A POPULAÇÃO MUNDIAL. População absoluta e população relativa
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- Raphael Castilho Vidal
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1 A POPULAÇÃO MUNDIAL Com o rápido crescimento da população mundial, especialmente nos países subdesenvolvidos, estatísticas dão-nos conta que em 2050 poderemos chegar até 12,5 biliões de habitantes no planeta. Apenas pelo conhecimento dos números, já tomamos consciência da importância que tem o estudo da população. Todavia os números só servem para quantificar e, no caso da população humana, diferentemente das populações animais em que todos vivem de maneira semelhante, a população mundial caracteriza-se pela grande diversidade social. Vivemos num mundo onde apenas um terço da população desfruta das vantagens. População absoluta e população relativa O total de habitantes de um lugar constitui a sua população absoluta. Assim, podemos dizer que a população absoluta da Terra é superior a 5,6 biliões de habitantes. Mas para avaliar concretamente a presença humana num determinado lugar, utilizamos também o conceito de população relativa, que indica a distribuição da população em relação à superfície do lugar. A população relativa, também chamada de densidade demográfica, corresponde ao número de habitantes por unidade de área, geralmente o quilómetro quadrado. A tabela abaixo mostra a população absoluta e a população relativa de cada continente. Os dados referentes à população mundial são sempre aproximados, pois até mesmo as grandes instituições internacionais, como a Organização das Nações Unidas e o Banco Mundial, enfrentam dificuldades para divulgá-los com precisão. Isso ocorre porque os dados são obtidos dos governos nacionais e nem todos os países fazem o recenseamento ao mesmo tempo. Para contornar esse problema, utilizam dados aproximados, apoiados em projecções que relacionam as informações apuradas na última contagem nacional e os índices de crescimento anual da população. Populoso e povoado Nos estudos de geografia das populações são muito utilizados os conceitos de populoso e povoado. O primeiro se refere população absoluta e o segundo diz respeito à população relativa de um lugar. Assim, enquanto a Ásia é o continente mais populoso e mais povoado do mundo, a Oceânia é o continente menos populoso e menos povoado. Mas lembre-se: um país populoso não é, necessariamente, um país muito povoado e vice-versa. Superpopulação A avaliação das características da população mundial contemporânea leva à utilização frequente dos termos superpopulação e superpovoamento. Uma área é considerada superpovoada quando sua população ultrapassa um limite acima do qual se torna difícil o aumento da produção de recursos para a sua subsistência. Noutras palavras, quando a população é maior que os recursos disponíveis. Ocorre, contudo, que o ser humano tem uma capacidade incessante de produzir os meios necessários à sua sobrevivência. Os povos que conquistaram um maior desenvolvimento económico e tecnológico criaram condições para a fixação de grandes populações no seu território, o que compreensivelmente não é do seu interesse. Por outro lado, os povos que vivem em condições de baixa produtividade e considerada superpovoada, quando a sua população ultrapassa um limite a partir do qual começa a baixar significativamente o nível de vida, prevalecendo a fome e a difusão de moléstias
2 infecto-contagiosas. Nas áreas superpovoadas a população vive em condições que levam à pobreza absoluta. Na índia, considerada um país superpovoado, a densidade demográfica é de 284 hab./km 2. Já na Bélgica vivem 330 hab./km 2 e mesmo assim esse país não é considerado superpovoado. A dinâmica populacional e sues indicadores No sentido das populações tanto no âmbito local quanto no âmbito mundial, é necessário utilizar recursos numéricos ou dados estatísticos para quantificar os fenómenos demográficos, a estrutura e as condições de vida do contingente humano. Entre esses recursos, destacam-se os indicadores demográficos, as pirâmides etárias e os indicadores sociais. A partir deles, os governantes e empresários desenvolvem políticas sociais e planejam actividades económicas. Os indicadores demográficos Os principais indicadores demográficos são o crescimento vegetativo e a imigração. Por meio desses indicadores, é possível observar a dinâmica de uma população: se ela cresceu ou não, quantas pessoas nasceram e quantas morreram no período em estudo, quantas deixaram o lugar, quantas chegaram, etc. O crescimento vegetativo é a diferença entre os nascimentos e