MC 169/ ACX-06-BR-169-PB
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- Thomaz Abreu Pais
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1 MC 169/ ACX-06-BR-169-PB
2 Diversos estudos científicos publicados nas últimas décadas mostram claramente que o exercício físico realizado regularmente (pelo menos 3 a 5 vezes por semana) é capaz de ajudar a prevenir e tratar diversas doenças. Estima-se que na América do Norte pessoas faleçam a cada ano pelas conseqüências da falta de exercícios. Entre as condições clínicas que são menos comuns em pessoas fisicamente ativas ou podem ser tratadas com o exercício físico, podemos citar: Hipertensão arterial. Doença coronariana. Insuficiência cardíaca. Diabetes. Aumento do colesterol e triglicerídeos. Acidente vascular encefálico ( derrame ). Osteoporose. Alguns tipos de câncer, como intestino grosso (cólon) e mama. Obesidade. Ansiedade e depressão. Além disso, o exercício físico também é comprovadamente capaz de prolongar a vida, além de proporcionar uma melhor qualidade de vida. Não é necessário ser um atleta de competição para ter esses benefícios; uma dose moderada de exercícios pode ser suficiente. Entretanto, costumamos dizer que exercício não é vacina, ou seja, para gozar dos benefícios é necessário que o exercício seja praticado com regularidade. 1
3 Aliás, da mesma forma que acontece com medicamentos, que precisam ser prescritos de uma determinada forma (há uma dose adequada para cada pessoa, de acordo com a necessidade), o exercício físico também precisa ser prescrito. A dose correta do exercício deve ser individualizada para cada pessoa, de acordo com os seus objetivos, e deve incluir: Tipo(s) de exercício(s); Número de vezes por semana; Intensidade do exercício; Duração da sessão de exercícios; Forma de progressão. Após uma avaliação médica, um especialista em Medicina do Esporte ou um profissional de educação física poderão elaborar a prescrição ideal para cada indivíduo. A criança se beneficia muito com a prática de exercícios, que proporciona experiências motoras, estimulando o seu desenvolvimento. Além disso, uma criança fisicamente ativa tem maior possibilidade de se tornar um adulto fisicamente ativo. É importante que os pais estimulem formas de lazer ativo em crianças e adolescentes, ao invés de meios de lazer sedentário, como computadores, jogos, TV e DVD. Uma pessoa que pratique exercícios desde a infância e continue fisicamente ativo na idade adulta terá menor chance de desenvolver diversas doenças crônicas. O idoso provavelmente é o que mais se beneficia com a prática regular de exercícios. Muito do declínio funcional observado nos idosos se deve não somente ao passar dos anos, mas à falta de exercícios e à presença de doenças crônicodegenerativas. Cria-se um ciclo vicioso do envelhecimento, que segue a seguinte seqüência: envelhecimento falta de atividade física descondicionamento fragilidade músculo-esquelética perda do estilo de vida independente menor motivação e menor auto-estima ansiedade e depressão falta de atividade física envelhecimento. Um estilo de vida ativo pode significar a diferença entre ser um idoso independente ou necessitar de ajuda para as tarefas 2
4 comuns do cotidiano. É óbvio que isso tem um grande impacto na qualidade de vida do idoso. Antes de começar a prática de exercícios, todos devem procurar um especialista para realizar o que denominamos avaliação médica pré-participação desportiva. De acordo com o perfil do cliente e dos seus objetivos, podem ser solicitados exames complementares. Essa avaliação não deve ser vista como uma formalidade que possa limitar ou impedir a prática de exercícios; o objetivo é o de servir como um instrumento para a manutenção da saúde e da segurança de praticantes de exercícios e esportes. Além disso, fornecerá informações que serão importantes na prescrição dos exercícios. O exercício físico, pelos inúmeros benefícios que proporciona, deve ser algo tão freqüente e natural como, por exemplo, cuidar da própria higiene. O sedentarismo definitivamente não é um hábito saudável, podendo ser tão prejudicial quanto fumar ou não controlar a pressão arterial, os níveis de colesterol ou a glicose. Não abra mão de melhorar a sua saúde. Procure um especialista e inicie a prática de exercícios. Seja feliz, viva mais e melhor! 3
