RELAÇÕES ENTRE CARACTERÍSTICAS DE SEMENTES E PLÂNTULAS EM DOIS HÍBRIDOS DE MAMONA

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1 RELAÇÕES ENTRE CARACTERÍSTICAS DE SEMENTES E PLÂNTULAS EM DOIS HÍBRIDOS DE MAMONA Betania Brum 1, Sidinei José Lopes 2, Tatiani Reis da Silveira 3, Marcos Toebe 4 1,2,3 e 4 Universidade Federal de Santa Maria, 1 agrobetania@yahoo.com.br, 2 sjlopes@smail.ufsm.br, 3tatianisilveira@yahoo.com.br, 4marcostoebe_agronomia@hotmail.com RESUMO - As características físicas da semente influenciam o vigor inicial das plântulas, em diversas culturas. O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência de características físicas da semente no vigor de plântulas de mamona (Ricinus communis L.). Foram semeadas três parcelas de Sara e três de Lyra. Cada parcela foi constituída por 13 fileiras, com espaçamento entre plantas de 0,4; 0,6 e 0,8 m. As sementes foram caracterizadas fisicamente e individualmente antes do plantio. Avaliou-se: grausdia para a emergência; comprimento do hipocótilo aos 7 dias após a emergência (DAE), em cm; comprimento do epicótilo aos 14 DAE; graus-dia para o aparecimento da 1ª folha verdadeira; índice SPAD aos 7 DAE e, índice SPAD aos 14 DAE. Aplicou-se a análise de correlação canônica entre os grupos de características de sementes e de plântulas. Sementes com maior comprimento, mais pesadas, mais largas e mais espessas são determinantes de plântulas mais verdes aos 14 DAE (maior índice SPAD aos 7 e 14 DAE), e que apresentam maior velocidade no desenvolvimento inicial (menos graus-dia para a emissão da 1ª folha verdadeira). A seleção de sementes mais compridas e mais pesadas possibilita maior vigor e precocidade de plântulas de mamona. Palavras-chave: Ricinus communis L., correlações canônicas, vigor de plântulas. INTRODUÇÃO Para obter estandes de plantas uniformes é fundamental conhecer a qualidade física e fisiológica das sementes. Em muitas espécies, sementes de maior qualidade fisiológica estão associadas a sementes maiores, pois, quase sempre, apresentam maior emergência em campo e vigor inicial de plântulas, por isso, o tamanho da semente deve ser considerado como um atributo de qualidade (LIMA, 1997). As propriedades físicas das sementes tais como a forma, o tamanho, o volume, a densidade e a área, entre outras informações, também são imprescindíveis para o dimensionamento de máquinas e equipamentos agrícolas (MONHSENIN, 1970). Em mamona, a emergência das plântulas pode ser influenciada por diversos fatores, como temperatura, características físicas do solo, umidade, profundidade de plantio e disponibilidade de oxigênio. Baixas temperaturas ou falta de oxigênio tornam o processo de germinação lento, podendo demorar até 15 dias entre o plantio e a emergência das plântulas (AZEVEDO et al., 2001). Em relação às características físicas da semente, Shepetina et al. (1986) relatam que sementes de mamona separadas por tamanho não diferem em relação a germinação, ao vigor e a