os óbitos, ou seja, entre a taxa de natalidade e a de mortalidade, geralmente ele é expresso em percentagem. O cálculo do crescimento vegetativo não representa o crescimento real de uma população. Para verificar o crescimento demográfico de um país, é necessário considerar os fluxos de entrada (imigração) e de saída (emigração) da população. A fórmula do crescimento demográfico (ou total) é assim representada: Para se ter o total da população de um país no final de um determinado ano, é preciso somar a população absoluta (P) com o crescimento total (CT) do ano em questão: A taxa de natalidade indica o número de nascimentos ocorridos anualmente para cada grupo de mil habitantes de um lugar, seja um país, um estado ou urna cidade. É calculada pela fórmula: A taxa de mortalidade, por sua vez, indica o número de mortes ocorridas anualmente para cada grupo de mil habitantes de um lugar. Tanto a mortalidade quanto a natalidade são, portanto, expressas por mil. A mortalidade pode ser calculada pela média geral, que considera todo o conjunto da população, ou por grupos específicos, delimitados por profissão, faixa de rendimentos ou idade, por exemplo, resultando no índice de mortalidade diferencial. O cálculo da mortalidade diferencial por idade permite a avaliação da mortalidade infantil, um dos mais importantes indicadores sociais. As fases do crescimento demográfico A população mundial tem crescido no decorrer da história em função de uma maior taxa de natalidade em relação à taxa de mortalidade. Como se pode observar no gráfico ao lado, no início da Era Cristã a população humana correspondia a 250 milhões de habitantes; chegou a 500 milhões em 1650; atingindo 1 bilhão em 1850; ultrapassou os 2 biliões em 1950; chegou a 5,6 biliões em 1995; e vai ultrapassar os 6 biliões de habitantes no final do século XX. Esses números mostram que no início a população levou séculos para duplicar, depois dobrou em duzentos anos, a seguir, dobrou em apenas cem anos e as projecções indicam que triplica no período de 1950 a 2000.
3 Analisando a marcha de crescimento populacional, podemos distinguir duas fases: Crescimento lento: até o séc. XVII, em função da inexistência de condições sanitárias adequadas, guerras, epidemias, etc., a taxa de mortalidade era elevada; Crescimento rápido: compreende principalmente, num período mais modesto; os séculos XVII e XIX e, acentuadamente, na segunda metade do séc. XX, em função dos avanços científicos e da melhorias das condições higiénico-sanitárias. Nesse período, o mundo deparou-se com um vertiginoso crescimento populacional, denominado explosão demográfica. Esses períodos foram marcados por calorosos debates, que resultaram na formulação de teorias demográficas, que citaremos abaixo. As teorias demográficas O crescimento acelerado da população, embora tenha sido um processo mundial, tem-se concentrado principalmente nos países subdesenvolvidos, onde as taxas de natalidade são muito altas e as taxas de mortalidade vem declinando. Esse crescimento elevado da população tem promovido profundas discussões e teorias sobre esse tema desde o século passado, como se vê a seguir. Teoria malthusiana A primeira aceleração do crescimento populacional coincide com a consolidação do sistema capitalista e o advento da Revolução Industrial, durante os séculos XVIII e XIX. Nos países que se industrializavam, a produção de alimentos aumentou e a população que migrava do campo encontrava na cidade uma situação socioeconómica e sanitária muito melhor. Assim, a mortalidade se reduziu e os índices de crescimento populacional se elevaram. Entre as teorias demográficas surgidas na época, destacou-se a de Thomas Malthus, que ficou conhecida como malthusianismo. Analisando a relação entre a produção de meios de subsistência e a evolução demográfica nos EUA e na Europa, Malthus concluiu que o crescimento populacional excedia a capacidade da terra de produzir alimentos. Enquanto o crescimento populacional tenderia a seguir um ritmo de progressão geométrica, a produção de alimentos cresceria segundo uma progressão aritmética. Assim, a população tenderia a crescer além dos limites de sua sobrevivência, e disso resultariam a fome e a miséria. Diante dessa constatação e para evitar uma catástrofe, Malthus propôs uma restrição moral aos nascimentos, o que significaria: proibir o casamento entre pessoas muito jovens; limitar o número de filhos entre as populações mais pobres; elevar o preço das mercadorias e reduzir os salários, a fim de pressionar os mais humildes a Ter uma prole menos numerosa. Ao lançar suas