5 Lesões mais frequentes na prática esportiva Tendinopatias Os tendões são estruturas tubulares de tamanhos e formatos variados que conectam os músculos aos ossos e articulações. São compostos de fibras de tecido colágeno e tem uma importante participação nos movimentos do ser humano. Não há movimento sem que ocorra a ação dos tendões na transmissão de forças geradas nos músculos. As atividades motoras do dia-a-dia, como caminhar ou simplesmente pegar objetos provocam tensões nos tendões, gerando estiramentos da ordem de 0% a 2% de seus comprimentos, porém os movimentos do esporte demandam frequentemente estiramentos entre 2 a 4%, caracterizando assim as sobrecargas. Os tendões possuem uma taxa de metabolismo baixa com nutrição de vasos sanguíneos reduzida. Ao ser solicitado durante um movimento, o tendão responde à sobrecarga mecânica gerando um aumento no seu metabolismo e também da circulação ao seu redor. Estas alterações contribuem para uma adaptação induzida pelo treinamento, como o aumento da tolerância aos esforços do exercício. As tendinopatias são as doenças dos tendões, englobam tanto as paratendinites (distúrbios inflamatórios) e as tendinoses (distúrbios degenerativos) e são mais comuns e limitantes no esporte. Podemos classificar as tendinopatias segundo o tempo de ocorrência da lesão em: 4
6 Depressão gerada por ruptura completa do tendão do calcâneo. Agudas: < 4 semanas. Sub-agudas: 4 a 6 semanas. Crônicas: > 6 semanas. A faixa etária dos 30 aos 35 anos apresenta a maior incidência das tendinopatias, enquanto que nos indivíduos acima dos 55 anos aparecem modificações biomecânicas nos tendões com mais freqüência, tais como a diminuição da capacidade de resistir ao estiramento, aumento da rigidez e consequentemente aumento dos sinais de degeneração. Dentre os tendões mais frequentemente acometidos por lesões inflamatórias ou degenerativas no esporte estão: o tendão do calcâneo ( Aquiles ) no pé e tornozelo, o ligamento da patela no joelho, o tendão extensor radial curto do carpo no cotovelo e os tendões do manguito rotador no ombro. Podemos apontar alguns fatores predisponentes ao aparecimento das tendinopatias: Mudança súbita nas características do treinamento como: intensidade de um movimento, na distância percorrida ou na velocidade do gesto esportivo. 5
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8 Deficiências técnicas de movimento. Modificações nas condições de ambiente e equipamentos associados ao gesto esportivo. Micro-traumatismos causados pela contração vigorosa da musculatura em movimentos de alta potência. Sobrecarga resultante da deficiência de flexibilidade de um grupo muscular. Tempo de esforço físico elevado e reduzido intervalo de recuperação. Distúrbios anatômicos ou biomecânicos (desalinhamentos de membros, contraturas articulares, deformidades, assimetrias). As queixas clínicas podem variar desde: Ausência de sinais e sintomas. Dolorimento ao toque do tendão. Episódios de dor localizada ou difusa, algumas vezes severa, ao longo do tendão durante ou após o esforço. Edema localizado. Diminuição do rendimento esportivo. Sensação de enrijecimento ou tensão que geralmente diminui após o aquecimento. Diminuição da força. Deformidade. Outras condições severas, tais como as rupturas parciais do tendão e as menos graves como as bursites, apresentam sintomas similares, portanto, o diagnóstico apropriado é funda- 7
9 mental para se programar o tratamento. O estágio final de ruptura do tendão pode não ser precedido por quaisquer sinais ou sintomas. Os exames de imagem como o ultra-som e a ressonância magnética, embora detectem anormalidades proporcionais às suas capacidades técnicas, apresentam apenas uma moderada correlação com os aspectos clínicos (sintomas e função) de algumas tendinopatias. Este fato reflete a importância do diagnóstico clínico de cada lesão, pois as imagens retratam informações anatômicas e não as modificações bioquímicas ou da fisiologia dos tendões. Os diversos métodos de tratamento clínicos ou cirúrgicos ainda hoje demonstram dificuldades na elaboração de protocolos, e não raramente levam à frustração de esportistas, treinadores, fisioterapeutas e médicos. O tratamento das tendinopatias abrange: Medicação analgésica e/ou antiinflamatória sob prescrição médica. Repouso modificado, o que pode significar parcial ou total interrupção do gesto esportivo. Órteses (calcanheiras, palmilhas, estabilizadores, bandagens), que são acessórios capazes de aliviar o estresse sobre o tendão e promover um melhor amortecimento e/ ou estabilidade. Fisioterapia sob prescrição: métodos de controle da dor e inflamação, exercícios de alongamento e exercícios de fortalecimento muscular. Introdução de exercícios específicos, substituição por exercícios de menor intensidade sobre o tendão, tais como as atividades aquáticas. 8