2 produtividade. Já sementes de mesmo tamanho, separadas por peso apresentam grandes diferenças no desenvolvimento inicial e na produtividade de grãos. Porém, Rocha (1986) observou maior percentual e menor velocidade de emergência em plântulas originadas de sementes pequenas. Nas condições tropicais de Campina Grande, PB, Severino et al. (2004) observaram que o peso da semente não influência o desenvolvimento inicial das plântulas, tais como: emergência e o número de folhas, mas é responsável por diferenças na área foliar e no peso da parte aérea da planta. Sendo que, sementes mais pesadas apresentaram 19% e 27% a mais de área foliar e peso de parte aérea, respectivamente. O objetivo deste trabalho foi avaliar, através da análise de correlação canônica, a influência de características físicas da semente no vigor de plântulas de mamona em campo. MATERIAL E MÉTODOS O experimento com mamona (Ricinus communis L.), híbridos Lyra e Sara, foi semeado em 19 de outubro de 2007, em área experimental da Universidade Federal de Santa Maria. O relevo é plano ondulado e o solo é classificado como Brunizem Hidromórfico (EMBRAPA, 1999). A adubação foi realizada segundo as recomendações de adubação e calagem da Embrapa Clima Temperado (SCIVITTARO; PILLON, 2006). Foram semeadas seis parcelas, sendo três de Sara e três de Lyra. Cada parcela foi constituída por 13 fileiras, com espaçamento entre plantas de 0,4; 0,6 e 0,8 m e os espaçamentos entre linhas foram fixos em 1,2 m. Em cada parcela, as duas linhas centrais foram ocupadas com as sementes caracterizadas fisicamente e individualmente: peso (g), comprimento (cm), largura (cm) e espessura (cm). Em cada uma dessas plantas foram anotadas as seguintes variáveis: graus-dia para a emergência (GDE); comprimento do hipocótilo aos 7 (CH7) dias após a emergência (DAE), em cm; comprimento do epicótilo aos 14 DAE (cm); graus-dia para o aparecimento da 1ª folha verdadeira (GD1F), índice SPAD aos 7 DAE e, índice SPAD aos 14 DAE (medido com clorofilômetro Minolta Spad 502). Os dados de temperatura máxima e mínima do ar para o cálculo dos graus-dia foram obtidos na estação meteorológica localizada a aproximadamente 30 m da área experimental. O cálculo da n Tmáx. + Tmín. soma térmica, em graus-dia, foi feito com base em: GD i = Tb i= 1 2 (verificar formatação da equação), onde: Tmáx= temperatura máxima do dia i; Tmín= temperatura mínima do dia i; Tb= temperatura basal da cultura de 10 C. Para conhecer a variabilidade dos dados foi realizada uma análise descritiva (média e desvio padrão), para todas as variáveis.

3 Para a análise de correlação canônica, as variáveis de sementes constituíram o grupo I e as variáveis referentes às plântulas, o maior grupo ou grupo II. As análises foram realizadas no software estatístico GENES (CRUZ, 2001). RESULTADOS E DISCUSSÃO No grupo de sementes, a variável que apresentou maior desvio padrão foi o comprimento (0,71), já no grupo de plântulas foram as variáveis GDE (23,93) e GD1F (19,95). Os valores elevados de desvio padrão apresentados pelas duas últimas variáveis, mostram que, a necessidade de soma calórica de cada semente e plântula, para emergir e para emitir a primeira folha é bem variável. Trabalhando com as cultivares de mamona IAC 266, IAC 80, Comum, Rajada, Branquinha e Guarani Nagaoka et al. (2006) também observaram grande variabilidade para as características físicas de semente: tamanho, volume, peso e umidade. Devido a presença de multicolineariedade entre algumas variáveis dentro de cada grupo de dados foram excluídas as variáveis: área da semente, comprimento do hipocótilo aos 7 DAE, dias para a emergência e dias para a emissão da primeira folha verdadeira, até reduzir a colinearidade entre as variáveis de severa para fraca. Para as demais variáveis (Tabela 1), os pares canônicos foram significativos (correlação canônica igual a 0,53) apenas para a primeira ordem. As relações expressas na Tabela 1 para o primeiro par canônico mostram que em ordem decrescente de grandeza: sementes com maior comprimento, mais pesadas, mais largas e mais espessas são determinantes de plântulas mais verdes (maior índice SPAD aos 7 DAE) aos 14 DAE (maior índice SPAD aos 14 DAE), com maior comprimento de hipocótilo aos 14 DAE e mais verdes (maior índice SPAD) aos 7 DAE, bem como, de maior velocidade no desenvolvimento inicial (menos graus-dia para a emissão da 1ª folha verdadeira) e que apresentam maior comprimento de epicótilo aos 14 DAE. Com base nos resultados, pode-se afirmar que: a seleção de sementes de mamona mais compridas, ou maiores e mais pesadas possibilitam aumentar o vigor de plântulas de mamona. Isso ocorre porque sementes maiores são mais bem nutridas e assim, possuem maior quantidade de reservas, melhor formação de embriões e, por conseqüência plantas mais vigorosas (CARVALHO; NAKAGAWA, 2000). Em relação ao tamanho, esse resultado discorda dos observados por Shepetina et al. (1986), os quais relatam que sementes de mamona separadas por tamanho não diferem em relação a germinação, ao vigor e a produtividade. Porém, em relação ao peso, esses resultados corroboram com os observados por esse autor, de que sementes mais pesadas apresentaram vantagens no

