TRANSFORMANDO UMA BRINCADEIRA COM BALÕES EM APRENDIZADO EFICIENTE NUM CURSO DE ENSINO SUPERIOR
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- Maria do Mar Martinho Furtado
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1 TRANSFORMANDO UMA BRINCADEIRA COM BALÕES EM APRENDIZADO EFICIENTE NUM CURSO DE ENSINO SUPERIOR Juliana Menna Barreto Marcelo Schultz Moreira Luis Felipe Dias Lopes Resumo Muito se discute entre os profissionais da área docente sobre qual é a melhor forma ou método facilitador do aprendizado dos alunos de ensino superior. Fórmulas e receitas se encontram em diversos lugares, tendo sempre algum profissional dizendo que a sua forma de abordar determinado assunto é a melhor. Porém, quando aplicada dentro de sala de aula, nem todas as didáticas que funcionam para um professor irá se adequar para outro, uma vez que cursos e disciplinas de faculdade diferem entre si. Os estudantes anseiam por conhecimento dentro de sua área escolhida, mas o que ocorre é a falta de aplicação metodológica por parte dos docentes, fazendo com que os estudantes percam o entusiasmo de assistir uma aula totalmente expositiva e teórica. Uma forma vivenciada disso não ocorrer é a aplicação de dinâmicas de grupo no qual os acadêmicos participam e se envolvem com a atividade proposta, instigando no final uma discussão acerca do que fora desenvolvido na dinâmica. Essa prática é uma maneira de incentivar os alunos a visualizarem situações que ocorre no seu âmbito profissional, uma vez que existem cursos totalmente voltados para a prática, como a medicina, e outros como o curso de administração de empresas, se não estiverem dentro de uma organização, ficará mais difícil os estudantes visualizarem como é o seu funcionamento. A partir desse fato constatado, utilizaram-se atividades dinâmicas para que os acadêmicos fizessem paralelos com a realidade empresarial, facilitando a percepção e o aprendizado daquilo que está sendo exposto nas aulas teóricas. Palavras-chaves: dinâmica de grupo, aprendizado, acadêmicos. Introdução Fazer com que os acadêmicos realmente adquiram o entendimento da profissão escolhida é algo que nenhuma instituição de ensino superior ensina aos docentes de outras áreas que não seja a pedagogia. Cada aula é diferente, assim como cada turma é diferente uma da outra, sendo que muitas vezes não se pode aplicar uma mesma atividade e esperar o mesmo resultado em grupos distintos. Existem vários métodos pedagogos que poderão ser aplicados pelos docentes de ensino superior, porém, grande parte desses métodos são mais direcionados a uma faculdade de licenciatura. Então como saber se os modelos e propostas existentes possam ser adequados e principalmente serem eficazes num curso superior de formação de bacharéis?
2 O objetivo de todo bom educador é fazer com que os acadêmicos, ou pelo menos a grande maioria deles, consigam absorver as experiências transmitidas pelos professores. Porém, quando se faz uma avaliação nota-se que geralmente os acadêmicos não sabem se expressar ou então respondem de forma incoerente questões tão óbvias, tão corriqueiras que ocorrem com freqüência no espaço profissional. Por que será que isso acontece? Será que o professor não foi eficaz em suas explicações? É, geralmente a culpa do mau aprendizado é do professor. Assim, Veiga (1996, p. 57) expõem que o objetivo da educação são os resultados buscados pela ação educativa: comportamentos individuais e sociais, perfis institucionais, tendências estruturais. Para que os estudantes consigam relacionar a teoria com a prática se faz necessário desenvolver criatividade por parte do docente, em que este terá que aplicar um método de aprendizagem eficaz, sendo atrativo pelos