PN: Acordam no Tribunal da Relação de Évora

Transcrição

1 PN: Acordam no Tribunal da Relação de Évora 1) No Tribunal da Comarca da, Lda, requereu arresto preventivo do prédio, composto de r/c e 1º andar, r/c para loja e 1º andar para habitação e quintal, inscrito na matriz respectiva sob o Artº. 568 e descrito na Conservatória do Registo Predial da Golegã sob o nrº a fls. 90 do liv. B20, pertença da requerida,. 2) Alegou em síntese que levou a cabo, no inicio de 1994, obras de restauro e ampliação no prédio urbano arrestando onde se encontrava instalado um estabelecimento de pastelaria, e por encomenda da requerida. Ora, interpelada esta para pagar o remanescente do preço acordado $00 - disse "pura e simplesmente que não pagava porque não tinha dinheiro". Por outro lado, encetou, entretanto, diligências para onerar o prédio em questão com um encar go hipotecário a favor da Caixa de Crédito Agrícola da Chamusca e não possui quaisquer outros bens; Pelo que diminuirá assim consideravelmente o âmbito da garantia patrimonial da dívida, cabendo arresto por não estar ela matriculada como comerciante (Artº. 403/3 CPC). 3) Tendo em atenção "os documentos juntos nos autos e o depoimento das testemunhas indicadas e ouvidas pelo Juiz, foi dado como assente: a) A requerente é uma sociedade que se dedica a trabalhos de construção civil; b) Neste contexto, no início do corrente ano [1994] a requerente, a solicitação da requerida, iniciou as obras de restauro e ampliação de um prédio urbano, 1

2 pertencente a esta, cito na, onde se encontrava instalado um estabelecimento comercial de pastelaria; c) A requerente efectuou as obras [que discriminadamente alegou no requerimento inicial]; d) Tais trabalhos importaram em $00, quantia essa que devia ser logo paga com a emissão da factura na data de 94/06/08; e) A requerida já entregou á requerente, por conta desse preço, e ainda durante a execução das obras, a quantia de $00; f) Quando a requerente pretendeu proceder à cobrança da restante quantia, a requerida informou que não pagava por não ter dinheiro; g) A requerida propõe-se onerar o prédio onde foi feita a obra, com hipoteca a favor de instituição bancária; h) Não são conhecidos à requerida outros bens; i) A requerida não se encontra matriculada como comerciante desde 86/01 4) Visto o disposto nos Artºs. 402, 403/1.2.3 e 4 CPC, com base nestes factos, "atenta a existência da dívida e [haver] o receio de que se [o arresto] não for ordenado, a requerente perderá a garantia patrimonial do seu crédito", o Tribunal decidiu conceder a providência. 5) É desta decisão que a requerida interpôs recurso, recebido como agravo e com efeito fixado segundo a lei. 6) Cumpre tomar conhecimento, corridos que são os vistos. 7) Concluiu: a) A prova da qualidade de comerciante, nos termos e para os efeitos do disposto no Artº. 403 CPC, só é possível de efectuar mediante a junção de certidão emitida pela competente Conservatória do Registo Comercial, a qual tem de ser 2

3 passada pelo menos 8 dias antes daquele em que os autos tiverem sido requeridos; b) A recorrida não cumpriu tal obrigação legal, violando expressamente o preceituado no Artº. 403/3.4 CPC e Artºs. 1 e 11 do CRC; c) Assim, impõe-se a improcedência do pedido de arresto, revogando-se consequentemente a decisão recorrida; d) A finalizar ainda se impetra o douto suprimento para as inúmeras deficiências do patrocínio. 8) Juntou fotocópia simples do cartão de identificação de empresário em nome individual nrº , emitido em nome de, domiciliada na chamusca, portadora do actividade principal codificada sob o nrº , com a 9) A recorrida não contra-alegou. 10) Há despacho de sustentação, mantendo nos seus precisos termos o despacho ocorrido. 11) A recorrente instruiu o presente agravo com certidão do requerimento inicial; Uma certidão emitida pelo Chefe da Repartição de Finanças da Chamusca na qual se diz que, cessou a sua actividade [comercial] em 86/01/31; Certidão do despacho recorrido; Certidão do requerimento de interpolação do recurso e do despacho de recebimento. 12) A recorrente limita-se a levantar a questão do arresto ter sido ordenado contra comerciante sem ter sido produzida a prova de que não estava matriculado, pelo menos com exibição do instrumento probatório de lei. 3

4 13) Teremos portanto que deixar de fora o bem ou mal fundado da apreciação indiciária da prova quanto aos temas existência do crédito e receio da perda da garantia patrimonial da dívida (quanto a este último há razão de alguma dúvida). 14) Na verdade, o entendimento de que as conclusões balizam o objecto da apreciação do recurso está de há muito firmado e nem sequer há boas razões para se concluir de outro modo dado que no texto das alegações nada se diz em desabono da decisão, neste particular. 15) Diz-se na decisão recorrida - "considerando os documentos juntos nos autos e o depoimento das testemunhas..." - para concluir-se depois - "a requerida não se encontra matriculada desde 31 de Janeiro de 1986". 16) Perante o texto não é possível superar a dúvida sobre se a conclusão acerca da matéria de facto transcrita foi tirada da apresentação de um, se de mais documentos, se houve a conjugação de factos averiguados por mais de um documento, se uma simular má interpretação do documento certificado no presente recurso. 17) De qualquer modo era à recorrente que incumbia o ónus de instrução cabal destes autos de forma a que se ficasse a saber, sem dúvidas, que a requerente apenas apresentou a certidão da Repartição de Finanças. 18) Referindo o texto sentencial "documentos" e apresentando a recorrente apenas um no recurso, quando o requerimento inicial explicita a junção de três mais a procuração, fica-se na impossibilidade de saber se a matéria de facto controvertida foi fixada com base nesse ou também noutros documentos apresentados pela recorrida. 19) Tanto basta para que à pretensão da recorrente não caiba o mérito da procedência. 4

5 20) Em todo o caso, tendo a recorrida juntado com requerimento inicial a certidão emitida pelo Chefe da Repartição de Finanças cujo teor sinteticamente se transcreveu, certo é que alegou implicitamente não ter a recorrente exercido o comércio nos três meses transactos, ainda que estivesse matriculada. 21) Tanto bastava, em face do provado, para fazer o cabimento do pedido de arresto segundo a alternativa consagrada no Artº. 403/3 CPC. 22) Por fim uma certeza fica, é a de que o documento junto com as alegações do recurso nem, superadas todas as dificuldades já encaradas, basta para se concluir pela matrícula da como comerciante. Aliás a recorrente defende isso mesmo no texto e nas conclusões das alegações. 23) Deste modo, visto o disposto no Artº. 742/2 CPC, porque a recorrente não instruiu o agravo de tal modo que possa concluir-se pela não apresentação pela recorrida no requerimento inicial da certidão emitida pela conservatória do Registo Comercial sobre a não matricula da como comerciante nos 8 dias antecedentes, julgam improcedente o agravo, mantendo a decisão recorrida. Custas pela recorrente. 5