4 desenvolvimento inicial. Rocha (1986) observou maior percentual e menor velocidade de emergência em plântulas originadas de sementes pequenas. Por outro lado, Severino et al. (2004) salientam não haver influência do peso da semente para características do desenvolvimento da plântula, tais como: percentual de emergência e número de folhas, mas sim sobre as características de crescimento de área foliar e peso da parte aérea. CONCLUSÃO Sementes de mamona, dos híbridos Sara e Lyra, de maior tamanho e mais pesadas resultam em plântulas mais vigorosas aos sete e 14 dias após a emergência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AZEVEDO, D. M. P. de; NÓBREGA, L. B.; LIMA, E. F., BATISTA, F. A. S.; BELTRÃO, N. E. de M. Manejo Cultural. In: AZEVEDO, D. M. P. de; LIMA, E. F. (Ed.). O Agronegócio da mamona no Brasil. Campina Grande: Embrapa Algodão, p CARVALHO, N. M.; NAKAGAWA, J. Sementes: Ciência, Tecnologia e produção. 4. ed. Jaboticabal: FUNEP, p. CRUZ, C. D. Programa GENES: aplicativo computacional ao melhoramento genético. Viçosa: UFV, p. EMBRAPA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos (Rio de Janeiro, RJ). Sistema brasileiro de classificação dos solos. Brasília: Embrapa-SPI, p. LIMA, R. M. Efeito do tamanho das sementes sobre alguns atributos fisiológicos e agronômicos. Anuário ABRASEM, Brasília, p.168, MOHSENIN, N. N. Physical properties of plants and animal materials. New York: Gordon and Breach Publishes p.

5 NAGAOKA, A. K. et al. Avaliação das Características Físicas das Sementes de Diferentes Variedades de Mamona. In: CONGRESSO BRASILEIRO DA MAMONA, 2., 2006, Cuiabá. Anais eletrônicos... Cuiabá: UFMS, Disponível em: < producao/via_ pdf. >. Acesso em: 20 mar ROCHA, R. C. Comportamento de plântulas de mamona (Ricinus communis L.), em função do tamanho da semente, profundidade de plantio, classe textural e pré-embebição p. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Ceará, Fortaleza. SCIVITTARO, W. B.; PILLON, C. N. Calagem e adubação para a cultura da mamona no Sul do Brasil. Pelotas: Embrapa Clima Temperado, p. (Comunicado Técnico, 150). SEVERINO, L. S. et al. Caracterização de sementes de mamona em diferentes faixas de peso. In: CONGRESSO BRASILEIRO DA MAMONA, I., 2004, Campina Grande. Anais eletrônicos... Campina Grande: EMBRAPA, Disponível em: Etilica03.pdf>.Acesso em: 15 abr SHEPETINA, F. A.; SEVAST YANOVA, L. B. Seed Technology. In: MOSHKIM, V. A. Castor. New Delhi: Amerind Publishing, p

6 Tabela 1. Média, desvio padrão (DP) e primeiro par canônico (PC) para as variáveis do grupo 1: peso, comprimento, largura e espessura de sementes e do grupo 2: graus-dia emergência, comprimento. hipocótilo aos 14 DAE, comprimento epicótilo aos 14 DAE, graus-dia para 1ª folha verdadeira, Índice SPAD aos 7 DAE e Índice SPAD aos 14 DAE. Santa Maria, Variável Média DP PC Grupo 1 (sementes) Peso 0,43 0,07 0,79 Comprimento 13,54 0,71 0,94 Largura 9,55 0,44 0,81 Espessura 6,57 0,28 0,51 Grupo 2 (Plântula) Graus-dia emergência 142,74 23,93-0,19 Comprimento hipocótilo aos 7 5,99 1,53 0,47 Comprimento hipocótilo aos 14 2,54 0,92 0,22 Graus-dia para 1ª folha verdadeira 184,92 19,95-0,37 Índice SPAD aos 7 DAE 44,91 5,68 0,43 Índice SPAD aos 14 DAE 48,90 5,54 0,66