estudantes. A realização de dinâmicas em sala de aula é um bom exemplo disso, desde que proporcionem a interpretação e discussão do que foi trabalhado, conciliando as tarefas da dinâmica com experiências do que realmente acontece nas atividades profissionais. Dessa forma, os acadêmicos conseguem visualizar e correlacionar as atividades com a teoria, além de a aula tornar-se interativa e atraente. Na realidade, não são somente as organizações que devem prezar por diferenciação para conquistar os clientes, mas os professores também devem realizar um certo diferencial dentro da sala de aula para reter a atenção dos alunos. Os acadêmicos nunca podem saber como será a próxima aula do professor, cada aula deverá ser diferente das demais. De acordo com os pensamentos de Zabala (1998, p.15), (...) um debate sobre o grau de compreensão dos processos educativos, e sobretudo do caminho que segue ou tem que seguir qualquer educador para melhorar sua prática educativa, não pode ser muito diferente dos outros profissionais que se movem em campos de grande complexidade. Construindo cidadãos Em conversas informais com alguns alunos, a maioria comenta que muitos professores possuem o conhecimento da matéria ou da área de atuação, mas não possuem didática para manifestar esse conhecimento e nem uma metodologia eficiente para transmiti-lo aos estudantes. Efetivamente esse fato é uma realidade
3 preocupante existente na maioria das faculdades e universidades brasileiras: a falta de preparo dos ditos educadores. Antunes (1998, p. 97) confirma o que fora explicitado acima quando menciona que o papel do novo professor é o de usar a perspectiva de como se dá a aprendizagem, para que, usando a ferramenta dos conteúdos postos pelo ambiente e pelo meio social, estimule as diferentes inteligências de seus alunos e os leve a se tornarem aptos a resolver problemas ou, quem sabe, criar produtos válidos para seu tempo e sua cultura. O papel do educador é muito mais do que transmitir suas experiências profissionais. O educador possui um papel social extremamente importante ao contribuir com a construção de profissionais eficientes inseridos na comunidade. Para tal, os acadêmicos devem estar estimulados em se transformar em cidadãos dignos ao aplicar as habilidades adquiridas no ambiente em que estará inserido, não só após o término do curso superior, mas também durante o período acadêmico. Acredita-se, portanto, que os alunos devem vivenciar na prática as atividades que ocorrem no dia-a-dia do curso escolhido. Isso deve ser estimulado inclusive pelos docentes, ou seja, os educadores devem proporcionar maior compreensão e interpretações construtivas acerca dos trabalhos desenvolvidos, ao mesmo tempo em que estas atividades irão preparar futuros profissionais para ingressar no mercado de trabalho. Até aqui tudo bem. Mas como mostrar ou vivenciar para uma turma de 50 acadêmicos do primeiro ano do curso de Administração de Empresas como funciona o mercado competitivo nas aulas de TGA Teoria Geral da Administração no ambiente de sala de aula? Para alguns cursos é mais simples mostrar aos estudantes como realizar as tarefas de sua futura profissão, como é o caso do curso de medicina, cujo educador pode mostrar um tratamento para determinada doença após uma cirurgia, pois esse é visualizado, ao contrário das aulas de administração que são caracterizadas por serem aulas teóricas e, portanto, consideradas massivas pelos alunos. Nóvoa (1995, p. 68) menciona que as profissões definem-se pelas suas práticas e por um certo monopólio das regras e dos conhecimentos da actividade que realizam. Será que os professores dominam a prática e o conhecimento especializado ao nível da educação e do ensino?.
