Viabilidade econômica dos sistemas de produção de trigo e de milho safrinha consorciado com Brachiaria ruziziensis

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1 Viabilidade econômica dos sistemas de produção de trigo e de milho safrinha consorciado com Brachiaria ruziziensis Alceu Richetti Adm., M.Sc., Embrapa Agropecuária Oeste, Caixa Postal 661, Dourados, MS. richetti@cpao.embrapa.br Nas avaliações dos sistemas de produção são necessárias, além das análises técnicas, avaliações econômicas para que se possa medir a lucratividade e a rentabilidade de cada sistema. Desta forma, os sistemas de produção agrícola sustentáveis requerem abordagem específica em relação ao planejamento das atividades inerentes ao processo produtivo. A análise econômica de sistemas de produção constitui-se em processo de rotina, com pequenas variações atribuíveis aos distintos interesses que levam à sua determinação. Nesse sentido, estudos de sistemas e custos de produção foram usados por Melo Filho e Richetti (2003), para avaliação da competitividade e eficiência econômica da cadeia produtiva do algodão em Mato Grosso do Sul. Ceccon et al. (2007) avaliaram técnica e economicamente, a produção de grãos de milho, de sementes de adubos verdes e de massa de Brachiaria ruziziensis, em cultivo consorciado, em Dourados, MS, verificando maior retorno dos consórcios. Richetti e Ceccon (2009) analisaram economicamente os sistemas de produção de milho safrinha em cultivo consorciado e concluíram que em relação à lucratividade, os consórcios apresentaram valores superiores ao milho solteiro, indicando a importância econômica da consorciação de culturas para o sistema de produção e maior lucro para o produtor. Ploper et al. (2010) analisaram economicamente o cultivo de milho e a rotação sojamilho na safra 2009/10 concluindo que a margem bruta do milho e da soja foram positivas e a relação margem/custo da rotação foi superior aos monocultivos. O objetivo deste trabalho foi avaliar economicamente os sistemas e custos de produção de trigo e milho safrinha consorciado com B. ruziziensis na Microrregião Geográfica (MRG) Dourados, em Mato Grosso do Sul. O levantamento dos coeficientes técnicos, empregados no presente estudo para a elaboração dos custos de produção, constou de entrevistas com especialistas e produtores líderes que cultivam trigo e milho na MRG Dourados. No estabelecimento do custo total de produção, foram considerados, além os coeficientes técnicos, os preços unitários dos fatores de produção e os custos de oportunidade (Tabela 1). Para a análise de viabilidade econômica dos sistemas estudados foram considerados os preços de fatores e dos produtos vigentes no mês de novembro de 2010, para milho, e em março de 2011, para trigo. Nos custos de oportunidade incluíram-se a remuneração do fator terra, aqui representado pelo valor do arrendamento em um período de cinco meses, a remuneração do capital de custeio (juros de 6% ao ano sobre o custo de produção, por um período de cinco meses) e, remuneração do capital empregado em máquinas e equipamentos (juros de 6% ao ano sobre o valor empregado em máquinas e equipamentos, por um período de cinco meses). 1

2 A MRG Dourados compreende 16 municípios (Figura 1) com forte base econômica agrícola, impulsionada por diversas empresas voltadas para o agronegócio e instituições de pesquisa agropecuária. Na Região predomina o sistema de produção capitalista, com médias e grandes propriedades voltadas para o agronegócio. Atualmente, no cenário estadual, a MRG Dourados é a maior produtora de grãos do Estado de Mato Grosso do Sul, com 58,05% da produção estadual. Em 2010 foram cultivados 33 mil hectares com trigo e 470 mil hectares com milho safrinha. Aproximadamente, 100 mil hectares foram cultivados com milho safrinha consorciado com B. ruziziensis. Figura 1. Microrregião Geográfica Dourados, Estado de Mato Grosso do Sul Fonte: IBGE (2011). O custo de produção do milho consorciado com Brachiaria foi estimado em R$ 958,25 e o trigo em R$ 1.015,95 (Tabela 1). O custo operacional no trigo correspondeu a 75,3% do custo total de produção, enquanto que no milho safrinha é de 63,9%. Conforme os sistemas de produção praticados na Microrregião Dourados, a produtividade média esperada para o trigo, é de kg ha -1, resultando em um custo total médio (CTme), por saca de 60 kg, de R$ 33,86. No milho consorciado, estes valores foram de kg ha -1 e CTme de R$ 13,68. O fertilizante foi o insumo que causou o maior impacto no custo de produção, correspondendo a 23,1% do custo total do trigo e 19,6% do custo do milho. As sementes representaram 14,8% e 12,0%, respectivamente (Tabela 1). 2