ideias, Malthus desconsiderou as possibilidades de aumento da produção agrícola com o avanço tecnológico. Aos poucos essa teoria foi caindo em descrédito e desmentida pela própria realidade. Os neomalthusianos A Segunda aceleração do crescimento populacional ocorreu a partir de 1950, particularmente nos países subdesenvolvidos. Esse período, imediatamente posterior à Segunda Guerra Mundial, foi marcado pelo surgimento de novos países independentes africanos e asiáticos e por grandes conquistas na área da saúde, como a produção de antibióticos e de vacinas contra uma série de doenças. Tais conquistas se difundiram pelos países subdesenvolvidos graças a actuação de entidades internacionais de ajuda e cooperação, como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Cruz Vermelha Internacional. Além disso, com o processo de expansão de empresas multinacionais grandes laboratórios farmacêuticos se instalaram nos países subdesenvolvidos que se industrializavam. Os remédios se tornaram mais acessíveis e baratos. Esse processo denominado revolução médico-sanitária, incluiu também a ampliação dos serviços médicos, as campanhas de vacinação, a implantação de postos de saúde pública em zonas urbanas e rurais e a ampliação das condições de higiene social. Todos esses factores permitiram uma acentuada redução nas taxas de mortalidade, principalmente a infantil, que até então eram muito elevadas nos países subdesenvolvidos. A diminuição da mortalidade e a manutenção das altas taxas de
4 natalidade resultaram num grande crescimento populacional, que atingiu seu apogeu na década de 1960 e ficou conhecido como explosão demográfica. Com a nova aceleração populacional, voltaram a surgir estudos baseados nas ideias de Malthus, dando origem a um conjunto de teorias e propostas denominadas neomalthusianas. Novamente, os teóricos explicavam o subdesenvolvimento e a pobreza pelo crescimento populacional, que estaria provocando a elevação dos gastos governamentais com os serviços de educação e saúde. Isso comprometeria a realização de investimentos nos sectores produtivos e dificultaria o desenvolvimento económico. Para os neomalthusianos, uma população numerosa seria um obstáculo ao desenvolvimento e levaria ao esgotamento dos recursos naturais, ao desemprego e à pobreza. Enfim, ao caos social. Para os neomalthusianos, a desordem social poderia levar os países subdesenvolvidos a se alinhar com os países socialistas, que se expandiam naquele momento. Para evitar o risco, propunham a adopção de políticas de controle de natalidade, que se popularizaram com a denominação de planeamento familiar Essas políticas são adoptadas até hoje e conduzidas pela ONU (Organização das Nações Unidas) e o FMI (Fundo Monetário Internacional), que condiciona a aprovação de empréstimos para os países subdesenvolvidos à adopção de programas de controlo de natalidade, que são financiados pelo Banco Mundial (BIRD). O planeamento familiar é feito por entidades privadas e públicas, que se associam à indústria farmacêutica e à classe médica e recebem apoio dos meios de comunicação. O controle populacional é realizado de várias maneiras, que vai da distribuição gratuita de anticoncepcionais até a esterilização em massa de populações pobres (Índia, Colômbia e Brasil). Os reformistas (ou marxistas) Seguidores do filósofo socialista Karl Marx, os teóricos desse pensamento afirmam que a causa da superpopulação é o modo de produção capitalista e que a sobrevivência do capitalismo, como sistema, exige um excesso relativo da população. Em outras palavras, ao contrário dos neomalthusianos, os reformistas consideram a miséria como a principal causa do acelerado crescimento populacional. Assim, defendem a necessidade de reformas socio-económicas que permitam a melhoria do padrão de vida da população mais pobre. A transição demográfica Em oposição às teorias descritas anteriormente, para as quais o mundo vive um processo de explosão demográfica, tem sido cada vez mais aceita a teoria da transição demográfica. Segundo os defensores dessa teoria, formulada em 1929, o crescimento populacional tende a se equilibrar no mundo, com a diminuição das taxas de natalidade e mortalidade. Esse processo se daria em três etapas distintas: Primeira fase ou Pré-industrial, caracterizada pelo equilíbrio demográfico e por baixos índices de crescimento vegetativo, apoiados em elevadas taxas de natalidade e de mortalidade. Nascem muitos, mas morrem muitos. A elevada mortalidade era decorrente principalmente das precárias condições higiénico-sanitárias, das epidemias, das guerras, fome, etc.