4 Realmente, quando se trata de atividades abstratas, torna-se mais difícil fazer com que os estudantes visualizem um acontecimento, sendo que muitos deles não trabalham ou nunca trabalharam: são estudantes com dedicação exclusiva à faculdade. A partir dos fatos supracitados constatados num ambiente de graduação da Faculdade de Pato Branco (Fadep) foi decidido aplicar uma atividade diferente aos acadêmicos para que se pudesse gerar também uma discussão entre os mesmos, a fim de relacionar o objeto de estudo com uma atividade que a primeira vista parecia ser brincadeira de criança que se vê nos programas infantis. Porém, o resultado de envolvimento e participação dos estudantes superou as expectativas do professor. Desenvolvimento da dinâmica aplicada em sala de aula Muitos estudos defendem a idéia de que atividades relacionadas aos processos de ensino/aprendizagem em uma tarefa grupal normalmente resultam em uma abordagem de compreensão qualitativa ao estudante, além de atingir o objetivo do educador. A dinâmica aplicada a um grupo de estudantes teve como objetivo o estímulo dos acadêmicos para visualizarem através de uma brincadeira a correlação de um fato que ocorre no mercado competitivo. Essa atividade desenvolve o relacionamento da teoria com a prática, além de também proporcionar a integração entre os acadêmicos a fim de estimular o trabalho em equipe. Essa dinâmica foi dividida em duas fases: 1 fase da dinâmica de grupo: A turma de 50 alunos foi dividida em duas equipes de 25 acadêmicos. A cada um dos componentes da equipe foi fornecido um balão de cor diferente para diferenciar as aquipes e um barbante, no qual eles deveriam encher o balão e amarrá-lo em seu tornozelo, conforme a figura 1 e 2.
5 Figura 1: Preparação dos acadêmicos para iniciar a dinâmica. Figura 2: Acadêmicos antes de iniciar a dinâmica. O objetivo da dinâmica era que cada equipe deveria estourar o balão dos outros componentes da equipe adversária. A equipe que conseguisse maior número de balões sem estourar seria a vencedora. A princípio, os acadêmicos não se preocuparam com uma estrutura ou planejamento de como isso seria feito. Ao iniciar a dinâmica, os acadêmicos vivenciaram espírito de competição, com o intuito de vitória de sua equipe, de acordo com a figura 3.
6 Figura 3: Acadêmicos desenvolvendo o objetivo da dinâmica. Durante a dinâmica, houve muita gritaria e empurra-empurra entre os participantes, até que restou apenas um balão sem estourar da equipe do balão amarelo (figura 4), sendo a vencedora dessa primeira etapa da dinâmica. Figura 4: Componente da equipe amarela com apenas um balão sem estourar Apesar de as estratégias só serem repassadas aos integrantes de cada grupo no segundo momento da atividade, alguns acadêmicos já utilizaram algumas estratégias. Esse fato pode ser observado na figura 5, onde uma acadêmica da equipe verde tenta esconder o seu balão em baixo da barra de sua calça. Esse tipo de atividade fez com que os alunos também desenvolvessem suas habilidades e instintos, dando-lhes apenas um estímulo para tal.
7 Figura 5: Acadêmica instintivamente tenta proteger seu balão. 2 fase da dinâmica de grupo: Depois de ter terminado a primeira fase da atividade, o orientador da dinâmica saiu da sala de aula com a equipe vencedora e ofertou-lhes uma estratégia para dar continuidade à mesma. A estratégia para esse grupo era um alfinete para cada um dos integrantes para auxiliá-los na competição da segunda fase da atividade. A equipe perdedora também saiu da sala e lhes foram sugerido encher com pouco ar os balões, o que dificultaria que os mesmos estourassem. O orientador da dinâmica saiu da sala apenas com uma equipe por vez para que nenhuma das duas equipes soubesse da estratégia da outra. No momento em que foi sugerida a estratégia, a reação de cada componente de ambas equipes foi de confiança, pois cada um tinha uma estratégia diferente, acreditando que a sua era melhor e mais eficaz do que seu rival. Novamente os componentes entraram na sala de aula para dar continuidade a dinâmica, sendo que o objetivo continuaria o mesmo: estourar os balões da outra equipe. Porém, cada um com suas estratégias, os componentes desempenharam o objetivo com maior confiança e segurança de que seriam vencedores dessa competição. A figura 6 mostra o entusiasmo dos componentes na segunda fase da dinâmica, já com a aplicação das estratégias distribuídas. Figura 6: Início do segundo momento da dinâmica. Novamente a equipe amarela foi a vencedora. Foi percebido que a equipe vitoriosa teve maior envolvimento e participação de todos os componentes do grupo,