3 Tabela 1. Custo de produção do trigo e do milho safrinha consorciado com Brachiaria ruziziensis, por hectare, em 2011, na Microrregião Geográfica Dourados. Embrapa Agropecuária Oeste, Dourados, MS. Valor (R$ ha -1 ) Componentes do custo Custo trigo Participação (%) Custo milho consorciado Participaçã o (%) 1. Insumos 541,76 53,3 438,29 45,7 Sementes 150,00 14,8 115,30 12,0 Sementes de B. ruziziensis 35,84 3,7 Fertilizante manutenção 235,00 23,1 188,00 19,6 Tratamento de sementes 51,46 5,1 43,50 4,5 Herbicidas 11,05 1,1 32,85 3,4 Inseticidas 17,00 1,7 22,80 2,4 Fungicidas 77,25 7,6 2. Operações agrícolas 85,78 8,4 85,38 8,9 Semeadura 35,40 3,5 35,40 3,7 Aplicação de defensivos 13,58 1,3 12,89 1,3 Colheita mecânica 36,80 3,6 37,09 3,9 3. Outros custos 60,05 5,9 88,69 9,3 Transporte externo 27,00 2,7 63,00 6,6 Administração 12,56 1,2 10,48 1,1 Assistência técnica 10,04 1,0 8,38 0,9 Proagro 10,45 1,0 6,83 0,7 4. Depreciações 77,21 7,6 92,87 9,7 5. Custo operacional ( ) 764,80 75,3 705,23 73,6 6. Remuneração dos fatores 251,15 24,7 253,02 26,4 Remuneração da terra 170,83 16,8 170,83 17,8 Remuneração do capital 56,62 5,6 66,88 7,0 Remuneração do custeio 23,70 2,3 15,31 1,6 Custo total (5+6) 1.015,95 100,0 958,25 100,0 A remuneração dos fatores corresponde à oportunidade que o produtor, ao planejar sua atividade, poderia optar por uma alternativa mais atraente. O custo de oportunidade do trigo foi estimado em R$ 251,15 e do milho em R$ 253,02, por hectare, representando 24,7% e 26,4% do custo total (Tabela 1). De acordo com dados da Tabela 2, a receita bruta obtida, por hectare, pelos produtores de milho consorciado é superior em 34,1% a do trigo. Com o custo total estimado em R$ 958,25 (milho safrinha) e em R$ 1.015,95 (trigo), a renda líquida obtida após a remuneração de todos os fatores ficou em R$ -232,95 para o trigo e em R$ 91,75, para o milho. Esse resultado indica que o sistema milho consorciado com Brachiaria é viável economicamente, uma vez que a renda líquida é positiva, enquanto a do trigo é negativa. A renda familiar, que é a soma da renda líquida mais a remuneração do capital (quando este for de propriedade do produtor) e a mão-de-obra familiar, no milho consorciado (R$ 344,77) é superior em 1.794,3% a do trigo (R$ 18,20). As diferenças observadas são consequências da superioridade da produtividade e os baixos custos unitários do milho (Tabela 2). 3