10 A prevenção das tendinopatias é ainda motivo de investigação científica, embora possamos considerar alguns pontos: Escolha adequada do equipamento (tênis, raquete, etc.). Correção de desalinhamentos e assimetrias. Utilização de órteses (palmilhas, estabilizadores) quando necessário. Exercícios de alongamento e fortalecimento muscular. Atividades físicas regulares. Programa de treinamento específico para cada indivíduo, visando objetivos definidos. Nunca realizar a injeção de corticosteróides dentro dos tendões, pois aceleram o processo de degeneração. O rendimento esportivo não depende somente das características físicas do indivíduo, mas também de uma série de fatores que envolvem aptidão e um treinamento eficiente e adequado. Não podemos nos esquecer de que o treinamento relacionado a bons rendimentos está baseado cada vez mais em detalhes científicos e técnicos. A competição é um fator de estímulo para o treinamento esportivo, mas preparar-se para superar os próprios limites não é uma tarefa simples. Descobrir o ponto ótimo de estímulo de um esportista sem provocar uma quebra do equilíbrio do organismo é uma dúvida que nos norteia frequentemente. Atenção aos sintomas durante e após a prática esportiva, procure um especialista para o diagnóstico precoce. Preserve seus tendões. Bons treinos! 9
11 Lesões Musculares As lesões musculares estão entre as mais freqüentes no esporte e modificam significativamente os hábitos de treinamento e competição dos esportistas. Os músculos são considerados os motores das articulações, geram e coordenam os movimentos, auxiliam na estabilização das articulações e também são responsáveis por manter a postura. As contrações musculares podem ser classificadas em dois grandes grupos: dinâmicas e estáticas. A contração estática ou isométrica é aquela onde a tensão gerada no músculo tem intensidade igual à resistência imposta sobre ele, mas com sentido oposto, portanto não há movimento da articulação ou variação no comprimento total do músculo. A contração muscular dinâmica é também chamada de isotônica, embora a tensão do músculo e o torque gerado modificam-se com a mudança dos sistemas de alavancas e dos ângulos articulares. As contrações dinâmicas podem ser também concêntricas ou excêntricas. A contração concêntrica caracteriza-se pela diminuição do comprimento de um músculo em função da resistência aplicada ser de magnitude inferior à força gerada, acarretando assim um movimento articular. A contração excêntrica caracteriza-se pelo alongamento gradativo das fibras musculares em decorrência do torque muscular ser de magnitude inferior à resistência imposta. O exercício excêntrico é fundamental no treinamento muscular, devido a algumas vantagens biomecânicas, tais como o significativo ganho de força através de um menor recruta- 10
12 mento das unidades motoras quando comparado ao exercício concêntrico. As lesões musculares podem provocar impotência funcional em graus variáveis, dependendo das características, como: tipo de lesão, tamanho e localização. Podemos classificar as lesões musculares em: Diretas e indiretas Lesões diretas são decorrentes das situações de impacto, geradas durante as quedas ou traumatismos de contato. Lesões indiretas ocorrem na ausência de contato e são observadas mais frequentemente nas modalidades esportivas que exigem grande potência na realização dos movimentos. Traumáticas e atraumáticas Lesões traumáticas são representadas pelas contusões, lacerações e o estiramento muscular. Lesões atraumáticas são representadas pelas cãibras e pela dor muscular tardia. Parciais ou totais Lesões parciais acometem parte do músculo Lesões totais abrangem a totalidade do músculo e acarretam deformidade aparente (o ventre muscular encurtase no sentido da sua origem óssea durante a contração muscular), causa assimetria e perda da movimentação ativa. O estiramento muscular é uma lesão indireta caracterizada pelo alongamento das fibras além dos limites normais (fisiológicos). Tal fato ocorre predominantemente durante as con- 11