8 o mesmo não ocorrendo com a equipe verde. A figura 7 mostra o final da dinâmica na sua segunda etapa, onde poucos integrantes estavam com balões nos tornozelos. Figura 7: Final da segunda etapa da dinâmica. Resultado da dinâmica Após ter realizado essa atividade, gerou-se uma discussão e interpretação do que aconteceu com as equipes, fazendo um paralelo com o que realmente ocorre numa competição de empresas no mercado, já que a aula tinha enfoque administrativo. Os balões representavam os clientes e a sala de aula o mercado e cada componente seria cada organização presente nesse mercado. Na maioria das vezes as empresas estão tão preocupadas em conquistar uma gama maior de consumidores que se esquecem daqueles que já são clientes potenciais. Esse fato tão corriqueiro no âmbito gerencial foi relatado por um dos acadêmicos porque foi exatamente o que ocorreu com ele na dinâmica. Ele estava tão obcecado em estourar os balões da equipe rival que se descuidou do seu próprio balão, que foi estourado por outro componente rival. Os estudantes também abordaram a importância de as organizações desenvolverem planejamento estratégico para competir com maior força e segurança no mercado consumidor. Foi relatado que após as equipes receberem as estratégias, eles se sentiram mais confiantes de competir, uma vez que acreditaram que a sua estratégia era melhor e mais eficaz do que a estratégia recebida pelo grupo rival. Com isso eles puderam perceber o quanto é importante para as organizações se prepararem e planejarem como irão atuar no mercado para atingirem o sucesso duradouro ou a vitória, no caso da dinâmica. Mas o item mais comentado entre os acadêmicos foi a participação e envolvimento dos integrantes das equipes. Eles salientaram que alguns da equipe
9 verde, talvez por não acharem a dinâmica interessante, não se envolveram em ajudar a sua equipe a conquistar a vitória, o que, segundo os acadêmicos, também foi um fator preponderante para que a equipe rival ganhasse deles. A partir desse fato constatado, pode-se salientar ainda mais a importância do envolvimento de todos os colaboradores de uma empresa a atingir um objetivo comum traçado pela própria organização. Conclusão da pesquisa A aula expositiva é de fundamental importância para o entendimento do conteúdo que deve ser estudado. No entanto, ao praticar uma técnica dinâmica e interativa entre professor-aluno e aluno-aluno, o entendimento e a compreensão desse assunto torna-se mais fácil e agradável, sendo uma forma motivacional para o estudante. As práticas de educação sugerem aspectos concretos, nos quais os acadêmicos podem vivenciar dentro de uma sala de aula os acontecimentos reais de sua futura profissão. A intervenção do professor nesse tipo de dinâmica é essencial, pois é a partir da figura deste que se inicia a discussão acerca do que fora vivenciado, definindo as integrações de todo o processo abordado. Toda instituição seja privada ou pública, preza qualidade de ensino. Essa qualidade de ensino está diretamente relacionada não só as condições físicas do ambiente (cadeiras, multimídia, retro-projetor, etc.), mas está principalmente relacionada ao docente, ou seja, a maneira como ele prepara e transmite o conhecimento aos estudantes. Segundo Nóvoa (1995, p.41) agir é um processo, a duplo título. (...) o sentido que as metodologias de acção conferem a esta palavra: designam princípio, desenvolvimento e resultado, não como uma linha meramente contínua, mas como o entrecruzar lógico (dialéctico?) de fios que se podem desenrolar, constituindo, desde logo, indicadores de sentido. Assim, quanto maior for o nível de integração professor/aluno, maior será o grau de aprendizado dos alunos. Ao relacionar atividades dessa natureza, o estudante correlaciona o fato vivido com a disciplina discutida em aula, formando também cidadãos críticos para o mercado de trabalho. Referências Bibliográficas
10 ANTUNES, Celso. As inteligências múltiplas e seus estímulos. São Paulo : Papirus, NÓVOA, António et alli. Profissão professor. Portugal : Porto, ZABALA, Antoni. A prática educativa: como ensinar. Porto Alegre : ArtMed, VEIGA, Ilma P. A. et alli. Didática: o ensino e suas relações. São Paulo : Papiro, 1996.
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