculiaridades do objeto autoriza alguma presunção acerca da qualificação técnica, o entendimento majoritário do Tribunal de Contas da União se coaduna com o que dispõe Jessé Torres Pereira Júnior, quando aduz acerca da importância do dispositivo, demonstrando que este servirá ao propósito de vincular o licitante às condições locais para o cumprimento das obrigações contratuais, por mais adversas que possam revelar-se durante a execução, desde que corretamente indicadas. Continua o prestigiado autor, alegando que "sendo esta a hipótese, não se admitirá escusa para inexecução, fundada em alegadas dificuldades imprevistas no local em que se deva realizar a obra ou serviço". O TCU já teve oportunidade de refutar as afirmações de Marçal Justen Filho, no Processo nº TC /2007-4: "Aqui não se considera inútil, também assim considerado por este Tribunal, o dispositivo que prevê a exigência de vistoria técnica. Não é incomum o fato de os interessados, após a adjudicação do objeto, pleitearem aditivos contratuais perante a Administração sob a alegação de desconhecimento de determinada peculiaridade ou condição da área na qual prestariam os serviços ou entregariam o objeto". 2. Os diversos serviços licitados no Pregão n 02/2012, de limpeza e conservação, copeiragem, auxiliar de carga e descarga, auxiliar de serviços gerais e recepção serão prestados em locais absolutamente distintos, tanto na unidade agreste localizada no município de Arapiraca, quanto na capital; 3. Cada local apresenta diferentes tamanhos, características físicas de piso, disposição de salas, mobiliário, espaços para jardinagem, copa, de localização predial, entre diversos outros elementos que exigem tratos culturais diferenciados.

6 Entendemos que os fatores descritos influenciam na execução dos diversos serviços licitados em um só certame, de modo que a vistoria dos locais contribuirá para que as empresas interessadas em participar da licitação tenham todas as informações pertinentes à formação do preço a ser ofertado, tendo condições efetivas de prestar o serviço, sem ônus, transtornos ou dificuldades no cumprimento do objeto contratado. III CONCLUSÃO O cenário em apreço acaba por revelar a inexistência de nexo e necessidade de readequação nos termos do Edital. Ante o exposto, o Sr. Pregoeiro, baseado nos argumentos acima esposados, conhece da impugnação, mas a considera improcedente. Maceió, 21 de junho de Newton Sampaio de Almeida Júnior Pregoeiro