5 Segunda fase ou transicional, que apresenta as seguintes modificações: num primeiro momento, a redução da mortalidade com o fim das epidemias e os avanços médicos (decorrentes da Revolução Industrial), porém a natalidade ainda se mantém elevada, ocasionando um grande crescimento populacional; num segundo momento, a natalidade começa a cair, reduzindo-se então o crescimento populacional. Terceira fase ou Evoluída, etapa em que a transição demográfica se completa, com a retomada do equilíbrio demográfico, agora apoiado em baixas taxas de natalidade e de mortalidade. Actualmente estão nessa fase os países desenvolvidos, a maior parte dos quais apresenta taxas de crescimento inferiores a 1% e até negativas. Países cujo crescimento vegetativo se encontra estagnado. Pirâmides populacionais As faixas etárias da população costumam obedecer a um padrão que pode ser expresso em gráficos no formato de pirâmides. Zaire A pirâmide populacional do Zaire é representativa do conjunto de países cuja transição demográfica está menos avançada. Há uma regular e constante ampliação da base, a chamada "pirâmide em forma de guardasol". O ritmo de expansão é elevado: o número de nascimentos nos últimos cinco anos duplicou em relação ao de 15 ou 20 anos atrás. O resultado é uma população muito jovem (praticamente 50% da população tem menos de 25 anos) e com um grande potencial de crescimento. Mas é também um obstáculo para uma rápida melhoria das condições de vida, devido ao elevado custo dos serviços sanitários e de educação que devem ser oferecidos às novas gerações. Brasil A pirâmide brasileira mostra a estrutura da segunda fase da transição demográfica, na qual o ritmo de crescimento começa a se atenuar. A forma é muito parecida à de um triângulo cuja base, ainda que continue crescendo, o faz a um ritmo menor que no caso zairense. O desequilíbrio entre população jovem e adulta é inferior: no caso brasileiro, a faixa etária entre 35 e 40 anos apresenta a metade do número de membros que a dos nascidos nos últimos 5 anos. A diminuição no ritmo de crescimento da população está ligada a uma diminuição da fertilidade e, com ela, das taxas de natalidade. Apesar disso, quando as novas e numerosas gerações chegarem à idade reprodutiva, o crescimento populacional continuará em ascensão até a primeira metade do século XXI. Austrália A pirâmide australiana corresponde a um país em pleno regime demográfico moderno. Sua forma corresponde ao tipo ogival, com uma reentrância correspondente aos anos de 1930 e início dos de 1940, seguidos do baby boom posterior à Segunda Guerra Mundial (nascimentos após 1945). O processo imigratório continuado, até a primeira metade da década de 1970, mantém o crescimento. Depois, entre 1975 e 1990 há uma redução, de modo que a faixa etária de 0 a 5 anos é tão numerosa quanto a dos nascidos entre 1945 e 1950 (entre 40 e 45 anos). O menor número de nascimentos origina um processo de envelhecimento que se verifica no alargamento da parte superior da pirâmide.
6 Migrações mundiais Migração compreende o deslocamento a longa distância de uma quantidade importante de seres humanos. Todo processo migratório pressupõe a existência de vários elementos: um ponto ou zona de partida, um local de acolhida, alguns factores de atracção e outros de repulsão. Na actualidade, a maioria das migrações é de pessoas procedentes de países subdesenvolvidos. Essas migrações são estimuladas por factores de repulsão nos lugares de origem: pressão demográfica, dificuldades para encontrar trabalho nas grandes cidades superpovoadas, ineficiência dos sistemas agrícolas para garantir vida digna etc. Até pouco tempo atrás, existiam diversos factores de atracção nos países desenvolvidos, como a necessidade de mão-de-obra, salários relativamente elevados e infra-estrutura social (sobretudo educação para os filhos e serviços sanitários). A maior parte das migrações tem uma origem socioeconómica e é resultado da busca por melhores condições de vida. Outro tipo de migração tem origem em causas políticas. População activa e inactiva A análise de uma população também pode ser feita de acordo com sua ocupação profissional. Para isso, é necessário fazer a distinção entre: população activa, ou seja, aquela que tem uma ocupação (população activa ocupada) ou que procura um emprego (população desempregada); e população inactiva (jovens estudantes, idosos, donas de casa). A taxa de dependência é a relação entre as faixas etárias inactivas e as que estão em idade de trabalhar, e expressa a carga relativa que os jovens e idosos constituem para os adultos activos. Em 1990, a média mundial dessa taxa era de 62,6%. Nos países desenvolvidos, a taxa baixava até 50,1%. Nos países subdesenvolvidos, subia até 66,7%, devido à grande quantidade de jovens. Sectores económicos Segundo a actividade económica, a população activa divide-se em três grandes sectores: primário, secundário e terciário. O sector primário engloba as actividades que estão directamente relacionadas à natureza: a agricultura, a pecuária, a caça, a pesca e a silvicultura. O sector secundário agrupa as actividades que supõem uma transformação, da mineração e da produção energética até as indústrias de manufactura e de construção civil. O sector terciário reúne os serviços e as trocas comerciais. A complexidade do sector terciário torna necessária a distinção entre: Terciário inferior, que agrupa o serviço doméstico, o comércio varejista e o artesanato. Terciário superior, relacionado aos serviços de alto nível técnico (bancos, seguros e profissionais liberais). Terciário tecnológico, que agrupa a pesquisa, a informática, o ensino e a informação. O terciário tecnológico tem assumido tamanha importância que já está sendo considerado como um quarto sector da economia.
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