4 Tabela 2. Indicadores de eficiência econômica dos sistemas de produção de trigo e de milho safrinha consorciado com Brachiaria, safra Sistema de produção Fator agregado da Trigo Milho consorciado produção/indicador Custo atual Participação % (R$ ha -1 ) pação % Custo atual Partici- econômico (R$ ha -1 ) Manejo da área 10,51 1,04 19,08 1,99 Plantio 471,86 46,45 418,04 43,63 Tratos culturais 108,37 10,67 49,46 5,16 Colheita 63,80 6,28 100,09 10,45 Outros custos 33,05 3,25 25,69 2,68 Depreciação 77,21 7,60 92,87 9,69 Custo de oportunidade 251,15 24,71 253,02 26,40 Custo total 1.015,95 100,00 958,25 100,00 Resultado econômico Produtividade (kg ha -1 ) Receita bruta (R$ ha -1 ) 783, ,00 Renda líquida (R$ ha -1 ) -232,95 91,75 Renda da família (R$ ha -1 ) 18,20 344,77 Ponto de nivelamento (sc ha -1 ) 38,93 63,88 Taxa de Retorno - TR (%) 1,79 9,57 Produtividade total dos fatores 0,77 1,10 A taxa de retorno para o empreendedor, que consiste na relação renda líquida e o custo total, também foi superior com o milho, atingindo 9,57% ante 1,79% obtida com o trigo. Isso significa que para cada R$ 1,00 gasto no sistema milho consorciado, gerou-se o equivalente a R$ 0,96 de renda líquida, enquanto no sistema trigo, gerou-se apenas R$ 0,18. O ponto de nivelamento, aqui entendido como o ponto que indica a quantidade de produto necessária para cobrir todos os custos de produção, foi obtido dividindo-se o custo total pelo preço de mercado. Para efeito desta análise, considerou-se o preço médio do milho praticado no ano de 2010, de R$ 15,00 por saca de 60 kg. O preço estimado para o trigo foi de R$ 26,10. Assim, o ponto de nivelamento com o milho foi de 63,88 sacas de 60 kg por hectare e com o trigo foi de 38,93 sacas. Abaixo desses níveis de produção, a renda líquida gerada seria negativa, o que tornaria os sistemas de produção inviáveis. A produtividade total dos fatores (eficiência) foi obtida pela divisão das receitas e o valor atual dos custos (Hoffmann et al., 1987). Assim, a análise da produtividade total dos fatores obteve índices de 0,77 com o trigo e de 1,10 com o milho, indicando que a produção de milho safrinha consorciado com Brachiaria, atualmente, é eficiente. Salienta-se que essa relação é alterada de acordo com as flutuações dos preços dos produtos. Os resultados econômicos indicam que na atual safra, o sistema de produção de milho consorciado com B. ruziziensis é mais vantajoso que a produção de trigo. Essa superioridade reflete-se, principalmente, nos baixos custos médios. 4

5 Referências CECCON, G.; SAGRILO, E.; DECIAN, M.; NUNES, D.P. Produção de sementes de adubos verdes e de forragem em cultivo consorciado com milho em pequenas propriedades. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste, p. (Embrapa Agropecuária Oeste. Circular técnica, 13). HOFFMANN, R.; ENGLER, J.J. de C.; SERRANO, O.; THAME, A.C. de M.; NEVES, E.M. Administração da empresa agrícola. 3. ed. São Paulo: Pioneira, p. IBGE. Sistema IBGE de recuperação automática SIDRA: Banco de Dados Agregados. [Rio de Janeiro, 2011?]. Disponível em: < Acesso em: 10 mar MELO FILHO, G. A. de; RICHETTI, A. Cadeia produtiva do algodão de Mato Grosso do Sul: eficiência econômica e competitividade. Dourados: Embrapa Agropecuária Oeste; Campo Grande, MS: SEPROTUR, p. (Embrapa Agropecuária Oeste. Documentos, 54). PLOPER, D. (Ed.). Análisis económico del cultivo de maíz y de la rotación soja/maíz en la campaña 2009/10. Las Talitas: EEAOC, p. (EEAOC. Reporte agroindustrial: estadísticas y márgenes de cultivos tucumanos. Boletin, n. 4). RICHETTI, A.; CECCON, G. Análise econômica de sistemas de produção de milho safrinha em cultivo consorciado. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE MILHO SAFRINHA, 10., 2009, Rio Verde. Anais... Rio Verde: ABMS: FESURV, p