13 trações musculares excêntricas, embora também ocorra durante as contrações concêntricas. As regiões do músculo mais freqüentemente acometidas são as transições músculo-tendão e menos freqüentemente no ventre muscular (corpo do músculo). Os grupos musculares mais freqüentemente atingidos por lesões do tipo estiramento são os ísquiotibiais (músculos posteriores da coxa), o quadríceps femoral (músculos anteriores da coxa) e o tríceps sural (músculos da perna), que apresentam em comum as seguintes propriedades: são biarticulares (atravessam duas articulações) e tem um predomínio de fibras tipo II (fibras de contração rápida). Alguns fatores são considerados predisponentes às lesões musculares, embora ainda sejam discutidos amplamente na literatura. Tais fatores são: as deficiências de flexibilidade, os desequilíbrios de força entre músculos de ações opostas (agonistas e antagonistas), as lesões musculares pregressas, os distúrbios nutricionais, os distúrbios hormonais, as alterações anatômicas, as infecções e os fatores relacionados ao treinamento (incoordenação de movimentos, técnica incorreta, sobrecarga e fadiga muscular). A lesão muscular por estiramento causa um desarranjo na estrutura de suas fibras, desencadeando um processo de morte celular (necrose), inflamação, reparo e fibrose. Na primeira fase após a lesão, inicia-se um processo inflamatório imediato com o aparecimento dos sinais e sintomas típicos (edema, equimose, hematoma, dor, deformidade, limitação de movimentos) e migração de células sanguíneas com a liberação de substâncias (fatores de crescimento celular) que estimulam o reparo (cicatrização) e a regeneração das fibras musculares. A história de quem sofre uma lesão é marcada por uma dor localizada de início súbito e intensidade variável, algumas vezes acompanhada de um estalido audível, geralmente 12
14 Imagem ilustrativa de fadiga muscular. Imagem ilustrativa de lesão muscular. 13
15 durante um movimento (corrida, salto, arremesso) e que culmina com a interrupção do mesmo. O inchaço local pode se formar após a lesão acompanhada ou não de uma deformidade (depressão local). Nem sempre as lesões musculares são precedidas por dor localizada ou tensão muscular aumentada no mesmo local, portanto prever o surgimento de tais lesões não é uma tarefa simples. Podemos classificar os estiramentos musculares em 3 graus de acordo com as dimensões da lesão: Grau I Lesão <5% do músculo. A dor é localizada durante a contração muscular contra-resistência e pode ser ausente no repouso, não há formação de hematoma e a limitação funcional é leve. Apresenta bom prognóstico e a restauração das fibras é relativamente rápida. Grau II Lesão >5% e <50% do músculo, acompanhado de edema, dor localizada, hemorragia leve ou moderada. A limitação funcional é moderada na fase aguda, apresenta resolução em médio prazo, porém pode evoluir com seqüelas. Grau III Lesão >50% do músculo, acompanhada de perda de função, defeito palpável (retração muscular) e presença de hematoma. A recuperação é lenta e o prognóstico é indeterminado, de um modo geral evoluindo com seqüelas, como deformidades. O diagnóstico das lesões musculares deve abranger uma história e exame clínico adequados, podendo ser complementados por métodos de diagnóstico por imagem (ultra-sonografia e ressonância magnética). O tratamento das lesões musculares abrange: Medicamentos para controle da dor sob prescrição médica: analgésicos, antiinflamatórios e relaxantes musculares. 14
16 Gelo: compressão do local da lesão com bolsas de gelo durante 20 a 30 minutos, com freqüência de 3/3 horas, durante os dois primeiros dias. Repouso do membro afetado com a utilização de órteses (tipóias, muletas, estabilizadores articulares). Elevação do membro acometido para uma drenagem mais eficiente do edema ou hematoma Fisioterapia sob prescrição: analgesia (controle da dor), cinesioterapia (exercícios). O diagnóstico precoce, assim como a prescrição de tratamento específico é de suma importância na abordagem das lesões musculares. Negligenciar o tratamento de tais lesões leva freqüentemente a recidivas que podem resultar seqüelas e longos períodos de afastamento do esporte. Cuide de seus músculos! Bons treinos! 15
17 Este folheto foi desenvolvido por: Dr. Félix Albuquerque Drummond Presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte Dr. José Kawazoe Lazzoli Diretor Científico da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte Dr. Cristiano Frota de Souza Laurino Mestre em Ortopedia e Traumatologia (UNIFESP). Delegado Regional do Comitê de Traumatologia Desportiva da SBOT. Membro do Comitê de Educação da ISAKOS. Médico da Equipe BMF Atletismo, Federação Paulista de Atletismo (FPA) e Confederação Brasileira de Atletismo (CBAT) Fotos Cristiano Frota de Souza Laurino 16
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